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PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL

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Academic year: 2021

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PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL

Professora Me. Daniele Moraes Cecilio Soares

GRADUAÇÃO

Unicesumar

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C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; SOARES, Daniele Moraes Cecilio.

Processo de Trabalho em Serviço Social. Daniele Moraes Ce- cilio Soares.

Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017.

150 p.

“Graduação - EaD”.

1. Processo. 2. Trabalho . 3. Serviço Social 4. EaD. I. Título.

ISBN: 978-85-459-0877-7 CDD - 22 ed. 361

CIP - NBR 12899 - AACR/2

Ficha catalográfica elaborada pelo bibliotecário João Vivaldo de Souza - CRB-8 - 6828 Impresso por:

Reitor

Wilson de Matos Silva Vice-Reitor

Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD

Willian Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi

NEAD - Núcleo de Educação a Distância Direção Operacional de Ensino Kátia Coelho

Direção de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha

Direção de Operações Chrystiano Mincoff Direção de Mercado Hilton Pereira

Direção de Polos Próprios James Prestes

Direção de Desenvolvimento Dayane Almeida

Direção de Relacionamento Alessandra Baron

Head de Produção de Conteúdos Rodolfo Encinas de Encarnação Pinelli Gerência de Produção de Conteúdos Gabriel Araújo

Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais

Nádila de Almeida Toledo Supervisão de Projetos Especiais Daniel F. Hey

Coordenador de Conteúdo Maria Cristina Araújo de Brito Cunha Designer Educacional

Amanda Peçanha Dos Santos Iconografia

Isabela Soares Silva Projeto Gráfico Jaime de Marchi Junior José Jhonny Coelho Arte Capa

André Morais de Freitas Editoração

Robson Yuiti Saito Qualidade Textual Hellyery Agda Helen Braga do Prado Ilustração

Bruno Cesar Pardinho

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Viver e trabalhar em uma sociedade global é um grande desafio para todos os cidadãos. A busca por tecnologia, informação, conhecimento de qualidade, novas habilidades para liderança e so- lução de problemas com eficiência tornou-se uma questão de sobrevivência no mundo do trabalho.

Cada um de nós tem uma grande responsabilida- de: as escolhas que fizermos por nós e pelos nos- sos farão grande diferença no futuro.

Com essa visão, o Centro Universitário Cesumar assume o compromisso de democratizar o conhe- cimento por meio de alta tecnologia e contribuir para o futuro dos brasileiros.

No cumprimento de sua missão – “promover a educação de qualidade nas diferentes áreas do conhecimento, formando profissionais cidadãos que contribuam para o desenvolvimento de uma sociedade justa e solidária” –, o Centro Universi- tário Cesumar busca a integração do ensino-pes- quisa-extensão com as demandas institucionais e sociais; a realização de uma prática acadêmica que contribua para o desenvolvimento da consci- ência social e política e, por fim, a democratização do conhecimento acadêmico com a articulação e a integração com a sociedade.

Diante disso, o Centro Universitário Cesumar al- meja ser reconhecido como uma instituição uni- versitária de referência regional e nacional pela qualidade e compromisso do corpo docente;

aquisição de competências institucionais para o desenvolvimento de linhas de pesquisa; con- solidação da extensão universitária; qualidade da oferta dos ensinos presencial e a distância;

bem-estar e satisfação da comunidade interna;

qualidade da gestão acadêmica e administrati- va; compromisso social de inclusão; processos de cooperação e parceria com o mundo do trabalho, como também pelo compromisso e relaciona- mento permanente com os egressos, incentivan- do a educação continuada.

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Pró-Reitor de Ensino de EAD

Diretoria de Graduação e Pós-graduação

Seja bem-vindo(a), caro(a) acadêmico(a)! Você está iniciando um processo de transformação, pois quando investimos em nossa formação, seja ela pessoal ou profissional, nos transformamos e, consequentemente, transformamos também a sociedade na qual estamos inseridos. De que forma o fazemos? Criando oportu- nidades e/ou estabelecendo mudanças capazes de alcançar um nível de desenvolvimento compatível com os desafios que surgem no mundo contemporâneo.

O Centro Universitário Cesumar mediante o Núcleo de Educação a Distância, o(a) acompanhará durante todo este processo, pois conforme Freire (1996): “Os homens se educam juntos, na transformação do mundo”.

Os materiais produzidos oferecem linguagem dialógica e encontram-se integrados à proposta pedagógica, con- tribuindo no processo educacional, complementando sua formação profissional, desenvolvendo competên- cias e habilidades, e aplicando conceitos teóricos em situação de realidade, de maneira a inseri-lo no mercado de trabalho. Ou seja, estes materiais têm como principal objetivo “provocar uma aproximação entre você e o conteúdo”, desta forma possibilita o desenvolvimento da autonomia em busca dos conhecimentos necessá- rios para a sua formação pessoal e profissional.

Portanto, nossa distância nesse processo de cresci- mento e construção do conhecimento deve ser apenas geográfica. Utilize os diversos recursos pedagógicos que o Centro Universitário Cesumar lhe possibilita. Ou seja, acesse regularmente o AVA – Ambiente Virtual de Aprendizagem, interaja nos fóruns e enquetes, assista às aulas ao vivo e participe das discussões. Além dis- so, lembre-se que existe uma equipe de professores e tutores que se encontra disponível para sanar suas dúvidas e auxiliá-lo(a) em seu processo de aprendiza- gem, possibilitando-lhe trilhar com tranquilidade e segurança sua trajetória acadêmica.

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A UT OR A

Professora Me. Daniele Moraes Cecílio Soares

Mestre em Serviço Social pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste (2016). Especialista em Gestão e Planejamento de Programas e Projetos Sociais pelo Centro Universitário de Maringá – Unicesumar (2013). Bacharel em Serviço Social pelo Centro Universitário de Maringá - Unicesumar (2011).

Desde 2014 é professora mediadora do o Curso de Serviço Social do Núcleo de Educação a Distância – NEAD Unicesumar.

Conferir mais detalhes em: <http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/

visualizacv.do?id=K4477762U1>.

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SEJA BEM-VINDO(A)!

Caro (a) aluno (a) bem vindo (a) a disciplina Processo de trabalho em Serviço Social, em que vamos conhecer as particularidades que o conceito trabalho desenvolvida por Marx para compreender seu significado ontológico, uma vez que o trabalho é o categoria constituinte do Ser Social.

Na primeira unidade aborda-se o debate sobre o processo de trabalho, considerando o processo capitalista de trabalho e o indivíduo social, o trabalho e a sociabilidade.

Em seguida apresenta a reestruturação produtiva, as transformações do capitalismo contemporâneo, trabalho produtivo e improdutivo, o fenômeno da globalização e as relações de produção e reprodução social

A terceira unidade o serviço social e reestruturação produtiva e a defesa do projeto éti- co-político profissional, Serviço Social na divisão sociotécnica, processo de trabalho no Serviço Social Serviço Social como especialização do trabalho coletivo A defesa do pro- jeto ético-político profissional.

A quarta unidade desafios do mundo do trabalho na atualidade, desemprego, precari- zação do trabalho e questão social, alienação e exploração do trabalho, o capitalismo e o projeto neoliberal.

