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DISCIPLINA NORMATIVA DO PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO

5 O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO

5.3 DISCIPLINA NORMATIVA DO PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO

Curial frisar que o processo judicial eletrônico foi vislumbrado como uma das soluções para minimizar o problema da demora no trâmite do processo judicial. Ademais, alguns doutrinadores já identificaram novos princípios jurídicos, relacionados ao processo eletrônico (princípio da conexão, por exemplo).

Diante disso, antes da abordagem das leis que regem o processo judicial eletrônico, necessário o exame do princípio relacionado à implantação dele e aos novos princípios que são apontados pela doutrina como peculiares ao processo judicial eletrônico.

Vale salientar ainda que se aplicam e devem ser garantidos no processo judicial eletrônico todos aqueles princípios historicamente aplicados ao tradicional

processo, como foi elencado no capítulo 3 sobre o processo do trabalho. Os direitos e garantias processuais já existentes devem ser respeitados e efetivados no processo eletrônico. A mudança engendrada se refere à forma, ao meio de praticar os atos processuais e visualizá-los. Este fato não deve macular os princípios e garantias processuais já conquistadas.

Nesse tópico, a intenção é tratar dos princípios que fundamentaram a criação desse novo modo de procedimento judicial e dos princípios processuais apontados pela doutrina como peculiares ao processo judicial eletrônico. Cumpre destacar que a análise principiológica de um instituto jurídico é fundamental em qualquer estudo, haja vista que os princípios são fontes de direito, que, no âmbito do processo judicial, devem orientar os magistrados na interpretação e aplicação das regras.

O princípio que fomentou a implantação do processo judicial eletrônico foi o princípio da duração razoável do processo, que busca assegurar o direito a um processo sem dilações indevidas e também pode ser denominado de princípio da celeridade processual. O PJe foi eleito pelo CNJ e pelos tribunais pátrios como uma das soluções para o problema da morosidade do Poder Judiciário.

Segundo Fredie Didier Jr. (2005), o princípio da razoável duração do processo é corolário do devido processo legal e decorrente do princípio da inafastabilidade e do superprincípio da dignidade da pessoa humana.

O princípio da duração razoável do processo tem previsão constitucional expressa no artigo 5°, inciso LXXVIII57

da CF/88, com redação conferida pela Emenda Constitucional n° 45/2004, que positivou a Reforma do Poder Judiciário.

Por esse princípio da duração razoável do processo ou da celeridade, impera a lógica que um processo cumpre seu resultado útil na medida em que a respectiva tramitação se dê num lapso temporal razoável para se atingir o seu desiderato. Isso significa que o processo deve transcorrer numa velocidade suficiente para ser eficaz e estabelecer, no tempo razoável, a solução do conflito e restabelecer a paz.

A Emenda Constitucional n° 45/2004 não foi pioneira em prever expressamente o princípio da duração razoável do processo. Antes dela, o Código de Processo Civil de 1973, no artigo 125, inciso II58, já previa expressamente esse

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“Artigo 5º. [...] LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação.”

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BRASIL. LEI N° 5.869, DE 11 DE JANEIRO DE 1973. Institui o Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5869.htm>. Acesso em: 11 set. 2016.

princípio. Alguns doutrinadores, a exemplo de Fredie Didier Jr., consideram que essa garantia teve previsão inaugurada no ordenamento constitucional brasileiro com a norma do parágrafo 2º do artigo 5º da CF, e, como corolário direto do devido processo legal, tinha aplicabilidade imediata por força do parágrafo 1º do artigo 5º da Carta Magna.

