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Processo judicial eletrônico trabalhista: novo paradigma de acesso à justiça

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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO MESTRADO EM DIREITO

MAIARA DE SOUZA MACEDO

PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO TRABALHISTA: NOVO PARADIGMA DE ACESSO À JUSTIÇA

Salvador 2017

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PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO TRABALHISTA: NOVO PARADIGMA DE ACESSO À JUSTIÇA

Salvador 2017

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Direito da Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Direito.

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CIP - Catalogação na Publicação

M141 Macedo, Maiara de Souza

Processo Judicial Eletrônico trabalhista: novo paradigma de acesso à justiça / Maiara de Souza Macedo -- Salvador, 2017. 135 f.

Orientador: Wilson Alves de Souza. Dissertação (mestrado) - Universidade Federal da Bahia,

Faculdade de Direito, Programa de Pós-Graduação em Direito, 2017.

1. Direito. 2. Tutela do processo. 3. Acesso à justiça. 4. Processo Eletrônico. 5. Justiça do Trabalho I. Souza, Wilson Alves de, orient. II. Título.

Elaborado pelo Sistema de Geração Automática com os dados fornecidos pelo(a) autor(a).

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PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO TRABALHISTA: NOVO PARADIGMA DE ACESSO À JUSTIÇA

Dissertação aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Direito, no Programa de Pós-Graduação em Direito, Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia, pela seguinte banca examinadora:

________________________________________________ Wilson Alves de Souza - Orientador

Doutor pela Universidade de Buenos Aires, Argentina (UBA) Universidade Federal da Bahia

________________________________________________ Rodolfo Mário Veiga Pamplona Filho

Doutor em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP) Universidade Federal da Bahia

________________________________________________ Flávia Moreira Guimarães Pessoa

Doutora em Direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) Universidade Federal de Sergipe

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A Deus, pela força e luz. A minha família, Pai, Mãe, Irmão e Marido. Eles são o alicerce da minha trajetória. Sem eles, a luta diária da vida e para a realização desta pesquisa não seria possível.

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e força em minha vida, que possibilitou a jornada de pesquisa para a consecução do presente trabalho.

Devoto especial gratidão ao Prof. Dr. Wilson Alves de Souza, grande orientador de pesquisa acadêmica, com colaborações imprescindíveis nas discussões sobre o tema, pelo apoio durante as etapas de estudo e desenvolvimento do trabalho, pela paciência e atenção sempre dispensadas.

Grata também ao Prof. Dr. Rodolfo Mário Veiga Pamplona Filho, pelos relevantes direcionamentos sobre o tema de pesquisa e organização do presente trabalho, pela referência profissional, pelo cuidado e senso crítico na avaliação da redação do tema desta pesquisa.

Faço um destacado agradecimento à minha amiga Marcela Ribeiro Gotshall pelo estímulo e apoio desde o primeiro momento, na seleção para o ingresso no Curso de Mestrado do Programa de Pós Graduação e Pesquisa da Faculdade de Direito da UFBA.

Por fim, agradeço aos professores da Faculdade de Direito da UFBA que contribuíram com suas lições e ensinamentos valiosos para a consecução desta dissertação, especialmente a Alessandra Rapassi, a Dirley da Cunha Junior, a Luciano Martinez, a Murilo Sampaio, a Nelson Cerqueira e a Paulo Pimenta. Também tenho gratidão aos servidores do Programa de Pós-Graduação em Direito da UFBA e a todos os colegas de curso que compartilhei expectativas e dúvidas durante o período de pesquisa e produção, principalmente Bruno Moitinho, João Liberato Filho, Isaac Matienzo, Pedro Augusto, Thifani Ribeiro e Tamires Machado.

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Este é tempo de partido, Tempo de homens partidos. Em vão percorremos volumes, Viajamos e nos colorimos. A hora pressentida esmigalha-se em pó na rua, Os homens pedem carne. Fogo. Sapatos. As leis não bastam. Os lírios não nascem da lei. Meu nome é tumulto e escreve-se na pedra. Carlos Drummond de Andrade "Nosso Tempo"

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O presente trabalho tem a finalidade de analisar, considerando a Teoria de Thomas Kuhn sobre a revolução científica, se a adoção do processo judicial eletrônico trabalhista no âmbito da Justiça do Trabalho constitui um novo paradigma de acesso à justiça. Em razão da crise da celeridade da prestação da função jurisdicional do Poder Judiciário, a Emenda Constitucional n° 45/2004 positivou o princípio da duração razoável do processo no artigo 5°, inciso LXXVIII da Carta Magna de 1988. O processo judicial eletrônico (PJe) foi vislumbrado como uma das soluções práticas para a referida anomalia. O processo digital já era uma tendência adotada em vários órgãos dos Poderes da União. A informatização do processo judicial apresenta vantagens no que tange à economia e à celeridade processuais, à segurança dos atos praticados, à sustentabilidade, por exemplo. Neste contexto, o Poder Judiciário se inseriu no mundo da informatização na tentativa de otimizar o desempenho da função jurisdicional e, consequentemente, o trâmite dos processos sob sua tutela. Tal informatização processual, no entanto, deve resguardar e efetivar os princípios e garantias fundamentais e processuais já reconhecidos. Para tanto, a presente pesquisa buscou examinar de que forma a informatização do processo do trabalho, que acarretou alterações na forma de visualização, tramitação e execução de atos processuais, modificou o acesso à justiça na seara laboral.

Palavras-chave: Processo eletrônico. Justiça do Trabalho. Acesso à Justiça. Thomas Kuhn. Revolução Científica. Paradigma.

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This study has the purpose of analyzing if the electronic judicial labor suit, in the context of Tomas Kuhn's theory on the scientific revolution, is a new paradigm of access to justice. Due to the speed crisis of the provision of the Judiciary judicial function, Constitutional Amendment n° 45/2004 affirmed the principle of reasonable length of procedure in article 5°, LXXVIII of the 1988’s Constitution. The electronic judicial process was seen as one of the practical solutions to this anomaly. The digital law process was already a trend adopted in several Branches of the Federal Government. The computerization of the judicial suit presents advantages with regard to the economy and speed of proceedings, to the safety of acts practiced, to sustainability, for example. In this context, the Judiciary was inserted in the world of computerization in an attempt to optimize the performance of the jurisdictional function and, consequently, the way of the processes under its tutelage. Such procedural computerization, however, must safeguard and implement the already recognized fundamental principles and rights, as well as, procedural guarantees. The present research analyzes how the computerization of the labor process, which led to changes in the way of visualization, processing and execution of procedural acts, transform the access to justice in Labor Court.

Keywords: Electronic Process. Labor Court. Access to justice. Thomas Kuhn. Scientific Revolution. Paradigm.

