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A solução de controvérsias na organização mundial do comércio : o caso dos pneus reformados advindos da União Européia

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Academic year: 2017

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LUCIANO MONTI FAVARO

A SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO: O CASO DOS PNEUS REFORMADOS ADVINDOS DA UNIÃO

EUROPEIA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Direito da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Direito.

Orientador: Professor Dr. Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros.

(2)

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

22/08/2011

F272s Favaro, Luciano Monti

A solução de controvérsias na Organização Mundial do Comércio: o caso dos pneus advindos da União Europeia. / Luciano Monti Fvaro – 2011.

293f. : il.; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2011. Orientação: Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros

1. Eficácia e validade do direito. 2. Organização internacional. 3. União Europeia. 4. Pneus. I. Medeiros, Antônio Paulo Cachapuz de, orient. II. Título.

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(5)

Primeiramente agradeço ao Onisciente Deus pela capacidade a mim concedida, em especial, no desenvolvimento desse trabalho.

Agradeço aos meus amados pais, Hélio Favaro e Roselena Monti, pelo amor a mim concedido. Também a minha querida irmã Luciane e seu marido Elexandre, pais da querida e estimada Grasiele.

Agradeço ao professor Dr. Antonio Paulo Cachapuz de Medeiros pelos ensinamentos e constantes esclarecimentos, bem como a importante orientação no desempenho desse trabalho.

Agradeço aos professores Dr. Antonio de Moura Borges e Dr. Rodrigo de Castro Cabrero que gentilmente aceitaram participar de minha banca de defesa dessa dissertação e sugeriram correções para a melhor conclusão do tema.

Agradeço ao meu tio, professor Dr. Rubens Monti, exemplo de vida e inspiração nos meus estudos.

(6)

RESUMO

Referência: FAVARO, Luciano Monti. A Solução de Controvérsias na Organização Mundial do Comércio: o caso dos pneus reformados advindos da União Europeia. 2011. 293 fls.

Por essa dissertação objetiva-se estudar a eficácia e a eficiência do mecanismo de solução de controvérsias desempenhado pelo Órgão de Solução de Controvérsias da Organização Mundial do Comércio – OMC, em especial mediante a análise do caso “Brasil: medidas que afetam as importações de pneus reformados” (WT/DS332). Trata-se, inicialmente, da análise do histórico sobre as tentativas de instalação da ordem econômica internacional até a efetiva instalação dessa ordem econômica, bem como dos sujeitos que, atualmente, compõem essa ordem. Após adentra-se ao estudo dos meios clássicos de solução de controvérsias desenvolvidos no âmbito do Direito Internacional e do mecanismo de solução de controvérsias da OMC. Por fim, serão analisadas as recomendações do painel e do Órgão Permanente de Apelação efetuadas ao Brasil no mencionado caso, bem como a ADPF 101-3/DF na qual se discutiu a validade de liminares judiciais que permitiam a importação de pneus usados para o Brasil em verdadeira afronta a dispositivos constitucionais. O grande trunfo obtido pelo Brasil ao demonstrar que a importação de pneus usados e reformados poderia aumentar os riscos à sáude das pessoas e dos animais e ao meio ambiente, também será objeto de análise nesse trabalho.

(7)

RESUMEN

Referencia: FAVARO, Luciano Monti. La solución de diferencias em la Organización Mundial del Comercio: el caso de neumáticos recauchutados procedentes de la Unión Europea. 2011. 293 sh.

Para esta disertación se objetiva el estudio de la eficacia y la eficiencia del mecanismo de solución de controversias que desempeña el Órgano de Solución de Diferencias de la Organización Mundial del Comercio – OMC, en particular a través del análisis del caso “Brasil: Medidas que afectan a las importaciones de neumáticos recauchutados" (WT/DS332). Inicialmente se ocupa del análisis de los intentos históricos para instalar la orden económica internacional hasta su efectiva instalación, y los sujetos que, actualmente, constituyen esa orden. Después penetra en el estudio de los medios tradicionales de solución diferencias desarrollados en el marco del derecho internacional y el mecanismo de solución de diferencias de la OMC. Por último, se analizan las recomendaciones del Grupo Especial y del Órgano de Apelación Permanente hechas a Brasil en el caso mencionado, y el ADPF 101-3/DF en la que se discutió la validez de los mandamientos judiciales que permitieron la importación de neumáticos usados en el Brasil en verdadera afrenta a las disposiciones constitucionales. La gran ventaja alcanzada por Brasil para demostrar que la importación de neumáticos usados y recauchutados podría aumentar los riesgos de salud a los seres humanos, animales y el medio ambiente también será objeto de análisis en este trabajo.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

1 Fundo Monetário Internacional – países membros com maiores cotas, p. 65. 2 Fundo Monetário Internacional – maiores mutuários, p. 66.

3 Organização Mundial do Comércio – Organograma, p. 77.

4 Comparativo: quantidade de casos analisados pelo OSC versus CIJ, p. 179.

5 Organização Mundial do Comércio – Casos analisados pelo OSC, p. 185.

6 Organização Mundial do Comércio – Participação do Brasil perante o OSC, p. 185. 7 Partes do pneumático, p. 191.

8 Partes do pneumático, p. 192.

9 Quantidade de pneus usados importados pelo Brasil, p. 234.

(9)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 12

2 HISTÓRICO ACERCA DA INSTALAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA INTERNACIONAL ... 15

2.1 COOPERAÇÃO COMERCIAL NO SÉCULO XIX ... 15

2.2 COOPERAÇÃO COMERCIAL NO PERÍODO ENTRE GUERRAS ... 20

2.3 SISTEMA BRETTON WOODS ... 23

2.4 DO GATT À ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO – OMC... 27

2.4.1 Primeira fase: 1947 a 1967... 29

2.4.2 Segunda fase: 1967 a 1986... 34

2.4.3 Terceira fase: 1986 a 1994 ... 39

2.4.4. Resultados da Rodada Uruguai – Instituição da Organização Mundial do Comércio ... 42

2.5 DA OMC AOS DIAS ATUAIS: 1995 A 2010 ... 44

3 SUJEITOS DO DIREITO INTERNACIONAL ECONÔMICO ... 48

3.1 ESTADOS ... 49

3.2 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS ... 51

3.2.1 Personalidade e Capacidade Jurídica ... 52

3.2.2 Competências ... 55

3.2.3 Organizações Internacionais Econômicas... 58

3.2.3.1 Fundo Monetário Internacional – FMI ... 58

3.2.3.3.1 Dados Gerais ... 60

3.2.3.3.2 Fases do FMI ... 61

3.2.3.3.3 Recursos do Fundo e sistema de votação ... 64

3.2.3.2 Banco Mundial ... 67

3.2.3.3.1 Dados Gerais ... 68

3.2.3.3.2 Recursos do Banco Mundial e sistema de votação ... 71

3.2.3.3 Organização Mundial do Comércio – OMC ... 71

3.2.3.3.1 Personalidade Jurídica e dados gerais da Organização ... 72

3.2.3.3.2 Estrutura ... 75

a) Conferência Ministerial ... 75

b) Conselho Geral ... 75

c) Órgão de Revisão de Políticas Comerciais ... 77

d) Órgão de Solução de Controvérsias ... 78

e) Secretaria ... 78

3.2.3.3.3 Escopo normativo ... 79

a) Acordos Multilaterais ... 79

b) Acordos Plurilaterais... 81

3.2.3.3.4 Princípios ... 82

a) Princípio da igualdade ... 83

(10)

b.2) Benefícios econômicos e políticos advindos da aplicação do princípio ... 85

b.3) Aplicação do princípio ... 86

c) Princípio do tratamento nacional ... 89

d) Princípio da não-discriminação ... 90

3.3 AGENTES ECONÔMICOS INTERNACIONAIS ... 92

3.3.1 Denominação ... 92

3.3.2 Conceituação e características ... 93

3.3.3 Agentes Econômicos Internacionais Públicos e Privados ... 95

3.4 EMPRESAS TRANSNACIONAIS ... 98

3.4.1 Denominação ... 98

3.4.2 Conceituação ... 99

3.4.3 Personalidade Jurídica de Direito Internacional... 102

3.4.4 Empresa Transnacional e a Organização Mundial do Comércio ... 106

4 SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS ... 110

4.1 SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO DIREITO INTERNACIONAL ... 110

4.1.1 Conceituação ... 111

4.1.2 Meios de solução pacífica de controvérsias internacionais ... 112

4.1.2.1 Meios diplomáticos ... 114

a) Negociação ... 114

b) Inquérito ... 116

c) Mediação e Bons Ofícios ... 117

d) Conciliação... 118

4.1.2.2 Meios Jurisdicionais... 120

a) Arbitragem ... 121

b) Solução Judicial ... 125

4.1.2.3 Meios Políticos ... 128

a) Recursos a entidades internacionais ... 128

b) Acordos regionais ... 129

4.2 SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO ÂMBITO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO ... 131

