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TEMA: CASO JULGADO (REQUISITOS DO ART 498º)

No documento Processo Civil - Casos Práticos (páginas 114-120)

c Celebrado o contrato definitivo, IP não paga o remanescente do preço, obrigando XC a instaurar a respectiva acção de condenação?

TEMA: CASO JULGADO (REQUISITOS DO ART 498º)

a. A acção foi julgada procedente, por sentença transitada em julgado. Mas Bento não se conforma e propõe uma nova acção contra António, invocando o contrato e pedindo a sua condenação no pagamento da parte do preço que não tinha sido paga. Pode António opor-se ao julgamento deste pedido, invocando a sentença proferida na primeira acção?

No presente caso estamos no âmbito do transito em julgado nos termos do art. 677º CPC e mais concretamente da força vinculativa do caso julgado material.

Para saber se António poderia invocar a sentença proferida na primeira acção é necessário atender ao art. 498º do CPC e verificar se os requisitos constantes desta norma se encontram verificados uma vez que só assim se poderá invocar a existência de caso julgado.

 Identidade de Sujeitos (art. 498º/2 CPC)

 Acção1: António (autor) e Bento (réu)

 Acção2: Bento (autor) e António (réu)

Conclusão: apesar de nas acções os sujeitos ocuparem posições jurídicas diferentes a verdade é que em ambas as partes são as mesmas pelo que a identidade de sujeitos se encontra verificada.

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Maria Luísa Lobo – 2012/2013

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 Pedido (art. 498º/3 CPC)

 Acção1: acção de anulação do contrato de compra e venda e acção de restituição da parte do preço já paga

 Acção2: acção de condenação ao pagamento do preço que ainda não foi pago

Conclusão: para existir identidade entre o pedido é necessário que em ambas as acções se vise obter o mesmo efeito jurídico. Ora no presente caso tal não se verifica pelo que este requisito não se encontra verificado.

 Causa de Pedir (art. 498º/4 CPC)

 Acção1: erro na medida em que existe uma falsa representação da realidade quanto às qualidades do objecto (António pensava que o quadro era antigo e consequentemente valioso e afinal não o era)

 Acção2: invoca a existência do contrato de compra e venda

Conclusão: para existe identidade entre as causas de pedir é necessário que o facto jurídico concreto que fundamenta a pretensão do autor em cada uma das acções seja o mesmo. Ora, no caso concreto tal não se verifica pelo que este requisito não se encontra verificado.

Verificado que os requisitos constantes do art. 498º CPC não se encontram verificados na sua totalidade (não verificação de identidade entre os pedidos e as causas de pedir) coloca-se a questão de saber se então não se poderá invocar a excepção de caso julgado anterior. Na segunda acção, para o juiz conhecer do mérito da questão terá de analisar a validade do contrato de compra e venda. Contudo tal questão já havia sido apreciada na primeira acção. Ou seja irá se estar a analisar duas vezes o mesmo facto em acções diferentes, sendo exactamente tal aquilo que o art. 497º e art. 498º CPC pretendem evitar.

DOUTRINA E JURISPRUDÊNCIA: Não obstante não se encontrarem verificados os três requisitos constantes do art. 498º CPC, o princípio subjacente ao caso julgado e a ratio do art. 497º CPC impõem que o juiz obste ao conhecimento do mérito da causa nesta situação. O juiz deverá absolver o réu da instância uma vez que a decisão que viria a proferir nesta segunda acção poderia contrariar um caso julgado formado anteriormente.

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b. Suponha agora que Bento não contestou, mas que a acção foi julgada improcedente porque o tribunal entendeu tratar-se de um caso de erro sobre os motivos (e não sobre o objecto, como o autor o qualificara) e faltar a alegação e prova do acordo sobre a essencialidade dos motivos, a que se refere o nº 1 do artigo 252º do Código Civil. A sentença transitou em julgado. António propôs nova acção, relativa ao mesmo contrato e pedindo igualmente a sua anulação. Para além do que alegara na primeira acção, alegou terem as partes reconhecido, por acordo, que António só comprava o quadro porque estava convencido de que era antigo. Bento opôs caso julgado. Tem razão?

No presente caso é nos dito que a sentença da primeira acção transitou em julgado, contudo António intenta uma nova acção. É necessário atender ao disposto no art. 498º do CPC a fim de apurar se os requisitos de verificação do caso julgado se encontram reunidos.

 Identidade de Sujeitos (art. 498º/2 CPC)

 Acção1: António (autor) e Bento (réu)

 Acção2: António (autor) e Bento (réu)

Conclusão: existe uma identidade entre os sujeitos das acções.

 Pedido (art. 498º/3 CPC)

 Acção1: acção de anulação do contrato de compra e venda e acção de restituição da parte do preço já paga

 Acção2: acção de anulação do contrato de compra e venda

Conclusão: para existir identidade entre o pedido é necessário que em ambas as acções se vise obter o mesmo efeito jurídico. No presente caso em ambas acções visa-se obter a anulação do contrato de compra e venda pelo que existe uma identidade entre os pedidos.