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Art. CF CLT CNJ CPC CSJT EC PJe STJ STF TRT TST Artigo Constituição Federal

Consolidação das Leis do Trabalho Conselho Nacional de Justiça Código de Processo Civil

Conselho Superior de Justiça do Trabalho Emenda Constitucional

Processo Judicial Eletrônico Superior Tribunal de Justiça Supremo Tribunal Federal Tribunal Regional do Trabalho Tribunal Superior do Trabalho

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2 UMA REVISÃO CONCEITUAL DO ACESSO À JUSTIÇA 16

2.1 CONCEITO E ABRANGÊNCIA 16

2.2 FUNDAMENTOS LEGAIS E NATUREZA JURÍDICA 21

2.3 PRINCÍPIOS RELACIONADOS 23

3 UMA VISÃO GERAL DO PROCESSO DO TRABALHO 30

3.1 PRINCÍPIOS QUE REGEM O DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

31

3.2 UM PANORAMA DAS PECULIARIDADES E TÉCNICAS DO PROCESSO DO TRABALHO

40

3.3 ACESSO À JUSTIÇA DO TRABALHO E JUS POSTULANDI 45 4 COMPREENSÃO DA CONTRIBUIÇÃO DA ALTERAÇÃO DOS

PARADIGMAS PARA AS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS

54

4.1 REVOLUÇÃO CIENTÍFICA PROPOSTA POR THOMAS KUHN 54 4.2 A NOÇÃO DE PARADIGMA E A APLICAÇÃO DESSE CONCEITO

NAS CIÊNCIAS HUMANAS

56

4.3 PROCESSO TRADICIONAL, A CRISE DA DURAÇÃO RAZOÁVEL E PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO

62

5 O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO

67

5.1 PROCESSO JUDICIAL VIRTUAL E DIGITALIZAÇÃO PROCESSUAL 67 5.2 HISTÓRICO DA UTILIZAÇÃO DA INFORMÁTICA NO PROCESSO

JUDICIAL

72

5.3 DISCIPLINA NORMATIVA DO PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO 81 5.4 INCLUSÃO DIGITAL NO BRASIL E PROCESSO JUDICIAL

ELETRÔNICO TRABALHISTA

92

6 PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO TRABALHISTA: NOVO PARADIGMA DE ACESSO À JUSTIÇA

100

6.1 PJE COMO NOVO PARADIGMA DO PODER JUDICIÁRIO TRABALHISTA BRASILEIRO

100

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7 CONCLUSÃO 118

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho se propõe a fornecer uma contribuição para a comunidade acadêmica através da pesquisa sobre como a adoção do processo judicial eletrônico deve ser vislumbrada considerando a Teoria da Revolução Científica, de Thomas Kuhn, em relação ao acesso à justiça dos jurisdicionados que utilizam o Poder Judiciário trabalhista.

A solução processual dos litígios levados ao Poder Judiciário, por razões de diversas ordens apontadas pela doutrina, vive o problema da crise da celeridade e, por conseguinte, da efetividade. A demora expressiva na tramitação e solução processuais obsta a efetivação de garantias fundamentais e processuais. Várias foram as alternativas vislumbradas para contornar esse problema da celeridade, como as alterações na legislação processual, o estímulo à conciliação, à mediação e à arbitragem. No entanto, vale ressaltar que as modificações na legislação processual não surtiram o efeito esperado. Por outro lado, nem sempre é possível abrir mão de uma decisão imposta pelo Poder Judiciário para solucionar alguns conflitos de interesses. Por essa razão, no contexto atual de predomínio das tecnologias e com as praticidades que a informática proporciona, umas das soluções vislumbradas pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e pelos tribunais superiores pátrios para o problema da celeridade processual no Poder Judiciário foi a adoção do processo judicial eletrônico (PJe).

No ano de 2009, das dez metas previstas pelo Conselho Nacional de Justiça para a implementação de maior agilidade à prestação jurisdicional, sessenta por cento se referia à informatização do processo judicial. Em 2013, o Conselho Nacional de Justiça instituiu o processo judicial eletrônico (PJe) como o sistema informatizado unificado do Poder Judiciário. Vale salientar que já existiam diversos sistemas de processos eletrônicos nos diversos tribunais pátrios, o que acarreta uma miscelânea de interfaces, recursos, linguagens, regras e funcionalidades. Através da celebração de acordos de cooperação entre tribunais superiores e o Conselho Nacional de Justiça, o PJe foi criado para unificar as bases processuais digitais com a proposta de reunião do que havia de melhor dos programas existentes.

A Justiça do Trabalho, ultrapassada a fase de teste, já implantou e utiliza o processo judicial eletrônico em todos os graus de jurisdição desde o ano de 2014.

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A implantação do processo judicial eletrônico na Justiça do Trabalho despertou a inquietação de como as alterações promovidas pela virtualização processual repercutiria no acesso à justiça. Ademais, suscitou a dúvida se a alteração promovida pela implantação do PJe trabalhista será realmente capaz de solucionar a crise de celeridade.

A importância do tema existe porque de um lado o PJe tornou-se uma realidade na Justiça do Trabalho, tendo sido implantado de forma relativamente rápida em busca da efetivação da duração razoável do processo prevista no artigo 5°, inciso LXXVIII da Constituição Federal. De outro lado, deve ser cuidadosamente analisada a repercussão da adoção do processo judicial eletrônico na efetivação de garantias processuais relevantes envolvidas no acesso à justiça. Esses aspectos necessitam ser analisados para saber se o PJe realmente promoveu uma inovação a ponto de acarretar uma revolução na sistemática do processo com consequências na garantia do acesso à justiça. É evidente, pois, a relevância teórica, prática e social desta investigação.

A justificativa para esta pesquisa é o fato de que a busca para a solução do problema da duração razoável do processo judicial, através da utilização do processo judicial eletrônico, não pode acarretar o desrespeito às garantias e aos direitos atinentes ao acesso à justiça. Vale ressaltar que, como será analisado neste estudo, o âmbito do acesso à justiça atinge um espectro mais amplo do que apenas a noção de respeito à garantia do direito de propor uma ação judicial. É necessário que o acesso à justiça, na tramitação de qualquer processo, seja atendido em todos os aspectos que o compõe.

Portanto, o objetivo geral deste estudo é analisar a hipótese de o processo judicial eletrônico constituir um novo paradigma de acesso à justiça para a solução dos conflitos de interesse levados ao Poder Judiciário trabalhista.

Para tanto estabeleceu-se os seguintes objetivos específicos deste trabalho: examinar a garantia do acesso à justiça (conceito, controvérsias, princípios correlatos e alcance); analisar de forma geral o processo judicial trabalhista, com abordagem panorâmica das peculiaridades e dos princípios; investigar acerca da teoria dos paradigmas e da Revolução Científica proposta por Thomas Kuhn; e estudar o processo judicial eletrônico na seara do Judiciário trabalhista com enfoque

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no histórico da implantação, nas vantagens, nas desvantagens e nos requisitos técnicos e operacionais para a utilização do referido sistema.

Diante da problemática acima suscitada, o diagnóstico obtido com a pesquisa, resultou na elaboração do presente trabalho, estruturado em cinco capítulos e a conclusão.

O primeiro capítulo é destinado à análise do acesso à justiça como princípio central norteador deste estudo. Vale ressaltar que o acesso à justiça no Estado Democrático de Direito não se restringe apenas ao direito de ingressar com ação judicial, mas de usufruir desse direito e obter uma solução justa e efetiva, respeitados todos os princípios e garantias atinentes ao processo. Em razão da importante e rápida mudança gerada pelo processo judicial eletrônico na Justiça do Trabalho, é relevante investigar as repercussões dessa inovação no que diz respeito à garantia do acesso à justiça.

No segundo capítulo, realizou-se uma abordagem geral teórica e principiológica do processo trabalhista. Além do panorama dos aspectos teóricos peculiares do processo do trabalho, esse terceiro capítulo também destinou-se ao exame do jus postulandi, por entender que este pode ser considerado um dos relevantes instrumentos de acesso à justiça, previsto na legislação processual trabalhista. No processo do trabalho, empregado e empregador possuem a faculdade de pleitear direitos e defender-se no processo sem o patrocínio de um advogado, conforme preceitua o artigo 791 da Consolidação das Leis Trabalhistas.

O terceiro capítulo se concentra na análise da relevância dos paradigmas para a revolução científica. Para tanto, primeiramente, foi feita uma abordagem sobre a Teoria da Revolução Científica proposta pelo filósofo Thomas Kuhn, no livro “A Estrutura das Revoluções Científicas”, que, em síntese, trata da mudança de paradigma na ciência através de crises e anomalias das teorias vigentes da “ciência normal”. Este capítulo é importante pressuposto e oferecerá substrato para se cumprir o objetivo geral da presente pesquisa na avaliação do processo judicial eletrônico trabalhista.

