Fase de Apelação

Em havendo pedido de apelação – como é o caso Brasil versus União Europeia no caso dos pneus –, a parte requerente deverá fundamentar sua decisão em questões eminentemente de direito ou em questão de interpretação jurídica adotada pelo painel.465

462 _{VARELLA, Marcelo D. op. cit., p. 423.} 463

Ibidem. 464

ESC, Artigos 15 e 16. Observa-se que o Órgão de Apelação é permanente. Difere-se, portanto, dos painéis que são de natureza ad hoc.

Nesse sentido:

O descontentamento em face da decisão proferida pelo painel garante à parte ou às partes insatisfeitas o direito de pleitear ao Órgão de Apelação novo julgamento, que reaprecie os fundamentos jurídicos do relatório já elaborado. O Órgão de Apelação não se ocupa do deslinde de questões fáticas, mas apenas de questões jurídicas concernentes à interpretação dos tratados da OMC. Efetua, nessa condição, um controle de legalidade ao verificar se o direito da OMC foi corretamente interpretado.466

Insta salientar que a compreensão de uma questão como sendo de direito nem sempre é tão simples. Assim, “em diversos casos, questões que poderiam ser facilmente interpretadas como de fato foram reapreciadas pelo Órgão de Apelação como questões de direito”.467

O Órgão Permanente de Apelação que irá apreciar o recurso interposto compõe-se de sete pessoas – três das quais atuarão em cada caso – nomeadas pelo próprio OSC para mandato de quatro anos renováveis.468

Perante esse Órgão, apenas as partes envolvidas no litígio poderão recorrer do relatório elaborado pelo painel. Exclui-se, portanto, a possibilidade de terceiros interessados recorrerem do relatório. Estes somente poderão apresentar comunicações escritas ao Órgão Permanente de Apelação.469 Abra-se, no entanto, a possibilidade de os terceiros interessados apelarem caso uma das partes envolvidas no litígio apele do relatório final do painel.

O procedimento perante o Órgão de Apelação inicia-se assim: o Estado, que tenha o intuito de apelar, deve externalizar essa vontade ao OSC mediante um documento denominado Declaração de Apelação. Nessa Declaração deve-se consignar com precisão sobre quais pontos do relatório do painel se está apelando, “sob pena de ver suas argumentações desconsideradas pelo Órgão de Apelação”.470

No prazo de sete dias subsequentes o Estado apelante deverá apresentar um documento denominado de Comunicação de Apelação. Nesse documento serão expostas, de maneira mais detalhada, as razões de direito da apelação indicando- se, ainda, os pontos de discordância do relatório final.

Interessante observar que, essa Comunicação pode “ser retirada ou substituída por outra, desde que dentro do lapso permitido, sem que isso signifique

466

AMARAL Jr., Alberto. A Solução de Controvérsias na OMC. São Paulo: Atlas, 2008, p. 102. 467

VARELLA, Marcelo D. op. cit., p. 423. 468

ESC, Artigo 17:1 e 17:2. 469 _{ESC, Artigo 17:4.}

uma nova apelação”.471 _{Essa retirada, no entanto, está condicionada a ocorrência de}

determinados eventos e desde que não gere prejuízos às demais partes. Isso porque, “se houver qualquer redução de direito das partes, a retirada da apelação será considerada ilegal”.472

Diante da apelação apresentada, o Diretor do Órgão de Apelação constitui uma Seção composta por três membros que atuarão no caso. Nessa Seção distribui- se aos membros os documentos que instruíram o processo no painel, bem como estabelece-se um calendário para o caso, fixado a partir da data de apresentação da Declaração de Apelação.

A apelação interposta por uma das partes abre a possibilidade das demais apelarem – inclusive, nesse caso, conforme exposto, possibilidade aos terceiros interessados. Trata-se do que se denomina de Apelação Múltipla, haja vista serem vários os apelantes. Abre-se, portanto, prazo para que as partes apresentem suas Declarações de Apelação – doze dias após a Declaração de Apelação do primeiro apelante –, bem como apresentem suas Comunicações de Apelação – quinze dias após a Declaração de Apelação do primeiro apelante. “Note-se que os prazos estão sempre vinculados ao primeiro documento de apelação, não importando quando os demais documentos foram juntados aos autos”.473

Concluída as apelações, passa-se a etapa das audiências nas quais as partes exporão seus argumentos de contestação e defesa. Cada apelação originará uma audiência que se realizará entre trinta e cinco e quarenta e cinco dias após a Declaração de Apelação do primeiro apelante. Permite-se que todos Estados envolvidos participem dessas audiências.

Após essas etapas e o exame de cada questão pleiteada, o Órgão Permanente de Apelação elaborará relatório no qual poderá ser confirmada, modificada ou revogada as conclusões e decisões jurídicas do painel. Finda a elaboração do relatório – concluído em no máximo sessenta dias474 _{após a}

Declaração de Apelação do primeiro apelante – deverá ele ser comunicado às

471 _{VARELLA, Marcelo D. op. cit., p. 424.} 472

Ibidem. 473

Ibidem, p. 425.

474 _{Salvo se houver justo motivo que deverá ser informado por escrito ao OSC. Nesse caso, o prazo} máximo será de noventa dias.

partes, bem como distribuído aos Membros da OMC para posterior aprovação pelo Órgão de Solução de Controvérsias.475

O OSC reunir-se-á, no prazo de cento e vinte dias, a contar da primeira Declaração de Apelação, para adoção do relatório do Órgão de Apelação valendo para essa adoção a regra exposta do consenso negativo.

Ressalta-se que caso a conclusão seja no sentido de que uma medida é incompatível com um acordo abrangido pela OMC, deverá ser recomendado ao Membro interessado que tome medidas compatíveis com o acordo. Além disso, poderá ser sugerido a maneira pelo qual o Membro interessado deverá implementar as recomendações.

Aprovado o relatório do painel ou do Órgão Permanente de Apelação – a depender se houve ou não recurso – passa-se a fase de implementação das recomendações.476

4.2.2.4 Fase de implementação das recomendações do painel ou do Órgão