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Interação sistêmica e desafios na sociedade conjugal e empresarial : Estudo com casais no Distrito Federal

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Academic year: 2017

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(1)

STRICTO S ENS U

DOUTORADO EM PSICOLOGIA

INTERAÇÃO SISTÊMICA E DESAFIOS NA SOCIEDADE

CONJUGAL E EMPRESARIAL: ESTUDO COM CASAIS NO

DISTRITO FEDERAL

Brasília, 2015

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TATIANE REGINA PETRILLO PIRES DE ARAUJO

INTERAÇÃO SISTÊMICA E DESAFIOS NA SOCIEDADE CONJUGAL E EMPRESARIAL: ESTUDO COM CASAIS NO DISTRITO FEDERAL

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Psicologia da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Doutor em Psicologia.

Orientador(a): Dra. Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke

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7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

A662i Araújo, Tatiane Regina Petrillo Pires de.

Interação sistêmica e desafios na sociedade conjugal e empresarial: estudo com casais no Distrito Federal. / Tatiane Regina Petrillo Pires de Araujo – 2015.

168 f.; il.: 30 cm

Tese (Doutorado) – Universidade Católica de Brasília, 2015. Orientação: Profa. Dra. Júlia Sursis Nobre Ferro Bucher-Maluschke

1. Psicologia. 2. Teorias sistêmicas. 3. Empresas familiares. 4. Conjugalidade. 5. Subsistema. I. Bucher-Maluschke, Júlia Sursis Nobre Ferro, orient. II. Título.

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Direciono meus sinceros agradecimentos a cada pessoa que contribuiu de maneira muito especial para que esse projeto de vida fosse realizado. Em primeiro lugar, agradeço a Deus por ter abençoado minha mente e guiado meus caminhos.

Ao meu esposo, Carlos Eduardo, e aos meus filhos Davi José e Eduardo José que foram altamente compreensivos e generosos ao acolherem minhas noites mal dormidas e minha ausência durante esta construção.

Agradeço aos meus pais, José Humberto e Tânia, que, em sua amizade e companheirismo, sempre se dispuseram a me auxiliar em todas as minhas necessidades, além de suas contribuições nas leituras exaustivas dos textos que eu ia construindo. Também aos meus irmãos Daniel, Talita e Danilo, além das minhas cunhadas e meu cunhado que, por vezes, acreditaram mais em mim do que eu mesmo, nunca deixando abalar minha autoconfiança.

Dedico um agradecimento especial à minha amiga e comadre Bethania Aguiar. Por cada minuto de correção, questionamento e contribuições que melhoraram a qualidade das minhas análises e construções de texto. Aos amigos e irmãos da equipe de Nossa Senhora por cada consolo e palavra de apoio.

Agradeço a todos os professores do curso, em especial à professora Júlia Bucher-Maluschke, que sempre me dedicou o seu melhor, muito solícita e disponível diante dos cenários que se apresentaram, no sentido de fazer com que eu pudesse cumprir essa etapa.

Agradeço aos professores que participaram do meu processo de qualificação, por cada uma das sugestões dadas que foram de fundamental importância no norteamento do estudo.

Agradeço, ainda, aos casais que, de forma, muito solidária, deram acesso a suas realidades de vida. Suas histórias revigoraram minha força em batalhar por meus objetivos.

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Imagem 1: Sistemas Conjugais e Empresariais...23

Imagem 2: Perspectiva Sistêmica no Estudo da Empresa Familiar...28

Imagem 3: Duas grandes linhas de influência do modelo de Terapia Familiar...33

Imagem 4: Estressores Horizontais e Verticais...40

Imagem 5: Ciclo de Vida das Organizações...58

Imagem 6: Incentivos para Empreender...63

Imagem 7: Tipos de Pequenas Empresas...65

Imagem 8: Modelo dos Três Círculos da Empresa Familiar...69

Imagem 9: Modelo Tridimensional de Desenvolvimento da Empresa Familiar...70

Imagem 10: Organograma...76

Imagem 11: Símbolos do Genograma...79

Imagem 12: Linhas de Relacionamento e de Moradia...80

Imagem 13: Genograma 1 – Casal A...95

Imagem 14: Organograma 1 – Empresa A...97

Imagem 15: Genograma 2 – Casal B...99

Imagem 16: Organograma 2 – Empresa B...100

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Imagem 19: Genograma 4 – Casal D...107

Imagem 20: Organograma 4 – Empresa D...108

Imagem 21: Genograma 5 – Casal E...111

Imagem 22: Organograma 5 – Empresa E...113

Imagem 23: Genograma 6 – Casal F...115

Imagem 24: Organograma 6 – Empresa F...116

Imagem 25: Genograma 7 – Casal G...118

Imagem 26: Organograma 7 – Empresa G...120

Imagem 27: O Surgimento da Empresa Familiar...136

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Tabela 1: Pesquisa Empresas Familiares no Brasil...20

Tabela 2: Dados Gerais das MPEs brasileiras...22

Tabela 3: Estágio do Ciclo de Vida Familiar...38

Tabela 4: Funções e Objetivos empresariais...73

Tabela 5: Motivação para Abertura do Negócio Familiar...128

Tabela 6: Tomada de Decisão na Empresa Familiar...134

Tabela 7: Pontos Positivos e Negativos na sociedade com o cônjuge...140

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Quadro 1: Conceitos – Ciclo de Vida Familiar...37

Quadro 2: Idealizadores e Contribuições da Teoria de Sistemas...51

Quadro 3: Modelos Teóricos do Ciclo de Vida das Empresas...56

Quadro 4: Estágio de Desenvolvimento no Ciclo de Vida Empresarial...58

Quadro 5: Anormalidades e Normalidades no Ciclo de Vida das Organizações...59

Quadro 6: Subsistema da Organização e Ambientes Correspondentes...74

Quadro 7: Estágio do Ciclo de Vida Familiar...121

Quadro 8: Estágio do Ciclo de Vida Empresarial...121

Quadro 9: Estágio do Ciclo de Vida Familiar e Empresarial...125

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Lista de Imagens...07

Lista de Tabelas...09

Lista de Quadros ...10

RESUMO ...11

1 INTRODUÇÃO...16

1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA ...24

2 REVISÃO TEÓRICA...26

2.1 CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO E PSICOLOGIA: HISTÓRICO...26

2.2 TEORIA GERAL DOS SISTEMAS...30

2.3 FAMÍLIAS COMO SISTEMAS ...33

2.3.1 O Ciclo de Vida Familiar...36

2.4 ESTRUTURAS FAMILIARES CONTEMPORÂNEAS...40

2.5 SUBSISTEMA: CASAL E O CASAMENTO CONTEMPORÂNEO...44

2.5.1 Papéis Conjugais...48

2.6 EMPRESAS COMO SISTEMAS...51

2.7 CICLO DE VIDA DAS EMPRESAS...55

2.8 ESTRUTURAS ORGANIZACIONAIS ...61

2.9 A EMPRESA FAMILIAR...66

2.10 FUNÇÕES EMPRESARIAIS...71

2.11 GENOGRAMA NA FAMÍLIA E ORGANOGRAMA NA EMPRESA...75

2.11.1 Organograma...75

2.11.2 Genograma...78

3 METODOLOGIA...82

3.1 PARTICIPANTES COLABORADORES DA PESQUISA ...85

3.2 INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS ...87

3.2.1 Entrevista......88

3.3 ANÁLISE DAS INFORMAÇÕES...89

3.4. PROCEDIMENTO DA ÉTICA NA PESQUISA ...90

4 RESULTADOS...92

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5.1 “O SONHO EMPRESARIAL”...127

5.2 “A FAMÍLIA EMPRESARIAL E A EMPRESA FAMILIAR”...132

5.3 “PAI POBRE, FILHO RICO”...135

5.4 “FAMÍLIA, FAMÍLIA, NEGÓCIOS À PARTE”...139

5.5 “SÓCIOS NO CASAMENTO E NOS NEGÔCIOS”...144

6 CONSIDERAÇÕES GERAIS...149

REFERÊNCIAS...156

Apêndice A – Roteiro para Entrevista em Casal...163

Apêndice B Roteiro para Entrevista Individual...164

Apêndice C Termo de Consentimento Livre e Esclarecido...165

Apêndice D - Carta Convite...166

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1 INTRODUÇÃO

A sociedade, como um todo, é envolvida em um processo contínuo de passagem entre o tradicional e o inovador. A sensação eminente nas narrativas científicas é a de que um modelo velho dá espaço a um novo, e assim vão sendo substituídos conceitos, formas de vida, linguagem, estilos de gestão etc. Em meio a essa transição e impactadas por esse movimento, estão a vida familiar e a vida profissional, recorte temático desta pesquisa.

