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ACESSO À JUSTIÇA DO TRABALHO E JUS POSTULAND

3 UMA VISÃO GERAL DO PROCESSO DO TRABALHO

3.3 ACESSO À JUSTIÇA DO TRABALHO E JUS POSTULAND

Apresentadas considerações teóricas acerca dos princípios e ritos do processo do trabalho, passa-se à abordagem do acesso à justiça na seara laboral.

Vale frisar que o acesso à justiça já foi compreendido apenas como a garantia de conferir aos cidadãos meios que efetivassem o direito de pleitear direitos perante o Poder Judiciário. No Estado Democrático de Direito, a evolução do conceito de acesso à justiça foi promovida com a ampliação da abrangência da referida garantia.

Para Kazuo Watanabe (1988), o que deve ser perseguido é o acesso a uma ordem jurídica justa. Trata-se de um plus em relação ao acesso formal à justiça, haja vista que não basta garantir-se, formalmente, o acesso aos tribunais. No entanto, é necessário um efetivo acesso à justiça, em que sejam compensadas as desigualdades entre as partes e garantida a assistência aos necessitados, com ritos e estrutura que ensejem uma razoável duração do processo. Fredie Didier (2007), por sua vez, entende que, para o processo ser devido, ele há de ser tempestivo, efetivo e adequado (nos vieses subjetivo, objetivo e teleológico).

Já foi mencionado no capítulo anterior que vários fatores constituem obstáculos à efetivação e ampliação do acesso à justiça. Vale salientar que, dentre esses, três destacam-se no contexto social do nosso país, mormente entre o público que litiga na Justiça do Trabalho, a saber: a pobreza em termos financeiros (que atinge aproximadamente um terço da população brasileira); a ignorância (desconhecimento) do Direito; e uma visão bastante singular da lentidão do processo.

A jurisdição trabalhista possui jurisdicionados que, em geral, são alvos desses três óbices ao acesso à justiça. Em razão disso, para efetivar o devido processo legal e o acesso à justiça, após a Constituição Federal de 1988, o processo do

trabalho foi contemplado com três sistemas de acesso: jurisdição trabalhista individual; a jurisdição trabalhista normativa; e a jurisdição metaindividual.

A jurisdição trabalhista individual abrange os dissídios individuais cuja tramitação é disciplinada no título X, capítulo III da Consolidação das Leis Trabalhistas e subsidiariamente pelo Código de Processo Civil. Na fase da execução processual trabalhista, a aplicação legislativa subsidiária fica por conta da Lei de Execuções Fiscais (Lei n° 6.830/80).

A jurisdição trabalhista normativa, cujo processamento é previsto nos artigos 856 a 875 da Consolidação das Leis do Trabalho (e subsidiariamente pelo Código de Processo Civil), é destinada à solução dos dissídios coletivos, de competência originária dos tribunais trabalhistas, nos quais a solução do conflito é dada pelo Poder Judiciário ao exercer o poder normativo.

A jurisdição trabalhista metaindividual é destinada a título preventivo e reparatório dos direitos ou interesses difusos, coletivos stricto sensu e os individuais homogêneos. A utilização da jurisdição trabalhista metaindividual decorre da aplicação direta e simultânea dos artigos 129, incisos III e IX, 8º, inciso III e 114 da Constituição Federal; artigos 83, inciso III, 84 e 6º, “a” e “b” da Lei Complementar n° 75/93 (Lei Orgânica do Ministério Público da União); da Lei de Ação Civil Pública (Lei n° 7.347/85); e, por fim, do título III do Código de Defesa do Consumidor (Lei n° 8.078/90).

Em relação à primeira onda de acesso à justiça, relacionada à gratuidade da justiça e à assistência judiciária gratuita, no processo do trabalho, vislumbra-se o seguinte panorama.

Quanto à gratuidade da justiça, consiste na concessão legal de dispensa de pagamentos de custas processuais à parte que não dispõe de recursos financeiros, ou seja, é a isenção de emolumentos dos serventuários, custas e taxas do Poder Judiciário. O artigo 790, §3° da CLT prevê que a justiça gratuita pode ser concedida a pedido ou de ofício. A declaração de pobreza pode ser feita pelo advogado da parte, de acordo com a Orientação Jurisprudencial n° 304, da primeira Seção de Dissídios Individuais do TST.

