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ANÁLISE CRÍTICA DO PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO

6 PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO TRABALHISTA: NOVO PARADIGMA DE ACESSO À JUSTIÇA

6.3 ANÁLISE CRÍTICA DO PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO

O PJe evidentemente trouxe muitas vantagens à tramitação e à visualização processuais para implementar a celeridade e a economia no processo trabalhista. Todavia, não são apenas vantagens que processo judicial eletrônico trabalhista apresenta. Existem duas espécies de problemas detectados: em relação ao sistema do processo judicial eletrônico em si e falhas de versões do sistema PJe instalados nos órgãos da Justiça do Trabalho. Os problemas atinentes ao PJe em si são aqueles que se referem à interface entre o sistema virtual de processo judicial eletrônico, a realidade social brasileira e a estrutura dos órgãos da Justiça do Trabalho. Por suas vezes, os problemas relacionados às versões implantadas do PJe na Justiça do Trabalho são os temporários e se referem a falhas do programa em determinado estágio e não ao processo virtual em si. Esta última ordem de problema pode ser contornada com o aperfeiçoamento e correções das versões do sistema de PJe adotadas.

Primeiramente, vale salientar que o PJe foi adotado pelo CNJ como o pretexto de unificar o sistema de processo virtual no Judiciário brasileiro. Mas isso ainda não é uma realidade, nem na Justiça do Trabalho. Isso porque, no Judiciário trabalhista, apesar da adoção e implantação do PJe como sistema unificado de tramitação eletrônica, os diversos tribunais trabalhistas utilizam versões diferentes do sistema PJe. Isso acarreta a necessidade de impressão e escaneamento dos autos na hipótese de incompatibilidade das versões do sistema de PJe adotadas pelos tribunais trabalhistas quando há a necessidade de comunicação processual entre eles. Além disso, na Justiça do Trabalho existem a concomitância do PJe com outros sistemas de processamento digital (e-Samp, por exemplo).

Outra questão é que o PJe aumenta consideravelmente o giro processual e isso implica na quantidade e a qualidade do trabalho suportado e desempenhado pelos servidores, magistrados e advogados do Judiciário trabalhista. Em razão da rápida rotatividade do PJe, a quantidade de trabalho aumentou nas unidades da Justiça do Trabalho. O número de servidores, em contrapartida, não sofreu e não possui perspectivas de ter alterações no atual contexto nacional de cortes orçamentários.

Vale salientar que com o PJe trabalhista, o aumento da quantidade de serviço nas unidades judiciárias implicou na intensa exposição dos magistrados e servidores a trabalho em condições que tendem a gerar maiores prejuízos a saúde como, por exemplo, o acometimento de doenças visuais (pela exposição maior às telas de computador) e de doenças associadas ao movimento repetitivo (ex: LER Dort). Nem todos os tribunais trabalhistas adotam medidas de proteção ao trabalho dos servidores, como a instalação de proteção nas telas de computador para minimizar o efeito da intensa exposição de luz na visão. A implantação de medidas de proteção à saúde dos servidores é necessária para a minimizar as doenças relacionadas ao excesso de trabalho perante telas de computador e manter o quadro pessoal ao evitar licenças para tratamento, ainda mais diante de um contexo atual de cortes orçamentários e de mudança na legislação previdenciária para aumentar o período produtivo.

Ademais, o PJe exige uma reformulação do quadro de servidores nas unidades judiciárias trabalhistas haja vista que os usuários necessitam ter noção de informática e um conhecimento global do processo. Isso porque com o PJe trabalhista há a necessidade de o servidor efetuar o ato processual em sua inteireza até quando o cumprimento não depender mais de sua atuação. Ocorre que o aperfeiçoamento de servidores nesse sentido exige tempo e gera custos aos tribunais trabalhistas. Além disso, nem sempre é possível modificar a organização da unidade judiciária sem acarretar prejuízo à consecução dos serviços processuais.