 Causa de Pedir (art. 498º/4 CPC)

 Acção1: erro na medida em que existe uma falsa representação da realidade quanto às qualidades do objecto (António pensava que o quadro era antigo e consequentemente valioso e afinal não o era)

 Acção2: António invoca o mesmo que invocara na primeira acção acrescentando ainda que as partes haviam reconhecido por acordo que ele só comprara o quadro porque estava convencido de que era antigo.

Conclusão: para existe identidade entre as causas de pedir é necessário que o facto jurídico concreto que fundamenta a pretensão do autor em cada uma das acções seja o mesmo. No presente caso saber se existe identidade entre as causas de pedir é uma questão controversa que terá de ser desenvolvida de seguida.

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Quanto à causa de pedir na verdade estamos face a um erro sobre o objecto, mas o juiz é livre de apreciar os factos e consequentemente de atribuir a qualificação jurídica que considere adequada, nos termos do art. 644º CPC.

Poder-se-ia colocar a questão de eventualmente estamos face a uma violação do pedido nos termos do art. 661º CPC mas a resposta a tal é negativa nos termos do art. 661º do CPC na medida em que o pedido é o mesmo em ambas as acções (anulação do contrato de compra e venda).

É necessário reflectir sobre o seguinte: a causa de pedir não é de todo um conceito que, na prática, seja fácil de determinar, uma vez que o critério do art. 498º CPC poderá ser interpretado de forma restritiva ou amplamente.

A causa de pedir, no presente caso, coloca dúvidas: será erro sobre o objecto ou erro sobre os motivos? Sendo os factos independentemente da qualificação jurídica o que se deverá fazer? Considerando todas as normas aplicáveis a esta acção, o autor deverá alegar todos os factos que constituem a previsão da norma?

PROF. MARIA DOS PRAZERES BELEZA: O art. 498º do CPC refere-se a factos concludentes. A causa de pedir é o erro, independentemente da sua qualificação jurídica.

Contudo, nos termos do art. 664º o juiz é livre de apreciar os factos não estando dependente das alegações feitas pelas partes. Tal traduz uma excepção ao caso julgado. Contudo, o caso julgado encontra-se relacionado com o Princípio da Preclusão, ou seja não se relaciona só com ele mas também se relaciona com o autor, autor esse que, no presente caso, pretende anular o contrato de compra e venda com fundamento em erro. O autor tem o ónus de levar ao processo todos os factos essenciais para a procedência da acção.

Em suma, Bento tem razão uma vez que existe caso julgado ocorrendo a verificação dos três requisitos constantes do art. 498º CPC (identidades dos sujeitos, identidades dos pedidos e identidades das causas de pedir).

c. Suponha agora que foi que Bento que instaurou a acção, pedindo a condenação do António no pagamento da parte do preço não paga. António defendeu-se invocando a anulabilidade do contrato, pelo erro já descrito; mas foi condenado a pagar, por sentença transitada em julgado. Passado um tempo, António instaura contra Bento uma acção de anulação do mesmo contrato, com os seguintes fundamentos. Bento contesta esta acção invocando a excepção de caso julgado. Tem razão?

i. No mesmo erro;

No presente caso é nos dito que a sentença da primeira acção transitou em julgado, contudo António intenta uma nova acção. É necessário atender ao disposto no art. 498º do CPC a fim de apurar se os requisitos de verificação do caso julgado se encontram reunidos.

 Identidade de Sujeitos (art. 498º/2 CPC)

 Acção1: Bento (autor) e António (réu)  Acção2: António (autor) e Bento (réu)

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 Pedido (art. 498º/3 CPC)

 Acção1: acção de condenação do pagamento do preço em falta.

 Acção2: acção de anulação do contato de compra e venda

Conclusão: para existir identidade entre o pedido é necessário que em ambas as acções se vise obter o mesmo efeito jurídico. No presente caso tal não sucede pelo que não existe uma identidade entre o pedido.

 Causa de Pedir (art. 498º/4 CPC)

 Acção1: incumprimento do contrato de compra e venda (ainda não pagou a totalidade do preço)

 Acção2: erro

 Conclusão: para existe identidade entre as causas de pedir é necessário que a pretensão deduzida nas duas acções proceda do mesmo facto jurídico. Neste caso tal não se verifica pelo que não existe identidade entre as causas de pedir.

Deste modo, não existindo identidade quanto ao pedido e à causa de pedir não se verifica a excepção de caso julgado nos termos do art. 498º CPC. Contudo, no presente caso, apesar de nem todos os requisitos do art. 498º CPC estarem preenchidos parece um pouco injusto a solução que daí advém. Coloca-se então a questão de saber qual a solução aplicável ao caso prático. António, na contestação, defendeu-se por excepção dilatória (invoca a existência do erro e pede que seja absolvido da instância). Contudo, o tribunal julga improcedente a excepção dilatória.

