• Nenhum resultado encontrado

2 HISTÓRICO ACERCA DA INSTALAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA

3.2 ORGANIZAÇÕES INTERNACIONAIS

3.2.3 Organizações Internacionais Econômicas

3.2.3.3 Organização Mundial do Comércio – OMC

3.2.3.3.2 Estrutura

A estrutura organizacional da OMC vem definida no Artigo IV do referido tratado. Desse modo, a OMC é composta pela Conferência Ministerial; pelo Conselho Geral a qual se subordinam vários outros Conselhos; pelo Órgão de Revisão de Políticas Comerciais; pelo Órgão de Solução de Controvérsias; e por uma Secretaria.

a) Conferência Ministerial

A Conferência Ministerial é composta por representantes de todos os Estados membros. Trata-se do órgão máximo de deliberação da organização que se reúne ao menos uma vez a cada dois anos. Tem como competência, portanto, a tomada de decisões sobre todos os assuntos compreendidos em quaisquer dos acordos comerciais.

Diversas conferências ministeriais importantes foram realizadas, como Singapura (1996), Genebra (1998), Seattle (1999), Doha (2001), Cancún (2003), Hong Kong (2005). Na Conferência Ministerial de Doha, uma agenda para o desenvolvimento foi assumida e prolongou-se nas reuniões das conferências ministeriais posteriores.234

Acrescenta-se a essas a sétima Conferência Ministerial da OMC realizada entre os dias 30 de novembro e 2 de dezembro de 2009 em Genebra, Suíça. O tema central debatido foi “a OMC, o sistema multilateral do comércio e o atual ambiente econômico mundial”.

b) Conselho Geral

Diferentemente da Conferência ministerial que se reúne em determinadas datas específicas, o Conselho Geral é um órgão permanente de negociações internacionais.

Ao Conselho Geral subordinam-se outros Conselhos instituídos mediante o Tratado de Marraqueche. Eventualmente, a estes Conselhos subordinam-se Comitês específicos.

São três os Conselhos previstos no tratado constitutivo que funcionam sob a orientação do Conselho Geral: o Conselho para o Comércio de Bens; o Conselho para o Comércio de Serviços; e o Conselho para os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com o Comércio – denominado de Conselho de TRIPS. Desses Conselhos podem participar representantes de todos os Estados membros.

Cada um desses Conselhos tem a incumbência de supervisar um Acordo Comercial Multilateral. Assim, o Conselho para o Comércio de Bens supervisiona o funcionamento dos Acordos Comerciais Multilaterais previstos no Anexo 1A do Tratado de Marraqueche. Já o Conselho para o Comércio de Serviços tem a incumbência de supervisar o funcionamento do Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços – denominado de GATS. Por fim, o Conselho de TRIPS supervisiona o funcionamento do Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual relacionados com o Comércio – denominado de Acordo sobre TRIPS.235

Pode se estabelecer para cada um desses Conselhos órgãos subsidiários denominados de Comitês como é o caso, por exemplo, do Comitê do Comércio de Serviços Financeiros e do Comitê de Compromissos Específicos subordinados ao Conselho de Comércio de Serviços, tal como se pode verificar na Figura 3 (próxima folha).

Ainda no que tange ao Conselho Geral, previu-se pelo Artigo IV, 7 do tratado constitutivo da OMC, o estabelecimento de Comitês a ele subordinado, quais sejam: o Comitê de Comércio e Desenvolvimento; o Comitê de restrições por motivo de Balanço de Pagamentos; e o Comitê de Assuntos Orçamentários, Financeiros e Administrativos.

Esses Comitês, por sua vez, poderão constituir subcomitês. É o que se verifica, por exemplo, com a constituição do Subcomitê de Países em Desenvolvimento subordinado ao Comitê de Comércio e Desenvolvimento,

Por fim, acerca do Conselho Geral, cabe mencionar a sua função de estabelecimento de cooperação efetiva com outras Organizações

Intergovernamentais ou Organizações Não Governamentais – ONGs que tenham áreas de atuação relacionadas com a da OMC.236

c) Órgão de Revisão de Políticas Comerciais

Por intermédio do Órgão de Revisão de Políticas Comerciais objetiva-se analisar as políticas comerciais adotadas pelos países membros da OMC. A intenção, assim, é “detectar eventuais falhas no cumprimento dos acordos da OMC e sanar eventuais controvérsias antes que o Órgão de Solução de Controvérsias seja acionado”.237

Quaisquer alterações legislativas internas referentes às normas da OMC devem ser informadas ao Órgão de Revisão de Políticas Comerciais que as analisará a fim de garantir a efetividade dos acordos comerciais.238

Figura 3 – Organograma da Organização Mundial do Comércio Fonte: site da própria Organização239

236

Tratado Constitutivo, Artigo V.