O contexto capitalista e globalizado que envolve a sociedade pós-moderna gera implicações em todas as suas concepções fundamentadoras, nas quais se encontram as famílias e as organizações. Todo processo demanda adaptações amplas e, às vezes, imediatas. A leitura que esta pesquisa pretende direcionar aos aspectos da vida familiar e da profissional, em empresas familiares, está amparada na proposta de compreensão dessas dimensões com base no olhar sobre os sistemas familiar e empresarial e suas interações.

A abordagem sistêmica surgiu em uma tentativa de releitura, com foco na inter-relação dos sistemas e com um viés da interdisciplinaridade. Sua abordagem ousada foca em um todo complexo, interligado. Nessa perspectiva, considerar que existe um todo ao qual todos pertencem é abrir espaço para a convivência de diferentes áreas de conhecimento, identificando um comum que perpassa todas elas e fomentando uma movimentação interdisciplinar, amparada pela Teoria dos Sistemas, de Von Bertalanffy (1973).

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A empresa familiar é entendida desde duas dimensões sistêmicas: a empresa e a família, que se relacionam e explicam sua funcionalidade e sustentabilidade enquanto instituição empresarial que visa à manutenção e à reprodução de modos de sobrevivência. Acredita-se que os atores envolvidos são membros ativos que devem ser explicitados numa relação interdependente entre os diversos sistemas institucionais.

Normalmente, essa relação entre empresa e família gera conflitos nos dois níveis que se influenciam mutuamente. Osório (2011) analisa que é natural as empresas procurarem consultoria para auxiliá-las em suas dificuldades de gestão, para que elas possam compreender que as questões humanas são tão importantes quanto as questões técnicas de gestão. Nas empresas familiares, os relacionamentos interpessoais tornam-se mais difíceis de manejar e as questões relacionadas aos conflitos passam da dimensão familiar à empresarial – o que tem sido uma das causas do insucesso de muitas empresas ao longo de sua trajetória.

Uma pesquisa realizada por Strobino e Teixeira (2014) com mulheres empreendedoras apresenta a necessidade de equilíbrio entre a relação trabalho-família. Os resultados demonstraram que um dos principais motivos que leva a mulher a empreender um negócio próprio é a possibilidade de conciliação entre a vida pessoal e profissional; porém, observou-se a dificuldade que essas mulheres têm de estabelecer as fronteiras entre o trabalho e a família, o que impulsiona os conflitos.

Não necessariamente os empreendimentos de tais mulheres envolvem outros membros da família e podem ser caracterizados como empreendimentos familiares, entretanto, observa-se que as responsabilidades voltadas para as funções domésticas surgem nos achados da pesquisa supracitada. A mulher empreende para ter mais tempo para as demandas da vida pessoal e ao fazerem isso, impulsionam conflitos quanto a conciliação dos dois ambientes.

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externo, ocasionando a formação de novas personalidades. Essa nova personalidade propõe modelos familiares diferentes do modelo burguês em que os filhos eram vistos como uma garantia futura. A nova configuração torna-se mais independente e competitiva, amparada em uma visão individualista que busca a previsão racional e o acúmulo de bens materiais em vistas do futuro incerto (LASCH, 1991).

No contexto das empresas familiares, importa estudar os vínculos estabelecidos, as fronteiras dos subsistemas, os valores da família e da empresa, a cultura familiar e a do negócio, os papéis familiares e as funções empresariais, as questões de distribuição de poder e hierarquia, dentre outras realidades, para compreender as particularidades do sistema.

As mudanças que acometem as empresas familiares são rápidas e geram uma necessidade de desenvolvimento de estratégias que as tornem sustentáveis nos dois contextos, familiar e empresarial. As famílias têm ampliado a demanda tanto por manutenção de seus laços, bem como por uma estabilidade financeira atrelada a sua inclusão social e profissional. As empresas têm sido convidadas a uma ação mais empreendedora em busca de valores agregados que as tornem mais competitivas e ampliem seus resultados operacionais. Assim, por um lado, as empresas crescem, oferecem novas possibilidades de aquisição, e as famílias precisam acompanhar essa evolução. Por outro lado, as famílias apresentam maiores demandas de consumo; necessitam, assim, produzir mais capital.

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subsistemas vêm da mesma fonte, da família para a empresa e da empresa para a família.

Nesse contexto, as atitudes empreendedoras passam a alimentar a aspiração por melhores resultados no orçamento familiar, consequentemente, o desenvolvimento sustentável dos negócios tem repercussões diretas no crescimento dos negócios regionais. No Brasil, segundo Gueiros (1998), estima-se que as empresas familiares sejam responsáveis por 60% dos empregos diretos e por 48% da produção nacional, desde os grandes conglomerados nacionais, base da economia de bens de capital, até os pequenos e médios empreendimentos, responsáveis pela geração de dois milhões de empregos diretos e são o tipo de organização que mais cresce no País.

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A mesma pesquisa apresentou dados em relação ao cenário brasileiro. Para mapeá-los, foram pesquisados cem representantes de empresas familiares, dentre eles, proprietários, presidentes, acionistas e gerentes. A maior parte das empresas familiares brasileiras que fizeram parte da pesquisa acumula mais de 50 anos de atividades (46%); 41% têm mais de 20 anos e menos de 49 anos; e 13%, menos de 20 anos. No que se refere ao comando de negócios, 41% delas estão na segunda geração; 33%, na terceira geração ou mais; e 26%, na primeira geração. Em relação ao número de funcionários, 41% empregam até 250 pessoas e 59%, 251 trabalhadores ou mais. Ou seja, são empresas de pequeno, médio e grande porte. Algumas das conclusões apresentadas foram:

Tabela 1: Pesquisa Empresas Familiares no Brasil

Para os próximos 12 meses, os principais focos da atenção das empresas familiares brasileiras são o crescimento e a expansão dos negócios (72%), consolidação (24%), sobrevivência (3%) e 1% não soube responder;

Áreas prioritárias para receber investimentos: financeira, recursos humanos, infraestrutura de TI, marketing, vendas, transporte e logística, estrutura de governança, operações via internet;

As empresas familiares brasileiras, em um cenário de 12 a 24 meses, estão preocupadas com escassez de mão de obra (63%); reestruturação empresarial (45%); fluxo de caixa/custos de controle (18%), planejamento tributário (5%), plano de sucessão nos escalões superiores (8%), tecnologia (21%), produtos, pesquisa, desenvolvimento e qualidade (11%), entre outros;

No ambiente externo, nos próximos 12 meses, os três principais desafios apontados pelos entrevistados são as condições de mercado (73%), políticas governamentais (27%), taxas de juro (5%), exportações e problemas no mercado externo (6%), câmbio (10%), regime fiscal nacional e internacional (13%), infraestrutura (3%), concorrência (34%), entre outros;

A expectativa das empresas familiares brasileiras em relação às condições de negócios no mercado em que atuam é de que, nos próximos 12 meses, serão muito melhores (42%), um pouco melhores (43%), manter-se-ão (7%), serão um pouco piores (4%) e muito piores (3%);

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pagamento de bônus anual, a maioria (81,8%) implantou o sistema há mais de dois anos;

Consideram 55% dos entrevistados que sua empresa é muito competitiva; 41%, de alguma forma, competitiva; 3%, não muito competitiva; e 1%, nada competitiva;

O que eles mais admiram em seus concorrentes são marketing agressivo (21%); design de produto, escala e qualidade (14%); tamanho do negócio (14%); habilidade de acesso a capital e fundos de investimento (11%); preço competitivo com baixo custo de produção (10%); marca forte e consciência do tamanho de seu mercado (5%);

As principais medidas citadas para reter talentos na empresa foram perspectiva de carreira (74%); revisão de salário (82%); boas técnicas de gerenciamento (74%); medidas para equilíbrio entre vida profissional e a familiar (69%); e oportunidades de trabalho desafiadoras (85%);

Afirmaram 45% das empresas que não possuem um plano de sucessão para cargos seniores; 28% têm um plano somente para um número reduzido de executivos; 13%, para a maioria dos executivos; e 12% para todos os executivos seniores;

Para 83%, é muito importante a simplificação de regras e a redução da carga tributária para o desenvolvimento de sua empresa.

