• Nenhum resultado encontrado

2.5 SUBSISTEMA: CASAL E O CASAMENTO CONTEMPORÂNEO

2.5.1 Papéis Conjugais

Os papéis conjugais são caracterizados pela definição de responsabilidades e de tarefas entre cônjuges. Willi (1995) afirma que, para o desenvolvimento pessoal de cada cônjuge, faz-se necessário redefinir os papéis, as regras e as funções, estabelecendo-os de forma não totalmente rígida e objetivando-se a funcionalidade da relação. O autor afirma a importância da construção de uma realidade compartilhada uma vez que os membros do casal levam consigo todos os valores e crenças de suas famílias de origem. Esses sistemas individuais precisam ser remodelados para formar a identidade conjugal do novo casal.

Diante do processo de modernização, a relação entre as figuras e os papéis familiares mais tradicionais fica abalada. Por exemplo, a inclusão das mulheres no

mercado de trabalho aumentou sua participação no sistema financeiro-familiar, o que estabeleceu um novo perfil à família, muito mais igualitário. Diante das novas concepções, a estrutura familiar tradicional, com o pai como único provedor e a mãe como única responsável pelas tarefas domésticas e pelo cuidado com os filhos, encontra-se em um momento de redefinição de suas fundamentações essenciais. O que não quer dizer que elas ainda não permanecem existindo.

Com o tradicional, as funções parecem estar claramente definidas e separadas, e as responsabilidades são delimitadas em função do masculino e do feminino. Se papel, tal como definido por Cabral e Nick (2006, p. 232), “é uma das dimensões requeridas para o desenvolvimento de um sentido adequado de identidade pessoal”, tal noção compreende a identificação dos deveres e direitos dos executores de determinada ação. Assim, os papéis masculino e feminino configurariam tipificações do que seria pertinente ao homem e à mulher em um dado contexto. O que reforça a dicotomia sexual homem-mulher, com características e peculiaridades próprias e mutuamente exclusivas, assumida por pais, familiares, escola, meios de comunicação e sociedade em geral, é incorporado como uma forte formação por meio do desenvolvimento humano (NEGREIROS; FERES-CARNEIRO, 2004).

A pesquisa de Diniz (2009), mencionada na seção anterior, abordou aspectos referentes à mudança nos papéis de gênero. Nesse sentido, as revistas apontaram dilemas entre velhas e novas concepções, sobretudo em relação ao papel da mulher, que passa a valorizar sucessos financeiro e profissional no relacionamento e na maternidade. A mulher brasileira, segundo reportagem da revista Veja, acrescenta a essa lista os cuidados com a aparência. Há indícios de mudanças também no gênero masculino, como no exemplo do relato de um marido que, na ausência da cônjuge, realiza funções como o controle do estoque de alimentos e do lanche dos filhos, relatando, ainda, ter prazer em cuidar das crianças. Essas afirmações reforçam a realidade de mudança e reflexibilização nos papéis de gênero.

Jablonski (2006) aponta que o evento da emancipação feminina levou as mulheres a reavaliarem seus papéis sociais, sexuais e suas opções de vida, movimento esse carregado de expectativa de que a saída feminina do lar para

trabalhos externos resultaria na inclusão masculina nas tarefas do lar. Outro fato relevante é o desenvolvimento tecnológico que prometia criar facilidades que substituiriam tarefas manuais, facilitando a execução das tarefas domésticas. O problema central é que a realidade aponta fatos contrários a essas expectativas. O resultado é que a mulher acabou por assumir uma dupla jornada de trabalho, realidade agravada pela resistência apresentada pelos companheiros na execução das rotinas domésticas. Quanto à tecnologia, não há como negar que esteja auxiliando e facilitando o processo, o problema é que ela apresenta-se, a cada dia, com custos mais elevados, o que obriga a mulher ampliar sua participação em tarefas que gerem renda.

Pesquisas realizadas por pesquisadores do Brasil e dos Estados Unidos têm constatado que a divisão das tarefas domésticas ainda tende a seguir padrões relativamente tradicionais (WAGNER, 2005), o que reforça a questão dos conflitos de transição entre o que é tradicional e o que é contemporâneo. As consequências disso são casamentos mais tardios, diminuição no número de filhos, maior autonomia e independência por parte das mulheres e um aumento de conflitos gerados pela busca da igualdade de direitos (JABLONSKI, 2006).

O modelo tradicional gera dependência recíproca entre homens e mulheres. Os homens precisam de suas companheiras para realizarem as tarefas que lhes geram bem-estar, como, por exemplo, as domésticas e as sexuais; e as mulheres dependem da figura masculina como provedor financeiro. Nesse caso, os papéis ficam claros e bem divididos. No modelo contemporâneo, a mulher precisa cada vez menos da função financeira do homem e já não consegue responder às expectativas de ser “do lar”, título dado há anos para as mulheres que não exerciam uma atividade profissional externa. Esse é um complexo processo que consolida uma identidade profissional, acoplada a papéis masculinos, em contraposição a uma nostalgia narcísica de grande mãe sábia, generosa, transmissora do afeto e do poder (NEGREIROS; FERES-CARNEIRO, 2004).

Ao analisar, por exemplo, funções relacionadas à educação dos filhos, Jablonski (2006), comenta que os dados explicitados por Lamb (1987), concluíram que, para cada hora de trabalho ativo dos pais para com os filhos, correspondem três ou cinco horas levadas a cabo pela mãe, que se dedica arduamente a tarefas

como alimentação, banho, cuidados corporais e vestimentas, enquanto ao pai cabem as tarefas recreativas. A função educadora é complexa, em sua totalidade, sobretudo na educação dos filhos, o que, segundo Wagner (2005), não se desencadeia em divisão igualitária de responsabilidades por parte dos pais.

As formas adotadas no lar para distribuição dos papéis e tarefas entre seus membros oferecem insumos interpretativos quanto à sua dinâmica de funcionamento, distribuição de poder e responsabilidades no sistema familiar. Podem indicar análises quanto à adoção, por parte da família, de modelos mais tradicionalistas ou contemporâneos ou se a mesma transita pelos dois.