237 VARELLA, Marcelo D. op. cit., p. 294. 238 Ibidem.

d) Órgão de Solução de Controvérsias

No Acordo Constitutivo da OMC previu-se a instituição de um mecanismo de solução de controvérsias consubstanciado no Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos que regem a Solução de Controvérsias. A aplicação das regras constantes nesse Entendimento foi designada ao Órgão de Solução de Controvérsias – OSC que “é uma especialização funcional do Conselho Geral da OMC”.240 Em síntese esse Órgão possui as seguintes funções: “autorizar a criação

dos painéis, adotar o relatório elaborado pelos painéis e pelo Órgão de Apelação, supervisionar a execução das recomendações sugeridas pelos painéis e pelo Órgão de Apelação e autorizar a suspensão de concessões comerciais”.241

Tanto o mecanismo de solução de controvérsias, quanto à atuação do OSC serão objetos de estudo no próximo capítulo no qual se verificará, também, a eficiência e a eficácia do Órgão, bem como a participação brasileira nesse mecanismo.

e) Secretaria

A Secretaria da OMC é chefiada por um Diretor-Geral indicado pela Conferência Ministerial. É ele o responsável por indicar os integrantes do pessoal da Secretaria, bem como definir seus deveres e condições de trabalho, de acordo com os regulamentos adotados na Conferência Ministerial.242

Dentre várias competências – que terão natureza exclusivamente internacional – do Diretor-Geral, destaca-se a apresentação da proposta orçamentária anual e o relatório financeiro ao Comitê de Orçamento, Finanças e Administração, tal como descrito no Artigo VII do Tratado de Marraqueche.

239 Organização Mundial do Comércio. Disponível em:

http://www.wto.org/spanish/thewto_s/whatis_s/tif_s/org2_s.htm. Acessado em: 5 de jan. de 2011. 240

AMARAL Jr., Alberto. A Solução de Controvérsias na OMC. São Paulo: Atlas, 2008, p. 101. 241 Ibidem.

Por esse tratado também se enuncia as atitudes esperadas do Diretor-Geral e do pessoal da Secretaria no desempenho de suas funções. É o que se encontra descrito no Artigo VI, 4 do tratado constitutivo da OMC:

No desempenho de suas funções, o Diretor-Geral e o pessoal da Secretaria não buscarão nem aceitarão instruções de qualquer governo ou de qualquer outra autoridade externa à OMC. Além disso, eles se absterão de toda ação que possa afetar negativamente sua condição de funcionários internacionais.243

Exige-se, de igual modo, que os Estados membros da OMC respeitem a natureza internacional das funções do Diretor-Geral e do pessoal da Secretaria a fim de não influenciá-los no desempenho de suas funções.

3.2.3.3.3 Escopo normativo

Verificada a estrutura da Organização, passa-se a análise de seu escopo normativo. Esse escopo normativo é integrado por duas categorias de Acordos: os Acordos Multilaterais e os Plurilaterais. Ambos os Acordos constituem anexos ao Tratado de Marraqueche.

a) Acordos Multilaterais

Trata-se dos acordos incluídos como anexos ao Acordo Constitutivo da OMC e que tem força vinculante para todos os membros. Desse modo, ao aderir ao Tratado de Marraqueche, o país encontra-se subordinado a todos esses acordos multilaterais.

Os Acordos Multilaterais são os constantes nos Anexos 1A, 1B, 1C, 2 e 3, a seguir enumerados:

o Anexo 1A: acordos multilaterais sobre o comércio de bens:

 Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio de 1994 (GATT 94);244

243 Tratado Constitutivo, Artigo VI.4.

244 Importante mencionar que o GATT 1994, conforme disposto no seu artigo 1, é integrado: pelas disposições do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio de 1947; pelas disposições dos instrumentos que tenham entrado em vigor sob o GATT 1947 antes da data de entrada em vigor do Acordo Constitutivo da OMC, quais sejam: protocolos e certificações relativos a concessões tarifárias; protocolos de acessão (exclusive as disposições (a) relativas a aplicação provisória e retirada de

