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INCLUSÃO DIGITAL NO BRASIL E PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO TRABALHISTA

5 O PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO NA JUSTIÇA DO TRABALHO

5.4 INCLUSÃO DIGITAL NO BRASIL E PROCESSO JUDICIAL ELETRÔNICO TRABALHISTA

A informática foi uma das maiores descobertas do século XIX. Mantém-se em crescente e constante atualização e inovação contínua, de forma que a sociedade mundial deve buscar a inserção neste contexto de tecnologia. Atualmente, é muito difícil algum ser humano ficar alheio aos recursos proporcionados pela informática.

Inclusão digital pode ser conceituada como a democratização do acesso aos recursos proporcionados pela tecnologia da informação, ou seja, a possibilidade de inserção de todos no mundo informatizado.

No contexto de sociedade informatizada que existe atualmente, pode-se afirmar que a inclusão digital contribui para a inclusão social, pois busca capacitar o cidadão a manusear e operar o computador e a desenvolver habilidades para o domínio das ferramentas tecnológicas. Em direção contrária, a exclusão digital pode ensejar um distanciamento do indivíduo na realidade da sociedade informatizada.

Importante salientar que a inclusão digital deve ser promovida pelas iniciativas públicas de fomento à cultura digital e de promoção da internet como ferramenta social conforme determina o artigo 27 da Lei n° 12.965/201464. Essa Lei institui o “Marco Civil da Internet”, ao prever os fundamentos, os princípios, os objetivos, os deveres, os direitos e as garantias para o uso da internet no Brasil. A partir dela, tornou-se dever do Estado possibilitar a capacitação para o uso seguro, consciente e responsável da internet como ferramenta para o exercício da cidadania, a promoção da cultura e o desenvolvimento tecnológico.

Os fundamentos do uso da internet no Brasil, de acordo com o artigo 2° da Lei n° 12.965/2014, são: o respeito à liberdade de expressão; o reconhecimento da escala mundial da rede; os direitos humanos, o desenvolvimento da personalidade e o exercício da cidadania em meios digitais; a pluralidade e a diversidade; a abertura e a colaboração; a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor; e a finalidade social da rede.

Os princípios que devem nortear o uso da internet no Brasil, conforme o artigo 3° da mencionada Lei, são: garantia da liberdade de expressão, comunicação e manifestação de pensamento, nos termos da Constituição Federal; proteção da privacidade; proteção dos dados pessoais, na forma da lei; preservação e garantia da neutralidade de rede; preservação da estabilidade, segurança e funcionalidade da rede, por meio de medidas técnicas compatíveis com os padrões internacionais e pelo estímulo ao uso de boas práticas; responsabilização dos agentes de acordo com suas atividades, nos termos da lei; preservação da natureza participativa da rede; e liberdade dos modelos de negócios promovidos na internet, desde que não conflitem com os demais princípios estabelecidos nessa Lei. Os princípios expressos no artigo 3° da Lei n° 12.965/2014 não excluem outros previstos no ordenamento

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BRASIL. LEI N° 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014. Estabelece princípios, garantias, direitos e deveres para o uso da Internet no Brasil. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l12965.htm>. Acesso em: 13 out. 2016.

jurídico pátrio relacionados à matéria ou nos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte, conforme preceitua o parágrafo único do artigo 3° da Lei n° 12.965/2014.

Os objetivos elencados no artigo 5° da Lei n° 12.965/2014 para o uso da internet no Brasil são: direito de acesso à internet a todos; acesso à informação, ao conhecimento e à participação na vida cultural e na condução dos assuntos públicos; da inovação e do fomento à ampla difusão de novas tecnologias e modelos de uso e acesso; e da adesão a padrões tecnológicos abertos que permitam a comunicação, a acessibilidade e a interoperabilidade entre aplicações e bases de dados.

Mister esclarecer, no entanto, que o sujeito que está incluído digitalmente não é apenas aquele que acessa a internet, mas o que consegue utilizar os recursos da tecnologia da informação para obter benefícios pessoais e profissionais, para otimizar e melhorar as condições de vida, através da obtenção de aprendizado, da facilitação da comunicação, busca por oportunidades, etc.

Para ser implementada, então, a inclusão digital necessita de três instrumentos básicos, a saber: dispositivos para conexão, o acesso à rede e o domínio de tais ferramentas. Disso se extrai que o ideal de inclusão digital é que o cidadão precisa ter noção de como utilizar as ferramentas da tecnologia da informação e não apenas ter acesso a um computador conectado à rede.

A inclusão digital, portanto, está inserida no movimento mais amplo que consiste na inclusão social, tornando-se uma das metas de governo em diversos países na atualidade.

