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A PROGRESSIVIDADE NOS IMPOSTOS (OS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE E DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA) (PERFIL CONSTITUCIONAL)

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP

CAROLINA ROCHA MALHEIROS

A PROGRESSIVIDADE NOS IMPOSTOS

(OS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE E DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA) (PERFIL CONSTITUCIONAL)

MESTRADO EM DIREITO

(2)

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO – PUC-SP

CAROLINA ROCHA MALHEIROS

A PROGRESSIVIDADE NOS IMPOSTOS

(OS PRINCÍPIOS DA IGUALDADE E DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA) (PERFIL CONSTITUCIONAL)

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC/SP, como exigência parcial à obtenção do título de Mestre em Direito (Direito Tributário), sob a orientação da Professora Doutora Elizabeth Nazar Carrazza.

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BANCA EXAMINADORA

____________________________________

____________________________________

(4)

Ao Thiago Diniz Barbosa Nicolai,

com amor, pelo incentivo e

(5)

AGRADECIMENTOS

Essa dissertação não se realizaria sem o apoio e a ajuda de pessoas que merecem os meus sinceros agradecimentos.

À Professora Doutora Elizabeth Nazar Carrazza, admirável professora, que da profundidade do seu saber retira a simplicidade com que ensina e transmite conhecimento. Seu trabalho de orientação, sempre atencioso, foi fundamental para o desenvolvimento deste trabalho.

À Professora Doutora Julcira Maria de Mello Vianna, minha referência acadêmica. Agradeço imensamente pelo incentivo e aprendizado. Suas aulas demonstram o prazer por lecionar, fazendo surgir um interesse imenso pela vida acadêmica.

Agradecimentos especiais à Maria Ângela Lopes Paulino, Juliana Carvalho Farizato, Maria Fernanda Pessatti de Toledo, Franco Messina e Guilherme Marzo, exemplos de amizade, seriedade e dedicação nos momentos em que mais precisei. Meu sincero agradecimento pelas valiosas colocações e apoio incondicional em mais esta etapa.

De igual modo é o agradecimento à Aline Sochan, amiga que tive a honra de conhecer no curso de mestrado e que me acompanhou durante esta trajetória.

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RESUMO

O presente trabalho tem por finalidade o estudo da tributação progressiva no direito positivo brasileiro e será tratado sob o enfoque da Constituição Federal de 1988. A progressividade aplicada aos impostos é tema que demanda o estudo do sistema constitucional brasileiro, integrado pelos princípios, normas de maior hierarquia que orientam a aplicação das demais normas dentro do ordenamento jurídico. São diversos os princípios constitucionais que informam o sistema jurídico e orientam a tributação. Dada a especificidade de cada princípio, e visando a melhor compreensão do tema proposto, temos que merecem especial destaque os princípios da igualdade e da capacidade contributiva, os quais mais de perto regem a progressividade nos impostos. Com o escopo de conferir êxito a esse objetivo, faz-se necessária a análise do princípio da capacidade contributiva (contido no da igualdade), exigindo que todos os contribuintes, por via dos impostos, contribuam na medida de suas manifestações exteriores de riqueza. Para tanto, procuramos investigações nos critérios para aferição e efetiva aplicação da capacidade contributiva nos impostos. Diante desses elementos, tratando a progressividade do vetor para o exercício de uma tributação justa e equitativa em matéria de tributária, empreenderemos nossos estudos à progressividade com finalidade fiscal (decorrente do princípio da capacidade contributiva) e extrafiscal. E, uma vez analisados todos os critérios que o tema requer, o resultado que se pretende atingir é a aplicação da tributação progressiva em cada um dos impostos elencados nos artigos 153 a 156 da Constituição Federal de 1988.

(7)

ABSTRACT

The present work aims to study the progressive taxation on the Brazilian Statutory Law and it will be treated under the focus of the Brazilian Federal Constitution of 1988. The progressivity applied in taxes is an issue that demands the study of the Brazilian Constitutional System, integrated by principles, which are rules of the highest hierarchy guiding the application of the other rules within the legal system. There are several constitutional principles that inform the legal system and guide the taxation. Due to the specificity of each principle and seeking the best understanding of the proposed issue, we believe that the principles of equality and ability to pay, which more closely rules the progressivity of taxes, deserve a special highlight. In order to achieve such objective, it is necessary to analyze the principle of ability to pay (contained in the principle of equality), which requires all taxpayers, via tax payment, to contribute to the extent of their outward manifestations of wealth. For this purpose, we have investigated the criteria for the assessment and effective application of the principle of ability to pay in taxes. In view of these elements, being the progressivity the vector for the exercise of a fair and equitable taxation in tax matters, we will implement our studies on progressivity with tax purpose (arising from the principle of ability to pay) and extra fiscal. Thus, once analyzed all the criteria that the subject requires, the result to be achieved is the application of progressive taxation in each of the taxes set forth on articles 153 to 156 of the Brazilian Federal Constitution of 1988.

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ABREVIATURAS

CF/88 – Constituição Federal de 1988

CTN – Código Tributário Nacional

II – Imposto sobre importação de produtos estrangeiros

IE – Imposto sobre exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados

IR – Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza

IRPF – Imposto sobre a renda da pessoa física

IRRF – Imposto de renda retido na fonte

IPRJ – Imposto sobre a renda da pessoa jurídica

IPI – Imposto sobre produtos industrializados

IOF – Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários

ITR – Imposto sobre propriedade territorial rural

IGF – Imposto sobre grandes fortunas

ITCMD – Imposto sobre transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens ou direitos

ICMS – Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação

IPVA – Imposto sobre propriedade de veículos automotores

IPTU – Imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana

ITBI – Imposto sobre a transmissão "inter vivos", a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis, por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 12

1 O SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO BRASILEIRO ... 16

1.1 Sistema constitucional brasileiro ... 16

1.2 Sistema constitucional tributário ... 22

1.3 Princípios: conceito ... 25

2 O PRINCÍPIO DA IGUALDADE ... 31

2.1 Conceito ... 31

2.2 Princípio da igualdade ... 35

2.3 A aplicação do princípio da igualdade na tributação ... 38

3 O PRINCÍPIO DA CAPACIDADE CONTRIBUTIVA ... 43

3.1 Análise histórica do dispositivo Constitucional sobre a capacidade contributiva no Direito Brasileiro ... 43

3.2 Conceito ... 45

3.2.1 Capacidade contributiva e capacidade econômica ... 52

3.2.2 Critérios para aferição da capacidade contributiva ... 55

3.3 O princípio da capacidade contributiva e a igualdade ... 58

3.4 Destinatários do principio da capacidade contributiva ... 63

3.5 Análise jurídica do artigo 145, §1º, da Constituição Federal de 1988 ... 64

3.6 A aplicação do princípio da capacidade contributiva ... 68

3.6.1 Mínimo vital ... 70

3.6.2 Vedação ao efeito de confisco ... 74

3.6.3 Personalização ... 79

3.6.4 Proporcionalidade e a progressividade ... 81

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3.8 Extrafiscalidade ... 91

3.9 Capacidade contributiva e os tributos vinculados ... 100

4 A PROGRESSIVIDADE NOS IMPOSTOS ... 103

4.1 Noções da progressividade ... 103

4.1.1 Progressividade fiscal e extrafiscal ... 109

4.2 Classificação dos impostos atinentes à análise da progressividade ... 111

4.2.1 Impostos reais e pessoais ... 114

4.2.2 Impostos diretos e indiretos ... 117

4.2.3 Impostos fixos e graduados ... 118

4.3 Imposto de Importação e Imposto de Exportação ... 121

4.4 Imposto sobre a renda e proventos de qualquer natureza ... 123

4.4.1 Pessoa física ... 131

4.4.1.1 Retenção na fonte ... 137

4.4.2 Pessoa jurídica ... 139

4.5 Imposto sobre produtos industrializados ... 142

4.6 Imposto sobre operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativas a títulos ou valores mobiliários ... 147