Fonte: Elaborados com base nos dados publicados pela PWC do Brasil (2014).

Os dados acima reforçam a contribuição das empresas familiares na economia brasileira. Por outro lado, evidenciam o contexto complexo dos negócios familiares e direcionam a uma realidade própria de funcionamento que condicionam as relações interpessoais, as normas e regras internas, as políticas e estratégias. Tais particularidades são expressas na cultura empresarial.

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Produto Interno Bruto (PIB): 12% do segmento agrobusiness, 34% da indústria e 54% dos serviços.

Segundo o Portal Brasil (2013), a contribuição das Micro, Pequenas e Médias empresas no País está no fato de elas promoverem emprego e renda auxiliando na melhoria de vida da população. Esses negócios propiciam uma importante função na absorção de mão de obra, inclusive aquela com maior dificuldade de inserção no mercado, como é o caso dos jovens em situação de primeiro emprego e as pessoas com mais de 40 anos de idade. Essas empresas também são capazes de dinamizar a economia dos municípios e bairros das grandes metrópoles. Desde 2000, a participação das MPEs no total de empreendimentos produtivos brasileiros tem crescido. Enquanto a taxa de crescimento anual foi de 4% para o total de empresas, independente do porte, para as Pequenas empresas foi de 6,2%, e 3,8% para as Micro, entre 2000 e 2008. Nesse mesmo período, as MPEs foram responsáveis por aproximadamente metade dos postos e trabalho formais criados, ou seja, 4,5 milhões de empregos.

Tabela 2: Dados gerais das MPEs brasileiras

As MPEs no Brasil – O que isso representa

20% do PIB R$ 700 bilhões

99% das empresas 5,7 milhões de MPEs

60% dos empregos 56,4 milhões de

empregos

Fonte: IBGE, Dieese, Sebrae Nacional (PORTAL BRASIL, 2013).

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funcionalidade e sustentabilidade da empresa e da família são interligados e precisam ser abordados. Em muitas situações, a empresa familiar aparece como uma aliada ao desenvolvimento de uma situação financeira mais adequada ao bom funcionamento da família com repercussões sociais importantes, como a geração de empregos e de capacidade de consumo.

Esta tese aborda a empresa familiar, porém, foca em casais que atuam como sócios dessas empresas. Nos estudos mencionados anteriormente não foram identificados dados que revelem as características da empresa familiar em que o casal atua em conjunto. Observa-se, entanto, que para as empresas familiares, em geral, estar atentos às novas demandas sociais e conviver nesses contextos têm exigido maior habilidade de pronta adaptação e uma capacidade de remodelagem para responder a essas macrotendências ambientais. O que se pretende com este estudo, portanto, é direcionar um olhar à realidade de vida dos casais que, além de compartilharem tarefas e papéis inerentes ao casamento, também compartilham uma realidade profissional, exercendo funções de sócios em uma empresa familiar. Assim, a pergunta que o guiará será: Com o amparo das teorias sistêmicas, quais as principais repercussões da sociedade empresarial de casais na família e na empresa?

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Imagem 1: Sistemas Conjugais e Empresariais

Fonte: Elaborado pela autora.

O recorte busca não só verificar como se dá a convivência profissional e pessoal dos casais que decidem empreender juntos em direção a um negócio familiar e o quanto essa decisão pode impactar o ritmo de suas realidades familiares ou vice-versa, como também pode indicar linhas de estudos viáveis que venham contribuir tanto na esfera social, quanto na realidade comunitária e familiar.

Contemplar a realidade de um empreendimento comercial de um casal e isolar uma das vertentes – casamento e negócio –, tratando-os de maneira fragmentada, parecem não ser uma opção efetiva para compreensão dos fenômenos envolvidos. O foco não é explorar a dimensão pessoal e profissional isolada, mas direcionar um olhar sistêmico e buscar uma abordagem com foco nas relações sistêmicas entre as duas dimensões.

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Ao oferecer insumos teóricos contributivos ao processo da análise empírica, proposta neste estudo, as principais teorias e princípios sistêmicos indicam uma linha de compreensão das dimensões envolvidas nas relações familiares e empresariais. Considerar que existe uma empresa e uma família e que ambas precisam desenvolver estratégias para sua sobrevivência é um importante ponto de partida para o acompanhamento de famílias em realidade conjunta empresarial.

1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA

O objetivo geral desta pesquisa é identificar as interlocuções sistêmicas e suas repercussões na família e na empresa de casais que atuam enquanto sócios em um negócio familiar no Distrito Federal.

Os objetivos específicos são:

 Levantar as principais características da dinâmica conjugal para ampliar o diagnóstico quanto ao funcionamento da família;

 Identificar a estrutura de funcionamento empresarial com vistas a evidenciar as hierarquias e os aspectos da gestão compartilhada;

 Analisar as fases do ciclo vital e a percepção dos cônjuges em relação à integração entre os sistemas familiar e empresarial;

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2 REVISÃO TEÓRICA

A viabilidade inicial das pesquisas exploratórias está nas bases epistemológicas que a sustentam. Para o desenvolvimento do estudo em questão que aborda casais em relações de sociedade empresarial, serão utilizados os conhecimentos interdisciplinares da Teoria Geral dos Sistemas de Von Bertallanfy (1973) e suas derivações para a Abordagem Sistêmica na Psicologia e para a Teoria Sistêmica nos teóricos da Administração.

2.1 CIÊNCIA DA ADMINISTRAÇÃO E PSICOLOGIA: HISTÓRICO

A dimensão de gestão das empresas está amparada nos princípios da Ciência da Administração. Os primeiros estudos nessa área datam da década de 20 e foram oriundos das engenharias impulsionadas pela Revolução Industrial. Esses estudos tinham uma visão linear e positivista, buscavam identificar meios que levassem a um aumento da produtividade das organizações. Os trabalhos de Taylor, Fayol, Ford e Weber entendiam que as dimensões da linha de produção podiam auxiliar na administração das questões operacionais das empresas (JONES, 2010; LACOMBE, 2009; MOTTA; VASCONCELOS, 2008).

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A crítica da Ciência da Administração, desde as Ciências Sociais, elucidava a necessidade de humanização dos processos produtivos. Considerar o humano nos contextos empresariais e supô-los como fonte de demandas administrativas foram uma mudança na concepção dada aos trabalhadores do contexto industrial, que implicou uma mudança de homem econômico, motivada por incentivos unicamente financeiros, para homem social, com necessidades motivacionais voltadas para suas relações sociais (LACOMBE, 2009; ROBBINS, 2006).

Ressalta-se a contribuição da Psicologia com Elton Mayo, Maslow, Lewin, da Escola das Relações Humanas (MOTTA; VASCONCELOS, 2008; JONES, 2010; ROBBINS, 2006), nas análises sobre o trabalho. Eles afirmavam que trabalhadores mais satisfeitos poderiam representar ganhos ao processo produtivo das empresas. Verifica-se uma mudança nas visões sobre os indivíduos no ambiente de trabalho, em especial, em suas relações de grupo e nos aspectos motivacionais quanto à realização das atividades.

Há também as contribuições das Teorias da Psicologia Social e do Trabalho sobre gestão de pessoas, traço e estilos de liderança. Porém, tanto a abordagem das Escolas das Relações Humanas, quanto a da Psicologia Social e do Trabalho podem não ter insumos suficientes para abarcar todas as dimensões no contexto da empresa familiar. Esses estudos consideram o conceito de colaborador, ou seja, indivíduo contratado para o desenvolvimento de uma função, e vínculo empregatício. No caso das empresas familiares, essa realidade não é nítida e unicamente da vertente profissional de subordinado-chefe. Nelas, estão presentes ainda as funções de marido-esposa, pai-filho etc.