4.2.1 Histórico ... 131

4.2.1.1 Carta de Havana ... 131

4.2.1.2 GATT-1947 ... 132

4.2.1.3 Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de Controvérsias – ESC... 136

4.2.2 Funcionamento do sistema de solução de controvérsias da OMC ... 138

4.2.2.1 Fase da Consulta Bilateral ... 139

4.2.2.2 Fase do Painel ... 141

4.2.2.3 Fase de Apelação ... 144

4.2.2.4 Fase de implementação das recomendações do painel ou do Órgão Permanente de Apelação ... 147

4.2.2.5 Fase da arbitragem ... 152

4.2.2.6 Natureza Jurídica do mecanismo de solução de controvérsias... 154

4.2.3 Os países em desenvolvimento no sistema de solução de controvérsias ... 156

4.2.4 Fontes de direito utilizadas no âmbito da OMC ... 163

4.2.4.1 Tratados ... 166

4.2.4.2 Costume Internacional ... 169

(11)

4.2.4.5 Doutrina... 174

4.2.4.6 Atos unilaterais ... 175

4.2.5 Eficácia e eficiência do sistema de solução de controvérsias da OMC ... 176

4.2.5.1 Conceitos de eficácia e eficiência ... 176

4.2.5.2 Eficácia e eficiência do sistema ... 178

5 ESTUDO DE CASO: MEDIDAS QUE AFETAM A IMPORTAÇÃO DE PNEUS REFORMADOS... 188

5.1 NOMENCLATURAS UTILIZADAS ... 189

5.2 LEGISLAÇÃO BRASILEIRA ... 193

5.3 CASO PERANTE O TRIBUNAL ARBITRAL AD HOC DO MERCOSUL ... 204

5.3.1 Histórico ... 204

5.3.2 Alegações do Uruguai ... 206

5.3.3 Alegações do Brasil ... 208

5.3.4 Decisão do Tribunal Arbitral ad hoc ... 210

5.3.5 Cumprimento do laudo arbitral pelo Brasil ... 213

5.3.6 Conclusão sobre o caso perante o Mercosul ... 214

5.4 CASO PERANTE A OMC ... 214

5.4.1 Caso perante o painel ... 216

5.4.1.1 Requerimento das partes ... 217

5.4.1.2 Análise do caso pelo Painel ... 219

5.4.2.1.1 Violação ao Artigo XI:1 GATT 1994 ... 219

5.4.2.1.2 Necessidade da proibição das importações com base no Artigo XX(b) do GATT 1994 ... 224

a) Importância dos valores que a medida visava proteger ... 225

b) Contribuição para a consecução dos objetivos pretendidos ... 226

c) Efeitos restritivos que a medida pode gerar no comércio internacional ... 226

5.4.2.1.3 Meios alternativos a serem utilizados no reaproveitamento de pneus .... 227

5.4.2.1.4 Medidas discriminatórias... 229

5.4.2.1.4.1 Medidas discriminatórias arbitrárias ou injustificáveis ... 230

5.4.2.1.4.2 Medidas discriminatórias como restrição disfarçada ao comércio internacional ... 236

5.4.2.1.5 Multa ... 237

5.4.2.1.6 Restrições à comercialização de pneus importados reformados imposta por legislação estatal ... 238

5.4.2 Caso perante o Órgão Permanente de Apelação ... 239

5.4.2.1 Argumento das partes ... 240

5.4.2.2 Argumento dos terceiros ... 244

5.4.2.3 Análise do caso pelo Órgão Permanente de Apelação – OPA ... 247

5.4.2.4 Conclusões e recomendações do Órgão Permanente de Apelação ... 253

5.4.3 Arbitragem ... 254

5.4.3.1 Argumento das partes ... 255

5.4.3.2 Decisão do árbitro ... 257

5.4.4 Implementação das recomendações do OSC ... 259

5.5 ADPF 101-3/DF ... 261

5.5.1 Petição Inicial ... 263

5.5.2 Atos realizados até o julgamento da ADPF 101-3/DF ... 265

(12)

5.7 EFICÁCIA E EFICIÊNCIA ... 281

6. CONCLUSÃO ... 283

REFERÊNCIAS ... 286

(13)

1 INTRODUÇÃO

Por intermédio dessa dissertação, objetiva-se analisar a eficácia e a eficiência do sistema de solução de controvérsias no âmbito da Organização Mundial do Comércio que é desempenhado pelo Órgão de Solução de Controvérsias – OSC.

A eficácia e a eficiência desse sistema de solução de controvérsias serão analisadas com base em dados obtidos da própria Organização, bem como, em especial, pela análise do caso: “Brasil: medidas que afetam as importações de pneus reformados”. Trata-se de caso analisado, no âmbito do OSC, primeiramente pelo painel (WT/DS332/R), em junho de 2007; e posteriormente pelo Órgão Permanente de Apelação (WT/DS332/AB/R), em dezembro de 2007.

Comoproblema de pesquisa, levantam-se três questionamentos:

a) Qual a natureza jurídica do mecanismo de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio?

b) O sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio é efetivo quando se trata de proteção à saúde das pessoas, dos animais e dos vegetais?

c) Qual a efetividade das recomendações do Órgão de Solução de Controvérsias da OMC?

Se tomado, como marco teórico, o julgamento, pelo OSC da OMC, da controvérsia entre as Comunidades Europeias – atualmente União Europeia – e o Brasil no caso: “Medidas que afetam as importações de pneus reformados”; se analisado a posição de doutrinadores nacionais1 e internacionais2 no que tange ao mecanismo de solução pacífica das controvérsias internacionais da OMC, bem como a natureza jurídica desse mecanismo; pretende-se verificar se: “o sistema de solução de controvérsias na Organização Mundial do Comércio é eficiente e eficaz para solucionar disputas comerciais, ainda que entre um bloco regional e um país em desenvolvimento”.

Os critérios utilizados para a aferição dos resultados serão os seguintes:

1

Doutrinadores nacionais: prof. Dr. Antônio Paulo Cachapuz de Medeiros; prof. Dr. Marcelo D. Varella; Celso Lafer; Guido Fernando Silva Soares; José Francisco Rezek; Alberto Amaral Júnior; Welber Barral; José Cretella Júnior; entre outros.

(14)

a) Verificação dos procedimentos adotados pelo órgão de solução de controvérsias da OMC no que tange ao julgamento desse caso específico. b) Análise dos resultados obtidos pelo Brasil com as recomendações do OSC

da OMC no caso dos pneus.

Interessante observar que são diversos os trabalhos nos quais se aborda, como tema central, o sistema de solução de controvérsias da OMC, principalmente no que tange aos órgãos que realizam a solução dos conflitos. No entanto, esses trabalhos limitam-se a expor sobre a evolução histórica desse sistema, bem como sobre a estrutura organizacional desses órgãos de solução.

Percebe-se, pelo contrário, serem poucos os trabalhos que apresentam a efetividade (eficácia e eficiência) do sistema de solução de controvérsias, em especial partindo da análise de um caso no qual as recomendações do OSC são baseadas em questões de proteção à saúde das pessoas, dos animais e dos vegetais.

A escolha do tema se justifica para entender o posicionamento do OSC em casos iguais a esse, os quais o Brasil pode, novamente, no futuro vir a se deparar. Assim, a análise do caso poderá contribuir para o entendimento das recomendações do Órgão de Solução de Controvérsias, bem como para o aprimoramento de defesa quando o Brasil tiver de enfrentar questões similares.

