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"Louvado seja o Santíssimo Sacramento": o anticomunismo católico e a formação da identidade e da espacialidade norte-riograndense (1934-1937)

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Academic year: 2021

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(1)“LOUVADO SEJA O SANTÍSSIMO SACRAMENTO”: O ANTICOMUNISMO CATÓLICO E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE E DA ESPACIALIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE (1934-1937). DANIELA ARAÚJO LEIRIAS.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – MESTRADO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA E ESPAÇOS LINHA DE PESQUISA: CULTURA, PODER E REPRESENTAÇÕES ESPACIAIS. DANIELA ARAÚJO LEIRIAS. “LOUVADO SEJA O SANTÍSSIMO SACRAMENTO”: O ANTICOMUNISMO CATÓLICO E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE E DA ESPACIALIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE (1934-1937). NATAL/RN 2016.

(3) UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – MESTRADO ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: HISTÓRIA E ESPAÇOS LINHA DE PESQUISA: CULTURA, PODER E REPRESENTAÇÕES ESPACIAIS. DANIELA ARAÚJO LEIRIAS. “LOUVADO SEJA O SANTÍSSIMO SACRAMENTO”: O ANTICOMUNISMO CATÓLICO E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE E DA ESPACIALIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE (1934-1937). Dissertação apresentada ao curso de PósGraduação em História como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre, Área de Concentração em História e Espaço, Linha de Pesquisa II, Cultura, Poder e Representações Espaciais da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, sob a orientação do Prof. Dr. Renato Amado Peixoto.. NATAL/RN 2016.

(4) Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA Leirias, Daniela Araújo. "Louvado seja o Santíssimo Sacramento" : o anticomunismo católico e a formação da identidade e da espacialidade norte-riograndense (1934-1937) / Daniela Araújo Leirias. - 2016. 159 f.: il. Orientador: Prof. Dr. Renato Amado Peixoto. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programa de Pós-Graduação em História, 2016.. 1. Igreja Católica. 2. Anticomunismo. 3. Religião e política. 4. Civilização moderna. I. Peixoto, Renato Amado. II. Título. RN/UF/BS-CCHLA. CDU 261.7.

(5) DANIELA ARAÚJO LEIRIAS. “LOUVADO SEJA O SANTÍSSIMO SACRAMENTO”: O ANTICOMUNISMO CATÓLICO E A FORMAÇÃO DA IDENTIDADE E DA ESPACIALIDADE NORTE-RIO-GRANDENSE (1934-1937). Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre no Curso de Pós-Graduação em História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pela comissão formada pelos professores:. _________________________________________. Dr. Renato Amado Peixoto (UFRN). __________________________________________. Drª. Gizele Zanotto (UPF). ________________________________________. Dr. Helder do Nascimento Viana (UFRN). ____________________________________________. Dr. Raimundo Nonato Araújo da Rocha (UFRN).

(6) AGRADECIMENTOS. A efetivação desse trabalho é o resultado dos gestos de gentileza e compreensão de vários companheiros de jornada. A começar pela participação no Programa de Pós-Graduação de História da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, ao auxilio e ajuda fornecida por Luann Araújo secretário sempre disponível aos esclarecimentos administrativos. Ao meu orientador Renato Amado Peixoto, desde 2011 vem contribuindo na minha formação acadêmica, que me possibilitou adentrar no mundo da pesquisa para o meu aprimoramento intelectual em história. Ao professor Cândido Moreira Rodrigues da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso) que contribuiu com a disponibilização de suas palestras e livros dos quais me ajudaram a desenvolver esta pesquisa. Aos professores do curso de Graduação e da Pós-graduação em História da UFRN em especial à Francisca Aurinete Girão Barreto, Helder do Nascimento Viana, Henrique Alonso de Albuquerque Rodrigues Pereira, Margarida Maria Dias de Oliveira, Raimundo Nonato Araújo da Rocha, Sebastião Leal Ferreira Neto, Carmen Margarida Oliveira Alveal, Francisco das Chagas Fernandes Santiago Junior, Flavia de Sá Pedreira, Haroldo Loguercio Carvalho, Juliana Teixeira Souza, Wicliffe de Andrade Costa, Roberto Airon Silva e Ligio José de Oliveira Maia. Ao Instituto Histórico Geográfico do Rio Grande do Norte pela imensa disposição em me favorecer anos de trabalho e pesquisa, em especial à Antonieta Freire e Maria de Fátima Pacheco. Ao Arquivo da Diocese de Natal que me permitiram pesquisar em seu acervo, ao seminarista Sergio Alexandre e José Rodrigues. Aos meus amigos da Base de Pesquisa: Carolina Xavier, Manuel da Silva, João Maria Fernandes, Antônio Ferreira, Pedro Filipe, e Douglas Cavalheiro. Por meio da união do grupo foi possível crescermos juntos. Agradeço aos meus amigos Isolda de Souza, Lucicleia Neres, Deyse Moura, Ivan de Araújo, Rosangele Bezerra, Diná Bezerra, José Daniel Cavalcanti, Mary Campelo, Magna Rafaela e Anderson Silva..

(7) Por fim, esse trabalho é dedicado aos meus pais Inêz Maria Leirias e Cecílio Leirias, aos meus irmãos Luciana Leirias, Mirian Leirias, e Fausto Leirias, ao meu sobrinho Heitor Leirias, aos meus primos Valmir Leirias, Tatiana Andrade, e ao meu companheiro Jônata Marcelino. Sem vocês eu não teria chegado até aqui..

(8) RESUMO. O propósito dessa dissertação é analisar a formulação do anticomunismo católico no Brasil entre 1934 – 1937, comparando o plano local com o nacional, tendo como material de estudo o anticomunismo difundido no Rio Grande do Norte pelo jornal católico A Ordem e pelo jornal laico A República e, no plano nacional, pela revista A Ordem, editada pelo Centro Dom Vital, do Rio de Janeiro. Entendo que a produção católica do anticomunismo se insere nos pressupostos e estratégias políticas que a Igreja buscava fomentar. Sendo assim, achamos necessário ligar a compreensão desse discurso ao pensamento católico contra a modernidade e as suas formulações, trabalhadas no século XIX e início do século XX pela Igreja para entender a especificidade de sua tradução no Brasil. Dessa maneira, compreendemos que o anticomunismo católico é parte do discurso antimoderno traduzido no Brasil e no Rio Grande do Norte em razão dos pressupostos e estratégias que a Igreja e a Diocese de Natal procuravam alavancar na década de 1930. Para esta análise, houve a necessidade de considerarmos a produção específica do campo religioso, pela articulação teóricometodológica de Pierre Bourdieu das categorias ‘campo’ e ‘espaço’ e dos mecanismos de representação nas diferentes escalas. Discernindo as ações e estratégias do espaço social católico, buscamos entender os espaços políticos com os quais o nacional e o local dialogaram. Assim, percebemos que a relação entre a religião e a política se constituiu a partir da formulação de um tipo de capital simbólico específico, adaptado às experiências do nacional e do local, e, no caso local, desempenhou um papel central na produção do espaço e da identidade norte-rio-grandense na década de 1930. Palavras-chave: Modernidade.. Igreja. Católica,. Anticomunismo,. Identidade. norte-rio-grandense,.