Vale ressaltar que há potencial óbice ao acesso à justiça pelo sistema do PJe em relação aos requisitos técnicos para a instalação dele num computador (elencados no item 5.4)68. Não podemos deixar de reconhecer como louvável o fato

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O sistema do PJe trabalhista, na versão atual, exige as seguintes configurações técnicas para ser instalado: o navegador deve ser o “Mozzila Firefox” na versão 33.1 (por enquanto o sistema não é compatível com a versão mais moderna de 43.0); o sistema operacional instalado no

de o sistema do PJe dispor de um código aberto, ou seja, pode ser instalado sem custos. Também cabe elogio a necessidade de certificação eletrônica, que confere segurança e privacidade de dados ao sistema do PJe.

Ocorre que os programas e a configuração de uma máquina para a instalação do sistema do PJe possui condições (versões específicas e por vezes ultrapassada de um determinado programa). Esse aspecto torna a instalação complexa e as alterações automáticas do software de um computador inviabilizam o funcionamento do sistema. Ademais, é necessário um conhecimento de informática intermediário para compreender os requisitos técnicos do PJe e instalar o sistema. Esse tema gera controvérsias, pois muitos advogados entendem ser absurda a imposição da inserção tecnológica com PJe, que pode ensejar prejuízos profissionais ao advogado que não se enquadra.

Os tribunais trabalhistas devem disponibilizar equipamentos de informática e suporte para o auxílio dos advogados e jurisdicionados. Vale salientar, ainda, que o Conselho Superior de Justiça do Trabalho (CSJT) mantém em seu site alguns manuais de como instalar esses programas e como acessar e operar as funções do PJe trabalhista.

Nas hipóteses de jus postulandi (artigo 791 da CLT), permitido no primeiro grau da Justiça do Trabalho, a questão do acesso à justiça em relação aos requisitos técnicos exigidos para a instalação do PJe merece uma análise cautelosa, principalmente quando se trata de uma sociedade que não possui nível de inclusão digital satisfatório como a brasileira e considerando as condições de hipossuficiência da maioria dos cidadãos que utilizam os serviços do Judiciário Trabalhista. À primeira vista, pode-se vislumbrar que há possibilidade de mácula ao acesso à justiça para os litigantes sem advogado pelas exigências técnicas do sistema do PJe. Analisando a legislação sobre PJe, percebemos que a Lei n° 11.419/2006 e as Resoluções do CNJ (n° 185/2013) e do CSJT (n° 136/2014) prevêem regras com a finalidade de respeitar a garantia do acesso à justiça, nos casos em que os litigantes exercem o jus postulandi. O artigo 6°, parágrafo 1° da Resolução 136/2014 determina que partes e terceiros desassistidos de advogados podem apresentar peças processuais e documentos em papel nas varas trabalhistas computador deve ser ou Windows XP ou 2003 ou Vista ou Windows 7 ou o 8 (não há compatibilidade com o Windows 10 até o momento); o plugin do navegador deve ser o Java nas versões 7 ou 8.

para serem digitalizados e inseridos no processo pelos servidores públicos da unidade judiciária. Essa regra supre a dificuldade que os litigantes, na hipótese de jus postulandi, tenham em praticar os atos processuais no PJe.

Há ainda como outra forma de garantir o acessso à justiça no jus postulandi, determinações legais (artigo 10°, parágrafo 3° da Lei n° 11.419/2006; artigo 18 da Resolução do CNJ n° 185/2013; e artigo 10 da Resolução do CSJT n° 136/2014) para que os tribunais disponibilizem, nas respectivas unidades, servidores e equipamentos para auxiliar as partes (e advogados) na missão de acessarem o PJe. Isso, no entanto, atesta a dificuldade de instalação e utilização que o processamento eletrônico propicia aos usuários do Poder Judiciário trabalhista, principalmente nesse primeiro momento de ruptura e transição e em razão das parcas condições de inclusão digital da população brasileira. Importante é que os tribunais trabalhistas cumpram a contento as referidas disposições legais e regulamentares para não macular o acesso à justiça.

Outra crítica ao sistema do PJe em si é o fato de ele depender da internet e se não houver bom sistema de conexão nos tribunais trabalhistas ou pelos usuários jurisdicionados e advogados, haverá problemas para acessar os autos e praticar atos processuais, o que pode acarretar máculas ao acesso à justiça. Essa dependência da internet, como exposto no item anterior, gera vantagens como a transparência, a ubiquidade e a celeridade. Mas a dependência não mostra-se vantajosa ao acesso à justiça quando houver falhas de conexão. Nesse espeque, o sistema do PJe exige manutenção constante dos equipamentos e a contratação de um serviço de internet de excelência, o que onera os tribunais trabalhistas. Na hipótese do sistema do PJe por motivo técnico ser acometido de indisponibilidade, os advogados e jurisdicionados que forem prejudicados devem atentar para que o prazo seja automaticamente prorrogado ao primeiro dia útil seguinte à solução do problema do sistema.