Verificar-se-á também, nesse trabalho, que a participação dos países em desenvolvimento, ao longo das tentativas de instalação da ordem econômica internacional, foi considerada muito pequena e aquém das reais necessidades desses países. Somente com a instalação por completo – a partir de 1995, com a instituição da Organização Mundial do Comércio – do sistema multilateral do comércio, é que se passou a dar importância à participação dos países em desenvolvimento no comércio mundial. Atualmente, esses países, ainda que tenham participação pequena no cenário do comércio internacional – como é caso do Brasil que representa apenas 1% (um por cento) –3 têm confiança no sistema de solução desempenhado pelo Órgão de Solução de Controvérsias da OMC.

3

(15)

Desse modo, a análise do mencionado caso poderá contribuir também para verificar se o Brasil possui confiança no mecanismo de solução de controvérsias da OMC.

Assim, objetiva-se demonstrar a eficácia e a eficiência do funcionamento do sistema de solução de controvérsias da Organização Mundial do Comércio, em especial, no caso “Brasil: medidas que afetam as importações de pneus reformados”, analisado pelo painel e pelo Órgão Permanente de Apelação do OSC da OMC.

A fim de desenvolver esse objetivo, essa dissertação conterá quatro capítulos, além dessa introdução. No primeiro será exposto o histórico sobre as tentativas de implantação da ordem econômica internacional até a efetiva implementação dessa ordem.

Os sujeitos que compõem, atualmente, essa ordem econômica internacional, – dentre eles, a Organização Mundial do Comércio –, serão objetos de análise no segundo capítulo.

Já a exposição dos meios clássicos de solução de controvérsias desenvolvidos no âmbito do Direito Internacional e do mecanismo de solução de controvérsias da OMC, bem como da natureza jurídica desse mecanismo serão verificados no capítulo terceiro dessa dissertação.

(16)

2 HISTÓRICO ACERCA DA INSTALAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA INTERNACIONAL

A busca pela instituição de uma ordem econômica não é tão recente quanto se possa pensar. Tal como será analisado nesse capítulo, no século XIX encontram-se as primeiras atitudes dos paíencontram-ses na tentativa de encontram-se estabelecer essa ordem.

Assim, o objetivo nesse capítulo é relatar esse período histórico que compreende desde a época do colonialismo até os dias atuais, demonstrando as incessantes ações dos Estados para a instituição por completo da ordem econômica internacional.

2.1 COOPERAÇÃO COMERCIAL NO SÉCULO XIX

De plano cabe expor, que antes do século XIX, na época do colonialismo, imperava-se o princípio da liberdade comercial. Princípio este que é a base da ordem econômica internacional, tal como exposto por Magalhães: “o princípio da liberdade do comércio, que presidiu o processo colonialista do passado, constitui um dos pilares de sustentação da ordem internacional que, ao longo do tempo, tem sofrido modificações de conteúdo e de alcance”.4

Comentando sobre a aplicabilidade desse princípio no período colonial, Magalhães complementa:

O princípio do livre-comércio, caracterizando o isolamento como contrário ao dever social de qualquer país de contribuir com os demais, justificava até a guerra contras os infratores. Por isso, Vitória5 fundamentava as conquistas

4 MAGALHÃES, José Carlos de. Direito Econômico Internacional. Curitiba: Juruá, 2005, p. 60. 5 Trata-se do espanhol Frei Francisco de Vitória que viveu de 1486 a 1546. Ele é, para alguns doutrinadores, considerado o fundador do Direito Internacional Público, tal como relatado por Soares: “Consideramos como fundador do Direito Internacional Público, que adotaria a denominação de „Direito das Gentes‟, o dominicano espanhol Frei Francisco de Vitória (1486-1546). Em suas

Relectiones, em particular a Relectio de indiis e a Relectio de jure belli, desvenda ele o fenômeno de

(17)

espanholas no Novo Mundo na recusa dos índios em comerciar, não obstante tal argumento estivesse em contradição com a moralidade por ele defendida.6

Quanto à tentativa de instalação de uma ordem econômica internacional relata-se que ela advém do século XIX quando países europeus – em especial o Reino Unido –, movidos pelos reflexos da Revolução Industrial, instituíram relações comerciais de livre comércio. Era a chamada “idade de ouro”.7

Essas relações de livre comércio eram, na verdade, mantidas por um conjunto de tratados bilaterais de comércio firmado entre os países europeus, dentre os quais o primeiro foi o tratado anglo-francês denominado Cobden-Chevalier Treaty adotado

em 1860.8

Esses tratados, além de conterem cláusulas de reduções tarifárias, já continham a denominada cláusula da Nação Mais Favorecida – NMF.9 Além disso, cabe assinalar que nenhuma conferência internacional, tampouco alguma organização internacional sustentou a rede de tratados bilaterais que foram subscritos.10

Os países da Europa, liderados pelo Reino Unido – haja vista ser considerado o Estado líder do processo de industrialização principalmente na área têxtil –, interessavam-se, cada vez mais, em reduzir as tarifas mediante a celebração de tratados aumentando, assim, as relações comerciais de livre comércio.11

Por outro lado, os Estados Unidos da América e os países da América Latina mantinham políticas de elevadas tarifas. De igual modo os países asiáticos, como, Japão e China, possuíam uma economia muito fechada.12 Esses fatores negativos

um estrito posicionamento jurídico, com a denominada „Escola Espanhola do Direito Internacional‟”. Cf. SOARES, Guido Fernando Silva. Curso de Direito Internacional Público. v.1. 2.ed. São Paulo: Atlas, 2004, p. 27-28.

6

MAGALHÃES, José Carlos de. op. cit., p. 61. 7

Organización Mundial del Comercio. Informe sobre el Comercio Mundial 2007. Geneva: Publicación de la OMC, 2007, p. 37.

Disponível em: http://www.wto.org/spanish/res_s/booksp_s/anrep_s/world_trade_report07_s.pdf. Acessado em: 15 de jan. de 2010.

8

LAVIÑA, Félix. Organización del Comercio Internacional. Buenos Aires: Ediciones Depalma, 1993, p. 2; MELLO, Celso D. de Albuquerque. Direito Internacional Econômico. Rio de Janeiro: Renovar, 1993, p. 87.

9

Ibidem, p. 2.

10 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 37. Sucintamente, pode-se afirmar que a cláusula NMF consiste na extensão, aos demais Estados pactuantes do tratado, das vantagens comerciais concedidas a um parceiro comercial. Essa cláusula será mais bem analisada no item 3.2.3.3.4 quando se tratar dos princípios aplicáveis à Organização Mundial do Comércio.

(18)

fizeram com que não fosse possível, naquela época, a criação de um sistema internacional de comércio.

Apesar disso, na Europa, foi sim possível a instalação de um sistema comercial com o intuito de reduzir as tarifas entre os países e fomentar as relações comerciais de livre comércio.13

Os avanços da Revolução Industrial não pararam por aí. Dia após dia surgiam, no mercado, novos produtos industriais com preço cada vez mais competitivo. Além disso, houve redução considerável do custo das comunicações e dos transportes. Esses fatores motivaram, a partir da segunda metade do século XIX, a difusão da Revolução Industrial para nível global mais precisamente para os Estados Unidos e Japão.14

Nesse sentido:

Graças ao telégrafo, as ferrovias e a navegação a vapor, as viagens internacionais começaram a ser não só mais baratas, mas também mais seguras e mais rápidas. Mercados atacadistas de produtos, até então inacessíveis devido aos preços proibitivos de transporte começaram a estar cada vez mais disponíveis aos comerciantes o que estimulou a produção nas recentes regiões de colonização europeia. Essas novas oportunidades atrairam investimentos estrangeiros e imigrantes, o que acelerou a integração dos mercados globais.15

Deve-se destacar que o país líder tecnológico desse processo de industrialização no século XIX foi o Reino Unido que – desde o fim das guerras napoleônicas e do Congresso de Viena, em 1815 – passava por um período excelente de estabilidade política e de relações com os países vizinhos. Era ele o principal exportador e importador do mundo, além de possuir a maior frota comercial e ter a moeda – libra esterlina – mais utilizada e aceita mundialmente.16

Acerca do papel do Reino Unido desempenhado nesse período pondera Laviña:

O desenvolvimento do império colonial inglês no final do século XVIII, a Revolução Industrial que este promoveu, bem como o domínio dos mares, fizeram dele o protagonista mais importante da economia mundial.17

Na linha do Reino Unido, outros países europeus passaram a assinar tratados de liberação de barreiras protecionistas. É o caso, por exemplo, da Prússia.18 A

13 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 37. 14

Ibidem. 15

Ibidem, p. 37. Tradução livre. 16 Ibidem, p. 38.

