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2 HISTÓRICO ACERCA DA INSTALAÇÃO DA ORDEM ECONÔMICA

4.2 SOLUÇÃO DE CONTROVÉRSIAS NO ÂMBITO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL

4.2.5 Eficácia e eficiência do sistema de solução de controvérsias da OMC

4.2.5.2 Eficácia e eficiência do sistema

Analisado os conceitos, cabe, agora, aferir se o sistema de solução de controvérsias da OMC, desempenhado pelo Órgão de Solução de Controvérsias, é eficaz e eficiente.

É eficaz porque, conquanto às criticas, sempre se obtêm bons resultados, principalmente se comparado ao sistema de solução do GATT 1947.

Sem dúvida uma das regras que contribuiu para esse aumento da eficácia, tal qual mencionado no item 4.2.2.2, foi a regra do consenso negativo. A inversão da regra de aprovação do relatório do painel ou do Órgão de Apelação tornou o sistema eficaz, haja vista que dificilmente o relatório não será aprovado dada a necessidade da rejeição por unanimidade. Assim pondera Varella: “a mudança da lógica do consenso positivo para o consenso negativo contribui, portanto, para a maior eficácia do sistema”.584

Ainda em se tratando da eficácia deve-se ressaltar os bons resultados obtidos pelos países em desenvolvimento que, diferentemente do sistema do GATT 1947, no atual, encontram maior guarida quando se veem frente a uma controvérsia com um país desenvolvido.

Assim pondera Cretella Neto: “parece fora de dúvida, portanto, que, em essência, o status jurídico material dos PMDs ganhou inusitada e especial importância no sistema da OMC, quando comparado ao sistema anterior do GATT”.585

No mesmo sentido é o comentário de James Cameron e Kevin Gray: “países em desenvolvimento têm a oportunidade de contestar as medidas comerciais dos

583

CHIAVENATO, Idalberto. op. cit., p. 703. 584

VARELLA, Marcelo D. op. cit., p. 423. 585

CRETELLA NETO, José. Direito processual na Organização Mundial do Comércio, OMC:

„Estados economicamente fortes, que normalmente dominam as negociações internacional e multilateral”.586

A eficácia ainda pode ser demonstrada em números. Varella lembra que o volume de litígios instaurados perante o OSC é significativo – cerca de quarenta ao ano – o que significa, muita das vezes, mais contenciosos do que os analisados pela Corte Internacional de Justiça.587

Ressalta-se que conquanto o expressivo número indicado por Varella, não foi essa a média de volume de litígios instaurados nos últimos seis anos (2005 a 2010), ficando a média em torno de quinze novos casos ao ano. Em que pese essa divergência, constata-se que realmente a quantidade de contenciosos analisados pelo OSC supera, no período mencionado, os casos analisados pela Corte Internacional de Justiça, conforme se percebe pelo gráfico a seguir.

Figura 4 – Quantidade de casos analisados pelo OSC versus CIJ Fonte: filtro de dados obtidos no site da OMC e da CIJ.588

Demonstrando a eficácia do sistema, Cretella Neto traz um levantamento efetuado entre o a entrada em vigor do Entendimento (1º de janeiro de 1995) a 18 de maio de 1998. Nesse período o OSC recebeu cento e trinta e três pedidos de consultas, conforme comenta o doutrinador:

586 James Cameron e Kevin Gray apud CRETELLA NETO, José. Direito processual na

Organização Mundial do Comércio, OMC: casuística de interesse para o Brasil. Rio de Janeiro:

Forense, 2003, p. 41.

587 VARELLA, Marcelo D. op. cit., p. 415. 588

Organização Mundial do Comércio. Disponível em:

http://www.wto.org/spanish/tratop_s/dispu_s/dispu_maps_s.htm.; e http://www.icj-

cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3; http://www.icj-cij.org/docket/index.php?p1=3&p2=3. Acessados em: 11 de ago. de 2011.