Para finalizar a última unidade desafios profissionais no capitalismo globalizado, altera- ções no mundo do trabalho e repercussões no mercado profissional do Serviço Social, as novas configurações para o mercado de trabalho do assistente social e o Serviço So- cial nas novas conjunturas do mundo contemporâneo.

O conhecimento acerca dessa temática é de extrema importância para a formação aca- dêmica e atuação profissional, pois elucida o conceito trabalho que fundante do ser social.

Bons estudos!!!

APRESENTAÇÃO

PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL

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SUMÁRIO

09

UNIDADE I

O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO

15 Introdução

16 O Significado Ontológico do Trabalho

18 Trabalho Como Categoria Constituinte do ser Social 21 Processo Capitalista de Trabalho e o Indivíduo Social 30 Trabalho e Sociabilidade

35 Considerações Finais 40 Referências

41 Gabarito

UNIDADE II

REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA

45 Introdução

46 As Transformações do Capitalismo Contemporâneo 52 Trabalho Produtivo e Improdutivo

55 O Fenômeno da Globalização

59 As Relações de Produção e Reprodução Social 62 Considerações Finais

66 Referências 67 Gabarito

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SUMÁRIO

10

UNIDADE III

O SERVIÇO SOCIAL E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A DEFESA DO PROJETO ÉTICO-POLÍTICO PROFISSIONAL

71 Introdução

72 Serviço Social na Divisão Sócio Técnica 76 Processo de Trabalho no Serviço Social

82 Serviço Social como Especialização do Trabalho Coletivo 88 A Defesa do Projeto Ético Político Profissional

93 Considerações Finais 98 Referências

100 Gabarito

UNIDADE IV

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE

103 Introdução

104 Desemprego, Precarização do Trabalho e Questão Social 108 Alienação e Exploração do Trabalho

112 O Capitalismo e o Projeto Neoliberal 117 Considerações Finais

124 Referências 126 Gabarito

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SUMÁRIO

11

UNIDADE V

DESAFIOS PROFISSIONAIS NO CAPITALISMO GLOBALIZADO

127 Introdução

128 Alterações no Mundo do Trabalho e Repercussões no Mercado Profissional do Serviço Social

135 As Novas Configurações Para o Mercado de Trabalho do Assistente Social 139 Serviço Social nas Novas Conjunturas do Mundo Contemporâneo 143 Considerações Finais

148 Referências 149 Gabarito

150 Conclusão

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UNIDADE

I

Professora Me. Daniele Moraes Cecilio Soares

O DEBATE SOBRE O

PROCESSO DE TRABALHO

Objetivos de Aprendizagem

■ Apreender a finalidade da ontologia do trabalho.

■ Compreender a categoria trabalho e suas refrações para a formação do Ser Social.

■ Analisar os fundamentos do trabalho enquanto conceito primordial para as relações sociais.

■ Refletir sobre como o trabalho é a peça chave para o modo de produção capitalista.

Plano de Estudo

A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade:

■ O Significado Ontológico do Trabalho

■ Trabalho como categoria constituinte do Ser Social

■ Processo capitalista de trabalho e o indivíduo social

■ Trabalho e sociabilidade

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INTRODUÇÃO

Caro (a) aluno (a), a nossa primeira unidade de estudo do material da disciplina:

Serviço Social e Processo de Trabalho, tem os objetivos de buscar apreender a finalidade da ontologia do trabalho, compreender a categoria trabalho e suas refrações para a formação do Ser Social, analisar os fundamentos do trabalho enquanto conceito primordial para as relações sociais e refletir sobre como o tra- balho é a peça chave para o modo de produção capitalista.

Nesse sentido, o debate inicial acerca do significado ontológico do trabalho é a base fundante da teoria marxista, a qual nos brinda com a magnífica con- cepção de que o trabalho como categoria constituinte do Ser Social, isto é, o processo de transformação que passamos diariamente ao sermos considerados como seres orgânicos. Tais elementos nos propiciarão refletir sobre como o tra- balho é a peça chave para o modo de produção capitalista.

Em seguida, aborda-se o processo capitalista de trabalho e o indivíduo social, o qual se constitui no processo de produção e reprodução das relações sociais.

Por isso, é fundamental compreender as diversas formas específicas que a divi- são do trabalho assume, de acordo com as condições de produção sobre a qual se baseia nos estágios de desenvolvimento do capitalismo.

O quarto tópico disserta sobre o trabalho e a sociabilidade, destacando- -se a questão de que o trabalho não apenas produz mercadoria, mas também constrói o modelo de homem burguês, isto é, no processo de formação do ser orgânico para ser social, se molda o indivíduo conforme os ditames do capital.

Esses elementos nos propiciam a apreensão de como o conceito de trabalho está intrinsecamente relacionado no cotidiano do exercício profissional e seus mean- dros na sociedade de classes.

Por isso, convido(a) vocês para desvelar a importância do debate sobre o processo de trabalho. Bons estudos!!!

Introdução

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

U N I D A D E I 16

O SIGNIFICADO ONTOLÓGICO DO TRABALHO

Para compreendermos o significado ontológico do trabalho, é importante saber que, enquanto categoria de análise do modo de produção capitalista, o trabalho é o principal elemento que compõe os fundamentos que regem o mundo. “As categorias são formas de ser, determinações da existência” (MARX, 1975, s/p.).

Por isso o trabalho é a categoria fundante da vida humana.

Nesse sentido, o trabalho é inerente à sobrevivência humana, mas seu pro- cesso perpassa pela teleologia, que somente os seres humanos são capazes de realizar, isto é, há intencionalidade em desenvolver algo, que ao planejar determi- nada atividade se projeta idealmente a ação, mediatizando os métodos que serão utilizados para a obtenção do resultado final. Por exemplo, o homem primata fazia seus instrumentos para a pesca e caça, ou seja, elaborava o processo de trabalho para realizar e finalizar o produto que propiciasse a função que ele estabeleceu para o objeto construído.

Para isso Marx (1975, p.116), afirma:

[...] o homem faz da atividade vital o objeto da vontade e da consciência.

Possui uma atividade vital lúcida. Ela não é uma deliberação a qual ele imediatamente coincide. A atividade vital lúcida diferencia o homem da atividade vital dos animais. Só por este motivo que ele é um ser genérico.

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O Significado Ontológico do Trabalho

Reprodução proibida. Art. 184 do Código Penal e Lei 9.610 de 19 de fevereiro de 1998.

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A ideia do autor apresenta que o homem é o primeiro ser que conquistou certa liberdade de movimento em face da natureza, pois é por meio dos instintos e das forças naturais, em geral, que a natureza dita para os animais o comportamento que eles devem ter para sobreviver. Entretanto, o homem com o trabalho buscou dominar em partes as forças da natureza, trazendo-as à seu serviço.

O trabalho aos olhos de Marx aparece como uma condição necessária para que o homem seja cada vez mais livre, dono de si próprio, uma vez que é capaz de pro- jetá-lo, tendo a capacidade de definir meios diversos que possibilitam o alcance de seu objetivo.