No campo da inclusão digital, no aspecto de desenvolvimento de uma sociedade inclusiva, o Brasil tem buscado implementar ações variadas com iniciativas que almejam garantir a ampliação do uso das tecnologias da informação e comunicação dos cidadãos, em especial dos grupos sociais excluídos. Dentre estas, destaca-se o projeto do governo federal “Computador para todos – Projeto Cidadão Conectado”, de novembro de 2005. Através desse programa de inclusão digital, o Governo Federal, juntamente com a iniciativa privada, facilita a aquisição de computadores pelos cidadãos. O intuito principal é de possibilitar para a população carente a compra de um equipamento com qualidade, sistema operacional e aplicativos em software livre.

O programa “Computador para Todos” possibilita a aquisição de computadores através da realização de financiamentos pelos cidadãos. Esses financiamentos podem ser realizados através do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e de redes varejistas privadas, que se cadastraram numa linha de crédito do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

Além do programa “Computador para todos”, do governo federal, alguns governos estaduais e poucos municipais possuem outros programas de inclusão digital que objetiva ampliar o número de cidadãos que sejam capazes de exercer participação na sociedade do conhecimento.

Dentre esses outros programas existentes no Brasil para a inclusão digital, tem-se: “Banda Larga nas Escolas”; “Casa Brasil”; Centros de Recondicionamento de Computadores (CRCs); Cidades Digitais; Computadores para Inclusão; Inclusão digital da juventude rural; Oficina para a Inclusão Digital; “Projeto Cidadão Conectado - Computador para Todos”; Plano Nacional de Banda Larga; Programa GESAC; Programa de Implantação de Salas de Recursos Multifuncionais; Programa de Inclusão Social e Digital; ProInfo Integrado; Redes Digitais da Cidadania; Telecentros; Territórios Digitais; e “Um Computador por Aluno”.

Vale salientar que parte-se do pressuposto que a utilização das tecnologias da informação deve ser ampliada a cada dia e quem não estiver inserido digitalmente enfrentará relevante limitação social, sem acesso a direitos e garantias relativos à cidadania. Aliado a esse fato existe a necessidade do acesso pleno à educação.

Em julho de 2003, iniciou-se o Programa GESAC (Governo Eletrônico-Serviço de Atendimento ao Cidadão), mediante parcerias entre órgãos do Governo Federal — Ministério das Comunicações, do Planejamento, da Educação, da Defesa e Instituto de Tecnologia da Informação. O Programa GESAC possui como objetivo a promoção da inclusão digital principalmente de pessoas sem condições de acesso à tecnologia e aos serviços de informação ao permitir o acesso à internet em alta velocidade (via satélite) nas escolas, unidades militares e telecentros.

O Programa Telecentro, mantido e criado pela Prefeitura de São Paulo, por sua vez, consiste num dos mais amplos programas de Inclusão Digital e Social: em março de 2007, havia 158 unidades (com 20 computadores e 1 impressora em cada unidade). Montados em várias regiões da capital paulista, o referido programa

oferece livre acesso à internet e cursos básicos e avançados de Informática, além de cursos outros a depender da necessidade local de cada unidade.

No estado do Rio Grande do Sul, foi implantado o Programa Sinergia Digital, idealizado e mantido pela PUC-RS e que atende crianças, adolescentes, adultos e pessoas da terceira idade, promovendo uma formação integral do assistido.

No Pará, existe o Programa de Democratização do Acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação (NAVEGAPARÁ), lançado em 30 de março de 2007. Consiste num programa do governo estadual paraense, que criou e busca expandir uma rede de comunicações para interligar, em toda a sua extensão territorial, as unidades de governo, como hospitais, postos de saúde, órgãos de segurança pública, instituições públicas de ensino e pesquisa, e espaços públicos outros de acesso geral da população.

O projeto “Cidades Digitais”, por sua vez, é um projeto governamental que tem por finalidade estimular o desenvolvimento dos municípios brasileiros através da utilização da tecnologia, com a disponibilização de acesso a internet em locais públicos.

No que pertine a dados estatísticos de acesso à internet em domicílios, de acordo com a última pesquisa realizada pelo IBGE, no Brasil 85,6 milhões de brasileiros (49,4% da população) dispõem deste serviço. Esses dados foram obtidos na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) de 201365. Essa pesquisa considerou o acesso à internet de pessoas com mais de 10 anos de idade que utilizaram esse serviço no mínimo uma vez num intervalo de 90 dias anteriores às entrevistas.

Vale salientar que esse foi o primeiro levantamento realizado pelo IBGE que registrou o acesso à internet por outros equipamentos além de computadores e notebooks. Na pesquisa anterior, realizada em 2011, foi obtido o índice de 46,5% da população que possuía conexão à internet através de microcomputadores. A pesquisa atual apontou uma queda nesse índice para 45,3% e mostrou também que 4,1% das pessoas se conectaram à rede através de outros dispositivos (televisões, smartphones, tablets).

