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Processo Civil - Casos Práticos

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PROCESSO CIVIL

FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

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I - Tipos de acção, formas de processo e providências cautelares Caso I

1. Aníbal comprou na loja “FNAT”, no Porto, uma televisão da conhecida marca “XPTO”, pelo valor de €2.500,00.

TEMA: TIPOS DE ACÇÕES E FORMAS DE PROCESSO

a) Passado um tempo, Aníbal verifica que a televisão não tem as características que lhe foram asseguradas pelo Vendedor e instaura uma acção de anulação do contrato, com fundamento em erro, no Tribunal cível do Porto. Qual o tipo de acção e a respectiva forma de processo?

 Tipo de Acção

Nos termos do art. 4º/1 CPC podem existir dois tipos de acções: acções declarativas e acções executivas (pressupõe a existência de um título executivo – art. 45º e ss. CPC)

Nos termos das alíneas constantes do nº2 do art. 4º CPC as acções declarativas podem ser: de simples apreciação (al. a), de condenação (al. b) e constitutivas (al. c).

Uma vez que no presente caso não existe nenhum título executivo, não estamos face a uma acção executiva. Deste modo é necessário saber que tipo de acção declarativa é que está em causa no presente caso.

Em regra, as acções declarativas constitutivas visam o exercício de direitos potestativos, isto é o autor pretende obter, com a coadjuvação da autoridade judicial, um efeito jurídico novo, que altera a esfera jurídica do demandado, independentemente da vontade deste. Sendo que a produção de efeitos da anulação dependem da declaração de anulação pelo Tribunal, as acções de anulação são acções declarativas constitutivas, nos termos do art. 4º/1 e art. 4º/2 al. c) CPC.

NOTA1: nas acções de declaração de nulidade o tribunal limita-se a declarar a

nulidade, ao contrário do sucede nas acções de simples apreciação em que sendo o negócio nulo tal não produz qualquer efeito.

NOTA2: A anulação de um negócio pode ser acompanhada da restituição daquilo

que já foi pago. Daqui resultam as seguintes teorias:

 A restituição do preço que já foi pago é uma acção declarativa de condenação

 Prof. Maria dos Prazeres Beleza: considera que a restituição do preço que já foi pago não é uma acção declarativa de condenação, mas sim uma consequências da acção declarativa constitutiva, ou seja da acção de anulação. A restituição do preço é algo que resulta da lei não sendo necessário autonomizar o pedido.

Hipóteses Práticas de Processo Civil – Prof. Rita Gouveia

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013

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 Forma do Processo

Em primeiro lugar é necessário determinar qual o valor da causa, pelo que se terá de recorrer ao art. 305º e ss CPC.

Nos termos do art. 305º/1 CPC ‘’A toda a causa deve ser atribuído um valor certo (…)

o qual representa a utilidade económica imediata do pedido’’. A importância da

determinação do valor da causa, tal como é referido no nº2 do art. 305º CPC, assenta em através desta se determinar qual o tribunal competente, qual a forma de processo aplicável e a relação da causa com a alçada do tribunal.

Nos termos do art. 306º CPC consagram-se os critérios gerais para a fixação do valor, salvo se se aplicar um critério especial.

Ora, no presente caso estamos face a uma acção de declaração de anulação de um contrato, pelo que o art. 310º/1 CPC determina que ‘’Quando a acção tiver por

objecto a (…) validade (…) de um acto jurídico, atender-se-á ao valor do acto determinado pelo preço ou estipulado pelas partes’’. Deste modo sendo o valor da

televisão de €2.500,00 o valor da causa será este.

Determinado o valor da causa (€2.500,00) é necessário determinar qual a forma de processo aplicável. Para tal é necessário recorrer às normas constantes do art. 460º e ss CPC e ao art. 31º da LOFTJ 2008

Nos termos do art. 460º o processo pode ser comum ou especial. Nos termos do art. 461º e 462º o processo comum pode ser ordinário, sumário ou sumaríssimo. Partindo do princípio que não existe nenhum processo especial, é necessário determinar qual a forma de processo comum é que se encontra em causa.

Nos termos do art. 31º da LOFTJ 2008 a alçada do Tribunal da Relação é de € 30. 000, 00 e a alçada dos Tribunais de 1ª Instância de € 5. 000, 00. Ora, sendo o valor da causa €2.500,00 exclui-se a possibilidade de ser processo comum ordinário, uma vez que o valor da causa é inferior à alçada do Tribunal da Relação. Sendo o valor da acção inferior ao valor da alçada dos Tribunais de 1ª Instância (critério do valor) e não se enquadrando em nenhum dos objectos presentes no art. 462º CPC (critério do objecto) exclui-se a possibilidade de ser processo comum sumaríssimo. Deste modo, no presente caso estamos face ao processo comum ordinário.

Analisada está questão do ponto de vista do processo comum, é necessário atender que ainda existe o Regime do Processo Civil Experimental, que é um processo especial.

Este Regime do Processo Civil Experimental foi consagrado em 2006 pelo legislador e aplica-se às acções declarativas civis comuns (ordinário, sumário e sumaríssimo) e às acções especiais (acções especiais para o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes dos contratos – DL 269/98, de 1 de Setembro).

Nos termos do art. 21º e 22º do Regime do Processo Civil Experimental consagra-se que este regime só se aplica aos Tribunais que forem determinados por Portaria, sendo que para o efeito existem duas Portarias a regular a sua aplicação no espaço: a Portaria 955/2006 consagra que este regime se aplica aos tribunais de Almada, Porto e Seixal; a Portaria 115-C/2001 consagra que este regime se aplica aos tribunais das comarcas do Barreiro e de Matosinhos e nas varas cíveis do Tribunal da Comarca do Porto. Deste modo, o Regime do Processo Civil Experimental só se aplica nos casos consagrados nas Portarias referidas, sendo que nos restantes casos aplica-se o Processo Civil Comum.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013

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Em suma, tratando-se de uma acção declarativa comum segue-se o processo comum ordinário nos termos do art. 460º a 462º do CPC; se se tratasse de um tribunal abrangido pela área de incidência das portarias aplicar-se-ia o Regime do Processo Civil Experimental.

b) Para pagamento da televisão, Aníbal entrega um cheque, que foi devolvido pelo Banco por falta de provisão. Que meios tem a FNAT à sua disposição para obter o efectivo pagamento do preço?

Tipo de Acção

Da conjugação do art. 2º/2 e do art. 4º do CPC resultam duas coisas: primeiro, quanto à causa de pedir, esta assenta no contrato de compra e venda de onde emerge o contrato; segundo, quanto ao pedido, este assenta na condenação do réu ao pagamento do preço.

Nos termos do art. 4º/1 CPC as acções podem ser declarativas ou executivas. Quanto às acções executivas, da conjugação do referido artigo com o art. 4º/3 CPC, resulta que tais pressupõe a existência de um título executivo. Da conjugação do art. 45º com o art. 46º/1 al. c) CPC resulta que o cheque é um título executivo.

Embora tal não seja obrigatório, a verdade, é que é mais vantajoso à FNAT intentar primeiro uma acção de condenação (art. 4º/1 e art. 4º/2 al. b) CPC) e só depois uma acção executiva, tal porque as acções declarativas visam reconhecer a existência do direito. Depois é necessário também considerar a matéria das custa.

Entende-se por acção declarativa de condenação, nos termos do art. 4º/2 al. b) CPC, a situação em que o autor ou requente, arrogando-se a titularidade dum direito que afirma estar a ser violado pelo réu, pretende que se declare a existência e a violação do direito, e se determine ao reu a realização da prestação (em regra, um acção, mas podendo bem ser uma abstenção ou uma omissão) destinada a reintegrar o direito violado ou a reparar de outro modo a falta cometida.

Nos termos do art. 446º/2 CPC entende-se que dá causa às custas do processo a parte vencida, na proposição da acção. Contudo, existe uma excepção tal, excepção essa consagra no art. 449º CPC.