O quarto capítulo se destina ao exame do processo judicial eletrônico trabalhista. Em razão da crise de efetividade e celeridade, em busca de concretizar o princípio da razoável duração do processo, preconizado no inciso LXXVIII do artigo 5° da Constituição Federal (com redação conferida pela Emenda Constitucional n°

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45/2004), o Poder Judiciário passou a vislumbrar no processo eletrônico uma possível solução para esses problemas. É relevante analisar as bases do processo judicial eletrônico. Por isso, nesse quarto capítulo, serão feitas: a abordagem conceitual do processo judicial eletrônico através da exposição sobre virtualização e digitalização processuais; a análise do histórico da utilização de recursos da informática no processo judicial e das bases legais do PJe; o exame dos princípios que o regem e estão diretamente ligados à adoção do processo judicial eletrônico; e a investigação sobre a relação entre a inclusão digital da sociedade brasileira e o PJe. Ainda nesse quarto capítulo, discute-se o tratamento dos aspectos peculiares do processo judicial eletrônico na Justiça do Trabalho com a análise da regulamentação específica do processo judicial eletrônico trabalhista e dos requisitos técnicos operacionais para o funcionamento e acesso do PJe trabalhista. Não basta ter um computador e estar conectado à rede mundial de computadores (internet) para utilizar as funcionalidades do PJe. Este sistema de processo virtual trabalhista não funciona bem através de qualquer navegador de internet. Deve ser instalado ainda uma versão específica do JAVA, um programa de informática que possibilita a execução de tarefas pelo navegador de internet. Além disso, mister se faz que o usuário possua um certificado digital com prazo de validade, que deve ser obtido perante uma autoridade certificadora (ex: Caixa Econômica Federal). O Conselho Superior de Justiça do Trabalho (CSJT) disponibiliza em seu site alguns manuais de como instalar esses programas e como acessar e operar as funções do PJe trabalhista.

O quinto capítulo constitui o cerne do objeto deste estudo: investigar como se deu a mudança na prática dos atos processuais, na visualização e na tramitação do processo laboral com a adoção do PJe na Justiça do Trabalho e a repercussão dessa alteração no acesso à justiça, que abrange além do direito de ação outras garantias processuais importantes. Nesse capítulo, realiza-se, tendo por base a perspectiva kuhniana de paradigma, a análise das alterações acarretadas com a implantação do PJe e as decorrências disso para a revolução no acesso à justiça no âmbito do Poder Judiciário trabalhista. Ademais, o último item deste capítulo foi reservado para uma abordagem crítica dos problemas atinentes à implantação e utilização do sistema de PJe em relação ao contexto atual estrutural do Poder Judiciário trabalhista brasileiro e do nível hodierno de inclusão digital da população,

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o que pode acarretar mácula a direitos fundamentais processuais dos usuários (advogados, servidores e jurisdicionados da Justiça do Trabalho).

As vantagens do PJe em relação à duração razoável do processo, à economia processual e à segurança são nítidas. Esta evolução tecnológica do processo judicial é um caminho sem retorno. É evidente que alterações significativas na forma de tramitação e na prática dos atos processuais foram lançadas num curto período de tempo, se compararmos ao lapso de vigência do processo convencional em autos registrados no papel. Essa ruptura repentina não foi acompanhada por mudanças nas concepções dos cidadãos que utilizam o Poder Judiciário.

O intuito do presente trabalho é investigar e analisar porque o PJe representa um novo paradigma da solução dos litígios levado ao Poder Judiciário trabalhista e as repercussões deste fato no acesso à justiça. A partir daí, podem ser vislumbradas sugestões para o aprimoramento do sistema no sentido de ele se coadunar com a efetivação dos princípios e garantias processuais dos cidadãos que necessitam utilizar o Poder Judiciário trabalhista.

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2 UMA REVISÃO CONCEITUAL DO ACESSO À JUSTIÇA

2.1 CONCEITO E ABRANGÊNCIA

Quando analisamos a expressão “acesso à justiça”, a primeira ideia que nos vem é que se trata da garantia ao direito de pleitear perante Poder Judiciário, ou seja, de instaurar uma demanda judicial.

Ao vocábulo “acesso”, que provém do latim “accessus”, o dicionário eletrônico Houaiss1

atribui significado etimológico de entrada, ingresso, aproximação, chegada. A palavra “justiça” possui diversas acepções. Trata-se de um conceito abstrato que permeia vários campos do conhecimento humano (filosofia, religião, direito, ética)2

, objeto de muitas controvérsias entre os pensadores e sobre o qual surgem muitas teorias. Para ter uma noção da extensão do debate atinente à ideia de Justiça, as principais teorias modernas sobre a justiça dividem-se em dois grupos: justiça como equidade e justiça atrelada ao bem estar. Dentro dessas duas vertentes, ainda ocorrem dissonâncias.

Na primeira categoria de Justiça como equidade, enquadram-se quatro perspectivas: utilitarista, para autores como Jeremy Bentham, John Stuart Mill e Henry Sidgwick; liberal, do filósofo político norte americano John Rawls; libertária, defendida nas teorias de Robert Nozick e Friederich Hayek; e comunitarista, cujo expoente, contrário às ideias de John Rawls, é Michael J. Sandel. Na segunda categoria de Justiça como bem estar, três são as perspectivas: igualitária, encabeçada pelo jusfilósofo norte americano Ronald Dworkin; econômica, cujo expoente é o nova-iorquino Richard Allen Posner; e capacitária, desenvolvida pelo economista indiano Amartya Sem, que critica as ideias de Rawls.

No que tange ao conceito jurídico teórico de “acesso à justiça”, é pacífico entre os juristas que o mesmo sofreu uma evolução relevante e atualmente não se deve restringi-lo apenas à garantia das condições para o cidadão ingressar com uma ação no Poder Judiciário, como sugere o significado literal da expressão e como compreendiam os estados liberais burgueses dos séculos XVIII e XIX

1

Informação coletada do dicionário online HOUAISS. Disponível em: <www.houaiss.uol.com.br>. Acesso em: 09 nov. 2016.

2

Informação disponível na página online WIKIPEDIA. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Justi%C3%A7a>. Acesso em: 09 nov.2016.

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(CAPPELLETTI; GARTH, 1998). A abrangência conceitual da garantia do acesso à justiça no Estado Democrático de Direito vai além: também abrange o direito de o processo ser concluído de forma justa. De acordo com as considerações de Wilson Alves de Souza:

O conceito de acesso à justiça não pode ser examinado sobre um enfoque meramente literal, vale dizer, não há lugar, na atualidade, para a afirmação de que acesso à justiça significa apenas manifestar uma postulação a um juiz estatal, como se isso fosse suficiente para garantir ao cidadão o direito tão somente a uma porta de entrada. (SOUZA, 2009).

Outrossim, para que se efetive o acesso à justiça é necessário que ao maior número possível de pessoas sejam conferidas condições para instaurar uma demanda e para defender-se adequadamente nas hipóteses que a solução de um conflito dependa do Poder Judiciário (CINTRA; GRINOVER; DINAMARCO, 2003, p.84)

Para Mauro Cappelletti e Bryant Garth (1998), a expressão “acesso à justiça” é difícil de definir, mas serve para balizar duas finalidades básicas do sistema jurídico através do qual as pessoas podem reivindicar seus direitos e solucionar os conflitos sob os ditames do Estado. A primeira finalidade é que o sistema jurídico deve ser efetivo e realmente acessível a todos. A segunda finalidade é que ele deve produzir resultados que sejam individual e socialmente justos.