No que tange aos problemas de versões do sistema do PJe já instaladas no Judiciário trabalhista, existem algumas limitações que podem obstar algum aspecto do acesso à justiça. Dentre estes o da produção de prova documental oriunda de meio físico (não virtual) e o das ferramentas para a acessibilidade do sistema do PJe.

A questão da limitação prova documental obtida fora do meio virtual que precisa ser anexada aos autos do processo eletrônico constitui um problema ao acesso à justiça. Isso porque, para anexar documentos, o sistema exige um determinado formato (pdf) e tamanho reduzido do arquivo (na atual versão do PJe, há a capacidade para poucos bits). Essa restrição dificulta sobremaneira a produção de prova documental.

Nem todo documento que precisa ser anexado pela parte foi produzido em meio virtual e por isso tem que ser digitalizado para ser inserido nos autos do PJe. Para garantir a qualidade da digitalização e a nitidez do objeto escaneado, por vezes a imagem do documento é produzida com um arquivo grande (muitos bits) não suportado pelo sistema do PJe.

A limitação do formato e do tamanho do arquivo é um falha grave haja vista que restringe o direito de produção de prova. Nas condições atuais impostas pelo sistema do PJe trabalhista, se o documento a ser anexado aos autos virtuais não se adequa aos limites exigidos, duas opções se apresentam: ou junta um documento sem nitidez e despido de qualidade visual ou não se consegue anexá-lo.

A solução para esse grave problema é aperfeiçoar o quanto antes o sistema do PJe para conferir uma margem ampla nesses critérios de juntada de documentos físicos aos autos virtuais e garantir o direito de produção de prova. Esse aperfeiçoamento do sistema gera custos aos tribunais trabalhistas, que deverão contratar e dispor de maior maior capacidade de armazenamento do sistema de PJe para garantir o direito de produção de provas obtidas em meio físico (fora do sistema do PJe) aos jurisdicionados. A curto prazo, enquanto o aperfeiçoamento do sistema não for efetivado, o advogado ou o litigante, em caso de dificuldade de juntar o documento dentro dos limites e manter a nitidez, pode se dirigir à unidade judiciária para apresentá-lo fisicamente. É o que prevê o artigo 11, parágrafo 5° da Lei 11.419/2006.

No que tange à acessibilidade e inclusão de cidadãos portadores de deficiências visuais, o PJe não possui ainda ferramenta para inseri-los, mas apenas o projeto iniciado em 2012 para a adoção de padrões internacionais de usabilidade. O referido projeto tem por objetivo realizar uma revisão geral no sistema e implementar atualizações que garantam o cumprimento de regras voltadas para a acessibilidade. Ademais, a formação de grupo de trabalho específico foi iniciada com

o intuito de aperfeiçoar o sistema ao torná-lo progressivamente inclusivo, com a possibilidade de poder ser utilizado pelos portadores de deficiência visual de forma independente.

No contexto atual, no entanto, o PJe deixa a desejar na questão do acesso à justiça para os portadores de necessidade especial em razão de não possuir funcionalidades que garantam acessibilidade. Enquanto não se efetiva o aperfeiçoamento do sistema nesse quesito, a solução imediata será aplicar por analogia a regra do artigo 6°, parágrafo 1° da Resolução 136/2014 do CSJT. O usuário portador de necessidade especial que inviabilize o acesso e a utilização do sistema do PJe (deficiência visual, por exemplo) se encaminhará à unidade judiciária e apresentará peças e documentos em papel para que os servidores os digitalizem e promovam a inserção no sistema de processo virtual.

Vale salientar que em setembro de 2016, o CNJ, através da Resolução n° 245/2016, alterou o artigo 18, parágrafo 1° da Resolução n° 185/2013 para prever que os órgãos do Poder Judiciário devem promover atendimento técnico presencial às pessoas com deficiência ou que comprovem idade igual ou superior a sessenta anos. Essa regra, portanto, visa garantir o acesso à justiça no PJe aos portadores de deficiência e aos idosos, mediante suporte técnico presencial, enquanto o sistema não seja aperfeiçoado.

