• Nenhum resultado encontrado

O papel do design gráfico na construção de um livro infantil

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "O papel do design gráfico na construção de um livro infantil"

Copied!
95
0
0

Texto

(1)

DO RIO GRANDE DO SUL

CAMILA VOLPATTO HOFFMANN

O PAPEL DO DESIGN GRÁFICO NA CONSTRUÇÃO DE UM LIVRO INFANTIL

Ijuí (RS) 2012

(2)

O PAPEL DO DESIGN GRÁFICO NA CONSTRUÇÃO DE UM LIVRO INFANTIL

Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Design Gráfico da Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul – UNIJUÍ, como requisito parcial à obtenção do título de bacharel em Design Gráfico.

Orientadora: Fabiane Volkmer Grossmann

Ijuí (RS) 2012

(3)

Todas as pessoas grandes foram um dia crianças, mas poucas se lembram disso.

SAINT-EXUPÉRY (1900-1944)

Que todos possamos preservar a criança que existe no interior de cada um de nós.

(4)

Dedico este trabalho à minha família: meu pai Walney, minha mãe Rozélia e minhas irmãs

Vanessa e Ana Júlia. Amo Vocês!

(5)

A Deus, minha família, amigos, à todos que tornaram possível a produção deste trabalho e a conclusão de mais esta etapa de minha vida. Agradeço em especial ao meu pai Walney e minha mãe Rozélia que me apoiaram desde o início do curso mesmo não sabendo o que é Design. Minhas irmãs Vanessa e Ana Júlia e meu cunhado Beto que me ajudaram e também descontraíram nos momentos difíceis. A professora Fabiane Grossmann que mesmo com tantas ocupações me orientou e permitiu que este trabalho fosse concluído. Não poderia deixar de citar minha amiga Tame, que sempre esteve ao meu lado me dando força mesmo tendo sua monografia para fazer também, e nossa amiga Lívia que sempre torceu muito por nós. Aos meus amigos Nadélio e Jane que sempre deixaram as portas da livraria abertas para o que eu precisasse. Ao meu amigo Chester pelo apoio, ajuda e por sempre dizer que eu iria conseguir. A minha chefe e amiga Fran, que foi compreensiva comigo e me apoiou nesta etapa. Ao meu amigo Júlio que nunca me deixou na mão quando precisei da sua ajuda. Ao meu amigo Marcelo que me incentivou e se propôs a escrever a minha história. Enfim, a todos que de uma maneira ou outra fizeram este sonho se tornar possível. Muito obrigada!

(6)

O presente estudo tem como objetivo evidenciar a importância do design gráfico na construção de um livro infantil. Para isso, aborda fundamentos desta área do saber que auxiliam em sua construção, como a ilustração, a diagramação e a tipografia. Para compreender o livro hoje, no entanto, foi necessário realizar um levantamento histórico do início da comunicação humana, perpassando pelo surgimento da escrita e finalizando com os livros impressos. Através deste resgate foi possível entender que os livros evoluíram não apenas em relação à sua produção, aprimorada após a Revolução Industrial do século XVIII, mas também em relação à sua estrutura, seu projeto gráfico e sua linguagem visual. A partir do momento que o livro infantil é visto como um objeto é que se percebe a importância que um projeto gráfico bem elaborado tem sobre sua construção. É neste contexto que o estudo a seguir se faz relevante, pois é através de um planejamento correto que se consegue atingir o objetivo de um projeto, no caso do livro infantil, incitar a curiosidade e estimular a imaginação da criança, para que a leitura se torne um hábito desde a infância.

(7)

The present study aims to highlight the importance of graphic design in the construction of a children's book. For this, fundamentals of this area of knowledge that assist in its construction, as illustration, diagramming and typography will be addressed. To understand the book today, it was necessary to carry out a survey of the early history of human communication, passing by the emergence of writing and finishing with printed books. The books have evolved not only regarding to its production, improved after the Industrial Revolution of the eighteenth century, but also in relation to its structure, its graphic project and visual language. From the moment that the children's book is seen as an object that is perceived the importance that a well-designed graphic project has on its construction. It is in this context that the following study become relevant because it is through a proper planning you can achieve the goal of a project, in the case of children's book, incite curiosity and stimulate the child's imagination, so that the reading become a habit since childhood.

(8)

LISTA DE FIGURAS ... 12

LISTA DE QUADROS ... 14

INTRODUÇÃO ... 15

CAPÍTULO 1 - DO INÍCIO DA COMUNICAÇÃO AO SURGIMENTO DO LIVRO ... 17

1.1A EVOLUÇÃO DA COMUNICAÇÃO HUMANA ... 17

1.2O LIVRO ... 26

1.2.1 O livro infantil ... 29

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTOS DO DESIGN GRÁFICO PARA A CONSTRUÇÃO DE UM LIVRO INFANTIL ... 46

2.1ILUSTRAÇÃO ... 51

2.2COR ... 56

2.3TIPOGRAFIA ... 61

2.4DIAGRAMAÇÃO ... 67

CAPÍTULO 3 - PROJETANDO O LIVRO INFANTIL: “A CORUJINHA SOFIA” ... 78

3.1LEVANTAMENTO DE DADOS ... 79

3.2CONCEPÇÃO ... 81

3.3IMPLEMENTAÇÃO ... 88

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 92

(9)

LISTA DE FIGURAS

FIGURA 1 - Arte rupestre de Lascaux ... 20

FIGURA 2 - Bíblia de Gutenberg. ... 24

FIGURA 3 - La Fontaine, Fables Choisies Pour les Enfants [La Fontaine, fábulas selecionadas para crianças] ... 30

FIGURA 4 - Stories of Mother Goose Village [Contos da mamãe ganso] ... 30

FIGURA 5 – Beware of the Storybook Wolves [Tem um lobo no meu quarto] Lauren Child (autora e ilustradora). Londres: Hodder Children‟s Books, 2000 / São Paulo: Ática, 2007. 300 x 235 mm. ... 37

FIGURA 6 – Livro Bruxa Onilda vai à festa. Editora Scipione. ... 37

FIGURA 7 – The Jolly Postman or Other People‟s Letters [O Carteiro Chegou] Allan Ahlberg (autor), Janet Ahlberg (ilustradora). Londres: William Heinemann, 1986 / São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2007. 154 x 200 mm. ... 38

FIGURA 8 – Livro Cupido de Babette Cole. Editora Companhia das Letrinhas. ... 38

FIGURA 9 – Livro Mumu - A vaquinha jururu, ilustrações de Tony Ross. ... 38

FIGURA 10 - Livro A menina do narizinho arrebitado de Monteiro Lobato. ... 40

FIGURA 11 – Livro A fada que tinha ideias de Fernanda Lopes de Almeida ... 42

FIGURA 12 – Livro A bolsa amarela de Lygia Bojunga ... 42

FIGURA 13 – Livro Bisa Bia Bisa Bel de Ana Maria Machado, ilustrado por Mariana Newlands ... 42

FIGURA 14 – Livro Margarida de Andre Neves ... 43

FIGURA 15 – Livro Flicts de Ziraldo... 44

FIGURA 16 – Livro Assim Assado de Eva Furnari ... 44

FIGURA 17 – Ilustração informativa – Bula de remédio. ... 52

FIGURA 18 - Ilustração com técnica de Água forte e águas tintas. Vera Almeida. ... 54

FIGURA 19 - Livro com Xilogravuras de Cesar Obeid ... 54

FIGURA 20 – Ilustração realizada com a técnica de litografia. ... 54

FIGURA 21 - Three Little Pigs [Os três porquinhos]... 55

FIGURA 22 – Imagem demonstrativa do círculo cromático. ... 57

FIGURA 23 – Imagem demonstrativa da Síntese Aditiva e Subtrativa das cores. ... 58

FIGURA 24 – Livro Mania de Explicação de Adriana Falcão – Editora Salamandra. ... 60

FIGURA 25 – Imagem que representa as partes que constituem os tipos. ... 62

FIGURA 26 – Imagem com a classificação em grupos dos tipos. ... 63

FIGURA 27 - Diferença entre o a e o g “adulto” (primeiro) e o a e o g “infantil” (segundo). ... 65

FIGURA 28 - Exemplo da tipografia Avant Garde Gothic. ... 66

FIGURA 29 – Constituição de um grid. ... 68

FIGURA 30 – Grid retangular ... 69

FIGURA 31 – Grid de colunas ... 70

FIGURA 32 – Grid modular ... 71

(10)

FIGURA 34 – Livro Where The Wild Things Are. (Onde vivem os monstros) - ... 73

FIGURA 35 – Livro Quem soltou o Pum – Editora Companhia das Letrinhas. ... 74

FIGURA 36 – Livro Um porco vem morar aqui. Editora Brinque-book. ... 74

FIGURA 37 – Livro Era uma vez uma bruxa. Editora Moderna. ... 75

FIGURA 38 – Livro Fofinho. Editora Ática. ... 75

FIGURA 39 – Livro Um garoto chamado Rorbeto de Gabriel, o Pensador. ... 76

FIGURA 40 – Esquema das etapas e fases do processo criativo segundo Gomes. ... 78