Somente o trabalho tem na sua natureza ontológica um caráter claramente transitório. Ele é em sua natureza uma inter-relação entre homem (socie- dade) e natureza, tanto com a natureza inorgânica (…), quanto com a or- gânica, inter-relação (…) que se caracteriza acima de tudo pela passagem do homem que trabalha, partindo do ser puramente biológico ao ser social (…). Todas as determinações que, conforme veremos, estão presentes na essência do que é novo no ser social estão contidas in nuce no trabalho. O trabalho, portanto, pode ser visto como um fenômeno originário, como modelo, protoforma do ser social (…) (LUCKÁS, 1980: IV – V apud AN- TUNES, 1999, p. 136).

Vale ressaltar, que para Marx o trabalho é compreendido como uma atividade em que o indivíduo expressa em seu produto/arte aquilo que ele já havia pla- nejado e visualizado em sua mente. Isso significa que o homem produz e tem a capacidade de desenvolver suas atividades, colocá-las em prática, no concreto a partir de suas idealizações.

[…] O trabalho é um processo entre o homem e a natureza, um proces- so em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza. […] Não se trata aqui das primeiras formas instintivas, animais, de trabalho. […] Pressupomos o trabalho numa forma em que pertence exclusivamente ao homem. Uma aranha executa opera- ções semelhantes às do tecelão e a abelha envergonha mais de um arquiteto humano com a construção de favos de suas colméias. Mas o que distingue, de antemão, o pior arquiteto da melhor abelha é que ele construiu o favo em sua cabeça, antes de construí-lo em cera. No fim do processo de traba- lho obtém-se um resultado que já foi no início deste existiu em na imagi- nação do trabalhador, e portanto idealmente. Ele não apenas efetua uma transformação da forma da matéria natural; realiza, ao mesmo tempo, na matéria natural, o seu objetivo. […] Os elementos simples do processo de trabalho são a atividade orientada a um fim ou o trabalho mesmo, seu ob-

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O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO

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jeto e seus meios. […] O processo de trabalho […] é a atividade orientada a um fim para produzir valores de uso, apropriação do natural para satis- fazer a necessidades humanas, condição universal do metabolismo entre o homem e a natureza, condição natural eterna da vida humana, e portanto, […] comum a todas as suas formas sociais (MARX, 1983, p. 149-150, 153 apud BRAZ; NETTO, 2008, p. 31-32).

Sendo assim, o sentido do trabalho será, sempre, para satisfazer as necessidades humanas, sendo libertador, uma vez que a realidade coloca a necessidade em primeiro lugar, tornando-se a práxis fundante, isto é, “[…] a práxis é uma deci- são entre alternativas [...]” (NETTO, 2001, p. 80). Por isso, ao ser formado por posições teleológicas a capacidade do trabalho é que dá a essência do humano em suprir suas necessidades, diferentemente do trabalho alienado, que é a con- dição pela qual o trabalho se expressa no capitalismo, em que volta-se a serviço do capital e não das necessidades humanas, como observaremos mais adiante.

TRABALHO COMO CATEGORIA CONSTITUINTE DO SER SOCIAL

A instituição da terminologia Ser Social, é de extrema importância para denomi- nar como os indivíduos se transformam no modo de produção capitalista. Marx desenvolve esse conceito a partir da relação com a categoria trabalho e sua obje- tivação material, em que “[…] o homem introduz suas finalidades na natureza [...]” (FREDERICO, 1995, p.176).

Nessa perspectiva, Netto (1978) apresenta que o homem se transforma no ser social por meio do trabalho, pois passa de ser natural orgânico (são aqueles seres vivos com capacidade de reprodução), ao dar respostas às suas necessida- des, ao mesmo tempo em que questiona as formas para satisfazer e quais são suas possibilidades, sendo o único ser com essa capacidade intelectual, diferen- temente dos seres naturais inorgânicos (por exemplo, como os sais minerais, que não tem capacidade de reprodução) e dos demais seres orgânicos.

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Trabalho Como CategoriaConstituinte do ser Social

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Segundo Antunes (1999), para Luckás “[...] o complexo que dá fundamento ao ser social encontra seu momento originário, sua protoforma, a partir da esfera do trabalho [...]” (ANTUNES, 1999, p. 145). Concomitantemente a esse processo laborativo que o trabalho desenvolve enquanto atividade fundamental, por ser a categoria originária que possibilita a mediação entre o ser orgânico para o ser social, é a metamorfose pela qual somos submetidos sem prévia consciência, uma vez que é um processo intrínseco à vida social.

O surgimento do ser social foi o resultado de um processo mensurável numa escala de milhares de anos. Através dele, uma espécie natural, sem deixar, de participar da natureza, transformou-se, através do trabalho, em algo diverso da natureza – mas essa transformação deveu-se à sua própria atividade, o trabalho: foi mediante o trabalho que os membros dessa espécie se tornaram seres que, a partir de uma base natural (seu corpo, suas pulsões, seu metabolismo etc.), desenvolveram caracterís- ticas e traços que os distinguem da natureza [...] mediante o trabalho, os homens produziram-se a si mesmos [...] tornando-se – para além de seres naturais – seres sociais. Numa palavra esté é o processo da história: o processo pelo qual, sem perder sua base orgânico-natural, uma espécie da natureza constituiu-se como espécie humana – assim, a história aparece como a história do desenvolvimento do ser social,

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O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO

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como processo de humanização, como processo da produção da hu- manidade através de sua auto-atividade; o desenvolvimento histórico é o desenvolvimento do ser social (BRAZ; NETTO, 2008, p. 37-38).

Frente a esse contexto, verifica-se que o processo de constituição do ser social está intrinsecamente relacionado ao trabalho e à sua evolução ao longo dos séculos.

Em conformidade com os autores sobre o ser social ser o único que:

[...] realiza atividades teleologicamente orientadas; objetivar-se mate- rial e idealmente; comunicar-se e expressar-se pela linguagem articu- lada; tratar suas atividades e a si mesmo de modo reflexivo, consciente e autoconsciente; escolher entre as alternativas concretas; universalizar- -se; e socializar-se (BRAZ; NETTO, 2008, p.41).

Tais características são únicas e exclusivamente humanas, portanto do ser social.

Esse que vem sendo metamorfoseado durante o processo de trabalho e de socia- lização, agregando e desvelando traços que compõe sua essência e formação de um ser orgânico para um ser social.

Para Marx “os homens fazem sua própria história, mas não em circunstân- cias por eles escolhidas”. Tal afirmação indaga qual a finalidade do trabalho, em especial no modo de produção capitalista?

A premissa de que a teleologia apresenta ao trabalho possibilidade para satisfazer a necessidade humana se confronta com a imposição mercadológica e acumulação do capital na produção e reprodução das relações sociais.

Na obra “Ontologia do Ser Social”, Luckás buscou definir que “[...] a ontologia é a modalidade real e concreta da existência do ser, a sua estrutura e movimento [...]” (NETTO, 1978, p. 70-71). Para tanto, essa compreensão trouxe elemen- tos primordiais para complementar os fundamentos do materialismo histórico dialético da teoria marxista.