(19)

exemplo do tratado Cobden-Chevalier, o Governo prussiano conduziu a celebração

de tratado comercial, em 1865, com a França e com o Zollverein19. De igual modo, a

Itália, que tinha interesses na exportação de produtos agropecuários, adotou uma política de livre comércio.20

O sistema que havia se instalado na Europa permaneceu em excelente funcionamento até o ano de 1879 quando, a partir de então, começou a declinar, em especial, com o advento da primeira Guerra Mundial.21

Esse declínio teve origem a partir do momento em que, devido a grande depressão que se estabeleceu na Europa nos anos de 1873 a 1896, alguns países passaram a não renovar os tratados comerciais de liberação protecionista.

Interessante observar que a grande depressão europeia teve origem no setor agrícola. Os Estados Unidos, que encerrara a guerra civil em 1865, aumentou a produção de cereais e consequentemente as exportações. A entrada de cereais americanos, principalmente trigo, no continente europeu, fez com que o preço fosse reduzido consideravelmente. Os produtores europeus passaram então a perder espaço para os produtores americanos que vendiam os produtos agrícolas a preço mais módicos. Dado que a agricultura, à época, empregava mais da metade da população ativa desses países, a redução nas vendas dos produtos agrícolas europeus levou a grande depressão mencionada. Relata-se que determinados produtos tiveram queda de um terço durante o período da crise.22

Sobre essa queda no preço dos produtos:

Dado o grande aumento na produção mundial de cereais que ocorreram a partir da década de 1870 até o final do século, os preços do trigo caiu de cerca de 1,50 dólares EUA por bushel em 1871 para 86 centavos em 1885,

uma década depois, em 1894, o preço ficou em torno de 70 centavos.23

Percebia-se assim que, enquanto alguns países – com desenvolvimento industrial maior, como, por exemplo, o Reino Unido –, mantinham suas políticas de livre comércio e baixas tarifas; outros – principalmente os da Europa continental

18

Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 39.

19 O Zollverein foi o nome dado a uma aliança aduaneira celebrada entre os Estados alemães, no século XIX, a fim de facilitar o comércio entre eles.

20

Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 39. 21

LAVIÑA, Félix. op. cit., p.2.

(20)

onde a agricultura tinha um peso maior e os setores industriais eram menos desenvolvidos – começaram a aumentar suas tarifas.24

Isso fez com que surgisse uma política nacional protecionista entre alguns países. O governo alemão, que antes defendia uma política de livre comércio, passou a adotar, com a criação de leis internas, a partir de 1879, uma política protecionista.25

Essa política ficou ainda mais evidente entre os anos de 1890 e 1913. Em 1892, por exemplo, mais da metade dos cinquenta e três tratados comerciais firmados pelos países europeus foram extintos devido a essa política de proteção do comércio nacional.26 Até mesmo a França passou a adotar proteção adicional ao setor agrícola nacional. Medida essa tomada por intermédio da instituição da Tarifa Méline.27

A justificativa governamental para esse comportamento protecionista era que os demais Estados também estavam aplicando restrições ao comércio. A Alemanha, por exemplo, justificou a sua política protecionista com base na política protecionista adotada pelos Estados Unidos no que concernia aos produtos manufaturados.28

Acerca desse período, relata-se:

Nas duas décadas que precederam a Primeira Guerra Mundial eclodiram várias guerras tarifárias, geralmente causadas pela adoção de uma pauta de renegociação nova ou mais protetora dos acordos bilaterais. Quando um tratado se expirava, usavasse aumentar as tarifas temporariamente a fim de ganhar poder de negociação.29

Na tentativa ainda de salvar o sistema de cooperação comercial que iniciara com o advento da Revolução Industrial, firmou-se, em 1902, o primeiro acordo internacional sobre produtos básicos. Tratou-se do Convênio de Bruxelas sobre o açúcar. A finalidade era regular a produção e o comércio mundial desse produto.30

No entanto, devido aos fatores enumerados, o novo Convênio não surtiu efeito e o sistema de cooperação comercial enfraqueceu-se ainda mais com o advento da primeira Guerra Mundial, em 1914.

24

Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 39. 25 Ibidem.

26 Ibidem, p. 40. 27

Curiosamente, Méline era o nome do Ministro da Agricultura da França. 28

Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 40. 29 Ibidem, p. 40-41. Tradução livre.

(21)

2.2 COOPERAÇÃO COMERCIAL NO PERÍODO ENTRE GUERRAS

Durante a primeira Guerra Mundial – 1914 a 1918 – as relações comerciais entre os países europeus se tornaram ainda mais complicada. Os Estados passaram a guardar a produção interna para proveito próprio. Isso fez com que o comércio passasse a ter elevados níveis tarifários, bem como proibições, em determinados países, de exportações e importações.31

Com o fim dessa Guerra, os países vencedores do conflito se reuniram e negociaram um tratado de paz denominado Tratado de Versalhes. Desse tratado adveio a instituição da Sociedade das Nações – SDN, em janeiro de 1919, com a finalidade de instalar a paz e a segurança mundial, bem como propor uma cooperação comercial internacional entre os Estados.

Apesar dos esforços dessa Organização Internacional mediante a realização de diversas conferências internacionais, os objetivos não foram alcançados. Isso ocorreu basicamente por dois motivos. O primeiro pelo fato de que as dívidas resultantes da guerra eram altas e os câmbios utilizados pelos países europeus eram pouco realistas. Em segundo lugar pelo fato de os Estados Unidos da América – economia mais forte do mundo, à época – não terem aderido ao tratado de criação da Sociedade das Nações, organização cuja criação tinham patrocinado.32

Junta-se a isso o fato de os parlamentos internos dos Estados terem se fortalecido e começarem a requerer maior proteção ao mercado interno. Com a pressão dos parlamentos e da opinião pública, os governos se viam obrigados a intervir nos assuntos econômicos a fim de garantir maior proteção social e mais empregabilidade.33

Acerca da política tarifária nesse período entre guerras, relata-se:

A ausência de um plano geral ou uma abordagem internacional coordenada para suprimir os controles estabelecidos em tempo de guerra e facilitar a transição para uma ordenada economia mundial durante o pós-guerra criou uma situação de incerteza e desconfiança entre as nações, o que levou à instabilidade política. A difícil situação econômica da maioria dos países europeus e a fragilidade da situação política em muitos (especialmente na

31 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 41. 32 Ibidem, p. 42.

33

(22)

Alemanha, a maior economia da Europa Central), juntamente com a instabilidade da moeda tornou muito difícil para que os governos concordassem em reduzir as barreiras comerciais. Pelo contrário, dada a escassez ocorrida durante a guerra, a muitas indústrias se lhes atribuíram importância estratégica, bem como se lhes outorgou uma proteção especial ao final da guerra. Exemplos disso foram as indústrias de produtos químicos e as indústrias de máquinas elétricas nos Estados Unidos e Reino Unido (mediante a Tarifa Fordney-McCumber de 1922 e a Lei de Salvaguarda das Indústrias de 1921, respectivamente. ao final da guerra).34

Complicando ainda mais esse cenário, o Congresso norte-americano, em 1929, aprova a Lei Smoot-Hawley, sancionada pelo presidente Hoover, que tinha como objetivo o aumento da proteção à agricultura e aos produtos industriais norte-americanos.35 Os efeitos com a promulgação dessa lei foram graves. Isso porque se quebrou a confiança no sistema de comércio que, conquanto pequeno, ainda existia.

A par disso, a economia norte-americana, a qual caminhava para uma solidez devido à lucratividade com as exportações durante o período da guerra, passa a se retrair. Os efeitos sentidos na economia norte-americana, bem como a guerra protecionista que se levantava levaram a Grande Depressão de 1929.

Essa crise, no entanto, não se restringiu aos Estados Unidos, chegando a Europa nos anos seguintes. Devido às quebras bancárias e ao aumento das restrições comerciais introduzidas na Europa em 1930, o pânico financeiro se instalou no mundo fazendo com que alguns países – dentre eles o Reino Unido, os Estados Unidos e o Japão –36 abandonassem o padrão ouro nos anos de 1931 a 1933. Padrão esse que durou por um período de oitenta e seis anos só sendo interrompido durante a primeira Guerra Mundial.37

A partir de então, países começaram a estabelecer alianças comerciais altamente discriminatórias com atuais parceiros ou unicamente com países que pretendiam formar uma aliança estável. Dessas alianças resultaram as seguintes medidas comerciais discriminatórias: controles cambiários, sistema de compensação, restrições quantitativa nas exportações de determinados produtos a certos países e até proibições dessas exportações.38

34 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 39. Tradução livre. 35 LAVIÑA, Félix. op. cit., p. 2-3.