(11)

LISTA DE QUADROS

QUADRO 1 – Composição de ilustrações das Fábulas de Esopo. ... 31

QUADRO 2 – Composição de ilustrações do livro The Tale of Peter Rabbit [A história do Pedro Coelho] de Beatrix Potter (autora e ilustradora) ... 32

QUADRO 3 – Composição duas diferentes edições dos Contos de Andersen. ... 33

QUADRO 4 – Composição de três diferentes edições dos Contos dos Irmãos Grimm ... 33

QUADRO 5 – Composição de três diferentes edições do livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, publicado em 1863. ... 34

QUADRO 6 – Composição de duas Ilustrações de Gustave Doré (1832-1883) para o livro “Contes de Perrault”, edições Stahl-Hetzel, 1862. ... 35

QUADRO 7 – Composição de cinco diferentes edições atuais do conto Chapeuzinho Vermelho ... 36

QUADRO 8 – Composição de ilustrações do livro Emily loves to bounce [Duda adora pular] de Stephen Michael King. ... 37

QUADRO 9 – Composição de cinco diferentes edições do livro As Aventuras do Avião Vermelho de Érico Veríssimo, publicado pela primeira vez em 1936. ... 41

QUADRO 10 – Composição de três livros da Coleção Gato e Rato ... 43

QUADRO 11 – Composição de imagens do livro TOC, TOC! Que animal mora aí? – Editora Brinque-Book na Mochila. (Livro com abas) ... 48

QUADRO 12 – Composição de imagens de livros interativos: ... 49

QUADRO 13 – Composição de imagens do livro Onda, de Suzy Lee. ... 50

QUADRO 14 – Composição de imagens do livro Meu querido papai, editora Ciranda Cultural. 80 QUADRO 15 – Rafes de corujas. ... 82

QUADRO 16 – Composição com rafe e ilustração computadorizada da Corujinha Sofia. ... 83

QUADRO 17 – Esquema representativo dos processos da ilustração. ... 84

QUADRO 18 – Rafes do livro infantil A Corujinha Sofia ... 85

QUADRO 19 - Rafes do livro infantil A Corujinha Sofia ... 86

QUADRO 20 - Layout das páginas do livro A Corujinha Sofia ... 89

QUADRO 21 - Layout final do livro A Corujinha Sofia ... 90

(12)

INTRODUÇÃO

No ano de 2006 tive a oportunidade de trabalhar em uma livraria que oferecia além de livros para adultos, livros infantis. Desde então o gosto pela literatura infantil passou a crescer cada vez mais. Durante o período em que trabalhei lá (2006-2011) pude estar em contato com diversos tipos de livros: livros de banho (feitos de plástico), livros de tecido, livros de formatos diferentes, livros com sons, dobraduras, livros-brinquedo, etc. Pude perceber que cada vez mais o mercado livreiro se preocupa em captar a atenção do pequeno leitor das mais diferentes formas.

Ao entrar para o curso de design gráfico da UNIJUÍ (Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul), percebi o livro como um objeto, e como todo objeto necessita de um projeto bem estruturado para cumprir com sua função. Assim, este trabalho parte da ideia de que o projeto gráfico vai tornar o livro infantil mais atrativo e irá estimular ainda mais a curiosidade da leitura nas crianças em seus primeiros anos de vida.

Portanto, o principal objetivo deste trabalho de conclusão de curso é mostrar a importância de fundamentos do design gráfico na construção de um livro infantil, pois há muitos fatores que devem ser considerados em um projeto de livro infantil, como afirma Wornicov: “O texto, a imagem, os caracteres, a qualidade do papel, a encadernação coerente, a forma e o peso adequados à pequena mão do leitor farão do livro um todo que se verá prejudicado se uma de suas partes não for respeitada”. (WORNICOV et al, 1986, p. 23)

Sendo assim, este trabalho foi configurado em três capítulos. O primeiro capítulo tem como finalidade apresentar um breve histórico sobre o início da comunicação humana, o aparecimento da linguagem escrita e o surgimento dos primeiros livros. Também contempla uma pesquisa exploratória sobre o livro infantil, seu surgimento na Europa e no Brasil, principais autores e ilustradores, bem como exemplos de ilustrações em épocas distintas.

(13)

Após esta contextualização histórica, são abordados no segundo capítulo os fundamentos do design gráfico essenciais na construção do livro infantil, como a tipografia, a diagramação e a ilustração. Fundamentos estes que serão estudados para serem aplicados adequadamente na construção do livro infantil A Corujinha Sofia. Veremos também que a história do livro infantil é também uma história da ilustração e das diferentes técnicas de impressão, evidenciando sua importância no que tange à estimulação da criatividade e imaginação da criança.

Por fim, é no terceiro e último capítulo que são detalhados os processos de construção do projeto gráfico do livro: A Corujinha Sofia. Para isso, será especificada a metodologia de projeto, ou seja, os caminhos que levaram a simples ideia inicial ao produto final. Serão justificadas a escolha de materiais, tipografia, cores e demais elementos, com base nos estudos realizados no capítulo anterior. Dessa forma, aplicando conceitos teóricos em um projeto gráfico real.

Outrossim, não é intenção deste trabalho discutir nomenclaturas como o que é literatura infantil, literatura juvenil, ou infanto-juvenil. E sim, realizar um estudo sobre a importância do design gráfico para o livro infantil, sendo o termo “livro infantil” utilizado para designar qualquer livro destinado às crianças. Também não é objetivo deste trabalho aprofundar questões referentes à educação e psicologia, embora pertinentes ao assunto.

(14)

CAPÍTULO 1 - DO INÍCIO DA COMUNICAÇÃO AO SURGIMENTO DO LIVRO

1.1 A evolução da comunicação humana

Antes de tomarmos o livro como objeto principal de estudo, precisamos voltar no tempo para entender como se deu o processo de comunicação entre os seres humanos até chegarem à linguagem escrita, pois, como afirma Dondis (1997, p. 02): “A linguagem é simplesmente um recurso de comunicação próprio do homem, que evoluiu desde sua forma auditiva, pura e primitiva, até a capacidade de ler e escrever”.

A palavra “linguagem” não compreende apenas a língua, o idioma falado oralmente. Ela engloba diferentes formas de comunicação, como consta no Dicionário Online Michaelis (2009): “Linguagem: Conjunto de sinais falados (glótica), escritos (gráfica) ou gesticulados (mímica), de que se serve o homem para exprimir suas ideias e sentimentos. Qualquer meio que sirva para exprimir sensações ou ideias”. Fischer (2009, p. 12) define linguagem de uma forma ampla, como: “meio de troca de informações”. “Essa definição permite que o conceito de linguagem englobe expressões faciais, gestos, posturas, assobios, sinais de mão, escrita, linguagem matemática, linguagem de programação (ou de computadores), e assim por diante”, explica Fischer. (2009, p. 12)

Podemos diferenciar a linguagem de duas formas, verbal e não-verbal. A comunicação verbal é expressa pela linguagem falada ou escrita, sendo geralmente mais valorizada do que a não-verbal, que compreende todas as manifestações de comportamento não expressas por palavras. São exemplos desta linguagem os gestos, as expressões faciais, as orientações do corpo, as posturas, a relação de distância entre os indivíduos e, ainda, organização dos objetos no espaço. Ela está presente no nosso dia-a-dia mas, muitas vezes, não temos consciência de sua ocorrência e, nem mesmo, da forma como acontece, pois sua principal função é a demonstração dos sentimentos. (SILVA, 2000)

(15)

A linguagem corporal foi sendo uma das primeiras formas de comunicação do ser humano, que perdura até os dias de hoje. De acordo com Katzenstein, anteriormente ao surgimento da linguagem escrita havia outras formas de comunicação:

Muito antes do homem ser capaz de falar e escrever, ele comunicava suas experiências interiores, pensamentos e sentimentos por meio de um grande número de elementos não-verbais, de um complexo de gestos – movimentos de todo o corpo ou suas partes -, por meio do olhar, do silêncio. Ainda hoje usa esta forma para se comunicar; quase tudo que faz, consciente ou inconscientemente, expressa pensamentos e sentimentos; podemos chamá-la de “linguagem” e substitui e comunica tão bem ou até melhor do que as palavras. (KATZENSTEIN, 1986, p. 09).

Em 2003, Lins utiliza os termos “grunhidos, gestos e sons” para se referir à linguagem primitiva do ser humano. A transição de simples grunhidos e sons até a linguagem oral falada atualmente, aconteceu de forma bastante lenta e simultânea à evolução do cérebro humano, como afirma Fischer (2009, p. 43): “Ele (o cérebro) confere maior capacidade de usar e posteriormente elaborar a linguagem falada e raciocinar com ela. A história da linguagem humana é também uma história do cérebro humano e suas habilidades cognitivas; as duas caminham lado a lado”.