4.7 Imposto sobre a propriedade territorial rural... 148

4.8 Imposto sobre grandes fortunas ... 151

4.9 Imposto de competência residual da União... 152

4.10 Impostos Extraordinários ... 153

4.11 Imposto de transmissão causa mortis e doação, de quaisquer bens e direitos ... 155

4.12 Imposto sobre operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestações de serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação ... 159

(11)

4.14 Imposto sobre propriedade predial e territorial urbana ... 171 4.14.1 Progressividade fiscal... 173 4.14.2 Progressividade extrafiscal ... 176 4.15 Imposto de transmissão “inter vivos” a qualquer título, por ato oneroso, de

(12)

INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por objetivo o estudo do sistema constitucional, em especial o sistema constitucional tributário, integrado pelos princípios da igualdade e da capacidade contributiva, sendo este último um princípio específico do sistema tributário nacional, com base no direito positivo brasileiro e na doutrina.

Dada a linha de pesquisa referente à efetividade do Direito Público e às limitações da intervenção estatal, o tema da progressividade destaca-se por sua elevada importância como norteador de uma estrutura tributária que tem por meta alcançar a justiça fiscal, tão almejada por todos nós, na arrecadação dos impostos pelo Estado.

Entretando, o tema escolhido – progressividade nos impostos – sugere o estudo de grande porção do Direito, dirigindo o intérprete a trilhar sobre uma variedade de institutos, elementos e regras jurídicas, os quais, se percorridos em sua plenitude, por certo prejudicariam o conhecimento científico. Não é por outra razão que foram realizados cortes metodológicos, reduzindo a amplitude investigativa aos elementos necessários à compreensão da progressividade aplicada a cada um dos impostos elencados na Constituição Federal de 1988.

E isso em razão de que toda ciência pressupõe um corte metodológico. Nas palavras de Paulo de Barros Carvalho:

O conhecimento jurídico não refoge a esse imperativo epistemológico. Ao observarmos o fenômeno existencial de um determinado sistema de direito positivo, somos imediatamente compelidos a abandonar outros prismas, para que se torne possível uma elaboração coerente e cheia de sentido.1

Assim, para uma perfeita compreensão do tema, dividimos o trabalho em quatro partes.

Em um primeiro momento, tornou-se imprescindível a análise do sistema constitucional brasileiro, conduzido por uma Constituição Federal, sendo esta o fundamento último de validade de todas as demais normas que compõem o ordenamento jurídico,

(13)

composto de normas e princípios que se relacionam com um único objetivo, qual seja regular a vida dos indivíduos em sociedade.

Diante do grande número de disposições no sistema constitucional brasileiro que tratam de matéria tributária, analisamos o sistema constitucional tributário, visto que a instituição de tributos de qualquer espécie é matéria constitucional, ante um sistema rígido de distribuição de competências, visando atingir o valor supremo da segurança nas relações jurídicas existentes entre o fisco e o contribuinte.

É certo que os impostos são fonte de recurso do Estado, sendo estes recursos provenientes da riqueza do contribuinte. E para que o Estado obtenha riqueza para sua manutenção, é necessário que este objetivo seja buscado por uma tributação adequada e não indiscriminada que ultrapasse os limites constitucionais para sua imposição.

Pretende-se, no presente estudo, analisar o alcance dessa tributação adequada, de forma a atender os princípios constitucionais, mais especificamente a progressividade tributária em atendimento à justiça fiscal. Tratando-se de progressividade nos impostos, a questão coloca-se no sistema constitucional tributário, não se podendo deixar de analisar os princípios que integram o sistema e que informam a tributação.

Das breves noções sobre o sistema jurídico, faz-se uma abordagem do princípio da igualdade, implementado como forma de atribuir tratamento igualitário àqueles que se encontrem em determinada situação fática, como um ideal visado pela sociedade para que se evite privilégios e iniquidades. A Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 5º, que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, de forma que a lei deve ser editada em conformidade com a isonomia. Nesta parte, o estudo tem a intenção de trazer uma noção sobre o princípio da igualdade, como um princípio fundamental do sistema constitucional e, inclusive, do sistema constitucional tributário.

(14)

A partir daí passa-se ao estudo do princípio da capacidade contributiva, como um princípio a ser observado pelo ordenamento jurídico de forma a realizar a justiça fiscal. Tal princípio devidamente aplicado é capaz de promover uma tributação justa e equitativa, na medida em que atua como meio de graduação dos impostos, além de se apresentar como limitador da atividade tributária.

É nesse sentido que inicialmente faz-se uma abordagem da análise histórica do dispositivo constitucional sobre a capacidade contributiva no direito brasileiro, trazendo o histórico das Constituições que trataram sobre o assunto.

Em sua conceituação, busca-se distinguir as expressões relacionadas a este princípio, a fim de que não se faça uso indevido delas.

Logo após o estudo, desenvolve-se a análise de questões que envolvem os critérios para a aferição da capacidade contributiva, sendo este item de suma importância ao aprofundamento do tema.

E, em razão de a capacidade contributiva constituir princípio cuja finalidade é a tributação justa e igualitária, de forma a determinar que o contribuinte suporte a exação fiscal de acordo com a amplitude econômica do evento realizado, é que se pode verificar que decorre, diretamente, do princípio da igualdade no campo tributário.

Ainda a respeito da capacidade contributiva, o presente estudo irá analisar os destinatários deste princípio consagrado pelo direito tributário e cada uma das expressões contidas no dispositivo constitucional que trata do referido princípio, conforme disposto no artigo 145, parágrafo 1º, da Constituição Federal de 1988.

A questão da aplicação do princípio – seguidamente tratada – é de grande importância, visto que apresenta consequências práticas oriundas de sua normatização jurídica. O estudo destaca que o princípio da capacidade contributiva impõe limites à intervenção estatal, impedindo a tributação sobre o mínimo vital de sobrevivênvia dos indivíduos e a vedação de tributação com efeito de confisco, assim como a necessidade de personalização e graduação dos impostos, sempre que isso for possível. Destaca o presente estudo que a mera proporcionalidade não é suficiente para alcançar uma tributação justa; a referida graduação deve dar-se mediante a progressividade, tema proposto no presente trabalho.

(15)

Outro assunto abordado é a abrangência do princípio da capacidade contributiva, o qual nem sempre é atendido em função da impossibilidade decorrente da estrutura do imposto. É o que se observa ao analisar a extrafiscalidade e a seletividade em função da essencialidade dos produtos, mercadorias e serviços.

Por fim, procura-se demonstrar que este princípio é infomador tão somente dos impostos, havendo que os tributos vinculados a uma atuação estatal prestarem referência aos seus princípios informadores.