36

Sobre as ações da Alemanha relativamente ao abandono do padrão ouro, relata-se que: “a Alemanha não abandonou oficialmente o „padrão ouro‟, mas estabeleceu controles cambiários (julho de 1931) e um sistema múltiplo de câmbio. A reconstrução autárquica da economia alemã, sob ordens de Hjalmar Schacht, esteve acompanhada de um complexo sistema de acordos comerciais preferenciais com países da Europa Oriental”. Cf. Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 45. 37 Ibidem.

(23)

Essa época de 1932 a 1933, portanto, foi uma das mais tensas do século XX no que concerne a política comercial, tal como se pode inferir do Informe da OMC:

Os anos 1932-1933 foram, talvez, o mais escuro do século XX, para a política comercial. Em 1932, o comércio caiu a seu nível mais baixo desde 1921, no valor expressado em dólar. Entre 1929 e 1932, o comércio em dólar sofreu uma contração de 60% e reduziu em quase um terço em termos reais.39

No início de 1933, sempre em busca da instalação de um sistema multilateral de comércio, oito países europeus realizaram uma conferência denominada Conferência Monetária e Econômica de Londres. Nesta pretendeu-se estabilizar a taxa de câmbio do dólar e celebrar um acordo tarifário. No entanto, Franklin Delano Roosevelt, Presidente dos Estados Unidos à época, não se dispôs a assumir nenhum acordo quer em relação à moeda, quer em relação à política comercial.40

Com o evidente insucesso da Lei Smoot-Hawley, o governo dos Estados

Unidos colocou em prática o plano New Deal e, no que concernia a política

comercial, passou a adotar a Lei de Acordos Comerciais Recíprocos, de 1934. Com essa lei o Congresso outorgou ao Presidente a faculdade de celebrar acordos comerciais recíprocos que trouxessem benefícios mútuos.41

Nessa Lei continha-se dois aspectos importantes. O primeiro consistia na aplicação do princípio da nação mais favorecida. Assim, os países que firmavam acordo com os Estados Unidos se beneficiavam de reduções tarifárias previstas em todos os demais acordos baseados na Lei de 1934. Além disso, como o papel de fixação das tarifas passou do Congresso ao Poder Executivo, reduziu-se a influência de determinados grupos parlamentares.42

A intenção do governo norte-americano com a instituição da Lei de Acordos Comerciais Recíprocos, de 1934, foi bem recebida pela comunidade internacional, porém foi tardia a ponto de não evitar o estabelecimento de blocos preferenciais de comércio.43

O estabelecimento desses blocos decorreu da escassez de determinadas matérias primas essenciais para o abastecimento interno. Em virtude dessa escassez, alguns países passaram a se preocupar com a segurança interna e a

39 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 46. Tradução livre. 40

Ibidem. 41

(24)

chegar ao extremo de recorrerem às forças militares para garantir o acesso seguro às matérias primas. Foi esse, inclusive, o motivo declarado por Alemanha e Japão para o início da segunda Guerra Mundial.44

Com o advento da segunda Guerra Mundial – 1939 a 1945 – e a consequente extinção da Liga das Nações, em 1942, a instalação de um sistema multilateral de comércio se tornou utópica.45 Somente com o término da guerra é que o assunto voltou a ser abordado.

Vitoriosos da segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos da América – diferentemente do que fizeram ao final da primeira Guerra Mundial – assumem a responsabilidade de construir um novo sistema econômico internacional. Na realidade, os Estados Unidos queriam evitar o estabelecimento de uma nova guerra protecionista entre os países e para isso propuseram a criação de um novo sistema.46 Esse fator atrelado à tendência de universalismo e cooperação entre os Estados foram as bases políticas para a formação de um novo sistema denominado

Bretton Woods.

Nesse sentido pondera Magalhães:

Foi a tendência de universalismo e cooperação entre os Estados que motivou a celebração dos acordos de Bretton Woods, ao final da Segunda Guerra Mundial, que reformularam e reordenaram o sistema financeiro internacional, em crises sucessivas desde o início do século.47

2.3 SISTEMA BRETTON WOODS

Esse novo sistema foi fruto de uma Conferência Internacional Monetária realizada em Bretton Woods, New Hampshire, EUA, entre os dias 1º e 22 de julho de 1944.48 Pode se dizer que o atual sistema econômico mundial é baseado justamente nos acordos multilaterais estabelecidos nessa Conferência.

Nessa Conferência surgiram discrepâncias entre os norte-americanos e os ingleses acerca do sistema comercial que se deveria instalar. Levantaram-se duas propostas: uma de autoria do representante inglês e economista John Mainard

44 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 46. 45

LAVIÑA, Félix. op. cit., p. 3. 46

Ibidem, p. 3-4.

(25)

Keynes e a outra de autoria do então funcionário do tesouro norte-americano, Harry Dexter White.

A proposta inglesa consistia na criação de uma União Internacional de Compensação, “com base em uma moeda de conta internacional denominada

bancor”.49 Os Estados membros que integrariam essa União abririam nela contas, “devendo os saldos dos balanços de pagamentos ser[em] liquidados mediante lançamentos, de débito ou crédito, nos livros de escrituração nela existentes”.50

Já a proposta americana consistia na criação de duas Organizações Internacionais. Uma com finalidade de evitar que os déficits externos dos países se convertessem em crises econômicas globais – o Fundo Monetário Internacional, FMI; e outra com a finalidade de financiar projetos de médio e longo prazo para as nações menos desenvolvidas, tendo, num primeiro momento, a finalidade de financiar a reconstrução da Europa – o Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento, BIRD.51 Nesse ponto, a proposta americana sagrou-se vencedora e ambas as instituições se tornaram operacionais no ano de 1946.

Durante a Conferência Bretton Woods, as potências vencedoras da segunda

Guerra Mundial ainda propuseram a criação de uma Organização Internacional do Comércio – OIC a fim de que os obstáculos comerciais fossem, num primeiro momento, reduzidos e, posteriormente, eliminados por completo.52 Tentava-se, assim, construir um sistema econômico mundial baseado em três pilares: no Fundo Monetário Internacional, no Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento e na Organização Internacional do Comércio.

A par dessa Conferência, alguns países combatentes na segunda Guerra Mundial, já em 1942, esboçavam proposta de estatuto para uma nova organização internacional que tivesse por finalidade assegurar a paz e a segurança mundial evitando, assim, que o mundo pudesse novamente entrar em conflito armado. Meses depois da Conferência monetária de Bretton Woods – mais especificamente

49 RATTI, Bruno. Comércio Internacional e Câmbio. 10ª ed., São Paulo, Aduaneiras, 2001, p. 261. 50 Disponível em:

http://www.conpedi.org/manaus/arquivos/anais/manaus/direito_intern_pub_fernando_f_da_silva.pdf. Acessado em 10 de nov. de 2010.

51

LAVIÑA, Félix. op. cit., p. 4-5; AMARAL Jr., Alberto. A Solução de Controvérsias na OMC. São Paulo: Atlas, 2008, p. 15.

