• Nenhum resultado encontrado

O Desenvolvimento da ciência segundo Thomas S. Kuhn : análise e crítica do modelo proposto na estrutura das revoluções científicas

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O Desenvolvimento da ciência segundo Thomas S. Kuhn : análise e crítica do modelo proposto na estrutura das revoluções científicas"

Copied!
90
0
0

Texto

(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM FILOSOFIA NÍVEL MESTRADO Vagner Gomes Ramalho. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA SEGUNDO THOMAS S. KUHN: ANÁLISE E CRÍTICA DO MODELO PROPOSTO NA ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS. São Cristóvão 2014.

(2) UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA MESTRADO EM FILOSOFIA NÍVEL MESTRADO Vagner Gomes Ramalho. O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA SEGUNDO THOMAS S. KUHN: ANÁLISE E CRÍTICA DO MODELO PROPOSTO NA ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Filosofia da Universidade Federal de Sergipe como pré-requisito para a obtenção do título de Mestre em Filosofia. Orientador: Prof. Dr. Sergio Hugo Menna. São Cristóvão 2014.

(3) FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE. Ramalho, Vagner Gomes R165d O desenvolvimento da ciência segundo Thomas S. Kuhn : análise e crítica do modelo proposto na estrutura das revoluções científicas / Vagner Gomes Ramalho ; orientador Sérgio Hugo Menna. – São Cristóvão, 2014. 90 f.. Dissertação (Mestrado em Filosofia) - Universidade Federal de Sergipe, 2014.. 1. Ciência - filosofia. 2. Ciência - desenvolvimento. I. Menna, Sérgio Hugo, orient. II. Kuhn, Thomas S. - 1922-1996 III. Título CDU 50:101.1.

(4)

(5) Mário, Van e Demir (in memorian) Dedico-lhes..

(6) Agradecimentos. Ao Prof. Dr. Sergio Hugo Menna que, insistentemente, acreditou que este trabalho seria possível e não mediu esforços para me orientar pela direção correta. Professor, os créditos pela realização desta Dissertação também são seus. Seus questionamentos sempre abriram portas em minha mente, me fazendo perceber além do que havia escrito. Seu exemplo de comprometimento com o orientando perdurará durante minha carreira acadêmica. Ao Prof. Dr. Adilson Koslowski, pelas generosas contribuições, dadas na minha banca de qualificação e defesa, em conferências e seminários ao longo do curso. Ao Prof. Dr. Aldo Dinucci, que colaborou com o crescimento do texto, por meio de suas críticas em minha banca de qualificação. Ao Prof. Dr. Pedro Leite de Santana, pela leitura atenta e contribuições generosas durante a defesa. Agradeço ainda aos meus professores durante o Mestrado, os quais sempre contribuíram de forma muito significativa para o desenvolvimento de minha pesquisa. Tive contato com profissionais singulares, os quais tornaram possível o título de Mestre. Agradeço à minha família por compreender as minhas ausências, em especial minha esposa, Ellen Maianne Santos Melo Ramalho, pelas sugestões, correções e críticas. Agradeço por ter acompanhado meu trabalho desde o início. Meu filho, Alef Melo Ramalho. Somente quando crescer ele entenderá que cada vez que entrava em minha sala, durante a produção desta Dissertação, enchia o ambiente com seu sorriso e sua doçura. Além disso, foi o que mais torceu para que eu terminasse logo. Aos meus amigos pessoais e do trabalho, por estarem sempre próximos e dividindo comigo as angústias do processo de desenvolvimento desta Dissertação. A generosidade em lidar com minhas ausências foi muito importante durante minha trajetória no mestrado. Sem essa compreensão, produzir esta Dissertação teria sido bem mais difícil. Agradeço também aos colegas do mestrado, que me ajudaram com vários questionamentos durante a produção do projeto. Ao coordenador do PPGF/UFS, Prof. Dr. Antônio Carlos, e ao secretário do PPGF/UFS, Alam Fabiano. Ambos sempre estiveram prontos para dirimir dúvidas de ordem administrativa. Meus agradecimentos não estariam completos se não os estendesse aos meus antigos professores na Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC. Em especial ao Prof. Dr. Paulo Tadeu da Silva, que trouxe um texto de Kuhn nas aulas de Teoria do Conhecimento, sem saber ele que despertaria em mim uma grande vontade pelas questões que trabalhamos naquele.

(7) semestre; a Profa. Dra. Marisa Carneiro de Oliveira Franco Donatelli, as aulas sobre Descartes foram inspiradoras; não posso esquecer também do Prof. Dr. Walter Matias, na Universidade Federal de Alagoas – UFAL, por seus comentários sempre pertinentes sobre problemas metafísicos..

(8) Se a História fosse vista como um repositório para algo mais do que anedotas ou cronologias, poderia produzir uma transformação decisiva na imagem de ciência que atualmente nos domina. Kuhn, Thomas, [1969], The Structure of Scientific Revolutions..

(9) O DESENVOLVIMENTO DA CIÊNCIA SEGUNDO THOMAS S. KUHN: ANÁLISE E CRÍTICA DO MODELO PROPOSTO NA ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS. RESUMO. O livro de Thomas S. Kuhn, A Estrutura das revoluções científicas (1962), foi recebido pela comunidade filosófica e científica como um texto revolucionário. Nele, Kuhn propõe uma nova forma de compreender o desenvolvimento científico. Diferentemente dos filósofos da ciência de sua época, que viam o desenvolvimento científico como um largo processo de acumulação, Kuhn propôs que o desenvolvimento científico está marcado por processos de ruptura denominados “revoluções científicas”. Em ocasião da edição japonesa da Estrutura, em 1969, Kuhn introduziu um Posfácio, que considero parte integrante de sua noção de desenvolvimento científico, pois é complementar ao seu modelo e traz esclarecimentos sobre as questões tratadas na obra de 1962. Conforme o modelo inicial de desenvolvimento presente no conjunto Estrutura/Posfácio, as rupturas no processo de desenvolvimento científico são marcadas pela sucessão de paradigmas. Os paradigmas, para Kuhn, são uma espécie de arcabouço teóricometodológico. Eles direcionam a atividade científica para a compreensão dos fenômenos estudados por uma comunidade científica. Com esta Dissertação pretendo analisar de forma crítica o modelo de desenvolvimento científico presente na Estrutura, discorrendo sobre os conceitos-chave necessários para o entendimento do modelo. PALAVRAS-CHAVE: T. S. Kuhn; paradigma; desenvolvimento científico..

(10) THE DEVELOPMENT OF SCIENCE ACCORDING TO THOMAS S. KUHN: ANALYSIS AND CRITIQUE OF THE MODEL PROPOSED IN THE STRUCTURE OF SCIENTIFIC REVOLUTIONS. ABSTRACT. Thomas S. Kuhn's book, The Structure of Scientific Revolutions (1962), was received by the philosophical and scientific community as a revolutionary text. In it, Kuhn proposed a new way of comprehending scientific development. Unlike other philosophers of science of his day, who saw scientific development as a long, accumulative process, Kuhn proposed that scientific development is marked by disruptive processes called "scientific revolutions". With the release of the Japanese edition of Structure, in 1969, Kuhn introduced an Afterword, which I consider to be an integral part of his concept of scientific development, as it's complementary to his model and clarifies issues addressed in the 1962 work. According to the initial development model proposed in this Structure/Afterword set, disruptions in the scientific development process are marked by a succession of paradigms. These paradigms, for Kuhn, are a type of theoretical-methodological framework. They direct scientific activity towards the comprehension of phenomena studied by a scientific community. With this Dissertation I intend to critically analyse the scientific development model proposed in Structure, discussing the key concepts necessary for understanding this model. KEYWORDS: T. S. Kuhn; paradigm; scientific development..