Para se ter uma ideia da eficácia da prática do Órgão de Solução de Controvérsias, levantamento feito durante o período entre a entrada em vigor do Entendimento (01.01.1995) e 18.05.1998 revelou que o Órgão de Solução de Controvérsias recebeu 133 pedidos de consultas (mais de três consultas mensais), dos quais: 97 consultas redundaram em controvérsias diferentes (as demais consultas foram formuladas por terceiros interessados sobre o mesmo caso); 28 casos foram resolvidos amigavelmente ou a controvérsia suspensa (21% das consultas); 11 controvérsias foram considerados resolvidas, das quais em 10 houve apelação; 70 reclamações foram apresentadas por países desenvolvidos; 24 reclamações foram apresentadas a por PMDs; 4 reclamações foram apresentadas simultaneamente por países desenvolvidos e por PMDs; os EUA figuraram 25 vezes como reclamantes e 13 como reclamados; a CE figurou 14 vezes como reclamante e 11 como reclamada.589

Não paira dúvida, por esses números, de que o sistema é sim eficaz em especial se comparado ao sistema GATT 1947. “Os números são eloquentes: demonstram que não pode subsistir qualquer dúvida quanto ao expressivo aumento da eficácia do mecanismo atual da OMC sobre o anterior, do GATT”. 590

Até a conclusão desse trabalho, de acordo com dados da OMC, quatrocentos e vinte e seis controvérsias haviam sido levadas ao Órgão de Solução de Controvérsias da OMC. No ano de 2011, até a conclusão desse trabalho, foram sete novos casos, sendo o último caso (DS426) protocolado perante o OSC, em 11 de agosto de 2011, tendo como reclamante a União Europeia e como demandado o Canadá, referente a medidas relativas ao programa de preços regulados.591

Atualmente os quatrocentos e vinte e seis casos encontram-se nos seguintes estágios:592

 137 casos:593 foram solicitados pelo reclamante a celebração de

consultas com o demandado, no entanto não se estabeleceu painel,

589

CRETELLA NETO, José. Direito processual na Organização Mundial do Comércio, OMC:

casuística de interesse para o Brasil. Rio de Janeiro: Forense, 2003, p. 41.

590

Ibidem, p. 119. 591

Organização Mundial do Comércio. Disponível em:

http://www.wto.org/spanish/tratop_s/dispu_s/dispu_current_status_s.htm. Acessado em 1º de set. de 2011.

592

Ibidem. 593

São esses os casos: ano de 1995: DS3, DS15, DS16, DS17, DS25; ano de 1996: DS29, DS30, DS41, DS45, DS47, DS49, DS51, DS52, DS53, DS57, DS61, DS63; ano de 1997: DS65, DS66, DS71, DS78, DS80, DS81, DS97, DS100, DS101, DS104, DS105, DS107, DS109, DS111, DS112; ano de 1998: DS116, DS117, DS118, DS120, DS123, DS127, DS128, DS129, DS130, DS131, DS133, DS134, DS137, DS140, DS143, DS144, DS145, DS147, DS148, DS149, DS150, DS153, DS154; ano de 1999: DS157, DS158, DS159, DS167, DS168, DS172, DS173, DS180, DS182, DS183, DS185; ano de 2000: DS186, DS184, DS191, DS197, DS200, DS201, DS203, DS205, DS208, DS209, DS215, DS216, DS218; ano de 2001: DS220, DS223, DS224, DS225, DS226, DS229, DS230, DS233, DS239, DS242; ano de 2002: DS256, DS262, DS263, DS271, DS272, DS274, DS275, DS278, DS279; ano de 2003: DS288, DS289, DS300, DS303, DS304; ano de 2004: DS307, DS310, DS314, DS318, DS319, DS324; ano de 2005: DS325, DS328, DS330, DS333; ano de

tampouco se há notificado a supressão de medidas ou uma solução mutuamente convenionada;

 21 casos:594 o OSC aprovou o estabelecimento de painel, mas este aí

não foi constituído;

 8 casos:595 o OSC aprovou o estabelecimento de painel e este já se

encontra constituído;

 5 casos:596 o relatório do painel já foi distribuído;

 4 casos:597 o relatório do painel está em grau de apelação;

 24 casos:598 o relatório do painel ou do Órgão de Apelação foi adotado,

mas o conflito foi resolvido sem a necessidade de mais ações por parte do demandado;

 24 casos:599 o relatório do painel ou do Órgão de Apelação foi adotado

com recomendações de que a medida violadora seja colocada em conformidade com as normas da OMC;

 69 casos:600 o demandado notificou que há implementado a

recomendação do Órgão de Solução de Controvérsias de se colocar em conformidade com as normas da OMC;

 20 casos:601 as partes (reclamante e demandado) consideraram que a

implementação foi satisfatória;

2006: DS338, DS346, DS349; ano de 2007: DS361, DS364, DS368; ano de 2008: DS370, DS380, DS385, DS387, DS388; ano de 2009: DS390, DS393; ano de 2010: DS407, DS408, DS409, DS410, DS411, DS419; ano de 2011: DS420, DS421, DS422, DS424, DS425, DS426.