Nos termos do art. 449º/1 CPC consagra-se a responsabilidade do autor pelas custas quando (1) o réu não tenha dado causa à acção e (2) o réu não conteste à acção.

É necessário ainda atender ao disposto no art. 449º/2 al. c) CPC que entende que o réu não deu causa à acção ‘’Quando o autor, munido de um título com manifesta

força executiva, recorra ao processo de declaração’’. Esta norma aplica-se ao caso

concreto. É importante salienar que quando esta norma se refere a ‘’um título com manifesta força executiva’’ não faz sentido que seja uma sentença, uma vez que o autor já tem uma sentença em mãos, pelo que se trata de um título extrajudicial (cheque).

Em suma, o autor terá duas possibilidades: poderá intentar uma acção executiva nos termos do art. 4º/1, 4º/3, 45º e 46º/1 al. c) do CPC; ou poderá intentar uma acção declarativa de condenação nos termos do art. 4º/1 e 4º/2 al. b) CPC.

NOTA1: Nos termos do art. 879º al. c) CC, Aníbal incumpriu um dos efeitos essenciais da

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NOTA2: O emitir de um cheque sem provisão, em certos casos, pode ser considerado

um crime. Deste modo é necessário atender ao art. 11º do Regime Penal do Cheque. Em Processo Penal, nos artigos 71º e 72º do Código de Processo Penal, existe o Princípio da Adesão que assenta no facto de se sofrendo um dano que decorreu da prática de um crime, em princípio, em Processo Penal, deve fazer-se o pedido de indemnização. Deste modo, de acordo com o Regime Penal do Cheque o pedido teria de ser deduzido no Processo Penal.

 Forma de Processo

Nos termos do art. 460º CPC consagram-se os tipos de formas de processo, podendo este ser comum ou especial. O processo comum só se aplica se não existir nenhum processo especial.

Ora, existe um processo especial para as acções especiais de cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos constante do Decreto Lei 269/98. Deste modo, não se irá aplicar o processo comum mas sim o processo especial nos termos do art. 460º/1 e 2º CPC.

Nos termos do art. 1º do Regime da Acção Declarativa Especial para Cumprimento de Obrigações Pecuniárias emergentes de Contratos consagra-se que este regime se aplica a ‘’procedimentos destinados a exigir o cumprimento de obrigações pecuniários emergentes de contratos de valor não superior a € 15. 000, 00. No presente caso, uma vez que se está face a uma quantia no valor de €2.500,00 pode-se aplicar este regime.

Necessário é atender ao artigo 7º deste Regime, constante em Anexo, que consagra a Injunção, que tem como propósito dar força executiva, podendo ser usada em duas situações distintas (situações a que se refere o art. 1º do regime que se está a analisar e situações de obrigações emergentes de transacções comerciais).

Deste modo, pelo regime da injunção, e de acordo com o art. 7º conjugado com o art. 1º do Regime em análise o autor terá duas possibilidades: ou intenta uma acção declarativa especial (art. 1º do Regime), ou intenta uma acção, através do regime da injunção, ficando a possuir um título executivo (art. 7º do Anexo).

Em suma, existem três soluções possíveis:

1. Pelo artigo 460º/1 e 2 utiliza-se o processo especial e remete-se para o Decreto-Lei 269/98 e utiliza-se o seu art. 1º

2. Pelo artigo 460º/1 e 2 utiliza-se o processo especial e remete-se para o Decreto Lei 269/98 e recorre-se ao art. 7º, constante em Anexo.

3. Pelo artigo 460º/1 e 2 utiliza-se o processo especial e remete-se para o Regime do Processo Cvil Experimental e recorrer-se ao seu art. 1º (‘’acções especiais para o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos’’).

NOTA: ocorre uma remissão do art. 4º/2 al. b) CPC para a Lei dos Julgados de Paz.

Contudo, a aplicação da Lei dos Julgados de Paz fica excluída pelo artigo 9º/1 al. a) em que, quanto à competência destes, eles serão competentes para decidir ‘’Acções

destinadas a efectivar o cumprimento de obrigações, com excepção das que tenham por objecto prestação pecuniária’’.

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c) No caso de ter optado pela acção declarativa, qual o tipo de acção e forma de processo adequadas?

 Tipo de Acção

Exactamente a mesma solução dada para a resposta na alínea b.  Forma de Processo

Em primeiro lugar é necessário determinar qual o valor da causa, pelo que se terá de recorrer ao art. 305º e ss CPC.

Nos termos do art. 305º/1 CPC ‘’A toda a causa deve ser atribuído um valor certo (…)

o qual representa a utilidade económica imediata do pedido’’. A importância da

determinação do valor da causa, tal como é referido no nº2 do art. 305º CPC, assenta em através desta se determinar qual o tribunal competente, qual a forma de processo aplicável e a relação da causa com a alçada do tribunal.

Nos termos do art. 306º CPC consagram-se os critérios gerais para a fixação do valor, salvo se se aplicar um critério especial.

Ora, no presente caso estamos face a uma acção de declaração de anulação de um contrato, pelo que o art. 310º/1 CPC determina que ‘’Quando a acção tiver por

objecto a (…) validade (…) de um acto jurídico, atender-se-á ao valor do acto determinado pelo preço ou estipulado pelas partes’’. Deste modo sendo o valor da

televisão de €2.500,00 o valor da causa será este.

Determinado o valor da causa (€2.500,00) é necessário determinar qual a forma de processo aplicável. Para tal é necessário recorrer às normas constantes do art. 460º e ss CPC e ao art. 31º da LOFTJ 2008

Nos termos do art. 460º o processo pode ser comum ou especial. Nos termos do art. 461º e 462º o processo comum pode ser ordinário, sumário ou sumaríssimo.

Nos termos do art. 31º da LOFTJ 2008 a alçada do Tribunal da Relação é de € 30. 000, 00 e a alçada dos Tribunais de 1ª Instância de € 5. 000, 00. Ora, sendo o valor da causa €2.500,00 exclui-se a possibilidade de ser processo comum ordinário, uma vez que o valor da causa é inferior à alçada do Tribunal da Relação. Sendo o valor da acção inferior ao valor da alçada dos Tribunais de 1ª Instância (critério do valor), mas enquadrando-se num dos objectos presentes no art. 462º CPC, ou seja no cumprimento de obrigações pecuniárias (critério do objecto) exclui-se a possibilidade de ser processo comum sumário, sendo por isso um processo comum sumaríssimo.

Contudo, uma vez que existe um processo especial não se poderia aplicar o processo comum, contudo existe uma excepção a este ‘’princípio’’.

Nos termos do art. 449º/2 al. d) CPC consagra-se que quando o autor tenha a possibilidade de (1) propor acção declarativa especial para cumprimento de obrigações pecuniárias, (2) recorrer a processo de injunção, poderá optar pelo recurso ao processo de declaração ‘’comum’’.

Prof. Rita Gouveia: é difícil entender a norma do art. 449º/2 al. d) CPC, havendo autores que defendem que esta norma só se aplica quando não se escolhem injunções; enquanto outros autores defendem que o art. 460º CPC foi derrogado desta norma.

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d) Se o preço da televisão fosse de €30500,00 a sua resposta seria a mesma?

Nos termos do art. 460º CPC consagram-se os tipos de formas de processo, podendo este ser comum ou especial. O processo comum só se aplica se não existir nenhum processo especial.

Ora, existe um processo especial para as acções especiais de cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes de contratos constante do Decreto Lei 269/98. Deste modo, não se irá aplicar o processo comum mas sim o processo especial nos termos do art. 460º/1 e 2º CPC.

Nos termos do art. 1º do Regime da Acção Declarativa Especial para Cumprimento de Obrigações Pecuniárias emergentes de Contratos consagra-se que este regime se aplica a ‘’procedimentos destinados a exigir o cumprimento de obrigações pecuniários emergentes de contratos de valor não superior a € 15. 000, 00. No presente caso, uma vez que se está face a uma quantia no valor de €30500,00 não se pode aplicar este regime.