(11) LISTA DE FIGURAS. FIGURA 2.1 – Períodos do desenvolvimento da ciência.......................................................... 33 FIGURA 2.2 – Focos normais para a investigação científica.................................................... 42 FIGURA 2.3 – Cenários possíveis para o desenvolvimento da crise........................................ 55 FIGURA 2.4 – Tratamento de uma anomalia reconhecidamente fundamental......................... 57 FIGURA 3.1 – Conceitos atrelados à matriz disciplinar........................................................... 72 FIGURA 3.2 – O desenvolvimento da ciência segundo o Posfácio de 1969............................ 75 FIGURA 3.3 – Matriz disciplinar ampliada.............................................................................. 79 FIGURA 3.4 – Exemplares no aprendizado do paradigma.......................................................81.

(12) SUMÁRIO INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 13. 1. A FILOSOFIA DE THOMAS S. KUHN E A CONCEPÇÃO HERDADA DA CIÊNCIA................................................................................................................................. 17 1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................... 17 1.2. A FILOSOFIA DA CIÊNCIA DE T. S. KUHN NA ESTRUTURA................................... 18 1.3. KUHN E A CONCEPÇÃO HERDADA SOBRE AS TEORIAS CIENTÍFICAS............ 24 1.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 28. 2. O MODELO DE CIÊNCIA PROPOSTO POR KUHN NA ESTRUTURA.................. 31 2.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................... 31 2.2. CONCEITOS-CHAVE DO MODELO KUHNIANO....................................................... 32 2.2.1. Paradigma........................................................................................................... 32 2.2.2. Ciência normal.................................................................................................... 38 2.2.3. Anomalia............................................................................................................. 47 2.2.4. Revolução científica............................................................................................ 54 2.3. CONSIDERAÇÕES SOBRE O MODELO KUHNIANO................................................. 58 2.3.1. Desenvolvimento científico................................................................................ 59 2.3.2. O uso de manuais na projeção do paradigma....................................................... 61 2.3.3. História e filosofia da ciência.............................................................................. 64 2.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 66. 3. O POSFÁCIO DE 1969 COMO PARTE DA ESTRUTURA........................................... 69 3.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS......................................................................................... 69 3.2. OS PARADIGMAS COMO COMPROMISSOS DE GRUPO.......................................... 71 3.3. OS PARADIGMAS COMO EXEMPLOS COMPARTILHADOS................................... 79 3.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 82. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................. 83. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................................................. 89.

(13) 13. INTRODUÇÃO. Esta Dissertação é o resultado de uma tentativa de compreender e avaliar o modelo de desenvolvimento da ciência presente no livro de Thomas S. Kuhn, A estrutura das revoluções científicas1, publicado originalmente em 1962. Minha pretensão não foi elucidar todos os pontos problemáticos dessa obra ou trazer um novo e revolucionário entendimento sobre o tema, mas contribuir com as discussões travadas sobre um aspecto bastante específico da filosofia da ciência de Kuhn: o modelo de desenvolvimento da ciência contido na Estrutura. Embora o texto tenha sido publicado em 1962, ainda suscita muitas discussões. Alguns pontos, como o “caráter paradigmático da ciência”, se mostraram bastante influentes nas explicações sobre como se desenvolve a ciência; outros, como a questão da “incomensurabilidade”, permanecem em aberto e agregam tanto defensores quanto opositores2. Em virtude da pluralidade de questões que têm sido discutidas a partir da Estrutura, o texto tornou-se um dos mais citados no século XX. Segundo Khalidi (2000: 172), os termos “paradigma”, “revolução científica” e “incomensurabilidade” estão entre as mais influentes expressões da filosofia da ciência. Isso equivale a dizer que têm sido muito usadas e isso implica numa gama variada de análises da obra de Kuhn, pois a partir das questões tratadas no texto, são possíveis enfoques em questões metodológicas, sociológicas, políticas, etc. Em razão dessas diferentes leituras, penso que trabalhar todas as questões colocadas no texto só seria possível ao longo de uma vida, não de um Mestrado, exceto, é claro, se uma vida fosse dedicada ao Mestrado. Por isso me aterei somente a um aspecto do texto, o modelo de desenvolvimento científico que está sendo considerado por Kuhn. Sob o título “O desenvolvimento da ciência segundo Thomas S. Kuhn: análise e crítica do modelo proposto na Estrutura das revoluções científicas”, pretendo discutir o modelo esboçado por Kuhn em seu livro como uma forma possível de compreender o desenvolvimento científico que, em linhas gerais, deve ser abordado como intrinsecamente relacionado à ideia kuhniana de “paradigma”.. 1. Na sequência, utilizarei somente Estrutura. A ideia de Kuhn sobre a incomensurabilidade tem sido considerada como polêmica desde sua anunciação. Ainda hoje essa ideia está entre as principais discussões que giram em torno da filosofia de Kuhn, Cf. LORENZANO & NUDLER (Eds.), 2012. Ainda que a discussão seja interessante, não considero que seja imprescindível para alcançar o objetivo desta Dissertação, por isso não a desenvolverei aqui. Sobre o caráter polêmico da ideia kuhniana de incomensurabilidade confronte GUTIERRE, 1998. 2.

(14) 14. Na primeira versão da Estrutura, as questões fundamentais para a correta compreensão da junção entre “desenvolvimento científico” e “paradigma” foram postas, mas, motivado pelas críticas recebidas de seus leitores, em 1969 Kuhn acrescentou ao texto original um Posfácio, no qual os elementos anteriormente colocados – sobretudo a ideia de paradigma – foram aprofundados e melhor esclarecidos. Não considerarei o Posfácio como um texto à parte da Estrutura, porque desde 1969 as publicações do livro têm sido acompanhadas dele. Além disso, não identifico nenhum conceito no Posfácio que Kuhn já não tenha aludido no texto de 1962. Por isso, quando me refiro ao “modelo proposto na Estrutura das revoluções científicas”, estou pensando na conjunção entre os dois textos, isto é, a obra de 1962 acompanhada do Posfácio de 1969. Estou considerando outros aspectos para justificar essa conjunção. Como o texto foi publicado em 1962 e recebeu o Posfácio em 1969, alguns pesquisadores poderão compreender que, como são de períodos distintos, tratam-se de textos com objetivos diferentes e, portanto, suscetíveis de aproximações e distanciamentos, o que justificaria uma análise no sentido de diferenciá-los e considerá-los como textos diferentes. Sem embargo, como já explicitado, considero que a Estrutura de Kuhn é o conjunto entre o texto de 1962 e o Posfácio de 1969, pois, como pode ser observado, este não foi publicado de forma independente. Não terem sido publicados como textos diferentes fundamenta a ideia de que Kuhn compreendia os dois textos como um conjunto. Nesse conjunto, o conceito de “estrutura” estaria exposto, sendo o Posfácio um agrupamento de notas esclarecedoras sobre o texto original. Essa concepção, impossibilitaria que os dois textos fossem distanciados em publicações distintas. Utilizo a expressão “modelo”, ao invés de “teoria”, por considerar que aplica-se de forma mais adequada à construção de Kuhn. Na Estrutura, o desenvolvimento da ciência é tratado por meio de um esquema de seu funcionamento. Ao final da leitura da Estrutura, é possível observar um esquema conceitual, composto de etapas que se sucedem. Com base em tal constatação, acredito que a ideia de modelo é mais apropriada do que a de teoria, pois ilustra melhor o funcionamento da ciência de Kuhn3. É possível que o termo “modelo” traga alguns problemas, pois pode denotar “imitação”, ou “padrão imitável”, o que implicaria em uma análise de que as definições de Kuhn servem de regra para o trabalho científico. Por essa razão, convém ressaltar que essa não é minha intenção.. Obviamente, ainda assim o termo “teoria” poderia ser aplicado. Mas penso que “modelo” está melhor colocado, pois remete-se diretamente ao que está exposto na Estrutura: um esquema conceitual das etapas que compreendem o desenvolvimento da ciência. 3.