(9) ABSTRACT. This paper aims to analyze the development of the catholic anticommunism in Brazil between the years of 1934 to 1937, comparing the local to the national level, having as study material the anticommunism widespread in Rio Grande do Norte by the catholic newspaper The Order and the secular newspaper The Republic and, on what concerns the country, by the magazine The Order issued by the Dom Vital Center, in Rio de Janeiro. It’s understood that these productions refers to an anti-communist discourse anchored in political strategies and assumptions that the church sought to leverage. Therefore, it is important to link the understanding of this speech to the Catholic ideas against modernity and its formulations, worked in the nineteenth and in the early twentieth century by the church to understand the specificity of its translation in Brazil. Thus, it is understood that the Catholic anticommunism is only part of the anti-modern discourse translated because of assumptions and strategies that the Church sought to leverage in the 1930s. For this analysis, it was necessary to consider the specific production of the religious field by the theoretical and methodological articulation of Pierre Bourdieu categories 'field' and 'space' and the representation mechanisms at different scales. In that way we see that the relationship between religion and politics were formed from the formulation of a specific type of symbolic capital, adapted to the national experience and local – which, has played a major and central role in the production of space and identity of Rio Grande do Norte in the 1930s. Keywords: Catholic Church, Anticommunism, Rio Grande do Norte, Identity, Modernity..

(10) LISTA DE FIGURAS. FIGURA 1 – ESPAÇO SOCIAL CATÓLICO .................................................................... 52 FIGURA 2 – ESPAÇO SOCIAL NORTE-RIO-GRANDENSE ...................................... 104 FIGURA 3 – ‘A POMBA DA PAZ’ – IMAGEM REPRESENTATIVA DA DIVULGAÇÃO DA PAZ PELA RÚSSIA ......................................................................... 124 FIGURA 4 – BRASÃO DO 2° CONGRESSO EUCARÍSTICO PAROQUIAL DE CURRAIS NOVOS QUE EXEMPLIFICA A FRASE PROFERIDA POR MATIAS MOREIRA “LOUVADO SEJA O SANTÍSSIMO SACRAMENTO” ............................ 147 FIGURA 5 – MISSA INAUGURAL DO 2° CONGRESSO EUCARÍSTICO PAROQUIAL DE CURRAIS NOVOS. ESTÁTUA DE CRISTO REI .......................... 148.

(11) SUMÁRIO INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11 CAPÍTULO I .......................................................................................................................... 21 1. A FORMULAÇÃO DO ANTICOMUNISMO CATÓLICO NO BRASIL E A FUNDAÇÃO DO CENTRO DOM VITAL .................................................................................................................... 21 1.1. A definição e a abordagem do anticomunismo na historiografia brasileira ..................................... 21 1.1.1. O anticomunismo católico ...................................................................................................... 29 1.2. Centro Dom Vital – Locus de Produção do Pensamento Católico no Brasil ................................... 34. CAPITULO II ......................................................................................................................... 49 2. REVISTA A ORDEM: A ELABORAÇÃO DO ANTICOMUNISMO NA DÉCADA DE 1930 ........................................................................................................................... 49 2.1. A produção do capital simbólico no catolicismo brasileiro ............................................................. 49 2.2. As posições da Igreja Católica no campo político do século XIX e a formação dos capitais político e religioso ..................................................................................................................................................... 54 2.3. Revista A Ordem: a formulação e disseminação do discurso da Igreja por meio do anticomunismo católico ................................................................................................................................ 59 2.3.1. A Constituinte de 1934 ........................................................................................................... 64 2.3.2. Comunismo, Integralismo e Catolicismo ................................................................................ 69 2.3.3. Liberalismo e Comunismo ...................................................................................................... 74 2.3.4. A URSS, o Comunismo e o Socialismo .................................................................................. 81 2.3.5. O Rotary e a Maçonaria .......................................................................................................... 85 2.3.6. O Levante Comunista e a rearticulação do discurso católico .................................................. 88 2.3.7. A Guerra Civil Espanhola, o Anarquismo e o Comunismo .................................................... 95. CAPÍTULO III ....................................................................................................................... 99 3.. A PRODUÇÃO DO ANTICOMUNISMO NO RIO GRANDE DO NORTE ........................... 99 3.1. O espaço social norte-rio-grandense na década de 1930 ................................................................. 99 3.2. ‘A Crise de 1935’ - As disputas para a Assembleia Constituinte Nacional e para a Assembleia Constituinte Estadual .................................................................................................................................. 106 3.3. A Congregação Mariana dos Moços – Subcampo de representação do Centro Dom Vital no Rio Grande do Norte ......................................................................................................................................... 113 3.4. O anticomunismo norte-rio-grandense tradicional antes do Levante Comunista de 1935 no jornal A República .................................................................................................................................................... 117 3.5. O anticomunismo católico norte-rio-grandense ............................................................................. 121 3.6. O anticomunismo norte-rio-grandense após o Levante Comunista de 1935.................................. 129 3.7. A formação da identidade católica no Rio Grande do Norte ......................................................... 137. CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 151 FONTES PESQUISADAS ................................................................................................... 154 BIBLIOGRAFIA .................................................................................................................. 155.

(12) INTRODUÇÃO. Nem pelo temor, nem pelo interesse, nem pelo desdém, portanto, é que devemos combater o comunismo. E sim, como dissemos, por convicção, por certeza e verificação que elle é apenas a ultima consequencia logica dos erros mais monstruosos do mundo moderno, na inversão de todos os valores, na deshumanização do mundo e na deschristianização da sociedade. Alceu Amoroso Lima, 1936..1. Falar do anticomunismo nos remete a questionarmos a produção do pensamento católico da década de 1930, compreender para quê servia o anticomunismo e quais categorias eram necessárias para definir o ser comunista, perceber as suas práticas e as ações que perpetram na sua disseminação por todo o país. Estas questões nos fazem refletir também como esse pensamento serviu para justificar e implantar os regimes no Brasil e, porque, mesmo quase um século depois, é ainda atuante na política dos dias atuais. A epígrafe que nos serve de exemplo faz parte da produção literária da revista católica A Ordem, fundada em 1921 por Jackson de Figueiredo, o principal líder leigo católico do país a qual é considerada uma das primeiras organizações brasileiras prontas para o enfrentamento às convicções liberais e socialistas que se acirraram após a Primeira Guerra Mundial. É neste direcionamento que o periódico apronta as principais diretrizes do pensamento católico contra o comunismo, clamando a sociedade brasileira à luta contra o mal que as ideias comunistas, última resultante do mundo moderno, poderiam acarretar a humanidade devido à subsequente supressão dos valores cristãos.2 A epígrafe nos ajuda, ainda, a perceber certa conjuntura política da formulação do discurso anticomunista. Tornando-se líder do laicato católico após a morte de Jackson de Figueiredo, Tristão de Athaíde, pseudônimo de Alceu Amoroso Lima, era um dos maiores militantes intelectuais católicos e atuante em várias frentes: na ‘Ação Católica’, na ‘Liga. 1. LIMA, Alceu A. Em face do comunismo. A Ordem. Rio de Janeiro, p. 346-347, abr./mai. 1936. RODRIGUES, Cândido Moreira. Uma revista de intelectuais católicos: (1934-1945). Belo Horizonte: FAPESP, 2005.p.15. 2. 11.

