• Nenhum resultado encontrado

ALIENAÇÃO E EXPLORAÇÃO DO TRABALHO

No documento PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 108-112)

A estrutura do trabalho no modo de produção capitalista condiciona o trabalhador a alienação e a exploração, diária, do trabalho, ao permitir processos que implicam na ausência de identidade da classe trabalhadora, bem como o reconhecimento desta como tal, classificando-a como massa de manobra para a manutenção da ordem do capital.

Nesse sentido, a exploração do trabalho se desenvolve na produção de mais--valia, que, conforme vimos anteriormente, se refere ao valor excedente embutido à produção, isto é, aquele que o capitalista se apropria sem ter tido nenhum custo ou despesa, seja com os meios de produção, matéria prima ou com o salário.

Segundo Löwy, Duménil e Renault (2015), o conceito de alienação desenvol-vido por Marx refere-se a “[...] a) uma separação [...] b) uma inversão [...] uma

opressão [...]” (LÖWY, DUMÉNIL, RENAULT, 2015, p. 13). Tendo em vista a compreensão dos autores, verifica-se que a alienação religiosa, filosófica e política são necessárias para apreender a alienação social, que está imbricada no traba-lho alienado, isto é, aquele que separa o trabalhador de sua produção.

Alienação e Exploração do Trabalho Repr odução pr oibida. A rt . 184 do C ódigo P enal e L ei 9.610 de 19 de f ev er eir o de 1998. 109

A compra e venda da força e trabalho é a forma clássica para a cria-ção e existência continuada da classe trabalhadora. No que respeita a esta, essa forma incorpora relações sociais de produção, relações de su-bordinação e exploração [...] A forma de emprego assalariado exprime duas realidades inteiramente diferentes: num caso, o capital contrata uma “força de trabalho” cuja função é atuar, sob direção externa, para aumentar o capital; na outra, por um processo de seleção dentro da classe capitalista e principalmente a partir de suas próprias fileiras, o capital escolhe um pessoal administrativo para representá-lo no local, e ao representá-lo supervisionar e organizar os trabalhos da população trabalhadora (BRAVERMAN, 1987, p. 342-343).

Com base nos apontamentos do autor, esse processo de representação traz também aspectos da exploração e da alienação do trabalho, uma vez que o administrador, gestor, gerente, supervisor, coordenador, entre outros nomenclaturas para desig-nar os cargos exercidos nos setores públicos e privados, na maioria das vezes é um trabalhador como os demais, isto significa que o seu próprio trabalho é, tam-bém, condicionado aos determinantes do capital, especificamente aos conceitos de alienação, exploração e recentemente de precarização e flexibilização do trabalho.

Para Braz e Netto (2008), “[...] a relação entre trabalho necessário e trabalho

excedente fornece a magnitude da taxa de mais valia (m’) que é, decorrentemente

a taxa de exploração do trabalho pelo capital [...]” (BRAZ; NETTO, 2008, p.

106-107). Oapontamento dos autores auxiliam na reflexão de que essa compre-ensão de trabalho necessário e trabalho excedente não é assimilada pela maioria dos indivíduos, o que impede seu enfrentamento, pois o trabalhador assalariado é regido por horas trabalhadas e não por produção, por isso, quanto maior for a jornada de trabalho mais trabalho excedente esta gera para o capital.

Nos estudos de Marx, identifica-se que:

[...] quando a mais-valia não é consumida, mas empregada como capi-tal, forma-se um novo capital que é acrescentado ao antigo. A utilização da mais-valia como capital, ou retransformação da mais-valia em capi-tal, é o que se chama de acumulação do capital (MARX, 1967, p. 147).

Por isso, a mais-valia é tão importante para o capital, porque somente ela pode gerar sua acumulação e consequentemente sua expansão, domínio e poder, que em suas amarras ocasiona a alienação, a qual tem sua raiz no processo de pro-dução, em que os trabalhadores não têm acesso ao fruto do seu trabalho.

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE Repr odução pr oibida. A rt. 184 do C ódigo P enal e L ei 9.610 de 19 de f ev er eir o de 1998. IV U N I D A D E 110

De acordo com diversos autores, o trabalho é reconhecido como a explo-ração que leva a bárbarie, isto significa que na sociedade capitalista o trabalho tem sua finalidade distorcida, pois precisa maximizar os lucros e a produção. Essa tese se sustenta pela forma como o modo de produção está estabelecido.

O sistema do capital se baseia na alienação do controle dos produtores. Neste processo de alienação, o capital degrada o trabalho, sujeito real da reprodução social,à condição de objetividade reificada – mero “fator material de produção” – e com isso derruba, não somente na teoria, mas na prática social palpável, verdadeiro relacionamento entre sujeito e objeto (MÉSZÁROS, 2011, p. 126).