O autor enfatiza que o processo de evolução do homem, desde a capacidade de andar sobre duas pernas (o que possibilitou a liberação das mãos para trabalhos manuais) até a capacidade de registrar suas impressões do mundo, levou milhões de anos. Acredita-se que os primeiros registros de linguagem surgiram com a necessidade do ser humano de interagir em sociedade. Chomsky (1997) afirma que: “a faculdade da linguagem tem papel crucial em todos os aspectos da vida, do pensamento e da interação humana”, ou seja, é visível a importância da linguagem, principalmente em relação à vida social, pois não seria possível a organização dos seres humanos em sociedade sem a linguagem, e vice-versa.

Segundo Dondis (1997): “A linguagem hoje ocupa uma posição única no aprendizado humano. Tem funcionado como meio de armazenar e transmitir informações, veículo para intercâmbio de ideias e meio para que a mente humana seja capaz de conceituar”. Dessa forma, a linguagem contribui para a comunicação entre os

(16)

homens. No entanto, as diferentes formas de comunicação não ocorreram sempre da mesma maneira.

Conforme Lins (2003, p. 17): “Com o tempo o Homem foi sentindo a necessidade de registrar e perpetuar suas impressões do mundo e até de se expressar artisticamente. Ele passa a representar visualmente estas impressões nas paredes das cavernas na forma de desenhos e hieróglifos”. Esta forma de representação citada por Lins denomina-se arte rupestre1, é datada do período Paleolítico2 e retratava nas pinturas e gravuras cenas do cotidiano como a caça, a pesca, os animais, etc. Para isto, utilizavam elementos da natureza como metais, rochas, sangue de animais, extrato de plantas, entre outros. (PACIEVITCH, 2008)

Lins (2003) explica que a necessidade de se expressar artisticamente não foi a única coisa que levou o ser humano às pinturas rupestres. Da mesma forma, Gaspar (2003) afirma que os desenhos de animais, por exemplo, teriam sido feitos em rituais, com o objetivo de controlá-los a fim de serem favorecidos nas caças. Um bom exemplo desta arte rupestre se encontra nas grutas de Lascaux. Elas se localizam na região da Dordogne (sudoeste da França) e foram descobertas em 1940 por quatro adolescentes franceses. É interessante perceber que, as pinturas rupestres de Lascaux, conforme observamos na figura 1, foram descobertas há poucos anos e trazem consigo subsídios para serem analisados a respeito da vida do ser humano no tempo das cavernas, como consta na Infopédia:

As grutas de Lascaux foram descobertas em 1940 e contem dos melhores exemplares de arte pré-histórica do mundo. Consistem numa caverna principal e várias galerias magnificamente decoradas com gravações de desenhos e pinturas de animais. Devido ao estilo das pinturas e aos animais representados, e depois de concluídos os testes de datação, chegou-se a conclusão de que teriam sido pintadas entre 15.000 e 13.000 a.C. (Infopedia – acesso em setembro de 2012)

1

Inscrito ou desenhado nas rochas. (Michaelis, 2009)

2

O Período Paleolítico é a parcela de tempo que compreende desde as origens do homem até 8000 A.C.. Dentro desse período ainda existem duas subdivisões: o Paleolítico Inferior (5000.000 – 30.000 A.C.) e o Paleolítico Superior (30.000 – 8.000 A.C.). (Mundo educação: http://www.mundoeducacao.com.br/historiageral/periodo-paleolitico.htm, acesso em: 21/10/12)

(17)

Sobre a arte rupestre no Brasil e na América do Sul, temos uma série de informações de sítios arqueológicos antigos, principalmente em regiões do Ceará, Paraíba, Rio Grande do Norte, Piauí e Pernambuco. Porém, segundo Gaspar (2003), é difícil precisar quando esse processo iniciou, o que se sabe é que: “a partir de 12.000 AP3 o território brasileiro já estava ocupado e que muito cedo os caçadores começaram a decorar as paredes rochosas com grafismos”. (GASPAR, 2003, p. 44)

Como sabemos, o ser humano desenvolveu e vem desenvolvendo suas capacidades ao longo da história. A escrita, porém, só começou a existir a partir do momento que foi elaborado um conjunto organizado de signos4 ou símbolos. Jean (2002) ressalta que este sistema não surge da noite para o dia, a história da escrita é longa, lenta e complexa. Dondis, em 1997, já afirmava: “Ao longo de seu desenvolvimento, o homem deu os passos lentos e penosos que lhe permitem colocar numa forma preservável os acontecimentos e os gestos familiares de sua experiência, e a partir desse processo desenvolveu-se a linguagem escrita”. (DONDIS, 1997, p. 20).

3AP significa “antes do presente”. Trata-se de uma menção à descoberta da técnica de datação através do Carbono 14, que se

deu em 1952. Assim, um evento ocorrido 500 anos AP ocorreu 500 anos antes de 1950 – ou seja, 1450. Para muitos, o nascimento de Cristo é a principal referência cronológica e o tempo é dividido em antes e depois de Cristo. (Gaspar, 2003, p. 23)

4

Signo: Segundo o conceito clássico da teoria semiótica de Charles Sanders Peirce, signo é algo que, sob certo aspecto ou de algum modo, representa alguma coisa para alguém. (SANTAELLA, 2000)

FIGURA 1 - Arte rupestre de Lascaux Fonte: Pierre Andrieu/France Presse, 2008:

(18)

Hall (2012) afirma que símbolo é um signo estabelecido culturalmente, apesar de não ter ligação (visual) com o que significa. Ele exemplifica: “Normalmente usamos a cor verde como símbolo de esperança, embora essa cor claramente não tenha conexão com o estado mental de estar com esperança”. Dondis (1997) explica que os símbolos foram criados para representar ideias abstratas quando estas não podiam ser representadas por imagens. A reprodução dos símbolos exige menos em termos de habilidade do que as imagens, pois é mais simples, e dessa forma, mais acessível. Katzenstein (1986) ressalta a importância dos símbolos: “Os símbolos transformam uma ideia abstrata em algo gráfico, material. Esta é a função da escrita e consequentemente dos livros”. (KATZENSTEIN, 1986, p. 10) Dessa forma, a criação dos símbolos foi o ponto de partida para o desenvolvimento da linguagem escrita.

Sobre a origem da escrita, Katzenstein afirma: “A origem da arte da comunicação por meio de uma escrita que podia ser lida por outros remonta aos sumérios, na Mesopotâmia, há cerca de 3.500 a.C.” (KATZENSTEIN, 1986, p. 22) Nesta época, na Europa, as únicas formas de comunicação escrita eram impressões da arte rupestre. Os primeiros textos sumérios preservados consistiam de listas de gado, onde as prestações de contas eram realizadas através de sinais em tabuletas de barro. (KATZENSTEIN, 1986) Da mesma forma, em 2002, Jean afirma:

Tudo começa entre o Tigre e o Eufrates, na Mesopotâmia. [...] Notas de compra e venda não podem ser registradas oralmente. Por esta razão tão prosaica nasceu a escrita. [...] Assim, se explicam as inscrições gravadas nas primeiras plaquetas de barro descobertas na região da Suméria, no sítio do grande templo da cidade de Uruk. As “plaquetas de Uruk” são constituídas de listas, relações, de sacos de grãos, de cabeças de gado, estabelecendo uma espécie de contabilidade do templo. (JEAN, 2002, p. 12).

Jean (2002) explica que a primeira forma de escrita desenvolvida pelos sumérios, foi denominada escrita cuneiforme, pois contava com o auxílio de objetos em formato de cunha. Escrever e ler o cuneiforme não era simples, esta arte pertencia aos escribas, que eram aqueles que sabiam desenhar os símbolos, conheciam sua pronúncia e seus diversos significados, segundo o contexto. Tanto no Egito como na

(19)

Mesopotâmia, saber ler e escrever era um privilégio de poucos, e estes detinham um grande poder. Sobre a arte dos escribas, Lins ressalta:

Na Idade Média, antes do surgimento da imprensa, o texto feito à mão era riquíssimo em linguagem visual e ornamentos. O trabalho dos escribas era complementado por ilustrações detalhadas, muitas vezes feitas com ouro: as iluminuras. A beleza e a riqueza eram fundamentais nos escritos religiosos, demonstrando devoção, respeito e poder. (LINS, 2003, p.19).

Conforme Katzenstein (1986), a escrita pictográfica5 foi o primeiro sistema escrito baseado em signos, que surgiu com a necessidade de uniformizar as imagens para que qualquer um que olhasse compreendesse seu significado. Foram escolhidas uma das várias imagens que havia para cada coisa, de forma a servir de símbolo definitivo. Com o tempo estes signos se tornaram símbolos, logo, havia símbolos para números, unidades de medida e para ideias. Por fim, foram criados símbolos que representavam os sons, as letras, que deram origem à escrita alfabética.