 Acordo sobre a Agricultura;

 Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias;

 Acordo sobre Têxteis e Confecções;

 Acordo sobre Obstáculos Técnicos ao Comércio;

 Acordo sobre as Medidas em Matéria de Investimentos Relacionadas com o Comércio;

 Acordo sobre a Aplicação do Artigo VI do GATT (dumping);  Acordo sobre a Aplicação do Artigo VII do GATT (valoração

aduaneira);

 Acordo sobre a Inspeção Prévia à Expedição;  Acordo sobre Normas de Origem;

 Acordo sobre os Procedimentos para o Trâmite de Licenças de Importação;

 Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias;  Acordos sobre Salvaguardas.

o Anexo 1B: Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços – GATS.

o Anexo 1C: Acordo sobre os Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio – TRIPS.

o Anexo 2: Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos que regem a Solução de Controvérsias.

o Anexo 3: Mecanismo de Exame de Políticas Comerciais.

aplicação provisória e (b) que estabelecem que a Parte II do GATT 1947 será aplicada provisoriamente da forma mais completa desde que não incompatível com legislação existente na data do Protocolo); decisões sobre derrogações concedidas sob o Artigo XXVIII do GATT 1947 e ainda em vigor na data de entrada em vigor do Acordo Constitutivo da OMC; outras decisões das PARTES CONTRATANTES do GATT 1947; Pelos seguintes Entendimentos: (i) Entendimento sobre a Interpretação do Artigo II:1(b) do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994; (ii) Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XVII do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994; (iii) Entendimento sobre as disposições sobre Balanço de Pagamentos do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio; (iv) Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXIV do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994; (v) Entendimento a Respeito de Derrogações de Obrigações sob o Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994; (vi) Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXVIII do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994; pelo Protocolo de Marraqueche ao GATT 1994. Desse modo, o GATT 1947 integra o atual GATT 1994.

No presente trabalho, concentrar-se-á no estudo do Anexo 2 no qual estão previstas as regras e procedimentos que regem a solução de controvérsias no âmbito da OMC.

b) Acordos Plurilaterais

Diferentemente dos acordos multilaterais, os plurilaterais são de adesão voluntária. Trata-se de quatro acordos celebrados originalmente na Rodada Tóquio que tiveram número reduzido de signatários o que resultou em adesões voluntárias.

Acerca dos acordos multilaterais e plurilaterais tem-se a seguinte diferenciação extraída do site da OMC:

A grande maioria dos Membros adotaram todos os Acordos da OMC. No entanto, após a Rodada Uruguai manteve-se quatro Acordos, negociados originalmente na Rodada de Tóquio, cujo número de signatários era menor e que são denominamos de “acordos plurilaterais”. Todos os demais Acordos negociados na Rodada de Tóquio passaram a ser obrigações multilaterais (ou seja, obrigações que devem ser cumpridas por todos os Membros da OMC) quando se estabeleceu, em 1995, a Organização Mundial do Comércio.245

Desse modo, tal qual exposto na informação acima, apenas os quatros Acordos são de adesão voluntária. Os demais acordos, denominados de multilaterais, são obrigatórios. Assim, o Membro, ao aderir à Organização, estará sujeito, obrigatoriamente, aos acordos multilaterais, somente se sujeitam aos plurilaterais por livre liberalidade.

Os quatro acordos plurilaterais referidos que compõem o Anexo 4 do Tratado de Marraqueche são:

o Anexo 4: Acordos plurilaterais:

 Acordo sobre o Comércio de Aeronaves Civis.  Acordo sobre Contratação Pública.

 Acordo Internacional dos Produtos Lácteos.  Acordo Internacional de Carne Bovina.

245 Disponível em: http://www.wto.org/spanish/thewto_s/whatis_s/tif_s/agrm10_s.htm. Acessado em: 15 de dez. de 2010. Tradução livre.

Interessante observar que, dada a não obrigatoriedade de adesão a esses tratados, o Brasil somente aderiu ao Acordo Internacional de Carne Bovina.246

Ressalta-se que na atualidade outros acordos comerciais no âmbito da OMC são celebrados. Esses acordos decorrem das Conferências Ministerial, como, por exemplo, a Rodada de Doha, em 2001.

3.2.3.3.4 Princípios

Antes de iniciar o estudo dos princípios utilizados no âmbito da OMC, necessário definir o que vem a ser um princípio.