No que tange à assistência judiciária gratuita, vale ressaltar que consiste na concessão legal à parte que não dispõe de recursos financeiros de ser assistida por advogado sem ter que suportar o encargo dos honorários advocatícios. No âmbito

do processo do trabalho, o deferimento de honorários depende da constatação de dois requisitos, conforme Orientação Jurisprudencial n° 305 da primeira Seção de Dissídios Individuais: o beneficio da justiça gratuita e a assistência por sindicato.

A lei processual civil disciplina apenas a assistência judiciária aos necessitados e determina que ela engloba a dispensa de despesas processuais obrigatórias (taxa judiciária, custa processual e emolumento). Ou seja, a assistência judiciária no âmbito do processo civil é o gênero do qual a gratuidade da justiça é espécie.

Já na legislação processual trabalhista, a gratuidade da justiça e a assistência judiciária gratuita são disciplinadas separadamente, em leis diferentes. A gratuidade foi tratada pela Lei n° 10.537/200218, que disciplina a taxa judiciária, a custa processual e o emolumento. A assistência judiciária gratuita possui respaldo legal na Lei n° 5.584/1970 19, que trata da postulação pelo empregado miserável. O artigo 14 dessa lei determina que a assistência judiciária aos necessitados da Lei nº 1.060/5020 será prestada por sindicato profissional ao qual pertence o trabalhador.

No processo trabalho, pela inteligência do artigo 18 da Lei n° 5.584/70, da súmula 219 do Tribunal Superior do Trabalho e das Orientações Jurisprudenciais 304 e 305 da Primeira Seção de Dissídios Individuais do TST, o serviço de assistência judiciária prestado pelo sindicato profissional não pode ser oferecido apenas aos associados. Ademais, na assistência judiciária do processo do trabalho, caberão honorários advocatícios reversíveis ao sindicato assistente de acordo com o artigo 16 da Lei n° 5.584/70, mas isso não é aplicado na hipótese de benefício da justiça gratuita.

Na Orientação Jurisprudencial da SDI 1 n° 30421, há o entendimento de que a prova da situação de miserabilidade econômica pode ser feita mediante simples

18

BRASIL. LEI N° 10.537, DE 27 DE AGOSTO DE 2002. Altera os arts. 789 e 790 da Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, sobre custas e emolumentos da Justiça do Trabalho, e acrescenta os arts. 789-A, 789-B, 790-A e 790-B. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L10537.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016. 19

BRASIL. LEI N° 5.584, DE 26 DE JUNHO DE 1970. Dispõe sobre normas de Direito Processual do Trabalho, altera dispositivos da Consolidação das Leis do Trabalho, disciplina a concessão e prestação de assistência judiciária na Justiça do Trabalho, e dá outras providências. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L5584.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016.

20

BRASIL. LEI N° 1.060, DE 5 DE FEVEREIRO DE 1950. Estabelece normas para a concessão de assistência judiciária aos necessitados. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L1060.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016. 21

Informação disponível em: <http://www3.tst.jus.br/jurisprudencia/OJ_SDI_1/n_s1_301.htm>. Acesso em: 15 nov. 2016.

declaração, na própria petição inicial ou em documento acostado à reclamação trabalhista.

No que tange à concessão do benefício da assistência judiciária gratuita ao empregador, há dissonância na doutrina e jurisprudência processuais.

Alguns autores, a exemplo dos Professores José Augusto Rodriques Pinto (2005) e Fredie Didier Jr. (2004), admitem a concessão dos benefícios da justiça gratuita aos empregadores indistintamente. O argumento desta primeira corrente é que a legislação sobre o referido tema determina a concessão do benefício da assistência judiciária gratuita para litigantes que amargarão prejuízo no sustento próprio com o custeio processual e tal contexto pode ser a realidade de muitos empregadores.

Numa posição intermediária, alguns autores como Carlos Henrique Bezerra Leite (2011), entendem que, por não haver previsão legal para a concessão da assistência judiciária ou justiça gratuita ao empregador, a este somente deve ser conferido tal benefício quando for pessoa física (empregadores domésticos e empresários individuais, por exemplo).

De outro lado, alguns julgados no Poder Judiciário trabalhista se manifestavam contrários à concessão da gratuidade da justiça e da assistência judiciária ao empregador. O argumento para esse entendimento levava em consideração principalmente a legislação do processo do trabalho. Tal posicionamento, em geral, considerava que o artigo 790, parágrafo 3º da CLT dispunha expressamente sobre a concessão do benefício da justiça gratuita àqueles que recebem salário igual ou inferior ao dobro mínimo legal. Vale salientar que o artigo 790 sofreu alteração em 2002 pela Lei n° 10.537/2002 que incluiu como beneficiários da gratuidade da justiça aqueles que declararem, sob as penas da lei, que não possuem condições de arcar com as custas processuais sem prejuízo do sustento próprio e de sua família. Ademais, também em razão da alteração legislativa, que acresceu o inciso VII ao artigo 3º da Lei 1.060/50, resta evidente que o empregador, pessoa natural ou jurídica, possui o direito à assistência judiciária gratuita, diante da comprovação da necessidade desse benefício.