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A Teoria Sistêmica compreende que a família é um sistema inserido em outro sistema maior: o ambiente, que ela é impactada e gera impactos nesse sistema e que seus membros são parte ativa dele. (NICHOLS; SCHWARTZ, 1998). De fato, as situações de conflito, tanto no ambiente profissional como no ambiente familiar, podem ser de difícil distinção e separação. Uma família que compartilha as duas realidades pode enfrentar questões específicas de desafios que resultem em consequências indesejadas tanto na família quanto na empresa. Além disso, se a família depende de que as duas dimensões funcionem da melhor forma possível, pelo grau de envolvimento e dependência em relação a seus resultados financeiros, por exemplo, cabe a ela o desafio de buscar instrumentos de conciliação menos conflituosos.

O diálogo entre a Psicologia e a Administração já se fez viável e trouxe grandes benefícios ao processo de humanização do trabalho, resultando em ganhos tanto para o trabalhador, quanto para os resultados empresariais. O olhar do todo sistêmico, dialogando trabalho e família, no caso das empresas familiares, em uma ação conjunta entre consultores e terapeutas, pode indicar práticas viáveis de acompanhamento de empresas familiares. A Imagem 2 ilustra o olhar compartilhado proposto.

Imagem 2: Perspectiva Sistêmica no Estudo da Empresa Familiar

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Em uma postagem no site Inprove, vida e carreira, Matos, Bornholdt e Dias (2011) discutiram sobre alguns dos principais paradoxos e forças restritivas entre os sistemas familiar e empresarial. Reforçaram, ainda, que buscar alternativas para tais questões pode indicar maior possibilidade de alcance de sucesso em ambos os sistemas. Dentre os paradoxos, apresentaram as seguintes questões:

 Primeiro lugar o negócio OU Primeiro lugar a família;

 Discutir os problemas em casa OU não levar os problemas para casa;

 Distribuir dividendos OU Reinvestir no negócio;

 Sucessor da Família OU sucessor do mercado. Em relação às forças restritivas, foram listados:

· Tentativa de preservar a harmonia a qualquer custo (falta de espaço para discordar);

· Fazer de conta que está “tudo bem”;

· Falta de espaço para debater divergências;

· Hierarquia familiar inflexível “Exemplo: Mais velho tem que ser o sucessor”, “Filho homem pode ser sucessor; filha mulher, não”;

· Paternalismo;

· Choque de personalidades; · Excesso de informalidade;

· Contratos “implícitos” - o peso do não dito é muito forte;

· Ciclo de vida familiar não sincronizado com o ciclo da empresa.

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A empresa familiar é, por um lado, um sistema inserido em um macroambiente que a interpela com um conjunto de pressões externas. Por outro lado, ela está subdividida em subsistema empresa e subsistema família, que também se constituem de outros subsistemas, casal, sócios, funcionários etc. Considerá-los e observar suas peculiaridades podem ampliar as dimensões observadas e a qualidade dos diagnósticos. A título de definição de estratégias e planos de ação para a empresa familiar, esse conjunto mais detalhado de informações pode otimizar o alcance dos objetivos, resultando em uma melhor definição de ações internas em resposta às questões externas.

2.2 TEORIA GERAL DOS SISTEMAS

A Teoria Geral dos Sistemas emergiu e difundiu-se após a Segunda Guerra Mundial e demonstrou a todos como os países eram mutuamente dependentes e constituíam uma parte de um todo global. Essas indagações acompanhavam os pressupostos apontados nos estudos realizados por Ludwig Von Bertalanffy (1973). Sua teoria apresentou o conceito de sistema aberto e também foi marcada pela possibilidade de aplicação em diversas áreas científicas (MOTTA; VASCONCELOS, 2008). Seus estudos foram um esforço para elaborar princípios gerais que perpassassem todos os ramos do conhecimento (LACOMBE, 2009).

Pela Teoria Geral dos Sistemas, alguns princípios usados pela Biologia poderiam ser aplicados da mesma forma à Física, à Química, à Psicologia, às organizações sociais, dentre outros, variando-se a forma de aplicação conforme características específicas dos sistemas em estudo (LACOMBE, 2009).

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Teoria de Bertallanfy aplicavam-se a várias ciências, na medida em que todas pesquisavam objetos que poderiam ser compreendidos como sistemas, sendo eles físicos, químicos, psicológicos etc. (MOTTA; VASCONCELOS, 2008).

Um sistema é definido, por Bauer (1999, p.45), como “um conjunto de

elementos interdependentes, cujo resultado final é superior ao somatório dos

resultados que esses elementos teriam caso operassem de forma isolada”. Nessa

perspectiva, a Teoria de Bertalanffy surgiu como uma crítica ao mecanismo e reducionismo, ao paradigma reducionista que considerava que os eventos relacionam-se de forma causa-efeito e que se fundamentava no determinismo mecanicista. Essa concepção de causalidade linear é, então, superada, uma vez

que os eventos não necessariamente ocorrem, e, sim, expressam uma “tendência a ocorrer”. No livro General system theory (Teoria Geral dos Sistemas), foram apresentados alguns pressupostos e orientações básicas que se fundamentam na Teoria de Bertalanffy (1973), sendo:

- há uma tendência para a interação nas várias ciências naturais e sociais; - tal interação parece orientar-se para uma teoria dos sistemas;

- essa teoria pode ser um meio importante de objetivar os campos não do conhecimento científico, especialmente nas ciências sociais;

- desenvolvendo princípios unificadores que atravessam verticalmente os universos particulares das diversas ciências, essa teoria aproxima-nos do objetivo da unidade da ciência;

- isso pode levar a uma integração muito necessária na educação científica (BERTALLANFY, 1973, p.62)

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Paralelo à abordagem de Bertalanffy (1973), no contexto científico, começou a surgir uma nova disciplina, a Cibernética, introduzida por Wiener em 1948. A Cibernética surgiu com o intuito de oferecer uma teoria que permitisse observar o problema da complexidade organizada que aparecia em todos os níveis de organização natural, física, biológica ou social (AUN, 2012).

Tendo como base os princípios da Teoria Geral dos Sistemas com foco no contexto social, evidencia-se que é o processo de comunicação que torna o sistema integrado e é por meio do controle que seu comportamento pode ser regulado. Bertalanffy (1973) conceitua a Cibernética como uma teoria dos sistemas de controle baseada na comunicação, transferência da informação entre o sistema e o meio e dentro do sistema, e do controle, retroação da função dos sistemas com respeito ao ambiente. Bauer (1999) diz que a Cibernética representa um processo de transformação de informação que visa à consecução de ações. Assim, a Cibernética funde-se à teoria dos sistemas tendo como fundamento a comunicação.

As pessoas e as famílias fazem parte de sistemas abertos, ou vivos, que estabelecem relações íntimas e entrelaçadas que não permitem sua compreensão por parte de seus elementos isolados. Os sistemas e subsistemas interagem com reciprocidade, circularidade, uma contínua troca de informações e, consequentemente, em uma relação de influências (ANTON, 2012). Toda essa interação envolve os mecanismos de comunicação e tornam-nas complexas. O mesmo aparece nas empresas, também caracterizadas como sistemas abertos.

As considerações interdisciplinares apresentadas pela Teoria Geral dos Sistemas e as contribuições da Cibernética oferecem forte motivação e amparo epistemológico para a pesquisa aqui apresentada. O ponto de partida é o princípio da relação entre sistemas e subsistemas, devendo-se compreender que o foco desse estudo está no sistema familiar, de um lado, subsistema conjugal e no sistema empresarial; de outro lado, o subsistema sócio. A partir daí, analisar as interações e trocas estabelecidas intra e entre esse complexo interativo, que é a realidade de vida dos casais que atuam em uma sociedade empresarial.

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nas teorias sistêmicas voltadas tanto para os sistemas familiares, quanto para os organizacionais, apresentados a seguir.