Ademais, a Convenção Americana de Direitos Humanos59 (Pacto de San José da Costa Rica), incorporada ao direito brasileiro com a publicação do Decreto 67860, de 09/11/1992, prevê no artigo 8°, inciso l, que:

Toda pessoa tem o direito a ser ouvida com as devidas garantias e dentro de um prazo razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem os seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. (BRASIL, 1992)

No novo Código de Processo Civil (2015), a previsão expressa desse princípio é feita no artigo 4°, que apresenta a seguinte redação: “As partes têm direito de obter em prazo razoável a solução integral da lide, incluída a atividade satisfativa.” 61

Flávia Moreira Guimarães Pessoa e Dilson Cavalcanti Batista Neto classificam o princípio da duração razoável do processo como um direito fundamental processual cujo obrigado é o próprio Estado. Esses autores entendem que foi importante a positivação do referido princípio no rol dos direitos e garantias fundamentais da nossa Constituição Federal pela Emenda Constitucional n° 45/2004, mesmo que a duração razoável do processo seja consectário lógico de outras garantias processuais expressamente previstas. Isso porque vivenciamos o auge de um processo de transformações que “se iniciam com alterações no direito processual, em nível infraconstitucional, introduzidas ao longo dos últimos anos.

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Convenção Americana de Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.conectas.org/arquivos/editor/files/Conven%

C3%A7%C3%A3o%20Americana%20dos%20Direitos%20Humanos.pdf>. Acesso em: 11 set. 2016. 60

BRASIL. DECRETO N° 678, DE 6 DE NOVEMBRO DE 1992. Promulga a Convenção Americana sobre Direitos Humanos (Pacto de São José da Costa Rica), de 22 de novembro de 1969.

Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D0678.htm>. Acesso em: 11 set. 2016. 61

BRASIL. LEI N° 13.105, DE 16 DE MARÇO DE 2015. Código de Processo Civil. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/lei/l13105.htm>. Acesso em: 18 maio 2015.

Esta inserção é a expressão do objetivo de todas outras inovações trazidas pela Reforma do Judiciário” (PESSOA; BATISTA NETO, 2009, p. 05).

É nítido que a demora na tramitação processual não só promove o sacrifício do direito reclamado e defendido pelas partes, mas ainda enseja o enfraquecimento do Estado, haja vista que o processo judicial é um dos instrumentos de exercício da função estatal da jurisdição. Em razão dessas decorrências gravosas do retardamento processual, o princípio da duração razoável do processo ganha destaque e muitas foram as tentativas implementadas para efetivá-lo, principalmente em relação a modificações legais de institutos processuais promovidas nesse sentido (por exemplo, as reformas do Código de Processo Civil de 1973, em relação ao processo de execução, à uniformização da decisões, aos recursos, dentre outras).

Vale salientar que, em nome da defesa do princípio da duração razoável do processo, não deve qualquer autoridade ou funcionário público exercer uma tramitação veloz do processo a ponto de se sacrificar a segurança jurídica, o contraditório, a ampla defesa e, enfim, os direitos fundamentais das partes para a efetivação do devido processo legal. Tal atuação não asseguraria a razoável duração do processo como o próprio nome do princípio evidencia e sim resultaria numa celeridade sem qualidade na prestação jurisdicional, que poderia fatalmente acarretar soluções injustas.

Importante destacar, ainda, que há demandas que pela própria complexidade que envolve necessitam ser mais demoradas para que a solução justa seja imposta. A duração razoável do processo deve, pois, ser aplicada em respeito e sopesamento a todos os outros princípios processuais e constitucionais.

A lentidão do processo não é um fato peculiar e isolado na prestação jurisdicional do Brasil, mas um problema que permeia a realidade de diversos países. Também não se trata de um problema novo, mas um obstáculo antigo a ser resolvido. A Corte Europeia dos Direitos Humanos (que desempenha um papel muito relevante na proteção dos direitos do homem no continente europeu), por exemplo, nos entendimentos expostos como justificativas de seus julgamentos, deixa claro que não prega a efetivação de uma justiça de forma instantânea, mas, consideradas as circunstâncias de cada caso concreto, devem ser observados três critérios objetivos para se mensurar a duração razoável do processo: a

complexidade questão objeto do processo; o comportamento das partes e respectivos procuradores; e o modo de atuar do órgão jurisdicional (NICOLAU, 2011, p. 11).

O que se pretende afastar com o princípio da duração razoável do processo são as dilações processuais indevidas. Sobre o significado e extensão dessa expressão, há doutrina que entende que, além da inércia desarrazoada do órgão jurisdicional encarregado da tramitação processual, não deve ser nela incluído o comportamento inerte das partes (por entender ser um critério de menor importância na aferição da lentidão processual) nem o desleixo em relação a prazos processuais prefixados (NEVES, 2009, p. 68). Outra vertente (TUCCI, 1999, p. 56), por sua vez, entende que o comportamento das partes deve sim ser levado em conta para aferir a existência de uma dilação processual indevida (atuação dolosa e desproporcional da parte no sentido de retardar o processo, por exemplo).