Feitas estas análises, intrinsecamente necessárias ao deslinde do tema proposto, passa-se à questão da progressividade nos impostos.

Para tanto, pretendemos demonstrar que a progressividade nos impostos é necessária e benéfica ao ordenamento jurídico. O tema requer a distinção da progressividade fiscal, inerente ao princípio da capacidade contributiva, da progressividade extrafiscal que atende finalidades outras – econômicas, sociais e políticas – que não a graduação das alíquotas em razão da manifestação de riqueza do contribuinte.

Em seguida, imprescindível a classificação dos impostos, limitando o presente estudo àquelas classificações atinentes à análise da progressividade, visto que na doutrina são inúmeras as classificações dos impostos que se pode encontrar.

(16)

1 O SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

1.1 Sistema constitucional brasileiro

O Direito possui como função primordial regular o comportamento dos indivíduos de forma a viabilizar o convívio social. A forma de se proporcionar esse convívio harmônico entre os indivíduos parte da devida aplicação de normas que compõem o ordenamento jurídico.

O conceito de sistema é abrangente e pode ser definido como um conjunto de

elementos interrelacionados com o objetivo de desempenhar uma função. Geraldo Ataliba, ao tratar do sistema, dispôs que “os elementos integrantes de um sistema não lhe constituem o

todo mediante sua soma, mas, desempenham funções coordenadas, uns em função dos outros e todos harmônicamente, em função do todo (sistema)”.2

Dado o conceito muito abrangente de sistema, adotaremos para o presente estudo o

sistema jurídico.

O sistema jurídico brasileiro é conduzido por uma Constituição Federal e composto de normas e princípios, sendo necessário que estes se relacionem com um único objetivo, qual seja, regular a vida dos indivíduos em sociedade.

Em análise do assunto, explana Elizabeth Nazar Carrazza que “o comportamento das pessoas é o objetivo da regulação realizada pelas normas jurídicas”. E complementa a autora:

A norma jurídica, em suma, é uma regra de comportamento que produz efeitos obrigatórios na vida social, ao contrário de outras normas, como as de etiqueta, as morais, as religiosas etc., que, por não admitirem a chamada execução forçada, não podem ter o seu cumprimento determinado por terceiros.3

Assim, este sistema de normas, concebidas para regular a conduta dos indivíduos em sociedade, busca um fundamento último de validade que é a Constituição. Geraldo Ataliba se pronunciou a respeito do tema:

2 ATALIBA, Geraldo.

Sistema Constitucional Tributário Brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

1968, p. 7.

(17)

Ao conjunto de normas constitucionais de cada país se designa Constituição. Ensina a ciência do direito que as constituições nacionais formam sistemas, ou seja, conjunto ordenado e sistemático de normas, constituído em torno de princípios coerentes e harmônicos, em função de objetivos socialmente

consagrados.4

Nas palavras de Carlos Ari Sundfeld:

(...) acima da lei, produzida pelo Estado, existe uma norma jurídica fundamental, que não é feita nem alterada por ele, estabelecendo os termos essenciais do relacionamento entre as autoridades e entre estas e os

indivíduos: a Constituição (também chamada de Carta ou Lei Magna).5

Cabe esclarecer que a expressão sistema jurídico é maculada pelo vício da

ambiguidade, uma vez que é utilizada para denominar o sistema prescritivo do direito positivo e o sistema descritivo da Ciência do Direito. Tais definições não se confundem e apresentam peculiaridades.

O direito positivo “é o complexo de normas jurídicas válidas num dado país”6, regulando a conduta das pessoas em suas relações, por meio de proposições. Por isso o direito positivo é uma linguagem prescritiva. Nesse passo, o sistema do direito positivo é formado pelo conjunto de normas jurídicas válidas, estruturadas segundo relações de subordinação-hierarquia (liames verticais) e coordenação (vínculos horizontas), e unificadas por um vetor comum, qual seja, a Constituição da República.

Para José Afonso da Silva, a constituição do Estado é a lei fundamental de forma a

organizar seus elementos essenciais. Vejamos:

Um sistema de normas jurídicas, escritas ou costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos fundamentais do homem e as respectivas garantias. Em síntese, a constituição é o conjunto de normas que organiza os elementos constitutivos do Estado.7

Podemos então dizer que a Carta Magna é o fundamento do sistema do Direito Positivo, de maneira que irá traçar a forma como todo o ordenamento jurídico (conjunto de

4 ATALIBA, Geraldo.

Sistema Constitucional Tributário Brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

1968, p. 3.

5 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. 4ª ed., 3ª tiragem, revista, aumentada e atualizada.

São Paulo: Malheiros Editores, 2002, p. 40.

6 CARVALHO, Paulo de Barros.

Curso de Direito Tributário. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 34.

7 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª ed. São Paulo: Malheiros Editores, 2004,

(18)

normas jurídicas) será desenvolvido. Por este motivo que se pode dizer que o sistema é homogêneo e unitário na medida em que está relacionado, como um todo, à Constituição Federal. A esse respeito destaca Roque Antonio Carrazza que “nos modernos Estados de

Direito o exercício dos poderes normativos é sempre circunscrito pela Constituição”.8

E à Ciência do Direito cabe descrever e interpretar o complexo dessas normas jurídicas válidas, oferecendo seus conteúdos de significação e ordenando o procedimento dos indivíduos na vida comunitária, ou seja, nas palavras de Paulo de Barros Carvalho “é uma sobrelinguagem ou linguagem de sobrenível. Está acima da linguagem do direito positivo, pois discorre sobre ela, transmitindo notícias de sua compostura como sistema empírico”.9

Mais adiante, Paulo de Barros Carvalho, ao tratar do Direito Positivo e da Ciência do Direito, esclarece:

(...) tal discurso, eminentemente descritivo, fala de seu objeto – o direito positivo – que, por sua vez, também se apresentada como um estrato de linguagem, porém de cunho prescritivo. Reside exatamente aqui uma

diferença substancial: o direito posto é uma linguagem prescritiva (prescreve

comportamentos), enquanto a Ciência do Direito é um discurso descritivo

(descreve normas jurídicas).10 (grifo do autor)

No mesmo sentido, Aurora Tomazini de Carvalho destaca a referida diferença conforme definição de Hans Kelsen que utilizava da “expressão ‘proposição jurídica’ para referir-se às formulações da Ciência Jurídica e da elocução ‘norma jurídica’ para aludir-se aos elementos do direito positivo”.11

Nessa linha de entendimento, salienta Lourival Vilanova que o Direito Positivo é um

sistema social, sendo um subsistema do sistema global que é a sociedade. Quando se trata de

estrutura do direito positivo afirma que o Direito é produto objetivo da cultura, fixado num sistema de linguagem. Desta forma, Lourival Vilanova aduz:

(...) o direito positivo, se não é, tende a ser um sistema. Não é mero agregado

de proposições normativas, simples justaposição de preceitos, caótico feixe

de normas. A própria finalidade que tem de ordenar racionalmente a

conduta humana sujeita-o às exigências da racionalidade, de que a lógica é a

8 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 29ª edição, revista, ampliada e

atualizada até a Emenda Constitucional n. 72/2013. São Paulo: Malheiros Editores, 2013, p. 34.

9 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 35. 10 Ibidem, p. 35.

