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2.11 GENOGRAMA NA FAMÍLIA E ORGANOGRAMA NA EMPRESA

2.11.2 Genograma

Para análise da família, o Genograma Familiar é uma representação gráfica que mostra o desenho ou o mapa da família. Na Terapia Familiar, ele é utilizado como um instrumento de diagnóstico e de intervenção que poderá promover um engajamento da família, uma ação para destravar o sistema, rever dificuldades familiares, verificar a composição familiar, clarificar os padrões relacionais familiares e identificar a família extensa. Frequentemente, sua confecção identifica a razão pela qual a família procura a terapia, ou seja, clarifica a demanda existente por trás da queixa explicitada pela família (ROTTER; BUSH, 2000).

O Genograma representa o mapeamento gráfico da “história e do padrão familiar, mostrando a estrutura básica, a demografia, o funcionamento e os relacionamentos da família”, sendo, portanto, um gráfico sumário dos dados coletados que evidencia a estrutura familiar de várias gerações (MCGOLDRICK; GERSON, 1995, p. 145). Trata-se de um mapa genealógico que é utilizado como registro da história construída com base em memórias, narrada pelos indivíduos e retrata os acontecimentos ao longo da sua história de vida (LADVOCAT, 2011).

De acordo com Nichols e Schwartz (1998), a principal função do Genograma é organizar os dados referentes à família durante a fase de diagnóstico e serve como base para o acompanhamento dos processos de relacionamento e de triângulos relacionais no decorrer da terapia. Sua estruturação dispõe as informações da família graficamente de forma a oferecer uma compreensão dos padrões familiares. Alguns símbolos podem ser observados na Imagem 11.

Imagem 11: Símbolos do Genograma

Fonte: Muniz e Eisenstein, 2009.

Por meio dos Genogramas, é possível acessar os principais mitos e crenças que norteiam a vida da família. Tais mitos tendem a ser transmitidos ao longo das gerações e podem guiar a formação e ruptura dos relacionamentos (ASEN; TOMSON, 1997). Na estrutura gráfica, também são evidenciadas as estruturas de relacionamento e a composição do lar, os membros que dividem a mesma moradia. Tal representação é exemplificada na Imagem 12.

Imagem 12: Linhas de Relacionamento e de Moradia

Fonte: Muniz e Eisenstein, 2009.

O Genograma representa, por seus símbolos, pelo menos, três gerações da família, sendo o gênero masculino representado por um quadrado, e o feminino, por um círculo. Os casais são ligados por linha horizontal que pode indicar o tempo de relação. As datas de eventos relevantes são registradas para que sejam analisadas posteriormente. As mortes são identificadas por um “x”. Essa simbologia foi padronizada por um comitê organizado no início da década de 1980, o Grupo Norte- Americano de Pesquisa em Atenção Primária (North American Primary Care Research Group), que definiu os símbolos práticos a serem utilizados no Genograma. Dessa forma, podem-se registrar informações sobre os membros da família e suas relações transgeracionais, permitindo uma rápida visão gestáltica dos complexos padrões familiares. As linhas possibilitam identificar a intensidade de envolvimento emocional entre os membros da família (MUNIZ; EISENSTEIN, 2009).

Trata-se, portanto, de um instrumento sistêmico, referendado e válido, a ser utilizado na fase de diagnóstico e levantamento de informações sobre as dimensões relacionais que geram repercussões nos sistemas das empresas familiares. Efetivamente auxilia na melhor compreensão da estrutura e da funcionalidade do sistema familiar e pode indicar alguma disfunção que pode estar impactando no funcionamento da empresa. Pelos aspectos que os definem, o Organograma e o Genograma deverão ser utilizados para uma caracterização da estrutura organizacional e familiar dos casais estudados.

3 METODOLOGIA

O estudo aqui proposto estabelece um diálogo entre os contextos, organizacional e familiar, dos casais que atuam em um empreendimento próprio. No campo dos estudos da Administração, apesar de se tratar de uma Ciência Social aplicada, marcada pelas fortes influências cartesianas da Engenharia, as pesquisas qualitativas têm-se tornado mais utilizadas. Assim, nas investigações sobre as pessoas e o ambiente de trabalho, elas são mais frequentes. A outra dimensão em diálogo é a realidade dos estudos da Psicologia, sobretudo, nos autores que abordam a temática “família”. Nesse campo de estudo, em especial nos modelos da Psicoterapia Sistêmica, as pesquisas qualitativas também têm sido uma forma viável para as especificidades de seus estudos.

A presente pesquisa propõe, portanto, uma abordagem em caráter qualitativo, uma vez que permite “compreender o conhecimento como produção e não como apropriação linear de uma realidade que se nos apresenta” (GONZÁLEZ-REY, 2005, p. 5). Além disso, considera como questão central a pesquisa qualitativa privilegiar a informação interpretativa que é construída em um diálogo crítico com a realidade, incluindo o pesquisador como parte dele (DEMO, 1998). Estudos qualitativos visam, ainda, abordar o mundo, abarcar, descrever e, às vezes, explicar fenômenos sociais de maneiras diferentes, sob a perspectiva da análise das experiências de indivíduos e grupos (BARBOUR, 2009). A criação envolvida da realidade, estimulada pela abordagem qualitativa construtivista, em que o conhecimento passa de representacional para adaptativo, considera que “os seres humanos só podem conhecer o que eles mesmos criam” (GLASERFIELD, 1996, p.78). Deixa de ser uma representação independente e passa a ser um mapa resultante da relação entre o ambiente e as suas experiências.

