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Tendo a base nos princípios gerais da Teoria de Bertallanfy (1973), alguns estudiosos das organizações aplicaram-na aos estudos que tinham como foco as empresas, estruturando-se, assim, a Abordagem Sistêmica da Administração. Ela passou a compor o quadro das Teorias Gerais da Administração, sendo uma Escola da Administração, denominada Escola Sistêmica.

A Abordagem Sistêmica dá ênfase à visualização das organizações como um todo integrado (LACOMBE, 2009). Para Oliveira (2009), as mudanças provocadas pelo surgimento da Abordagem Sistêmica no estudo da administração das organizações embasaram-se em três razões principais. A primeira razão é a integração de todas as abordagens da Administração até então estudadas, a segunda razão trata a visualização das organizações no contexto ecológico e a terceira razão está na necessidade de melhor tratamento do todo e das partes das questões administrativas da organização.

Uma leitura geral sobre os principais idealizadores e suas contribuições para a Teoria Geral dos Sistemas são apresentadas por Rebouças (2009) no Quadro 2:

Quadro 2: Idealizadores e Contribuições da Teoria de Sistemas

Idealizador Ano Principais Contribuições

Ludwig von Bertallanfy 1951 - Criou a Teoria Geral dos Sistemas;

- Identificou os sistemas abertos e fechados

Kenneth Boulding 1956 - Estabeleceu uma hierarquia da complexidade das Ciências Físicas, Biológicas e Humanas, possibilitando a identificação de supersistemas e de subsistemas.

C. W. Churchman 1960 - Estruturou a Teoria de Sistemas para aplicação pelas organizações;

- Estabeleceu os elementos “de fora”, que não podem ser controlados, e os “de dentro”, que são os recursos e atividades que compõem as organizações.

Fremont Kast, James Rosenzweig e Richard

Johnson

1963 - Reestruturaram as funções básicas de planejar, organizar, executar e controlar, como interdependentes e integradas a um sistema, e não como atividades separadas.

Paul Lawrence e Jay Lorsh

1969 - Identificaram as características organizacionais necessárias para a integração eficaz com os fatores do ambiente externo.

Russel Ackoff 1973 - Consolidou os diversos conceitos e aplicação da Teoria Geral dos

Sistemas.

Norbert Wiener 1975 - Correlacionou a Cibernética ao estudo das organizações.

Fonte: Rebouças, 2009, p. 88.

Os estudos relacionados acima ressaltam o movimento de expansão das abordagens teóricas em torno do olhar sistêmico sobre as organizações. Capra (2006) relata que Bogdanov (1917) foi o primeiro a tentar chegar a uma formulação sistemática dos princípios de organização que operam em sistemas vivos e não vivos. A ideia central de Bogdanov (1917) foi a de formular uma “ciência universal da organização” (CAPRA, 2006, p. 51). Ele definiu forma organizacional como a “totalidade de conexões entre elementos sistêmicos” (CAPRA, 2006, p. 51), que é praticamente idêntica à definição contemporânea de padrão de organização, e distinguiu três tipos de sistemas: complexos organizados, nos quais o todo é maior que a soma de suas partes; complexos desorganizados, nos quais o todo é menor que a soma de suas partes; e complexos neutros, nos quais as atividades organizadoras e desorganizadoras cancelam-se mutuamente.

As organizações como sistemas abertos possuem algumas características em comum que foram elencadas por Katz e Kahn (1978), as quais dizem respeito à questão da energia e seu processamento. A primeira característica é a importação de energia - os sistemas abertos recebem insumos, inputs, do ambiente -; em seguida, o processamento - o sistema processa e transforma o insumo recebido -; o output - após ser processado o input, é devolvido ao ambiente -; e, então, os ciclos de eventos, a energia colocada no ambiente retorna ao sistema para a repetição de seus ciclos de eventos.

A entropia negativa também é uma das características abordadas por Katz e Kahn (1978): é observada a busca da sobrevivência, os sistemas abertos tendem à homogeneização e, finalmente, à morte. A organização, porém, por meio da reposição qualitativa de energia, pode resistir ao processo entrópico. Santos (2006) ressalva que a entropia, na proposição dos princípios da Termodinâmica, afere à desordem de um sistema, por conseguinte, a entropia negativa afere à ordem do sistema. A segunda lei da Termodinâmica indica um universo, compreendido como

um enorme e finito sistema isolado que aloja sistemas menores, em constante equilíbrio (OLIVEIRA; DECHOUM, 2003).