Diante dessa dupla finalidade conferida pelo acesso à justiça ao sistema jurídico processual, depreende-se que conceito da referida garantia constitucional de forma geral está atrelado ao direito a um devido processo legal. Isso significa que, na tramitação de um processo, devem efetivamente ser respeitadas as garantias e direitos processuais. Para tanto, deve haver um processo justo, com duração razoável, em que sejam possibilitados os exercícios do contraditório e da ampla defesa e no qual seja proferida uma decisão motivada e eficaz (que solucione o conflito entre os litigantes) pelo juiz natural competente.

A garantia do acesso à justiça visa assegurar não apenas os direitos individuais, mas também os coletivos em sentido amplo.

Diante do conceito e contexto, o acesso à justiça ganhou destaque e relevância na atual sociedade. Em virtude disto, tornou-se fundamento para as mudanças na processualística moderna na medida em que esta se depara constantemente com a violação a direitos fundamentais processuais.

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A doutrina tem elencado ordens de problemas em relação à efetivação do acesso à justiça: educacional e socioeconômico, cultural, puramente econômico, temporal (SOUZA, 2009).

A primeira ordem de problemas, que compreende os aspectos educacional e socioeconômico, diz respeito à falta de conhecimento, de informação e de capacidade de compreender os direitos e os mecanismos de exercê-los e exigi-los quando violados. No Brasil, isso é comum em virtude das parcas condições de educação da população, com considerável índice de analfabetismo (incluindo o analfabetismo funcional).

O problema cultural, segundo Wilson Alves de Souza (2009), está relacionado com o educacional e atrela-se à desconfiança de parte da sociedade em relação aos advogados e aos servidores do Poder Judiciário.

O problema econômico, por sua vez, refere-se aos altos custos dos processos e dos serviços advocatícios, que desestimulam o cidadão a buscar no Judiciário a solução para a violação de algum direito.

O problema temporal está relacionado à duração do processo, que, na realidade brasileira, em geral, tem extrapolado o período de tramitação razoável e necessário para a solução do litígio perante o Judiciário. Para essa ordem de problema, que é das mais graves, algumas causas são imputadas como a estrutura dos órgãos do Poder Judiciário, a legislação processual, a política econômica do governo e, por vezes, a atuação dos litigantes e respectivos advogados.

Em razão de problemas na efetivação do acesso à justiça, doutrinadores identificaram três ondas de movimentos renovatórios com o intuito de concretizá-lo. A primeira onda está ligada ao obstáculo econômico do acesso à justiça e visa promover a assistência judiciária à população economicamente carente. A segunda onda diz respeito à representação dos interesses difusos em juízo e tem a finalidade de contornar o obstáculo organizacional para evitar violações ao acesso à justiça. Já a terceira onda, tem por enfoque a concepção mais ampla de acesso à justiça e visa instituir técnicas processuais adequadas para o melhor preparo de profissionais da área jurídica (CAPPELLETTI; GARTH, 1998, p. 12).

No ordenamento jurídico pátrio, a primeira onda renovatória para a efetivação do acesso à justiça foi engendrada por meio de duas medidas: a entrada em vigor da Lei n° 1.060/1950 (que estabelece critérios para a concessão da assistência

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judiciária gratuita aos necessitados) e a instituição da Defensoria Pública da União (Lei Complementar n° 80/1994).

A Constituição Federal de 1988 prevê, no rol dos direitos fundamentais do artigo 5° (no inciso LXXIV), a assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos. No artigo 134 da nossa Carta Magna, a Defensoria Pública foi consagrada como instituição essencial à função jurisdicional do Estado.

O conceito de gratuidade da justiça restringe-se à garantia conferida aos cidadãos de terem acesso à justiça sem custear taxa judiciária, as custas e quaisquer outras despesas processuais independentemente do resultado do julgamento da causa. A concepção de gratuidade abarca o direito de não pagar honorários advocatícios da parte contrária na hipótese de sucumbência.

A assistência judiciária, por sua vez, é a concessão gratuita de advogado para demandar. É um conceito mais restrito que o de gratuidade da justiça e é abarcado no conceito de assistência jurídica. O conceito de assistência jurídica apresenta um espectro mais amplo que o de assistência judiciária, pois engloba, além do serviço de defender os direitos do cidadão em juízo (assistência judiciária), o serviço de orientação jurídica profissional e respostas a consultas, por exemplo.

Wilson Alves de Souza (2009) qualifica como gratuidade do acesso à justiça: o direito à gratuidade da justiça, o direito à assistência judiciária e o direito à assistência jurídica.

Em geral, o custo do processo é elevado e o direito à gratuidade do acesso à justiça (que engloba a gratuidade da justiça, a assistência jurídica e a assistência judiciária) é conferido somente aos necessitados, de acordo com a Lei n° 1.060/1950. O conceito da expressão “necessitado” não é preciso. Na prática, muitas dificuldades aparecerão para enquadrar um cidadão nesta situação; e esse enquadramento dependerá das circunstâncias do caso concreto. A Lei n° 1.060/1950 estabelece que a parte gozará da gratuidade do acesso a justiça mediante afirmação na inicial de que não está em condições de custear as despesas processuais e os honorários advocatícios sem prejuízo do sustento próprio e da respectiva família. A presunção de ser enquadrado como pobre, pela referida lei, é relativa, ou seja, pode ser sustentada até prova em contrário.

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As medidas adotadas na primeira onda de efetivação do acesso à justiça, no entanto, não foram suficientes. Percebeu-se, então, que os óbices ao acesso à justiça não se restringiam ao aspecto econômico, mas possuía multifacetadas causas, inclusive na seara cultural (a desconfiança dos cidadãos, principalmente os menos favorecidos, em relação aos advogados e servidores do Judiciário, o que desestimula o exercício do acesso à justiça).

Em razão disso, a segunda onda renovatória buscou viabilizar o acesso à justiça através da implementação dos direitos difusos e coletivos ao criar regras, procedimentos e legitimar órgãos representativos na defesa de tais direitos. Nesse sentido, foram instituídos, por exemplo, a ação popular (1965), a ação civil pública (1985) e o Código de Defesa do Consumidor (1990).

A terceira onda renovatória amplia a concepção do acesso à justiça e busca conferir uma roupagem diferenciada à função do juiz, incentivando a atuação criativa, centrada em contornar os obstáculos burocráticos e que evite o apego ao formalismo, ou seja, uma atuação que fomente a prestação jurisdicional com efetividade.

Em resumo, a ondas renovatórias elaboradas pelo Governo Federal, por meio do Pacto Republicano, foram vislumbradas para efetivar a garantia do acesso à justiça. A primeira onda buscou implementar a assistência judiciária aos pobres; a segunda onda fomentou a representação dos direitos difusos; e a terceira onda promoveu uma concepção mais ampla do acesso à justiça com intuito de estimular os magistrados a atuarem de forma criativa para proferir uma solução eficaz ao conflito de interesses. Alguns doutrinadores entendem que a implantação do processo judicial eletrônico pode ser enquadrada na terceira onda renovatória do acesso à justiça e justificam esta conformação em razão de o PJe buscar a efetivação da duração razoável do processo com modificação no meio de tramitação e visualização processuais (ALMEIDA FILHO, 2015).