2.3 FAMÍLIAS COMO SISTEMAS

No campo de estudo da Psicologia, a proposta que melhor aderiu aos insumos propostos pela Teoria Geral dos Sistemas foi a Abordagem Sistêmica, tendo sua atuação mais enfática na Terapia Familiar. Segundo Minuchin, Nichols e Lee (2009), os pioneiros da Terapia Familiar ensinaram a direcionar um olhar sistêmico sobre a família e a ver além das dimensões individuais, percebendo-se os padrões que fazem dela uma família. Percebe-se, nitidamente, o princípio da totalidade, compreendendo-se, portanto, que a família é um sistema.

Não são objeto deste estudo as práticas terapêuticas dos profissionais que atuam na Terapia Familiar, porém, com a proposta de diálogo entre terapeutas e consultores no atendimento da empresa familiar, objeto deste estudo, foi utilizado como síntese o estudo de Aun (2012). A autora apresenta a evolução da Terapia Familiar com suas duas grandes linhas, conforme Imagem 3.

Imagem 3: Duas grandes linhas de influência do modelo de Terapia

Familiar

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As duas linhas apresentadas evidenciam práticas terapêuticas adotadas para o atendimento do grupo familiar. Na direita, está a linha que tem como base os estudos oriundos especialmente na costa leste dos EUA, voltados para a família, que seguiam a tradição psicanalista de Freud. Esses reforçavam a importância da inclusão dos pais no tratamento da criança, por exemplo. Surgiram, portanto, alguns trabalhos interdisciplinares, como o aconselhamento conjugal e a grupoterapia, seguindo para consideração da família como núcleo e, no início da década de 50, os atendimentos da família em grupo. Essa linha pode ser caracterizada como

“evolucionista de origem psicodinâmica e concretizada na prática clínica do atendimento à família da criança e do adolescente” (AUN, 2012, p.23).

A segunda linha apresentada pela autora parte da Teoria Geral dos Sistemas e da Cibernética, com base nas perspectivas das hierarquias dos sistemas vivos, de suas interações com o meio externo, do feedback e retroalimentação que resultam dessa troca. Diante da possibilidade de discussão desses possíveis elementos explicativos, surgiram os grupos multidisciplinares entre 1846 e 1950. Resultante dessas conferências, os cientistas que voltavam seus estudos para os sistemas homeostáticos dotados de processos de retroalimentação, que lhes permitem autocorrigirem-se. Com a evolução desses estudos, emergiu, na costa oeste dos EUA, outra linha de abordagem, fundadora da Terapia Familiar, denominada

“comunicational-interacional, de origem multidisciplinar e concretizada na pesquisa científica da comunicação, principalmente com famílias de esquizofrênicos” (AUN,

2012, p. 26). Das duas linhas, foram definidos modelos e métodos para a prática dos terapeutas.

Essa pesquisa parte de Bertalanffy (1973), base comum entre estudiosos da Psicologia e da Administração. Em uma concepção geral, os sistemas são formados

por subsistemas. No caso da família, estes são: “os pais, os filhos, as mulheres, os

homens, as crianças, os jovens, os adultos, os que têm trabalho remunerado, os que

não são remunerados, os que estudam, os que gostam de praticar esportes etc”

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transcendem sua individualização em função dele. Assim, eles viam a unidade do sistema ao expandir o foco das personalidades e, então, acessavam o todo.

A leitura da família como sistema deve abranger as várias contribuições dos autores sistêmicos, apresentados nas duas grandes linhas, e de pressupostos teóricos e metodológicos para o exercício da Terapia Familiar. Isso por que a família é um grupo natural que desenvolve padrões de interação que constituem sua estrutura e governam seu funcionamento. A estrutura estabelecida resulta na viabilidade do sistema em suas funções de apoio à individualização, bem como no desenvolvimento do sentido de pertinência da família (MINUCHIN; FISHMAN, 1995). Esse sistema vive em constante transformação, que oscila de homeostase para necessidade de transformação. É, ainda, um sistema ativo formado por unidades que se relacionam entre si e se autorregulam por suas regras e pela adaptação dada a necessidade de mudança. E, por fim, um sistema aberto em constante troca com o ambiente (ANDOLFI, 1991).

A família é resultante da união entre os membros que a compõem e que, para coexistirem, formam grupos. Mais do que a soma de seus indivíduos, existe tendo vida própria, vida de relação entre as pessoas, e deve ser compreendida desde um contexto mais amplo, do qual ela se torna um subsistema. Assim, sendo componente de um sistema e tendo outros subsistemas, a família age como uma entidade capaz de organizar e de estruturar as interações humanas, criando um ambiente de convivência entre individualização e pertença, sendo essencial na formação de novos sistemas familiares (MINUCHIN; FISHMAN, 2003).

(37)

elementos preparam-nos para uma aceitação no nível social mais amplo das normas e das leis (BUCHER-MALUSCHKE, 2003).

O olhar sistêmico dos psicólogos sobre a família busca analisar sua estrutura e dinâmica de funcionamento para uma melhor compreensão dos detalhes que a caracterizam. No âmbito da empresa familiar, essa abordagem pode evidenciar a interação entre os subsistemas: família e empresa inseridos em um ambiente maior. Uma família que compartilha a vida profissional e pessoal pode enfrentar questões específicas de desafios que resultem em consequências indesejadas tanto na família, quanto na empresa. Tais consequências podem repercutir na inserção social dos familiares e no desenvolvimento sustentável do negócio perante o mercado.

Uma das ferramentas utilizadas no atendimento da família é o estudo do ciclo vital familiar. Carter e McGoldrick (1995, 2011) oferecem uma visão do ciclo de vida em termos do relacionamento intergeracional da família, em um sistema que se move e se transforma através do tempo. Essa ferramenta pode auxiliar na compreensão da funcionalidade de cada família, especificamente.

2.3.1. O Ciclo de Vida Familiar

Compreender a funcionalidade e a dinâmica do sistema familiar é um processo complexo que demanda um amplo conhecimento das múltiplas variáveis presentes no contexto. O estudo do ciclo vital pode ser uma das ferramentas para auxiliar no desvendar de informações que impulsionem uma análise mais coerente com a realidade da família.

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Quadro 1: Conceitos - Ciclo de Vida Familiar

Autores Ciclos de Vida Familiar

Durvall (1957)

1. Casal sem filhos;

2. Família com filhos até 30 meses;

3. Família com crianças em idade pré-escolar (2 anos e meio a 6 anos);

4. Família com crianças em idade escolar (6 a 13 anos); 5. Família com filhos adolescentes (até 20 anos); 6. Família com jovens adultos (inclui a saída do 1° até o

último filho);

7. Casal na meia idade; 8. Envelhecimento. Hill e Rodgers (1964)

1. Jovem casal sem filhos;

2. Estágio Expansivo (nascimento dos filhos);

3. Estágio Estável (período da educação dos filhos até o lançamento do 1° filho);

4. Estágio da Contratação (saída dos filhos até a ultima saída);

5. Estágio Pós-parental (novamente casal sem filhos). Minuchin e Fishman (1990)

1. Formação do casal;

2. Família com crianças pequenas;

3. Família com crianças em idade escolar ou adolescentes;

4. Família com filhos adultos. Carter e McGoldrick (1995)

1. Saindo de casa, jovens solteiros;

2. A união de família no casamento: o novo casal; 3. Famílias com filhos pequenos;

4. Família com adolescentes;

5. Lançando os filhos e seguindo em frente; 6. Família no estágio tardio da vida.

Cerveny, Berthoud e Cols (1997)

1. Família na fase de aquisição; 2. Família na fase adolescente; 3. Família na fase madura; 4. Família na última fase. Fonte: Elaborada com base em Cerveny; Berthoud (2002).

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Tabela 3: Estágios do Ciclo de Vida Familiar

Estágio de Ciclo de

Vida Familiar Processo emocional de transição: princípios-chave

Mudanças de segunda ordem no status

familiar necessários para se prosseguir desenvolvimentalmente

1 - Saindo de casa:

jovens solteiros Aceitar a responsabilidade emocional e financeira pelo

eu a. Diferenciação do eu em relação à família de origem; b. Desenvolvimento de relacionamentos

íntimos com adultos iguais;

c. Estabelecimento do eu com relação ao trabalho e independência financeira;

2 - A união de famílias no casamento: o novo casal

Comprometimento com o

novo sistema a. Formação de um sistema marital; b. Realinhamento dos relacionamentos

com as famílias ampliadas e os amigos para incluir o cônjuge.. 3 - Famílias com

filhos pequenos Aceitar novos membros no sistema a. Ajustar o sistema conjugal para criar espaço para o(s) filho(s);

b. Unir-se nas tarefas de educação dos filhos, nas tarefas financeiras e domésticas;

c. Realinhamento dos relacionamentos com a família ampliada para incluir os papéis de pais e avós..