As últimas características elencadas por Katz e Kahn (1978) são: a Informação como insumo, feedback negativo e processo de codificação – informação como input importante para maior conhecimento do ambiente, a importância do feedback é para corrigir os ciclos e o processo de codificação é para otimizar o recebimento da informação com qualidade para o sistema -; Estado estável e homeostase dinâmica – para impedir o processo entrópico, o sistema busca relação constante entre exportação e importação de energia que o leve à expansão -; Diferenciação – em virtude da entropia negativa, os sistemas mudam sua direção e buscam a diferenciação -; Equifinalidade – não existe uma única maneira correta para situação estável do sistema.

As organizações direcionam as condições para tomada de decisão sujeita à sua interação com o ambiente na realidade de sistema aberto. As características citadas acima podem indicar a estrutura de funcionamento das empresas, o seu conjunto de crenças, as regras de conduta, o relacionamento interpessoal e outros aspectos que a caracterizam. Ao aprofundar a análise dos conceitos de entropia aplicados aos sistemas biológicos, à realidade psíquica e às organizações sociais, Santos (2006) pressupõe que as emoções positivas ou negativas geram efeitos na mente humana e podem ser difundidas nas interações em grupos sociais. As organizações produtivas são impactadas pela entropia à medida que a entropia interna, ou seja, a desordem na organização, pode implicar diminuição da sua capacidade produtiva, afetando sua eficiência, eficácia e efetividade.

Para o autor, a entropia pode aparecer nas empresas nas seguintes formas: entropia cratológica ou política, relacionada ao poder; entropia das emoções, abrangendo o clima organizacional; entropia contábil financeira, relacionada à organização dos aspectos financeiros e contábeis; entropia estrutural, considerando a estrutura material, humana e física; e entropia operacional, relacionada aos mecanismos operacionais para garantir os meios e os fins da organização. Assim, a entropia, em suas diversas vertentes, conota a busca contínua pelo equilíbrio do sistema com vistas à manutenção da energia necessária para sua sobrevivência (SANTOS, 2006).

Nesse aspecto, as organizações tendem a buscar estratégias que as tornem mais competitivas, sendo um sistema com uma operação que gere os resultados esperados para todos os envolvidos. Um dos estudiosos da abordagem sistêmica nas empresas, Stafford Beer, apresentou o conceito do VSM – Viable System Model. A noção de sistemas viáveis apresentada por Beer (1979) considera que, para que seja viável, um sistema deve ser dotado de autonomia e capaz de uma existência independente no ambiente específico em que estão inseridos. Essa concepção emerge na abordagem de Liboni, Martins e Martinelli (2009), quando resgatam a necessidade de buscarem-se estratégias que aumentem a autonomia das organizações. Os autores destacam que o enfoque sistêmico evidencia a proposta de uma gestão recorrente e recursiva de controle e comunicação. As atividades primárias da empresa devem ter sua própria autonomia para tomada de decisão, amparadas em funções e não, unicamente, em cargos.

Considera-se, portanto, que a estrutura de funcionamento das empresas, seu conjunto de crenças, as regras de conduta e outros aspectos que a caracterizam e direcionam as condições para tomada de decisão, compõem o todo organizacional, e o conjunto da inter-relação entre os elementos descritos torna o processo decisório complexo. A leitura sistêmica compreende que todas essas definições são produto da sua interação com o ambiente na realidade de sistema aberto. Assim, quanto mais autônomos forem os subsistemas, mais facilidade ele terá para lidar com a complexidade do ambiente. A recursividade de informações e a coordenação dos processos tornam, portanto, a organização mais integrada e, consequentemente, mais flexível à necessidade de adaptação ambiental e mudança interna (LIBONE; MARTINS; MARTINELLI, 2009).

Compreender a organização por meio da Abordagem Sistêmica pode proporcionar um diagnóstico ampliado do sistema e de seus subsistemas, auxiliando na definição de estratégias mais efetivas para o alcance dos objetivos da organização. No caso das empresas familiares, o olhar sistêmico amplia a visão do todo, não se limitando aos aspectos unicamente relacionados à realidade operacional de sua estrutura de funcionamento. A análise do Ciclo de Vida, proposta por autores sistêmicos como Greiner, Churchill e Lewis, Mitzenbreg, Adizes, dentre outros, pode auxiliar nesse diagnóstico ampliado e auxiliar na compreensão para

elaboração de planejamentos estratégicos com o intuito de prever, de passar e de reverter a fase de declínio ou morte.