O desenvolvimento das diferentes formas de escrita implicou no surgimento do alfabeto, Lima (2009) afirma que: “A evolução da linguagem escrita começou com imagens: pictogramas, cartuns e unidades fonéticas, chegando ao alfabeto. A palavra nada mais é do que uma imagem, um conjunto de sinais gráficos que comunicam um significado”. (LIMA apud GOES, 2009, p. 73). Estas diferentes formas de escrita foram surgindo também em outras partes do mundo como no Egito e na China, como afirma Jean:

Enquanto os símbolos cuneiformes riscam toda a Mesopotâmia, outros sistemas de escrita nascem e se desenvolvem no vizinho Egito e, também, na longínqua China. De uma ponta a outra do mundo, os homens dedicam-se a transcrever sua história sobre a pedra, o barro e o papiro, vendo nisso um presente divino”. (JEAN, 2002, p. 25)

O papiro foi uma planta muito útil para os homens mesmo antes de ser utilizada a favor da escrita, como afirma Jean (2002) quando expõe que antes dessa finalidade o

5

Que utiliza pictogramas. Pictograma: tipo específico de símbolo gráfico muito utilizado em sinalização. Seu desenho figurativo é esquemático e auto-explicativo e apresenta como características: concisão gráfica, densidade conceitual e uma funcionalidade comunicativa que ultrapassa as barreiras da linguagem verbal. (ABC da ADG, 2000)

(20)

papiro era empregado para fabricar diversos objetos do dia-a-dia, tais como cordas, esteiras, sandálias e velas de barcos. Devido ao fato de serem muito quebradiços, os papiros egípcios eram enrolados e não dobrados. Eram difíceis de serem conservados e manuseados. Segundo Katzenstein (1986) no século XI o papiro foi substituído pelo pergaminho e pelo papel.

Lins (2003) explica que quando o homem passou a utilizar os pergaminhos (feitos de peles de animais), foi possível fazer dobraduras, e assim nasceram os cadernos. A história pôde então ser contada em páginas e capítulos. Os cadernos de pergaminho, citados pelo autor, eram chamados de “códex” ou códices, e foram ancestrais de nossos livros. Haslam (2007) assim como Lins, afirma que foram as propriedades materiais do pergaminho que propiciaram o desenvolvimento do códex, que deu fim à tradição do rolo de papiro. Pelo fato de serem diferentes do papiro, os códices foram utilizados nas escrituras sagradas, como afirma Machado:

O códice foi um formato característico de manuscrito em que o pergaminho era retalhado em folhas soltas, reunidas por sua vez em cadernos costurados ou colados em um dos lados e muito comumente encapados com algum material mais duro. A partir do século IV, os cristãos elegeram esse formato como padrão para as escrituras sagradas, de modo a diferenciá-las da literatura pagã, em geral escrita em rolos de pergaminho. (PERUZZO apud MACHADO, 2002, p. 110).

Não se sabe exatamente em que data os chineses inventaram o papel, mas acredita-se que foi no século II da nossa era. (JEAN, 2002) Os primeiros papéis chineses foram confeccionados com a casca das amoreiras e com o bambu, cuja polpa esmagada era transformada em fibras, espalhada sobre um tecido e deixada assim para secar, explica Haslam (2007). Por volta de 751 d.C., a produção de papel havia se espalhado pelo mundo islâmico e, por volta do ano 1000, ele já era produzido em Bagdá. Os mouros levaram seu conhecimento sobre a confecção de papel para a Espanha, e o primeiro moinho de papel da Europa foi fundado em Capellades, na Catalunha, em 1238. (HASLAM, 2007)

O ritmo lento e trabalhoso da fabricação do texto escrito é acelerado com a invenção do papel e, mais tarde, dos tipos móveis, blocos de metal ou madeira que tem

(21)

gravada em uma das faces, em alto-relevo, uma letra, algarismo ou sinal que, entintado presta-se à impressão. (ABC da ADG, 2000) “O livro impresso industrializou a produção da linguagem. O método de impressão é mais rápido que a cópia caligráfica e, como consequência, os textos se tornaram economicamente acessíveis e bastante disponíveis”. (HASLAM, 2007, p. 8)

Em relação ao surgimento dos tipos móveis, muitos conferem a invenção à Johannes Gutenberg6. Haslam (2007) explica que em 1455 Gutenberg produziu o primeiro livro utilizando a técnica de tipos móveis, que foi a bíblia de Gutenberg, impressa em latim com 42 linhas, conforme podemos observar na figura 2. Porém, há controvérsias quanto ao pioneirismo de Gutenberg como “o pai da impressão”:

Os tipos móveis fundidos em molde de areia já tinham sido usados na Coréia em 1241; um livro coreano datado de 1377 exibe a informação de ter sido impresso por tipos móveis. Os chineses usavam a impressão em blocos de madeira desde o século VII para produzir cartas de baralho e cédulas de dinheiro, que estavam em circulação desde 960 d. C. (HASLAM, 2007, p. 8)

6

Johannes Gutenberg foi um impressor alemão a quem é creditada a invenção da impressão tipográfica através do tipo móvel (c. 1455) tal qual a conhecemos hoje. Embora antecedidos por chineses e coreanos (c. 705 d.C.), Gutenberg é muitas vezes lembrado como sendo o pai da produção em massa e da era da máquina. (ABC da ADG)

FIGURA 2 - Bíblia de Gutenberg.

Fonte: http://www.bibliotecanacional.gov.co/recursos_user/exposicionesvirtuales/incunables/la-invencion-de-la-imprenta.html - Acesso em novembro de 2012.

(22)

Assim como Haslam, Jean (2002) afirma que os chineses já conheciam os caracteres móveis desde o século XI. A “prensa” foi usada antes de Gutenberg para esmagar uvas, lustrar papel e estampar tecidos. Gutenberg teria sido o primeiro a mecanizar a impressão dos tipos móveis. Para Katzenstein (1986) a atribuição à Gutenberg é a mais popular e amplamente reconhecida. Como os primeiros impressos eram anônimos, os especialistas os atribuíram à Gutenberg, embora esta hipótese fosse duvidosa.

O advento do papel e da imprensa foi culminante na expansão da linguagem escrita e consequentemente dos livros impressos. Desta forma, a comunicação foi sendo facilitada pelas frequentes invenções do homem, como afirma Haslam:

Ao final do século XIX e início do XX, uma nova forma de mídia chegou com o desenvolvimento de sistemas de comunicação baseados em áudio: o telefone, o rádio e os dispositivos de gravação de som. Mais tarde, o cinema e a televisão somaram o som à imagem em movimento. Contudo, o livro impresso, juntamente com seus rebentos - os jornais, os periódicos de toda sorte e as revistas - permaneceram como a principal forma escrita de comunicação de massa. (HASLAM, 2007, p. 12)

Santaella (2000, p. 10) complementa: “As linguagens crescem e se multiplicam na medida mesma em que são ininterruptamente inventados os meios que as produzem, reproduzem, meios estes que as armazenam e difundem”. Assim sendo, mesmo com os avanços tecnológicos e o surgimento de novos meios de comunicação, a linguagem escrita continua tendo a sua indiscutível importância. Logo, o livro vem a ser um dos suportes mais importantes de registro de informações em meio a uma sociedade que vive em constantes transformações.

Devido à importância que o livro adquiriu em todos estes anos é que ele foi escolhido como foco de estudo. A seguir, será realizada uma análise do livro – mais especificamente o livro infantil – seu histórico, conceitos e principalmente uma análise do livro como um objeto, levando em conta seu projeto gráfico. Este projeto engloba fatores como: a diagramação, os diferentes tipos de ilustração, as tipografias adequadas, diferentes formatos, materiais, entre outros. Dessa forma, teremos subsídios suficientes para dar sequência ao projeto gráfico do livro A Corujinha Sofia.

(23)

1.2 O livro

O livro percorreu um longo caminho até chegar à forma como o conhecemos hoje. Machado (2002) afirma que nos acostumamos a chamar de livro o que na verdade é uma derivação do modelo do códice cristão. Antigamente livro designava qualquer dispositivo de fixação do pensamento, seja ele pedra, madeira, pergaminho, etc. Com o tempo, livro passou a designar exclusivamente o códice e ficamos sem um termo mais genérico para qualquer outro dispositivo de fixação do pensamento.

Geralmente costumamos restringir o conceito de livro: “como se livro fosse sempre e necessariamente livro impresso e sobretudo impresso em papel”. (PERUZZO apud MACHADO, 2002, p. 110) Machado se refere aos diferentes suportes utilizados antes da invenção do papel e da impressão. De uma forma ampla, ele elabora seu conceito para “livro”:

Podemos definir o livro numa acepção mais ampla, como sendo todo e qualquer dispositivo através do qual uma civilização grava, fixa, memoriza para si e para a posteridade o conjunto de seus conhecimentos, de suas descobertas, de seus sistemas de crenças e os vôos de sua imaginação. (PERUZZO apud MACHADO, 2002, p. 110).