Segundo Antunes (1999):

[...] no novo ser social que emerge, a consciência humana deixa de ser epi- fenômeno biológico e se constitui num momento ativo e essencial da vida cotidiana. Sua consciência é um fato ontológico objetivo [...] E a busca de uma vida cheia de sentido, dotada de autenticidade, encontra no trabalho seu locus primeiro de realização. A própria busca de uma vida cheia de sentido é socialmente empreendida pelos seres sociais para sua auto-rea- lização individual e coletiva. É uma categoria genuinamente humana, que não se apresenta na natureza [...] (ANTUNES, 1999, p. 143).

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Processo Capitalista de Trabalho e o Indivíduo Social

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Com base nas ideias de Marx (1967) os autores pontuam que o ser social e a cons- ciência social, são determinados pela vida e não ao contrário, pois são conceitos estabelecidos para desvendar as mudanças ocorridas pela categoria trabalho.

Assim, caro(a) aluno(a), a relação de reciprocidade entre a teleologia e cau- salidade que compõem o trabalho é de extrema importância para o processo de transformação que o homem vivencia desde sua interação natural com o meio ambiente, em virtude de sua necessidade de socialização e satisfação. Porém, a história demarca que os processos de produção colocam a finalidade no fazer humano, ou seja, determina os diferentes tipos de trabalho que devem ser rea- lizados a partir da divisão do trabalho.

PROCESSO CAPITALISTA DE TRABALHO E O INDIVÍDUO SOCIAL

Considerando que ao longo da história da humanidade o trabalho esteve pre- sente desde os primórdios da socialização com o ambiente natural, sua evolução transcorreu no mesmo processo social, o que fez surgir a compreensão da força de trabalho designada na produção de determinado produto.

Para Costa (1997), a força de trabalho passa a ser vista como mercadoria, reconhecida por Adam Smith como “[…] a verdadeira fonte de riqueza das sociedades”.

(COSTA, 1997, p.88). Dessa forma, foi a partir do modo de produção capitalista que é composto pela propriedade privada, trabalho assa- lariado, que os donos dos meios de produção compram a força de

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O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO

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trabalho dos indivíduos que a vendem em troca de um valor, institui-se o conceito de classes sociais: burguesa e proletária, para denominar os proprietários do capi- tal e os da força de trabalho, respectivamente.

A dimensão genérica do ser social é dada pelo trabalho, só é possível como atividade coletiva: o próprio ato individual do trabalho é essen- cialmente histórico-social. Ora o trabalho vivo só se se realiza median- te o consumo de instrumentos, matérias e conhecimentos legados por gerações anteriores. Resultados esses que trazem em si condensação do trabalho corporificado já realizado ou trabalho passado, atestando o caráter social do trabalho. Este expressa-se essencialmente no fato de que o homem só pode realizá-lo através da relação com outros homens [...] (IAMAMOTO, 2012, p.43).

Verifica-se que “[...] para os humanos em sociedade, a força de trabalho é uma categoria especial, distinta e não intercambiável com qualquer outra, simples- mente porque é humana” (BRAVERMAN; 1987, p.54). Desse modo, a força de trabalho humana não tem condições de ser trocada por outra coisa e/ou bem, porque não há possibilidades dos homens comprarem um braço ou até mesmo uma mente. No entanto, o capitalismo nos mostra que ao vender a força de tra- balho exercida na produção de um material ou na prestação de um serviço, o indivíduo troca essa força em função do trabalho assalariado.

Vale ressaltar que o capital não é somente algo material, mas uma relação social que envolve os meandros de antagonismos presentes na relação Capital X Trabalho, que se configura em uma relação social.

Sendo o capital uma relação social, supõe o outro termo da relação:o trabalho assalariado, do mesmo modo que este supõe o capital. Capital e trabalho assalariado são uma unidade de diversos; um se expressa no outro, um recria o outro, um nega o outro. O capital pressupõe como parte de si o trabalho assalariado (IAMAMOTO, 1982, p.30).

Assim, para sua existência o capital necessita da força de trabalho exaurida do trabalhador, para garantir seu próprio desenvolvimento. Para tanto, Marx (1967) afirma que o capitalismo transformou o trabalho em mercadoria, para agregar mais-valia absoluta e relativa, bem como atribuir altos valores do processo de produção.

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Portanto, é fundamental compreender o estudo do modo de produção para ter o conhecimento de como se organiza e funciona as engrenagens de uma socie- dade. Como se dá a exploração do homem pelo homem.

[...] a riqueza,a diversidade e a fecundidade do debate em curso sobre a teoria do processo de trabalho. São temas necessários à apreensão das múltiplas mediações que atribuem concretude histórica às diferentes experiências vividas por segmentos diversificados de trabalhadores, homense mulheres [...] (IAMAMOTO, 2012, p. 35).

Nessa perspectiva, a estrutura de uma sociedade reflete-se na forma como os homens se organizam para a produção de bens, a qual engloba dois fatores: for- ças produtivas e relações de produção.

Quadro 01 - Definição sobre os conceitos: forças produtivas e relações de produção

Forças Produtivas Relações de Produção

• Condição material de toda produção = matérias-primas.

• São as formas que os homens se organi- zam para executar a atividade produtiva, dentre elas:

• escravista, servis, capitalista, cooperativas.

• Instrumentos já transformados e adapta- dos pelo homem, como ferramentas e/ou máquinas.

• Força produtiva mais relações de produ- ção = modo de produção.

• O homem faz a ligação entre a natureza, a técnica e os instrumentos.

• O desenvolvimento da produção determi- na a combinação desses elementos.

• A produção existe em função do mercado.

Fonte: a autora.

Segundo Tomazi, “[...] as mudanças ocorridas nas relações sociais fizeram com que o trabalho passasse a ser visto como o criador de toda a riqueza, o que resul- tou na discussão sobre seu significado” (TOMAZI, 2000, p. 48).

Conforme Braverman (1987), entre outros autores, a forma em que o traba- lho e a força deste vêm se configurando no mundo capitalista, no qual o indivíduo passa a vender essa força, não é possível medir ou pesar tal força, pois essa é comprada e vendida de acordo com a produtividade expressa em cada produto e/ou prestação de serviços.

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O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO

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Os autores destacam que o capitalismo fez com que a finalidade, isto é, a tele- ologia colocada no trabalho em seu desenvolvimento, fosse deturpada, pois os produtos são projetados conforme os ditames do modo de produção capitalista e não mais a partir do interesse e determinação individual própria do homem, uma vez que “o trabalho humano é consciente e proposital [...]”, (BRAVERMAN 1987, p.50), e por isso centra sua finalidade em realizar algo.

Retomando o conceito de trabalho em Marx, o autor afirma que:

[…] o produto é o trabalho que se fixou num objeto, que se transfor- mou em coisa física, é a objetivação do trabalho. A realização do traba- lho aparece na esfera da economia política como desrealização do tra- balhador, a objetivação como perda e servidão ao objeto, a apropriação como alienação (MARX, 1975, p.130).

No decorrer dos séculos, verifica-se que “[…] o modo de produção capitalista é muito dinâmico e inevitavelmente expansível, que, incessante e constantemente, reforma o mundo em que vivemos” (HARVEY, 2005, p.41). Concomitantemente à ideia apresentada, o desenvolvimento das forças produtivas define a produti- vidade dos meios de produção e as relações sociais.