11 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito – o constructivismo lógico-semântico. 2ª

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expressão mais depurada. É da ordem da práxis, sem deixar de pertencer à “razão prática”.12 (grifo do autor)

Pois bem. Entendemos que as normas jurídicas, “significação que obtemos a partir da leitura dos textos do direito positivo”13, não possuem a mesma importância dentro do ordenamento jurídico. E isso em razão de se apresentarem de maneira hierarquizada no sistema jurídico, em que o fundamento de validade da norma de menor hierarquia é baseado na norma que a antecede hierarquicamente, formando uma espécie de pirâmide.

Resulta daí que a ordem jurídica não é um sistema de regras dispostas no mesmo patamar; muito pelo contrário, é uma construção escalonada de diferentes níveis de normas jurídicas onde a Constituição representa o escalão mais elevado do Direito Positivo.

Neste sentido, Hans Kelsen14 descreve os diferentes níveis das normas jurídicas de forma hierarquizada com a denominada “pirâmide jurídica”, demonstrando que as normas possuem fundamento de validade umas nas outras, sendo o ápice da pirâmide as normas constitucionais, as quais atribuem fundamento de validade a todas as demais normas jurídicas.

Assim, adotando a estrutura piramidal de Kelsen, o sistema, pode-se dizer, é composto de partes orientadas por um vetor comum, a Constituição da República. As normas constitucionais situam-se no ápice da “pirâmide jurídica”. Trata-se de um conjunto de elementos relacionados entre si perante uma referência determinada, fazendo surgir deste conceito de sistema o ordenamento jurídico como um conjunto organizado de normas jurídicas, sendo este unitário, coerente e completo.

Paulo de Barros Carvalho, ao analisar a hierarquia no sistema do direito posto, esclarece:

(...) as normas se conjugam de tal modo que as de menor hierarquia buscam

seu fundamento de validade, necessariamente, em outras de superior

hierarquia, até chegarmos ao patamar da Constituição, ponto de partida do

processo derivativo e ponto de chegada do esforço de regressão.15 (grifo do

autor)

12 VILANOVA, Lourival.

As Estruturas Lógicas e o Sistema de Direito Positivo. 4ª edição. São Paulo: Noeses,

2010, p. 54.

13 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 40.

14 KELSEN, Hans. Teoria pura do direito. Tradução de João Baptista Machado. 8ª edição. São Paulo: Martins

Fontes, 2009, p. 240.

15 CARVALHO, Paulo de Barros. Direito Tributário Linguagem e Método. 2ª Edição. São Paulo: Noeses, 2008,

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O ordenamento jurídico é composto por um conjunto de normas organizadas hierarquicamente, onde as normas inferiores recebem respaldo de validade das normas superiores (constitucionais), formando a chamada “pirâmide jurídica”.

Tratando a Constituição do fundamento último de validade de todas as demais normas que compõem o ordenamento jurídico, é esta que regula a vida dos indivíduos em sociedade, elencando os direitos individuais, coletivos e difusos e suas garantias.

José Afonso da Silva destaca a rigidez e supremacia constitucional ao esclarecer que “a constituição se coloca no vértice do sistema jurídico do país, a que confere validade, e que todos os poderes estatais são legítimos na medida em que ela os reconheça e na proporção por ela distribuídos”. E conclui o referido jurista que é na lei suprema do Estado que “se encontram a própria estrutura deste e a organização de seus órgãos; é nela que se acham as

normas fundamentais de Estado, e só nisso se notará sua superioridade em relação às demais

normas jurídicas”.16

Nesse senido destaca Carlos Ari Sundfeld que “a Constituição é o fundamento de validade de todas as normas do ordenamento jurídico. Nisso consiste a supremacia da Constituição”.17

Podemos então concluir que, no Brasil, o ponto máximo da hierarquia das normas jurídicas está na Constituição, a qual atribui o fundamento de validade de todas as demais normas do ordenamento jurídico brasileiro, condicionando a atuação do Poder Público em todas suas funções estatais: o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Neste sentido, aduz Roque Antonio Carrazza em estudo sobre o Sistema Constitucional:

A Constituição, conforme acenamos, ocupa o nível supremo da ordem jurídica, acima do qual não se reconhece outro patamar de juridicidade positiva. É ela que enumera os princípios fundamentais, organizativos e finalísticos da comunidade estatal, definindo as relações do poder político, dos governantes e governados e – respeitados os direitos e garantias

16 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª edição. São Paulo: Malheiros Editores,

2004, p. 45 (grifo do autor).

17 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. 4ª edição, 3ª tiragem, revista, aumentada e

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individuais e sociais e o princípio da livre iniciativa – até das pessoas físicas e jurídicas.18

E como decorrência desse nível supremo da Constituição, Roque Antonio Carrazza ressalta:

(...) é interdito ao Poder Legislativo – sob pena de ultrapassar o campo de sua competência – editar atos que não guardem, com ela, uma relação de total compatibilidade. Também os Poderes Executivo e Judiciário, que,

afinal, têm a seu cargo a missão de aplicar a lei (lato sensu), devem irrestrita

obediência aos padrões fixados pela Constituição, que, afinal de contas, é a Lei das Leis.19 (grifo do autor)

A obediência das normas inferiores à Lei das Leis também deve se atentar à questão material, uma vez que o seu conteúdo deve ser compatível com a Constituição e à questão formal, visto que a criação da norma jurídica deve se dar por órgão reputado competente pelo sistema constitucional, segundo procedimento específico, de forma a assegurar a proteção dos indivíduos de quaisquer arbitrariedades estatais.20

Deste modo, as normas constitucionais legitimam todo o ordenamento jurídico, devendo obediência à Constituição, em sua criação, interpretação e aplicação. O que se pretende afirmar é que o disposto na Constituição não é uma mera recomendação, mas sim um conjunto de normas que devem ser incondicionalmente observadas por todos, ou seja, não apenas pelos Poderes do Estado, como por todas as pessoas que se encontram sob a égide do ordenamento jurídico, sob pena de se tornarem sem efeito os atos praticados.

18 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 29ª edição, revista, ampliada e

atualizada até a Emenda Constitucional n. 72/2013. São Paulo: Malheiros Editores, 2013, p. 34.

19 Idem. ICMS. 16ª edição, revista e ampliada, até a EC 67/2011, e de acordo com a Lei Complementar 87/1996,

com suas ulteriores modificações. São Paulo: Malheiros Editores, 2012, p. 30.

20 Roque Antonio Carrazza destaca que “o descompasso entre uma norma inferior (lei, decreto, portaria, ato

administrativo etc.) e a Constituição tem o nome técnico de “inconstitucionalidade” – que, como predica a melhor doutrina, pode ser material (intrínseca) ou formal (extrínseca). Material quando o conteúdo da norma

inferior é incompatível com regra ou princípio constitucional (a invalidade tisna o próprio mérito da norma

inferior). E formal quando a norma inferior é editada por autoridade, órgão ou pessoa incompetente ou sem a

observância dos procedimentos adequados (nos termos, é claro, da própria Constituição). (CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 29ª edição, revista, ampliada e atualizada até a Emenda

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1.2 Sistema constitucional tributário

O sistema constitucional brasileiro é composto por grande número de disposições que tratam de matérias tributárias, formando o que denominamos de sistema constitucional tributário. A instituição de tributos de qualquer espécie é matéria constitucional, diante de um sistema rígido de distribuição de competências21, visando atingir o valor supremo da segurança nas relações jurídicas tidas entre a Administração e os administrados.