Necessário é atender ao artigo 7º deste Regime, constante em Anexo, que consagra a Injunção, que tem como propósito dar força executiva, podendo ser usada em duas situações distintas (situações a que se refere o art. 1º do regime que se está a analisar e situações de obrigações emergentes de transacções comerciais). Para se poder aplicar o regime da injunção a situações de obrigações emergentes de transacções comerciais é necessário considerar o Decreto Lei 32/2003, de 17 de Setembro.

Aníbal seria um consumidor (o decreto lei não define consumidor, pelo que é necessário recorrer à noção consagrada na Lei 24/96, de 31 de Julho), contudo não se pode aplicar, neste caso, o regime da injunção uma vez que esta aplicação às transacções comerciais encontram-se excluídas quando se trate de operações realizadas por consumidores.

Deste modo, sendo Aníbal um consumidor, a FNAT (credor) não poderá cobrar a dívida através do recurso à injunção constante do art. 7º do Anexo do DL 269/98, porque (1) o valor excede aos € 15. 000, 00 (2) e não se trata de uma transacção comercial.

É necessário agora atender ao facto que ainda existe o Regime do Processo Civil Experimental, que é um processo especial.

Este Regime do Processo Civil Experimental foi consagrado em 2006 pelo legislador e aplica-se às acções declarativas civis comuns (ordinário, sumário e sumaríssimo) e às acções especiais (acções especiais para o cumprimento de obrigações pecuniárias emergentes dos contratos – DL 269/98, de 1 de Setembro).

Nos termos do art. 21º e 22º do Regime do Processo Civil Experimental consagra-se que este regime só se aplica aos Tribunais que forem determinados por Portaria, sendo que para o efeito existem duas Portarias a regular a sua aplicação no espaço: a Portaria 955/2006 consagra que este regime se aplica aos tribunais de Almada, Porto e Seixal; a Portaria 115-C/2001 consagra que este regime se aplica aos tribunais das comarcas do Barreiro e de Matosinhos e nas varas cíveis do Tribunal da Comarca do Porto. Deste modo, o Regime do Processo Civil Experimental só se aplica nos casos consagrados nas Portarias referidas, sendo que nos restantes casos aplica-se o Processo Civil Comum.

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Quanto aos Julgados de Paz, resulta do art. 8º da sua Lei conjugado com o art. 31º da LOFTJ 2008 que a sua competência aplica-se a questões cujo valor não exceda € 5. 000, 00, pelo que no presente caso também não se poderia aplicar.

Não existindo nenhuma forma de processo especial é necessário atender ao processo comum.

Em primeiro lugar é necessário determinar qual o valor da causa, pelo que se terá de recorrer ao art. 305º e ss CPC.

Nos termos do art. 305º/1 CPC ‘’A toda a causa deve ser atribuído um valor certo (…)

o qual representa a utilidade económica imediata do pedido’’. A importância da

determinação do valor da causa, tal como é referido no nº2 do art. 305º CPC, assenta em através desta se determinar qual o tribunal competente, qual a forma de processo aplicável e a relação da causa com a alçada do tribunal.

Nos termos do art. 306º CPC consagram-se os critérios gerais para a fixação do valor, salvo se se aplicar um critério especial.

Ora, no presente caso estamos face a uma acção de declaração de anulação de um contrato, pelo que o art. 310º/1 CPC determina que ‘’Quando a acção tiver por

objecto a (…) cumprimento (…) de um acto jurídico, atender-se-á ao valor do acto determinado pelo preço ou estipulado pelas partes’’. Deste modo sendo o valor da

televisão de €30500,00 o valor da causa será este.

Determinado o valor da causa (€30500, 00) é necessário determinar qual a forma de processo aplicável. Para tal é necessário recorrer às normas constantes do art. 460º e ss CPC e ao art. 31º da LOFTJ 2008

Nos termos do art. 460º o processo pode ser comum ou especial. Nos termos do art. 461º e 462º o processo comum pode ser ordinário, sumário ou sumaríssimo. É necessário determinar qual a forma de processo comum é que se encontra em causa.

Nos termos do art. 31º da LOFTJ 2008 a alçada do Tribunal da Relação é de € 30. 000, 00 e a alçada dos Tribunais de 1ª Instância de € 5. 000, 00. Ora, sendo o valor da causa €30500, 00 estamos face ao processo comum ordinários nos termos do art. 460º, 461º e 462º, primeira parte CPC.

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Caso II

A sociedade Vinhos do Côa, Lda., aprovou, em assembleia-geral realizada em 10 de Setembro de 2011, a destituição do sócio António das suas funções de gerente e a nomeação do sócio Bernardo como gerente, tendo ambos os sócios estado presentes na referida assembleia. Em 13 de Setembro de 2012, a Vinhos do Côa, Lda., registou as deliberações perante a Conservatória do Registo Comercial. António, inconformado com aquelas deliberações e receando que Bernardo lese os interesses da Vinhos do Côa, Lda., pretende impedir que este assuma as funções de gerente. António dispõe de algum meio para fazê-lo?

TEMA: PROVIDÊNCIAS CAUTELARES (DELIBERAÇÕES SOCIAIS)

No presente caso estamos no âmbito da matéria das providências cautelares consagradas no art. 381º e ss CPC, cuja função específica consiste em prevenir os perigos que, antes da propositura de uma acção ou durante o tempo em que esta se encontra pendente, possam comprometer os resultados (ou seja, alcançar a pretensão deduzida na acção), regular provisoriamente o conflito de interesses até ser lograda a composição definitiva, ou, inclusivamente, em antecipar a realização dos efeitos jurídicos e do direito que previsivelmente poderá vir a ser reconhecido na acção.

Nos termos do art. 381º/3 CPC existindo um procedimento cautelar especificado em que se possa resolver a questão não se pode resolver a mesma com recurso ao procedimento cautelar comum.

Nos termos do art. 396º e ss CPC encontra-se regulada a suspensão de deliberações sociais que constitui um procedimento cautelar especificado.

A suspensão de deliberações sociais, providência dirigida às sociedades (civis, comerciais, ainda que estás últimas esteja irregularmente constituídas, e às associações de direito privado) é instrumental ou anciliar das acções de declaração de invalidade (nulidade ou anulabilidade) de deliberações tomadas pelos órgãos competentes daquelas pessoas colectivas (Assembleia Geral, Conselho de Administração, Direcção, Conselho Fiscal) por serem contrárias às leis, aos estatutos ou ao contrato de sociedade, independentemente do desvalor da deliberação social cuja suspensão seja pedida. É uma providência antecipatória, visto que permite, de algum modo, adiantar certos efeitos derivados da sentença que, na acção principal, declare com efeitos constitutivos de nulidade ou anulabilidade dessa deliberação.

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É necessário analisar os requisitos contantes do art. 396º CPC para saber se se encontram reunidas as condições de impugnação de uma deliberação social:

Aprovação de uma deliberação social (‘’A sociedade Vinhos e Côa, aprovou,

em Assembleia geral (…) a destituição do sócio António das suas funções de gerente e a nomeação do sócio Bernardo como gerente (…)’’) – requisito

verificado

 Deliberação Social contrária à lei, aos estatutos ou ao contrato presume-se que sim)

 Impugnação da deliberação social está dependente de quem tenha a qualidade de sócio (António era sócio) – requisito verificado

 A impugnação da deliberação social terá de ser efectuada no prazo de 10 dias, contando-se o prazo desde o momento em que a deliberação social foi tomada (neste caso, António teria 10 dias a contar de dia 10 de Setembro, ou seja poderia requerer a suspensão da deliberação social até dia 20 de Setembro)

 É necessário que a deliberação social possa causar um dano apreciável (António deixaria de ser Gerente, passando a ser Bernardo o gerente, pelo que o primeiro receava que o segundo lesasse os interesses da sociedade em causa) – requisito verificado

 A deliberação social ainda não tenha produzido efeitos jurídicos, ou seja não pode ocorrer a consumação da lesão. Quando se diz ‘’suspende-se’’ pretende-se que a deliberação social em causa ainda não tenha produzido qualquer efeito jurídico. Como é que se sabe se a deliberação social já produziu ou não efeitos? Em resposta a tal questão existem duas teorias:

 Uma parte da doutrina entende que com o registo das deliberações perante a Conservatória do Registo Comercial a 13 de Setembro, ou seja com o registo dos órgãos resultantes de uma deliberação social, tal torna-se intacável, uma vez que não se pode requerer uma providência cautelar contra a lei, apenas podendo intentar-se uma acção de anulação ou de nulidade (a acção principal pode sempre propor-se).