Conceitos elaborados por Marx:

Alienação: separação entre a força de trabalho e os meios de produção.

Mais- valia: horas trabalhadas e não pagas.

Materialismo histórico dialético: método de análise e corrente teórica e metodológica do pensamento social.

Modo de produção: relações para executar a atividade produtiva.

Valor de uso: produto do trabalho humano.

Valor de troca: mercadoria.

Fonte: a autora.

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Processo Capitalista de Trabalho e o Indivíduo Social

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A força produtiva, a produtividade do trabalho, é, ela própria, deter- minada por numerosas circunstâncias, entre as quais: o grau de desen- volvimento da ciência e sua aplicação tecnológica, o modo normal do processo de produção, a extensão e a eficácia dos meios de produção, e, finalmente, as condições naturais […] Em regra geral: quanto maior a força produtiva de trabalho e menor o tempo de trabalho necessário para a produção de um artigo, tanto menor a quantidade de trabalho que aí se encontra cristalizada e conseqüentemente tanto menor seu valor. Inversamente: quanto menor a força produtiva do trabalho e mais longo o tempo de trabalho necessário à produção de um artigo, tanto maior seu valor (MARX, 1967, p. 27).

Para exemplificar esse contexto, vamos analisar a força de trabalho, a qual passa a ser vendida como uma mercadoria, tendo o salário como seu valor, em que se institui o trabalho assalariado. Esse, por sua vez, se estabelece em uma rela- ção de oposição entre capital e trabalho, que se desdobra em uma divisão da sociedade entre interesses inconciliáveis, a luta de classes entre burguesia e pro- letariado. A análise da remuneração do capital e dos salários situam-se nesse contexto mais amplo.

Para sobreviver, o homem precisa produzir os seus meios de subsistên- cia e, para isso, tem que dispor dos meios necessário à sua produção.

Quando o trabalhador está desprovido dos meios de produção, está também, desprovido dos meios de subsistência […] (IAMAMOTO;

CARVALHO, 1982, p.39).

Diante disso, o único elemento que pertence ao trabalhador é sua força de tra- balho, a qual ele vende a partir dos ditames da lógica de produção, mas apesar de ser responsável pela produção das mercadorias, é o modo de produção capi- talista que determina sua função e remuneração.

O trabalhador torna-se mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais a sua produção aumenta em poder e em extensão. O trabalhador torna-se uma mercadoria tanto mais barata, quanto maior número de bens produz. Com a valorização do mundo das coisas aumenta em proporção direta a desvaloriza- ção do mundo dos homens.

Características que definem como o valor é determinado histórica e socialmente:

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O DEBATE SOBRE O PROCESSO DE TRABALHO

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■ Mudança de acordo com os períodos históricos;

■ Difere entre países ou entre as regiões de um mesmo país;

■ Difere entre as categorias profissionais;

■ Difere entre os níveis de qualificação;

■ Sofre interferência da luta de classes.

Coros (as) alunos (as), verificas-se que com a passagem do modo de produção feudal para o capitalista, no final do século XVIII, com a chamada Revolução Burguesa, a qual visou atender as necessidades da classe emergente em garantir a propriedade privada, trouxe consigo o chamado mundo Moderno, para rees- truturar as relações produtivas. A enfática frase de Marx define esse processo claramente ao afirmar que “Cada modo diferente de produção cria diferentes formas de relações sociais”.

De acordo com Marx e Engels, é:

[...] com a divisão do trabalho […] desde que trabalho começa a ser repartido, cada indivíduo tem uma esfera de atividade exclusiva que lhe é imposta e da qual não pode sair; é caçador, pescador ou crítico e não pode deixar de o ser se não quiser perder os seus meios de subsistência (MARX; ENGELS, 1975, p. 40).

Esse processo histórico determina a vinculação de indivíduos em órbitas profis- sionais específicas, de acordo com as condições de produção sobre qual se baseia os estágios de desenvolvimento do capitalismo.

A divisão do trabalho na divide e a sociedade entre ocupações, cada qual apropriada a certo ramo de produção; a divisão pormenirizada do trabalho destrói ocupações consideradas neste sentido, e torna o traba- lhador inapto a acompanhar qualquer processo completo de produção.

No capitalismo, a divisão social do trabalho é forçada caótica e anar- quicamente pelo mercado, enquanto a divisão do trabalho na oficina é imposta pelo planejamento e controle (BRAVERMAN 1987, p. 72).

Com base na constituição que a divisão social do trabalho pauta para a orga- nização do processo de trabalho, esse por sua vez se apresenta como uma característica humana, tornando-se portanto “[...] trabalho social, isto é, execu- tado na sociedade e através dela” (BRAVERMAN, 1987, p. 72).

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Para auxiliar a compreensão desse conteúdo, prezado(a) aluno(a), analise as figuras abaixo:

Figura 01 - Processo de produção Fonte: a autora.

Figura 02 - Cadeia produtiva Fonte: a autora.

Os esquemas apresentam como as relações de produção se estabelecem no modo de produção capitalista, o qual envolve as forças produtivas e as relações de pro- dução para que haja o processo de circulação da mercadoria.

Desse modo, a divisão manufatureira do trabalho é um meio de produzir mais mercadoria com a mesma garantia de trabalho, conferindo mais rapidez no processo de acumulação de capital. Nesse processo conserva-se o caráter manual do processo de produção, caracterizado pela atomização; cria uma força produtiva nova resultante da jornada de trabalho combinada (força produtiva social do trabalho), essa força é desenvolvida para o capitalista e não para o trabalhador; contribui para a degra- dação do trabalhador individual, acentuando o trabalho repetitivo e fragmentado, criando uma verdadeira “patologia industrial”; estabelece uma divisão entre trabalha- dores qualificados e não qualificados; é um método de criação de mais-valia relativa.

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Neste sentido, Batista (2014) expõe que:

[...] as manifestações da “questão social” estiveram presentes desde o emer- gir das classes sociais; porém, com configurações diferenciadas na história temporal e espacial. No entanto, é no modo de produção capitalista que essas manifestações atingiram o seu ápice (BATISTA, 2014, p. 51).

Diante deste contexto, é importante ressaltar que o capitalismo se organizou de duas formas peculiares, mas complementares para a acumulação da riqueza socialmente produzida, são eles capitalismo concorrencial (a partir de meados do século XIV a 1890) e monopolista (1890 - 1940), o qual demarca a passagem de um para o outro no final do século XVIII e início do século XIX.

O capitalismo concorrencial teve suas bases de organização pautado na lei do mercado, isto é, da oferta e da procura de mercadorias; livre concorrência (mercado – auto regulação, mão invisível); Estado Mínimo - não intervinha nas relações eco- nômicas (guardião da propriedade privada) e a liberdade individual; em que cada indivíduo é responsável pela sua própria subsistência. Essa conjuntura apresentava um Estado não intervencionista junto às mazelas sociais e quando necessário uti- liza-se a coerção; o uso da força para conter os “desajustados sociais”.