(13) Eleitoral Católica’, na presidência do ‘Centro Dom Vital’, na direção da revista A Ordem, na Academia Brasileira de Letras e, lecionando em vários institutos e faculdades. Intelectual convertido ao catolicismo, Tristão de Athaíde era também um dos mais influentes pensadores do conservadorismo e, seu desempenho deve ser pensado também em face do cenário sociopolítico da época, um período em que se exigia posicionamento e ação política coerente ao paradigma colocado ao catolicismo pelo cenário que incluía a Guerra Civil Espanhola de um lado e pela consolidação do Nazismo no poder. É a compreensão dessa conjuntura que impele a reformulação do pensamento católico e a atuação da Igreja que nos revela tanto a elaboração do anticomunismo pelos católicos quanto as suas atuações no recorte temporal que estudamos. Por outro lado, a instituição eclesiástica, por meio da elaboração desse discurso, atuaria também enquanto um dos principais apoios do governo de Getúlio Vargas e, foi por conta disso que a Igreja pôde fortalecer na década de 1930 a sua relação com o Estado na República, formulando por meio do anticomunismo um discurso que serviu para a sustentação das principais decisões políticas do Governo, além de lhe propiciar, ainda, a posição de portavoz na domesticação das consciências. Desta forma, o comunismo tornou-se o inimigo comum do Estado e da Igreja, e o anticomunismo funcionaria como um elo permanente entre as duas instituições. Desde então, a Igreja caminharia junto ao poder, inicialmente a partir da atuação da Liga Eleitoral Católica e, posteriormente, com as novas configurações da Ação Católica, onde se intensificaria a cooperação no trabalho do apostolado entre os leigos. Assim, principalmente depois de 1935, o Estado, através do apoio religioso, pôde fortalecer as medidas repressivas, sobretudo após o lançamento de Carta Pastoral dirigida aos católicos, embasada na encíclica Divini Redemptoris, de Pio XI, que clamava pela luta contra o comunismo. Por conseguinte, entendemos que a Igreja, com o anticomunismo, elaborou todo um arsenal de imagens e símbolos que ajudaram a justificar suas diretrizes na participação do poder.3 Portanto, é no exame desse arsenal de propósitos, que se coloca o objetivo desse trabalho de, por meio da História Política4, analisar o discurso anticomunista católico no período que vai de 1934 a 1937, para tentar compreender como este contribuiu para a formulação da identidade e da espacialidade norte-rio-grandense. 3. 4. LENHARO, Alcir. Sacralização da Politica. São Paulo: Papirus, 1986, p.189-190. RÉMOND, Réne (Org.). Por uma História Política. UFRJ: Rio de Janeiro, 1996.. 12.

(14) Para isto, procuraremos estudar a atuação das elites eclesiástica e leiga em nível nacional, perpassar suas dinâmicas institucionais, exemplificadas no exame do surgimento do ‘Centro Dom Vital’ e da disseminação dos seus ideais por meio da revista A Ordem, no Rio de Janeiro, interligando-os à problemática da História Local e Regional e da produção intelectual católica local, por meio da investigação da sua relação com as elites locais, por meio do exame do jornal da Diocese de Natal, A Ordem, compreendendo essas duas escalas, a do nacional e a do local e, as duas esferas de produção, a política-social e a religiosa, enquanto processos dinâmicos e, em relação mútua.5 Este trabalho se insere na linha de pesquisa II: Cultura, Poder e Representações Espaciais, do Programa de Pós-graduação em História da UFRN, buscando trabalhar a compreensão das categorias espacialidade e espacialização6 e da ideia de construção da identidade por meio da análise da instituição eclesiástica nos acontecimentos no período pós Revolução de 1930, mediante o exame da produção de seu discurso e das propostas de estratégias políticas e sociais que interviram na inferência da elaboração da espacialidade e da identidade católica local. Este trabalho teve seu início pela minha participação como bolsista de iniciação científica – PIBIC, sob a orientação do professor Dr. Renato Amado Peixoto (UFRN) no projeto de pesquisa ‘O pensamento católico, a atuação política e a intervenção social da Igreja em relação à formulação da identidade e da espacialidade norte-rio-grandense entre 1930 e 1964,’ com atuação no plano de trabalho ‘Pesquisa e digitalização das fontes acerca da produção do pensamento católico no Rio Grande do Norte das décadas de 1930 e 1940’ no ano de 2012 a 2013, quando foi possível começar e me envolver no desenvolvimento da pesquisa sobre o integralismo e anticomunismo no jornal A República. Posteriormente, fui integrada a um novo plano de trabalho: ‘Pesquisa e digitalização das fontes acerca da produção do pensamento católico e do discurso anticomunista no Rio Grande do Norte nas décadas de 1930 e 1940‘ iniciando nessa nova etapa a pesquisa e digitalização da produção anticomunista encontrada nos jornais A República, A Ordem, na 5. PEIXOTO, Renato Amado. A Crise de 1935 no Rio Grande do Norte: a tensão entre as identidades estadual e nacional por meio do caso norte-rio-grandense. In: Anais do VI Simpósio Internacional Estados Contemporâneos. Natal: UFRN, 2012, v. 1, pp. 294-301. 6 Em relação à categoria espacialização e espacialidade, ver; PEIXOTO, Renato Amado. Duas Palavras: Os Holandeses no Rio Grande e a invenção da identidade católica norte-rio-grandense na década de 1930. Revista de História Regional, v. 19, p. 35-57, 2014, p. 56, Nota 45; PEIXOTO, Renato Amado. Espacialidades e estratégias de produção identitária no Rio Grande do Norte no início do século XX. In: Renato Amado Peixoto. (Org.). Nas trilhas da representação: trabalhos sobre a relação história, poder e espaços. Natal: EDUFRN, 2012, v. 1, p. 11-36; PEIXOTO, Renato Amado. Espaços imaginários: o historiador dos espaços como cartógrafo. In: PEIXOTO, Renato Amado. Cartografias Imaginárias: estudos sobre a construção do espaço nacional brasileiro e a relação História & Espaço. Natal: EDUFRN, 2011.. 13.

(15) revista A Ordem e, nas obras dos intelectuais católicos da década de 1930, tendo como resultado a apresentação de trabalhos e a publicação de escritos em Congressos científicos. Esta pesquisa está integrada no escopo das análises do Grupo de Pesquisa nacional ‘História, Catolicismo e Política no Mundo Contemporâneo’7, abrigado na Universidade Federal de Mato Grosso, onde atuo na linha de pesquisa ‘Catolicismo e Política no mundo contemporâneo’ que é liderada pelos professores Drs. Cândido Moreira Rodrigues (UFMT) e Renato Amado Peixoto (UFRN). Portanto, foi a partir do contato com as fontes e nas leituras sobre o pensamento católico e as obras que remetem ao estudo do anticomunismo no Grupo de Pesquisa, que despertamos nosso interesse para a análise da atuação da Igreja na política do Rio Grande do Norte e, incidimos a questionar a presença nos editoriais e artigos desses periódicos sobre a necessidade incessante de se definir e redefinir o comunismo neste período e, dessa forma, passamos a indagar quais seriam as finalidades e objetivos que estavam por trás da construção desse discurso. Para efeito desta análise começamos a trabalhar as fontes oferecidas pela imprensa local: o jornal A Ordem da Diocese de Natal, em que percebemos a atuação da intelectualidade leiga católica e os ideais da Ação Católica, e o jornal A República, onde o pensamento das elites e da Interventoria Federal estão evidenciados no período recortado. Note-se que o jornal A República, fundado em 1889 era então o órgão oficial do Estado, em que também analisamos a construção do discurso anticomunista, para que possamos subsidiar nossas análises dos documentos e artigos referentes à relação entre o Governo Federal, a Igreja Católica e também em relação ao Integralismo. Também passaram a fazer parte do rol de nossas fontes a revista A Ordem a qual tivemos acesso pelo site da Biblioteca Nacional Digital Brasil e a documentação no IHGRN. Para a articulação teórico-metodológica desta dissertação trabalharemos a partir de Pierre Bourdieu,8 visando investigar e compreender a formulação de um discurso anticomunista norte-rio-grandense, e, identificar e esclarecer o espaço social católico. Pela análise do discurso de Bourdieu entendemos ser possível verificar as diferentes formulações desse discurso e de seus mecanismos de representação em suas escalas e esferas.. 7. Grupo de pesquisa ‘Catolicismo e Política no mundo contemporâneo’ Endereço para acessar este espelho: dgp.cnpq.br/dgp/espelholinha/840794613721190022473 8 BORDIEU, Pierre. Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Campinas/SP: Papiros, 2011.. 14.