Vale salientar que em razão da exigência de ampliação do direito de ação e de defesa dos cidadãos na perspectiva do acesso à justiça no Estado Democrático de Direito, o processo judicial eletrônico o efetivará se: buscar garantir o pleno acesso ao Judiciário, sem criar óbices a ele; lograr a ampliação dos meios para concretização dos interesses judicialmente perseguidos; e reduzir os custos do processo. Isso permitirá o acesso à justiça a um número maior de indivíduos, mesmo

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que não possuam condições econômicas de solucionar os conflitos de interesses perante o Poder Judiciário.

2.2 FUNDAMENTOS LEGAIS E NATUREZA JURÍDICA

Nos fundamentos da dignidade da pessoa humana e da cidadania, que devem lastrear um Estado Democrático de Direito, baseia-se o acesso à justiça que está consagrado no artigo 5°, incisos XXXV e LXXIV da nossa Constituição Federal.

No inciso XXXV do artigo 5°, o constituinte determinou que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (BRASIL, 1988)3 (princípio da inafastabilidade da jurisdição). No inciso LXXIV, ficou determinada constitucionalmente a obrigação de o Estado prestar assistência jurídica integral aos que comprovarem insuficiência de recursos.

Ademais, desde 25 de setembro de 1992, com o depósito da carta de adesão, promulgada pelo Decreto n° 6784

, o Brasil é signatário da Convenção Americana sobre Direitos Humanos de 19695

(conhecido como Pacto San Jose da Costa Rica). O artigo 8° deste pacto prevê que:

[...] toda pessoa tem direito de ser ouvida, com as garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal contra ela, ou para que se determinem seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer natureza. (BRASIL,1992)

Vale destacar ainda que a Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada em 1948 pela Assembleia-Geral das Nações Unidas (ONU) e que constitui uma recomendação aos países membros, prevê expressamente no artigo 8° que “todo homem tem direito a receber, dos tribunais nacionais competentes, remédio

3

BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 29 set. 2016.

4

BRASIL. DECRETO Nº 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm>. Acesso em: 11 set. 2016. 5

Disponível em: <http://www.conectas.org/arquivos/editor/files/Conven%

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efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejam reconhecidos pela constituição ou pela lei.”6

Após essa breve incursão sobre os fundamentos legais, é válido discorrer sobre a natureza jurídica do acesso à justiça. Neste espeque, questiona-se se ele é um direito ou uma garantia constitucional. Apesar de ambas as categorias se revestirem de relevância no ordenamento, há diferenças conceituais entre elas que devem ser abordadas antes de qualquer posicionamento acerca do enquadramento jurídico do acesso à justiça.

As garantais fundamentais seriam estabelecidas pelo texto constitucional como manto de proteção dos direitos fundamentais. Assim, ao direito à vida, corresponde a garantia de vedação à pena de morte; ao direito à liberdade de locomoção, corresponde a garantia do habeas corpus etc.

O constitucionalista português Jorge Miranda (2000) leciona sobre a distinção entre os institutos. Para ele, os direitos são principais, enquanto as garantias são acessórias e muitas delas adjetivas; os direitos representam só por si certos bens, já as garantias são destinadas a assegurar a fruição desses bens; os direitos permitem a realização das pessoas e por isso inserem-se direta e imediatamente às respectivas esferas jurídicas; as garantias, no entanto, apenas nelas se projetam em razão do nexo que possuem com os direitos. O mencionado autor entende que na acepção jusracionalista inicial, os direitos declaram-se ao passo que as garantias estabelecem-se.

De acordo com as lições do ilustre Ruy Barbosa (1978), as garantias são disposições assecuratórias que limitam o poder para proteger as disposições declaratórias dos direitos. Percebe-se, então que as garantias constitucionais são instrumentos que asseguram o exercício dos Direitos. Não se constituem um Direito, por si só autônomo.

Já visão de Dirley da Cunha Jr.(2015), as garantias, em certo aspecto, são direitos destinados à proteção de outros direitos e por isso merecem a denominação de “direitos-garantia”.

Frente a tais distinções entre os direitos e as garantias constitucionais, optamos por considerar o acesso à justiça como uma garantia constitucional, em

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ASSEMBLÉIA GERAL DAS NAÇÕES UNIDAS. DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, DE 10 DE DEZEMBRO DE 1948. Disponível em:

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razão de não ser autônomo (não existe por si mesmo) como o direito à vida, à liberdade, à saúde, à propriedade, à educação e etc. Em nosso ponto de vista, o acesso à justiça se apresenta como um instrumento apto a viabilizar a proteção de direitos perante o Poder Judiciário. Se analisarmos a redação do artigo 5°, inciso XXXV, percebemos que o constituinte proibiu que leis ou atos normativos limitassem o acesso ao Poder Judiciário. Destarte, não é permitida a imposição de condições para o ingresso em juízo, ou seja, é vedado o prévio esgotamento das vias administrativas (instância administrativa de curso forçado). Diante disso, resta claro a natureza de garantia do acesso à justiça.

As garantias podem se consubstanciar em princípios que limitam o exercício do poder estatal para proteger e efetivar direitos. A garantia do acesso à justiça pode ser considerada uma norma princípio, haja vista não se trata de uma norma regra de conteúdo pragmático que impõe uma conduta ou destaca uma sanção.

2.3 PRINCÍPIOS RELACIONADOS

É cediço que não basta garantir apenas o ingresso para as demandas no Poder Judiciário, da mesma forma é imprescindível que uma decisão motivada e eficaz seja proferida por um juiz natural competente num lapso temporal razoável, garantidos o contraditório e ampla defesa. Isso significa que para a efetivação do acesso à justiça não basta garantir o direito de postulação ao Poder Judiciário sem respeitar o devido processo legal, ou seja, com um processo desprovido de garantias processuais, que são consideradas princípios jurídicos essenciais.

Disso decorre que o acesso à justiça é viabilizado através do atendimento conjunto de princípios como devido processo legal, contraditório e ampla defesa, duração razoável do processo, igualdade das partes, motivação das decisões, publicidade dos atos processuais.

É nítido que uma tutela jurisdicional para ser considerada justa deve primar pelo atendimento aos princípios constitucionais de índole processual, principalmente os princípios do devido processo legal, da ampla defesa e do contraditório, tidos como os verdadeiros balizadores maiores da forma de prestação à tutela jurisdicional.

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No presente tópico, abordaremos de forma geral os mais relevantes princípios relacionados ao acesso à justiça.

O primeiro deles é o devido processo legal (“due process of law”), que foi previsto pela primeira vez em 1215 na Magna Carta de João Sem Terra. Esse princípio é positivado no artigo 5°, inciso LIV, da vigente Constituição Federal brasileira que dispõe que “ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”7.

De acordo com Ricardo Maurício (2010), o devido processo legal pode ser considerado como uma cláusula geral principiológica, decorre do princípio da dignidade da pessoa humana, possui inspiração pós-positivista e irradia-se para a disciplina de todas as modalidades de processo (jurisdicional, legislativo, administrativo, negocial). Através desse princípio, o processo, para ser considerado válido, eficaz e completo, deve seguir todas as etapas previstas em lei e respeitar todas a garantias fundamentais a ele inerentes.

A esse princípio, a doutrina e a jurisprudência conferiram dois sentidos: o devido processo legal formal (ou procedimental) e o devido processo legal substantivo (ou material). O primeiro viés (devido processo legal formal) se consubstancia no direito de ser processado e processar obedecendo às normas vigentes (DIDIER, 2007, p.37) e na necessidade de instauração de um processo regular como requisito para a restrição de bens e direitos (CUNHA JÚNIOR, 2015, p. 588). Na acepção formal ou procedimental, o devido processo legal assegura aos litigantes o exercício de direitos processuais e acaba por legitimar a função jurisdicional do estado. Para a efetivação desta faceta do devido processo legal, o Estado deve conferir aos cidadãos garantias como contraditório e ampla defesa, duração razoável do processo, isonomia, duplo grau de jurisdição, inafastabilidade, motivação das decisões judiciais, publicidade dos atos processuais. No aspecto material, com base na doutrina e jurisprudência norte-americanas, o devido processo legal exige que as decisões nos processos devam ser proferidas primando pela razoabilidade e justiça. Como bem ressalta Ricardo Maurício, “a progressiva substancialização do princípio do devido processo legal é o resultado de um novo tratamento epistemológico, mais consentâneo com o funcionamento dos sistemas

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BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 29 set. 2016.