Já no capitalismo monopolista há uma superprodução, limites na relação do mercado e intervenção estatal, com o início dos direitos à classe trabalha- dora, aumento do exército industrial de reserva bem como investimentos em tecnologias para o aumento da acumulação do capital, o que abordaremos minu- ciosamente na segunda unidade do livro.

Por isso,

a livre concorrência constitui traço essencial do capitalismo e da pro- dução mercantil em geral; o monopólio é exatamente o contrário da livre concorrência, mas nós vimos esta última converter-se, sob os nos- sos olhos, em monopólio, criando nela a grande produção, eliminando dela a pequena, substituindo a grande por uma ainda maior, levando a concentração da produção e do capital a um ponto tal que fez e faz surgir os monopólios (LÊNIN, 1982, p. 87 apud Batista 2014 p.61 ).

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Dessa forma, o capitalismo monopolista transforma parte de seu capital em força de trabalho, em que passa a explorar todo o seu capital. Esse processo de produção exibe o trabalhador separado das condições de trabalho, apresentan- do-o como trabalhador assalariado, o que permite ao capitalista a conquista dos benefícios de tudo aquilo que esta classe retira da classe trabalhadora em forma de salário.

De modo que “[…] com a máxima ênfase é que a constituição da organização monopólica obedeceu à urgência de viabilizar um objetivo primário: o acrés- cimo dos lucros capitalistas através do controle dos mercados […]” (NETTO, 2001, p. 20).

Assim, ressalta-se que:

[...] os limites colocados pelas contradições, que são intrínsecas ao modo de produção capitalista, alertam, periodicamente, os donos dos meios fundamentais de produção e apropriadores dos valores exceden- tes sobre a necessidade de reavaliar a forma de produzir e acumular […] (BATISTA, 2014, p. 58).

Tendo em vista, esse contexto, identifica-se que:

[...] o capital sub supõe o monopólio dos meios de produção e de sub- sistência por uma parte da sociedade – a classe trabalhista – em con- fronto com os trabalhadores desprovidos das condições materiais ne- cessárias à materialização de seu trabalho. Supõe ao trabalhador que para sobreviver tem a vender sua força de trabalho. O capital supõe o trabalho assalariado e este o capital (MARX, 1975,p. 4-101).

Sendo assim, o século XX se caracteriza a partir de um acelerado processo de reestruturação do capitalismo e a integração econômica. Desde então, começa a busca pelos avanços científicos, tecnológicos, entre outros. Nesse mesmo tempo nascem as multinacionais, as quais são algumas das muitas expressões da forma da sociedade capitalista se organizar em monopólios.

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TRABALHO E SOCIABILIDADE

Tendo em vista os conceitos estudados até o presente momento sobre o traba- lho e sua relação com homem, as relações de produção e do modo de produção capitalista, é importante assinalar que como categoria fundante do ser social o trabalho é eminentemente primordial para a sociabilidade.

Nessa perspectiva, aponta-se que “[...] o processo de trabalho se converte em meio de subsistência [...]” (ANTUNES, 2005, p. 126), isso porque como vimos anteriormente, o trabalho passa para a condição de mercadoria, o que segundo Marx (1967), precariza o trabalho na sociedade capitalista.

Segundo Antunes (2005), nesse momento há um estranhamento nesse pro- cesso, pois ao invés de satisfazer as necessidades, o trabalho é apenas um meio para alcançar seu objetivo principal, além de ser realizado fora da produção.

Isso ocorre porque o modo de produção capitalista visa apenas a acumulação da riqueza socialmente produzida, para apropriar-se cada vez mais da proprie- dade privada e dos meios de produção, condicionando o trabalhador a precárias condições e tornando-o trabalho alienado, isto é, aquele que mutila e/ou exclui o homem de seu pôr teleológico e escolha das alternativas para sua realização.

No entanto, ressalta-se que o trabalho não produz apenas mer- cadorias, produz-se também a si mesmo e ao trabalhador como uma mercadoria e, justamente, na mesma proporção com que produz bens. Semelhante fato implica ape- nas que o objeto produzido pelo trabalho, o seu produto, se lhe opõe como ser estranho, como um poder independente do produtor. Por isso, a afirmação de Marx (1967) é inci- siva ao declarar que o trabalho alienado não realiza o trabalhador.

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Na obra “Os Manuscritos de 1844”, Karl Marx faz uma crítica radical à socie- dade capitalista centrada na análise da alienação, cuja matriz explicativa está na alienação sócio-econômica. Uma vez que, para o autor a propriedade privada é a força motriz dos meios produtivos, sendo intrínseca a alienação, por ser a raiz dos antagonismos sociais e políticos, que delineiam a sociedade burguesa.

O capitalismo produz a concentração de riqueza que reduz os que vendem o seu tempo de vida para sobreviverem - os proletários - a um estado de aliena- ção. A teoria marxista, compreende que os processos econômicos determinam toda a evolução social humana. Assim, a organização econômica de uma socie- dade é a sua base, sua “infraestrutura”. A cultura em geral e o próprio sistema educativo, dependem desta e constituem a “superestrutura”. É a propriedade pri- vada dos meios de produção que gera desigualdade e alienação.

Para aumentar a mais-valia, o capital desenvolveu vários métodos, dentre eles destaca-se o fordismo, que é a terminologia adotada para explicar a forma de organização desenvolvida por Henry Ford em 1914 em sua fábrica, a qual estruturou um novo modelo de produção, representou uma etapa importante para o capital, “[...] a era do consumismo: produção em massa para um consumo em massa. Esse processo disseminou-se e atingiu todos os setores das socieda- des industriais (TOMAZI, 2000, p.52).

Em seguida surgiu a expressão taylorismo, que também identificava esse processo de aumento na produtividade, desenharam um modelo de linha de montagem para aprimorar o controle das horas trabalhadas, a divisão das tare- fas e a mecanização de alguns processos, inserção das máquinas para a produção em larga escala.

A revolução que o trabalho no modo de produção capitalista demarca pro- cessos importantes e complexos para a sociabilidade humana, por perpassar, primordialmente, pelas suas condições de sobrevivência, que impõe a garantia de suas necessidades objetivas, como: alimentação e moradia, estendendo-se para outras criadas pelas relações sociais de produção e reprodução de produ- tos e serviços da sociedade moderna.

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[...] de um lado, tem-se o caráter útil do trabalho, relação de intercâmbio entre os homens e a natureza, condição para a produção de coisas social- mente úteis e necessárias. É o momento em que se efetiva o trabalho concre- to, o trabalho em sua dimensão qualitativa [...] (ANTUNES, 2005, p. 84).

De acordo com o autor, a compreensão sobre a finalidade do trabalho, traz a indagação da forma como a sociabilidade vem sendo agregada no valor das mercadorias, por ser considerada como atributo primordial na relação mercado- lógica estabelecida pelo capital. Assim, prevalece a criação dos valores de troca em relação ao valor de uso das mesmas, em que a finalidade do produto em si não é o objetivo principal, mas sim o valor de comercialização.

Por isso, Marx é enfático quando diz que “[...] para produzir mercadorias é preciso que não se produzam apenas valores de uso, mas valores de uso para outrem, valores de uso sociais [...]” (MARX, 1967, p. 28-29). Essa é a lei que rege o processo de circulação do modo de produção capitalista, e seu processo de fortalecimento e acumulação dos bens e riquezas socialmente produzidos.