594

São esses os casos: DS9, DS164, DS188, DS195, DS214, DS260, DS270, DS280, DS357, DS365, DS389, DS400, DS401, DS412, DS415, DS416, DS417, DS418, DS421, DS423.

595 São esses os casos: DS317, DS381, DS384, DS386, DS391, DS405, DS413, DS414. 596

São esses os casos: DS396, DS399, DS403, DS404, DS406. 597

São esses os casos: DS353, DS394, DS395, DS398.

598 São esses os casos: DS22, DS44, DS60, DS62, DS67, DS68, DS135, DS152, DS163, DS165, DS194, DS221, DS243, DS244, DS248, DS249, DS251, DS252, DS253, DS254, DS258, DS259, DS360, DS392.

599

São esses os casos: DS69, DS155, DS166, DS176, DS184, DS241, DS265, DS266, DS283, DS295, DS302, DS316, DS320, DS321, DS332, DS337, DS350, DS363, DS367, DS371, DS379, DS382, DS397, DS402.

600 São esses os casos: DS2, DS4, DS24, DS31, DS50, DS54, DS55, DS56, DS59, DS64, DS75, DS79, DS84, DS87, DS90, DS98, DS110, DS114, DS121, DS122, DS136, DS138, DS139, DS142, DS146, DS161, DS162, DS169, DS170, DS174, DS175, DS177, DS178, DS179, DS189, DS192, DS202, DS204, DS206, DS211, DS212, DS213, DS219, DS238, DS246, DS269, DS273, DS276, DS286, DS290, DS296, DS299, DS308, DS315, DS331, DS334, DS335, DS339, DS340, DS341, DS342, DS343, DS345, DS362, DS366, DS375, DS376, DS377, DS383.

601 São esses os casos: DS8, DS10, DS11, DS18, DS33, DS34, DS76, DS99, DS103, DS108, DS113, DS126, DS156, DS231, DS236, DS245, DS257, DS264, DS277, DS301.

 1 caso:602 encontra-se em curso o procedimento para implementação

das recomendações;

 2 casos:603 concluiu-se o procedimento para implementação sem a

constatação de inadimplemento das recomendações;

 6 casos:604 concluiu-se o procedimento para implementação com a

constatação de não cumprimento das recomendações;

 6 casos:605 autorização para adoção de medidas de retaliação

solicitadas;

 4 casos:606 autorização para adoção de medidas de retaliação

concedidas;

 7 casos:607 decisão de se estabelecer o painel tornada sem efeito;

 88 casos:608 controvérsia resolvida mutuamente ou terminada mediante

desistência.

O Brasil, na condição de reclamante, já apresentou vinte e cinco reclamações, sendo que dessas:609

 Três demandas contra o Canadá: exportações de aeronaves civis (DS70 e DS71); crédito à exportação e garantias de empréstimo para aeronaves regionais (DS222).

 Uma demanda contra o Peru: importação de ônibus procedente do Brasil (DS112).

 Sete demandas contra a União Europeia – anteriormente denominada de Comunidades Europeias: medidas que afetam a importação de determinados produtos avícolas (DS69); tratamento diferenciado e

602

É esse o caso: DS344.

603 São esses os casos: DS46, DS258.

604 São esses os casos: DS27, DS70, DS132, DS141, DS207, DS312. 605

São esses os casos: DS160, DS268, DS285, DS291, DS294, DS322. 606

São esses os casos: DS217, DS222, DS234, DS267.

607 São esses os casos: DS282, DS336, DS347, DS351, DS352, DS355, DS356.

608 São esses os casos: DS1, DS5, DS6, DS7, DS12, DS13, DS14, DS19, DS20, DS21, DS23, DS26, DS28, DS32, DS35, DS36, DS37, DS38, DS39, DS40, DS42, DS43, DS48, DS72, DS73, DS74, DS77, DS82, DS83, DS85, DS86, DS88, DS89, DS91, DS92, DS93, DS94, DS95, DS96, DS102, DS106, DS115, DS119, DS124, DS125, DS151, DS171, DS181, DS190, DS193, DS196, DS198, DS199, DS210, DS227, DS228, DS232, DS235, DS237, DS240, DS247, DS250, DS255, DS261, DS281, DS284, DS287, DS292, DS293, DS297, DS298, DS305, DS306, DS309, DS311, DS313, DS323, DS326, DS327, DS329, DS348, DS354, DS358, DS359, DS372, DS373, DS374, DS378. 609 Disponível em: http://www.wto.org/spanish/tratop_s/dispu_s/dispu_current_status_s.htm. Acessado em 1º de fev. de 2011. Pesquisa filtrada.

favorável concedido ao café (DS154); medidas que afetam o café solúvel (DS209); medidas antidumping sobre acessórios para tubo de ferro maleável (DS219); subvenções à exportação de açúcar (DS266); classificação aduaneira sobre corte de frangos desossado congelado (DS269); confisco de medicamentos genéricos em trânsito (DS409 – demanda mais recente do Brasil perante a OMC).