O princípio da duração razoável do processo está intrinsecamente relacionado com o princípio da concentração dos atos processuais. As contemporâneas relações sociais, políticas e econômicas imprimem urgência nas prestações de serviços que as cercam e a tramitação processual foi abarcada por este contexto: da solução das demandas e a efetivação das decisões sem desperdiçar o tempo disponível e sem praticar atos desnecessários.

Como já foi exposto, o processo judicial eletrônico foi vislumbrado em razão da necessidade de efetivação do princípio da duração razoável do processo que passou a ser positivado no artigo 5°, inciso LXXVIII da CF/88 com a EC n° 45/2004. O PJe foi idealizado como um dos propulsores de celeridade processual no Poder Judiciário: foi criado para reduzir o tempo de tramitação do processo com a utilização de recursos da tecnologia e, enfim, para abreviar a solução dos conflitos entre os litigantes.

No que tange ao desiderato para o qual foi idealizado, o processo eletrônico apresenta vantagens nítidas se comparado ao processo tradicional. Essas vantagens estão relacionadas diretamente à celeridade e à economia processuais, à segurança e ao acesso ao processo de forma permanente (se mantidas as condições de conexão e de programação), mesmo em horários e dias que o fórum não tem atendimento ao público (acesso remoto).

Em relação às vantagens relacionadas à celeridade processual, tem-se: realização de atos processuais como rotinas automáticas pelo sistema do PJe (autuação, distribuição, numeração, marcação de audiências, juntadas, conclusões, verificação de prazos, etc.); tendência de eliminação do atendimento de balcão pelas Secretarias; despachos em série; movimentação em bloco; geração automática de comunicações processuais (intimações, citações, ofícios, etc.); e giro processual maior (eliminação dos gargalos ou tempo morto do procedimento). Para a manutenção e melhoria contínuas do sistema do processo judicial eletrônico, é necessário que haja investimentos na formação continuada dos operadores, na pesquisa constante para a descoberta de novas ferramentas e novos conhecimentos, na busca de alternativas para problemas gerados pela desconexão (haja vista que o sistema só funciona se houver conexão com a internet).

Sobre os princípios peculiares ao processo judicial eletrônico, a doutrina de José Eduardo de Resende Chaves Junior (2014) defende que a mudança do meio de tramitação processual engendrada pelo processo judicial eletrônico afetou o conteúdo do processo judicial como forma de solução de conflitos. Essa alteração imprimiu a necessidade de atualização da teoria geral do processo e consequentemente novos princípios ou características do processo judicial eletrônico foram desenvolvidos. Nos estudos realizados no âmbito do grupo de pesquisa da Escola Judicial do TRT-MG -GEDEL, dez princípios relacionados à virtualização do processo foram vislumbrados, quais sejam: o princípio da conexão; o princípio da imaterialidade; o princípio da intermidialidade; o princípio da hiper- realidade; o princípio da interação; o princípio da instantaneidade; o princípio da desterritorialização; o princípio da automatização ou da responsabilização algorítmica; o princípio da transparência tecnológica; e o princípio da proteção aos dados sensíveis.

O princípio da conexão que fundamenta o processo judicial eletrônico, de acordo com José Eduardo de Resende Chaves Jr. (2015), se contrapõe ao princípio da escritura que lastreia o processo tradicional com autos em papel e cuja exata noção é extraída do brocardo latino "quod non est in actis non est in mundo" (isto é, "o que não está nos autos não está no mundo"). Com base no princípio da conexão, o magistrado pode formar seu convencimento com elementos que não necessariamente estão nos autos, mas que são extraídos do ambiente virtual. A