Vale salientar que o artigo 1° da Lei nº 1.060/50, prevê que o benefício da assistência judiciária gratuita (que engloba gratuidade da justiça) é devido aos necessitados. O artigo 2° da Lei 1060/50 considera que necessitados são aqueles

cuja situação econômica não permite pagar custas do processo e os honorários de advogado, sem prejuízo do sustento próprio e da respectiva família.

No entendimento da Primeira Turma do Tribunal Superior do Trabalho22, o empregador pode ser beneficiário da justiça gratuita, mas ainda assim terá que pagar o depósito recursal. Isso significa que o benefício da justiça gratuita não alcança o depósito recursal, que constitui numa garantia do juízo e que destina-se à satisfação do crédito do reclamante. Para o TST, a exigência do depósito recursal possui previsão constitucional e, por isso, não viola o acesso ao Poder Judiciário. A única hipótese de isenção do depósito recursal trabalhista a empregador refere-se à massa falida. Consoante redação e inteligência da Súmula n° 86 do TST (BRASIL, 1994)23, não acarreta deserção de recurso da massa falida o não pagamento de custas ou de depósito do valor da condenação, mas esse benefício não se aplica à empresa em liquidação extrajudicial.

Ainda sobre o acesso à justiça nos tribunais trabalhistas, cabe ressaltar que a Defensoria Pública da União (DPU) tem a obrigação legal de prestar assistência jurídica integral aos necessitados, inclusive na Justiça do Trabalho, de acordo com o artigo 14 da Lei Complementar n° 80/1994 (que prevê normas institucionais da DPU, no Distrito Federal e nos Estados)24. Entretanto, embora haja a previsão constitucional (artigos 5º, LXXIV e 134 da CF) e legal e a evidente necessidade de atuação da Defensoria Pública no âmbito da Justiça do Trabalho, na prática o que se testemunha é o contrário.

Na Portaria nº 01 (BRASIL, 2007)25 da Defensoria Pública da União, de 08 de janeiro de 2007, verifica-se nos artigos 3° e 4° que a atuação desse órgão no âmbito das demandas trabalhistas só ocorrerá no atendimento da população carente não sindicalizada e nas unidades que disponham de estrutura para o patrocínio de

22

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. DECISÃO NO PROCESSO N° RR-32400- 90.2009.5.09.0094, DE 17 DE AGOSTO DE 2011. Disponível em:

<http://ext02.tst.jus.br/pls/ap01/ap_red100.resumo?num_int=165401&ano_int=2010&qtd_acesso=2 939345>. Acesso em: 05 dez. 2016.

23

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. SÚMULA N° 86, DE 26 DE SETEMBRO DE 1978. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/sumulas>. Acesso em: 05 dez. 2016.

24

BRASIL. LEI COMPLEMENTAR N° 80, DE 12 DE JANEIRO DE 1994. Organiza a Defensoria Pública da União, do Distrito Federal e dos Territórios e prescreve normas gerais para sua organização nos Estados, e dá outras providências. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/LCP/Lcp80.htm>. Acesso em: 08 dez. 2016. 25

BRASIL. Defensoria Pública da União. PORTARIA N° 1, DE 08 DE JANEIRO DE 2007. Regulamenta a assistência jurídica prestada pela Defensoria Pública da União em todo o país. Disponível em: <https://www.diariodasleis.com.br/busca/exibelink.php?numlink=1-196-29-2007-01- 08-1>. Acesso em: 05 dez. 2016.

causas laborais. Na realidade, a Defensoria Pública da União dificilmente patrocina reclamações trabalhistas perante a Justiça do Trabalho sob o argumento da falta de estrutura das unidades. Este argumento baseado na previsão do artigo 4° da Portaria n° 01/2007 da DPU atentam contra a atribuição constitucional da prestação gratuita e plena da assistência judiciária pelo Estado, que não poderá invocar justificativas de natureza política e orçamentária.