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jurídicos contemporâneos” (SOARES, 2010, p. 163) (ou pós-positivismo jurídico). Da conotação material do devido processo legal decorrem os princípios da proporcionalidade e o da razoabilidade.

No que tange ao contraditório e à ampla defesa, com previsão constitucional no artigo 5°, inciso LV da Constituição Federal (“aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes”), trata-se de garantia expressa pelo brocardo romano audiatur et altera pars (“ouça-se também a outra parte”) e decorre diretamente do princípio do devido processo legal.

Pelo princípio do contraditório é garantido que ninguém será afetado pelos efeitos de uma decisão sem ter tido a possibilidade de participar do processo no qual esta foi proferida e sem ter influído na formação do convencimento para a decisão judicial. Como visto, decorre do contraditório a necessidade de se dar ciência aos litigantes dos atos processuais praticados pelo juiz e pela parte adversária. Esse é o viés formal do contraditório que possui ainda a faceta substancial ou material referente à possibilidade de a parte influenciar de forma efetiva na decisão proferida pelo magistrado.

Importante salientar que a garantia do contraditório não admite exceções. Até mesmo nos casos de liminar inaudita altera pars, configurado o risco da demora, a parte requerida se manifestará e exercitará o seu direito pleno de defesa antes do provimento definitivo, ou seja, haverá um contraditório diferido ou postergado.

Pelo caráter imprescindível do exercício do contraditório, a falta dele acarreta nulidades. No processo cível, a decisão será nula caso à parte ré não tenha sido conferida a oportunidade de contestar a ação.

Enquanto o contraditório se refere ao direito fundamental de as partes serem ouvidas sobre atos processuais praticados pelo juiz e pela parte adversária, colaborando para a decisão a ser proferida (exercício da dialética processual), a ampla defesa consiste na garantia de a parte poder utilizar todos os meios disponíveis para efetivar a respectiva defesa, seja através de provas ou de recursos. Então, pode-se afirmar que somente será alcançada a ampla defesa num processo quando a todas as partes envolvidas no litígio forem oportunizadas o exercício, sem limitações, dos direitos assegurados pela legislação vigente (relativos à dedução das alegações produzidas e à produção de prova). Pode-se afirmar, a partir dos

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conceitos dados, que a garantia da ampla defesa está imbuída do efetivo exercício do contraditório.

Ademais a noção de tutela jurisdicional justa ainda está relacionada com o atendimento do princípio da duração razoável do processo introduzido no texto da Carta Magna com a Emenda Constitucional n° 45/2004 (artigo 5°, inciso LXXVIII). Vale ressaltar que o processo com tramitação demorada torna-se injusto e a solução nele disposta perde a efetividade, abalando a credibilidade do Poder Judiciário.

O escopo deste princípio está na efetividade da prestação jurisdicional, devendo o juiz empregar todos os meios e medidas judiciais para que o processo tenha uma razoável duração. Em razão de esse princípio ter sido um dos fundamentos da implantação do processo judicial eletrônico, ele será abordado com mais profundidade no quinto capítulo.

A igualdade das partes ou paridade de armas também constitui um princípio relevante para configurar o acesso à justiça. Esse princípio decorre do princípio da igualdade (ou isonomia) que constitui direito fundamental com previsão normativa em vários dispositivos do texto constitucional (preâmbulo; caput e inciso I do artigo 5º da CF/88, por exemplo)8. Também é positivado no artigo 7° do novo Código de Processo Civil (nomeado de princípio da paridade de tratamento processual), correspondente ao artigo 125, inciso I do Código de Processo Civil de 19739. O artigo 7° do CPC/201510 determina que está:

[...] assegurada às partes paridade de tratamento em relação ao exercício de direitos e faculdades processuais, aos meios de defesa, aos ônus, aos deveres e à aplicação de sanções processuais, competindo ao juiz velar pelo efetivo contraditório em casos de hipossuficiência técnica. (BRASIL, 2015)

Além disso, esse princípio está descrito no artigo 8° do Pacto de San José da Costa Rica.

De acordo com o que preceitua o princípio da paridade de tratamento das partes, estas devem receber tratamento processual isonômico, que propicie a

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BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 29 set. 2016.

9

BRASIL. LEI N° 5.869, DE 11 DE JANEIRO DE 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>. Acesso em: 11 set. 2016.

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BRASIL. LEI N° 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 20 set. 2016.

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litigância com as mesmas armas. Isso significa que no processo devem ser conferidos aos litigantes as mesmas oportunidades e iguais instrumentos processuais para que defendam seus direitos e pretensões.

Vale ressaltar que esse princípio da igualdade das partes está intrinsecamente relacionado com o princípio do contraditório e é regido pelo princípio da dignidade da pessoa humana. Neste diapasão, profícuo citar importante observação feita por Rodolfo Pamplona Filho, Renato Barros e Maurício Branco, segundo os quais não pode ser olvidado que:

[...] o principal bem jurídico tutelado pelo ordenamento é o respeito ao homem. Tal se dá mediante o reconhecimento da dignidade que lhe é intrínseca, permitindo que seja sujeito de direitos, em igualdade de condições com os demais seres humanos. (BRANCO; BARROS; PAMPLONA FILHO, 2012)

Se às partes no processo judicial não forem conferidas oportunidades isonômicas diante dos atos praticados, não há como se cogitar em respeito ao devido processo legal e ao acesso à justiça do litigante preterido.

O princípio da motivação das decisões judiciais também deve ser respeitado para a concretização do acesso à justiça. Com previsão no artigo 93, inciso IX da Constituição Federal de 1988, além de ter previsão em artigos dos Códigos de Processo Civil (1973 e 2015), este princípio é considerado uma garantia constitucional processual relacionada de modo direto com os princípios do devido processo legal, do contraditório e da ampla defesa e da publicidade dos atos processuais. O artigo 93, inciso IX da Carta Magna de 1988 estabelece que:

[..] todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação. (BRASIL,1988)11

Nem todos os doutrinadores conferem à motivação das decisões judiciais a natureza de princípio jurídico, mas o encaram como uma exigência técnica. Na defesa na natureza principiológica da motivação das decisões judiciais, Wilson Alves

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BRASIL. CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/ constituicaocompilado.htm>. Acesso em: 29 set. 2016.

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de Souza sustenta que esse princípio possui conteúdo próprio, mas “se insere no princípio maior, que é o princípio do processo devido em direito” (SOUZA, 2012, p. 274).

Pelo princípio da motivação das decisões, o magistrado, ao proferir o ato decisório, deverá apresentar às partes e aos demais interessados de maneira clara e objetiva como formou o seu convencimento. A abrangência desse princípio não se restringe apenas à sentença ou acórdão, mas deve atingir todas as decisões proferidas no processo. A exigência da motivação das decisões judiciais possui dupla função: endoprocessual e exoprocessual (ou extraprocessual) (DIDIER JÚNIOR; BRAGA; OLIVEIRA, 2010, p. 290). Pela primeira, a fundamentação das decisões permite que os litigantes, cientes das razões que formaram o convencimento do juiz, tenham a possibilidade de saber se foi realizado um exame cuidadoso da causa. Isso permite o controle da decisão pelas partes através dos recursos, bem como pelos juízes de hierarquia superior que terão subsídios para reformar ou não decisão. Já a função exoprocessual da motivação viabiliza o controle da decisão por sujeitos que não são litigantes nem atuam no processo. Nesse caso, o controle é realizado pela via difusa da democracia participativa, exercida pelo povo, tendo em vista que o processo judicial, em regra, é público e a função jurisdicional nele desempenhada é estatal.