(16) Tendo em vista discernir a diferença entre o anticomunismo clássico e o anticomunismo católico, nosso estudo requer uma análise da produção historiográfica produzidas sobre este assunto, a partir de uma visada que permita direcionar nossa compreensão para as diversas abordagens teóricas e metodológicas que ocasionaram a elaboração desses trabalhos, propiciando, desse modo, compreender o que proporcionou as definições, ações e propósitos a partir dos quais eles foram elaborados. Um dos primeiros trabalhos que deu início à análise do anticomunismo no Brasil foi o livro ‘O diabo é vermelho – Imaginário anticomunista e Igreja Católica no Rio Grande do Sul (1945-1964), de autoria de Carla Simone Rodeghero, fruto de sua dissertação de mestrado. A autora desenvolveu sua análise por meio da História Cultural, averiguando a construção de imagens sobre o anticomunismo católico no Rio Grande do Sul e trabalhando na sua pesquisa os periódicos católicos, encíclicas papais e, também, produções de outras instituições como o Exército, a Cruzada Brasileira Anticomunista, a imprensa laica, Etc. Além disto, Rodeghero lançou mão de entrevistas com pessoas vinculadas a religião católica e ativistas comunistas. Dessa maneira a autora, pretendeu demonstrar a formação de um imaginário anticomunista e as diferentes formas de representação que contribuíram na formulação de uma imagem comunista. Portanto, este trabalho que principiou a análise do anticomunismo demonstrando a construção de representações por parte da Igreja Católica, nos levou a repensar as questões teóricas e metodológicas que foram utilizadas. Foi por meio da abordagem de Roger Chartier para o conceito de ‘representação’ que Rodeghero investiu na análise de suas fontes impressas e orais, procurando compreender a produção do imaginário anticomunista e perceber formas de ações e práticas da Igreja Católica as quais, segundo a autora teria culminado em construções e representações que reforçavam o imaginário anticomunista, contudo, sem pensar suas origens no pensamento católico. Já a obra ‘Em guarda contra o perigo vermelho’, do historiador Rodrigo Pato Sá Motta, tese defendida em 2002 e, transformada em livro, contribui para uma melhor compreensão do tema, uma vez que define as principais matrizes do anticomunismo, e consequentemente, as possíveis definições das diferentes representações e ações do anticomunismo no Brasil. Motta, mediante uma abordagem focada na história política, analisou dois períodos de maior ênfase anticomunista, os anos 1935 a 1937, pós-Levante Comunista e 1961 a 1964, 15.

(17) quando se teria reforçado o ideário anticomunista produzido após o Levante de 1935. Motta analisou o anticomunismo através de comparações com diferentes temporalidades e da observação em relação às suas permanências e regularidades. Desta forma, ele pode explanar sobre o que referiu como diversas representações anticomunistas, associadas às ações de diferentes instituições. Isto lhe permitiu empreender uma análise dos objetivos e finalidades do que seria a construção desse imaginário nos principais períodos de maior contestação ao comunismo, formulando, assim, segundo o autor, o que seriam as suas principais matrizes: o Catolicismo, o Nacionalismo e o Liberalismo. Pensamos que outro ponto relevante do trabalho de Motta é o argumento a respeito do surgimento do anticomunismo no Brasil: para o autor, apesar da presença do discurso anticomunista no século XIX, seria somente após a Revolução de 1917 que o anticomunismo no Brasil se apresentou de maneira mais contundente, pois, seria então que se iniciaria a influência dos ideais comunistas de paradigma soviético no país, por intermédio do Partido Comunista do Brasil, o que teria desencadeado o medo de uma possível mudança política e a possibilidade da tomada de poder pelos revolucionários. Em vista disso, Motta argumenta que “(...) o anticomunismo tornou-se uma força decisiva nas lutas políticas do mundo contemporâneo, alimentado e estimulado pela dinâmica do inimigo que era a sua razão de ser, o comunismo.” 9 Entretanto, foi o trabalho de Cândido Moreira Rodrigues10 ‘A Ordem: uma revista de intelectuais católicos – 1934 a 1945’, dissertação defendida no ano de 2005, que nos possibilita reanalisar as abordagens a respeito do surgimento do anticomunismo católico no Brasil. Como o autor bem demonstra, o aparecimento do anticomunismo católico se deu bem antes da Revolução de 1917, como parte da contestação por parte da Igreja contra os princípios da Revolução Francesa e, em contrapartida a um Estado laico e secularizado. Rodrigues também identificou os fundamentos teóricos que mais influenciaram os anticomunistas católicos em seu exame da revista A Ordem, sendo possível perceber nesta o peso das matrizes do pensamento católico do século XIX. Este foi constituído e disseminado a partir das obras de pensadores conservadores e contrarrevolucionários, como, Edmund Burke, 9. MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o “perigo vermelho”: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva/Fapesp, 2002, p. 20. 10 RODRIGUES, Cândido Moreira. A Ordem - Uma revista de intelectuais católicos: (1934-1945). Belo Horizonte: FAPESP, 2005.. 16.

(18) Louis Ambroise De Bonald, Joseph De Maistre e Juan Donoso Cortés, os quais teriam fornecido a base teórica para a aceitação de boa parte dos movimentos e regimes autoritários e totalitários que obtiveram repercussão no século XX. Segundo o autor, os filósofos Henri-Louis Bergson e Jacques Maritain, contrários aos preceitos da modernidade, teriam fornecido o apoio que contribuiu para que o pensamento católico justificasse a aproximação entre o Estado e a Igreja no Brasil durante o período Vargas. O enfoque de Rodrigues nos possibilitou uma melhor definição das categorias ‘anticomunismo’ e ‘anticomunismo católico’ contribuindo para o nosso trabalho, ao nos permitir repensar as ações, estratégias e estruturas da Igreja na sociedade, à luz das matrizes que contribuíram na formação do pensamento católico brasileiro, especialmente tendo em vista pensar a produção do discurso anticomunista católico na imprensa ligada à Igreja, ao mesmo tempo, responsável pela sua difusão e instigado pela instituição eclesiástica. Dessa maneira, foi possível perceber e trabalhar os modos de intervenção política da Igreja e os mecanismos de sua espacialidade – produção de espaços e de identidades ligadas a este –, e de sua espacialização tanto no Brasil quanto no Rio Grande do Norte da década de 1930. No caso, compreendemos que a noção de ‘espacialização’, denota uma operação em que vários espaços e tempos tais como local, regional, nacional e transnacional são conjuntamente tomados e recebidos, e, fabricados ativa e reflexivamente. O esforço de cruzamento dessas várias espacializações nos será útil, na medida em que se trata de trabalhar uma instituição como a Igreja, dotada de uma organização espacial particular e que extrapola categorias espaciais como nação, região e estadual, que, por sua vez, são posteriores à sua organização.11 É também numa perspectiva semelhante que a dissertação ‘Guardai-vos dos falsos profetas: matrizes do anticomunismo católico – 1935 a 1937’12 veio nos esclarecer acerca dessa nova abordagem sobre o anticomunismo, que se separa dos caminhos trilhados por Rodeghero e Motta. O historiador Marco Antônio Machado Lima Pereira evidencia a presença do anticomunismo após a revolução comunista de 1935, pelo exame do jornal católico O Santuário e da revista A Ordem, mas realizando a análise do discurso anticomunista de viés. 11. PEIXOTO, Renato Amado .‘Duas Palavras’: ‘Os Holandeses no Rio Grande’ e a invenção da identidade católica norte-rio-grandense na década de 1930. Revista de História Regional, 2014, p. 56, nota 45. 12 PEREIRA, Marco Antônio Machado Lima. “Guardai-vos dos falsos profetas”: matrizes do discurso anticomunista católico (1935-1937). Franca: UNESP, 2010.. 17.