Por esta razão, em 2012, o Ministério Público Federal e o Ministério Público do Trabalho entraram com ação civil pública com pedido de liminar contra a União postulando que a Defensoria Pública da União promova a assistência jurídica no âmbito da Justiça do Trabalho às pessoas que não possuem condições de pagar os honorários advocatícios. Nessa ação, foi pedido a suspensão da aplicação da Portaria nº 1/2007 da DPU (que exime este órgão de prestar assistência jurídica aos hipossuficientes no âmbito da Justiça do Trabalho) e a prestação de assistência jurídica na seara laboral pela Defensoria Pública da União sob pena do pagamento de multa de dez mil reais. Foi requerido ainda nessa ação civil pública que a União fosse proibida de efetuar o pagamento de honorários advocatícios determinados nas instâncias judiciais em que a Defensoria Pública da União deve atender a integralidade dos cidadãos que não dispõem de recursos financeiros. A liminar e os pedidos foram indeferidos no primeiro grau da Justiça Federal em julho de 2012 e houve recurso, ainda não julgado, ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região. Enfim, a DPU, em geral, na prática, não atua na Justiça do Trabalho.

Além das medidas acima descritas, previstas no sistema processual trabalhista brasileiro, também constitui instituto que busca efetivar a garantia do acesso à justiça o jus postulandi.

Nas situações em que para demandar haja a exigência de advogado e quando a legislação não autoriza o jus postulandi, a efetivação do princípio do acesso à justiça se dará através da já abordada assistência judiciária gratuita aos que não tenham condições de arcar com os honorários advocatícios.

A regra geral do processo brasileiro é que a capacidade postulatória, pressuposto processual subjetivo, é inerente ao advogado. Via de regra, uma pessoa deve postular perante o Poder Judiciário com o patrocínio de um procurador devidamente inscrito na Ordem dos Advogados do Brasil (artigo 103 do

novo CPC). O artigo 133 da Constituição Federal prevê a indispensabilidade do advogado.

Excepcionalmente, alguns procedimentos admitem que uma pessoa exerça seu direito de ação e de defesa sem advogado. Esse é o caso do “habeas corpus”, do processo trabalhista e do procedimento nos Juizados Especiais, por exemplo.

Em linhas gerais, o jus postulandi, consiste na faculdade das partes (autora e ré) postularem perante o Poder Judiciário, num processo judicial, sem ter constituído advogado.

O jus postulandi foi criado na “Era Vargas”, com o intuito de incentivar os trabalhadores à sindicalização. O artigo 40 do Decreto n° 1.23726

, de 02 de maio de 1939, e o artigo 55, alínea “e” do Decreto n° 6.59627

, de 12 de dezembro de 1940, faziam a previsão do jus postulandi, ao autorizar a capacidade postulatória das partes no processo trabalhista. O instituto foi mantido com a entrada em vigor da Consolidação das Leis Trabalhistas (Decreto-Lei n° 5.452), em 1º de maio de 1943.

O caput do artigo 791 da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) prevê que “os empregados e os empregadores poderão reclamar pessoalmente perante a Justiça do Trabalho e acompanhar as suas reclamações até o final”. 28

A expressão “até o final” contida do texto do artigo 791 da CLT, segundo a maioria da doutrina, significa que o jus postulandi poderá ser utilizado pelas partes nas Varas do Trabalho (1° grau).

O artigo 839 da CLT prevê que a reclamação poderá ser apresentada pelos empregados e empregadores, ou pessoalmente ou por seus representantes, e pelos sindicatos de classe.

Em 06 de outubro de 1994, o STF, no julgamento da Ação Direta de Inconstitucionalidade nº 1.127-8, concedeu liminar com o entendimento de que a atuação de advogado não é imprescindível na Justiça do Trabalho, bem como nos Juizados Especiais e na Justiça de Paz.

26

BRASIL. DECRETO-LEI N° 1.237, DE 2 DE MAIO DE 1939. Organiza a Justiça do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/1937-1946/Del1237.htm>. Acesso em: 06 jan. 2017.

27

BRASIL. DECRETO N° 6.596 DE 12, DE DEZEMBRO DE 1940. Aprova o regulamento da Justiça do Trabalho. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1930-1949/d6596.htm>. Acesso em: 06 jan. 2017.

28

BRASIL. DECRETO-LEI N° 5.452, DE 1° DE MAIO DE 1943. Aprova a Consolidação das Leis do Trabalho. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto-lei/Del5452.htm>. Acesso em: 30 maio 2016.