Dessa forma, podemos atribuir a existência do livro de duas formas: antes do modelo do códice - como sendo qualquer suporte para inscrição de informações (inclusive as mais primitivas) – e depois da invenção do códice, que é a forma semelhante ao que temos hoje.

Existem diversas concepções para o conceito de livro e seu advento, outra diz respeito ao surgimento da imprensa. Para Chartier (1994), o livro não apareceu com a tecnologia de Gutenberg, pois sua estrutura não foi alterada desde os manuscritos: a aparência, as páginas, acabamentos, etc. O autor explica:

O livro é um objeto composto de folhas dobradas, reunidas em cadernos, os quais, por sua vez, são encadernados. Nesse sentido, a revolução da imprensa não é, de forma alguma, aparecimento do livro. Doze ou treze séculos antes da nova técnica, o livro ocidental já encontrara a forma que permaneceria idêntica na cultura do impresso. (CHARTIER, 1994, p. 186)

(24)

Assim, de uma forma geral, Chartier afirma que o livro sofreu três mudanças significativas: do texto manuscrito em rolo de pergaminho para o códice - formato semelhante ao livro moderno impresso - do códice ao livro impresso e do livro impresso ao eletrônico. (CHARTIER, 1998) As diferentes formas de apresentação do livro não mudam, entretanto, seu principal objetivo: transmitir informações.

Segundo o dicionário Michaelis (2009), o conceito de livro está ligado ao aspecto físico e material: “Coleção de lâminas de madeira ou marfim ou folhas de papel, pergaminho ou outro material, em branco, manuscritas ou impressas, atadas ou cosidas umas às outras”. Haslam expõe o valor intrínseco que há no objeto livro: “O livro é a forma mais antiga de documentação; ele registra o conhecimento, as ideias e as crenças dos povos e sua história está intimamente ligada à história da humanidade”. (HASLAM, 2007, p. 6) Sobre a etimologia da palavra “livro”, ele utiliza a expressão “tábua para escrita” como sendo sua definição literal. O Dicionário Etimológico explica:

O termo "livro" nos remete, em várias línguas, a palavras relativas a árvores. Na maioria das línguas latinas (libro em espanhol e italiano, livre em francês) veio do latim liber, a fina camada fibrosa entre a casca e o tronco da árvore que, depois de seca, pode ser usada para escrever (e realmente era, num passado longínquo). Já nas línguas de origem anglo germânicas (book em inglês, Buch em alemão e boek em holandês) o termo advém de bokis, nome da árvore que hoje se chama beech em inglês, da qual se faziam tábuas onde eram escritas as runas, uma antiga forma de escrita da Europa do Norte. (Dicionário Etimológico Online: www.dicionarioetimologico.com.br – acesso em outubro de 2012)

Como vimos, a origem do termo “livro” está ligada à sua antiga matéria-prima. Porém, hoje já temos livros feitos de outros materiais como pano, plástico, e principalmente contamos com a invenção dos e-books.7Em relação à tecnologia digital ter atingido os livros, muitos estudiosos questionam sobre o possível desaparecimento do livro impresso. O escritor Umberto Eco, em entrevista ao jornal Estadão (SP, 13 de março de 2010) afirma sobre o assunto:

O livro não está condenado, como apregoam os adoradores das novas tecnologias?

7

Ebook (ou e-book) é uma abreviação do termo inglêseletronic book e significa livro em formato digital. Pode ser uma versão eletrônica de um livro que já foi impresso ou lançado apenas em formato digital. (significados.com.br)

(25)

O desaparecimento do livro é uma obsessão de jornalistas, que me perguntam isso há 15 anos. Mesmo eu tendo escrito um artigo sobre o tema, continua o questionamento. O livro, para mim, é como uma colher, um machado, uma tesoura, esse tipo de objeto que, uma vez inventado, não muda jamais. Continua o mesmo e é difícil de ser substituído. O livro ainda é o meio mais fácil de transportar informação. Os eletrônicos chegaram, mas percebemos que sua vida útil não passa de dez anos. Afinal, ciência significa fazer novas experiências. Assim, quem poderia afirmar, anos atrás, que não teríamos hoje computadores capazes de ler os antigos disquetes? E que, ao contrário, temos livros que sobrevivem há mais de cinco séculos? Conversei recentemente com o diretor da Biblioteca Nacional de Paris, que me disse ter escaneado praticamente todo o seu acervo, mas manteve o original em papel, como medida de segurança. (ECO, 2010)

O autor, em 2003, já afirmava: “as bibliotecas, ao longo dos séculos, têm sido o meio mais importante de conservar nosso saber coletivo. Foram e são ainda uma espécie de cérebro universal onde podemos reaver o que esquecemos e o que ainda não sabemos” (ECO, 2003). O livro, portanto, vem a ter uma importância que vai além do tempo e do espaço. Para Haslam, o livro: “tem sido um dos meios mais poderosos para a disseminação de ideias e mudou o curso do desenvolvimento intelectual, cultural e econômico da humanidade”. (HASLAM, 2007, p. 12) De fato, o valor intelectual e cultural que o livro possui deve ser conservado, e o avanço tecnológico encarado de forma a contribuir (e não substituir) o acesso à informação.

O acesso ao livro aumentou significativamente com as novas tecnologias, desde o século XV com os tipos móveis de Gutenberg até atualmente com a facilidade de comunicação através da internet. No entanto, Rosa (apud CHARTIER, 2006) afirma que: “não basta ter acesso, é fundamental que, ao longo da sua formação escolar, o indivíduo seja estimulado à prática da leitura. Caso contrário, o livro não cumpre sua função”. Ela cita então os questionamentos de Chartier (ROSA apud Chartier, 2006):

[...] um livro existe sem leitor? Ele pode existir como objeto, mas sem leitor, o texto do qual ele é portador é apenas virtual. Será que o mundo do texto existe quando não há ninguém para dele se apossar, para inscrevê-lo na memória ou transformá-lo em experiência? (ROSA apud CHARTIER, 2006)

(26)

Neste contexto, ressalto a importância que o livro infantil vem a ter na construção do conhecimento humano. Assim como afirmou Rosa (2006), é necessário que haja estimulação à leitura ao longo da formação escolar do indivíduo. Portanto, o livro infantil, com seus atrativos, contribui para o desenvolvimento do gosto pela leitura desde a infância. No próximo item, serão abordados os aspectos mais pertinentes sobre este importante suporte comunicacional.

1.2.1 O livro infantil

Inicio com uma citação de Abramovich, na qual a autora exalta a importância da leitura para as crianças. Leitura esta que vai além da palavra escrita, pois a criança também lê imagens, formas e os demais elementos visuais que compõem um livro infantil. Este universo, como veremos a seguir, foi sendo descoberto aos poucos e trouxe, com o passar dos anos, inúmeras possibilidades.

Ah, como é importante para a formação de qualquer criança ouvir muitas, muitas histórias... Escutá-las é o início da aprendizagem para ser um leitor, e ser leitor é ter um caminho absolutamente infinito de descoberta e de compreensão do mundo... (ABRAMOVICH, 1997, p. 16)

Os primeiros livros destinados ao público infantil surgiram no mercado livreiro na primeira metade do século XVIII. Antes disso, porém, histórias escritas na França no século XVII, inicialmente escritas para o público em geral, também foram apropriadas para crianças, como as Fábulas de La Fontaine e os Contos da mamãe ganso de Charles Perrault. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2003) Abaixo podemos ver exemplos destas obras nas figuras 3 e 4.