O capital se corporifica na forma de dinheiro para que haja a produção e a circulação das mercadorias, bem como se expressa nas relações sociais huma- nas que em detrimento desse processo de mercadorização se tornam reificadas.

Para Iamamoto, “ao mesmo tempo em que as expressam, as encobrem, pois as relações aparecem invertidas naquilo que realmente são [...] relações entre clas- ses sociais antagônicas [...]” (IAMAMOTO; CARVALHO 1982, p. 31).

Salienta-se que:

[...] o produtor só se confronta com o caráter social do seu trabalho no mercado: sua interdependência em face dos outros produtores lhe apare- ce no momento da compra-venda das mercadorias; em poucas palavras:

as relações sociais dos produtores aparecem como se fossem relações en- tre as mercadorias, como se fossem relações entre coisas. A mercadoria passa a ser, então, a portadora e a expressão das relações entre os homens.

Na medida em que a troca mercantil é regulada por uma lei que não resulta no controle consciente dos homens sobre a produção (a lei do va- lor), na medida em que o movimento das mercadorias se apresenta inde- pendentemente da vontade de cada produtor, opera-se uma inversão: a mercadoria, criada pelos homens, aparece como algo que lhe é alheio e os domina; a criatura (mercadoria) revela um poder que passa a subordinar o criador (homens) (BRAZ; NETTO, 2008, p. 41).

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Concomitantemente ao apresentado pelos autores, verifica-se que que há um fetichismo da mercadoria, expressão utilizada por Marx (1967) para explicar como há a desvalorização dos homens pelo capital e por eles mesmos, uma vez que são consideradas a prevalência do Ter ao Ser.

Tal condição é mensurada pela reificação que significa a coisificação nas rela- ções sociais, imbricadas pelo capital para subordinar uma classe sobre a outra.

O que faz emergir os interesses antagônicos entre Capital X Trabalho.

Desse modo, é fundamental compreender que é por meio do modo de pro- dução capitalista que se realiza a construção das relações sociais. Assim,

o processo capitalista de produção expressa, portanto uma maneira historicamente determinada de os homens produzirem e reproduzirem as condições materiais da existência humana e as relações sociais atra- vés das quais levam a efeito a produção. Nesse processo se reproduzem, concomitantemente, as idéias e representações que expressam estas relações e as condições materiais em que se produzem, encobrindo o antagonismo que as permeia [...] (IAMAMOTO, 1982, p. 30)

Com base no apontamento da autora, evidencia-se que as relações humanas não são determinadas apenas pelas subjetividades individuais, mas, principalmente, pelas relações materiais que os circundam, sendo esse fator determinante nas relações sociais, as quais não são realizadas de forma isolada.

A partir dos anos 1970 surge o conceito de natureza flexível do trabalho, que traz consigo uma roupagem de “novo capitalismo”, o qual alterou seu significado em relação ao sentido do ofício. Uma vez que a flexibilização do trabalho não passa de uma nova forma de controle, em que penetra nas entranhas do indiví- duo, em seu caráter, afetando seus próprios valores (SENETT, 2000).

Esses são riscos desconhecidos e geram uma latente configuração no traba- lho, pois não há nenhum estranhamento e/ou indignação dessa relação corrosiva que trabalho exerce no ser social. Assim, esse contexto não fornece condições para a formação do indivíduo sobre o que realmente o trabalho significa, pois a ausência de compartilhar experiências predomina sua fragmentação, impossi- bilitando a formação de identidade de classes sociais.

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Destarte, o trabalho passa a ocupar todo o tempo do indivíduo, sendo a mais- -valia sua dedicação exclusiva, o que implica na corrosão do caráter, que está intrinsecamente relacionada como às relações humanas contemporâneas estão associadas à frieza e a exploração do outro, permeados pelo fascismo que estão presentes e contribuem para a quebra dos vínculos, sendo a ausência freqüente no ambiente familiar, fragmentando as relações sociais e familiares. Por isso, o homem burguês é um subproduto do capitalismo.

O homem faz sua história, mas não a faz sozinho, faz de acordo com a reali- dade concreta que o circunda.

(Karl Marx)

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Considerações Finais

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Prezado(a) aluno(a), ao finalizar nossos estudos acerca do debate sobre o pro- cesso de trabalho enfatiza-se a sua finalidade enquanto categoria primordial, uma vez que funda o homem como Ser Social. Por isso, a importância de compreen- der o significado ontológico do trabalho e suas refrações nas relações sociais no modo de produção capitalista.

Nesse sentido, iniciamos nossos estudos a partir da categoria trabalho e seu significado ontológico, em que se buscou compreender nos fundamentos suas refrações para a formação do Ser Social. Para isso, foi necessário, desvelar o con- ceito de trabalho, que traz à luz do conhecimento a necessidade de diferenciação entre os seres orgânicos3 e inorgânicos, isto é, aqueles dotados de consciência são capazes de gerir a teleologia em seus pensamentos e no fazer da transformação da natureza e de produtos, bens e serviços. O homem é privilegiado e ao ser con- siderado um Ser Social, tem condições de conhecer os meandros que envolvem as relações sociais de produção, as forças produtivas, dentre outros elementos que possibilitam a engrenagem do processo de trabalho ser cíclico e constante.

Tendo como base a relação intrínseca do trabalho com o homem – Ser Social, a sociabilidade é constituinte dessa inserção, isto é, independentemente de suas escolhas individuais, o ser orgânico está determinado a viver junto com os seus pares, o que requer o convívio para suprir suas necessidades de sobrevivência, sendo somente o trabalho que pode realizar esse objetivo principal.

Entretanto, verificamos que com a passar do avanço do modo de produção capitalista, o trabalho é visto como o meio de garantir sua expansão, o que meta- morfoseia sua finalidade, incorporando os princípios do capital para sua atividade.

Sendo assim, o processo capitalista vem formando não apenas riquezas, bens e serviços, mas o próprio Ser Social que se forma com ideologias de um homem burguês.

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1. Disserte sobre a categoria trabalho e sua centralidade enquanto conceito fun- dante do Ser Social.

2. Tendo em vista que o modo de produção capitalista é inerente ao processo de trabalho, diferencie os conceitos: forças produtivas e relações de produção.

3. Com base nas afirmações de Marx sobre o trabalho, descreva como este con- ceito é primordial para as relações sociais do modo de produção capitalista.

4. As figuras 01 e 02 desta unidade de estudo, apresentam como se estabelecem as relações de produção. Assim, explique os conceitos: valor de uso e valor de troca.

5. Marx no decorrer de sua trajetória intelectual, filosófica, econômica, elaborou conceitos fundamentais para a compreensão do modo de produção capitalista.

Escolha três conceitos e defina cada um deles conforme as ideias do autor.