(19) católico, em que pensa perceber uma tensão acerca das ideias políticas da Igreja, mais significativas contra as práticas e ações dos comunistas. Por conta desta percepção, a pesquisa de Pereira nos fornece os insumos para pensar a existência de relações intrínsecas entre o religioso e o político que possibilitam perceber todo um esforço de reunião dessas instâncias por parte da elite eclesiástica e de leigos católicos e, que teriam resultado na fundação do ‘Centro Dom Vital’ e da revista A Ordem. Estes seriam, na realidade, os responsáveis pela disseminação destes ideais da Igreja Católica brasileira, e pelo seu posicionamento frente ao comunismo e, à vista disso, coloca Pereira: “(...) o anticomunismo serviu como uma das principais bandeiras utilizadas para aglutinar a intelectualidade católica, permitindo sua atuação no processo político do período”13. Seria, portanto, na busca de contribuir para esclarecer a distinção entre o anticomunismo clássico e o anticomunismo católico e, para pensar as tensões e contribuições da relação entre o religioso e o político que estimularam sua produção que elaboramos nosso Plano de Redação. Em relação ao primeiro capítulo, buscaremos perceber o que foi o anticomunismo no período da Era Vargas de 1934 a 1937 e distinguir as suas diferentes produções, nos vieses clássico e católico. Para isto, procuraremos trabalhar em torno do Centro Dom Vital, apontando suas origens, os objetivos dessa instituição e a sua relação com a Igreja Católica. Além disso, procuraremos pensar o propósito de sua disseminação espacial, pela fundação de filiais do centro nos principais estados do país. Já no segundo capítulo, buscaremos também analisar os artigos publicados na Revista A Ordem, o principal órgão de divulgação dos ideais conservadores naquele período e compreender quais eram os temas e assuntos abordados e, se o anticomunismo fazia parte dos insumos aí produzidos. O terceiro capítulo examinará os jornais A República e A Ordem em nosso recorte da década de 1930, para analisar a situação política do Rio Grande do Norte e buscar compreender não apenas os diferentes polos de poder representados pela presença dessas novas lideranças, a Interventoria e a Diocese de Natal, mas também para analisar a emergência da Igreja como ator político significativo no estado do Rio Grande do Norte.. 13. Ibidem, p. 17.. 18.

(20) Percebemos que isto é consequência da ‘Crise de 1935`14, um dos principais fatores que possibilitaram que a Diocese de Natal se tornasse um dos atores principais no jogo político norte-rio-grandense, principalmente após o Levante Comunista, quando a hierarquia católica passou a intervir coadjuvada pelo Integralismo, inclusive, firmando acordo com as antigas organizações familiares do estado. No intuito de melhor exemplificarmos a ligação entre o religioso e político por meio do anticomunismo católico e o problema da espacialização, trabalharemos a formação da identidade que foram desencadeadas pelos acontecimentos relativos ao Levante de 1935. Afinal, no regime republicano a Igreja passou por inúmeras dificuldades; sem o apoio do Estado e não podendo mais contar com o subsídio governamental, teve que se organizar de uma nova maneira que lhe garantisse “autonomia financeira, institucional e doutrinária”. As diretrizes descentralizadoras do regime republicano, através da “política dos governadores”, representados pelos partidos estaduais, e da autonomia dos clãs oligárquicos, tornaram possível a implementação do processo de “estadualização” do poder eclesiástico, com as sedes das dioceses passando a serem localizadas em cada estado. Nesse contexto, os eclesiásticos buscaram o apoio de leigos católicos e das autoridades públicas do novo regime que garantissem as suas prerrogativas. Essa estratégia política verdadeiramente expansionista da Igreja suscitou alianças com o poder local, servindo de apoio para a legitimação e afirmação do poder oligárquico. 15 Sendo um dos objetivos da Neocristandade,16 percebemos que o processo de expansão diocesana se desencadeou em meio às formulações da identidade da Igreja norte-riograndense. Pensamos nessa articulação com nosso objeto por causa do Município de Mossoró, ser um dos polos de maior organização do Partido Comunista Brasileiro (PCB) no estado e, em face da região ter sido o palco principal da guerrilha rural (1935-1936) preparada e apoiada pelos trabalhadores rurais das Salinas e mobilizada pelo Sindicato do Garrancho, ligado ao PCB. A Diocese de Natal, inserida nessa nova organização territorial do território eclesiástico, não se excluiu das decisões ligadas às mudanças do novo sistema político. Pelo. 14. PEIXOTO, Renato Amado. A Crise de 1935 no Rio Grande do Norte: a tensão entre as identidades estadual e nacional por meio do caso norte-rio-grandense. In: Anais do VI Simpósio Internacional Estados Contemporâneos. Natal: UFRN, 2012, v. 1, p. 294-301. 15 MICELI, Sergio. A elite eclesiástica brasileira (1890-1930). Tese de Doutorado em Sociologia, Campinas/SP: UNICAMP, 1985, p. 45-48. 16 MAINWARING, Scott. A Igreja Católica e Política no Brasil (Trad. Heloisa Braz de Oliveira Prieto). São Paulo: Brasiliense, 1989.. 19.

(21) contrário, através da “estadualização diocesana”17, atuou politicamente inserindo seus princípios, utilizando-se de novas estratégicas políticas para se mantiver nas articulações de poder, continuando a relação entre Igreja e Estado através da cordialidade e da troca de favores. Assim, neste período, a elite eclesiástica pôde atuar de maneira mais independente, adquirindo uma autonomia política que possibilitou a reestruturação do espaço. A Igreja buscou construir Dioceses como núcleos que correspondessem às demandas necessárias de cada região e, ao mesmo tempo, estabelecer a hegemonia da sua doutrina por meio de uma maior articulação nas principais regiões do estado. Nessas novas regiões com a atuação eclesiástica o quadro político passou a ter um novo membro que esteve incumbido de se afirmar por meio do campo religioso. Entendemos que o propósito por parte da Diocese de Natal era o de se afirmar nas demais regiões do estado, atuando na inserção doutrinária e nas decisões políticas, e, dessa maneira confirmando a emancipação e a influência social e política da Igreja no Rio Grande do Norte.. 17. GOMES, Edgar da Silva. O catolicismo nas tramas do poder: a estadualização diocesana na Primeira República (1889-1930). Tese de Doutorado, São Paulo: Pontifícia Universidade Católica, 2012.. 20.