 Contudo, a boa doutrina e a boa jurisprudência defendem que a deliberação social em causa é uma deliberação de execução continuada, ou seja todos os dias aquela produz efeitos jurídicos, podendo então neste caso a suspensão produzir efeitos.

Deste modo, António poderia intentar uma providência cautelar específica de suspensão da deliberação social.

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NOTA1: coloca-se a questão de saber se se pode impugnar directamente uma

decisão do Conselho de Administração. Tal é uma matéria de direito substantivo que não será estudada nesta disciplina. A questão que se coloca, concretamente, é se se pode servir deste procedimento especial ou se tal é exclusivo das deliberações sociais da Assembleia Geral.

NOTA2: não existe nenhum prazo para requerer uma providência cautelar comum NOTA3: Razão da Exigência do Prazo de 10 dias para a Impugnação de Deliberações

Sociais – a situação jurídica de uma sociedade comercial tem de estar estabilizada, não podendo uma deliberação social estar no limo de ser ou não suspensa.

NOTA4: passado o prazo de impugnação de uma deliberação social, ou seja

passados 10 dias, não se pode recorrer ao procedimento cautelar comum, ou seja para ocorrer a suspensão de uma deliberação social tal tem de ser realizado através do art. 396º CPC. Problema: se se entender que este procedimento cautelar específico não se aplica às deliberações do Conselho de Administração (NOTA1) estas poderão ser impugnadas a todo o tempo, uma vez que o procedimento cautelar comum não tem prazo (NOTA2)

NOTA5: o procedimento cautelar específico de suspensão de deliberações sociais,

quando é requerido, e após a citação da sociedade, faz com a sociedade quanto à deliberação social em causa fique paralisada. Ora é muito perigoso poder-se paralisar deliberações de órgãos sociais. Os procedimentos cautelares podem estar sujeitos a um controlo prévio do juiz, podendo este indeferir liminarmente o processo, mas só quando é manifesta a improcedência de tal (por exemplo, o prazo de 10 dias já passou).

NOTA6: Nos termos do art. 397º/3 CPC se a sociedade mesmo que citada executar a

deliberação tal consubstancia uma situação de responsabilidade civil, havendo quem entenda que tais actos praticados serão ineficazes. Contudo, o nº3 do art. 397º CPC regere como efeito a responsabilidade civil e não a ineficácia dos actos, uma vez que não se pode com a citação antecipar os efeitos que só poderão ser produzidos pela sentença.

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Caso Prático III

Em 9 de Agosto de 2012, Caetano foi citado pelo Tribunal Judicial de Portimão de que fora decretado o arresto de todos os bens imóveis de que é proprietário, no âmbito do procedimento cautelar requerido contra si pelo seu credor Diogo. Diogo foi notificado da citação de Caetano em 13 de Agosto de 2012.

TEMA: PROVIDÊNCIAS CAUTELARES (ARRESTO)

a) Caetano insurge-se contra a sentença por a mesma ter sido decretada sem a sua prévia audição, não tendo Diogo demonstrado em Tribunal que a sua audição poria em risco sério o fim ou a eficácia da providência. Tem razão?

No presente caso estamos face a uma situação de arresto que consubstancia uma providência cautelar conservatória, ou seja estas visam prevenir o efeito útil da acção principal assegurando a permanência da situação existente à época em que o conflito de interesses foi desencadeado ou quando se verificou a situação de periculum in mora.

O arresto, consagrado no art. 406º e ss CPC e no art. 601º e 619º CC, pode ser requerido por todo aquele que se arroga na qualidade de credor do requerido, contando que, demonstre a probabilidade da existência do seu crédito e o fundando ou justo receio da perda da sua garantia patrimonial. Ou seja, o arresto consiste na apreensão, por parte de um agente de execução, de bens (penhoráveis) do devedor ou de bens que foram por este transmitidos a um terceiro.

Uma das características dos procedimentos cautelares é o facto de nestes poder ser dispensada a audiência previa do requerido, ou seja a providência cautelar pode, em casos excepcionais (art. 3º/2 CPC) ser decretada, sem que o requerido tenha sido ouvido. O juiz só está autorizado a dispensar a audiência do requerido quando os conceitos indeterminados ‘’risco sério’’ e ‘’fim ou eficácia da providência’’ estiverem no caso concreto preenchidos.

Há casos em que no dominio das providências cautelares especificadas, como é o arresto, é praticamente imposta por lei. Nos termos do art. 408º/1 consagra-se que não existe audiência prévio, sendo que conjugando este artigo com o art. 406º, é óbvio que se se provar que o requerido se encontra a praticar actos que coloquem em causa uma diminuição do seu património, não faz sentido que ele seja ouvido. Nestes termos o art. 408º/1 relaciona-se com o art. 385º/1 CPC que consagra um desvio ao Princípio do Contraditório.

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b) Caetano, inconformado com a sentença que determinou o arresto porque baseada em depoimentos de testemunhas da confiança de Diogo, pretende que o Tribunal Judicial de Portimão ouça o depoimento de outras testemunhas, pelo que recorreu daquela sentença. Procedeu correctamente?

Decretado o arresto, Caetano será citado para exercer o seu direito de defesa, nos termos do art. 385º/6 e art. 388º/1 CPC. Tal direito de defesa pode se realizar através de oposição ou de recurso.

Ora a diferença entre o recurso e a oposição assenta no facto de que recorrer da decisão serve para atacar a prova, isto é para recorrer da matéria de direito e da matéria de facto, nos termos do art. 388º/1 al. a) CPC (por exemplo, quando não se concorda com a apreciação feita pelo tribunal de uma determinada prova recorre-se da decisão); enquanto a oposição é deduzida quando se pretende alegar factos ou produzir meios de prova não tidos em conta pelo tribunal e que podem afastar os fundamentos da providência ou determinar a sua redução, nos termos do art. 388º/1 al. b) CPC.

Tendo em consideração que Caetano pretende a audição de novas testemunhas deveria ter deduzido oposição nos termos do art. 388º/1 al. b) e não recorrido da decisão.

c) Em 10 de Setembro de 2012, Diogo propôs uma acção executiva contra Caetano, requerendo ao Tribunal Judicial de Portimão que o arresto fosse apenso à esta acção. Em 17 de Setembro de 2012, Caetano apresentou um requerimento no âmbito do procedimento cautelar de arresto requerendo a extinção da instância com fundamento em caducidade do mesmo dado que o arresto não pode ser dependência de uma acção executiva.

Nos termos do art. 383º/1 CPC, o procedimento cautelar pode ser dependente de uma acção executiva, sendo o procedimento cautelar acessório à acção executiva nos termos da 2ª parte da norma em análise.

NOTA1: existindo um título executivo, mas sabendo que o executado se encontra a

dissipar os bens, intenta-se primeiro uma acção declarativa e só posteriormente uma acção executiva. Nos termos do art. 383º/1 CPC o procedimento cautelar é sempre dependente/acessório de uma acção declarativa ou executiva. Quando a acção executiva é fundada num título judicial (sentença), sendo requerida antes da citação do executado, realiza-se logo a penhora dos bens. Deste modo, nestas situações poder-se-ia dizer que o arresto não seria tão necessário.