(15) 15. Entendo modelo como um esquema pretendido do desenvolvimento científico, que serve de esboço de como a ciência se constrói ao longo de períodos que se sucedem. Quanto à expressão “desenvolvimento”, largamente utilizada nesta Dissertação, a entendo como a dinâmica da ciência, e não deve ser diretamente relacionada à ideia de “progresso”. Ou seja, não estou atribuindo à ideia de “desenvolvimento” nenhuma relação positiva ou negativa de acúmulo de conhecimento, mas tão somente a dinâmica temporal e conceitual trilhada pelo fazer científico. Porquanto, julgo que a análise do desenvolvimento científico é a maneira mais adequada de esboçar o modelo proposto na Estrutura.. Para cumprir com o objetivo de explicitar o modelo presente na Estrutura, esta Dissertação está composta por três capítulos e uma seção para Considerações Finais, além desta Introdução. No primeiro Capítulo, “A filosofia de Thomas S. Kuhn e a concepção herdada da ciência”, farei uma contextualização histórica das discussões feitas por Kuhn. De forma introdutória, apresentarei a relação dos conceitos atrelados ao modelo kuhniano e como eles contribuíram para a análise kuhniana do desenvolvimento da ciência. Neste capítulo, a proposta kuhniana será apresentada como contraposição à denominada “concepção herdada da ciência”. O segundo capítulo, “O modelo de ciência proposto por Kuhn na Estrutura” apresenta uma descrição pormenorizada dos conceitos atrelados ao modelo de desenvolvimento da ciência proposto por Kuhn, descrevendo como funciona um paradigma e como se dá sua substituição. Tal desenvolvimento poderia ser descrito como o funcionamento da ciência enquanto uma constante intercalação de períodos de estabilidade e instabilidade. É nesse capítulo que o modelo de Kuhn será descrito, pois é nele que estou tratando diretamente dos conceitos abarcados pelo modelo. A continuidade da discussão sobre o modelo está colocada no terceiro capítulo – “O Posfácio de 1969 como parte da Estrutura”. Neste momento, serão discutidos os aclaramentos dos conceitos tratados na obra de 1962, situando o Posfácio como parte do modelo proposto na Estrutura, por tratar-se de um conjunto de esclarecimentos e não de uma adição de novos conceitos. Nas “Considerações Finais”, procurarei esboçar a contribuição dada por Kuhn para a nova imagem da ciência e sua influência na segunda metade do século XX. Destacarei alguns problemas em seu modelo de compreensão da natureza da atividade científica, ressaltando que, embora problemático em alguns aspectos, foi imprescindível para considerar como.

(16) 16. fundamental, mais do que o produto da ciência, a análise do caminho trilhado pelo cientista para construir esse tipo específico de conhecimento. Por meio desta Dissertação, espero poder esclarecer o modelo de desenvolvimento apresentado por T. S. Kuhn em sua Estrutura, considerando ainda que o trabalho ora desenvolvido não chegará à elucidação definitiva da temática..

(17) 17. 1. A FILOSOFIA DE THOMAS S. KUHN E A CONCEPÇÃO HERDADA DA CIÊNCIA. 1.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Neste capítulo, num primeiro momento, farei uma breve apresentação das ideias de Thomas S. Kuhn presentes na Estrutura, a partir de uma análise do que pode ser considerado como um “giro historicista” da filosofia da ciência, bem como apresentarei as principais hipóteses relacionadas ao que estou chamando de “modelo kuhniano” de desenvolvimento científico. Na sequência, com o intuito de situar historicamente a filosofia de Kuhn no contexto das investigações relacionadas à filosofia da ciência, analisarei de forma breve algumas ideias vinculadas à chamada “concepção herdada da ciência”, isto é, da concepção de ciência dominante na 1ª metade do século XX. Este capítulo também tem a função de mostrar como as concepções trazidas na Estrutura colaboraram para uma visão mais social e política da ciência, se contrapondo, na segunda metade do século XX, às ideias do positivismo lógico, que definiam – grosso modo – a possibilidade de uma sustentação científica unicamente com base na lógica e na experiência. Convém alertar que nas linhas a seguir proponho-me a uma análise crítica da concepção herdada da ciência com base na defesa de que o modelo kuhniano constitui um contraponto a tais ideias, embora esse modelo não seja completamente elucidativo sobre o funcionamento da atividade científica. O modelo de desenvolvimento da ciência proposto por Kuhn também possui suas contradições. Entretanto, não procurarei me ater a tais contradições existentes, mas tão somente ao que considero inovador em relação à concepção herdada..

(18) 18. 1.2. A FILOSOFIA DA CIÊNCIA DE T. S. KUHN NA ESTRUTURA. Pensar as questões filosóficas da Estrutura é pensar também os possíveis caminhos percorridos por Kuhn até a publicação da obra, em 1962. Gostaria de iniciar esta reflexão analisando a composição do título de seu livro. O termo “estrutura” tem sido largamente utilizado em diferentes disciplinas e áreas de estudo, como, por exemplo, na antropologia de Lévi-Strauss e na economia de Marx. O termo também tem sido utilizado em ciências, como na designação das funções e movimentos dos átomos e nas mais diversas engenharias, sempre com o sentido de “disposição”, “constituição” e “organização”. Em filosofia, o termo pode ter diversos sentidos, mas há especial destaque entre os filósofos do empirismo lógico, no enunciado de suas teorias. A expressão “a estrutura das teorias científicas” é frequente na literatura desse movimento. Ao utilizar o termo “estrutura” no título de seu livro, Kuhn parece estar se comprometendo com a construção de uma nova definição para o uso do termo em relação à atividade científica. Como uma tentativa de redefinir o uso corriqueiro da expressão, “estrutura” agora é empregado numa análise que criticará a concepção de que o fazer científico se desdobra num ambiente completamente neutro, o que confere ao termo um sentido menos impositivo em relação ao funcionamento da ciência. A Estrutura é, assim, um livro de história e filosofia da ciência, não um manual de como a ciência deveria funcionar. Tal concepção estará clara para o leitor que se propuser a fazer a leitura do livro de Kuhn, pois a compreensão descrita em suas páginas tende a explicar como a ciência tem funcionado e não como ela deveria funcionar, o que, por si só, já implica em uma grande mudança de visão em relação à tradição da filosofia da ciência entre Guerras. A tentativa de superar as descrições comumente utilizadas para o processo de desenvolvimento da atividade científica, proposta por Kuhn, pode ser compreendida como um “giro historicista” da filosofia da ciência (ECHEVERRÍA, 1997: 7), no qual os elementos históricos da ciência são tratados como fundamentais para o entendimento de seu funcionamento. Esse giro representa uma ruptura com o contexto de sua época, pois ao apresentar o desenvolvimento da ciência como um processo que pressupõe “revoluções científicas”, Kuhn.