justificativa para a aplicação desse princípio no processo judicial eletrônico é que, na hodierna era tecnológica que vivenciamos, não prepondera mais a separação entre o que está no processo e o que está no mundo. Sob esse argumento muitas decisões foram proferidas nos tribunais trabalhistas pátrios. Um exemplo ocorreu no processo tombado sob o número MS-0000027-82.2013.5.08.000062 que tramitou no Tribunal Regional do Trabalho da 8ª Região. Nesses autos, foi extinto sem julgamento do mérito o mandando de segurança por perda do objeto, haja vista que o Juízo verificou a celebração de acordo entre as partes em reclamatória trabalhista. Ocorre que a notícia do acordo firmado entre os litigantes na ação trabalhista não veio aos autos do mandado de segurança, mas foi obtida diretamente pelo Desembargador Relator através de consulta ao portal eletrônico do tribunal. O julgador, nesse caso, considerou que a conexão abriu perspectivas novas no que tange à busca da verdade real e virtual e esse fato acarreta alterações significativas na dinâmica processual quanto ao ônus probatório. O desembargador relator entendeu que com o novo princípio da conexão os recursos da informática e internet passaram a exercer influência sobre os princípios jurídicos processuais e conferiram um novo contorno à teoria geral tradicional do processo.

Mas a aplicação do princípio da conexão gera controvérsias doutrinárias. Os dissidentes entendem que não pode ser conferida à conexão a natureza de princípio (haja vista que os princípios não nascem de um grau zero de sentido e possuem um profundo enraizamento fenomenológico e arraigada carga histórica). Ademais, para os contrários ao princípio da conexão, existe um forte caráter inquisitivo o fato de o julgador, em busca de uma suposta verdade real, buscar no meio digital informações que não estejam no processo. Por fim, defendem que o princípio da escritura mostra-se mais democrático, seguro e igualitário do que a prática que se busca com o denominado princípio da conexão (STRECK, 2015).

Quanto ao princípio da imaterialidade, José Eduardo de Resende Chaves Jr. chama atenção para o fato de o processo judicial eletrônico possuir como característica a desmaterialização dos autos. Isso significa que os autos do processo eletrônico e os respectivos atos processuais deste se aproximam ainda mais e

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BRASIL. Tribunal Regional do Trabalho 8ª Região. DECISÃO NO PROCESSO N° 0000027- 82.2013.5.08.0000, DE 25 DE ABRIL DE 2013. Disponível em:

<http://www.trt8.jus.br/index.php?option=com_wrapper&view=wrapper&Itemid=338>. Acesso em: 09 jan. 2016.

ambos são certificados de forma imaterial (digital). Por conseguinte, “os autos seguem como a pura certificação imaterial dos atos processuais.” (CHAVES, 2015, p. 09).

Por esse princípio da imaterialidade, também decorre que as noções de processo, procedimento e autos tendem a se aproximar, haja vista que no meio digital acabam por não terem os respectivos conceitos misturados em virtude na ideia de fluxo, de impulso e movimento. O verbo “desmaterializar”, no contexto desse princípio do processo eletrônico nada tem a ver com o sentido de passagem para o mundo místico ou espiritual obviamente, mas diz respeito à transferência do mundo dos átomos (da matéria) para o meio dos bits (da linguagem das máquinas). O autor ressalta ainda que o princípio da imaterialidade não significa oposição à realidade, pois o virtual não se opõe ao real e sim ao atual (apesar de existir entre o atual e o virtual uma profunda interação).

Do princípio da intermidialidade, extrai-se que o processo judicial eletrônico é um “processo de conjunção, interação e contaminação recíproca entre várias mídias” (CHAVES, 2015, p. 16). Isso significa que a adoção do processo eletrônico é a transição de um processo rigidamente fixado, com registro material no papel, para um processo desmaterializado, fluído. À primeira vista, soa que a transição para o processo eletrônico consistiria apenas na passagem do meio de comunicação – do papel para o meio eletrônico. No entanto, a imaterialidade do processo eletrônico significa mais, pois o meio de comunicação dele não é unívoco, haja vista que a informática possui recursos que permitem registros que transcendem a linguagem escrita, agregando sons, imagens e até imagens-sons em movimento nos autos. É permitido no processo convencional (de papel) registros de som e imagem eletrônicos. Ocorre que essa incorporação é precária, compartimentalizada, segmentada, pois desafia sempre uma transposição para a escrita. Segundo José Eduardo de Resende Chaves, “a possibilidade da interação entre essas várias mídias dentro do processo virtual o tornam, sem qualquer dúvida, muito mais complexo que o processo tradicional registrado, quase que completamente, na forma escrita.” (CHAVES, 2015, p. 16).