(27)

La Fontaine escrevia fábulas no estilo de Esopo8, cada uma com sua moral. As fábulas de Esopo sobre animais como A raposa e as uvas, a Lebre e a Tartaruga, a Cigarra e a Formiga, entre outras, foram registradas em diversos manuscritos gregos há muitos anos a.C. No entanto, somente no século XVIII seus escritos foram

8

Esopo foi um fabulista grego do século VI a.C.. Personagem quase mítico, sabe-se que foi um escravo libertado pelo seu último senhor, o filósofo Janto (Xanto). Considerado o maior representante do estilo literário "Fábulas", possuía o dom da palavra e a habilidade de contar histórias curtas retratando animais e a natureza e que invariavelmente terminavam com tiradas morais. (http://pensador.uol.com.br/autor/esopo/biografia/ - Acesso em dezembro de 2012)

FIGURA 3 - La Fontaine, Fables Choisies Pour les Enfants [La Fontaine, fábulas selecionadas para crianças]

M. B. de Monvel (ilustrador). Paris: E. Plon, Nourrit &. Cie, 1896. 230 x 270 mm Fonte: POWERS, Alan. Era uma vez uma capa. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

FIGURA 4 - Stories of Mother Goose Village [Contos da mamãe ganso] Madge A. Bigham (autora). Chicago: Rand, McNally & Co., 1903. 233 x 179 mm Fonte: POWERS, Alan. Era uma vez uma capa. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

(28)

considerados apropriados para crianças. (POWERS, 2008) Mais tarde foram interpretados por ótimos ilustradores, como podemos ver no quadro 1 abaixo:

Powers (2008, p. 28) afirma que: “A oportunidade de retratar animais é um atrativo para os ilustradores”. Um bom exemplo são os contos de Pedro Coelho, da escritora e ilustradora inglesa Beatrix Potter (1866-1943). Seus livros são apreciados até hoje, Potter deu vida e aspectos humanos aos animais, atraindo a atenção das crianças com suas ilustrações em aquarela e traços finos a tinta, como podemos ver na figura 5. Sua vida foi inclusive adaptada para o cinema com o filme Miss Potter9, lançado em 2006.

9

O filme “Miss Potter”, lançado em 2006 nos EUA, foi dirigido por Chris Noonan e teve como protagonista Renée Zellweger, que interpretou a escritora e ilustradora Beatrix Potter (1866-1943), sua vida e obra.

QUADRO 1 – Composição de ilustrações das Fábulas de Esopo.

Figura da esquerda: Aesop’s Fables in Words of One Syllable [Fábulas de Esopo em palavras de uma sílaba] Mary Godolphin (texto), Harrison Weir (ilustrador), H. L. Shindler (capa). Londres: George Routledge & Sons, s. d. 250 x 160 mm.

Figura do centro: The Hare and the Tortoise [A lebre e a tartaruga] Sally Grindlay (autora), John Bendall-Brunello (ilustrador). Londres: Bloomsbury [1993]. 300 x 240 mm.

Figura da direita: Three Aesop Fox Fables [Três fábulas de Esopo sobre raposas] Paul Galdone (ilustrador). Kingswood, Surrey: World’s Work Ltd, 1972. 290 x 173 mm.

(29)

A partir do século XVIII, a literatura infantil passou a se tornar um produto de consumo e sua expansão ocorre simultaneamente na Inglaterra, onde nesta época a Revolução Industrial modernizava a sociedade através dos novos recursos tecnológicos. Dessa forma, obras como Robinson Crusoé (1717) de Daniel Defoe e Viagens de Gulliver (1726) de Jonathan Swiff são adaptadas para o gênero infantil. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2003)

No século XIX as chamadas histórias fantásticas começam a fazer sucesso, como exemplos desse gênero temos os Contos de Hans Christian Andersen (1833), Alice no país das maravilhas de Lewis Carroll (1863), Pinóquio de Collodi (1883) e Peter Pan de James Barrie (1911). No mesmo período, na Alemanha, surgem os contos dos irmãos Grimm, (1812), escritos a partir de adaptações do folclore popular. Entre alguns dos seus contos estão: A Bela Adormecida, Os sete anões e a Branca de Neve, Chapeuzinho Vermelho, Joãozinho e Maria (1825). (LAJOLO e ZILBERMAN, 2003) Na sequência de figuras abaixo temos exemplos de duas edições dos Contos de Andersen (quadro 2), três edições dos Contos dos Irmãos Grimm (quadro 3) e três edições de Alice no País das Maravilhas (quadro 4).

QUADRO 2 – Composição de ilustrações do livro The Tale of Peter Rabbit [A história do Pedro Coelho] de Beatrix Potter (autora e ilustradora)

Figura da esquerda: capa do livro

Figura da direita: ilustração do interior do livro

(30)

QUADRO 3 – Composição duas diferentes edições dos Contos de Andersen.

Figura da esquerda: Andersen’s Fairy Tales: The Mother’s Love [Contos de fada de Andersen: Amor de mãe] Londres: Frederick Warne, s.d. 205 x 147 mm.

Figura da direita: Hans Andersen Forty Stories [Quarenta contos de Andersen]

M. R. James (tradutor), Christine Jackson (ilustradora). Londres: Faber & Faber, 1930. 215 x 142 mm Fonte: POWERS, Alan. Era uma vez uma capa. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

QUADRO 4 – Composição de três diferentes edições dos Contos dos Irmãos Grimm Figura da esquerda: Grimm’s Fairy Tales [Contos de fada dos Irmãos Grimm]

Adaptados por N. J. Davidson, H. M. Brock e Lancelot Speed (ilustradores). Londres: Seeley & Co., c.1900. 199 x 130 mm

Figura do centro: Grimm’s Fairy Tales and Household Stories [Contos de fadas e contos domésticos dos Irmãos Grimm] H. B. Paul e L. A. Wheatley (tradutores). Nova York: Frederick Warne, c. 1890. 202 x 136 mm. Figura da direita: Tales from Grimm [Contos de Grimm] Wanda Gág (tradutora e ilustradora). Londres: Faber & Faber, 1937. 212 x 147 mm.

(31)

Atualmente podemos ver diferentes adaptações dos contos dos irmãos Grimm, inclusive no que diz respeito à história original. Isso ocorre com muitas histórias que são passadas de gerações para gerações. O conto da Chapeuzinho Vermelho, por exemplo, é uma história originalmente trágica. Não existem caçadores e no final o lobo acaba por devorar a menina. (SOUSA, 2008 – globo.com) Cademartori (1986) nos explica que há uma conversão na literatura popular em literatura infantil:

Quando se consideram as narrativas coletadas, portanto, é preciso levar em conta dois momentos: o momento do conto folclórico, sem endereçamento à infância, circulando entre adultos, e, mais tarde, a adaptação pedagógica com direcionamento à criança. É no segundo momento que surge o caráter de advertência, fazendo com que a personagem que se afaste das regras estabelecidas seja punida, como no conto Chapeuzinho Vermelho. Maravilhosos ou humorísticos, os contos populares, antes da coleta, destinavam-se ao público adulto e eram destituídos de propósitos moralizantes. (CADEMARTORI, 1986, p. 40)

QUADRO 5 – Composição de três diferentes edições do livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, publicado em 1863.

Figura da esquerda: Alice in Wonderland, Stories Old and New [Alice no País das Maravilhas, novas e velhas histórias] Lewis Carroll e Frank Adams (autores). Londres e Glasgow: Blackie & Son Ltd, c. 1910. 183 x 126 mm.

Figura do centro: Alice’s Adventures in Wonderland [As aventuras de Alice no País das Maravilhas] Lewis Carroll (autor), Arthur Rackham (ilustrador). Londres: William Heinemann, 1907. 204 x 148 mm.

Figura da direita: Alice’s Adventures in Wonderland [As aventuras de Alice no País das Maravilhas] Lewis Carroll (autor), Tony Ross (editor e ilustrador). Londres: Andersen Press (Random House), 1993 / São Paulo: Martins Fontes, 2001. 250 x 190 mm.

(32)

Assim, estas histórias eram usadas com o intuito de alertar as pessoas sempre com uma moral, um conselho, uma aprendizagem final. Com o tempo descobriu-se nos contos uma maneira não apenas de assustar as crianças, mas também de educá-las, de acordo com a cultura local. As histórias foram então sendo adaptadas para o público infantil. Podemos ver esta diferença não apenas nos escritos, mas principalmente nas ilustrações. Segue, no quadro 5, duas ilustrações realizadas por Gustave Doré do conto original Chapeuzinho Vermelho, em preto e branco, rica em detalhes e extremamente realista.

A seguir, no quadro 6, temos livros atuais do conto da Chapeuzinho Vermelho. Podemos ver a diferença entre as ilustrações da versão original dos Contos de Grimm e das versões atuais adaptadas, com traços mais infantis e cores vivas, direcionadas às crianças.

QUADRO 6 – Composição de duas Ilustrações de Gustave Doré (1832-1883) para o livro “Contes de Perrault”, edições Stahl-Hetzel, 1862.

Fonte: http://oglobo.globo.com/pais/noblat/posts/2008/12/31/ilustracao-chapeuzinho-vermelho-de-dore-150460.asp - Acesso em outubro de 2012.

(33)

Nos últimos anos, outros autores e ilustradores se destacam na literatura infantil estrangeira, entre eles: Lauren Child, Stephen Michael King, Babette Cole, Roser Capdevila, Tony Ross e o casal Janet e Allan Ahlberg. O quadro 7 e as figuras 6, 7, 8, 9 e 10 são exemplos de obras dos mesmos.

QUADRO 7 – Composição de cinco diferentes edições atuais do conto Chapeuzinho Vermelho Livro de pano Chapeuzinho vermelho. Blu Editora.

Fonte: http://www.blueditora.com.br/site/detalhe/204-travesseiro - Acesso em novembro de 2012. Livro Chapeuzinho Vermelho ilustrado por Ingrid Bellinghausen, editora DCL.