O Tribunal Superior do Trabalho, em 30 de abril de 2010, publicou a Súmula 425, que diz:

[..] o jus postulandi das partes, estabelecido no artigo 791 da CLT, limita-se às Varas do Trabalho e aos Tribunais Regionais do Trabalho, não alcançando a ação rescisória, a ação cautelar, o mandado de segurança e os recursos de competência do Tribunal Superior do Trabalho. (BRASIL, 2010)29

Vale ressaltar que o instituto do jus postulandi objetiva promover o direito de postular em juízo à parte hipossuficiente, que não possui condições financeiras para constituir um advogado. No entanto, ao se valer do jus postulandi, o jurisdicionado, por não possuir conhecimentos jurídicos, pode tornar-se vulnerável e acometido pela desigualdade nas condições de atuação processual. Com base nesse argumento, alguns autores se manifestam contrários30 à aplicação e utilização do jus postulandi.

Vê-se que muitas são as controvérsias acerca da admissão desse instituto. Uma delas diz respeito à cogitação da revogação tácita do jus postulandi com a entrada em vigor da Lei n° 8.906/1994, atual Estatuto da Advocacia e da Ordem dos Advogados do Brasil. O artigo 1°, inciso I da mencionada Lei, determina que são atividades privativas da advocacia a postulação a qualquer órgão do Poder Judiciário e aos juizados especiais. Há doutrina para ambos os lados. O Supremo Tribunal Federal, ao decidir a medida liminar na Ação Direta de Inconstitucionalidade tombada sob o número 1127-831

, suspendeu até a decisão final, a eficácia, dentre outros dispositivos, do inciso I do artigo 1º da Lei n° 8.906/1994. A Corte Suprema entendeu no acórdão, publicado em 29 de junho de 2001, que é inaplicável aos juizados de pequenas causas, à Justiça do Trabalho e à Justiça de Paz a regra que as postulações judiciais são privativas de advogado. Em maio de 2006, o STF, na decisão final da ADIN n° 1127-8, por maioria de votos, julgou procedente a ação e declarou a inconstitucionalidade da expressão "qualquer" prevista no inciso I do artigo 1º da Lei n° 8.906/1994, concluindo pela prescindibilidade de advogados nos processos de competência dos Juizados Especiais e da Justiça do Trabalho.

29

BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. SÚMULA N° 425, DE 30 DE ABRIL DE 2010. Disponível em: <http://www.tst.jus.br/sumulas>. Acesso em: 30 maio 2016.

30

Neste sentido, José Augusto Rodrigues Pinto, Sérgio Pinto Martins e Valentin Carrion, por exemplo. 31

BRASIL. Supremo Tribunal Federal. DECISÃO DE JULGAMENTO DA ADI N° 1127-8, DE 29 DE JUNHO DE 2001. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP= AC&docID=346838>. Acesso em: 06 maio 2016.

Outra polêmica existente em relação ao jus postulandi diz respeito à questão da aplicação deste instituto nas relações de trabalho lato sensu ou apenas o cabimento nas relações de emprego, de acordo com a literalidade dos artigos 791 e 839 da CLT. Uma primeira corrente (ALMEIDA, 2012, p. 102) entende que o jus postulandi é cabível nas demandas referentes à relação de trabalho (lato sensu), haja vista que a Emenda Constitucional n° 45/2004 ampliou a competência da Justiça do Trabalho para dirimir não apenas conflitos decorrentes das relações de emprego. A segunda corrente (SARAIVA, 2009; LEITE, 2011) faz uma interpretação restritiva da Consolidação das Leis Trabalhistas e apenas admite a utilização do jus postulandi ao empregado, sem incluir outras espécies de trabalhadores.

No âmbito do dissídio coletivo, o jus postulandi não é aplicado, haja vista que são as entidades sindicais (sindicatos da categoria econômica ou profissional) que postulam nessa demanda. A expressão “interessados”, utilizada no artigo 791, parágrafo 2º, se refere a associações sindicais às quais é facultada assistência por advogado.

Além da opção do jus postulandi em que o jurisdicionado, por sua conta e risco, formula seus pleitos judiciais, na Justiça do Trabalho, há a possibilidade de a parte se dirigir à vara ou a um órgão específico que reduz a reclamação trabalhista a termo, ou seja, um servidor reduz os fatos narrados pelo cidadão num termo que funcionará como a petição inicial do processo. Essa é a hipótese do artigo 840, §2º da CLT.

Percebe-se que o instituto do jus postulandi pode ser enquadrado na primeira onda renovatória de efetivação do acesso à justiça, que visou sanar problemas de cunho econômico que impediam a concretização da referida garantia.

4 COMPREENSÃO DA CONTRIBUIÇÃO DA ALTERAÇÃO DOS PARADIGMAS