Nos termos do art. 96º/2 CPC importa ter presente que ‘’A decisão das questões e

incidentes suscitados não constitui, porém, caso julgado fora do processo respectivo, excepto…’’

 Se alguma das partes requerer o julgamento com essa amplitude  O tribunal for absolutamente competente

Assim, se os requisitos do art. 96º/2 d CPC não se encontrarem verificados a apreciação da excepção dilatória na pendência da primeira acção não tem força de caso julgado. Bento tem razão em opor-se uma vez que os fundamentos que estão subjacentes à primeira acção são também subjacentes à segunda acção conduzindo a uma frustração dos efeitos da primeira acção.

NOTA1: O art. 497º CPC não é um requisito adicional ao art. 96º/2 CPC, sendo apenas

o artigo que indica a ratio da norma.

NOTA2: Quanto à noção de causa de pedir e de acordo com a Teoria da

Substituição, quanto maior amplitude for conferida à excepção de caso julgado e consequentemente a cada requisito, maior esforço tal implicará para as partes.

NOTA3: O art. 497º CPC consagra um limite: independentemente de as excepções

não puderem ser abrangidas pela excepção de caso julgado, a segunda acção não poderá conhecer do mérito da causa.

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ii. Em erro causado por dolo (um empregado de Bento convencera-o de que o quadro era antigo);

Nos termos do art. 498º/4 CPC consagra-se que ‘’Há identidade da causa de pedir

quanto a pretensão deduzida nas duas acções procede do mesmo facto jurídico’’, ou

seja o legislador visou que todos os fundamentos que pudessem obstar ao conhecimento do mérito da causa ou fossem essenciais para proferir sentença fossem na primeira acção alegados na contestação.

Se se permitir a apreciação da segunda acção com este fundamento o Princípio da Concentração da Defesa na Contestação não teria qualquer efeito útil, sendo que o litigio nunca estaria resolvido.

Se se permitir que António venha invocar o que deveria ter alegado na contestação na primeira acção tal coloca em causa o Princípio da Preclusão. Ou seja, António não poderá vir invocar tal por força do Princípio da Preclusão estando o juiz impedido de conhecer do mérito da causa.

NOTA: Com o caso julgado muitas vezes a segurança jurídica prevalece sobre a

justiça.

iii. Em erro só descoberto, segundo alega, depois do trânsito em julgado da sentença.

Face à alínea c) ii), nesta aliena estamos face a uma diferença substancial António não sabia do erro até ao transito em julgado da primeira acção, pelo que não o poderia ter alegado na contestação.

Poder-se-ia colocar a questão se estarmos neste caso no âmbito de aplicação do art. 673º do CPC quando esta norma se refere a ‘’A sentença constitui caso julgado nos

precisos limites e termos em que se julga: se a parte decaiu por não estar verificada uma condição (…) a sentença não obsta a que o pedido se renove quando a condição se verifique’’. Contudo não estamos face a uma condição suspensiva

(António na pendência da primeira acção não sabia que viria a saber que a compra e venda do quadro tinha como fundamento o erro) pelo que não se poderá aplicar esta norma.

E estaremos face ao âmbito de aplicação do art. 663º do CPC? Tendo em consideração que o decurso do primeiro processo pode ter sido muito longo existindo uma alteração factual tal deveria constar de articulados supervenientes nos termos do art. 506º do CPC. No caso concreto o erro em análise não se poderia reflectir na sentença na primeira acção uma vez que António só vem a ter conhecimento dele após o transito em julgado da sentença.

A acção poderá ser proposta nos termos do art. 663º CPC desde que se invoque a sua superveniência subjectiva, uma vez que o erro já existia (António apenas não tinha conhecimento dele).

Poder-se-ia questionar a aplicação do art. 814º do CPC, ou seja se estamos face a um título executivo que fundamenta a oposição à execução. Nos termos do art. 814º/1 al. g) CPC consagra-se que ‘’Qualquer facto extintivo ou modificativo da obrigação,

desde que seja posterior ao encerramento da discussão no processo de declaração’’

será um fundamento de oposição à execução da sentença. Contudo no presente caso o erro é um facto impeditivo e não extintivo ou modificativo pelo que esta norma não se aplica. Note-se que os factos impeditivos são factos que constam da génese da obrigação tendo se de ser e só podendo ser invocados na Acção Declarativa.

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PROF. MARIA DOS PRAZERES BELEZA: nos termos do art. 814º do CPC funciona a excepção de caso julgado.

Note-se que nos termos do art. 663º conjugado com o art. 814º/3 do CPC não relevam factos supervenientes subjectivos.

PROF. LEBRE DE FREITAS: Defende uma solução oposta que assenta em que os factos impeditivos são de conhecimento superveniente, consubstanciando tal um fundamento de oposição nos termos do art. 816º CPC.

CASO XXII

Suponha que Carlota e Diana são comproprietárias de um prédio rústico. Carlota instaura contra Eugénio uma acção de reivindicação do prédio, sustentando que Eugénio o detém indevidamente. A acção é julgada improcedente, por sentença transitada em julgado, por falta de prova da titularidade do direito de propriedade. Diana instaura contra Eugénio uma nova acção de reivindicação, do mesmo prédio, com o mesmo fundamento. Eugénio defende-se invocando caso julgado anterior. Tem razão?

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