NOTA2: nos termos do art. 382º CPC o procedimento cautelar é urgente, ou seja tem

prioridade relativamente aos demais processos não urgentes. Nos termos do art. 143º/2 CPC, a característica da urgência dos procedimentos cautelares manifesta-se também nesta norma quanto às férias judiciais (15 de Julho a 31 de Agosto (férias de verão), férias de natal e da páscoa também existem mais com prazos relativamente mais curtos – LOFTJ 2008)

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NOTA3: Quanto ao prazo do arresto, este deverá ser decidido em 15dias, a não ser

que a parte contrária tenha de ser citada, pelo que nesse caso o prazo alarga-se para 2 meses.

d) Caetano invoca que a acção da qual o arresto deveria ser dependente não foi intentada. Quid iuris? (Hipótese Aula Prática)

Nos termos do art. 389º/1 al. a) CPC a regra é que uma vez decretada providência cautelar, o requerente tem 30 dias para propor a acção principal sob pena de caducidade da providência cautelar.

No art. 389º/2 do CPC consagra-se uma regra diferente que assenta em que o requerente da providência de arresto que foi decretada tem o prazo de 10 dias para propor a acção principal, contando-se tal prazo a partir do momento em que o requerente foi notificado de que foi efectuado ao requerido a notificação prevista no art. 385º/6 CPC.

NOTA1: no arresto existe uma regra, constante no art. 410º CPC, que pode conduzir em

erro. Nos termos do art. 410º CPC englobam-se as situações em que se requer uma providência cautelar mas intenta-se uma acção de condenação que é objecto de recursos até que ocorra o seu trânsito em julgado. Neste caos, o legislador quer assegurar que a partir do momento em que se tem um arresto e uma acção condenatória, que se promova à execução subsequente da acção declarativa, sob pena de o arresto ficar sem efeito.

NOTA2: Segundo o Prof. Lebre de Freitas o prazo de 30 dias também se pode aplicar às

situações em que o prazo de 10 dias se encontra compreendido no prazo de 30 dias. Nesta circunstância o requerente goza do prazo de 30 das uma vez que se confere a possibilidade de exercer o direito num prazo maior. Contudo, é um tese com aplicação nula.

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II - Personalidade, Capacidade e Patrocínio Judiciário CASO IV

O condomínio de um prédio situado na Baixa de Lisboa pretende instaurar uma acção contra Bernardo, proprietário de uma das fracções (4.º Direito), pelo facto de este último não proceder ao pagamento das quantias devidas nos últimos três anos, após repetidas solicitações para o fazer. Pode fazê-lo? Em caso afirmativo, como?

TEMA: PERSONALIDADE JUDICIÁRIA

No presente caso estamos no âmbito dos pressupostos processuais. Entende-se por

pressupostos processuais os elementos de cuja verificação depende o dever de o juiz

proferir decisão sobre o pedido formulado, condenando ou inferindo a providência requerida. Trata-se das condições mínimas consideradas indispensáveis para, à partida, garantir uma decisão idónea e uma decisão útil da causa.

Importa ainda salientar que os pressupostos processuais podem ser de dois tipos:  Positivos: requisitos cuja existência é essencial para que o juiz se deva

pronunciar sobre a procedência ou improcedência da acção.

 Personalidade judiciária  Capacidade judiciária  Legitimidade

 Interesse processual  Patrocínio judiciário

 Negativos: factos cuja verificação impede o juiz de entrar na apreciação do mérito do pedido

 Listispendência  Compromisso arbitral

No presente caso, estamos no âmbito da personalidade judiciária que se encontra consagrada no art. 5º e ss. CPC. Nos termos do art. 5º/1, a personalidade judiciária consiste na susceptibilidade de ser parte. Entende-se por partes as pessoas pela qual e contra a qual é requerida, através da acção, a providência judiciária.

Deste modo, a personalidade judiciária consiste na possibilidade de requerer (autor) ou de contra si ser requerida (réu) , em próprio nome, qualquer das providências de tutela jurisdicional reconhecidas na lei.

Nos termos do art. 5º/2 do CPC consagra-se o Princípio da Equiparação, ou seja o critério geral fixado na lei para se saber quem tem personalidade judiciária é o da correspondência (coincidência ou equiparação) entre a personalidade jurídica (ou capacidade de gozo de direitos) e a personalidade judiciária.

Nos termos do art. 66º do CC, tem-se personalidade jurídica com o nascimento completo e com vida, pelo que, consequentemente, todas as pessoas singulares têm personalidade judiciária.

Todos os indivíduos, quer sejam maiores ou menores, quer sejam capazes, interditos ou inabilitados, quer nacionais ou estrangeiros gozam de personalidade judiciária, podem ser partes em juízo, visto que todos eles podem ser sujeitos, em princípio, de quaisquer relações jurídicas, nos termos do art. 67º do CC.

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O corolário aplicável às pessoas singulares estende-se de igual modo, quer às pessoas colectivas, quer às sociedades que seja reconhecida personalidade jurídica. Também as pessoas colectivas e as sociedades, embora agindo necessariamente em juízo por meio dos seus representantes estatutários, são as verdadeiras partes da acção, sempre que esta seja proposta em nome delas ou contra elas.

Contudo, há inúmeras situações em que não há uma correspondência ou uma coincidência entre a capacidade de gozo de direitos (a personalidade jurídica) e a personalidade judiciária. Nestes casos, a lei estende ou atribui personalidade judiciária a entes que não gozam de personalidade jurídica. Deste modo, a lei estende a atribuição de personalidade judiciária a entres desprovidos de personalidade jurídica, desde logo, em virtude da tutela de situações de separação ou de diferenciação patrimonial. Tais casos encontram-se consagrados no art. 6º do CPC.

No presente caso estamos no âmbito do art. 6º al. e) que se conjuga com o art. 1436º al. e) e 1437º do CC, ou seja ocorre a extensão de personalidade judiciária ao condomínio resultante da propriedade horizontal, relativamente às acções que se inserem no âmbito dos poderes do administrador. A parte é o administrador e não cada um dos condóminos, uma vez que o condomínio age através do administrador que é quem em juízo vai praticar os actos.

Importa ainda salientar que este caso consubstancia um caso particular, uma vez que existe o regime da propriedade horizontal, que apesar de integrado no CC, possui legislação avulsa (DL 268/94) que regula toda a matéria relativamente ao condomínio. Através do referido diploma legal, a acta da assembleia de condomínios na qual se fixa o valor devido pelos condóminos constitui um titulo executivo (art. 46º al. d) CPC), pelo que o administrador do condomínio poderia requerer a acção executiva em vez da acção declarativa.

Em suma, o administrador do codominio poderia pretender que o tribunal declarasse a existência do direito em causa (pagamento das quantias devidas nos últimos três anos) através de uma acção declarativa ou de uma acção executiva.

NOTA: quando no exame surge um caso de uma sociedade comercial é errado dizer

que ela tem personalidade judiciária nos termos do art. 6º al. d) do CPC. Nunca se alude a esta norma quando a hipótese simplesmente se refere a uma sociedade ou uma sociedade civil. O art. 6º só é utilizado para as sociedades que ainda não têm personalidade jurídica. Tendo personalidade jurídica necessariamente tem-se personalidade judiciária nos termos do art. 5º CPC.

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CASO V

Caroline, francesa, residente em Paris, celebrou com o Banco Crédit Français, com sede em Paris, um contrato de concessão de crédito para a compra de um imóvel em Portugal, onde instalou uma sucursal do seu atelier de arquitectura.. A agência portuguesa do Banco Crédit Français pretende agora propor uma acção contra Caroline, com fundamento na falta de cumprimento do contrato de concessão de crédito, e fazer valer-se do imóvel dado em garantia . Quid Iuris?