4 - Famílias com

adolescentes Aumentar a flexibilidade das fronteiras para incluir a independência dos filhos e as fragilidades dos avós

a. Modificar os relacionamentos progenitor-filho para permitir ao adolescente movimentar-se par dentro e para fora do sistema;

b. Novo foco nas questões conjugais e profissionais do meio da vida;

c. Começar a mudança no sentido de cuidar da geração mais velha.

5 - Lançando os filhos e seguindo em frente

Aceitar várias saídas e entradas no sistema

familiar a. Renegociar o sistema conjugal como díade; b. Desenvolvimento de relacionamentos de adulto para adulto entre os filhos e seus pais;

c. Realinhamento dos relacionamentos para incluir parentes por afinidades e netos;

d. Lidar com a incapacidade e morte dos pais (avós).

6 - Famílias no

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vida interesses próprios e/ou do casal em face do declínio fisiológico;

b. Apoiar um papel mais central da geração do meio;

c. Abrir espaço no sistema para a sabedoria e experiência dos idosos, apoiando a geração mais velha sem superfuncionar por ela;

d. Lidar com a perda do cônjuge, irmãos e outros iguais e preparar-se para a própria morte. Revisão e integração da vida.

Fonte: Carter; McGoldrick(1995, 2011, p. 17)

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Imagem 4 : Estressores Horizontais e Verticais

Fonte: Carter e McGoldrick (1995, 2011, p. 12)

A análise do ciclo de vida proposto por Carter e McGoldrick auxiliará na compreensão dos estudos de caso desta pesquisa. Será uma ferramenta sistêmica de apoio às análises da pesquisa, podendo indicar uma melhor compreensão de possíveis estresses latentes nas narrativas dos casais que serão pesquisados. Não será fonte única e determinante das informações identificadas, apenas ampliará a contextualização, buscando-se maior fidedignidade aos dados.

2.4 ESTRUTURAS FAMILIARES CONTEMPORÂNEAS

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todas as diversas formas concretas de organização familiar, especialmente nas realidades evidenciadas no século XXI.

Anton (2012, p. 71) relata que a família pode ser compreendida como “um grupo com história”, dada a dimensão duradoura de suas relações, funcionais ou

disfuncionais e, bem ou mal, essas relações são importantes para os membros

envolvidos. Para Minuchin (1990, p. 57), “a estrutura familiar é o conjunto invisível de

exigências funcionais que organiza as maneiras pelas quais os membros da família

interagem”. Com essa compreensão inicial, Minuchin e Fishman (1995, p. 41), ao relatarem suas experiências de atendimento familiar, na abordagem sistêmica, perceberam a existência de padrões de funcionamento das famílias. Constataram

que “a estrutura da família não dita a maneira pela qual as pessoas funcionam, mas

estabelecem alguns limites, e organiza a maneira pela qual elas preferem funcionar”.

Assim, a dimensão de funcionamento familiar passa por um acordo entre seus membros. Minuchin (1990) disserta, ainda, sobre a importância das tarefas na criação dessa estrutura familiar, ditando a dinâmica da família que se apresenta sob dois diferentes objetivos, o primeiro de proteção psicossocial dos membros que a constitui, e um segundo voltado ao ambiente externo, reagindo e transmitindo aspectos culturais. Sua estrutura é constituída para que a família desempenhe suas tarefas essenciais e para que dê apoio a seus membros (MINUCHIN; FISHMAN, 1995).

A família é uma célula modificável, que transforma e é transformada pela sociedade como um todo. Ela permite mudanças sociais pelas regras conceituais e

comunicativas. A “organicidade familiar” (BENINCÁ; GOMES, 1998, p. 178) se

redimensiona em decorrência das pressões sociais que surgem por tais mudanças. Trata-se de uma movimentação constante de oposição entre os valores e as regras da herança familiar e os valores e as regras da atualidade.

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trabalho escravo. Juntamente com o índio nativo, teve início a miscigenação, que influiu decisivamente na formação da sociedade brasileira. A mudança da Corte portuguesa para o Brasil trouxe também diversas famílias tradicionais que deram novo formato à sociedade colonial. Os movimentos abolicionistas da metade do século XIX acabaram por modificar o tipo de imigração, levando um grande número de europeus a ingressar no Brasil para exercer ofícios antes realizados pelos escravos. Em decorrência disso, aumentou-se ainda mais a miscigenação, graças ao incremento no número de casamentos entre pessoas de diferentes origens.

Tal miscigenação, as diferenças socioeconômicas, a magnitude do território nacional e a diversidade de modelos familiares tornam difícil uma generalização da família brasileira. Além disso, a vida moderna apresenta novas configurações para a família nuclear (pais e filhos). São famílias formadas por pais separados, pais

recasados, mães ou pais solteiros, entre outros casos. Entretanto, “a família nunca

deixou de constituir-se numa rede de sustentação afetiva básica sobre o qual se fundamenta a segurança psicológica para formação e crescimento de cada geração

nova de filhos” (BERTOLINI, 2002, p. 24).

Nesse sentido, respondendo aos aspectos resultantes da modernização da família, é cada vez mais comum perceber mudanças nas definições dos papéis familiares e parentais, em que pais e mães compartilham aspectos referentes às tarefas educativas e operacionais do cotidiano da família, aspectos que, há pouco tempo, eram impensáveis, uma vez que a dinâmica era a de divisão e distinção total das tarefas do lar, cada um com sua responsabilidade específica. Entretanto, a modernização da família não tem um desdobramento tão simples, ela modifica seus ideais e identificações, dentre outros aspectos que nos fazem pensar que esse processo não é linear e que seus resultantes são, portanto, complexos (FIGUEIRA, 1987).

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a nova configuração de poder entre esposa, marido e pais, não mais centrada, exclusivamente, na figura masculina. Tais mudanças nas relações econômicas modificaram as relações familiares (AUN, 2012; BENINCÁ; GOMES, 1998).

Feréz-Carneiro (2004) direciona atenção aos estudos psicossociais que vêm sendo realizados nas últimas décadas com o objetivo de apreender os aspectos resultantes da transição do modelo tradicional de família para o novo modelo familiar. Evidencia-se a convivência conflituosa entre dois modelos: um tradicional, focado na divisão clara entre feminino e masculino, naturalmente diferentes. Nesse modelo, o casamento é considerado indissolúvel e monogâmico, e ligado à reprodução. Na organização familiar, fica evidente a função dos pais com autoridade sobre os filhos. O outro modelo é igualitário, marcado pelo fenômeno do individualismo, forte resultante do ritmo dos grandes centros urbanos brasileiros, onde o processo de modernização avançou consideravelmente e apresenta-se com as seguintes características:

No modelo novo de família, as fronteiras de identidades entre os dois sexos são fluídas e permeáveis, com possibilidades plurais de representações: mulher oficial das forças armadas, homem dono-de-casa, mãe e pai solteiros [...]. A instituição casamento já traz, em si, o embrião da dissolução. A sexualidade dos parceiros é desvinculada da reprodução ou de uma resposta feminina ao desejo masculino [...], deveres e privilégios são compartilhados (NEGREIROS; FERES-CARNEIRO, 2004, p. 39).

Um dos fatores que torna ainda mais complexa essa transição é o fato de que as mudanças nas estruturas familiares não se apresentam com a mesma intensidade e proporção em todas as famílias, o que resulta em famílias com configurações estruturais diferentes umas das outras. Umas mais tradicionalistas definem seus papéis com base em concepções nas quais há hierarquias e tarefas

bem definidas de acordo com “idade, gênero e função na família”; por outro lado, há

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2.5 SUBSISTEMA: CASAL E O CASAMENTO CONTEMPORÂNEO

Ao optar pelo casamento, a união de dois adultos com o propósito de formação de uma família, constitui-se seu marco inicial. O casal consente em estruturar um novo núcleo familiar desde suas vivências individuais, que contemplam valores e expectativas, explícitos ou inconscientes, e isso pode demandar um comportamento de aceitação e de desprendimento de ambos. Com o passar do tempo, o casal aprende a conciliar as diferenças pela sobrevivência do sistema (MINUCHIN, 1990; MINHUCHIN; FISHMAN, 1995).