Nas palavras de Geraldo Ataliba, a matéria tributária contida na Constituição forma “um sistema parcial, inserto no sistema constitucional total”.22 Assim, inserido no sistema constitucional brasileiro, temos o sistema tributário constitucional que dele extrai seus fundamentos e condições de existência.

Por sistema constitucional tributário, Geraldo Ataliba definiu:

O conjunto de princípios constitucionais que informa o quadro orgânico de normas fundamentais e gerais do direito tributário, vigentes em determinado país. Se “sistema é um conjunto ordenado de elementos segundo uma perspectiva unitária”, o sistema constitucional tributário brasileiro é o conjunto ordenado das normas constitucionais que tratam da matéria

tributária, matéria esta tomada como princípio de relação que as unifica.23

Em matéria tributária, os entes políticos podem atuar apenas dentro dos estritos termos da competência que lhes foi outorgada pela Constituição Federal. Deste modo, a Constituição Federal de 1988, fonte direta do direito tributário, confere ao legislador de cada pessoa política (União, Estados, Municípios ou Distrito Federal) a autorização para edição de leis gerais e abstratas, instituindo tributos conforme a atribuição de competências, praticamente reproduzindo o que consta da Constituição.

21 A competência é a qualidade ou o poder que o legislador constituinte conferiu aos entes políticos para que

possam criar tributos. Nos dizeres de Roque Antonio Carrazza “(...) competência tributária é a aptidão jurídica

para criar, in abstracto, tributos. No Brasil, por injunção do princípio da legalidade, os tributos devem ser

criados, in abstracto, por meio de lei, que deve descrever todos os elementos essenciais da norma jurídica

tributária. (...) Portanto, competência tributária é a possibilidade jurídica de criar, in abstracto, tributos,

descrevendo, legislativamente, suas hipóteses de incidência, seus sujeitos ativos, seus sujeitos passivos, suas bases de cálculo e suas alíquotas. (...) quem pode tributar, pode também aumentar o tributo, minorá-lo, isentá-lo, no todo ou em parte, ou não tributar, observadas, sempre, obviamente, as diretrizes constitucionais”. CARRAZZA, Roque Antonio. ICMS. 16ª edição, revista e ampliada, até a EC 67/2011, e de acordo com a Lei

Complementar 87/1996, com suas ulteriores modificações. São Paulo: Malheiros Editores, 2012, p. 32-33 (grifo do autor).

22 ATALIBA, Geraldo.

Sistema Constitucional Tributário Brasileiro. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais,

1968, p. 4.

(23)

A respeito da edição de leis, José Afonso da Silva esclarece:

Toda autoridade só nela encontra fundamento e só ela confere poderes e competências governamentais. Nem o governo federal, nem os governos dos Estados, nem os dos Municípios ou do Distrito Federal são soberanos, porque todos são limitados, expressa ou implicitamente, pelas normas positivas daquela lei fundamental. Exercem suas atribuições nos termos nela estabelecidos.24

Podemos conceituar o Sistema Constitucional Tributário como um conjunto de disposições destinadas a regulamentar a atividade tributária do Estado, regendo as relações jurídicas entre Estado e particular, relativas à instituição e arrecadação dos tributos, segundo a distribuição do poder tributário à União, aos Estados-membros e aos Municípios e conforme princípios e regras estabelecidos na Constituição, para ulterior detalhamento pelas normas legais e infralegais.

Podemos dizer que o direito tributário se forma em torno do conceito de tributo que é constitucionalmente pressuposto. Assim, nas palavras de Geraldo Ataliba, “o objetivo do direito tributário é o estudo do direito tributário positivo ou objetivo. O instituto jurídico central desse estudo é o tributo”.25

No Brasil, a Lei nº 5.172/66 (Código Tributário Nacional) sistematiza o sistema tributário até os dias atuais, regulando, em atenção à Constituição Federal, a matéria tributária.

Nos termos do artigo 3º do referido Código Tributário Nacional, “tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”.

Paulo de Barros Carvalho destaca seis significações diversas do vocábulo tributo. São elas:

a) “tributo” como quantia em dinheiro; b) “tributo” como prestação correspondente ao dever jurídico do sujeito passivo; c) “tributo” como direito subjetivo de que é titular o sujeito ativo; d) “tributo” como sinônimo

24 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª edição. São Paulo: Malheiros Editores,

2004, p. 46.

25 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 6ª ed. 12ª tiragem. São Paulo: Malheiros Editores,

(24)

de relação jurídica tributária; e) “tributo” como norma jurídica tributária; f)

“tributo” como norma, fato e relação jurídica.26

Ainda que considerada pela doutrina várias acepções do vocábulo tributo, identificamos que o tributo será verificado pela associação harmônica da hipótese de incidência e de sua base de cálculo, possibilitando identificar sua natureza jurídica.

Nesse sentido, é certo que a tributação é o principal meio de o Estado brasileiro financiar-se, de forma a obter os recursos para atingir os fins que almeja à sociedade, tais como a segurança, saúde, cultura, etc., ou seja, é a fonte de abastecimento os cofres públicos. Esta finalidade almejada pela tributação é a transferência de dinheiro das pessoas privadas para os cofres públicos em razão de um poder do Estado, proveniente de um comportamento humano dos agentes públicos, dos próprios obrigados ou mesmo de terceiros.

Nesse âmbito, Geraldo Ataliba, ao tratar do tributo como instrumento jurídico de abastecimento dos cofres públicos, destaca:

Serve o direito, portanto, de instrumento de tão importante desígnio estatal. As normas que constituem esta parte do direito se designam direito tributário, em seu conjunto. É nitidamente um sub-ramo do direito administrativo, porque regula relações jurídicas entre administração e administrados (Ruy Cirne Lima), o que é da essência do direito administrativo.27

Mas esta forma de obtenção de riquezas pelo Estado não enseja a cobrança indiscriminada de tributos, devendo a tributação respeito aos principios e direitos fundamentais dos contribuintes dispostos na Carta Magna.

É nessa linha que Sacha Calmon Navarro Coêlho destaca:

O tributo é um dever. Um dever de que natureza? Um dever obrigacional, cuja caracteristica é ser econômico, patrimonial. O levar dinheiro aos cofres públicos. O que se postula é puramente que esse dever seja idêntico para

todos, importe em sacrifício igual a todos os cidadãos.28

Este respeito dá-se pelo fato de que o Estado exige dos indivíduos o pagamento de tributos, mas em contrapartida os indivíduos devem receber do Estado, condições para que

26 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 23ª ed. São Paulo: Saraiva, 2011, p. 51.

27 ATALIBA, Geraldo. Hipótese de incidência tributária. 6ª ed. 12ª tiragem. São Paulo: Malheiros Editores,

2011, p. 30.

28 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 10ª edição revista e atualizada. Rio

(25)

tenham uma vida digna. É essa a finalidade da arrecadação de tributos pelo nosso País. Exatamente a função de utilizar tais recursos financeiros, obtidos dos paticulares, para a manutenção do Estado, viabilizando assegurar a saúde, segurança, cultura, etc. aos indivíduos.

É certo que os impostos são fonte de recurso do Estado, sendo estes recursos provenientes do patrimônio (riqueza) do contribuinte. E para que o Estado obtenha riqueza para sua manutenção, é necessária uma tributação adequada e não indiscriminada que ultrapasse os limites constitucionais para sua imposição.