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BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. PESQUISA NACIONAL POR AMOSTRA DE DOMICÍLIOS (PNAD), DE 2013. Disponível em:

<http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/trabalhoerendimento/pnad2013/>. Acesso em: 13 out. 2016.

Em relação ao local com maior percentual de conexão fixa, o Distrito Federal se destacou com 86%, enquanto o estado do Amapá possui o maior índice de conexão domiciliar móvel, com 91%.

No que tange às porcentagens por faixa etária, o maior índice de acesso à rede foi de jovens entre 15 a 17 anos (75,7%). Os números desse estudo mostraram que 32,4% dos usuários da internet no Brasil (27,8 milhões de pessoas) são estudantes. Já os idosos acima de 60 anos aparecem com o menor índice de acesso (12,6%). Essa pesquisa apontou ainda que a utilização da internet no Brasil cresce de acordo com o aumento do escolaridade.

Sobre o uso da internet entre as classes sociais, através dessa pesquisa pode se concluir que a utilização da internet está relacionada à renda familiar por pessoa: 23,9% da população com renda familiar de até um quarto do salário mínimo per capita possuem conexão doméstica à internet e 89,9% das famílias com renda familiar maior que dez salários mínimos por pessoa dispõem do acesso à rede.

Quanto ao entrelaçamento entre a inclusão digital e o processo judicial eletrônico, é clara a relação entre a necessidade de inclusão social digital em nosso país para que o PJe trabalhista tenha êxito em efetivar o acesso à justiça, os princípios processuais, os direitos e as garantias fundamentais, principalmente nas situações de jus postulandi.

É evidente, como já foi afirmado, que o Processo Judicial Eletrônico acarreta mudanças na forma da tramitação e andamento processuais e alterações da prática dos atos do processo. Essas mudanças necessitam se coadunar com os princípios e regras do sistema jurídico processual brasileiro.

Para acessar, juntar e inserir documentos no processo judicial eletrônico, é necessário ter acesso aos equipamentos eletrônicos e à internet, além de ter conhecimentos e noções de informática para a prática dos atos processuais. Em síntese, é necessário haver inclusão digital.

Ademais, para realizar a juntadas de petições e documentos é necessário ainda obter a certificação digital em entidade cetificadora (por exemplo, Caixa Econômica Federal). Por outro lado, a certificação digital possibilita a segurança da autenticidade dos atos processuais praticados no processo judicial eletrônico. O certificado digital constitui uma assinatura digital necessária para a visualização total

do processo e de cada ato processual, e da mesma forma para a assinatura de atos processuais pelos magistrados e servidores e de petições pelos advogados.

Ademais, atualmente, o sistema do PJe trabalhista, na versão atual, exige configurações de programas para ser acessado: o navegador deve ser o “Mozzila Firefox” na versão 33.1 (por enquanto o sistema não é compatível com a versão mais moderna de 43.0); o sistema operacional instalado no computador deve ser ou Windows XP ou 2003 ou Vista ou Windows 7 ou o 8 (não há compatibilidade com o Windows 10 até o momento); o plugin do navegador deve ser o Java nas versões 7 ou 8.

O fato de o PJe necessitar de inclusão social digital (longe de ser a ideal na realidade brasileira atual como foi abordado acima) e apresentar requisitos técnicos para a sua instalação, exige tratamento cauteloso da legislação e dos tribunais no sentido de superar a dificuldade inicial promovida pela inovação tecnológica para que não haja máculas ao acesso à justiça e ao devido processo legal.

Por outro lado, importante abordar que no seio da advocacia nem todos os profissionais inscritos na OAB concordam com a forma como foi implantado o processo judicial eletrônico (BARRETO, 2013). Essa parcela da advocacia entende que o conhecimento técnico exigido para utilizar esse sistema processual e os requisitos para o funcionamento dele acarretam um fator de exclusão profissional dos patronos que não estão inseridos no contexto digital. São constantes as críticas à implantação do PJe, por vezes caracterizada como rápida e insegura por essa parcela da advocacia. Ademais, acusam que o Poder Judiciário não se importou devidamente na promoção da inclusão digital dos advogados usuários do sistema, mas apenas com implantação do PJe para o cumprimento das metas que implementam a duração razoável do processo.

A OAB em geral considera que não houve humanização ou período de adaptação na implantação do processo judicial eletrônico para os advogados, o que fatalmente gerou a exclusão digital, principalmente dos profissionais que enfrentam dificuldades na utilização da tecnologia, como é o caso dos advogados idosos. A forma que a instituição encontrou na busca de solução para a situação de desigualdade entre os profissionais foi a promoção de cursos de capacitação digital voltados exclusivamente para os advogados e a facilitação na aquisição de equipamentos necessários para a utilização do PJe.

Em suma, o posicionamento da advocacia não é contrário ao processo eletrônico, mas à forma como se deu a implantação dele que não foi gradual nem segura e não se preocupou em evitar o alijamento dos cidadãos ao acesso à justiça.

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