(19) 19. enuncia sua proposta de romper com a tradição positivista, também denominada de “filosofia empirista do conhecimento científico4”. Segundo esta tradição:. está fora de discussão que a ciência progride sem cessar, entendendo-se o progresso científico como um avanço ininterrupto em direção a uma compreensão cada vez melhor da realidade. A ciência não é apenas verdadeira – em contraposição a outros pretensos saberes que são falsos – senão que os resultados da ciência são cada vez mais verdadeiros, no sentido de serem paulatinamente mais adequados à realidade, seja por extensão, seja por aprofundamento, seja por crítica de resultados anteriores (CUPANI, 1985: 67).. A produção de Kuhn teve um brilhante início e causou grande impacto com a publicação de A revolução copernicana, em 1957. Nesse livro, discute-se a transição da cosmovisão provocada pelas descobertas científicas do século XVII. É por meio dessa discussão que ele apresenta alguns conceitos que mais tarde serão discutidos na Estrutura. Embora haja alguma originalidade nas discussões provocadas por Kuhn em 1962, é verdade que a iniciativa de se contrapor ao positivismo lógico já havia sido lograda. Como indica Rorty,. Escritores como Michael Polanyi, Imre Lakatos, Stephen Toulmin, Paul Feyerabend e Norwood Russel Hanson tinham começado a desafiar a imagem da investigação científica que havia sido esboçada por Rudolph Carnap, Karl Popper, Carl Hempel e outros associados ao positivismo lógico (RORTY, 2000: 203).. A influência de Kuhn no período pós-publicação da Estrutura se deu em virtude da análise feita ali. Segundo tal análise, a ciência acontece por processos de ruptura – indicado na ideia de revolução – e não por acumulação5, como defendido de forma vigorosa pela tradição que lhe foi anterior. Com respeito a essa ideia – desenvolvimento por processos de ruptura – não há um elemento totalmente original nas ideias de Kuhn, pois se aproxima das teses de Koyré, na. Ou “positivismo lógico”, ou ainda “empirismo lógico”, levando em conta que cada uma das denominações possui certas particularidades. Mas entre elas, é comum a rejeição das especulações metafísicas e a insistência de um empirismo epistemológico. Dentre os diversos aspectos do positivismo lógico, a principal contra argumentação de Kuhn se dá em direção à ideia de conhecimento por acumulação e a possibilidade de conhecimento empírico irrevogável. 5 Voltarei a discutir de forma mais extensa sobre esta temática no capítulo 2, item 2.3.1 “Desenvolvimento científico”. 4.

(20) 20. medida em que este “considerava que a ciência não evoluía de modo contínuo, mas via sua história cindida por rupturas no plano conceitual” (SHINN & RAGOUET, 2008: 48). De fato, na Introdução da Estrutura, Kuhn indica a influência recebida de Koyré em suas ideias (KUHN, 1992: 22). O caráter inovador da contribuição dada por Kuhn subjaz na defesa de que o relacionamento dos membros em uma comunidade científica tem papel fundamental no desenvolvimento da ciência. Além disso, a crítica radical à possibilidade de uma “neutralidade científica”, defendida pelo positivismo lógico, encontrou na Estrutura um contraponto à altura. Por isso, “seu repúdio radical e profundo à ideia de tal lógica e de uma linguagem observacional neutra, fez da Estrutura um dos mais lidos e influentes trabalhos de filosofia escrito em inglês, desde a Segunda Guerra Mundial” (RORTY, 2000: 204). Segundo a visão kuhniana, a ciência se desenvolve no seio de comunidades que definem o trabalho científico numa constante ampliação de um paradigma. Esse trabalho, que congrega diferentes pessoas, por vezes com opiniões também diferentes, não poderia ser considerado como completamente neutro, pois o processo de escolhas entre teorias deve levar em consideração aspectos subjetivos, como a formação acadêmica do cientista e as considerações comuns da comunidade na qual ele está inserido. Ao propor a existência de aspectos subjetivos na produção científica – espaço concebido majoritariamente como “hermético” e isolado de influências externas – o livro de 1962 passou a aglutinar, ao longo da segunda metade do século XX, defensores e opositores, reservando a alguns capítulos da história da filosofia da ciência constantes debates que levam em consideração – para defender ou refutar – conceitos contidos em suas páginas6. Nas páginas da Estrutura, encontram-se diversas inovações em relação à abordagem dos problemas da ciência. Talvez a principal constatação tenha sido a observação de uma dimensão social do trabalho científico: o cientista desenvolve seu trabalho de pesquisa no seio de comunidades. Tais comunidades compartilham um paradigma que orienta as práticas comuns do grupo. As escolhas que são feitas no processo de desenvolvimento de ideias (conclusões acerca de observações, etc.) são o resultado direto dessas escolhas. A comunidade, ao trabalhar com o. 6. Exemplo do contexto que foi gerado pela publicação da Estrutura, o International Colloquium in the Philosophy of Science, Londres, 1965, colocou em discussão as questões suscitadas por Kuhn na Estrutura. O resultado dessa discussão foi publicado posteriormente por Imre Lakatos e Alan Musgrave, sob o título Criticism and the Growth of Knowledge (1970)..

(21) 21. paradigma por meio de escolhas, estabelece em sua prática critérios para orientar a pesquisa, num constante processo de promover as ideias consensuais e refutar os dissensos. Esse processo de escolha, que está, obviamente, amparado em metodologias fundamentadas e orientadas segundo os critérios racionais e objetivos compartilhados pela comunidade, também deve ser analisado segundo sua dimensão social. A ideia de comunidade, em relação à de revolução, remonta ao aspecto sociológico da análise presente na Estrutura. Mas a filosofia de Kuhn não deve ser tratada como um conjunto de termos emprestados das teorias políticas e econômicas do marxismo, pois, independente destas, na transição de teorias por intermédio de uma revolução científica, há que se considerar o aspecto político (MENDONÇA, 2012: 542). Ao empregar o termo “revolução” em sua descrição acerca do desenvolvimento da ciência, Kuhn adquiriu para sua perspectiva um grande problema de ordem conceitual. O termo “revolução” tem sido indiscriminadamente utilizado, ao longo da história recente, como a caracterização de um desencadeamento socioeconômico que deveria culminar com uma grande transformação social (MARX, 1973: 28), o que deveria se dar em virtude de uma “luta de classes” (QUINTANEIRO, 1996: 81). Embora as definições de “revolução” e “luta de classes” nas acepções aqui apresentadas e na história recente como um todo sejam pouco precisas, marcam um caráter puramente ideológico e político dos termos que lhes são subjacentes7. A utilização do termo “revolução” na Estrutura pode permitir – para o leitor mais inexperiente – a sugestão de alguma identificação da perspectiva kuhniana de desenvolvimento da ciência como afim às teorias políticas dos integrantes da tradição marxista. Tal leitura tenderia para a aceitação de uma dimensão “puramente ideológica” da empreitada científica. Esse tipo de aproximação deve ser desconsiderado com uma leitura mais apurada, tendo em vista que isso não pode ser sustentado com base nas questões tratadas na Estrutura8, tampouco no conjunto da obra de Kuhn.. Entendo aqui como “caráter puramente ideológico” uma empreitada política que possui a única finalidade de propor uma mudança social, pois parte do pressuposto que há uma constante luta de interesses entre classes sociais distintas. As construções científicas não devem ser consideradas por meio destes aspectos, pois, segundo Rorty, “os cientistas naturais têm sido frequentemente exemplares conspícuos de certas virtudes morais. Os cientistas são merecidamente famosos por apoiarem-se antes na persuasão do que na força, pela (relativa) incorruptibilidade, pela paciência e caráter razoável” (apud MENDONÇA, 2012: 542). A ciência se desenvolve independentemente de possíveis relações com “causas sociais” e a análise de Kuhn não parece ir em sentido contrário a este entendimento. 8 Defendo que há no modelo kuhniano a aceitação de uma dimensão política na produção cientifica, entretanto, a imagem de desenvolvimento científico que pode ser atribuída à ideia de “revolução científica” não deverá ser considerada conforme a imagem tipicamente sociológica. Outrossim, a dimensão política que pode ser suscitada na leitura da Estrutura, consiste no embate de ideias rivais, comuns no espaço de argumentação científica, mas 7.