52 LAVIÑA, Félix. op. cit

(26)

em 21 de agosto de 1944 –, realizou-se, em Washington, a Conferência para a Organização da Paz no Mundo do Pós-Guerra.53

No ano seguinte, alguns países se reúnem em São Francisco, nos Estados Unidos, na Conferência das Nações Unidas para uma Organização Internacional. Nesse encontro foi apresentado o esboço da Carta das Nações Unidas que, posteriormente, concretizou-se. Em 26 de junho de 1945 a Carta da Organização das Nações Unidas, ONU, foi assinada, sendo ratificada por cinquenta e um países – dentre eles o Brasil – em 24 de outubro de 1945.54

Com a instituição da ONU e a consequente instalação do Conselho Econômico e Social – um de seus órgãos –, a criação da Organização Internacional voltada para o comércio – OIC, tal como proposta na Conferência Bretton Woods,

começou a se tornar realidade. Isso porque em 1946, o Conselho adota resolução em favor da formação dessa Organização.55

Na tentativa de criar esse Organismo Internacional são realizadas – por convocação do Conselho Econômico e Social da ONU – três conferências: a primeira em Lake Sucess, Nova Iorque, em 1947; a segunda em Genebra, Suíça, também 1947; e a última em Havana, Cuba, no ano de 1948.56

Do encontro em Genebra resultaram três objetivos: elaborar a carta da OIC; preparar um calendário acerca das reduções tarifárias; e instituir um acordo multilateral que contivesse princípios gerais do comércio que foi nomeado de Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio –General Agreement on Tariffs and Trade, GATT.57

Surge, então, entre os participantes da Conferência de Genebra uma dúvida. Como levar ao corte de tarifas e a utilização do GATT sem esperar a rodada final das negociações da qual se instituiria a OIC?58

A solução foi instituir o GATT provisoriamente, assim como cumprir o calendário acerca das reduções tarifárias imediatamente. Posteriormente, o GATT

53 Disponível em: http://www.onu-brasil.org.br/conheca_hist.php. Acessado em: 10 de set. de 2010. 54 Curiosamente, a expressão “Nações Unidas” foi cunhada pelo presidente Franklin Delano Roosevelt e utilizada pela primeira vez na Declaração das Nações Unidas, em 1º de janeiro de 1942 ainda durante a Segunda Guerra Mundial. Disponível em: http://www.onu-brasil.org.br/conheca_hist.php. Acessado em 30 de set. de 2010.

55

MATSUSHITA, Mitsuo; SCHOENBAUM, Thomas J.; MAVROIDIS, Petros C. The World Trade Organization: law, practice anda policy. Oxford: Oxford University Press, 2003, p. 1.

56

(27)

seria revisto a fim de ser mais coerente com a Carta da OIC. Desse modo, ambos poderiam ser adotados definitivamente.59

Assim, o GATT – que fora firmado, em 30 de outubro de 1947, por vinte e três países, dentre eles, o Brasil –, entrou em vigor, internacionalmente, no dia 1º de janeiro de 1948.60

A par disso, na terceira Conferência, realizada em Havana, concluíram-se os trabalhos do tratado constitutivo da OIC. Na ocasião, o tratado, denominado de Carta de Havana, que continha cento e seis artigos e dezesseis anexos foi adotado por cinquenta e três países.61

Conquanto o excelente trabalho desempenhado, a instituição da OIC, prevista na Carta de Havana, não foi possível. Isso porque, os Estados Unidos da América – país chave na implantação da nova ordem econômica e espelho para os demais que aguardavam a sua decisão para adotarem o tratado – não ratificaram a mencionada Carta. 62

Na verdade, o Presidente Truman enviou o texto da Carta de Havana para o Congresso americano, mas dada a vitória parlamentar dos republicanos, em 1948, a Carta sofreu várias resistências e a aprovação ficou prejudicada.

Nesse sentido dispõe-se no Informe da OMC de 2007:

A Carta encontrou oposição majoritária no Congresso. Vários grupos empresariais nos Estados Unidos consideraram que a carta era cheia de problemas, que trazia apenas uma relação indireta com o comércio (por exemplo, emprego e defesa da concorrência). Outros temiam que a Carta não conferisse proteção adequada para o investimento estrangeiro.63

Em 1950, o governo Truman anuncia que deixaria de buscar a aprovação congressual para a ratificação da Carta da OIC. Com isso, tal como relata Matsushita: “a OIC estava morta”.64

Portanto, o terceiro pilar – criação de uma organização internacional que gerisse o comércio internacional – proposto na conferência de Bretton Woods não

foi, naquele momento, concretizado.

59

MATSUSHITA, Mitsuo; SCHOENBAUM, Thomas J.; MAVROIDIS, Petros C. op. cit., p. 2.

60 No entanto, dado que a constituição da OIC não se concretizou, o GATT passou a ter vigência permanente.

61

Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 196. 62

MATSUSHITA, Mitsuo; SCHOENBAUM, Thomas J.; MAVROIDIS, Petros C. op. cit., p. 2. 63 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 46. Tradução livre.

(28)

2.4 DO GATT À ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO – OMC

Apesar desse desfecho, o sistema multilateral de comércio não se extinguiu, haja vista, conforme abordado, ter sido celebrado, em 1947, um acordo sobre tarifas e comércio denominado de GATT. Esse acordo continha várias disposições previstas na Carta Constitutiva da OIC (Carta de Havana), no entanto, com menores formalidades.

Importante mencionar que, conquanto durante diversos anos (1947 a 1995), a ordem econômica internacional tenha sido gerida pelos ditames do GATT 1947, não se pode incluir o GATT como uma organização internacional. Tratou-se, na verdade, unicamente de um Acordo sobre Tarifas e Comércio utilizado pelos países contratantes. Nesse sentido, são as palavras do doutrinador Celso Albuquerque de Mello: “é interessante observar as relações do GATT com a ONU, [uma] vez que ele não é propriamente uma organização especializada da ONU.”65.

Na mesma linha, pondera Accioly:

O antigo Acordo Geral de Tarifas e Comércio (GATT, 1947) não era organização internacional, propriamente dita, mas acordo “temporário”, cuja vigência se estendeu de 1948 até 1994, quando veio a ser “absorvido” pelo conjunto institucional mais amplo e mais estruturado da Organização Mundial do Comércio. Assim, pôs-se fim à lacuna institucional remanescente desde o fracasso da pretendida instauração da Organização Internacional do Comércio, que, nunca tendo entrado em vigor, dera lugar ao “acordo” de “vigência provisória”, sobre o qual se estrutura e desenvolve, em considerável extensão, o sistema mundial de livre comércio.66

De modo diverso entende Amaral Júnior. Para esse doutrinador, o GATT foi um Organismo Internacional de fato, haja vista possuir um Secretariado, estabelecido em Genebra, e um Diretor-Geral. Nesse sentido:

O Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio, que em princípio seria provisório, acabou por originar uma organização internacional de fato, com Secretariado estabelecido em Genebra e um diretor-geral que, em várias ocasiões, agiu com grande competência e imaginação no encaminhamento dos problemas e na busca de alternativas para os impasses havidos durante as negociações.67

65

MELLO, Celso D. Albuquerque. op.cit.,p. 89. 66

ACCIOLY, Hildebrando; SILVA, G.E. do Nascimento e; CASELLA, Paulo Borba. Manual de Direito Internacional Público. 16. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Saraiva, 2008, p. 421.

(29)

Quanto ao objetivo, por intermédio do GATT pretendia-se reduzir os obstáculos comerciais, em especial as barreiras tarifárias. Para isso fez-se necessária a inclusão de determinadas cláusulas liberatórias, como, por exemplo, medidas de reparação contra o dumping e os subsídios;68 regras de transparências

e publicação dos regulamentos nacionais relativos ao comércio;69 exceções relacionadas com a balança de pagamentos;70 medidas de salvaguardas contra o aumento brusco das importações;71 entre outros.

Além disso, pedra angular no GATT foi o estabelecimento dos princípios da não-discriminação e o da nação mais favorecida.72 Ressalta-se, no entanto, que se permitiam várias exceções a esses princípios com o intuito que fosse minimizada as posições antagônicas entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, conforme observa Cretella Neto:

O GATT 1947, verdadeira “lei fundamental” que regulava o livre comércio entre os países, repousava sobre uma série de regras essenciais, dentre as quais se destacam, em especial, o tratamento de nação mais favorecida, o tratamento nacional e a redução às barreiras ao livre comércio. Essas regras (...) foram abrandadas, para que não ocorresse uma ruptura insuperável entre as posições, em princípios antagônicas, que permaneciam, entre os países industrializados e os PMDs.73

Em que pese essas exceções, lembra Matsushita, que o GATT serviu de base para oito rodadas de negociações multilaterais do comércio que, ao final, foram bem sucedidas.74 Por essas rodadas pretendia-se reduzir as barreiras do comércio internacional. Ao final, conforme será analisado, resultou mais do que isso. Resultou na criação da Organização Mundial do Comércio.

A fim de facilitar o estudo, as rodadas de negociações são divididas em três fases. A primeira, compreendida de 1947 a 1967, foi a fase de construção do sistema e caracterizou-se pela relevante liberalização do comércio mundial – foi chamado de “anos dourados do GATT”.75 Nessa fase incorpora-se as seguintes

68

Artigo VI do GATT 1947. 69

Artigo X do GATT 1947.