 Uma demanda contra a Turquia: medidas antidumping sobre acessórios para tubulação de ferro e aço (DS208).

 Uma demanda contra o México: medidas antidumping sobre transformadores elétricos (DS216).

 Dez demandas contra os Estados Unidos da América: normas sobre a gasolina reformulada e convencional (DS4); lei de compensação por continuação do uso de dumping ou manutenção de subvenções de 2000 (DS217); direitos compensatórios sobre determinados produtos de aço carbono (DS218); Código de patentes dos EUA (DS224); imposição de direitos antidumping ao silício (DS239); imposto de equiparação aplicado pela Flórida sobre produtos de laranja e pomelo processados (DS250); medidas de salvaguarda definitivas aplicadas à importação de determinados produtos de aço (DS259); subvenções ao algodão americano (DS267); ajuda interna e garantias de crédito à exportação para produtos agropecuários (DS365); direitos antidumping e outras medidas em relação à importação de determinado suco de laranja (DS382).

 Duas demandas contra a Argentina: medidas de salvaguardas sobre a importação de determinados tecidos de algodão (DS190); medidas

antidumping sobre o frango (DS241).

Interessante observar que a maioria das demandas foi contra países desenvolvidos. No sistema anterior do GATT tal ação de um país em desenvolvimento talvez fosse impensável.

Já na condição de demandado o Brasil figurou quatorze vezes, a saber:610

 Uma demanda do Sri Lanka: direitos compensatórios aplicados às importações de coco ralado e leite de coco em pó (DS30).

 Uma demanda do Japão: medidas em relação a investimentos no setor automotivo (DS51).

 Quatro demandas dos Estados Unidos da América: medidas que afetam o comércio e o investimento no setor automotivo (DS52; DS65); medidas relativas ao preço mínimo de importação (DS197); medidas que afetam a proteção mediante patente (DS199).

 Quatro demandas da União Europeia: medidas que afetam o comércio e o investimento no setor automotivo (DS81); medidas que afetam as condições de pagamento das importações (DS116); medidas relativas ao regime de licenças e ao preço mínimo de importação (DS183); medidas que afetam a importação de pneus reformados (DS332).  Uma demanda da Índia: direitos antidumping sobre as bolsas de juta

(DS229).

 Uma demanda das Filipinas: medidas que afetam a importação de coco ralado (DS22).

 Uma demanda do Canadá: programa de financiamento para exportação de aeronaves (DS46).

 Uma demanda da Argentina: medidas antidumping sobre a importação de determinadas resinas (DS355).

Por fim, na condição de terceiro o Brasil figurou sessenta e uma vezes, sendo que nesses casos o maior demandado foram os Estados Unidos da América, em trinta casos, seguido: pela União Europeia, dezesseis casos; China, sete casos; Canadá e Japão, dois casos; Coreia do Sul, Argentina, México e Chile, um caso.611

Percebe-se, assim, que a participação brasileira no sistema de solução de controvérsias da OMC é muita expressiva a ponto de figurar em cem casos dos

610

Organização Mundial do Comércio. Disponível em:

http://www.wto.org/spanish/tratop_s/dispu_s/dispu_current_status_s.htm. Acessado em 1º de fev. de 2011. Pesquisa filtrada.

quatrocentos e vinte e seis sob análise do Órgão de Solução de Controvérsias (Figuras 5 e 6).

Figura 5 – Casos analisados pelo OSC da OMC. Fonte: filtro de dados obtidos no site da OMC.612

Figura 6 – Participação do Brasil no OSC da OMC. Fonte: filtro de dados obtidos no site da OMC.613

Isso decorre dos bons resultados obtidos pelo Brasil junto ao sistema. Acerca dessa participação efetiva e dos êxitos obtidos pelo Brasil nesse sistema, relata Côrrea:

Os fatos relativos a nossa participação no Mecanismo são muito expressivos: o Brasil é o quarto maior usuário do Sistema em número de pedidos de consultas (EUA, UE e Canadá são os três primeiros); fomos o primeiro país a solicitar o estabelecimento de um Painel e também participar de apelação (caso da gasolina); fomos igualmente pioneiros em apelar do Painel de implementação (caso dos aviões). Os resultados obtidos pelo

612

Organização Mundial do Comércio. Disponível em:

http://www.wto.org/spanish/tratop_s/dispu_s/dispu_maps_s.htm. Acessado em: 15 de fev. de 2011. Pesquisa filtrada.