TEMA: PERSONALIDADE JUDICIÁRIA

No presente caso estamos no âmbito dos pressupostos processuais. Entende-se por

pressupostos processuais os elementos de cuja verificação depende o dever de o juiz

proferir decisão sobre o pedido formulado, condenando ou inferindo a providência requerida. Trata-se das condições mínimas consideradas indispensáveis para, à partida, garantir uma decisão idónea e uma decisão útil da causa.

Importa ainda salientar que estamos no âmbito de um pressuposto processual positivo (personalidade judiciária), ou seja de um requisito cuja existência é essencial para que o juiz se deva pronunciar sobre a procedência ou improcedência da acção.

No presente caso, estamos no âmbito da personalidade judiciária que se encontra consagrada no art. 5º e ss. CPC. Nos termos do art. 5º/1, a personalidade judiciária consiste na susceptibilidade de ser parte. Entende-se por partes as pessoas pela qual e contra a qual é requerida, através da acção, a providência judiciária.

Deste modo, a personalidade judiciária consiste na possibilidade de requerer (autor) ou de contra si ser requerida (réu) , em próprio nome, qualquer das providências de tutela jurisdicional reconhecidas na lei.

Nos termos do art. 5º/2 do CPC consagra-se o Princípio da Equiparação, ou seja o critério geral fixado na lei para se saber quem tem personalidade judiciária é o da correspondência (coincidência ou equiparação) entre a personalidade jurídica (ou capacidade de gozo de direitos) e a personalidade judiciária.

Nos termos do art. 66º do CC, tem-se personalidade jurídica com o nascimento completo e com vida, pelo que, consequentemente, todas as pessoas singulares têm personalidade judiciária.

O corolário aplicável às pessoas singulares estende-se de igual modo, quer às pessoas colectivas, quer às sociedades que seja reconhecida personalidade jurídica. Também as pessoas colectivas e as sociedades, embora agindo necessariamente em juízo por meio dos seus representantes estatutários, são as verdadeiras partes da acção, sempre que esta seja proposta em nome delas ou contra elas.

Contudo, há inúmeras situações em que não há uma correspondência ou uma coincidência entre a capacidade de gozo de direitos (a personalidade jurídica) e a personalidade judiciária. Nestes casos, a lei estende ou atribui personalidade judiciária a entes que não gozam de personalidade jurídica. Deste modo, a lei estende a atribuição de personalidade judiciária a entres desprovidos de personalidade jurídica, desde logo, em virtude da tutela de situações de separação ou de diferenciação patrimonial.

Quanto à Caroline, ela terá personalidade judiciária, nos termos do art. 5º e art. 66º do CC, uma vez que quem tem personalidade jurídica terá personalidade judiciária.

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NOTA: Caroline tem personalidade jurídica nos termos do art. 66º CC ou da Lei

Francesa? É um problema de Direito Internacional Privado que não irá ser estudado nesta disciplina.

Quanto à agência, é necessário saber se tem ou não personalidade jurídica.

Se chegarmos à conclusão que a agência portuguesa é uma sociedade, ou seja uma pessoa jurídica subsidiária ao banco francês entender-se-ia que, assim, ela teria personalidade jurídica nos termos do art. 5º do CPC

Se pelo contrário, neste caso, estivermos no âmbito de agência no sentido do art. 7º do CPC, ela não terá personalidade jurídica, uma vez que é um ramo de uma sociedade jurídica constituída, mas verificados certos requisitos poderá ter personalidade judiciária.

Ou seja, a personalidade judiciária é, nos termos do art. 7º CPC, atribuída a determinadas entidades desprovidas de personalidade jurídica em virtude da imputação do acto gerador do conflito de interesses. Nos casos do art. 7º está-se perante empresas em sentido objectivo, estabelecimentos comerciais ou industriais secundários.

Deste modo, para que a agência em questão possa possuir personalidade judiciária é necessário que:

 Nos termos do art. 7º/1, que a acção proceda de facto por ela praticado. Ora este requisito não se encontra verificado, uma vez que o contrato de concessão de crédito para a compra de um imóvel em Portugal foi celebrado com o Banco Crédit Français.

 Nos termos do art. 7º/2, ainda que a acção derive de facto praticado pela sede da agência em país estrangeiro, a agência poderá demandar desde que:

 A obrigação tenha sido contraída com um português. Ora este requisito não se encontra verificado, uma vez que Caroline era francesa.

 A obrigação tenha sido contraída com um estrangeiro domiciliado em Portugal. Ora tal requisito não se encontra verificado, uma vez que Caroline era residente em Paris.

Deste modo, e com base nos artigos 5º, 6º e 7º do CPC a agência não possui personalidade judiciária pelo que não poderá demandar Caroline numa acção com fundamento na falta de cumprimento do contrato de concessão de crédito.

Deste modo, faltando um pressuposto processual, a personalidade judiciária (da Agência) consubstancia uma excepção dilatória nos termos do art. 494º al. c) CPC, ocorrerá a absolvição da instância do réu (Caroline).

NOTA1: a falta de personalidade judiciária é em princípio insanável. A Falta de

Personalidade Judiciária ocorre sempre que o demandante ou o demandado são coisas/realidades jurídicas despersonificadas às quais nem o direito processual concede personalidade judiciária. Tanto pode tratar-se (1) de entes destituídos de personalidade judiciária; (2) de realidades desprovidas de personalidade jurídica e consequentemente de personalidade judiciária.

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NOTA2: Nos termos do art. 265º CPC, permite-se ao juiz desencadear o processo que

visa a sanação da falta dos pressupostos processuais (condições que permitem ao juiz conhecer do mérito da causa).

NOTA3: o art. 5º e ss CPC são artigos específicos sobre o pressuposto da personalidade

judiciária. O legislador tem um regime geral sobre os pressupostos processuais quando se refere às excepções dilatórias que se encontram consagradas no regime da defesa, na contestação, nos termos do art. 487º e ss CPC.

NOTA4: Nos termos do art. 494º al. c) CPC consagra-se que a falta de personalidade

judiciária consubstancia uma excepção dilatória. Todas as exceções dilatórias, nos termos do art. 495º CPC, são de conhecimento oficioso, havendo apenas excepção a esta regra quanto aos casos de incompetência relativa não abrangidos no art. 110º do CPC e nos casos em que sendo a competência do litigio de um tribunal judiciário ter-se-ia colocado a acção num tribunal arbitral.

NOTA5: Nos termos do art. 510º/1 al. a) o juiz deve conhecer das expeções dilatórias no

despacho saneador, ou seja na fase do Saneamento e da Condensação. Importa ainda salientar que nos termos do art. 508º/1 al. a) remete-se para o art. 265º/2 do CPC provocando a intervenção da administração principal.

NOTA6: O art. 288º CPC refere-se aos casos de absolvição da instância, ou seja o juiz

deverá abster-se de conhecer do pedido e absolver o réu da instância no caso de faltar um pressuposto processual.

NOTA7: Nos termos do art. 23º CPC permite-se o suprimento da incapacidade

judiciária e da irregularidade de representação através da intervenção de representante legitimo.

NOTA8: A falta de personalidade judiciária é insuprível, com excepção do art. 8º CPC

devido aos factos de neste caso muitas vezes os actos serem praticados com as deslocações comerciais das pessoas físicas.

CASO VI

Duarte comprou a Filipe uma moto quatro pelo valor de 3.000 Euros. Como conhecia Duarte, Filipe entregou a moto quatro antes de receber a quantia. No entanto, Duarte nunca chegou a pagar os 3.000 Euros e Filipe resolveu intentar uma acção com a finalidade de obter a quantia devida. Duarte é menor.

TEMA: PERSONALIDADE JUDICIÁRIA E CAPACIDADE JUDICIÁRIA a. Imagine que Duarte contestou a acção. Quid Iuris?

No presente caso estamos no âmbito dos pressupostos processuais. Entende-se por

pressupostos processuais os elementos de cuja verificação depende o dever de o juiz

proferir decisão sobre o pedido formulado, condenando ou inferindo a providência requerida. Trata-se das condições mínimas consideradas indispensáveis para, à partida, garantir uma decisão idónea e uma decisão útil da causa.