(22) CAPÍTULO I. 1. A FORMULAÇÃO DO ANTICOMUNISMO CATÓLICO NO BRASIL E A FUNDAÇÃO DO CENTRO DOM VITAL 1.1. A definição e a abordagem do anticomunismo na historiografia brasileira Para pensarmos a importância do anticomunismo católico para a construção da identidade e da espacialidade norte-rio-grandense, precisamos primeiro, discutir a categoria anticomunismo, sendo relevante perceber as diferentes definições do que classicamente foi chamado de anticomunismo até os dias atuais. O que era o anticomunismo na década de 1930? Quando o termo é primeiramente utilizado no Brasil, quais os seus sentidos? Qual a diferença entre o que a historiografia hoje chama de anticomunismo e o que era o anticomunismo católico na época? Entendemos que a análise das produções acadêmicas sobre as diferentes abordagens do anticomunismo nos possibilitará acessar as diferentes compreensões da categoria no pensamento conservador e no pensamento católico brasileiro. Para isto, a nossa pesquisa buscará compreender o surgimento de instituições leigas sob a orientação da Igreja, e a movimentação de intelectuais que contribuíram para a elaboração e a legitimação das diretrizes tomadas pela Igreja na década de 1930, bem como para as articulações da instituição eclesiástica no Brasil visando às intervenções sociais e política. Procurando, trabalhar a história do pensamento católico no Brasil pela aproximação teórica e metodológica de Pierre Bourdieu, entendemos que nosso trabalho se insere na análise do campo religioso e, que neste não se deve perceber uma homogeneidade, mas, um composto de subcampos que possuem uma dinâmica própria, em que os princípios de dominante e dominado devem ser percebidos conforme as estratégias e ações desses subcampos.18 Devemos, pois, analisar a estrutura do campo a partir dele mesmo, pois suas reestruturações sucedem ao largo dos acontecidos fora deste e, entender a partir do próprio campo religioso a constituição de uma relação intrínseca entre o catolicismo e a política no Brasil durante a década de 1930.. 18. BORDIEU, Pierre. Razões Práticas: sobre a teoria da ação. Campinas/SP: Papiros, 2011.. 21.

(23) Um dos trabalhos pioneiros na investigação do anticomunismo produzido pela Igreja católica é o de Carla Simone Rodeghero,19 do ano de 1998 e, de acordo com esta pesquisadora, a Igreja foi uma das principais instituições responsáveis pela formulação do ideário anticomunista. Rodeghero teve como uma de suas principais preocupações a delimitação das categorias comunismo e anticomunismo articulado à ideia da representação, enquanto forma de melhor perceber a diversidade dos insumos que contribuíram para a construção do imaginário católico. É nesse estudo que o termo anticomunismo vai ser definido como sendo uma reação contra os ideais e manifestações ao comunismo, ao Partido Comunista do Brasil e às organizações de viés de esquerda no Brasil, juntamente com todas as ações que se referiam as contribuições nos sindicatos e nos movimentos de melhoria a setores menos privilegiados da sociedade: O imaginário anticomunista pode, então, ser definido, de acordo com o objetivo específico da obra, como um conjunto de representações construídas e utilizadas por diversos setores da Igreja Católica para interpretar a realidade e os problemas vividos pela sociedade como um todo, ou pelas instituições, no período de 1945 a 1964.20. Já o trabalho concluído no ano de 2001 por Rodrigo Patto Sá Motta21, nos traz uma análise que reporta a categoria anticomunismo como constituída por vários aspectos que diferenciam as representações do comunismo, mas que, em geral, têm um fim em comum: a recusa às noções elementares que abordam o sistema político comunista de viés bolchevista. O que o autor nos traz de novidade em sua pesquisa é a tentativa de demonstrar que três matrizes compõem o ideário do anticomunismo – o catolicismo, o nacionalismo e o liberalismo - fundamentando um discurso anticomunista no Brasil, compreendendo, por conseguinte, esta categoria como um leque de explanações de várias vertentes ideológicas, porém, articuladas com o mesmo objetivo, o de recusa aos preceitos da Revolução de 1917. Para o autor, o anticomunismo serviu como uma das motivações que impulsionaram os conflitos políticos contemporâneos no Brasil, instituindo seu inimigo principal o comunismo característico, de viés marxista-leninista. 19. RODEGHERO, Carla Simone. O diabo é vermelho: imaginário anticomunista e Igreja Católica no Rio Grande do Sul (1945-1964). 2°. Ed. Passo Fundo: UPF, 2003. 20 Ibidem, p. 28. 21 MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o “perigo vermelho”: o anticomunismo no Brasil (1917-1964). São Paulo: Perspectiva/Fapesp, 2002.. 22.

(24) Segundo Motta, mesmo tendo sido formulado no século XIX, o comunismo teve maior repercussão no século XX com a ascensão dos bolcheviques com a tomada do poder na Rússia. Seria a partir desse enfoque que o comunismo deixaria de ser apenas um ideal político para se tornar a sua concretização real. Portanto, o anticomunismo surgiria mais como a expressão do medo diante da possibilidade de expansão dos princípios comunistas pelo mundo e, ocasionando as ações dos líderes e das organizações políticas conservadoras que, teriam passado a articular medidas para barrar o movimento revolucionário que se confrontava os sistemas políticos vigentes na época, especialmente o capitalismo-liberal: A representação do comunismo como inimigo absoluto não derivava apenas do medo que conquistasse as classes trabalhadoras. A questão central, na ótica dos responsáveis católicos, no que não estavam desprovidos de razão, é que a nova doutrina questionava os fundamentos básicos das instituições religiosas. O comunismo não se restringia a um programa de revolução social e econômica. Ele se constituía numa filosofia, num sistema de crenças que concorria com a religião em termos de fornecer uma explicação para o mundo e uma escala de valores, ou seja, uma moral. 22. Outro problema relevante apontado por Rodrigo Motta é o do aparecimento do anticomunismo no Brasil. Apesar de o Partido Comunista se apresentar de forma concreta na política apenas a partir da década de 1930, com o surgimento ativo do Partido Comunista do Brasil (PCB), da Aliança Nacional Libertadora (ANL) e da presença militante de Luiz Carlos Prestes, a presença de um discurso anticomunista já se fazia presente na imprensa brasileira desde as primeiras décadas do século XX, quando se percebia uma maior participação do seu ideário no cenário político brasileiro, mais pela atuação dos grupos anarquistas que dos comunistas. Já a análise proposta pelo historiador Marco Antônio Machado Lima Pereira23 trabalha nessa mesma definição de anticomunismo. Como objeto de estudo, de acordo com o autor, o anticomunismo é ressaltado no período de maior contestação à movimentação partidária do comunismo no Brasil, principalmente após os levantes de novembro de 1935. Pereira defende que este é um dos períodos de maior relevância das produções e ações políticas conservadoras, em face aos perigos que o Levante poderia propiciar, ou seja, como. 22. Ibidem, p. 20. PEREIRA, Marco Antônio Machado Lima. “Guardai-vos dos falsos profetas”: matrizes do discurso anticomunista católico (1935-1937). Franca: UNESP, 2010. 23. 23.