70 Artigos XII a XVII, seção B do GATT 1947. 71 Artigo X do GATT 1947.

72 Esses princípios, conforme já exposto, serão mais estudados no item 3.2.3.3.4 do presente trabalho. Cf. LAVIÑA, Félix. op. cit., p. 90-91.

73

CRETELLA NETO, José. Direito processual na Organização Mundial do Comércio, OMC: casuística de interesse para o Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 30-31. Ressalta-se que a expressão “PMDs” utilizada constantemente pelo autor significa: “Países Menos Desenvolvidos”. 74

MATSUSHITA, Mitsuo; SCHOENBAUM, Thomas J.; MAVROIDIS, Petros C. op. cit., p. 5. 75

(30)

rodadas: Genebra, Suíça, 1947; Annecy, França, 1949; Torquay, Inglaterra, 1951; Genebra, 1956; Rodada Dillon, realizada em Genebra, de 1960 a 1962; Rodada Kennedy, também realizada em Genebra, de 1964 a 1967.

A segunda compreendida de 1967 a 1982 que se caracterizou pelo descrédito no sistema comercial instalado no pós segunda Guerra Mundial e no fracasso de normatizar o comércio de produtos agrícolas, bem como na criação de medidas de salvaguardas.76 Nessa fase incorpora-se a rodada Tóquio ocorrida em Genebra entre os anos de 1967 a 1982.

E por fim, a terceira fase, após 1982, na qual se incorpora a Rodada Uruguai, realizada em Genebra e em Punta del Este, Uruguai, entre os anos de 1986 a 1993 que resultou na criação da Organização Mundial do Comércio.

2.4.1 Primeira fase: 1947 a 1967

A primeira conferência de negociações iniciou-se ainda no ano de 1947, em Genebra, na Suíça, quando participaram vinte e três países. Os Estados contratantes concluíram cento e vinte e três acordos que abrangiam, aproximadamente, quinze mil itens tarifários. Esses itens correspondiam, à época, a 40% do comércio mundial.77

Acerca dessa primeira rodada, interessante mencionar acerca da cláusula da nação mais favorecida. Assim, se um país reduzisse a tarifa de uma negociação com um de seus parceiros comerciais, a redução tarifária deveria se estender a todos os demais países.78

A segunda rodada negocial acerca das questões tarifárias realizou-se em Annecy, França, em outubro de 1949. Dessa vez, a negociação tarifária não se deu entre os vinte e três países participantes da primeira rodada, mas sim entre eles e os onze países que aderiram ao processo de negociação. Consequentemente, as concessões tarifárias ficaram restritas a cinco mil itens.79

Outro impulso no crescimento do comércio mundial veio com a instituição, no ano de 1948, da Organização Europeia de Cooperação Econômica – OECE. Um dos

76

SILVA, Roberto Luiz. op. cit., p. 76. 77

Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 197. 78 Ibidem.

(31)

seus principais objetivos era administrar o Plano Marshall para a reconstrução da Europa devastada pela segunda Guerra Mundial.

Acerca da OECE descreve-se no Relatório da OMC de 2007:

Os membros da OECE decidiram colocar em prática um programa com o objetivo de eliminar progresivamente, dentro da Europa, as barreiras ao comércio, como as restrições em materia relativas a licenças, quotas e câmbio. O primeiro passo para a eliminação de quotas, em 1949-1950, conduziu a uma forte recuperação do volúme de comércio intra-europeu, a qual ajudou a fomentar o caminho para a criação de um Mercado Comum alguns anos depois.80

As reduções tarifárias estabelecidas nas Rodadas de Genebra e Annecy iriam se expirar em 1º de janeiro de 1951. Desse modo, os Estados contratantes reuniram-se em 1950, na cidade de Torquay, na Inglaterra a fim de decidir sobre a prorrogação dos acordos estabelecidos anteriormente. Inicia-se, assim, a terceira rodada de negociação.

Nessa rodada de negociações, na qual participaram trinta e quatro países, decidiu-se manter intacta a grande maioria das concessões feitas durante as Rodadas de Genebra e Annecy. Além disso, os países decidiram acrescentar ao acordo outros oito mil e setecentos itens tarifários. Nesse ponto, a Rodada de Torquay foi um sucesso.81

No entanto, deve-se frisar que as negociações seriam ainda melhores se não fossem dois fatores. O primeiro referente à alegação de alguns países europeus de que haviam esgotado sua capacidade de negociação nas últimas rodadas e, diante disso, não podiam fazer novas concessões a outros países. E em segundo, a decisão do governo Truman, em 1950, de não submeter a Carta constitutiva da OIC a consideração congressual, tal como já relatado nesse trabalho.82

Confirmada a não concretização da OIC, os países contratantes do GATT resolvem se reunir, em 1954, para deliberar sobre o futuro desse acordo a longo prazo, haja vista que deixaria de ser temporário. Realiza-se, assim, um período de revisão do GATT denominado de Período de Sessão de Revisão. Surge, nesse Período, novamente a proposta de instituir uma organização internacional que tivesse por objetivo regular o sistema de comércio internacional. Era a Organização

80 O referido Mercado Comum mencionado na citação refere-se à Comunidade do Carvão e do Aço criada em 1951, e, posteriormente, a Comunidade Econômica Europeia, conforme será exposto na primeira nota de rodapé do capítulo 5. Cf. Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 197. Tradução livre.

81 Ibidem.

(32)

de Cooperação Comercial – OCC. Não obstante os esforços, o Congresso americano novamente decidiu não aprovar a ratificação da Carta da OCC.83

Sendo assim, os países contratantes tiveram de se contentar com a revisão dos dispositivos do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio – GATT.

Praticamente o GATT sofreu três modificações substanciais. A primeira modificação foi referente ao Artigo XVIII que continha exceções a fim de amparar indústrias novas. Desse modo: “flexibilizaram-se as normas relativas ao uso de restrições quantitativas com a finalidade de ajudar as indústrias iniciantes”.84 A segunda modificação importante se referiu a aplicação de restrições quantitativas na balança de pagamentos por parte dos países em desenvolvimento em momentos de crise. E por fim, introduziu-se o artigo XXVIII bis por meio do qual se estabeleceu

utilização mais flexível de proteção tarifária pelos países menos desenvolvidos.85 Concluído esse período de revisão do GATT, vinte e dois países, reúnem-se em Genebra, no ano de 1956, para celebrar a quarta rodada de negociações comerciais multilaterais. Obteve-se sucesso nas reduções e consolidações das tarifas comerciais. No entanto, a preocupação dos Estados participantes ficou por conta de como se daria a integração dos países em desenvolvimento no sistema que se instalava.

Nesse interim, seis países europeus – Bélgica, Luxemburgo, França, Alemanha, Itália e Países Baixos – adotam, em 1957, o Tratado de Roma, por meio do qual se estabeleceu a Comunidade Econômica Europeia – CEE. A assinatura desse tratado teve por primórdio a criação, por esses mesmos seis países, da Comunidade Europeia do Carvão e do Ação – CECA, em 1951.86

Surge, assim, outra dúvida entre os participantes do GATT. Como se daria a relação dos membros da CEE com os demais Estados contratantes? Essa interrogação foi a mola propulsora para que, em setembro de 1960, quarenta e cinco países dessem início a quinta rodada de negociações comerciais denominada de Rodada Dillon.87

83 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 198. 84

Ibidem. Tradução livre.

85 Interessante observar que apesar do trato mais favorecido aos países em desenvolvimento, a participação deles, no mercado mundial, à época, diminuiu. Ibidem, p. 197.

86

Acerca dessas duas Comunidades maiores explicações serão dadas na nota de rodapé 621 no Capítulo 5.