Concomitantemente a esse contexto verifica-se que:

[...] tal como o trabalho é alienado ao capital ao se converter em tra-balho assalariado, também a reprodução social passa por um processo de alienação ao se identificar com a reprodução do capital. Por dois motivos. Em primeiro lugar, porque o capital só pode se expandir au-mentando a exploração dos trabalhadores e, portanto, auau-mentando a miséria. Em segundo lugar, como necessidades da reprodução amplia-da do capital não se identificam com as necessiamplia-dades humanas, caamplia-da vez mais a sociedade reproduz não o que as pessoas necessitam, mas o que dá lucro. [Por ex.] gasta-se trilhões de dólares fabricando bombas atômicas e realizando guerras! Assim, a produção ampliada do capital é cada vez mais a produção ampliada de desumanidades, de alienações, pelo próprio homem (LESSA, 1999, p. 31, apud SILVA, 2008, p. 67-68).

Tendo em vista esse contexto, verifica-se que em relação ao assistente social a identidade atribuída ao profissional relaciona-se com os interesses burgueses, uma vez que a

“identidade e consciência social não podem ser pensadas [...] a dis-tância da realidade social, como abstrações ou generalidade ou como categorias isoladas; é preciso pensá-las dialeticamente, como categorias plenas de movimento e historicidade” (MARTINELLI, 1997, p. 30).

Nessa perspectiva, corrobora-se com a autora de que é extremamente necessá-rio compreender os conceitos de identidade e consciência, pois sem analisá-los os profissionais deparam-se com hipótese de que “[...] a ausência de identidade profissional fragiliza a consciência social da categoria profissional, determi-nando um percurso alienado, alienante e alienador de prática profissional” (MARTINELLI, 1997, p. 25).

Alienação e Exploração do Trabalho Repr odução pr oibida. A rt . 184 do C ódigo P enal e L ei 9.610 de 19 de f ev er eir o de 1998. 111 Por isso, é

somente a partir do momento em que se expandiu a base crítica da consciência dos agentes, através da ruptura da alienação, é que eles pu-deram perceber o caráter conservador, subordinado e burguês de suas práticas (MARTINELLI, 1997, p. 140).

Concomitantemente, emerge como primordial à categoria profissional dos assis-tentes sociais a ruptura com as práticas tradicionais, que eram permeadas pelas determinações da hegemonia burguesa, e evidencia-se que a “[…] práticaé a libertação na perspectiva daquela teoria que declara ser o humano a mais ele-vada essência do ser humano […]” (MARX, 2010, p. 56).

Netto (2011) reitera que o conservadorismo é uma afirmação como prática bur-guesa de dominação e controle, sendo que o pensamento conservador é uma expressão cultural e particular de um tempo e um espaço sócio-histórico, bus-cando sempre se remeter ao passado.

Assim, a ruptura com alienação ocorre a partir do Movimento de Reconceituação do Serviço Social, em que vislumbra a consciência crítica dos agentes,

“[…] como uma função do “pensamento crítico reflexivo”, “através do qual criações fetichizadas no mundo reificado se dissolvem e per-dem sua enganosa fixidez, permitindo que se revele o mundo real[...]” (MARTINELLI,1989, p. 125 apud IAMAMOTO, 2012, p. 287).

No livro “100 palavras do marxismo”, Löwy, Duménil e Renault (2015), abor-dam os principais conceitos elaborados por Marx para compreender o modo de produção capitalista e suas interferências na reprodução da vida social. Fonte: a autora.

DESAFIOS DO MUNDO DO TRABALHO NA ATUALIDADE Repr odução pr oibida. A rt. 184 do C ódigo P enal e L ei 9.610 de 19 de f ev er eir o de 1998. IV U N I D A D E 112

Esse processo só foi possível com a aproximação da teoria social de Marx e com o diálogo com outras áreas, como a Filosofia e a Sociologia. Por isso, Carvalho e Netto (2000) afirmam que:

[...] separar o joio do trigo não é tarefa fácil. Aprender o caminho cole-tivo da conquista, sem cair na alienação, exige dos assistentes sociais e militantes políticos estratégias de ação baseadas na leitura desta mes-ma realidade e poder de interferência sobre os sistemes-mas que mes-mantêm este Estado (CARVALHO; NETTO, 2000, p. 55).

Caro(a) aluno(a), este é o desafio que os profissionais têm para não se emaranhar nos caminhos que a alienação envolve, pois o enfrentamento, ao modo de produção capitalista, requer o exercício de uma análise minuciosa da conjuntura de explora-ção e alienaexplora-ção que o trabalho e as relações de produexplora-ção direcionam o indivíduo.

No documento PROCESSO DE TRABALHO EM SERVIÇO SOCIAL (páginas 108-112)