Machado (2007) disserta que a necessidade de unir-se à outra pessoa já está imersa na natureza humana desde os primeiros dias de vida e nas primeiras referências relacionais que são estabelecidas na vida humana. O ser humano passa a ser constituído desde os relacionamentos que estabelece ao longo da vida. Com o passar temporal da vida, alguns fazem a opção pelo casamento e, de forma legal ou não, unem-se à outra pessoa e passam a constituir uma vida em comum. A busca por uma pessoa para compartilhar a vida e ter filhos ainda configura um rito de passagem, representativa, em algumas sociedades (SCORSOLINI-COMIN; SANTOS, 2011).

O casamento representa a criação de um novo sistema social com a substituição de arranjos anteriores, criando-se uma fronteira em torno do casal. Essa relação exige um alto nível de comprometimento dos indivíduos envolvidos (MINUCHIN, 1990). Alguns conceitos, como conjugalidade, individualidade, intimidade, privacidade, parentalidade, tornam-se objeto dos estudiosos voltados ao casal.

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relacionamento e contextos que constroem uma relação afetiva estável e uma realidade em comum.

Cada parceiro, ao se engajar na relação a dois, experimenta uma reconstrução de sua realidade individual, criando referências comuns e uma identidade conjugal. Esta relação é construída a partir de trocas verbais e não verbais entre os parceiros que coordenam suas ações recíprocas no universo social de significado, comprometendo-se com a construção de uma história comum, na qual as mudanças na pauta de ação de um dos cônjuges afetam o outro (Feres-Carneiro; Neto, 2010, p. 270).

No que se refere aos conceitos de intimidade e de privacidade que não serão aprofundados para os fins desta pesquisa, importa o conceito apresentado por Werner (2011), no qual os termos distinguem-se à medida que o primeiro pode ser compreendido pela troca de experiências em terrenos delicados, pessoais e íntimos, que se caracterizam como segredos, confidências, temas antigos ou novos, que se tornaram sigilosos e envolvem duas ou mais pessoas. No caso da privacidade, é aquilo que é pessoal, singular, vivido unicamente pela própria pessoa. No primeiro conceito, os aspectos que são compartilhados por um casal formam o que se denomina intimidade conjugal.

Todos esses conceitos emergem de uma realidade contemporânea em que “o

imaginário social, evoca-se a ideia do casal como um par associado por vínculos afetivos e sexuais de base estável, com um forte compromisso de apoio recíproco, com o objetivo de formar uma nova família incluindo, se possível, filhos” (FERES -CARNEIRO; Neto, 2010, p. 270). Observa-se que a formação de um casal dá-se inserida em um ambiente social com contextos sócio-históricos e familiares que indicam a formação individual das pessoas, resultando em realidades psicossociais complexas. Scorsolini-Comin e Santos (2011) apresentam alguns resultados publicados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE em 2007 sobre o casamento no Brasil. Os dados, apesar de não serem de anos tão recentes, já demonstravam o cenário do País em relação ao casamento:

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outros benefícios aumentam a disponibilidade financeira. A pesquisa mostra que, em 2006, do total de casamentos realizados, 85,2% ocorreram entre solteiros. No entanto, houve declínio nesse tipo de casamento, que, em 1996, representava 90,9% do total. Por outro lado, é crescente a proporção de casamentos de indivíduos divorciados com cônjuges solteiros. O porcentual de homens divorciados que casaram com mulheres solteiras passou de 4,2% do total de casamentos realizados no país em 1996 para 6,5% em 2006. Também houve aumento do porcentual de casamentos entre cônjuges divorciados, de 0,9% em 1996 para 2,2% em 2006 (IBGE, 2007)

Apesar das realidades complexas que envolvem o casamento contemporâneo, os dados acima reforçam que, no Brasil, o casamento é uma realidade instituída. Porém, há que se observar que a formulação em que se constitui o casamento gera uma série de exigências ao indivíduo que nele se insere e que, após um longo período de tempo, pode gerar um desconforto capaz de prejudicar a manutenção dessa ligação, o que pode ser verificado nos divórcios.

Com a construção do eu comum, os conflitos passam a ser uma realidade do cotidiano conjugal. À medida que o casal relaciona-se, surgem demandas por negociação e por definição de regras ao sistema familiar. Em geral, os padrões estabelecidos na família governam e indicam o modo de pensar dos esposos e a forma como se relacionam no contexto matrimonial. Qualquer desvio a esses padrões fere o funcionamento do sistema, evidenciando um senso de traição da parte que o cometeu. As experiências de adaptação frente aos conflitos que aparecem auxiliam na formação de uma estrutura básica (MINUCHIN; FISHMAN, 1995).

Nos atendimentos terapêuticos, Anton (2012) relata deparar-se, em geral, com a evidência de que os casais tendem a se organizar em torno de temas centrais que

resultam em conflitos inconscientes compartilhados, fomentando algumas “brigas crônicas” (ANTON, 2012, p. 71). Algumas relações estáveis, com disfunções

permanentes, podem ter como base o fato de que uma das partes esteja com conteúdos reprimidos e negados pela outra. Esses conteúdos internos podem impulsionar reações externas sutis, por vezes, intensas. Aqui, podem aparecer um inocente e um vilão.

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pesquisa que a autora realizou a fim de identificar as características do casamento contemporâneo em revistas brasileiras de conteúdo geral e revistas femininas com edição entre 2000 e 2005. Foram identificadas, na reportagem da revista Veja, de 2000, intitulada Amor Moderno, algumas mudanças na estrutura conjugal. Por exemplo, no lugar da formalidade e da hierarquia do modelo do passado, vêm à tona o respeito, o companheirismo e a busca de igualdade. A pesquisa aborda, ainda, a evidência dada à realização financeira e sexual, que ganha um espaço importante nas relações contemporâneas. Ao sucesso financeiro, está atrelado o sucesso na profissão; nesse sentido, o casal trabalha junto pela construção do patrimônio familiar. Ambos, esposo e esposa, têm expectativas de vivenciar uma relação marcada pela parceria econômica, pelo companheirismo e pela realização afetiva e sexual.

Jablonski (2006, p. 206) corrobora com os achados da pesquisa de Diniz, ao afirmar que “a atual família nuclear urbana e a instituição do casamento passam inequivocamente por momentos difíceis”. Mesmo tendo se sustentado por um longo

tempo, duas das mais antigas instituições da humanidade, o casamento e a família, estão vivenciando um momento mais delicado. Isso demanda uma contínua e dedicada investigação dos fenômenos envolvidos nesse processo, procurando coletar subsídios para a busca de soluções que possam amenizar as consequências em potencial.

Abandonar valores enraizados, abrir mão de aspectos particulares, tornar-se menos individualista, conciliar papéis profissionais e conjugais, dentre outros desafios que esposo e esposa devem enfrentar ao longo de sua vida matrimonial, fazem do casamento moderno uma dificuldade, colocando em risco inclusive as tradições que perduraram por anos. Diniz (2009) apresenta fatores que mantêm os casais unidos. Exercício pleno da sexualidade é um fator de união, principalmente alicerçado à nova sexualidade feminina que passa de passiva à ativa, de objeto de desejo à desejante, de reprimida à iniciadora e cobradora da performance

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Além das complexidades supracitadas, outro aspecto evidenciado por Diniz (2009) é a necessidade do convívio social. As transformações sociais e o processo de modernização também geram pressões ao casal que, ao buscarem oportunidades de educação e emprego, acabam-se distanciando de suas origens e redes sociais. O resultado disso é uma sobrecarga a um dos membros da família que fica, inevitavelmente, com a responsabilidade de suprir as necessidades emocionais que emergem em tal realidade. Dilemas entre necessidade de conhecer bem o parceiro, compartilhando seus sentimentos, e necessidade de intimidade, respeitando o que é privado, apontam para a existência de limites das trocas entre o casal, de forma que a comunicação conjugal passa a ser censurada pelo limite estabelecido. Essa observação já foi feita na pesquisa publicada por Feres-Carneiro (2001) ao relatar a importância do segredo.