No entanto, verificamos muitas vezes certo abandono da pretensão de se buscar um sistema tributário ideal, prevalecendo a otimização da tributação, em patente afronta aos ditames constitucionais. Assim, a relação entre Estado e contribuinte é de extrema importância e deve ser tratada de forma a atender os limites previstos na Constituição Federal, de maneira a distribuir a carga tributária de forma adequada.

E o que se pretende no presente estudo é o alcance dessa tributação adequada, ou seja, a análise de uma tributação justa e de forma a atender os princípios constitucionais, mais especificamente a progressividade tributária em atendimento à justiça fiscal. Tratando-se de progressividade nos impostos, a questão coloca-se no sistema constitucional tributário, não se podendo deixar de analisar os princípios que integram o sistema.

1.3 Princípios: conceito

Em razão da necessidade de atender os ditames constitucionais para que se verifique uma tributação adequada, importante o estudo dos princípios que regem o sistema constitucional e, principalmente, o sistema tributário.

Destacamos que as normas constitucionais possuem hierarquia superior às demais normas do ordenamento jurídico, mas tais normas constitucionais não possuem, dentre elas, a mesma relevância. O que verificamos é que algumas normas veiculam regras, outras verdadeiros princípios como diretrizes do ordenamento jurídico.

(26)

O vocábulo princípio, traz a ideia de começo, e se faz presente no discurso científico,

uma vez que é o alicerce sobre o qual se constrói um sistema, ou seja, é a diretriz do ordenamento jurídico.

No entendimento de Mary Elbe Queiroz:

O vocábulo princípio deriva do latim principium (principii) e significa

“origem, começo, base, alicerce, causa, raiz, tronco, lançar alicerce”. Portanto, dentro de um sistema normativo, princípio é a primeira pedra ou fundamento que instaura e dá suporte ao nascimento de todas as demais normas dele integrantes.29 (grifo do autor)

Nos ensinamentos de José Afonso da Silva a palavra princípio, da expressão

princípios fundamentais, mencionada no Título I da Constituição, possui a noção de

“mandamento nuclear de um sistema”.30

Assim, o princípio jurídico é o alicerce do sistema normativo, conferindo-lhe harmonia e servindo como critério para a sua exata compreensão. É como destaca Carlos Ari Sundfeld: “os princípios são as idéias centrais de um sistema, ao qual dão sentido lógico, harmonioso, racional, permitindo a compreensão de seu modo de organizar-se”.31

Diante da posição hierárquica que os princípios constitucionais ocupam no ordenamento jurídico, estes orientam a construção das normas jurídicas no plano geral e abstrato e em nível individual e concreto, devendo os princípios serem observados por todo o ordenamento jurídico, não se podendo conduzir normas infraconstitucionais em desacordo com tais preceitos máximos.

Entendemos que os princípios são normas de maior hierarquia que orientam a aplicação das demais normas dentro do ordenamento jurídico. Pode-se inclusive dizer que fere o sistema o fato de ferir-se um princípio, visto tratar o princípio da base do ordenamento jurídico.

Esclarece o tributarista Roque Antonio Carrazza:

Princípio jurídico é um enunciado lógico, implícito ou explícito, que, por sua grande generalidade, ocupa posição de preeminência nos vastos quadrantes

29 QUEIROZ, Mary Elbe. Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza, Barueri-SP: Manole, 2004,

p. 2.

30 SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª edição. São Paulo: Malheiros Editores,

2004, p. 91.

31 SUNDFELD, Carlos Ari. Fundamentos de Direito Público. 4ª edição, 3ª tiragem, revista, aumentada e

(27)

do Direito e, por isso mesmo, vincula, de modo inexorável, o entendimento e

a aplicação das normas jurídicas que com eles se conectam.32

O princípio é, portanto, norma jurídica carregada de forte conotação valorativa, colocado no patamar hierárquico mais relevante no contexto jurídico. Nesse sentido, destaca Aurora Tomazini de Carvalho:

(...) toda norma jurídica enquanto significação prescritiva (voltada à finalidade de disciplinar condutas), traz um valor, devido à força com que o dado axiológico está presente na linguagem do direito. A diferença é que chamamos de “princípio” aqueles valores que hierarquicamente colocamos num patamar de superioridade, ao organizarmos o sistema de tal modo que eles acabam exercendo significativa influência na construção, estruturação e

aplicação das demais significações.33

Para Paulo de Barros Carvalho, o princípio “é o nome que se dá às regras do direito positivo que introduzem valores relevantes para o sistema, influindo vigorosamente sobre a orientação de setores da ordem jurídica”.34 Em complemento, o referido jurista, ao analisar os princípios, encontra quatro definições na linguagem do Direito Positivo:

a) como norma jurídica de posição privilegiada e portadora de valor expressivo; b) como norma jurídica de posição privilegiada que estipula limites objetivos; c) como os valores insertos em regras jurídicas de posição privilegiada, mas considerados independentemente das estruturas normativas; e d) como limite objetivo estipulado em regra de forte

hierarquia, tomado, porém, sem levar em conta a estrutura da norma.35

Verifica-se que os princípios são regras portadoras de vetor axiológico forte, cumprindo papel relevante na compreensão e estruturação das proposições jurídicas. Referidos “valores” são somente aqueles postos pelo legislador, ou seja, são núcleos significativos abstratos, mas positivados no ordenamento. Por serem os princípios regras jurídicas construídas pelo intérprete com alta conotação axiológica, discorrer sobre eles é tratar de valores.

Para Elizabeth Nazar Carrazza o princípio “é uma regra implícita ou explícita do sistema jurídico que lhe confere unidade e lógica. Por sua generalidade, condiciona a

32 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de Direito Constitucional Tributário. 29ª edição, revista, ampliada e

atualizada até a Emenda Constitucional n. 72/2013. São Paulo: Malheiros Editores, 2013, p. 45.

33 CARVALHO, Aurora Tomazini de. Curso de Teoria Geral do Direito – o constructivismo lógico-semântico. 2ª

ed. São Paulo: Noeses, 2010, p. 501.

(28)

interpretação de todas as normas nele contidas, fixando-lhes diretrizes”.36 Assim, os princípios funcionam como verdadeiras normas jurídicas (forma), servindo também como valor ou critério objetivo, presentes nas normas jurídicas (conteúdo).

Esclarece, ainda, Hugo de Brito Machado:

[prinípio é] uma norma dotada de grande abrangência, vale dizer, de universalidade, e de perenidade. Os princípios jurídicos constituem, por isto mesmo, a estrutura do sistema jurídico. São os princípios jurídicos os vetores do sistema.37

É nesse sentido a clássica citação de Celso Antônio Bandeira de Mello sobre os princípios:

Violar um princípio é muito mais grave que transgredir uma norma qualquer. A desatenção ao princípio implica ofensa não apenas a um específico mandamento obrigatório mas a todo o sistema de comandos. É a mais grave forma de ilegalidade ou inconstitucionalidade, conforme o escalão do princípio atingido, porque representa insurgência contra todo o sistema, subversão de seus valores fundamentais, contumélia irremissível a seu arcabouço lógico e corrosão de sua estrutura mestra. Isto porque, com ofende-lo, abatem-se as vigas que o sustêm e alui-se toda a estrutura nelas esforçada.38

O que se pode verificar é que o vocábulo “princípio” permite uma infinidade de significações, além de ser corriqueiro no discurso e meditações filosóficas. Sempre onde houver pretensões científicas, o termo “princípio” se faz presente.