Importa ainda salientar que estamos no âmbito de dois pressupostos processuais positivos (personalidade judiciária e capacidade judiciária), ou seja de um requisito cuja existência é essencial para que o juiz se deva pronunciar sobre a procedência ou improcedência da acção.

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Nos termos do art. 5º/1, a personalidade judiciária consiste na susceptibilidade de ser parte. Entende-se por partes as pessoas pela qual e contra a qual é requerida, através da acção, a providência judiciária.

Deste modo, a personalidade judiciária consiste na possibilidade de requerer (autor) ou de contra si ser requerida (réu) , em próprio nome, qualquer das providências de tutela jurisdicional reconhecidas na lei.

Nos termos do art. 5º/2 do CPC consagra-se o Princípio da Equiparação, ou seja o critério geral fixado na lei para se saber quem tem personalidade judiciária é o da correspondência (coincidência ou equiparação) entre a personalidade jurídica (ou capacidade de gozo de direitos) e a personalidade judiciária.

Nos termos do art. 66º do CC, tem-se personalidade jurídica com o nascimento completo e com vida, pelo que, consequentemente, todas as pessoas singulares têm personalidade judiciária.

Todos os indivíduos, quer sejam maiores ou menores, quer sejam capazes, interditos ou inabilitados, quer nacionais ou estrangeiros gozam de personalidade judiciária, podem ser partes em juízo, visto que todos eles podem ser sujeitos, em princípio, de quaisquer relações jurídicas, nos termos do art. 67º do CC.

Deste modo, podemos concluir que tanto Duarte como Filipe, por aplicação do art. 5º do CPC e dos art. 66º e 67º do CC, têm personalidade judiciária.

Quanto à capacidade judiciária, esta encontra-se consagrada no art. 9º/1 do CPC e consiste na susceptibilidade de estar por si em juízo ou de se fazer representar por representante voluntário. Ou seja, a capacidade judiciária é o espelho, na relação processual, da capacidade de exercício de direitos, pois aquela é aferida por esta: quem tem capacidade de exercício de direitos (ainda que limitada ou parcial: os menores nos casos do art. 127º CC) tem também capacidade judiciaria correspondente à produção dos efeitos possíveis balizados pela concreta capacidade de exercício de direitos (art. 10º/1, in fine CPC).

Os menores fora dos casos previstos no artigo 127º CC não tendo capacidade de exercício de direitos também não gozam de capacidade judiciaria, visto que está é a medida e baseia-se na capacidade de exercício de direitos.

Deste modo, sendo Duarte (comprador) menor é necessário abrir as seguintes hipóteses:

 Nos termos do art. 127º/1 al. a) CC seria válido o acto que o menor (mas maior de 16anos) tivesse praticado desde que o tivesse adquirido pelo seu trabalho. Ou seja, se Duarte tivesse trabalho e ‘’amealhado’’ o dinheiro dai resultante e com tal tivesse comprado a moto quatro, o acto seria válido e Duarte teria capacidade judiciária

 Nos termos do art. 127º/1 al. b) CC seria válido o acto desde que se enquadrasse dentro dos ‘’negócios jurídicos próprios da vida corrente do menor’’. Ou seja, o caso não nos dá elementos suficientes para saber se Duarte seria ‘’muito rico’’ ou não, mas é importante abrir a hipótese (para o filho do Cristiano Ronaldo três mil euros é uma quantia pequena)

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Não se enquadrando em nenhum dos casos do art. 127º do CC, pelo que Duarte não teria capacidade de exercício para praticar o acto nem teria capacidade judiciária para agir nos termos do art. 9º e 10º CPC. Sendo esta a hipótese, estamos face a uma situação de incapacidade judiciária.

Analisando a hipótese de estarmos face a uma situação de incapacidade judiciária, uma vez que Duarte contestou a acção questiona-se quais os efeitos que a sua incapacidade judiciária acarreta.

Nos termos do art. 23º/1 do CPC a incapacidade judiciária é suprível. Logo que o juiz se aperceba da incapacidade judiciária deve oficiosamente e a todo o tempo providenciar pela regularização, o que ocorre mediante a intervenção ou citação do representante do incapaz, para o efeito de ratificar ou renovar os actos praticados. Nos termos do art. 10º/1 do CPC a incapacidade judiciária é suprida através da assistência e da representação. Nos termos do art. 124º e 1902º do CC e do art. 10º/2 do CPC, normalmente, os representantes dos menores são os pais. Sendo que no nosso caso o menor é réu ambos os pais serão citados para o exercer o direito de contestar a acção, podendo praticar, deste modo, uma nova contestação.

Importa salientar que, nos termos do art. 288º al. c) e do art. 494º al. c) CPC a falta de capacidade judiciária consubstancia uma excepção dilatória que se não for suprida conduzirá à absolvição da instância.

Respeitando o vício ao réu a sanação verifica-se com a mera citação dos representantes legitimas dessa parte. Contudo, se a sanação estivesse condicionada pela pratica de qualquer acto por este representante do incapaz, a sanação era deixada na sua inteira disponibilidade, o que até lhe seria altamente favorável, visto que, se nada fizesse, o réu, seria absolvida da instância. deste modo, em último caso aplica-se o disposto no art. 15º/1 CPC que consagra que incumbe ao Ministério Público a defesa do réu, para o que será citado.

De qualquer modo, ainda que não seja apresentada qualquer contestação, que possui como efeito normal a revelia, tal efeito não se produz nos termos do art. 485º al. b) CPC.

b. Imagine agora que os pais de Duarte estão em desacordo quanto à estratégia a adoptar no processo. Quid Iuris?

Nos termos do art. 12º do CPC, havendo divergência entre os pais na representação do menor, a resolução do conflito cabe ao juiz em causa, no respeito pelos melhores interesses do menor, podendo atribuir a representação a um só dos pais, designar curador ou conferir a representação ao Ministério Público (nº3).

O art. 12º distingue dois momentos, duas situações:

 Litigio surge antes da Instauração da Acção: qualquer um dos representantes pode requerer ao tribunal competente para a causa a resolução do conflito (nº1)

 Litigio surge no decorrer do processo (caso prático): qualquer dos pais, no prazo de realização do primeiro acto processual afectado pelo desacordo, pode requerer ao juiz da causa que providencie sobre a forma de o incapaz ser nela representado, suspendendo-se a instância para se tentar promover o acordo e a resolução do litigio (nº2). Importa ainda salientar que a contagem do prazo suspenso reinicia-se com a notificação da decisão (nº4).

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c. Na situação referida em a) se, em vez de ser menor, Duarte tivesse sido inabilitado a resposta manter-se-ia?

Nos termos do art. 13º CPC regula-se a capacidade judiciária dos inabilitados. Os inabilitados, fora das circunstâncias previstas no art. 153º/1, in fine do CC, não tendo capacidade de exercício de direitos também não gozam de capacidade judiciária, visto que está é a medida e baseia-se na capacidade de exercício de direitos. O que o artigo 153º do CC consagra é que os actos de disposição do inabilitado têm de ser praticados pelo curador, não se estando face a uma incapacidade genérica, não é uma incapacidade natural, resultando antes de uma decisão judicial.

Deste modo, é necessário analisar o acto e a sentença que inabilitou Duarte para apurar se ele de acordo com a sentença podia ou não praticar o acto em causa.

Podendo praticar estes actos então não se está face a uma situação de incapacidade judiciária nos termos do art. 13º CPC, podendo a acção ser proposta contra ele. Contudo é necessário analisar até que ponto a sentença resultante da acção não seria um acto de disposição. Um dos efeitos possíveis da sentença seria a perda da mota quatro (que Filipe lhe entregara) o que conduziria a um acto de disposição. Se Duarte não pudesse praticar actos de disposição, para efeitos do art. 13º CPC, ele não teria capacidade judiciária.