Brasil ao longo desses primeiros anos da OMC são amplamente satisfatórios e têm recompensado os esforços e recursos que o governo, o setor produtivo e a sociedade brasileira têm investido nos contenciosos de que participamos.614

Interessante relatar a efetividade das decisões proferidas que supera os 75% (setenta e cinco por cento), de acordo com dados da própria Organização. “Poucos tribunais, mesmo nacionais, conseguem essa efetividade em suas decisões, o que é particularmente relevante se considerarmos as importantes repercussões financeiras das decisões”.615

Quanto à eficiência do sistema é inegável a rapidez com que o Órgão de Solução de Controvérsias tem desempenhado o seu papel. Tal como pondera Varella, todo o trabalho é concluído em geral em dezoito meses, podendo chegar, em determinados casos, a três anos, haja vista a necessidade de retaliação comercial.

No caso específico dos pneus – objeto de análise no capítulo 5 – o Órgão de Solução de Controvérsias resolveu toda a controvérsia em apenas vinte e nove meses e vinte e cinco dias – considerado desde o dia em que as Comunidades Europeias requereram a realização de consultas, 23 de junho de 2005, até adoção do relatório final do Órgão Permanente de Apelação pelo OSC em 17 de dezembro de 2007.

Se incluído a fase de arbitragem, o caso foi resolvido em trinta e sete meses o que, mesmo assim, significa uma eficiência enorme, dado que o caso envolveu diversos pormenores; participação de vários países membros na condição de terceiros, e a participação de diversos amici curiae.

De igual modo é inegável os meios utilizados pela OSC para que as recomendações sejam colocadas em práticas. Isso porque, conforme já exposto, caso o Membro interessado não modifique as medidas consideradas incompatíveis, o OSC autorizará, mediante pedido do reclamante, a prática de compensações – suspensão de vantagens negociadas no âmbito da OMC ao Membro interessado. Esses meios demonstram, de igual modo, que o sistema é eficiente.

Por fim, acerca desse tópico é interessante observar que a OMC vê com bons olhos a ideia no aumento do número de casos perante o OSC, conforme se extrai da

614

BAPTISTA, Luiz Olavo; CELLI Junior, Umberto; YANOVICH, Alan [orgs.]. 10 Anos de OMC. São Paulo: Lex Editora, 2007, p. 26.

notícia veiculada no site da Organização.616 Entende a OMC que ao recorrem ao

Órgão para tratar de suas diferenças comerciais, os Membros evitam fazer justiça com as próprias mãos. Isso demonstra, segundo a Organização, uma crença maior no sistema.

Nesses termos a notícia veiculada:

O aumento do número de casos pode ser uma boa notícia. Se os tribunais se deparam com um número crescente de processos penais, significa que a lei ou a ordem jurídica estão perdendo forças? Não necessariamente. Às vezes isso significa que as pessoas depositam mais fé no Estado de Direito e nos Tribunais. Recorrem a eles ao invés de tomarem medidas com suas próprias mãos. Isso é o que vem acontecendo com a OMC. Ninguém gosta de ver países litigandos entre si, mas de qualquer maneira, haverá disputas comerciais que são mais bem tratadas de acordo com normas internacionalmente convencionadas. Há boas razões para argumentar que o crescente número de litígios não é senão o resultado da expansão do comércio mundial e o maior rigor das normas negociadas na Rodada Uruguai. Assim, o fato de se utilizar a OMC para solução dos conflitos reflete uma crescente fé no sistema. 617

Sem dúvida essa crescente crença dos Membros, em especial do Brasil, no sistema decorre da efetividade – eficácia e eficiência – apresentada pelo Órgão de Solução de Controvérsias no desempenho de suas funções.

616

Organização Mundial do Comércio. Disponível em:

http://www.wto.org/spanish/thewto_s/whatis_s/tif_s/disp1_s.htm. Acessado em: 15 de fev. de 2011. 617 Ibidem. Tradução livre.

5 ESTUDO DE CASO: MEDIDAS QUE AFETAM A IMPORTAÇÃO DE PNEUS