Reale relata que os princípios são:

„Verdade fundantes‟ de um sistema de conhecimento, como tais admitidas, por serem evidentes ou por terem sido comprovadas, mas também por motivos de ordem prática de caráter operacional, isto é, como pressupostos exigidos pelas necessidades da pesquisa e da praxis”.247

Esse mesmo doutrinador afirma que os princípios podem ser classificados em três categorias: omnivalentes, plurivalentes e monovalentes.248

Omnivalentes são aqueles válidos a todas as formas de saber, citam-se, como exemplo, os princípios de identidade e de razão suficiente. Já plurivalentes são aqueles aplicáveis a diversos campos de conhecimento, como, por exemplo, o da causalidade que é extensivo às ciências naturais. E por fim, os monovalentes que são aqueles válidos apenas no âmbito de uma determinada ciência, como, por exemplo, os princípios gerais de direito.249

Assim, nas palavras de Reale, princípios gerais de direito podem ser definidos como:

Enunciações normativas de valor genérico, que condicionam e orientam a compreensão do ordenamento jurídico, quer para a sua aplicação e integração, quer para a elaboração de novas normas. Cobrem, desse modo, tanto o campo da pesquisa pura do Direito quanto o de sua atualização prática.250

246

Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em: http://www.desenvolvimento.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=5&menu=367. Acessado em: 30 de mar. de 2011.

247 REALE, Miguel. Lições Preliminares de Direito. Saraiva: São Paulo, 2006, p. 303. 248

Ibidem. 249 Ibidem.

Percebe-se, assim, que os princípios são ordenações que estabelecem diretrizes obrigatórias para a interpretação de uma determinada regra jurídica.

Exposto esse introito, caberá a análise dos princípios utilizados no atual sistema de comércio internacional, quais sejam: princípio da igualdade; princípio da nação mais favorecida; e princípio do tratamento nacional.

a) Princípio da igualdade

A lógica do sistema jurídico da OMC é baseada no princípio da igualdade. Assim independe se o Estado é desenvolvido ou se encontra em desenvolvimento, tampouco importa se o Estado possui economia pequena ou de grande proporção. Perante a OMC, portanto, vige o princípio da igualdade entre os Estados.

Desse princípio derivam outros dois princípios: o da reciprocidade e o da não- discriminação.

Pelo princípio da reciprocidade garante-se que os Estados ofertarão o mesmo trato recebido dos outros países. Já pelo princípio da não-discriminação exige-se que os Estado membros da OMC não ofereçam tratamento diferenciado entre seus parceiros comerciais.251 O princípio da não-discriminação será mais bem explicado

no item “d” a seguir.

b) Princípio da nação mais favorecida

Dada a relevância desse princípio no atual sistema comercial, necessário, primeiramente, uma análise sobre o histórico e os benefícios advindos de sua aplicação no comércio internacional para, posteriormente, adentrar-se a sua aplicação no atual sistema multilateral de comércio.

b.1) Histórico da utilização do princípio

Esse é o princípio cerne da ordem econômica. Trata-se de uma obrigação legal de conceder tratamento igual a todos os países signatários do acordo no qual está previsto esse princípio. Matsushita relata que a utilização desse princípio remonta ao século XII quando grupos específicos de países utilizavam-no, de forma limitada, em tratados comerciais.252 No entanto, a primeira referência à expressão “nação mais favorecida” somente aparece no final do século XVII.253

Posteriormente, findo o mercantilismo, a cláusula da nação mais favorecida passou a ser amplamente aplicada às concessões concedidas entre os países. Relata-se, no entanto, que a cláusula, até a instituição do GATT, era utilizada de forma condicional ou incondicional. Na forma condicional, as concessões eram outorgadas mediante uma compensação. Já na forma incondicional, as concessões eram outorgadas sem uma compensação recíproca.254

Nos séculos XVIII e início do século XIX, a cláusula foi utilizada, de forma incondicional, nas negociações entre os países europeus.255 Já os Estados Unidos,

cuja participação comercial era recente, optaram, nessa época pela utilização da cláusula de maneira condicional.256

Somente depois da primeira Guerra Mundial e com um aumento considerável das exportações americanas, é que os Estados Unidos passaram a utilizar a cláusula de maneira incondicional na tentativa de que os Estados importadores das mercadorias americanas adotassem o mesmo tratamento.257 Posterior a essa época, a aplicação da cláusula se torna comum tendo sido incluída no GATT de 1947, sendo a sua pedra angular, e, atualmente, tem se tornado um dos pilares do sistema de comércio da OMC.258