Assim sendo, a incapacidade judiciária dos inabilitados é suprida através do curador (art. 153º CC). O inabilitado pode, porém, estar pessoalmente em juízo e intervir, devendo ser citado quando é reu (art. 13º/1 CPC). Todavia, é o curador que autoriza a pratica dos actos pelo inabilitado, pelo que, em caso de divergência entre o curador e o inabilitado, prevalece a orientação do curador nos termos do art. 13º/2 CPC.

CASO VII

João instaurou contra Pedro uma acção de reivindicação de um terreno avaliado em 40.000 Euros.

TEMA: PATROCÍNIO JUDICIÁRIO

a. Pedro, estudante de Direito e convicto de que poderia fazer a sua própria contestação, apresentou a mesma no prazo legalmente estabelecido. Um advogado seu amigo, Manuel, fez a revisão da peça e afirmou que a mesma estava perfeita. Quid Iuris?

No presente caso estamos no âmbito dos pressupostos processuais. Entende-se por

pressupostos processuais os elementos de cuja verificação depende o dever de o juiz

proferir decisão sobre o pedido formulado, condenando ou inferindo a providência requerida. Trata-se das condições mínimas consideradas indispensáveis para, à partida, garantir uma decisão idónea e uma decisão útil da causa.

Importa ainda salientar que estamos no âmbito de um pressuposto processual positivo (patrocínio judiciário), ou seja de um requisito cuja existência é essencial para que o juiz se deva pronunciar sobre a procedência ou improcedência da acção.

O Patrocínio Judiciário, regulado no art. 32º e ss CPC, consiste na representação e assistência técnica e profissional das partes em juízo, por parte de advogados e solicitadores, na condução da lide em geral ou na pratica de certos actos em especial, fundando-se num contrato de mandato. Através deste contrato de mandato, a parte atribui ao mandatário poderes para a representar em todos os

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actos e termos do processo (art. 36º/1), incluindo o poder de substabelecer o mandato (subcontrato de mandato), nisto consistindo os poderes forenses gerais (art. 37º/1 CPC).

É importante salientar que o patrocínio judiciário só é pressuposto processual quando é obrigatório.

Em geral, as acções em que é admitido recurso ordinário carecem de patrocínio judiciário nos termos do art. 32º/1 al. a) do CPC.

No presente caso estamos face a uma acção de reivindicação de um terreno avaliado em quarenta mil euros. A primeira coisa a analisar é o valor da causa.

Para determinar o valor da causa é necessário recorrer ao art. 305º e ss. Nos termos do art. 311º/1, se a acção tiver por fim fazer valer o direito de propriedade (acção de reivindicação) sobre uma coisa, o valor da coisa (terreno) determina o valor da causa. Deste modo, estando o terreno avaliado em quarenta mil euros o valor da causa será de quarenta mil euros.

O art. 31º da LOFTJ 2008 consagra que a alçada do Tribunal da Relação é de trinta mil euros e a alçada dos tribunais de 1ª Instância de cinco mil euros. Sabendo que, no presente caso, o valor da causa é de quarenta mil euros é necessário analisar o Princípio consagrado no art. 678º/1 CPC. Nos termos do art. 678º/1 é necessário que o valor da causa seja superior ao valor da alçada do Tribunal da Relação (quarenta mil euros > trinta mil euros) e posteriormente olhar para a sentença em si. Deste modo, admite-se recurso até ao STJ.

Sendo assim, admitindo-se, portanto, recurso até ao STJ, seria obrigatório patrocínio judiciário, não podendo Pedro representar-se a si próprio, tendo, por efeito, de recorrer à constituição de mandatário judicial.

A Falta de Constituição de Advogado encontra-se consagrada no art. 33º CPC, não gera imediatamente as consequências típicas da falta de pressupostos processuais. O juiz deve, antes disso, notificar a parte faltosa para suprir a falta dentro de certo prazo (despacho convite).

As consequências da falta de constituição de advogado, quanto ao réu, assentam no não seguimento de recurso (quando é o caso, mas não é o nosso) ou de a defesa ficar sem efeito (o que seria o nosso caso). Caso a defesa fique sem efeito tal traduz-se na revelia, consagrada no art. 484º/1 CPC, e dar-se-iam como provados os factos.

NOTA1: regra da dupla conforme – sendo-se condenado em 1ª Instância e

posteriormente no Tribunal da Relação, salvo raras situações, já não se pode recorrer para o STJ.

NOTA2: Aplicação do art. 40º CPC: só se aplica às situações em que se assume um

mandato e o cliente ainda não mandou a procuração, faltando a demonstração que o mandatário está constituído. O Tribunal fixa um prazo para ser suprida a falta ou corrigido o vício. O juiz deve conhecer de tal, nos termos do art. 508º al. a), no despacho pré saneador.

b. Imagine que Pedro optou antes por pedir ao seu amigo Manuel que o representasse em juízo. Na contestação apresentada, Manuel fez confissões expressas de factos. João vem depois invocar a confissão feita na fase dos articulados. Quid Iuris?

Nos termos do art. 37º CPC consagram-se os poderes gerais forenses, ou seja a procuração pode atribuir poderes gerais ou especiais. O poder de confessar é um poder especial, na medida em que o poder de dar ao mandatário o poder de

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PROCESSO CIVIL

FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

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confessar ou de desistir pode ter consequências gravosas, exigindo-se para tal uma ponderação especial.

Nos termos da conjugação do art. 38º e do art. 567º CPC resulta que a confissão, em principio, é irretractável. As confissões expressas de factos, feitas nos articulados, só podem ser retiradas (razões de arrependimento), enquanto a parte contrária não as tiver aceitado especificamente

Em suma, se o João invoca/aceita a confissão, nos termos do art. 567º, esta é irretractável.

NOTA: O Prof. Alberto dos Reis discutia se o art. 567º CPC (que se insere na matéria da

prova por confissão) abrangia as confissões feita pela parte ou só pelo mandatário, uma vez que o presente artigo não restringe aos mandatários tal faculdade. É uma questão de interpretação.

III - Legitimidade CASO VIII

Ana propôs contra a sua vizinha Beatriz uma acção de condenação no pagamento de uma indemnização pelos danos causados na sua plantação de morangos, alegando que Beatriz contaminara a água do ribeiro que separa as duas propriedades, a qual destruíra a referida plantação.

Beatriz, citada para contestar a acção, requereu ao Tribunal a absolvição do pedido com fundamento em ilegitimidade, alegando que a responsabilidade pela referida contaminação era de Carlota, proprietária de uma quinta banhada pelo mesmo ribeiro e situada a montante da sua.

TEMA: LEGITIMIDADE

a. Como deverá decidir o Tribunal?

No presente caso, nada nos é dito que nos leve a presumir a não existência de personalidade judiciária (art. 5º do CPC e art. 66º CC), de capacidade judiciária (art. 9º CPC) e de patrocínio judiciário (art. 32º e ss CPC), pelo que partimos do pressuposto que tais pressupostos se encontram verificados.

A Legitimidade Processual encontra-se consagrada nos artigos 26º e ss CPC, entendendo-se que ser parte legítima na acção é ter o poder de dirigir a pretensão dirigida em juízo ou a defesa contra ela oponível.

A parte terá legitimidade como autor, se for ela quem juridicamente pode fazer valer a pretensão em face do demandado, admitindo que a pretensão exista, e terá legitimidade como réu, se for ela a pessoa que juridicamente pode opor-se à procedência da pretensão, por ser ela a pessoa cuja esfera jurídica é directamente atingida pela providência requerida.

Quanto a Ana não existem dúvidas que ela terá legitimidade processual enquanto autora. A questão coloca-se relativamente a Beatriz, que invoca que a responsabilidade pela contaminação seria de Carlota e não dela.

Esta questão reflecte um problema que foi suscitado num caso celebre que envolvia toneladas de chumbo, existindo para o efeito duas teorias. Trata-se de um caso em que se realizou um contrato de venda de certo número (60) de toneladas de chumbo.

Referências

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