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1 O SISTEMA CONSTITUCIONAL TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

3.1 Análise histórica do dispositivo Constitucional sobre a capacidade

3.2.1 Capacidade contributiva e capacidade econômica

A capacidade contributiva, muitas vezes identificável como capacidade econômica, provém do fato de que ambas dizem respeito à dimensão econômica vinculada à realização do fato imponível da relação jurídica tributária. Apesar de serem utilizadas conjuntamente, tais expressões em verdade não se confundem.

Parte da doutrina estabelece esta distinção entre capacidade contributiva e capacidade econômica. Nesse sentido, Ives Gandra da Silva Martins esclarece sobre a capacidade contributiva:

[É] a capacidade do contribuinte relacionada com a imposição específica ou global, sendo, portanto, dimensão econômica particular de sua vinculação ao poder tributante, nos termos da lei”. E a capacidade econômica é “a exteriorização da potencialidade econômica de alguém, independente de sua vinculação ao referido poder. 90

Estevão Horvath também identifica esta distinção das expressões e esclarece:

Utilizaremos sempre as expressões “capacidade econômica” e “capacidade contributiva” como sinônimas. Em que pese a que seu significado originário seja ligeiramente diferente – correspondendo à capacidade econômica a potencialidade de obtenção de riqueza (renda, patrimônio, consumo) e à capacidade contributiva a aptidão para suportar e pagar um determinado(s) tributo(s) -, hoje em dia vemo-la usadas indistintamente.91

Por esse entendimento, interpretamos a capacidade contributiva como aquela derivada de uma relação jurídica entre Fisco e Contribuinte, em que o primeiro detém um poder sobre o segundo, de forma a fazer com que este último tenha um dever para com o primeiro. Refere- se ao tratamento que o Estado deve aos cidadãos, de maneira que a tributação seja adaptada à riqueza dos contribuintes. Assim, tem capacidade contributiva aquele contribuinte juridicamente obrigado a cumprir determinada prestação de natureza tributária para com o poder tributante.

Já a capacidade econômica é a real possibilidade de o contribuinte obter riqueza e diminuir-se patrimonialmente, sem perder a possibilidade de persistir gerando riqueza como

90 MARTINS, Ives Gandra da Silva. Capacidade Econômica e Capacidade Contributiva. In. Caderno de

Pesquisas Tributárias 14. Ed. Resenha Tributária e Centro de Estudos de Extensão Universitária (Co-edição). São Paulo, 1989, p. 33 e seguintes.

91 HORVATH, Estevão. O princípio do não-confisco no Direito Tributário. São Paulo: Dialética, 2002, p. 67-68,

lastro à tributação. É representada pela capacidade que o contribuinte possui economicamente de suportar o ônus tributário em razão de seus rendimentos auferidos.

Em análise sobre os referidos termos, entendemos que a capacidade contributiva deve ser aplicada de forma concomitante à capacidade econômica, na medida em que o contribuinte, ao realizar uma relação com o poder tributante, deverá possuir capacidade de contribuir economicamente com o pagamento do imposto.

Noutras palavras, sempre haverá na relação existente entre o Estado e o contribuinte, uma efetiva capacidade contributiva, havendo o contribuinte que arcar economicamente com o pagamento do imposto.

Ocorre, muitas vezes, que apesar de possuir capacidade contributiva, o contribuinte pode não possuir capacidade econômica para a quitação do imposto, uma vez que caso o pagamento lhe seja obrigado, haverá certamente o atingimento do mínimo vital de sobrevivência daquele indivíduo e de sua família.

Entendemos que no caso do atingimento do mínimo vital, o contribuinte possui capacidade contributiva em razão dos atos que praticou com o Fisco, mas, por sua vez, não possui capacidade econômica de contribuir com o pagamento do imposto, sob pena de atingir seu mínimo vital de sobrevivência e uma vida digna.

Esta situação pode ser verificada com a isenção do imposto sobre a renda para aqueles contribuintes que obtiveram rendimento mensal de até R$ 1.710,7892 (correspondente ao rendimento anual de até R$ 20.529,36 para o ano-calendário de 201393).

Logo, houve efetivamente renda auferida pelo contribuinte, passível, em regra, de tributação, ou seja, houve uma relação efetiva entre o Fisco e o contribuinte, existindo aqui uma capacidade contributiva. Mas, em razão da legislação do imposto sobre a renda dispor que a obtenção de renda anual até R$ 20.529,36 (ano-calendário de 2013), pelo contribuinte, não sofrerá a tributação, isso significa dizer que tais contribuintes (enquadrados neste limite), não possuem capacidade econômica de arcar com o pagamento do imposto.

Como exemplo da diferença de capacidade contributiva e capacidade econômica, José Maurício Conti traz uma situação em que não haverá capacidade contributiva:

92 Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Aliquotas/ContribFont2012a2015.htm>. Acesso em: 20

out. 2013.

93 Disponível em: <http://www.receita.fazenda.gov.br/Aliquotas/ContribFont2012a2015.htm>. Acesso em: 20

Um cidadão que usufrui renda tem capacidade contributiva perante o país em que a recebeu; já um cidadão rico, de passagem pelo país, tem capacidade econômica, mas não tem capacidade contributiva, pois ele tem rendimentos suficientes para suportar tributos, mas não há nenhuma relação jurídica que o vincule ao Fisco do país pelo qual transita. Assim, não tem capacidade contributiva neste país.94

Verifica-se que a imposição tributária será imposta apenas ao indivíduo que esteja legitimamente colocado na posição de sujeito passivo da obrigação tributária, ou seja, somente ao sujeito que possui capacidade contributiva diante de uma relação jurídica com o Fisco.

Nesse sentido, as palavras de José Maurício Conti:

Pode-se notar, ainda, uma diferença de abrangência entre estes conceitos. O conceito de capacidade econômica tem uma natureza mais voltada à ciência econômica e financeira; já o conceito de capacidade contributiva tem uma natureza essencialmente jurídica.

No caso do disposto no Texto Constitucional, fez-se uso da expressão “capacidade econômica”, quando, no caso, a referência é à “capacidade contributiva”, pois trata-se apenas da capacidade econômica de pagar tributos. No entanto, não se pode dizer ter havido equívoco por parte do legislador, pois menciona no artigo 145, §1º “capacidade econômica do contribuinte” – tornando, dessa forma, mais preciso o conceito ao referir-se à capacidade econômica do contribuinte apenas daqueles que estão sujeitos à tributação.95

Significa dizer que sempre que houver uma relação entre o Fisco e o contribuinte, podemos entender que se verificará a capacidade contributiva e nesse sentido que está a disposição do artigo 145 §1º, da CF/88.

Cumpre destacar que a capacidade contributiva verificada é analisada de forma objetiva (absoluta), visto tratar de uma presunção baseada em indicadores de riqueza do contribuinte. A ausência de riqueza poderá ensejar a não incidência do imposto, mas verificada a existência de fatos presuntivos de riqueza, não haverá que se considerar a ausência de capacidade contributiva para arcar com o recolhimento do imposto.

Desta forma, adotaremos no presente trabalho a expressão capacidade contributiva ao tratarmos da aptidão que possui o contribuinte para suportar determinada carga tributária,

94 CONTI, José Maurício. Princípios tributários da capacidade contributiva e da progressividade. São Paulo:

Dialética, 1997, p. 34.

dadas as manifestações objetivas de riqueza, com natureza essencialmente jurídica, presente quando houver uma vinculação ao poder tributante com surgimento de uma cominação fiscal.