(25) uma nova forma de prevenção à possibilidade de tomada de poder pelos comunistas. É neste contexto de conflito, pela articulação do Partido Comunista e, da tentativa da tomada de poder, no Levante, que o autor vai definir a produção anticomunista enquanto uma reação, em contrapartida ao movimento comunista e, relativa a uma conjuntura elaborada desde a Revolução Russa. Carla Simone Rodeghero24 retorna em 2002 com um novo trabalho que se baseia na compreensão do que autora denomina de ‘anticomunismo brasileiro’, a saber, como um discurso produzido por certas instituições no país, realizando, para isto, um trabalho baseada na comparação entre os discursos da Igreja Católica e da corporação diplomática norteamericana no Brasil, as quais teriam derivado as suas elaborações da produção anticomunista advinda dos Estados Unidos e também dos postulados estabelecidos pelo Vaticano. Ambas as entidades, portanto, teriam disseminado produções que culminaram em diferentes representações no campo do imaginário social, resultado da recepção do combate ao comunismo. Realizando um paralelo através de instituições distintas, Rodeghero diria ter podido perceber as diferenças e semelhanças das formulações anticomunistas na distinção de uma identidade comunista em relação aos não comunistas. Assim, a autora compreende a formação da negação aos postulados comunistas da seguinte maneira: “o anticomunismo é entendido como uma postura de oposição sistemática ao comunismo que se adapta a diferentes realidades e se manifesta por meio de representações e práticas diversas” 25. Já o trabalho de Célia Maria Groppo26, em sua pesquisa sobre o anticomunismo católico brasileiro, ao definir o termo anticomunismo, observa que a revista A Ordem, órgão do laicado católico brasileiro, teria sido o veículo que mais divulgou o anticomunismo no país e, aponta que este se remetia aos postulados do comunismo da terceira década do século XX no Brasil. A pesquisa de Groppo demonstraria que o discurso anticomunista não se apresentava de forma concreta contra os postulados marxista-leninistas, porém, antes da tomada do poder pelos bolcheviques na Rússia, o discurso se remetia indistintamente ao anarquismo, ao socialismo, à socialdemocracia e às outras variantes do comunismo.. 24. RODEGHERO, Carla Simone. Memórias e avaliações: norte-americanos, católicos e a recepção do anticomunismo brasileiro entre 1945 e 1964. Porto Alegre, 2002. (Tese de doutorado). 25 Ibidem. p. 20-21. 26 GROPPO, Célia Maria. Ordem no céu, ordem na terra: A Revista “A Ordem” e o ideário anticomunista das elites católicas (1930-1937). São Paulo, 2007 (Dissertação).. 24.

(26) Porém, a autora ressalta que a década de 1930 é o período em que as fontes demonstraram haver uma maior ênfase no discurso anticomunista, permeado e refletido pelo pensamento conservador das elites eclesiásticas. A autora também credita a consolidação das matrizes ideológicas católicas que fomentaram na elucidação do comunismo no Brasil ao surgimento do PCB e da Aliança Nacional Libertadora (ANL), na medida em que se concretizaram nas suas representações a imagem revolucionária que depois seria ligada aos adeptos dessa ideologia política no Brasil. Entretanto, para compreender a trajetória das formulações atribuídas ao combate dos ideais comunistas no país Célia Maria Groppo define o anticomunismo católico como sendo apenas uma das várias vertentes que formularam então as representações sobre o comunismo. Já a pesquisa de Rosângela Pereira de Abreu Assunção27, exaurida no Departamento de Ordem Política e Social do estado de Minas Gerais (DOPS-MG), de resto, uma das filiais da instituição responsável pela repressão e investigação aos comunistas e, fundada para a prevenção e combate ao comunismo. Assunção colocou a importância de se compreender como o imaginário anticomunista produzido pela sociedade brasileira motivou as representações anticomunistas produzidas pela própria polícia política mineira. Segundo a autora, principalmente na década de 1930, o anticomunismo teria sido elaborado em discordância às influências das diretrizes da Revolução de Outubro, mas, pode-se constatar pela pesquisa no DOPS-MG que as ações desempenhadas por essa instituição, por meio de todo um aparato ideológico, culminou na utilização de um imaginário anticomunista que serviu para distinguir os opositores da ordem e do Estado, o ‘subversivo’, ou seja, qualquer suposição “subversiva” possibilitava a intervenção policial e justificava ações de controle social e político. Partindo para outro rol de pesquisas, as que fazem referência a mesma categoria de análise, desta vez mais centrados no recorte da história regional e local, o anticomunismo é compreendido no trabalho do historiador Ariel Tavares Pereira28 como as diferentes representações que se remetiam ao comunismo, correlacionando as conjecturas da Revolução Russa e da Guerra Civil Espanhola. Examinando as abordagens do anticomunismo produzidas pela imprensa de São Luiz, Maranhão, na década de 1930, Ariel Pereira percebe diferentes abordagens que se remetiam ao comunismo e ao comunista. Os diferentes grupos oligárquicos que se faziam representar na 27. ASSUNÇÃO. Rosângela Pereira de Abreu. DOPS/MG. Imaginário anticomunista e policiamento político (1935-1964). Minas Gerais, 2006. (Dissertação de Mestrado). 28 PEREIRA. Ariel Tavares. Um espectro ronda a ilha: O comunismo na imprensa de São Luiz (1935-1937). São Luiz, 2010. (Dissertação de Mestrado).. 25.

(27) imprensa seriam responsáveis por essa construção anticomunista e pela concretização de uma identidade que encarnava o mal responsável pela desordem na sociedade. Por sua vez, o historiador Faustino Teatino Cavalcante Neto29 evidencia em sua tese, que tem como objeto de estudo o anticomunismo na Paraíba, que o período 1917 a 1937 é o momento de formulação do anticomunismo no Brasil, Mediante uma análise que se norteia por perscrutar o imaginário e a construção das representações sobre o anticomunismo, o autor define que essa categoria foi constituída a partir das questões atuantes na disseminação pelo mundo dos princípios do comunismo de viés marxista-leninista. Entretanto, apesar de o autor apontar em sua pesquisa todo um arsenal de produções anticomunistas por parte da Igreja Católica após os postulados da revolução de outubro, sua pesquisa remete à produção da elite política a responsabilidade pela elaboração do anticomunismo anterior à década da “primeira grande onda anticomunista 1935-1937”. 30. ea. percepção, por esta, da influência das ideias bolchevistas no Brasil. Outros problemas relevantes ficam apontados noutro rol de pesquisas, aquele que não tem por centro de análise o político e o social. No trabalho de Lindolfo Anderson Martelli, que analisa o movimento pentecostal no Brasil31 e, investigando outra instituição que não a católica, foi apontada a presença de um anticomunismo produzido diretamente pela Assembleia de Deus já nas primeiras décadas do século XX, onde o autor pode constatar a elaboração de um discurso de identidade religiosa por meio da construção de representações que tinham o objetivo de doutrinação. Para Martinelli, esse discurso, observado nos jornais publicados pela Assembleia de Deus, fornece a definição do comunismo como uma das explicações sobre os males do mundo e teria se iniciado logo após a legalização do Partido Comunista no Brasil. Como uma das questões seculares, os males advindos do comunismo se remetiam a uma explicação baseada em um “discurso teológico escatológico” 32.. 29. CAVALCANTE NETO. Faustino Teatino. A ameaça Vermelha: o imaginário anticomunista na Paraíba (19171937). 2013. 274 f. Tese (Doutorado em História) – Programa de Pós-Graduação em História da Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2013. 30 MOTTA, Rodrigo. Op., cit., p. 179. 31 MARTELLI. Anderson Lindolfo. Escatologia e Anticomunismo nas Assembléias de Deus do Brasil na primeira metade do século XX. 2010. 192 f. Dissertação (Mestrado em História) – Programa de Pós-Graduação da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis, 2010. 32 Ibidem, p. 10.. 26.