(33)

Assim, o objetivo por essa nova rodada era elaborar uma lista tarifária comum que seria aplicada aos seis membros da CEE na relação com terceiros Estados. Além disso, a Tarifa Externa Comum – TEC estabelecida na CEE não poderia ser maior do que a média das tarifas de cada um dos seis países, em separado, tal como previsto no artigo XXIV do GATT. Caso os Estados membros da CEE se afastassem dessa norma, deveriam fazer concessões tarifárias sobre outros itens como forma de compensação.88

Essas negociações, apesar de satisfatórias não incluíam a agricultura. Acerca desse tema, os membros da CEE não chegaram a um consenso sobre a aplicação da TEC, razão pela qual não aceitaram fazer concessões sobre os produtos agrícolas e agropecuários.89

Conquanto o insucesso acerca dos produtos agrícolas, bem como ínfima participação dos países em desenvolvimento, a Rodada Dillon, encerrada em julho de 1962, teve como resultado positivo a concessão de quatro mil tarifas entre os países participantes. Concessões essas que representavam intercâmbio comercial no valor de quase cinco milhões de dólares. Outro resultado advindo dessa rodada foi o Acordo relativo a tecidos de algodão.90

Acerca da Rodada Dillon, descreve-se no Relatório da OMC: “em suma, por essa Rodada visualizou-se as dificuldades que marcariam as rodadas posteriores, principalmente em relação a agricultura e a integração dos países em desenvolvimento no sistema mundial de comércio”.91

A última rodada de negociações dessa fase foi a Rodada denominada Kennedy que se realizou em Genebra, de 1963 a 1967. Foram dois os fatores que a motivaram. O primeiro em virtude de os países em desenvolvimento quererem integrar o sistema de comércio abrindo assim novas oportunidades de exportações.

E o segundo foi devido à mensagem enviada pelo Presidente dos Estados Unidos, John Fitzgerald Kennedy, ao Congresso americano na qual enumerava cinco desafios do atual governo, a saber: o crescimento do Mercado Comum Europeu; a pressão cada vez maior sobre a posição da balança de pagamentos; a necessidade de acelerar o crescimento econômico nos Estados Unidos; a ofensiva

88

Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 199. 89

Ibidem. 90 Ibidem.

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dos países comunistas em matéria de assistência e comércio; e a necessidade de novos mercados para o Japão e países em desenvolvimento.92

Por essa mensagem, o Presidente norte-americano convenceu o Congresso da necessidade de realização de novas rodadas de negociações comerciais. O Congresso, então, estabeleceu, em 1962, Lei de Expansão do Comércio. Facultou-se por ela que o Presidente assinasFacultou-se acordos que reduzisFacultou-sem em 50% a tarifas comerciais, com exceção de alguns produtos. Excepcionou-se, também, a concessão tarifária aos países comunistas ou sob influência comunista.93

Em decorrência disso, em maio de 1963, iniciou-se a sexta rodada de negociações. Vários temas foram colocados na mesa de negociação, dentre os quais, a liberação de produtos agrícolas, a inclusão de medidas não tarifárias e o trato diferenciado aos países em desenvolvimento.94

Nas negociações, os Estados participantes aceitarem firmar acordos nos moldes aprovado pelo Congresso norte-americano. Além disso, chegou-se ao consenso de que não se negociaria uma TEC, em separado, com cada país do CEE, mas sim se negociaria com o próprio bloco, como uma única pessoa jurídica de direito internacional.95

Outros sucessos dessa rodada foram: a elaboração, em 1967, de um código denominado de Código Antidumping por meio do qual se abordou o problema do

dumping enfrentado pelos países; celebração de um acordo que abrangia várias

medidas não tarifárias; redução significativa das tarifas dos produtos industrializados. Quanto às reduções tarifárias aplicáveis aos produtos têxteis e agrícolas, e às restrições quantitativas e impostos internos, as negociações não lograram muito êxito.96

Finalizada a Rodada Kennedy, encerra-se a primeira fase de rodadas de negociação – conhecida como “anos dourados do GATT” – na tentativa de instituir um sistema multilateral de comércio.

92 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 200. 93

Ibidem. 94

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2.4.2 Segunda fase: 1967 a 1986

No final da década de 60, a economia norte-americana passou a ter elevado déficit público em decorrência da guerra do Vietnã. A crise interna enfrentada pelos Estados Unidos acabou se dissipando mundialmente. O resultado dessa crise foi “a elevação dos preços das mercadorias vendidas em mercados integrados e a elevação da circulação internacional de capitais, causando um profundo desequilíbrio da taxa de câmbio”.97

Os países, então, perdem a confiança no dólar e passam a exigir a conversão de enorme quantidade de dólar em ouro. Tendo em vista essa pressão externa, o Presidente Nixon suspende, em 15 de agosto de 1971, a conversibilidade do dólar em ouro e sobretaxa em 10% as importações dos Estados Unidos com vistas “a forçar europeus e japoneses a reapreciar o valor das respectivas moedas em relação ao dólar”.98 Além disso, adotou medidas de controle de preços e salários a fim de evitar que a inflação se acelerasse, bem como adotou, em dezembro de 1971, uma política de desvalorização do dólar.99

As políticas implementadas por Nixon, principalmente a que desvinculou o dólar do ouro, acabaram por levar, em 1973, a ruptura do Sistema Bretton Woods

baseada no câmbio fixo. Passou-se, portanto, a permitir a livre flutuação da taxa de câmbio.100

A par disso, os Estados Unidos propõem uma nova rodada de negociações comerciais multilaterais. Os membros da CEE não se mostram, num primeiro momento, tão entusiasmados, haja vista terem o interesse centrado na ampliação do Mercado Comum. No entanto, dada a ruptura do Sistema Bretton Woods e a

desvalorização do dólar, os países integrantes da CEE se viram obrigados a participar dessa nova rodada de negociações.101

Inicia-se, assim, no final de 1973 a Rodada de Tóquio que duraria até 1979 e da qual participariam noventa e nove países. A escolha da cidade de Tóquio para se realizar a conferência foi estratégica, haja vista, à época, o Japão ser o principal

97

AMARAL Jr., Alberto. A Solução de Controvérsias na OMC. São Paulo: Atlas, 2008, p. 19. 98 Ibidem.

99

Ibidem. 100

Acerca desse assunto, ressalta Amaral: “do ponto de vista jurídico, porém, o sistema desapareceu apenas em 1976, na reunião do FMI que aconteceu em Kingston, na Jamaica”. Ibidem, p. 19.

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exportador do mundo e as demais economias asiáticas estarem obtendo participação cada vez maior no comércio mundial.102

Na Declaração de Tóquio, de 12 de setembro de 1973, os países participantes da rodada se comprometeram com: “a eliminação progressiva das barreiras comerciais e o melhoramento do quadro internacional no qual se desenvolv[ia] o comércio mundial”.103 Reconheceu-se ainda, por essa Declaração, a necessidade de adoção de medidas especiais relativas ao comércio a fim de ajudar os países em desenvolvimento.

No entanto, as diretrizes constantes na Declaração de Tóquio acabam, num primeiro momento, não saindo do papel. Isso porque o cenário econômico internacional que já não era tão estável acaba se agravando mais ainda com o conflito árabe-israelense que eclode em outubro de 1973.

Devido ao conflito, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo – OPEP quadruplicou o preço do petróleo. Essa decisão resultou em paralisação do crescimento industrial e aumento do desemprego em diversos países.104 Além disso, os países passam a adotar, novamente, práticas protecionistas e a defender que uma maior liberação comercial, naquele momento, resultaria num desafio insuperável.105

Acerca desse período relata Amaral Júnior: “a perda da disciplina financeira internacional, oriunda da erosão do sistema de paridade fixa, deixou as portas abertas para a expansão do endividamento público e privado do início dos anos 70”.106

Com esses acontecimentos, tudo indicava que as negociações, que acabavam de se iniciar, estavam fadadas ao insucesso. Conquanto isso, por intermédio das negociações na Rodada de Tóquio obteve-se alguns avanços, como, por exemplo, as negociações sobre os produtos tropicais que beneficiavam, em especial, os países em desenvolvimento. Acerca desses produtos, interessante ressaltar que os países desenvolvidos não chegaram pedir reciprocidade aos países em desenvolvimento.107

102 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 202-203. 103 Ibidem, p. 203.

104 AMARAL Jr., Alberto. A Solução de Controvérsias na OMC. São Paulo: Atlas, 2008, p. 19. 105

Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 203. 106

Imagem

Figura 1 – Países membros do FMI com maiores quotas  Fonte: site da própria Organização 202
Figura 2 – Doze maiores mutuários do FMI  Fonte: site da própria Organização 208
Figura 3 – Organograma da Organização Mundial do Comércio  Fonte: site da própria Organização 239
Figura 4 – Quantidade de casos analisados pelo OSC versus CIJ  Fonte: filtro de dados obtidos no site da OMC e da CIJ
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Referências

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