Através do princípio da motivação das decisões, previsto no artigo 93, inciso IX da Constituição Federal, há possibilidade de controle das decisões, pelas partes, pela sociedade e pelos órgãos hierarquicamente superiores. Essa garantia constitucional evita decisões arbitrárias dos magistrados.

Por fim, outro princípio que contribui para a efetivação do acesso à justiça é o da publicidade dos atos processuais, previsto no artigo 5º, inciso LX da Constituição Federal de 1988, que estabelece que os atos processuais devem ser públicos e há a possibilidade de restrição desta publicidade quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem. Esse princípio traz em seu bojo o direito fundamental que permite o controle público dos serviços prestados pelo Poder Judiciário. Percebe-se, portanto, que nessa possibilidade de controle gerada há uma relação entre os princípios da publicidade e da motivação das decisões judiciais. A publicidade consiste num instrumento para que se verifique o cumprimento da motivação das decisões judiciais.

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Após esse escorço sobre a garantia do acesso à justiça, o passo seguinte é a abordagem de um panorama sobre o processo do trabalho, o que se fará através do exame dos princípios, das peculiaridades e do acesso à justiça no âmbito laboral.

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3 UMA VISÃO GERAL DO PROCESSO DO TRABALHO

Os direitos material e processual do trabalho possuem como marco inicial a Revolução Industrial na Europa que constituiu um movimento complexo com influências em vários aspectos (social, econômico, tecnológico) no século XVIII (PAMPLONA FILHO; SOUZA, 2013, p. 29). Nesse período, vigia a relação de trabalho subordinado e os conflitos decorrentes dessa relação eram resolvidos apenas mediante o uso da força de uma ou de ambas as partes (autotutela).

No contexto histórico brasileiro, a partir da independência em 1822, o surgimento do direito e do processo do trabalho foi retardado em razão do sistema rural escravocrata, vigente até 1888, e posteriormente da insipiência e significativa subordinação da classe operária aqui existente. Foi com a imigração europeia para trabalhar nas lavouras brasileiras nos séculos XIX e XX que se iniciou a formação de uma consciência de classe trabalhadora e direitos laborais.

Segundo Rodolfo Pamplona Filho e Tercio Souza:

[...] a primeira lei federal tratando sobre entidades sindicais no Brasil data de 1903. Essa legislação possuía como objeto a disciplina dos sindicatos rurais paritários [...]. Nesse contexto, em 1907 surgiram os Conselhos Permanentes de Conciliação e Arbitragem, previstos pela Lei 1.637, de 05.11.1907. (PAMPLONA FILHO; SOUZA, 2013, p. 32)

Vale ressaltar que o marco inicial no Brasil para o direito do trabalho foi a Revolução de 1930, no governo do Presidente Getúlio Vargas. Somente no ano de 1937 houve a previsão constitucional da Justiça do Trabalho, no título da Ordem Econômica e Social e não na parte do Poder Judiciário. A criação da Justiça do trabalho, no entanto, se deu com o Decreto-lei n° 1.237, em 1939, que conferia a esse órgão o poder de executar as respectivas decisões. O mencionado Decreto-lei atribuiu o caráter jurisdicional à Justiça do Trabalho, mas apenas com a Constituição de 1946 é que essa Justiça foi incluída no organograma do Poder Judiciário.

Com a instituição e criação da justiça do trabalho, ganha fôlego as regras que disciplinam o processo para resolver os conflitos decorrentes das relações laborais, consolidando assim o direito processual do trabalho.

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3.1 PRINCÍPIOS QUE REGEM O DIREITO PROCESSUAL DO TRABALHO

O processo do trabalho é constituído por um conjunto de regras e princípios destinados a disciplinar os atos e procedimentos dos órgãos jurisdicionais na solução dos conflitos de interesses individuais e coletivos, decorrentes das relações de trabalho, emprego e prestação de serviço.

O estabelecimento de uma definição ou um conceito de princípios jurídicos é uma incumbência difícil, haja vista que variados doutrinadores jusfilósofos adotam diferentes abordagens sobre esse tema, de acordo com o contexto social e político que vivenciaram. No jusnaturalismo, os caracteres, funções e objetivos dos princípios são diferentes dos considerados pelos pensadores juspositivistas e pelos pós-positivistas.

Como não consiste objeto deste trabalho a exposição e análise detalhada sobre o debate dos jusfilósofos acerca do conceito dos princípios, apresentaremos sumariamente as principais ideias defendidas por alguns doutrinadores acerca deste tema.

Ronald Dworkin (2012) foi o jusfilósofo que se encarregou em apresentar um modelo normativo que se baseou no reconhecimento dos princípios como normas jurídicas. Nessa tangente, ele elaborou uma crítica ao juspositivismo e fez a distinção lógica entre regras, princípios e políticas.

Segundo Dworkin (2012), “política” seria uma espécie de padrão que determina um objetivo a ser atingido e se consubstancia de forma geral numa melhoria em algum aspecto econômico, político ou social para a comunidade. No que tange às “regras”, Dworkin mantém para elas as definições dos positivistas e acrescenta a estas outras normas que são os “standards” ou princípios que para ele também possui força normativa. Para ele, princípios são padrões que devem ser observados por serem uma exigência de justiça ou equidade ou outra dimensão da moralidade. De acordo com esse doutrinador, a aplicação das regras deve ser de maneira do “tudo ou nada”, de forma disjuntiva, ou seja, confrontando o texto da lei com os fatos, ou a regra é válida ou não. Já os princípios não fixam condições para sua aplicação e possuem uma dimensão de peso a ser utilizada em caso de colisão. De acordo com as ideias de Dworkin, a função dos princípios é orientar uma razão para decidir em certo sentido quando os direitos forem controvertidos.

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O jus filósofo alemão Robert Alexy (2015), por sua vez, considera os princípios como mandados de otimização, pois podem ser equiparados a valores. Os princípios, para este doutrinador, são normas que ordenam que algo seja realizado na maior medida possível dentro das possibilidades jurídicas e fáticas existentes. No desenvolvimento de sua teoria sobre os princípios, Alexy (2015) possui uma visão não positivista e entende que o Direito precisa ser correto, além de positivado, para ser legítimo, ou seja, deve ser atrelado a uma pretensão de correção. Alexy (2015) parte de críticas à teoria de Dworkin (2012) para construir a definição de princípios jurídicos. Na distinção entre regras e princípios, Alexy (2015) sustenta vários critérios. Dentre eles, destacamos o da generalidade. Para Alexy (2015), este é critério de distinção utilizado com mais frequência, segundo o qual os princípios são normas com grau de generalidade relativamente alto, enquanto as regras possuem grau de generalidade relativamente baixo. De acordo com esse autor, as normas podem ser distinguidas em regras e princípios e entre ambos não existe apenas uma diferença gradual, mas uma diferença qualitativa.