Fonte: http://www.editoradcl.com.br/Produto/33/chapeuzinho-vermelho#livro Livro Uma Chapeuzinho Vermelho, editora Companhia das Letrinhas. Fonte: http://www.companhiadasletrinhas.com.br/detalhe.php?codigo=40672 Livro Sonoro Chapeuzinho Vermelho, editora Ciranda Cultural.

Fonte:http://www.grupocirandacultural.com.br/catalogo/resultado.php?busca=chapeuzinho&imageField.x=0&i mageField.y=0

(34)

QUADRO 8 – Composição de ilustrações do livro Emily loves to bounce [Duda adora pular] de Stephen Michael King.

Figura da esquerda: Capa do livro

Figura da direita: ilustrações do interior do livro

Fonte: http://www.scholastic.ca/titles/emilylovestobounce/ - Acesso em novembro de 2012.

FIGURA 5 – Beware of the Storybook Wolves [Tem um lobo no meu quarto] Lauren Child (autora e ilustradora). Londres: Hodder Children’s Books, 2000 / São Paulo: Ática, 2007. 300 x 235 mm. Fonte: POWERS, Alan. Era uma vez uma capa. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

FIGURA 6 – Livro Bruxa Onilda vai à festa. Editora Scipione.

Fonte: http://www.scipione.com.br/Sitepages/Obra.aspx?cdObra=3209&Exec=1 – Acesso em novembro de 2012.

(35)

FIGURA 7 – The Jolly Postman or Other People’s Letters [O Carteiro Chegou] Allan Ahlberg (autor), Janet Ahlberg (ilustradora). Londres: William Heinemann, 1986 / São Paulo: Companhia das Letrinhas, 2007. 154 x 200 mm.

Fonte: POWERS, Alan. Era uma vez uma capa. São Paulo: Cosac Naify, 2008.

FIGURA 8 – Livro Cupido de Babette Cole. Editora Companhia das Letrinhas. Fonte: Foto de Tamires Simionato, 2012.

FIGURA 9 – Livro Mumu - A vaquinha jururu, ilustrações de Tony Ross. Editora Companhia das Letrinhas.

(36)

No Brasil, a literatura infantil chega através das traduções das obras europeias. Os chamados contos de fadas conquistaram seu espaço e foram sendo cada vez mais adaptados para o público infantil. Hoje além dos livros, estão presentes também no cinema e no teatro. Abramovich (1997) nos explica porque os contos de fadas vivem até hoje:

Porque os contos de fadas estão envolvidos no maravilhoso, um universo que detona a fantasia, partindo sempre duma situação real, concreta, lidando com emoções que qualquer criança já viveu... Porque se passa num lugar que é apenas esboçado, fora dos limites do tempo e do espaço, mas onde qualquer um pode caminhar... Porque as personagens são simples e colocadas em inúmeras situações diferentes, onde têm que buscar e encontrar uma resposta de importância fundamental, chamando a criança a percorrer e a achar junto uma resposta sua para o conflito... Porque todo esse processo é vivido através da fantasia, do imaginário, com intervenção de entidades fantásticas (bruxas, fadas, duendes, animais falantes, plantas sábias...). (ABRAMOVICH, 1997, p. 120)

Foi somente a partir do século XIX que se abriu espaço para a produção literária brasileira, visando o público infantil. (LAJOLO e ZILBERMAN, 2003) Lima afirma que a história do livro no Brasil pode ser dividida em “antes e depois de Monteiro Lobato”, pois além de suas conhecidas obras com o Sítio do Picapau Amarelo – de grandioso valor cultural – Lobato também investiu na produção de livros:

Foi ele quem, nos anos 20, vislumbrou que um país como o Brasil precisava de um parque gráfico à altura de suas necessidades. A cidade de São Paulo vivia um momento favorável e Lobato o aproveitou para montar a primeira empresa com equipamentos adequados à produção de livros. (LIMA, 2009, p. 31)

Conforme Jesus (2011): “Aqui no Brasil, a reflexão sobre o livro infantil ganha força pós-Lobato. O próprio autor coordena a Revista do Brasil, por volta de 1920, na qual escreve artigos, discutindo a produção recente de livros para crianças”. No entanto, antes de Lobato, outras obras teriam sido editadas como Contos Infantis (1886) de Júlia Lopes de Almeida e Adelino Lopes Vieira e Contos Pátrios (1904) de Olavo Bilac e Coelho Neto.

(37)

Para Zilberman (1990), o sucesso do empreendimento de Monteiro Lobato desencadeou a produção de obras para as crianças com temas locais. Como afirma Zimmermann e Freitas: “Nessa época, prevalecem nos livros, valores como o patriotismo, o civismo, a brasilidade, o moralismo, a obediência, a exaltação à natureza, além de temas relacionados ao folclore brasileiro”. Abaixo, na figura 11, exemplo do primeiro livro infantil lançado por Monteiro Lobato, em 1920:

Nos anos seguintes, aparecem novos nomes importantes para a literatura infantil: Érico Veríssimo, Graciliano Ramos, José Lins do Rego, Maria José Dupré, entre outros. Em 1936, Veríssimo publica As aventuras do avião vermelho. Desde então o livro já teve várias edições, como podemos ver no quadro 8, e teve mais de 300 mil exemplares vendidos no Brasil.

Nas décadas de 1950 e 1960, apesar da censura imposta pelo regime militar – onde vários filmes, músicas, jornais e livros foram condenados – houve um grande incentivo à produção industrial, Lima afirma que: “Esse processo foi fundamental para as empresas gráficas e de papel, solucionando os problemas básicos de industrialização. Com isso, o setor livreiro lucrou enormemente”.

FIGURA 10 - Livro A menina do narizinho arrebitado de Monteiro Lobato. Fonte: http://www.folhadaregiao.com.br/Materia.php?id=296573

(38)

Na década de 1970, houve um grande salto de qualidade e criatividade, com inovações no gênero infantil. "Valoriza-se, neste momento, o espírito questionador, lúdico, irreverente e bem-humorado" (ZIMMERMANN e FREITAS apud ibid, p. 108). Segundo Cademartori (1986) nos anos 70 o envolvimento com o livro se multiplicou e isso se deve a dois fatores: o crescimento da classe média, o que aumentou o consumo de livros, e o aumento do nível de escolaridade, com as reformas no ensino. Dessa forma, as crianças passam a ter mais contato com o livro. Destacam-se então A Fada que tinha ideias, de Fernanda Lopes de Almeida (figura 11) e A Bolsa Amarela, de Lygia Bojunga (figura 12), Bisa Bia Bisa Bel de Ana Maria Machado (figura 13) e a coleção Gato e Rato de Mary e Eliardo França, exemplos abaixo no quadro 10.

QUADRO 9 – Composição de cinco diferentes edições do livro As Aventuras do Avião Vermelho de Érico Veríssimo, publicado pela primeira vez em 1936.

Fonte: http://www.aviaovermelho.com.br/index.php/2010/10/as-aventuras-no-livro/ Acesso em outubro de 2012.

(39)

FIGURA 11 – Livro A fada que tinha ideias de Fernanda Lopes de Almeida Fonte: Editora Ática: www.atica.com.br

Acesso em novembro de 2012.

FIGURA 12 – Livro A bolsa amarela de Lygia Bojunga

Fonte: Editora Casa Lygia Bojunga: ttp://www.casalygiabojunga.com.br/pt/obras.html Acesso em novembro de 2012.

FIGURA 13 – Livro Bisa Bia Bisa Bel de Ana Maria Machado, ilustrado por Mariana Newlands Fonte: Editora Salamandra: www.moderna.com.br/salamandra

(40)

As décadas que seguem 1980, 1990 até os dias atuais são marcadas por grandes autores e ilustradores como: Ziraldo, Eva Furnari, Ângela Lago, Graça Lima, Ivan Zigg, André Neves, Fernando Vilela, entre muitos outros. (LIMA, 2009) Abaixo exemplos das obras Margarida de André Neves (figura 15), Flicts, de Ziraldo (figura 16) e Assim Assado de Eva Furnari (figura 17).

QUADRO 10 – Composição de três livros da Coleção Gato e Rato

Figura da esquerda: Livro A bota do bode, de Mary e Eliardo França, Editora Ática. Figura do centro: Livro O rabo do gato, de Mary e Eliardo França, Editora Ática. Figura da direita: Livro A boca do sapo, de Mary e Eliardo França, Editora Ática. Fonte: Editora Ática: www.atica.com.br

Acesso em novembro de 2012.

FIGURA 14 – Livro Margarida de Andre Neves

Fonte: Abacatte Editorial: http://www.abacatteeditorial.com.br/catalogo/all/3 Acesso em novembro de 2012.