Desta forma, os princípios constitucionais servem de fundamento e diretriz às diversas regras jurídicas pertencentes à ordem posta. O exame e a solução de questões jurídicas devem ser conduzidos levando em consideração as prescrições principiológicas de forma direta ou indireta, de maneira a verificar se as normas que regulam o fato estão em consonância com o ordenamento supremo.

Podemos então dizer que nenhum ato normativo, legal ou infralegal, poderá prevalecer se atritar com um princípio constitucional.

36 CARRAZZA, Elizabeth Nazar. Progressividade e IPTU. 1ª edição – 3ª tiragem. Curitiba: Juruá Editora, 2000,

nota de rodapé, p. 20.

37 MACHADO, Hugo de Brito. Os Princípios Jurídicos da Tributação na Constituição de 1988.4ª edição. São

Paulo: Dialética, 2001, p. 14

38 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Curso de Direito Administrativo. São Paulo: Malheiros Editores, 2007,

(29)

Nesse sentido, Luís Roberto Barroso destaca: “o ponto de partida do intérprete há que ser sempre os princípios constitucionais, que são o conjunto de normas que espelham a ideologia da Constituição, seus postulados básicos e seus fins”.39

Pretendemos salientar que a Constituição Federal, ao consagrar um princípio, está impondo a sua obediência e não apenas recomendando a sua aplicação. Nessa linha de entendimento, Elizabeth Nazar Carrazza esclarece que “os princípios constitucionais não são meras sugestões literárias. São, pelo contrário, disposições cogentes”.40

Resulta do exposto que os princípios constitucionais são diretrizes do sistema jurídico, dotados de força vinculante, que fixam o sentido e o direcionamento da ordem jurídica, devendo ser respeitados para um perfeito funcionamento e orientação global do sistema. E isso porque os princípios atribuem estrutura e coesão ao sistema jurídico.

O que se pode notar é a diversidade de princípios que norteiam o ordenamento jurídico e inclusive a estrutura tributária, com o objetivo de regular as condutas intersubjetivas, havendo que ser interpretados tais princípios sempre considerando o sistema. Conforme destaca Paulo de Barros Carvalho, “a interpretação dos princípios, como normas que verdadeiramente são, depende de uma análise sistemática que leve em consideração o universo das regras jurídicas”.41

Cabe esclarecer que existem princípios constitucionais gerais, os quais exercem significativa influência sobre o ordenamento jurídico como um todo, informando múltiplos segmentos42. É o que ocorre com o princípio da igualdade em que, quando se fala em igualdade, vem à mente a ideia de que todos os segmentos do direito devem cumpri-la. Ao passo que os princípios constitucionais tributários informam o exercício do poder tributário no Brasil, sendo especialmente dirigidos a este setor, como, por exemplo, o princípio da capacidade contributiva.

São diversos os princípios constitucionais informadores do sistema jurídico e orientadores da tributação. Dada a especificidade de cada princípio e, em face do estudo proposto a respeito da progressividade nos impostos, temos que merecem especial destaque,

39 BARROSO, Luís Alberto. Interpretação e Aplicação da Constituição. São Paulo: Saraiva, 1996, p. 141. 40 CARRAZZA, Elizabeth Nazar. Progressividade e IPTU. 1ª edição – 3ª tiragem. Curitiba: Juruá Editora, 2000,

p. 39.

41 CARVALHO, Paulo de Barros.

Sobre os princípios constitucionais tributários. Cadernos de Direito Tributário.

São Paulo: Revista de Direito Tributário n. 55, jan./mar. de 1991, p. 155.

(30)
(31)

2 O PRINCÍPIO DA IGUALDADE

2.1 Conceito

No Estado Democrático de Direito, a igualdade é implementada como forma de atribuir tratamento igualitário àqueles que se encontrem em determinada situação fática, como um ideal visado pela sociedade para evitar privilégios e iniquidades.

A democracia pode ser entendida como a realização de valores, dentre eles o da igualdade, da dignidade da pessoa humana, da liberdade, como forma de organizar a convivência humana dentro de um Estado de Direito. O Estado Democrático de Direito já é acolhido pela Constituição Federal de 1988 em seu artigo 1º, demonstrando a preocupação com a igualdade ao adotar o regime republicano como sistema de governo, constituído em Estado Democrático de Direito e indicando seus fundamentos como a soberania, a cidadania, a dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa, o pluralismo político. Para José Afonso da Silva, o Estado Democrático de Direito não configura “mera promessa de organizar tal Estado, pois a Constituição aí já o está proclamando e fundando”.43

Trata, portanto, a igualdade do corolário da República e via de consequência da democracia.

A Constituição Federal de 1988 estabelece, em seu artigo 5º,44 que todos são iguais perante a lei, de forma que a lei deve ser editada em conformidade com a isonomia. Conforme o raciocínio desenvolvido por Celso Antônio Bandeira de Mello:

O preceito magno da igualdade, como já tem sido assinalado, é norma voltada quer para o aplicador da lei quer para o próprio legislador. Deveras, não só perante a norma posta se nivelam os indivíduos, mas, a própria edição

dela assujeita-se ao dever de dispensar tratamento equânime às pessoas.45

43 SILVA, José Afonso da.

Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª edição. São Paulo: Malheiros Editores,

2004, p. 119.

44 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...)

45 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3ª ed. 10ª Tiragem. São

(32)

A lei deve ser instrumento regulador da vida social, de forma a tratar equitativamente os cidadãos, organizando a vida em sociedade. A sociedade faz surgir a ideia de um Estado organizado, mas que também se apresenta pela existência de desigualdade. E o direito deve considerar estas desigualdades e atribuir, em função delas, um tratamento desigual entre as pessoas, de modo a fazer com que desigualdades naturais das pessoas sejam atenuadas, protegendo os mais fracos.

Neste contexto está o Direito Tributário, assumindo posição de destaque ao visar a aplicação de uma tributação justa e igualitária. É por esta razão que Elizabeth Nazar Carrazza aduz:

(...) no mundo fático não existe a igualdade absoluta. As desigualdades existem e decorrem da própria natureza. Devem, porém, ser minimizadas pelo Estado, no desempenho de suas funções, sempre que, ao lume da Carta Fundamental, sejam ilegítimas. Assim, por exemplo, a igualdade de oportunidades constitui postulado fundamental de todo sistema democrático. Não se pode aceitar que, com base nas desigualdades naturais, sejam dadas

oportunidades diferentes a pessoas que se encontrem na mesma situação.46

A igualdade de oportunidades constitui postulado fundamental de todo sistema democrático. Nas palavras do constitucionalista Celso Ribeiro Bastos, a igualdade funciona como um verdadeiro princípio a informar todo o ordenamento jurídico e protege o indivíduo “contra toda má utilização que possa ser feita com a ordem jurídica”, revestindo-se “da condição de um autêntico direito subjetivo”.47

Mas o que é a igualdade e como sabemos se a igualdade foi cumprida? Pode-se verificar que a igualdade e a desigualdade são conceitos relativos, visto que não são analisados isoladamente, havendo a necessidade de se confrontar situações para verificar o cumprimento ou descumprimento da igualdade. A igualdade é uma relação entre dois ou mais sujeitos em razão de uma finalidade. Assim, o tratamento isonômico deve ser analisado dentro de um grupo de indivíduos e não isoladamente, levando-se em consideração fatores legítimos de discrímen.

