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A Congregação Mariana dos Moços – Subcampo de representação do Centro Dom Vital no Rio

3. A PRODUÇÃO DO ANTICOMUNISMO NO RIO GRANDE DO NORTE

3.3. A Congregação Mariana dos Moços – Subcampo de representação do Centro Dom Vital no Rio

Mais do que nunca, ás Congregações Marianas cabe hoje a missão nobilissima de preparar as milícias da vanguarda da acção catholica. Jornal A Ordem – 1935. 221

A Congregação Mariana dos Moços no estado foi fundada por Dom Antônio dos Santos Cabral em 14 de julho de 1918 no mesmo ano da fundação do Círculo de Operários Católicos. Era uma data emblemática, pois que também se fundou em 14 de julho de 1933 a Ação Integralista no Rio Grande do Norte, como afirma Peixoto,222 em uma data relativa a

219 COSTA, Homero de Oliveira. A Insurreição Comunista de 1935: Natal, o primeiro ato da tragédia. São Paulo: Ensaio; Rio Grande do Norte: Cooperativa Cultural Universitária do Rio Grande do Norte, 1995, p. 70. 220

Ibidem, p. 71.

221 Jornal A Ordem, 2 de outubro de 1935. p. 1.

222 PEIXOTO, Renato Amado. Católicos a postos! A relação entre a Ação Católica e a Ação Integralista no Rio Grande do Norte até o Levante Comunista de 1935. In: IV Encontro Estadual de História da ANPUH RN, 2010, Natal. Anais do IV Encontro Estadual de História. Natal: ANPUH-RN, 2010, v. I. p. 4.

114 Revolução Francesa e contra todos os princípios que foram norteados e defendidos por ela, ideais em que se faziam presentes os males da modernidade, apontados pela Igreja Católica. Já o Centro de Imprensa da Congregação Mariana de Moços foi fundado em 30 de agosto de 1932.

Podemos dizer que a Congregação Mariana, junto com a Igreja norte-rio-grandense, seria um subcampo do espaço social católico. Com a disseminação do pensamento católico que teve início com a inauguração do Centro Dom Vital no Rio de Janeiro, a Congregação Mariana dos Moços no estado foi responsável pela reprodução do pensamento católico no estado na década de 1930.

A contemplação do espetáculo maravilhoso das concentrações marianas, o desenvolvimento soberbo daquilo que podemos chamar a ideia mariana entre os moços da nossa Pátria, faz-nos confiar no saneamento moral da nossa sociedade, voltando aos fundamentos cristãos em que se alicerçava antes da Revolução Francêsa. Nada poderei dizer de novo neste sentido. Repetirei, porque é preciso clamar sem cessar, o que vem sendo afirmado não sómente pelo Sumo Pontifice, pelos seus Bispos e sacerdotes, como também por esses que acompanham e observam os fenomenos do mundo moderno, sob um prisma inteiramente alheio ás preocupações de ordem religiosa. 223

A formação da Ação Integralista do estado teve início pela fundação do núcleo de Natal com membros pertencentes à Congregação Mariana e, todos eles participantes do triunvirato que liderou a AIB – Francisco Véras Bezerra, Luiz da Câmara Cascudo, Miguel Seabra. Contudo, deve-se observar que a base deste núcleo na Congregação já fora formada desde o final de 1929 ou início de 1930, por meio da influência de Severino Sombra e da Legião Cearense do Trabalho.224

Em sua inauguração foi proferido o discurso225 de Francisco Véras Bezerra que deixou evidente que a data de fundação, 14 de julho, era uma advertência aos males ocasionados da modernidade. Francisco Veras clama pelos resultados que ocasionaram com que os valores que foram difundidos pela Revolução Francesa e que levaram às consequências da liberal

223

PINHEIRO. Justino Maria. O congregado mariano – A sociedade e a Patria. A Ordem. Rio de Janeiro, n. 84, p. 440, nov.1937.

224 PEIXOTO, Renato Amado. `System of the heavens’: um exame do conceito de `Colusão’ por meio do caso da criação do Núcleo da AIB em Natal. Revista Brasileira de História das Religiões, v. 9, 2016, p. 144-145. 225

115 democracia. “Os direitos do homem” como também “a liberdade, igualdade e a fraternidade” prometiam ao homem uma sociedade como um “paraiso terreal”, mas o que houve, para ele, foi à transferência do despotismo dos reis para cada indivíduo, o “Governo do povo e para o povo” que ocasionou no aumento da desordem.