No contrato estabelecido pelo casal, os limites podem ser fatores que auxiliarão a manutenção ou potencializar-se-ão para a destruição da conjugalidade. Como o casal tem uma importante função no sistema familiar, direcionar o olhar à sua conjugalidade requer um aprofundamento nas características que compõem a dinâmica conjugal. Um deles é o estudo dos papéis conjugais.

2.5.1 Papéis Conjugais

Os papéis conjugais são caracterizados pela definição de responsabilidades e de tarefas entre cônjuges. Willi (1995) afirma que, para o desenvolvimento pessoal de cada cônjuge, faz-se necessário redefinir os papéis, as regras e as funções, estabelecendo-os de forma não totalmente rígida e objetivando-se a funcionalidade da relação. O autor afirma a importância da construção de uma realidade compartilhada uma vez que os membros do casal levam consigo todos os valores e crenças de suas famílias de origem. Esses sistemas individuais precisam ser remodelados para formar a identidade conjugal do novo casal.

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mercado de trabalho aumentou sua participação no sistema financeiro-familiar, o que

estabeleceu um novo perfil à família, muito mais igualitário. Diante das novas concepções, a estrutura familiar tradicional, com o pai como único provedor e a mãe como única responsável pelas tarefas domésticas e pelo cuidado com os filhos, encontra-se em um momento de redefinição de suas fundamentações essenciais. O que não quer dizer que elas ainda não permanecem existindo.

Com o tradicional, as funções parecem estar claramente definidas e separadas, e as responsabilidades são delimitadas em função do masculino e do feminino. Se papel, tal como definido por Cabral e Nick (2006, p. 232), “é uma das

dimensões requeridas para o desenvolvimento de um sentido adequado de

identidade pessoal”, tal noção compreende a identificação dos deveres e direitos dos executores de determinada ação. Assim, os papéis masculino e feminino configurariam tipificações do que seria pertinente ao homem e à mulher em um dado contexto. O que reforça a dicotomia sexual homem-mulher, com características e peculiaridades próprias e mutuamente exclusivas, assumida por pais, familiares, escola, meios de comunicação e sociedade em geral, é incorporado como uma forte formação por meio do desenvolvimento humano (NEGREIROS; FERES-CARNEIRO, 2004).

A pesquisa de Diniz (2009), mencionada na seção anterior, abordou aspectos referentes à mudança nos papéis de gênero. Nesse sentido, as revistas apontaram dilemas entre velhas e novas concepções, sobretudo em relação ao papel da mulher, que passa a valorizar sucessos financeiro e profissional no relacionamento e na maternidade. A mulher brasileira, segundo reportagem da revista Veja, acrescenta a essa lista os cuidados com a aparência. Há indícios de mudanças também no gênero masculino, como no exemplo do relato de um marido que, na ausência da cônjuge, realiza funções como o controle do estoque de alimentos e do lanche dos filhos, relatando, ainda, ter prazer em cuidar das crianças. Essas afirmações reforçam a realidade de mudança e reflexibilização nos papéis de gênero.

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trabalhos externos resultaria na inclusão masculina nas tarefas do lar. Outro fato relevante é o desenvolvimento tecnológico que prometia criar facilidades que substituiriam tarefas manuais, facilitando a execução das tarefas domésticas. O problema central é que a realidade aponta fatos contrários a essas expectativas. O resultado é que a mulher acabou por assumir uma dupla jornada de trabalho, realidade agravada pela resistência apresentada pelos companheiros na execução das rotinas domésticas. Quanto à tecnologia, não há como negar que esteja auxiliando e facilitando o processo, o problema é que ela apresenta-se, a cada dia, com custos mais elevados, o que obriga a mulher ampliar sua participação em tarefas que gerem renda.

Pesquisas realizadas por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos têm constatado que a divisão das tarefas domésticas ainda tende a seguir padrões relativamente tradicionais (WAGNER, 2005), o que reforça a questão dos conflitos de transição entre o que é tradicional e o que é contemporâneo. As consequências disso são casamentos mais tardios, diminuição no número de filhos, maior autonomia e independência por parte das mulheres e um aumento de conflitos gerados pela busca da igualdade de direitos (JABLONSKI, 2006).

O modelo tradicional gera dependência recíproca entre homens e mulheres. Os homens precisam de suas companheiras para realizarem as tarefas que lhes geram bem-estar, como, por exemplo, as domésticas e as sexuais; e as mulheres dependem da figura masculina como provedor financeiro. Nesse caso, os papéis ficam claros e bem divididos. No modelo contemporâneo, a mulher precisa cada vez menos da função financeira do homem e já não consegue responder às expectativas

de ser “do lar”, título dado há anos para as mulheres que não exerciam uma atividade profissional externa. Esse é um complexo processo que consolida uma identidade profissional, acoplada a papéis masculinos, em contraposição a uma nostalgia narcísica de grande mãe sábia, generosa, transmissora do afeto e do poder (NEGREIROS; FERES-CARNEIRO, 2004).

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como alimentação, banho, cuidados corporais e vestimentas, enquanto ao pai cabem as tarefas recreativas. A função educadora é complexa, em sua totalidade, sobretudo na educação dos filhos, o que, segundo Wagner (2005), não se desencadeia em divisão igualitária de responsabilidades por parte dos pais.

As formas adotadas no lar para distribuição dos papéis e tarefas entre seus membros oferecem insumos interpretativos quanto à sua dinâmica de funcionamento, distribuição de poder e responsabilidades no sistema familiar. Podem indicar análises quanto à adoção, por parte da família, de modelos mais tradicionalistas ou contemporâneos ou se a mesma transita pelos dois.

2.6 EMPRESAS COMO SISTEMAS

Tendo a base nos princípios gerais da Teoria de Bertallanfy (1973), alguns estudiosos das organizações aplicaram-na aos estudos que tinham como foco as empresas, estruturando-se, assim, a Abordagem Sistêmica da Administração. Ela passou a compor o quadro das Teorias Gerais da Administração, sendo uma Escola da Administração, denominada Escola Sistêmica.

A Abordagem Sistêmica dá ênfase à visualização das organizações como um todo integrado (LACOMBE, 2009). Para Oliveira (2009), as mudanças provocadas pelo surgimento da Abordagem Sistêmica no estudo da administração das organizações embasaram-se em três razões principais. A primeira razão é a integração de todas as abordagens da Administração até então estudadas, a segunda razão trata a visualização das organizações no contexto ecológico e a terceira razão está na necessidade de melhor tratamento do todo e das partes das questões administrativas da organização.

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Quadro 2: Idealizadores e Contribuições da Teoria de Sistemas

Idealizador Ano Principais Contribuições

Ludwig von Bertallanfy 1951 - Criou a Teoria Geral dos Sistemas;

- Identificou os sistemas abertos e fechados

Kenneth Boulding 1956 - Estabeleceu uma hierarquia da complexidade das Ciências Físicas, Biológicas e Humanas, possibilitando a identificação de supersistemas e de subsistemas.

C. W. Churchman 1960 - Estruturou a Teoria de Sistemas para aplicação pelas organizações;

- Estabeleceu os elementos “de

fora”, que não podem ser controlados, e os “de dentro”, que são os recursos e

atividades que compõem as organizações.

Fremont Kast, James Rosenzweig e Richard

Johnson

1963 - Reestruturaram as funções básicas de planejar, organizar, executar e controlar, como interdependentes e integradas a um sistema, e não como atividades separadas.

Paul Lawrence e Jay Lorsh

1969 - Identificaram as características organizacionais necessárias para a integração eficaz com os fatores do ambiente externo.

Imagem

Tabela 2: Dados gerais das MPEs brasileiras  As MPEs no Brasil  –  O que isso representa
Tabela 3: Estágios do Ciclo de Vida Familiar
Tabela 6: Tomada de Decisão na Empresa
Tabela 8: Empresas Familiares como Sistemas  Características

Referências

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