Como, por exemplo, não se pode exigir imposto diverso de indivíduos em função, única e exclusivamente, de possuirem estaturas diferentes, mas pode-se discriminar em razão

46 CARRAZZA, Elizabeth Nazar. Progressividade e IPTU. 1ª edição – 3ª tiragem. Curitiba: Juruá Editora, 2000,

p. 27.

47 BASTOS, Celso Ribeiro. Curso de Direito Constitucional. 22. edição. São Paulo: Malheiros Editores, 2010, p.

(33)

do sexo para uma vaga da polícia feminina. Referida discriminação foi levada em conta por um contexto para que se pudesse verificar a necessidade de tratar igualmente os desiguais.

Mas, conforme Humberto Ávila, para o Direito, “não importa apenas saber se as pessoas são ou não são iguais (igualdade descritiva). É preciso saber, também, se as pessoas

devem ou não devem ser tratadas igualmente (igualdade prescritiva)” (grifo do autor).48

E essa igualdade prescritiva tratada por Humberto Ávila somente será verificada se presentes elementos para a sua verificação, tais como os sujeitos, o critério de discrímen e a finalidade que se quer alcançar, sendo, portanto, a igualdade medida por uma comparação.

Ao trazer um exemplo do direito tributário, Humberto Ávila destaca:

Duas pessoas podem ser compreendidas como iguais ou diferentes segundo o critério da capacidade econômica: deverão ser vistas como diferentes para pagar impostos, se uma delas tiver maior capacidade contributiva; devem ser tratadas igualmente para votar e para a obtenção de licença maternidade, porque a capacidade econômica é neutra relativamente à concretização dessas finalidades.49

Ainda podemos analisar a igualdade sob o aspecto formal e material. A igualdade

perante a lei, tratada sob o aspecto formal, aplica a igualdade de modo que todos os

indivíduos se submetam aos ditames da lei nas mesmas condições, de maneira uniforme e sem levar em consideração os destinatários da lei. Verifica-se que a igualdade aplicada desta forma não garante a igualdade plena, pois atribui igual tratamento às pessoas que são intrinsecamente diferentes.

Por igualdade na lei entende-se a aplicação de tratamento isonômico àqueles que se

encontram em situações iguais e de forma diferente aos desiguais, na medida de suas desigualdades. Esta é a igualdade, tratada sobre o aspecto material, que deve o sistema democrático alcançar.

José Afonso da Silva lembra a distinção, emprestada do Direito estrangeiro e também empregada por estudiosos brasileiros, entre a igualdade perante a lei e o da igualdade na lei:

(...) segundo essa doutrina, a igualdade perante a lei seria uma exigência feita a todos aqueles que aplicam as normas jurídicas gerais aos casos

concretos, ao passo que a igualdade na lei seria uma exigência dirigida tanto

(34)

àqueles que criam as normas jurídicas gerais como àqueles que as aplicam aos casos concretos.50

A respeito da referida diferença, Celso Antônio Bandeira de Mello destaca ensinamentos de Hans Kelsen que “demonstou que a igualdade perante a lei não possuiria

significação peculiar alguma. O sentido relevante do princípio isonômico está na obrigação da igualdade na própria lei, vale dizer, entendida como limite para a lei” (grifo do autor).51

O que se verifica é a dificuldade na aplicação da igualdade, de maneira igual aos iguais, e desigual aos desiguais, nas situações fáticas analisadas, visto haver uma linha tênue na determinação do que seria igual e desigual no tratamento jurídico dos indivíduos.

Para que se verifique a devida aplicação de tratamento diferenciado de modo a identificar o que seria igual e desigual no tratamento jurídico, Celso Antônio Bandeira de Mello estabelece:

As discriminações são recebidas como compatíveis com a cláusula

igualitária apenas e tão-somente quando existe um vínculo de correlação lógica entre a peculiaridade diferencial acolhida por residente no objeto, e a

desigualdade de tratamento em função dela conferida, desde que tal

correlação não seja incompatível com interesses prestigiados na Constituição.52 (grifos do autor)

Significa afirmar que a ordem jurídica não se adequa à desequiparações injustificadas, havendo que se exigir a aplicação da igualdade sem arbitrariedades. O tratamento jurídico de forma igual ou diferenciada deve respeitar uma finalidade condizente com o ordenamento jurídico, respeitando as garantias consagradas pela Constituição Federal, estando a igualdade presente em todo o ordenamento jurídico como fundamento necessário para que se alcance a justiça.

50 SILVA, José Afonso da.

Curso de Direito Constitucional Positivo. 23ª edição. São Paulo: Malheiros Editores,

2004, p. 214.

51 Celso Antônio Bandeira de Mello ao citar Kelsen (Teoria Pura do Direito, tradução francesa da 2ª edição

alemã, por Ch. Einsenmann, Paris, Dalloz, 1962, p. 190) (MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3ª ed. 10ª Tiragem. São Paulo: Malheiros Editores, 2002, p. 10, nota nº 2).

52 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3ª ed. 10ª Tiragem. São

(35)

2.2 Princípio da igualdade

No Direito Positivo brasileiro, há valores que se delineiam pela concretização de outros valores ou limites objetivos, sendo estes os denominados “sobreprincípios”, como é o caso da igualdade.

O princípio da igualdade é um valor de sobrenível, sendo verdadeiro norteador do ordenamento jurídico e posicionando-se no topo da pirâmide hierárquica dos valores positivados.

A Constituição Federal de 1988 trata, no capítulo I, “dos direitos e deveres individuais e coletivos” e estabelece, no artigo 5º, caput, que “todos são iguais perante a lei, sem

distinção de qualquer natureza”. Referido princípio da igualdade estabelece que todos são

iguais e garante a todos o direito à igualdade.

Conforme destaca Celso Antônio Bandeira de Mello:

(...) a igualdade é princípio que visa a duplo objetivo, a saber: de um lado propiciar garantia individual (não é sem razão que se acha insculpido em artigo subordinado à rubrica constitucional “Dos Direitos e Garantias

Fundamentais” contra perseguições e, de outro, tolher favoritismos.53

Em uma interpretação literal, ao tratar o artigo 5º da CF/88 da igualdade perante a lei,

acaba por remeter à igualdade sob o aspecto formal, conforme anteriormente exposto, de maneira que todos os indivíduos se submetam aos ditames da lei nas mesmas condições e de maneira uniforme. Mas o que entendemos tratar o referido artigo é de uma igualdade na lei,

sob o aspecto material, considerando-se um contexto sintático, aplicando-se tratamento isonômico aos indivíduos em situações iguais e de forma diferente aos desiguais.

As disposições dos artigos 3º, incisos III e IV54, 7º, incisos XXX e XXXI55, da CF/88, demonstram que o objeto da igualdade no sistema constitucional é a igualdade tida sob o

53 MELLO, Celso Antônio Bandeira de. Conteúdo Jurídico do Princípio da Igualdade. 3ª ed. 10ª Tiragem. São

Paulo: Malheiros Editores, 2002, p. 23.

54 Art. 3º Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil: (...)

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

55 Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição

social: (...)

Imagem

TABELA DE ALÍQUOTAS  Área total do imóvel

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