(22) 22. Embora não haja uma identificação direta com uma natureza ideológica, o emprego do termo “revolução” foi bastante caro para Kuhn. Se o termo escolhido para denominar o período de transição de paradigmas tivesse sido outro, o caminho teria sido menos tortuoso durante o período pós-Estrutura. Entretanto, se Kuhn houvesse escolhido outro termo, talvez suas ideias sobre o desenvolvimento da ciência não existisse de forma tão singular, outrossim, nos pouparia de confusões a esse respeito. Parece-me que a definição de “revolução” na Estrutura deve ser considerada de maneira mais conservadora e menos ideológica, pois serve unicamente de definição para os processos de mudança paradigmática, embora também não esteja tão claramente colocada. Não há como dissociar o modelo de Kuhn de uma descrição que apresenta os desdobramentos científicos como intrinsecamente relacionados ao desenvolvimento das comunidades que são agrupadas por um paradigma. Essa junção é a questão central do modelo proposto por Kuhn e é o aspecto que considero mais característico em suas explicações filosóficas. Para pensar a estrutura do desenvolvimento científico com base na Estrutura, é necessária a análise a partir da relação entre paradigma e comunidade. Os debates suscitados pela abordagem de Kuhn tem sido bastante profícuos desde suas colocações, porém, conforme Mendonça, em relação à Estrutura,. O êxito editorial e acadêmico dessa obra impôs-lhe (...) um preço a pagar. No âmbito da filosofia, Kuhn não produziu praticamente nada de novo desde então, uma vez que se sentiu obrigado a dispender grande parte de seu tempo tentando, por um lado, amainar as críticas que lhe foram endereçadas e, por outro lado, rechaçar grande parte das recepções laudatórias. Para ser mais correto, Kuhn reformulou alguns pontos de sua explanação original, alterando a forma de argumentação, mas sem deixar de tratar e de defender suas velhas teses. Sendo assim, não é muito difícil inteirar-se do seu pensamento filosófico acerca da ciência, pelo menos no que tange aos problemas aqui em questão; embora tais problemas em si, ainda que poucos, levem-nos a enveredar por caminhos bastante espinhosos (MENDONÇA, 2012: 535-536).. Como bem asseverado na citação anterior, os caminhos trilhados na Estrutura não são dos mais simples de discutir. A postura de Kuhn em relação aos seus críticos e defensores se revelou como um capítulo à parte e requer atenção especial (OLIVEIRA, 2004: 74). Decerto a. não numa orientação voltada à mudança de consciência humana ou estrutural da economia, assim como defendido pela ideologia marxista..

(23) 23. questão política colocada na Estrutura é uma dessas questões que requer atenção especial. Segundo Mendonça, ela não foi bem aceita pela comunidade contemporânea de Kuhn, pois como os filósofos analíticos da ciência poderiam admitir que o seu objeto de estudo fosse igualado à política e à religião, esferas tidas como do domínio da decisão e da crença respectivamente, e não da evidência e/ou da demonstração (peculiaridades do conhecimento científico)? (MENDONÇA, 2012: 542).. Na formulação e proposição de um paradigma, o consenso deve se fazer presente como elemento da discussão. Não é necessário que haja unanimidade, mas um entendimento geral de que um conjunto de explicações e regras metodológicas é melhor e mais apropriado do que outro serve como um seguro de que a comunidade está bem direcionada. Levando em consideração a imaturidade dos concorrentes à paradigma, é necessário que haja certo poder de convencimento entre seus defensores, repousando na escolha do paradigma elementos mais políticos e menos racionais, pois, afirma Kuhn,. Na escolha de um paradigma – como nas revoluções políticas – não existe critério superior ao consentimento da comunidade relevante. Para descobrir como as revoluções científicas são produzidas, teremos, portanto, que examinar não apenas o impacto da natureza e da Lógica, mas igualmente as técnicas de argumentação persuasiva que são eficazes no interior dos grupos muito especiais que constituem a comunidade dos cientistas (KUHN, 1992: 128).. Me parece claro que há uma utilização política na ideia de “revolução científica”9, embora não esteja explícita a relação mantida com o paradigma na citação em tela. No entanto, há que se considerar a relação indireta estabelecida, pois, considerando que o resultado direto de uma revolução científica é a eleição de um novo paradigma, há na escolha desse novo paradigma uma implicação política. Na sequência, analisarei a contraposição de ideias empreendida por Kuhn à concepção herdada da ciência.. 9. Muito embora não esteja relacionada diretamente à acepção usual do termo, comum entre alguns membros da tradição filosófica e sociológica, como já indiquei..

(24) 24. 1.3. KUHN E A CONCEPÇÃO HERDADA SOBRE AS TEORIAS CIENTÍFICAS. Por “concepção herdada”, entende-se a concepção acerca da ciência proveniente do Círculo de Viena (PALMA, 1998: 54), bem como sua influência, comumente chamada de “positivismo lógico” (SUPPE, 1979: 21)10. Esta concepção filosófica define taxativamente a ciência, sujeita a especulação à observação e ao experimento, [que] faz da ciência o principal motor do progresso humano, etc. Ela se aproxima, ademais, do Neopositivismo, ao privilegiar o modelo das ciências naturais, ao defender a unidade metodológica da pesquisa, ao propender para uma linguagem científica única (CUPANI, 1985: 13).. Delimitar exatamente os limites do positivismo lógico, por meio de uma definição completa e fidedigna, não é uma tarefa fácil. Alguns dos filósofos que costumeiramente são reconhecidos como participantes dessa linha de pensamento por vezes discordaram da filiação que lhes foi atribuída, manifestando-se contrários tanto à filiação quanto às definições sobre o que seria “positivismo lógico”. Mas, que escolha tenho eu a não ser propor uma caracterização possível? A compreensão denominada de “concepção herdada” foi comum entre os filósofos anglo-americanos do pós Segunda Guerra. Essa visão também pode ser definida como a crença de que “as teorias científicas são construídas e fundamentadas a partir dos dados sensoriais imediatos. Os sentidos são a base irrevogável do conhecimento científico legítimo” (HANDS, 2003: 169). De forma geral, o positivismo lógico pode ser compreendido como uma forma específica de conceber o conhecimento empírico, o qual é construído por meio de uma metodologia científica que procura eliminar qualquer traço de subjetividade. Essa metodologia científica pretendia solucionar qualquer tipo de problema na resolução de questões empíricas, pautando-se por critérios de objetividade e racionalidade. Por conta desses critérios, a metodologia científica deveria ser alçada a todas as formas de construção de conhecimento, restando apenas à ciência o estatuto de conhecimento válido. Para Sobre a chamada “concepção herdada”, Suppe (1979) nos fornece diversas explicações pertinentes, as quais apontam que a “concepção herdada” deve ser compreendida como fruto do positivismo lógico. Em seu livro, ele discute de forma bastante profunda os caminhos percorridos pela filosofia alemã a partir da segunda metade do século XIX, desembocando no positivismo lógico, bem como muitas das possíveis acepções de “concepção herdada” e seu desenvolvimento histórico. Quanto a esta Dissertação, pretendo apenas uma noção geral para embasar as discussões propostas por Kuhn em seu contexto histórico. 10.