Vistos os problemas que o sistema do PJe possui e que a afeta a prática e realidade dos usuários do Judiciário Trabalhista, é importante salientar que, diante desse contexto, é necessário o constante aperfeiçoamento do PJe trabalhista em busca do respeito às garantias constitucionais que circundam o acesso à justiça. É evidente que a utilização das inovações tecnológicas na seara do direito processual contribui para uma marcha processual com mais agilidade. No entanto, não se deve buscar apenas a celeridade da prestação do serviço jurisdicional, sob pena de restringir garantias processuais relevantes. Não há dúvidas sobre a eficiência e o benefício do PJe trabalhista aos jurisdicionados e usuários no que tange à celeridade processual, mas não é cabível retrocessos no acesso à justiça decorrentes da virtualização do processo judicial trabalhista. Ademais, a prestação jurisdicional rápida não significa justiça realmente eficaz. A eficácia das decisões nos processos judiciais apenas é vislumbrada se respeitados os princípios essenciais norteadores do processo no provimento.

Inegável as dificuldades ensejadas pela mudança de paradigma acarretada com o manuseio virtual dos processos trabalhistas. A mudança de consciência dos usuários é exigida haja vista que o processo não possuirá mais a forma física em papel mas será acessado por uma tela de computador através da internet. Isso exigirá dos tribunais trabalhistas a aquisição de aparelhos de informática com boa capacidade de escancear e digitalizar, com telas de boa qualidade para reproduzir os documentos e um serviço de acesso à internet e de armazenamento de dados de excelência. Ademais, para o PJe possa cumprir o seu desiderato há também a necessidade de servidores qualificados, em número adequado à quantidade de processos dos tribunais trabalhistas e com acesso a medidas de proteção e segurança do trabalho para evitar problemas de saúde decorrentes do uso intenso de telas de computador e equipamentos de informática.

Por fim, no que tange à capacidade de o processo eletrônico solucionar o problema da celeridade processual no Judiciário, importante atentar que, por mais que se busque a redução de entraves burocráticos e formais da tramitação dos processos, o PJe não pode ser considerado como a única solução para o implemento da duração razoável do processo. Isso porque o problema da celeridade processual decorre de causas de diferentes ordens (legislação processual, estrutura do Judiciário, aspecto cultural e socioeconômico). A modificação do processo em papel para o eletrônico, em princípio, não se revela eficaz para acelerar a produção das decisões ou para tornar frutíferas as execuções trabalhistas, por exemplo, se não for acompanhada de outras providências específicas.

7 CONCLUSÃO

A análise do processo judicial eletrônico como um novo paradigma de acesso à justiça no âmbito do Poder Judiciário trabalhista perpassa por um caminho de estudos e investigações.

Primeiramente foi visto que o acesso à justiça, aqui entendido como garantia, não se restringe apenas em conferir meios para efetivar o direito de postulação de um cidadão perante o Poder Judiciário diante de um conflito de interesses. O acesso à justiça, na ordem do Estado Democrático de Direito, será promovido se aos cidadãos forem conferidos também o direito de obter, no processo, uma solução justa, numa duração razoável, efetivados o contraditório e a ampla defesa e obedecidas todas as garantias inseridas no devido processo legal.

Necessário também foi a análise das linhas gerais do processo do trabalho. Esse ramo do direito, teve instituição tardia no Brasil, em razão do modelo de sociedade escravocrata e do engajamento sindical tardio dos trabalhadores brasileiros, após a abolição da escravatura. A semente do direito laboral material e processual no Brasil começou com a chegada dos imigrantes europeus para trabalhar nos cafezais e culminou na década de 1930 (no governo de Getúlio Vargas). O processo do trabalho é um ramo do direito público fundamentado por princípios e garantias fundamentais constitucionais e do processo em geral e que possui princípios específicos e particularidades em razão do direito marterial que tutela. Nesse espeque, com base na doutrina de Carlos Henrique Bezerra Leite e José Augusto Rodrigues Pinto, apontamos como particularidades do processo do trabalho: a conciliabilidade, a inaceitação da inépcia, o julgamento sem petição, a pluralização dos dissídios individuais, a instauração de ofício da instância, o triplo grau de jurisdição, a instância única, o poder normativo dos tribunais e a capacidade postulatória do leigo (jus postulandi). Além disso, vale salientar que o acesso à justiça no processo do trabalho, além do respeito aos princípios e garantias fundamentais constitucionais e processuais, se dá com algumas particularidades aplicadas à assistência judiciária gratuita e à gratuidade da justiça. Vale ressaltar a importância da autorização do jus postulandi na implementação da garantia do acesso à justiça no âmbito do Judiciário trabalhista.