(28) Os comunistas foram representados sob a égide do mal, frequentemente relacionados ao demônio, Anticristo e ao pecado. Estereotipado às imagens de figuras assustadoras, “bestas”, animais perigosos, agentes patológicos, associado às barbaridades e ao retrocesso civilizatório, o comunismo ganhou forma e atributos desqualificantes. Toda a linguagem usada nos jornais para interpretar os sinais dos tempos estava carregada de sentidos, símbolos e imagens dotados de poder capazes de estruturar a própria vida e a percepção da realidade. Os assembleianos identificavam nas doutrinas, crenças, profecias e revelações à resposta para os acontecimentos históricos. 33. Por sua vez, a pesquisa de Eduardo de Souza Soares34 analisou o viés político do cinema e sua repercussão na imprensa de Porto Alegre, interligado à construção de um discurso anticomunista. Analisando as impressões da exibição das obras cinematográficas de Charles Chaplin na capital gaúcha durante a década de 1930 e 1940, Soares observa que estas coincidiram com os momentos de maior repressão política ao comunismo no Brasil, o pós-Levante Comunista de 1935 e a implantação do Estado Novo. Para a proposta de sua pesquisa, Soares utilizou a mesma designação da categoria anticomunismo defendida por Rodeghero: Entendemos o anticomunismo como um conjunto de ideias, de representações e de práticas de oposição sistemática ao comunismo. Considerando as condições pouco propícias ao desenvolvimento de um projeto revolucionário, o anticomunismo deu origem à constituição de um imaginário próprio, uma composição de imagens dedicadas a depreciar as doutrinas e práticas comunizantes, deixando marcas profundas na sociedade brasileira desde as primeiras lutas operárias. 35. A presença do comunismo como inimigo a ser derrotado, também foi identificada como uma forma de verificar as diferenças e homogeneidades nos discursos anticomunistas e antiliberais produzidos pelo Governo Vargas, num período em que sua atuação política coincidia com a ascensão e com a colocada da Ação integralista Brasileira na ilegalidade. 33. Ibidem, p. 19-20. SOARES. Eduardo de Souza. A Máscara e o rosto de Chaplin: o anticomunismo na repercussão da filmografia política de Carlitos em Porto Alegre (1936-1949). 2008. 139 f. Dissertação (Mestrado em História) – Sociedades Ibéricas e Americanas, Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas, Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2008. 35 SOUZA apud cit RODEGHERO. 34. 27.

(29) No mesmo viés de observar a relação entre o integralismo e o Governo Vargas, outro pesquisador, Edgar Serrato,36 sustenta que o anticomunismo baseou o discurso proferido por ambas as atuações políticas e, observou que estes discursos, além de compartilharem a mesma temporalidade, apresentavam semelhanças ideológicas e políticas. Para Serrato, o anticomunismo integralista partilhava dos mesmos argumentos dos discursos de Vargas, em que o comunismo se fazia presente pela remissão ao seu caráter materialista. Para o autor, ambos os discursos repudiavam os ideais do liberalismo, defendiam um Estado autoritário com a intervenção estatal na economia e a não pluralidade partidária, sendo que o enfoque anticomunista se tornaria ainda mais expressivo na atuação discursiva de Vargas após o Levante Comunista de 1935. Serrato coloca que: Por mais que o apelo comunista vá ao encontro da substituição do critério individualista pelo coletivista – assim como propõem os integralistas e Vargas -, ambos discursos apontam para o fato de que o regime comunista não passa de uma difusa forma de ditadura, onde uma minoria acima do povo – que se diz governar em nome dele -, o explora e/ou escravizava, sendo este um recorrente apelo presente na lógica discursiva do anticomunismo internacional, seja na vertente liberal ou fascista.37. Portanto, verificamos que em praticamente todas as análises anteriormente citadas definem a categoria anticomunismo enquanto uma recusa ao sistema político comunista e, mesmo sendo estabelecido por diferentes instituições (Polícia Política, Igreja Católica, Exercito, imprensa, Cinema, etc.), o discurso anticomunista é apresentado enquanto um discurso centrado contra os postulados comunistas de viés marxista-leninista. Percebemos também que a maioria destas análises, ainda que comparativas, se apresentam sem que haja o esforço de se confrontarem diferentes escalas do espaço, ou seja, analisam um discurso anticomunista estadual ou nacional, sem fazerem remeterem suas analíticas a exame que contemple outras escalas discursivas, deixando de fornecer um sentido amplo da análise, um sistema, capaz de enfrentar as diferenças ou similitudes entre as diferentes espacialidades de produção do anticomunismo.. 36. SERRATO, Edgar Bruno Franke. A Ação Integralista Brasileira e Getúlio Vargas: antiliberalismo e anticomunismo no Brasil de 1930 a 1940. 2008. 219 f. Dissertação (Mestrado em História) Programa de Pósgraduação em História da Universidade Federal do Paraná. Curitiba, 2008. 37 Ibidem, p.196.. 28.

(30) Outro ponto que verificamos foi que a maioria dos trabalhos se refere ao anticomunismo como um discurso multifacetado e possuindo diversas origens de produção, relacionadas a estratégias e problemas diferenciados, mas que se articulam com o mesmo fim. Também devemos frisar uma quase homogeneidade teórica dos exames, todos se remetendo à categoria representação fundamentada na obra História Cultural de Roger Chartier, sem pensar suas qualidades, dificuldades ou defeitos e, sem remeter a outras possibilidades analíticas da mesma. Finalmente, observamos que, ainda que se reconheça o anticomunismo católico como uma variedade integrante de uma frente discursiva anticomunista mais ampla, muito ainda falta para se avançar no sentido de se bem definir as características, matrizes e problemas do anticomunismo católico, problema então que procuraremos enfrentar. 1.1.1. O anticomunismo católico Um dos trabalhos que veio a contribuir para a nossa abordagem é o trabalho de Cândido Moreira Rodrigues38 sobre a revista A Ordem, o periódico oficial do Centro Dom Vital, do Rio de Janeiro. Rodrigues nos fornece uma nova abordagem histórica e metodológica que possibilita repensarmos esse tema de pesquisa, diferindo bastante das produções analisadas anteriormente. Em sua pesquisa, esse autor investigou e analisou a produção da intelectualidade leiga católica39 ligada ao Centro Dom Vital. Este, sob a direção de Jackson de Figueiredo, depois de Alceu Amoroso Lima, surgiu em 1921 e transformou-se no principal órgão de difusão do pensamento católico no Brasil. Várias são as contribuições de Rodrigues: a análise das matrizes políticas, ideológicas e filosóficas que forneceram a base para compreendermos as ações e os posicionamentos da Igreja Católica; o exame dos princípios que fundamentaram a moral católica; a investigação dos liames da doutrina que possibilitaram a maior participação do laicado na vida da Igreja e; a ideia de que a disseminação de periódicos diocesanos foi uma das estratégias frente aos acontecimentos da década de 1930 no Brasil, um indício importante para ligarmos a análise da produção norte-rio-grandense, que possuía o jornal A Ordem como seu veículo divulgador, à análise da revista A Ordem.. 38. RODRIGUES, Cândido Moreira. A Ordem: uma revista de intelectuais católicos (1934-1945). Belo Horizonte: FAPESP, 2005. 39 Sobre a participação de intelectuais na década de 1930 junto à elite eclesiástica será discutida no decorrer da dissertação.. 29.

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