Para abordagem e tratamento dos dados em estudos qualitativos, faz-se necessário observar as definições de Demo (1998) de que, no método qualitativo, é sempre necessário priorizar a realidade acima do método, a informação interpretativa em vez da informação que se pretende, entendendo que o dado não

pode ser apenas levantado e, sim, deve ser construído em um diálogo crítico com uma realidade em sua dinâmica, profundidade e complexidade.

Nas perspectivas de pesquisas no contexto organizacional, Roesch (2009) atenta para o fato de a prática profissional ser uma oportunidade para combinar teoria e prática, em que os conceitos teóricos podem ser combinados, adaptados ou verificados com base em um contexto de exercício cotidiano da profissão. A autora reforça que o processo de pesquisa envolve teoria e realidade.

Dentre os autores que amparam e discutem os métodos nos estudos na Psicologia, o modelo do construtivismo oferece um apoio quanto ao posicionamento qualitativo nas pesquisas nessa área. O construtivismo enraiza-se, ainda, na Cibernética, na ideia da auto-organização dos organismos e de sistemas abertos. O conhecimento é, portanto, uma construção participativa. A busca por uma realidade elaborada desde a experiência dela mesma resulta em uma realidade amplamente subjetiva. Para as pesquisas nos campos sociais, pode ser um ponto de partida que abre portas de possibilidades a serem construídas caso a caso e ao acesso de particularidades em cada situação. Amplia-se, portanto, o acesso a significados para as pesquisas qualitativas (GLASERFIELD, 1996). Todo dado é julgado desde a realidade do estudo e do contexto em questão, sendo todo o processo da pesquisa relevante: “A interpretação é realmente uma construção” (GONZALEZ-REY, 2010, p. 7).

Neste ponto, é válido reforçar os aspectos da subjetividade evidenciada por Gonzalez-Rey (2010) na pesquisa qualitativa. Esse autor estabelece uma aproximação metodológica da definição ontológica da subjetividade, constituída desde os sentidos subjetivos, que só aparece quando o sujeito implica-se com a pesquisa. Ao considerar a subjetividade como pertencente ao contexto da pesquisa tanto por parte do pesquisador quanto do pesquisado, reforça-se a necessidade de elaboração de novas epistemologias. Essa nova abordagem requer a construção de novas representações teóricas que permitam o acesso às, denominadas por eles, zonas de sentido. Romper com as evidências do modelo positivista é a primeira construção necessária. É preciso uma nova compreensão quanto ao objeto de ciência.

O autor apresenta o conceito de epistemologia qualitativa com uma proposta epistemológica para os estudos qualitativos; essa pressuposição defende o caráter construtivo interpretativo do conhecimento, compreendendo-o como uma construção e não uma apropriação linear (GONZALEZ-REY, 2010).

Assim,

O conhecimento é um processo de construção que encontra sua legitimidade na capacidade de produzir, permanentemente, novas construções no curso da confrontação do pensamento do pesquisador com a multiplicidade de eventos empíricos coexistentes no processo investigativo (GONZALEZ-REY, 2010, p. 7).

Os estudos qualitativos pressupõem uma instância teórica e procuram o que é comum, mas permanecem abertos para perceber evidências imersas na individualidade, além de procurar acessar os significados múltiplos em vez de destruí-los em busca de médias estatísticas ou de frequências mínimas de aparição durante a coleta dos dados (ROESCH, 2009).

Quanto à tipologia, este estudo caracteriza-se por ser uma pesquisa exploratória, que, segundo Gil (2010), é o tipo de pesquisas que têm como propósito maior familiaridade com o problema, buscando torná-lo mais explícito ou construir hipóteses. Esse tipo de pesquisa demanda um planejamento flexível, elucidando os mais variados aspectos relativos ao fato ou ao fenômeno em questão. Para Diehl e Tatim (2004), a pesquisa exploratória tem por objetivo maior a familiarização com o problema e a coleta de dados por meio de entrevistas com as pessoas que detêm experiência prática com o problema pesquisado e a análise de exemplos que estimulam sua compreensão.

Com toda essa complexidade quanto ao acesso a dados qualitativos, considerando-se as implicações do pesquisador e do pesquisado e buscando-se a elucidação dos sentidos estabelecidos pelos casais em suas realidades de vida pessoal e profissional, esta investigação utilizou formas múltiplas que pudessem promover o diálogo sistêmico entre a Administração e a Psicologia e o acesso às realidades vivenciadas nessas duas dimensões. Não houve nenhum acompanhamento com características terapêuticas, a aproximação aos contextos e o acesso aos pesquisados deram-se durante o desenvolvimento da pesquisa, nos

dois momentos propostos que foram realizados nas residências ou empresas, considerando-se as formas mais viáveis aos casais.