Outro aspecto que mereceu estudo para o presente trabalho foi a análise da teoria dos paradigmas. A ciência normal é baseada num referencial que vigora por um lapso de tempo e coordena toda a produção de conhecimento pelos cientistas. Esse referencial é denominado paradigma. Quando o paradigma vigente não consegue solucionar os problemas da ciência, ocorrem anomalias e crise. Não adianta tentar aparar as arestas dos problemas para que o paradigma em crise os solucione e vice-versa. A crise e as anomalias são pré-requisitos para a revolução científica que acarreta o desenvolvimento e o progresso das ciências. Esse modelo de revolução científica ilustradoo pelo físico norteamericano Thomas Kuhn necessita de adaptações quando aplicado às ciências sociais e humanas, haja vista que estas, via de regra, possuem alguns paradigmas concorrentes e contemporâneos. Ao responder as críticas à obra “A Estrutura das Revoluções Científicas”, Thomas Kuhn reconheceu algumas falhas nas suas ideias e formulou o conceito de “Matriz Disciplinar”, que segundo alguns doutrinadores é o que melhor se adequa às ciências humanas e sociais, nas quais se inclui o Direito.

No âmbito jurídico processual, o estudo dos paradigmas tem como referência Jürgen Habermas. O paradigma jurídico procedimental proposto por Jürgen Habermas possui como pré-requisito a compreensão da sociedade para a interpretação da legislação vigente, ou seja, a percepção da realidade social consiste no ponto de partida para as interpretações das normas jurídicas. O paradigma do Estado Democrático de Direito impõe a observância das normas constitucionais, que, dotadas de força normativa, fundamentam todo o sistema jurídico. No âmbito jurídico processual, a busca pela efetividade dos direitos fundamentais é o ponto fulcral no exame da sua conformação constitucional. A perspectiva democrática da garantia do acesso à justiça exige a previsão de instrumentos (perpetrados pelas políticas públicas estatais ou decorrentes de modificações da técnica processual) que sejam capazes de efetivar a participação dos litigantes no processo até a decisão final.

A prestação da função jurisdicional pelo Poder Judiciário na solução de conflitos de interesses através do processo com respeito às garantias fundamentais do devido processo legal e em cumprimento à efetivação do acesso à justiça há tempos passou a ser acometida de anomalias principalmente no que tange à celeridade. A Emenda Constitucional n° 45/2004 inseriu no artigo 5° da Carta Magna

o inciso LXXVIII que positiva o princípio da duração razoável do processo. Algumas alterações na legislação processual foram realizadas para que o processo tramitasse em tempo razoável. Mas não lograram o êxito esperado, haja vista que o problema da celeridade na prestação jurisdicional não se restringe ao processo em si, mas abrange questões de diversas ordens: estrutura do Poder Judiciário, problemas culturais e sociais. Como uma das soluções para o problema da celeridade processual, e em razão da otimização e praticidade ensejadas pela aplicação dos recursos da informática em diversos setores da sociedade, o Conselho Superior de Justiça, através da celebração de Acordos de Cooperação com tribunais pátrios, lançou o software do Processo Judicial Eletrônico (PJe) para uniformizar e racionalizar a tramitação processual virtual em diversos órgãos do Poder Judiciário. Vale ressaltar que existem diversos sistemas de processos eletrônicos em funcionamento no país no âmbito do Judiciário. A proposta com a adoção do sistema do PJe é unificar e padronizar as bases desses processos digitais pré-existentes no Poder Judiciário.

O processo judicial eletrônico disciplinado pela Lei n° 11.419/20016 já está implantado na Justiça do Trabalho e nessa seara é regulamentado pela Resolução