(25) 25. tanto, a ciência deve desprezar qualquer vinculação não objetiva com a realidade, empenhandose na direção das chamadas “ciências duras”, em especial a Física, como padrão a ser seguido. A noção de “concepção herdada” congrega também a linha de pensamento chamada de “empirismo lógico”. O principal fundamento do empirismo lógico “é a ideia de que todo conhecimento científico repousa sobre a evidência empírica” (SALMON, 2000: 233), o que demonstra que há relação com os aspectos defendidos pelos positivistas lógicos. O empirismo lógico é, por vezes, confundido com o positivismo lógico. Fato compreensível, uma vez que defendem ideias comuns. Tentar distinguir estas escolas seria atrair a esta Dissertação uma dificuldade adicional que me furtarei neste momento11. Acredito que demonstrar o que elas possuem em comum, além de ser uma tarefa mais fácil, será também mais interessante para o caminho que estou tentando seguir. Tal demonstração se concentra nas ideias que foram alvo de superação na Estrutura. Em ambos os casos – empirismo e positivismo lógico – há uma junção entre “evidência empírica” e “lógica”. A evidência empírica é aquilo que se apresenta aos sentidos e serve como conexão entre o cientista e a pesquisa que ele desenvolve com base nas observações. Nesse caso, a principal forma de desenvolver uma teoria seria por meio da relação empírica estabelecida na observação e o peso recai sobre este aspecto, pois “evidência” será equivalente à constatação empírica. Para garantir que a constatação empírica seja considerada correta, a concepção herdada considera que a lógica serve a um propósito bastante importante. Ficam a cargo da lógica os processos de indução e dedução das teorias desenvolvidas com base nas constatações empíricas. Os sentidos, portanto, deveriam estar corroborados pela lógica de tal forma que esta lhes garantisse o sucesso da empreitada científica. Contudo, a garantia pretendida com o uso da lógica desafia a percepção como garantidora da análise, pois em um processo de indução, o caráter universal de uma teoria é pretendido sem que se leve em consideração o “todo”, mas, pelo contrário, utiliza-se apenas de uma amostragem. A utilização do termo “constatação” conforme o empirismo lógico parece ser bastante complexa e problemática. “Constatar” significaria determinar que uma coisa é exatamente conforme a descrição que está sendo dada. Ao analisar a ideia de constatação por meio da noção de paradigma, a descrição dada ao objeto passa para um campo distinto do anterior, pois a 11. Compreendo que a distinção entre estas duas perspectivas não é fundamental para esta Dissertação. Na sequência aponto o que elas compartilham, contribuindo para a análise das questões que motivaram Kuhn a construir um contraponto..

(26) 26. descrição agora é validada por meio de consensos do grupo aglutinado pelo paradigma. Segundo o modelo kuhniano, nas ciências amadurecidas os fenômenos têm sido explicados dessa forma, ainda que não haja uma plena consciência deste aspecto entre os membros do grupo. Com respeito à possibilidade de conhecer de forma objetiva por meio de um “empirismo epistemológico”, Kuhn afirma que “a escolha entre teorias científicas depende de considerações que vão além da observação e da lógica, mesmo quando a lógica é interpretada de forma a incluir a confirmação” (SALMON, 2000: 233). Isso equivale a dizer que o caráter objetivo consiste em seguir o direcionamento de um paradigma, ao passo que o caminho percorrido por um grupo na escolha de um paradigma pode ser distinto de outros. A construção de um paradigma não deve ser considerada como arbitrária, mas há que se perceber uma dimensão subjetiva nos processos de escolha, que levam em consideração a produção histórica e os valores que são compartilhados pelos membros de uma comunidade científica. Para a concepção herdada, a ciência é tomada como empreendimento completamente objetivo. Não se considera que o empreendimento científico possa sofrer algum tipo de influência externa. O empreendimento científico é considerado como estando ligado apenas aos padrões metodológicos, os quais são aperfeiçoados ao longo do tempo e são considerados como seguros na sustentação das conclusões que deles possam ser consideradas 12. Dessa maneira, o empreendimento científico seria objetivo. Sobre a noção de objetividade da ciência, devemos considerar que. é possível porque a pesquisa supõe sempre procedimentos definidos, de comprovada eficácia, para se atingir o conhecimento almejado. A ciência é metódica, e isto num duplo sentido. Por um lado, porque existe um método geral da ciência, uma maneira de proceder que caracteriza uma pesquisa como “científica” independentemente do tema. Por outro lado, porque cada etapa de uma pesquisa, e de acordo com a natureza do tema, exige diferentes técnicas que dizem respeito à identificação dos problemas, à sua adequada formulação e resolução, e à avaliação do resultado obtido (CUPANI, 1985: 15).. Quanto aos aspectos da ciência descritos na citação anterior, Kuhn discordará da possibilidade de existir alguma definição que possa ser tomada como “cabal” ou “incorrigível”, Abordarei de forma mais ampla a relação entre “alargamento da ciência” e “ciência normal” na sequência, mais especificamente no segundo capítulo, seção 2.2.2. Ciência normal. 12.

(27) 27. pois o conhecimento científico está sendo constantemente alterado. Estas alterações são resultantes do trabalho de forçar constantemente o paradigma em direção de seu alargamento13 por meio de pesquisas que corrigem anomalias. A correção de anomalias desemboca na construção de novas definições, o que impediria a consideração de que as definições fornecidas pela ciência são objetivas conforme o que até então se compreendia por “objetividade”. No contexto da concepção herdada, “objetivo” seria todo o trabalho científico que se utiliza de uma metodologia que elimine a subjetividade metafísica e valide, segundo os princípios lógicos para induzir e confirmar, o conhecimento produzido. Seguindo esse princípio, a máxima positivista acredita que o resultado seria sempre uma conclusão válida. De forma geral, as questões tratadas na Estrutura indicam que a objetividade da ciência baseia-se no fato de ser regulada por um paradigma. A objetividade consistiria em seguir de forma adequada o paradigma. A grande mudança introduzida pelo modelo de Kuhn em relação à concepção herdada é o fato de que a escolha de um paradigma se dá em virtude de questões não objetivas, como a política. Segundo a perspectiva kuhniana, não é possível a escolha de uma metodologia que seja capaz de suprimir totalmente elementos subjetivos, incorporados nos processos de escolhas, nas discussões sobre valores, na ética da pesquisa científica etc., comuns no desenvolvimento da ciência. A concepção herdada, por sua vez, aponta como sendo possível a subtração dos elementos subjetivos da produção científica uma vez que as disciplinas científicas adotem um padrão de objetividade. Não estou dizendo que não há possibilidade de conhecimento, segundo o modelo kuhniano. Mas, considero que na Estrutura, conhecimento equivale ao resultado do consenso de um grupo em relação às conclusões provenientes de uma observação. É difícil sustentar a noção de objetividade da concepção herdada no modelo de Kuhn. Mas não estou defendendo que não haja objetividade no modelo kuhniano. Há, mas deve ser compreendida dentro de sua especificidade, conforme o que procurei descrever até então. Para a concepção herdada, a produção científica pode ser neutra, ou seja, existe a possibilidade de que as conclusões oriundas do trabalho de investigação sejam resultantes. Tendo em vista que “um paradigma pode ser muito limitado, tanto no âmbito como na precisão, quando de sua primeira aparição” (KUHN, 1992: 44), considero que há no período de ciência normal – período o qual identifico como posterior ao de revolução científica – uma ampliação das possibilidades do paradigma, o que aqui e alhures também chamo de “alargamento do paradigma”. 13.