O ser humano passou a não aceitar nenhuma poder, apenas o poder pelo conceito político, trazendo como resultado à sociedade “instabilidade, inquietação, desordens, revoluções”. O prevalecimento da razão antropológica em detrimento ao “teocentrismo medieval” fez prevalecer valores embasados na sabedoria popular desfavorecendo a moral.

A Revolução Franceza, eis o inimigo! Para combater a sua ideologia, responsável pelo estado de desordem e inquietação que domina o mundo, aparecemos justamente no dia em que os sectarios do liberalismo costumam festejar o que eles chamam a queda do “despotismo” e o advento da “liberdade”: 14 de julho! 226

Sendo bem é definida como “ação social católica no Rio Grande do Norte” a Congregação Mariana no estado teria sido iniciada pela ideia de D. Antonio Cabral e, caberia ao seu Centro de Imprensa a formulação e disseminação do pensamento católico no estado. O jornal A Ordem foi fundado na mesma data, 14 de julho de 1935, data associativa aos mesmos propósitos da Congregação Mariana e da Ação Integralista no estado. Tinha na presidência Ulysses C. de Góes, redator-chefe Otto de Britto Guerra, redator-secretário Francisco Veras Bezerra e gerente Manoel Rodrigues de Melo. Além do papel desempenhado na imprensa incluía-se sua atuação na formação de técnicos e no cooperativismo. Com esses propósitos os congregados marianos fundaram a Escola de Comércio e as Caixas Rurais e Operárias.

Ficava a cargo para os “Agentes da A Ordem nos estados” 227

a representação da revista A Ordem em cada estado, neste caso, Francisco Veras Bezerra, membro da Congregação Mariana e um dos líderes integralistas, era o responsável pela relação entre a produção e divulgação da revista A Ordem no estado, como também pelo envio de artigos do jornal A Ordem para a Revista.228

226 Idem.

227 Agentes da ‘A Ordem’ nos estados. A Ordem, Rio de Janeiro, n. 69, p. 379, nov. 1936. 228

116 A Congregação Mariana é uma instituição de mecanismos funcionais. As ordens religiosas definem essa particularidade da Congregação Mariana. Os principais membros da Congregação no estado eram integralistas e participavam do jornal A Ordem. Como a produção do jornal estava inserida na importância de pesquisar as tomadas de posições de quem as escreveu, percebemos as exceções e as permanências da produção do campo social e, constatamos a produção dos agentes interligada a um determinado campo, daí averiguamos o porquê das escolhas de determinadas obras e produções. Utilizando de tais recursos percebem-se quais as finalidades das produções e quais os objetivos almejados, ou seja, compreender com que e com quem a produção dos artigos jornalísticos dialogava. Identificamos, portanto, essa produção no campo religioso e político e, que este emerge em um campo intrínseco de forças no espaço social.

Por isso que refletirmos sobre a importância da Congregação Mariana empenhada na década de 1930 no jornal A Ordem. Suas especificidades e ações como um microcosmo social no campo religioso nos permite perceber a produção e participação dos Marianos na imprensa, responsáveis na veiculação das informações e produções de intelectuais nesse campo.

Falar da Congregação Mariana é remeter ao papel dos jesuítas que tem a participação particular na Igreja, e dentro do arsenal jesuíta temos a Congregação Mariana no Rio Grande do Norte. Assim, isto nos faz refletir: por que coube a ela a imprensa no estado? Qual a relação dos jesuítas com a Igreja Católica? Podemos trazer a hipótese que caberia a este microcosmo à posição específica para o empenho na função da divulgação do pensamento católico por meio da imprensa.

A partir desse propósito, podemos entender a aproximação da Igreja com o integralismo no Rio Grande do Norte: foi preciso firmar alianças para a Igreja redefinir sua atuação como ator político no estado, onde se posicionava contra os grupos oligárquicos. Podemos dizer que a Igreja no Rio Grande do Norte mantém um esforço de se aliar ao integralismo, por onde recebeu a força política para atuar nesse campo do político.

117 Os novos estudos na área que vão de encontro ao conceito do ‘Fascismo Clerical’ 229 nos permitiram compreender a relação de aproximação e as dinâmicas e ações entre Igreja e o regime político integralista que se fez presente no cenário político da década de 1930. Podemos dizer que faz parte das estratégias políticas a aproximação com preceitos religiosos, ou melhor, com a utilização do capital religioso que é fomentado pela instituição eclesiástica.

3.4. O anticomunismo norte-rio-grandense tradicional antes do Levante Comunista de