(41)

FIGURA 15 – Livro Flicts de Ziraldo Fonte: Editora Melhoramentos:

http://editoramelhoramentos.com.br/v2/catalogo-infantil-2011-2012/#/56/zoomed Acesso em novembro de 2012.

FIGURA 16 – Livro Assim Assado de Eva Furnari Fonte: Editora Moderna:

http://www.modernaliteratura.com.br/main.jsp?lumPageId=4028818B30410B7A01304B B1FE4E5C7C&itemId=8A7A83CB2F46530D012F5AA4CCB13841#

(42)

A partir da década de 1990, a evolução do livro infantil se torna evidente, principalmente no que diz respeito aos seus conteúdos e formas e em especial ao livro como um objeto, levando em conta seu projeto gráfico. Assim, o livro passa a ser tratado como produto de consumo, como afirma Lima:

Na década de 90 assistiremos a novas mudanças no tratamento visual do livro infantil brasileiro. Uma nova geração de ilustradores designers toma a incumbência da elaboração geral do projeto gráfico do livro, assim como novas tecnologias de produção e impressão da imagem irão sofisticar e elevar a qualidade do produto final. (LIMA, 2009, p. 33)

Considerando a importância que o livro infantil adquiriu em todos estes anos, Lins nos questiona: “Mas afinal o que é “Livro Infantil”?: Livros de papel, de pano, de madeira, infláveis, de plástico. Livros que, pela temática, pelo uso da imagem, pelas cores, pelo formato, são indicados principalmente para crianças”. (LINS, 2003, p. 44). Assim, percebemos que o livro infantil deve ter um cuidado muito especial em relação ao seu público-alvo: as crianças. O livro infantil deve ser encarado como um objeto, e como todo objeto necessita de um projeto adequado para ser construído. A seguir, veremos então, quais são os fundamentos do design gráfico imprescindíveis na construção de um livro infantil.

(43)

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTOS DO DESIGN GRÁFICO PARA A CONSTRUÇÃO DE UM LIVRO INFANTIL

O livro é um trabalho feito em conjunto entre o escritor e outros profissionais, entre eles o ilustrador e o designer, que é o profissional responsável por elaborar projetos visando sua forma e função. Portanto, o papel do designer no projeto de um livro infantil tem como objetivo organizar os elementos a fim de torná-lo adequado para crianças. Para compreender melhor a atuação de um designer gráfico é necessário conhecer a definição de Design Gráfico. Segundo o ABC da ADG:

Design Gráfico: termo utilizado para definir genericamente, a atividade de planejamento e projeto relativos à linguagem visual. Atividade que lida com a articulação de texto e imagem, podendo ser desenvolvida sobre os mais variados suportes e situações. Compreende as noções de projeto gráfico, identidade visual, projetos de sinalização, design editorial, entre outros. Também pode ser empregado como substantivo, definindo assim um projeto em si. (ABC da ADG, 2000, p. 36)

Ao projetar um livro para crianças, o designer deve considerar diversos fatores, entre eles o estudo do público-alvo. Este estudo irá determinar as diretrizes do projeto, pois é com base nas características do público-alvo que serão tomadas decisões como a escolha tipográfica, o tipo de diagramação, as cores utilizadas, entre outras.. Neste caso, é preciso entrar no universo da criança, nos seus pensamentos, comportamentos, sua forma de ver o mundo. No entanto, é evidente que o tempo e o espaço influenciam nesta questão, afinal nem todas as crianças são iguais e vivem da mesma forma. Assim, o que não muda é a afirmação de Wornicov: “A criança aprende a vida por meio de sensações e impressões” (WORNICOV et al, 1986), ou seja, desde os primeiros anos o contato que temos com o mundo exterior se dá por meio de nossos sentidos. Da mesma forma, Dondis (1997) nos explica:

(44)

A primeira experiência por que passa uma criança em seu processo de aprendizagem ocorre através da sua consciência tátil. Além desse conhecimento “manual”, o reconhecimento inclui o olfato, a audição e o paladar, num intenso e fecundo contato com o meio ambiente. Esses sentidos são rapidamente intensificados e superados pelo plano icônico – a capacidade de ver, reconhecer e compreender, em termos visuais, as forças ambientais e emocionais. Praticamente desde nossa primeira experiência no mundo, passamos a organizar nossas necessidades e nossos prazeres, nossas preferências e nossos temores, com base naquilo que vemos. (DONDIS, 1997, p. 5).

É importante ressaltar que a criança, conhecendo o mundo através dos sentidos, interage melhor com livros pensados especialmente para elas. A estrutura de um livro infantil deve ser cuidadosamente projetada, levando em consideração o seu manuseio pela criança, pois este se dá melhor com um tamanho, material e peso adequados. Porém, nem sempre se pensou desta forma. Munari elucida a temática afirmando que geralmente relacionamos livro ao seu conteúdo textual, em detrimento à todos os outros elementos visuais que compõem o projeto de um livro:

Normalmente, quando se pensa em livros o que vem à cabeça são textos, de vários gêneros: literário, filosófico, histórico, ensaístico, etc., impressos sobre as páginas. Pouco interesse se tem pelo papel, pela encadernação, pela cor da tinta, por todos os elementos com que se realiza o livro como objeto. Pouca importância se dá aos caracteres gráficos e muito menos aos espaços em brancos, margens, numeração das paginas e todo o resto. (Munari, 2002, 210)

Através de muitos estudos, foi possível chegar a resultados relevantes em relação ao projeto de um livro infantil. Um exemplo são os experimentos feitos por Munari, em 1981. Ele afirmava existir um problema de “experimentação das possibilidades de comunicação visual do material editorial e suas técnicas”. Não havia naquela época: “interesse pelo papel, pela encadernação, pela cor da tinta, por todos os elementos com que se realiza o livro como objeto”. (MUNARI, 2000, p. 210) Portanto, Munari realizou o seguinte experimento: os chamados pré-livros, protótipos de livros feitos com materiais diversos, foram colocados à disposição de crianças para se observarem as reações. Foi interessante perceber que a criança gosta de interagir com o objeto livro, manusear, sentir, apalpar, e estes livros oferecidos à elas propiciaram esta interação. Munari afirma que dessa forma, a criança deve perceber o

(45)

livro como um objeto com várias surpresas dentro. Assim, chegou-se a conclusão que o livro pode sim comunicar através do material, independentemente das palavras.

A partir de então, a variedade de possibilidades se expandiu, e os livros infantis passaram a ser mais do que simples livros de leitura, e tornaram-se estímulos visuais, táteis, sonoros, térmicos, materiais. Lins nos mostra a diversidade de livros infantis que existe hoje:

Atualmente encontramos livros de pano, de madeira, de metal e de plástico. Livros infláveis e impermeáveis para serem lidos na praia, na piscina, ou durante o banho. Livros com som, com cheiro, com as mais variadas texturas e recursos táteis. Livros com apliques, envelopes e bolsos. Livros com origami (dobraduras de papel), com pop-ups (encaixes e dobraduras de papel formando “esculturas” instantâneas ao virar de página). Livros-jogos. CD-livros.

E-books. Todos com basicamente o mesmo objetivo: contar uma história.

(LINS, 2003, p. 23)

A sequência de figuras representadas a seguir nos quadros 11 e 12 são exemplos desta diversidade. Podemos ver livros com sons, fantoches, texturas diferenciadas, enfim, elementos que propiciam uma melhor interação entre a criança e o livro objeto.

QUADRO 11 – Composição de imagens do livro TOC, TOC! Que animal mora aí? – Editora Brinque-Book na Mochila. (Livro com abas)

Referências

Documentos relacionados

pound em sua cabeça ele morrerá liberando seis moedas. Somente seus seis tentáculos, sem contar os projeteis em forma de cone, causam dano a Mario. Apareceram pela

Passados alguns dias, o senhor daqueles cães voltou com os trabalhadores para a colheita e indo até o lote de terra que aquele cão estava vigiando, encontrou

Os moradores daquele planeta sem o brilho e o calor vindo do sol morreram de frio e fome, pois, não havia luz e calor para germinar as plantações e aquele

Então, era sexta-feira e todos estavam seguindo sua rotina de costume, Jaque estava a tirar fotos de arranjos para um casamento, Paula cuidava de uma Lan House, a única na cidade,

Não somos salvos por obras, pois elas são impotentes: A salvação está em simplesmente aceitar o presente perfeito de Deus. A ressurreição de Jesus dentre os mortos

ou até mesmo procure uma religião , a Saúde mental está envolvida com cada sentimento nosso se está com dívidas atrasadas ou com a luz cortada ou outro problema como uma briga

13 Com verbo no infinitivo invariável e fora de locução verbal com ou sem fator de atração Pode-se optar corretamente pela colocação proclítica ou enclítica do pronome.. 14

É preciso conhecer-se a si mesmo; ainda que isso não sirva para achar a verdade, serve pelo menos para regular a própria vida, e não há nada mais justo... Seriedade é