(28) 28. diretas das observações, sem a influência de condicionantes internos ou externos. Isso equivale a dizer que se o rigor científico for empreendido, ou seja, se a metodologia aplicada no exame de algum fenômeno for suficientemente clara e objetiva, haverá neutralidade da produção científica. A aplicação correta do método cientifico pressupõe que este seja neutro em relação aos condicionantes externos, como os fenômenos sociais e políticos, bem como questões psicológicas, que são condicionantes internos. Para Kuhn, os padrões fornecidos pelo paradigma pressupõem objetividade na escolha e na eleição pelos membros da comunidade científica, o que implica dizer que o trabalho científico possui sua própria lógica. Apesar disso, normatizar o trabalho de pesquisa científica – como proposto pela concepção herdada – pode gerar incongruências, tendo em vista que, sob uma norma corretamente estabelecida, o conhecimento científico deveria estar num constante processo de acumulação (Cf. LAUDAN, 2011: 205). Esta suposição – de que o conhecimento está em constante crescimento – é abalada pela compreensão de paradigma, pois neste modelo há a supressão de ideias anteriores toda vez que um paradigma se torna hegemônico. Não há acúmulo, pois as novas teorias desenvolvidas no seio de um novo paradigma não precisam resolver todas as questões postas anteriormente. Tais definições implicaram na necessidade de redefinir a ideia de desenvolvimento científico, trabalho que persiste ainda em nossos dias.. 1.4. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Numa tentativa de explorar a proximidade entre o modelo de Kuhn e as concepções do positivismo lógico, é possível perceber certa correlações entre elas, como, por exemplo, a compreensão de que haja um conjunto metodológico que guia a atividade científica. Contudo, meu objetivo com este capítulo não foi esse, motivo pelo qual não trato diretamente dessa relação. Procurei somente explorar o que considero de maior distanciamento entre o modelo de Kuhn e a concepção herdada. Embora as concepções kuhnianas não possam ser tomadas como completamente esclarecedoras, em relação às outras, a ruptura é perceptível. A ruptura com o modelo que, sobretudo, fundamentava a concepção cumulativa do desenvolvimento científico, nomeado de concepção herdada, proposta com a noção de paradigma é uma marca fundamental da filosofia de Kuhn. Na proposta kuhniana, a ciência é considerada a partir de uma dinâmica metodológica racional e objetiva, que é influenciada pelas.

(29) 29. relações interpessoais. As implicações dessa maneira de perceber a dinâmica científica afetam diretamente o conceito de objetividade e neutralidade, comuns da concepção herdada, forçando uma nova abordagem do trabalho científico. Na ruptura empreendida por Kuhn observa-se ainda o distanciamento da ideia de que conhecimento científico é completamente objetivo, segundo a compreensão positivista da ideia de objetividade. Pelo contrário, Kuhn propõe uma análise do desenvolvimento da ciência que leve em consideração aspectos políticos e sociais, imprimindo uma reanálise do conceito de objetividade na produção científica. Considere-se ainda o fato de que os estudos históricos empreendidos por Kuhn demonstraram que nenhuma construção científica poderia ser considerada como sendo assentada incorrigivelmente sob uma base empírica (HANDS, 2003: 170). Embora as construções científicas estivessem pautadas na observação, a análise proposta pela tradição filosófica era contingente, pois não levava em consideração os aspectos sociais elencados por Kuhn por meio de sua ideia de paradigma. Tais elementos sociais são demonstrados por Kuhn como influência sistemática nas construções científicas. Por meio de tais aspectos, posso concluir, desde já, que a Estrutura representa uma ruptura direta com a concepção herdada, pois mostrou a limitação da análise positivista da ciência, propondo uma análise histórica que leva em consideração a noção de paradigma. Embora alguns teóricos possam demonstrar traços comuns entre a filosofia positivistas e a filosofia kuhniana14, é verdade que esta não está diretamente relacionada àquela, pois Kuhn procurou estabelecer uma nova maneira de analisar a construção científica. Kuhn minou o conceito de uma base empírica incorrigível. Os estudos históricos empreendidos por Kuhn demonstraram que nenhum evento científico esteve relacionado a qualquer base empírica incorrigível (HANDS, 2003: 170). As construções científicas, embora estivessem pautadas pelos princípios empíricos de observação, também eram contingentes, pois desprezavam sistematicamente os aspectos sociais que influenciavam diretamente as teorias científicas. A mesma análise histórica empreendida mostrou que pouco a pouco as proposições científicas mais bem embasadas e construídas tiveram seus momentos de revisão e derrocada, demonstrando certa incapacidade da ciência em construir um conhecimento irrefutável.. 14. Como, por exemplo, a relação entre a filosofia de Carnap e Kuhn, apontadas por George Reisch (Cf. FRIEDMAN, 2003: 19)..

(30) 30. Sem dúvida podemos falar de um legado kuhniano que, embora acusado algumas vezes de irracionalista, contribuiu decisivamente para a visão de ciência que temos hoje e para as discussões da filosofia analítica pós-positivista (Cf. RORTY, 2000: 204). A ideia positivista de tomar as ciências “duras” – em especial a física – como modelo para as outras disciplinas científicas foi aos poucos cedendo lugar para uma análise menos “dura” e mais “política”. É importante notar que a perspectiva de Kuhn se direciona a considerar como elemento principal as relações estabelecidas no seio de uma comunidade, a formação do cientista e também os processos de escolhas envolvidos nas definições de novas teorias. A observação direta e a análise algorítmica não poderiam, segundo a perspectiva kuhniana, dar conta da dimensão social da produção científica, a qual, conforme essa mesma perspectiva, é determinante na construção do conhecimento científico tido como válido. A diferença qualitativa do modelo de Kuhn, em relação à concepção herdada, consiste em considerar os aspectos que foram julgados como “subjetivos” pela tradição e, por isso, descritos como metafísicos e, consequentemente, rejeitados. Kuhn aponta que tais elementos devem ser considerados como importantes, pois são eles que guiam a atividade científica e determinam o que virá a ser considerado como objetivo..