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A CATEGORIA TRABALHO EM MARX: ALGUNS APONTAMENTOS SOBRE SUA CEN- TRALIDADE ONTOLÓGICA

A resenha de George Amaral, mestrando em em Educação e Ensino pelo MAIE-FAFIDAM/

FECLESC (UECE), aborda um esforço primeiro dessa reflexão é procurar se aproximar o máximo possível do que anotou Karl Marx sobre a categoria trabalho. O seu desenvol- vimento em meio a exposição para extrair o movimento do capital enquanto dimensão hegemônico de demiurgo societal. Notadamente, queremos ressaltar também, que ape- sar de produções de grande relevo sobre a obra do filósofo alemão, o afastamento que o marxismo apresentou na história, ocasionou uma específica interpretação de Marx que o coloca como determinista e economicista. Entre outros ataques para relegar sua obra revolucionária ao plano do esquecimento e desconhecimento, fragmentar o autor em departamentos e até mesmo invalidar seu postulado como querem os intelectuais dos paradigmas pós-modernos. Um dos alvos é impostação de que a categoria trabalho foi superada pela sociedade do conhecimento.

Nesse caso, consideramos a centralidade da categoria trabalho na análise da sociedade capitalista e, por isso, Marx defendeu a concepção de trabalho emancipado, através da superação do capitalismo. Esse é o nosso ponto de partida, pois o trabalho na sociedade capitalista é a essência subjetiva da propriedade privada que é estranha ao homem e à natureza e, assim, à consciência e à vida. Através desse fio condutor, podemos com- preender melhor os fenômenos sociais, mesmo aqueles que não se constituíram em objetos específicos de estudo na obra marxiana.

Advém daí, a necessidade de rastrearmos na obra do próprio Marx a centralidade da categoria trabalho. Por esse prisma, a perspectiva sua ontológica basilar fundadora do ser social e da totalidade histórica, vinculada ao complexo do trabalho. Ao passo que, com surgimento da sociedade burguesa, pôs margem, o trabalho abstrato-estranhado assalariado da produção social da existência alienadora da constituição essencial do ser humano: o trabalho como forma de liberdade.

O trabalho conforme Marx é a base fundamental para que o ser humano se constituís- se como ser social, superando a esfera do ser dominado pela natureza para o ser que pensa e a transforma para garantir sua existência. Desse modo, o trabalho assume o caráter mediador da relação homem e natureza, ao mesmo tempo em que transforma a natureza, transforma o próprio homem. Com efeito, surgem novas características na constituição de um ser que passar a dominar habilidades, desenvolver técnicas através de conhecimentos adquiridos no intercâmbio com meio natural. Conforme Marx (2013, p. 255), “o trabalho é, antes de tudo, um processo entre homem e a natureza, processo este em que o homem, por sua própria ação, medeia, regula e controla seu metabolismo com a natureza”.

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No legado marxiano o trabalho é uma atividade tipicamente humana, porque implica a existência de ação previamente concebida no plano das ideias que orientam a ação a ser efetivada para alcançar um fim estabelecido. Para Marx (2013), o que diferencia o trabalho, do ponto de vista ontológico, de qualquer atividade natural desenvolvida por outros seres, é o ato do homem idealizar o resultado final do trabalho antes de sua obje- tivação. Ao converter a natureza através de sua ação, o faz por meio de sua força física e de sua potência espiritual. Ao se referir ao trabalho, Marx assinala.

Pressupomos o trabalho numa forma em que ele diz respeito unicamente ao homem.

Uma aranha executa operações semelhantes às do tecelão, e uma abelha envergonha muitos arquitetos com estrutura de sua colmeia. Porém, o que desde o início distingue o pior arquiteto da melhor abelha é o fato de que primeiro tem a colmeia em sua mente antes de construí-la com a cera. No final do processo de trabalho, chega-se a um re- sultado que já estava presente na representação do trabalhador no início do processo, portanto, um resultado que já existia idealmente (MARX, 2013, p. 255-256).

Através dessa concepção, podemos compreender que não existe ser social sem o trabalho.

De sua natureza essencial, faz o trabalho ter como função social transformar a natureza para criar os bens materiais necessários à existência humana, permitindo os desdobramentos de transformações na base do ser. Com isso ele se constitui no fundamento ontológico do ser social. Ou como prefere Lukács (2012), o trabalho é protoforma do ser social. Essa questão expõe de acordo com Lukács (2012, p. 286) o caráter duplo da transformação. “Por um lado, o próprio ser humano que trabalha é transformado por seu trabalho; ele atua sobre a natureza exterior e modifica, ao mesmo tempo, sua própria natureza, desenvolve as ‘potências que nela se encontram latentes’ e sujeita as forças da natureza a ‘seu próprio domínio”.

O trabalho começa quando o ser humano na interação com a natureza elabora instru- mentos para suprir suas necessidades de sobrevivência. Posteriormente, o trabalho se diversificou, foi sendo aperfeiçoado de geração em geração, estendendo-se cada vez mais a novas atividades. A mudança desencadeada por esse processo desperta poten- cialidades adormecidas, possibilita o surgimento e refinamento de habilidades que só o homem desenvolveu. O trabalho é o ponto de partida da humanização do homem, do refinamento de suas faculdades, processo do qual não se deve esquecer o domínio sobre si mesmo e transformação do meio natural. Nesse sentido, essa categoria na teoria marxiana participa do processo de humanização do homem, transformando-se no mo- delo de toda a práxis social, realizando-se pela relação entre teleologia e movimentos de séries causais (LUKÁCS, 2012).

Partindo de Marx e balizado por Lukács, consideramos que a história humana objetiva- -se mediante o ato de produção de sua existência material, que se realiza pelo trabalho.

Nisso, Marx posicionou a base do desenvolvimento histórico dos homens. O mundo ob- jetivo é, em primeira instância, produzido pelo trabalho. Ele é a categoria fundante do ser social, pois sobre a natureza o homem imprimiu sua vontade realizando a si mesmo através do trabalho, afastando das barreiras naturais e fundando a sociedade humana.

Fonte: Amaral (2014, on-line)1.

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Material Complementar

MATERIAL COMPLEMENTAR

O caracol e sua concha: ensaios sobre a nova morfologia do trabalho Ricardo Antunes

Editora: Boitempo

Sinopse: o caracol e sua concha retoma, de forma polêmica e combativa, a teoria de Ricardo Antunes, um dos mais destacados sociólogos marxistas da atualidade, sobre a centralidade da categoria “trabalho”.

A tese central apresentada no livro afi rma que o progresso científi co-tecnológico no capitalismo contemporâneo não resulta, como expõe a corrente eurocêntrica, no fi m da teoria do valor trabalho. O núcleo teórico de sua argumentação é inspirado em Marx e em sua ideia de que o saber rigoroso e o conhecimento técnico-científi co desempenham papel fundamental na transformação da produção.

Ricardo Antunes empreende um estudo sobre a alteração produzida pela incorporação da ciência e da tecnologia na composição orgânica do capital e nas suas relações entre trabalho produtivo e improdutivo, manual e intelectual, material e imaterial e na forma assumida pela divisão sexual do trabalho, interferindo na nova composição das classes sociais do capitalismo contemporâneo globalizado.

No vídeo sobre “A nova morfologia do trabalho”, Ricardo Antunes, faz uma análise de como a categoria trabalho vem sendo apreendida e debatida com as confi gurações do modo de produção capitalista frente a nova classe trabalhadora.

Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=0eOQ7ZfwJMs>.

Referências

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