252 MATSUSHITA, Mitsuo; SCHOENBAUM, Thomas J.; MAVROIDIS, Petros C. op. cit., p. 143. Tradução livre.

253 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 143. 254 Ibidem, p. 143-144. 255 Ibidem, p. 144. 256 Ibidem. 257 Ibidem.

b.2) Benefícios econômicos e políticos advindos da aplicação do princípio

A aplicação continuada desse princípio no contexto econômico atual é imprescindível, haja trazer diversos benefícios econômicos e políticos, tais como os enumerados por Matsushita. Assim, por intermédio desse princípio – que é consequência do princípio da igualdade soberana das nações, independentemente do tamanho ou da importância comercial:

I. garante-se a remoção de distorções que poderiam prejudicar o bom funcionamento do sistema;

II. gera-se concorrência livre e leal;

III. protege-se o valor das concessões comerciais contra aquilo que se chama de “erosão”, mediante a possibilidade de se conceder favores a alguns Estados, mas não a todos;259

IV. tem-se proteção contra a corrupção e a capacidade de se comprar favores especiais praticadas por alguns Estados;

V. tem-se simplicidade na administração, haja vista todas as nações serem tratadas de forma igual;

VI. impede-se as retaliações discriminatórias e consequente animosidade entre as nações;

VII. verifica-se um efeito multiplicador, haja vista que as concessões comerciais negociadas se espalham por todo o sistema multilateral de comércio.260

Por esses benefícios, imperioso concluir que o princípio da nação mais favorecida é um elemento indispensável para facilitar as negociações comerciais multilaterais.261

Interessante observar que, malgrado a utilização da cláusula da nação mais favorecida ser verificada desde o século XII, não há nenhuma obrigatoriedade de utilizá-la com base no direito internacional consuetudinário. Assim, somente há essa obrigatoriedade quando a cláusula consta em dispositivos de tratados, bilateral ou

259

Trata-se, na verdade, da exceção à cláusula. 260 Organización Mundial del Comercio. op. cit., p. 144. 261 Ibidem, p. 145.

multilateral. Matsushita relata que houve tentativas de se estabelecer esse princípio como um princípio geral do direito internacional, como, por exemplo, em 1978, quando a Comissão de Direito Internacional das Nações Unidas concluiu um projeto sobre o referido princípio e recomendou a sua adoção numa Convenção da ONU.262

No entanto, tais tentativas não vingaram. b.3) Aplicação do princípio

O princípio da nação mais favorecida consiste na concessão das mesmas vantagens, favores, privilégios ou imunidades outorgados a um parceiro comercial aos demais membros da OMC.

É o que se dispõe no artigo I do GATT:

Artigo I – Tratamento Geral de Nação mais Favorecida. 1. Qualquer vantagem, favor, imunidade ou privilégio concedido por uma Parte Contratante em relação a um produto originário de ou destinado a qualquer outro país, será imediata e incondicionalmente estendido ao produtor similar, originário do território de cada uma das outras Partes Contratantes ou ao mesmo destinado.

No Informe sobre o Comércio Mundial de 2007 da OMC verifica-se a seguinte explicação acerca desse princípio:

O princípio da nação mais favorecida (NMF) estipula que cada Membro deve conceder aos produtos procedentes de todos os demais Membros o mesmo trato que concede aos seus parceiros comerciais mais favorecidos. Em outras palavras, proíbe-se que os Membros discriminem seus parceiros comerciais. Assim, se um país melhora os benefícios que concede a um

parceiro comercial, deve conceder o mesmo tratamento “ótimo” às importações de produtos similares procedentes de todos os demais Membros da OMC a fim de que todos sejam favorecidos.263 (grifos)

Desse modo, se, por exemplo, o Brasil concede um benefício a determinado produto proveniente do Uruguai – parceiro comercial – esse benefício deve ser estendido aos produtos similares provenientes dos demais membros da OMC em virtude da aplicação do princípio da nação mais favorecida. Caso não haja esse mesmo tratamento, estar-se-á violando o princípio da nação mais favorecida. Isso

262 MATSUSHITA, Mitsuo; SCHOENBAUM, Thomas J.; MAVROIDIS, Petros C. op. cit., p. 146. Matshusita ainda relata que na “Carta dos Direitos e Deveres Econômicos dos Estados proclamada