No que tange ao princípio da hiper-realidade, José Eduardo de Resende Chaves Junior sustenta que, no processo eletrônico, a oralidade pode ser totalmente preservada na medida que atos orais, como a audiência, podem ser mantidos na

sua integralidade sonora nos autos, mediante arquivos eletrônicos de voz. Já no processo tradicional, a escritura aprisiona e engessa a realidade que fica condicionada ao papel, na opinião do referido autor. Além disso, no convencional processo em papel, há a mitigação da oralidade que depende em algum grau da escrituração. Enfim, o processo virtual hiperrealiza os atos, não se trata de representação da realidade, mas de apresentação desta.

Sobre o princípio da interação, José Eduardo de Resende Chaves Jr. (2015) assevera, antes de explicá-lo, que o princípio do contraditório precisa ser atualizado, a fim de que não continue sendo usado de forma abusiva e desvirtuado de sua nobre finalidade. O meio eletrônico pode conceder a oportunidade de exponencializar o princípio do contraditório, tornando-o interativo, isto é, imediado, instantâneo, em tempo real. O processo eletrônico possibilita a superação do tradicional contraditório considerado linear, segmentado e estático pelo referido autor. Ele sustenta que:

[...] os estudiosos da nova teoria das redes entendem que o conceito de 'participação' é um conceito antigo, linear, de um mundo vertical e menos democrático. Sugerem justamente o conceito de 'interação', que é mais compatível com o mundo conectado e plugado, e-democratizado. 'Participação' pressupõe participar de algo alheio. Interação pressupõe participar/interargir de algo próprio.

Enfim, o princípio do contraditório está mais ligado, portanto, à democracia procedimental, competitiva, ao passo que o princípio da interação decorre de uma nova visão política, participativa e colaborativa. (CHAVES, 2015, p. 22).

O princípio da instantaneidade, segundo José Eduardo de Resende Chaves Jr., é denotado no processo eletrônico haja vista que este tramita num meio em que tudo é mais rápido. A conexão presente no processo judicial eletrônico aproxima, enquanto a interação, a hiper-realidade e a intermidialidade promovem dinâmica e a imaterialidade confere flexibilização. Todos esses fatores em conjunto acabam por contribuir para a exponencialização da celeridade, ou seja, o processo em rede tende a promover uma instantaneidade em prol da celeridade e com mais direcionamento àquela.

O princípio da desterritorialização do processo judicial eletrônico decorre da desmaterialização do processo, que acarreta a desmaterialização da ideia de foro, de acordo com José Eduardo de Resende Chaves Jr. (2015) O autor usa como

exemplo a realização da penhora on line através do convênio do Poder Judiciário com o Banco Central (BACENJUD). Não há a necessidade da expedição de cartas precatórias para a penhora de créditos em contas bancárias, pois com apenas alguns cliques essa constrição patrimonial pode ser realizada no âmbito do território brasileiro. Ademais, o referido autor sustenta que:

O princípio da desterritorização em sede de processo eletrônico significa, pois, bem mais do que a mera transposição física de territórios e circunscrições jurisdicionais e até de jurisdições, significa a fluência da efetividade dos direitos, que não pode mais ser contida simplesmente pelas limitações materiais do espaço físico. (CHAVES, 2015, p. 24).

Pelo princípio da automatização ou responsabilidade algorítimica do PJe, há uma transformação considerável no aspecto da segurança dos atos processuais. No processo convencional, essa segurança é resguardada em razão da responsabilização pessoal dos servidores do Poder Judiciário, pela fé pública nos atos processuais que realizarem. No PJe, a responsabilidade pela segurança não é mais exclusivamente pessoal dos funcionários da Justiça, mas é objetivada e direcionada ao algorítimo do sistema. Segundo José Eduardo de Resende Chaves Jr. (2015), tal objetivação da confiança do processo reflete na racionalidade do