(31) 31. 2. O MODELO DE CIÊNCIA PROPOSTO POR KUHN NA ESTRUTURA. 2.1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS. Existem diversas questões que têm sido discutidas com base nos problemas advindos das ideias expostas por Kuhn em sua Estrutura. Muitas dessas questões têm recebido enfoques bastante diversos, havendo registros da utilização da ideia de paradigma, por exemplo, em áreas bastante diversas, como na enfermagem e na administração15. A relevância das contribuições dadas por Kuhn na discussão de algumas ideias não está refletida somente na vasta utilização de termos de seu vocabulário pela tradição posterior ou na ampliação das citações de sua obra, mas porque ele tratou de forma objetiva aspectos do desenvolvimento da ciência, como a relação entre paradigmas e comunidades científicas. Por conta de suas contribuições nas discussões referentes à história e filosofia da ciência, Kuhn é considerado como importante autor da história da filosofia da ciência. Além disso, a noção de paradigma representa uma contribuição extremamente genuína às discussões sobre ciência do século XX. Em meio a tantas considerações sobre aspectos tão diversos da obra de Kuhn, o objetivo desde capítulo é discorrer somente sobre as questões que considero fundamentais para elucidar o modelo de desenvolvimento científico que consta na Estrutura. Embora algumas das ideias expostas na Estrutura possam ser tomadas como obsoletas e/ou incorretas, dada a diversidade de modelos e pressupostos sobre o desenvolvimento da ciência16, seu caráter explicativo da atividade científica por meio do desenvolvimento de comunidades foi bastante pertinente para as discussões filosóficas contemporâneas e suscita ainda muitas discussões na atualidade. Este capítulo discutirá o modelo de Kuhn por meio da relação entre comunidade científica e paradigma. 15. No site www.periodicos.capes.gov.br, portal de referência para publicações de artigos acadêmicos no Brasil, em uma busca com o termo “paradigma” foi possível observar mais de 16.000 resultados. 16 Segundo Laudan, “Desde a publicação do Esboço de um quadro histórico do progresso do espírito humana, de Condorcet, muitos filósofos e historiadores da ciência desenvolveram, pelo menos como esboço, teorias do progresso cognitivo. De Whewell, Peirce e Duhem até Collingwood, Popper, Reichenbach, Lakatos, Stregmüller e Kuhn, a busca de modelos adequados de progresso cognitivo tem sido, se não banal, pelo menos não rara” (LAUDAN, 2011: 205)..

(32) 32. Explicitarei na sequência os conceitos-chave do modelo kuhniano, fundamentais para a compreensão de como ele funciona.. 2.2. CONCEITOS-CHAVE DO MODELO KUHNIANO. A seguir, estão elencadas as principais características do programa empreendido por Kuhn, segundo os conceitos-chave desenvolvidos na Estrutura. Por uma questão expositiva, optei por tratar de forma individual cada termo chave que considero parte do modelo de Kuhn. Ainda que esteja organizado dessa forma, me permitirei fazer inter-relações entre os conceitos sempre que considerar pertinente.. 2.2.1. Paradigma. No seu uso estabelecido, um paradigma é um modelo ou padrão aceitos. Este aspecto de seu significado permitiu-me, na falta de termo melhor, servir-me dele aqui. Mas dentro em pouco ficará claro que o sentido “modelo” ou “padrão” não é o mesmo que o habitualmente empregado na definição de “paradigma” (KUHN, 1992: 43-44).. O programa defendido por Thomas S. Kuhn apresenta a ciência como uma atividade pautada no consenso de comunidades, que se desenvolvem juntamente com “um paradigma” através de períodos de estabilidade e instabilidade.17 Em sua produção, Kuhn desconsidera a possibilidade de um caráter cumulativo da produção científica e forja de forma apropriada um novo entendimento a respeito da ciência, centralizado em sua noção de “paradigma”. Segundo esse entendimento, a ciência se desenrola por processos de ruptura, os quais Kuhn chama de “revoluções científicas” (KUHN, 1992). A noção de paradigma foi inicialmente desenvolvida quando da publicação de The Structure of Scientific Revolutions (1962), mas já desde The Copernican Revolution (1957) as É importante, desde já, definir os termos “estabilidade” e “instabilidade”, os quais são imprescindíveis para a compreensão dos momentos da ciência segundo o modelo em análise. Entenda-se por “estabilidade” o período no qual a ciência é guiada por um paradigma e este não está ameaçado por um conjunto de anomalias, ou seja, durante um período no qual não há crises que possam prejudicar o caráter estável do paradigma. Um período de “instabilidade” pode ser identificado como aquele no qual o paradigma está sofrendo consequências graves por conta de um acúmulo de anomalias, o que faz com que ele seja repensado, podendo, provavelmente, ser substituído por outro. Estes dois termos estarão mais claros ao longo deste capítulo. 17.

(33) 33. ideias sobre mudança científica de Kuhn vem sendo desenvolvidas. Neste último livro, a discussão permanece sobretudo no âmbito histórico (BIRD, 2000: 29), ao passo que no segundo, um modelo de desenvolvimento da ciência é considerado de forma direta. Essa noção é central no modelo de desenvolvimento da ciência proposto por Kuhn e serviu de contribuição significativa para as discussões dos problemas comuns à filosofia da ciência de seu contexto histórico. Segundo o modelo, observam-se períodos distintos ao longo do desenvolvimento da ciência, os quais são complementares e possuem especificidade quanto ao que representam no desenvolvimento científico. Na figura a seguir, apresento o desenvolvimento da ciência ao longo dos períodos previstos na Estrutura.. Períodos do desenvolvimento da ciência. Período de estabilidade. Crise. Revolução. Eleição de um novo paradigma. FIGURA 2.1 – Períodos do desenvolvimento da ciência. O esquema apresentado anteriormente mostra os períodos do desenrolar da ciência segundo o modelo de Kuhn. Cada período enumerado pode ser melhor compreendido da seguinte forma: a) Período de estabilidade – é caracterizado pela ciência normal; durante este período, não se busca a descoberta de novos elementos – embora isso possa ocorrer – pois volta-se para o paradigma que gerou a estabilidade, quando de sua eleição. A estabilidade é alcançada porque o paradigma fornece o direcionamento da pesquisa e as expectativas que a comunidade científica deve esperar. b) Crise – gerada a partir de problemas residuais que o paradigma não conseguiu resolver. Ou seja, quando a expectativa fornecida pelo paradigma é frustrada, ele passa a ser considerado como inapropriado, o que contribui para um estado de crise, no qual procura-se uma nova perspectiva para solucionar os problemas. Essa busca culmina no próximo estágio..

Referências

Documentos relacionados

invasivo mais acessível à população de maneira ge- ral. Alguns aspectos físicos devem ser de domínio do médico responsável pela execução do exame. Sendo assim, em relação

Junto com a funcionalidade de gerência de membros, o lançamento de frequências por meio da ferramenta do SIGAA é essencial para os processos de emissão de declarações para

Toda água destinada ao consumo humano, distribuída coletivamente por meio de sistema ou solução alternativa coletiva de abastecimento de água, deve ser objeto de controle e

O Natal 2015, a passagem de ano para 2016 e as férias ficaram para trás, agora vamos iniciar um novo ano de trabalho, uma nova série, que pedirá estudo, busca do

A ViniPortugal actua em mais de 11 mercados USA BRASIL REINO UNIDO ALEMANHA PAÍSES NÓRDICOS (4) CANADÁ ANGOLA EIXO ASIÁTICO. Trabalha os mercados externos

 Ao terminar a prova, chame o fiscal de sala, devolva-lhe o Caderno de Prova, o Cartão Resposta devidamente assinado e a Folha Definitiva da Questão Discursiva e deixe o local

Saboreando o presente, numa cidade onde a variedade de restaurantes é destacada – desde a cozinha “caipira” aos delicados pratos japoneses – se olharmos para a fase

• Modelos dependentes de quem fala não existem para os novos usuários. • Sistemas devem conhecer as características dos