Em geral, a doutrina moderna confere três funções (RODRIGUEZ, 1978, p. 17) aos princípios no contexto do ordenamento jurídico. A primeira função é a fundamentadora das demais normas, ou seja, nos princípios é que as demais normas encontram seu fundamento de validade. A segunda função dos princípios é a interpretativa, haja vista que os princípios orientam a interpretação do ordenamento jurídico. De acordo com Wilson Alves de Souza, a função “interpretadora” dos princípios é inegável e se manifesta quando “determinado caso é resolvido, buscando-se a melhor solução nos princípios jurídicos” (SOUZA, 2012, p. 77). Por fim, a função supletiva ou integradora dos princípios é o papel que estes possuem de suprir eventual lacuna do sistema conferindo-lhe unidade e coerência.

No que tange ao Direito Processual do Trabalho, José Rodrigues Pinto (2005), com base na diferença que ele aponta entre princípios, peculiaridades e técnicas e levando em conta as especificidades do processo laboral, sistematiza a seguinte classificação dos princípios do processo trabalhista: princípios constitucionais (juízo natural, devido processo legal, isonomia, garantia do controle jurisdicional, motivação das decisões, revisibilidade das decisões, amplo defesa e contraditório) e princípios gerais (imparcialidade do juízo, simetria do tratamento

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processual das partes, publicidade dos atos processuais, lealdade processual, preclusão, celeridade e economia processual).

Ademais, Rodrigues Pinto (2005) também considera como fundamentos do processo do trabalho, além dos princípios acima elencados: as peculiaridades do direito processual do trabalho vigentes (conciliabilidade, representação paritária das partes) e emergentes (inaceitação da inépcia, julgamento sem petição, pluralização dos dissídios individuais); as peculiaridades da legislação (instauração de ofício da instância; triplo grau de jurisdição, instância única, poder normativo dos tribunais, capacidade postulatória do leigo ou jus postulandi); e as técnicas de procedimento (oralidade, concentração de atos, instrumentalidade do processo, inquisitoriedade, inidentidade física do juiz com a causa).

Para esse autor, não há distinção de função entre princípios e peculiaridades, a diferença entre ambos está no alcance. O princípios são gêneros e as peculiaridades, espécies. Aqueles estruturam o “tronco comum do processo, dizendo respeito a todos os sistemas processuais” (PINTO, 2005, p. 55). Já as peculiaridades completam os princípios no âmbito de cada sistema processual e conferem identidade peculiar de cada ramo. As técnicas, por outro lado, estão relacionadas “à noção de procedimento, sendo, portanto, meios adequados para obter certo resultado, admitindo opções, portanto.” (PAMPLONA FILHO; SOUZA, 2013, p. 41).

A doutrina de Carlos Henrique Bezerra Leite (2011), por sua vez, categoriza os princípios que regem o processo do trabalho em: informativos; fundamentais; princípios comuns ao processo civil; e princípios peculiares à seara processual trabalhista.

Os princípios informativos, também denominados de princípios-tronco, são tidos como meras regras informativas do processo. São considerados axiomas e, por isso, servem de base para a elaboração da teoria geral do processo. Não necessitam de demonstração, são universais e, por tal razão, são praticamente incontroversos. Não se baseiam noutros critérios, a não ser os estritamente técnicos e lógicos, e não possuem conteúdo ideológico significativo. As espécies de princípios informativos são o princípio lógico, o princípio jurídico, o princípio político e o princípio econômico.

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O princípio lógico se relaciona à lógica processual e consiste em descobrir a verdade, evitando os erros, através da escolha dos fatos e forma mais aptos para tanto. Já princípio jurídico é o que proporciona às partes na demanda, mediante regras previstas, a isonomia e a justiça na solução do conflito. Por sua vez, o princípio político busca prover os direitos dos cidadãos com o mínimo de sacrifício da liberdade individual e com a máxima garantia social (PINTO, 2005, p. 60). Através deste princípio, é fixado o dever do magistrado de proferir sentença mesmo na hipótese de lacunas. O princípio econômico busca concretizar que as lides não sejam tão custosas e que durem o tempo razoável. De outro lado, este princípio objetiva efetivar o acesso dos pobres ou dos economicamente hipossuficientes aos serviços do Poder Judiciário, mediante promoção das assistências jurídica e judiciária e da gratuidade da justiça.

A categoria dos princípios fundamentais ou constitucionais que baseiam o processo do trabalho abarca os princípios gerais do processo, muitos dos quais foram abordados no capítulo anterior. De acordo com Flávia M. Guimarães Pessoa e Mayara V. de Jesus (2015), o direito processual não pode ser examinado de forma isolada do direito constitucional, em razão do fenômeno da constitucionalização que conferiu à Carta Magna a função de elemento interpretativo e de integração do direito ordinário. Dentre eles: princípio do devido processo legal; princípio do acesso à justiça ou inafastabilidade do controle jurisdicional, ou, ubiquidade, ou, indeclinabilidade da jurisdição; princípio da igualdade ou isonomia; princípio do contraditório; princípio da ampla defesa; princípio da imparcialidade do juiz; princípio da motivação das decisões; e princípio da razoável duração do processo.

Ademais, o processo do trabalho é disciplinado por muitos princípios que também são aplicados no direito processual civil. Dentre eles: princípio dispositivo ou da demanda; princípio inquisitivo ou do impulso oficial; princípio da instrumentalidade; princípio da impugnação especificada; princípio da estabilidade da lide; princípio da economia processual; princípio da perpetuatio jurisdicionis; princípio do ônus da prova; princípio da oralidade; e princípio da lealdade processual.

De acordo com o princípio dispositivo ou da demanda, no processo, a iniciativa de provocar a tutela jurisdicional cabe à parte interessada. No processo do trabalho, a este princípio há exceções como a da reclamação trabalhista promovida

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por ofício oriundo da Delegacia Regional do Trabalho (prevista no artigo 39 da Consolidação das Leis do Trabalho) e da instauração de ofício da execução da sentença (artigo 878 da CLT).

Pelo princípio inquisitivo ou do impulso oficial, após o ajuizamento da ação, ao magistrado cabe o dever de conduzir o processo, exercendo os poderes a ele conferidos pelo ordenamento jurídico. No processo trabalhista, há algumas hipóteses previstas na Consolidação das Leis do Trabalho que operacionalizam esse princípio (artigo 878 sobre a execução de ofício da sentença, por exemplo).

O princípio da instrumentalidade processual tem previsão normativa, sem essa denominação expressa no texto legal, no novo Código de Processo Civil (2015), nos artigos 188, 277 e 288, §2° (correspondentes do CPC de 1973 são os artigos 154, 244 e 249, §2º).12 Estes dispositivos legais preceituam que os atos processuais serão considerados válidos se cumprirem a finalidade que motivaram a sua prática ainda que realizados de modo diferente do que o que a lei determina para a prática dele. Pelo princípio da instrumentalidade, os atos processuais só possuem forma determinada, quando a lei a exige. Ainda assim, há possibilidade de aproveitar ato processual praticado de forma diversa do que a prevista em lei, se a finalidade foi cumprida.

O princípio da impugnação especificada tem previsão legal no artigo 341 do Código de Processo Civil de 2015 (correspondente ao artigo 302 do CPC/73), segundo o qual é de incumbência da parte demandada manifestar-se precisamente sobre os fatos narrados na inicial. A inobservância do princípio acarreta a presunção de serem considerados verdadeiros os fatos não impugnados, ressalvadas as hipóteses elencadas nos incisos dos referidos artigos.

O princípio da estabilidade da lide informa que a parte demandante não poderá mais modificar a demanda sem a concordância do demandado, se este já foi citado para se pronunciar sobre os pedidos e pretensões do autor (artigo 329 do Código de Processo Civil de 2015). O pedido do autor de alteração do pedido e da causa de pedir só pode ser feito até o saneamento do processo: antes da citação não terá necessidade de anuência do réu, mas, depois da citação, o réu deverá concordar.

12

BRASIL. LEI N° 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 23 nov. 2016.

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