• Nenhum resultado encontrado

TEMA: CITAÇÃO, CONTESTAÇÃO E REVELIA

No documento Processo Civil - Casos Práticos (páginas 95-102)

c Celebrado o contrato definitivo, IP não paga o remanescente do preço, obrigando XC a instaurar a respectiva acção de condenação?

TEMA: CITAÇÃO, CONTESTAÇÃO E REVELIA

i. explique quais são as consequências resultantes da falta de contestação, quer do ponto de vista dos réus, quer no que respeita à marcha do processo;

Nos termos do art. 233º/1 CPC a citação pode ser de duas modalidades: pessoal ou edital. Quanto a C/D estamos face a uma citação pessoal (‘’’’foram citados por carta

registada com aviso de recepção’’) nos termos do art. 233º/2 al. b) CPC. Quanto a B

estamos face a uma citação edital. Note-se que a citação edital, ao contrário da citação pessoal que é a regra, é a é a excepção, ocorrendo quando o citado se encontre em parte incerta (art. 244º e 248º CPC) ou quando sejam incertas as pessoas a citar (art. 233º/6 CPC) – art. 251º CPC. Esta modalidade de citação é o ultimo recurso, sendo que se utiliza tal quando não for possível citar o reu por qualquer outra via e após terem resultado infrutíferas as buscas efectuadas nas bases de dados – art. 244º/1 CPC. Realiza-se mediante a afixação de ditais e a publicação de anúncios – art. 248º a 252º CPC.

PROCESSO CIVIL

FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

Página 96

Sendo a pessoa citada, começa a correr o prazo para constar que, no processo comum ordinário, é de 30 dias nos termos do art. 486º CPC. Note-se que a este prazo pode-se acrescer uma dilação.

No presente caso nenhum dos réus contestou e tendo em consideração que dois dos réus foram citados pessoalmente e o outro citado editalmente é necessário analisar estes dois casos de forma autónoma.

Quanto a C/D – Citação Pessoal

Se o réu, citado pessoalmente ou tendo juntado procuração, não contestar dentro do prazo estabelecido, nem constituir mandatário, ou não intervir de qualquer forma no processo, diz-se que ele entra em revelia nos termos do art. 484º/1 CPC. Se além de não deduzir qualquer oposição, o réu não constituir mandatário nem intervier de qualquer forma no processo, o tribunal verificará se a citação foi feita com as formalidades legais e ordenará a sua repetição quando encontre irregularidades nos termos do art. 483º CPC. Se não encontrar irregularidades, o réu entra em revelia e de seguida apura-se se tal revelia é operante ou inoperante:

 Revelia Operante: implica a confissão dos factos articulados pelo autor nos termos do art. 484º/1 CPC. Esta é uma cominação que atinge o réu pela não realização da descoberta da verdade material. Ou seja, o réu, mesmo que nada declare, reconhece ou admite todos os factos articulados na petição. Há uma cominação semi plena e o tribunal irá julgar a causa conforme o direito constituído, pese embora tal comportamento omissivo conduza, por via de regra, à procedência do pedido. Não há, note-se, uma incontornável e fatal condenação imediata no pedido como consequência da revelia operante, não há uma cominação plena. Pelo contrário, os factos reconhecimentos por falta de contestação podem determinar a procedência da acção como podem conduzir à absolvição do réu da instância ou do pedido. Se assim for, esse comportamento omissivo altera profundamente a marcha do processo; este comportamento omissivo do réu produz um efeito de encurtamento substancial do processo. Não há mais articulados, não há saneador, pois não há factos que devam ser dados como assentes e também não há factos controvertidos, a carecer de prova; não há, de igual modo, instrução, nem logicamente, discussão da matéria de facto uma vez que o tribunal não tem que considerar provados ou não provados certos factos. Dado que aqui não há factos controvertidos, os factos articulados pelo autor serão tomados como tal na sentença final – art. 659º/3 CPC. Ou seja, passa-se imediatamente da petição inicial para a fase da discussão escrita da causa (alegações escritas dos advogados, maxime, do advogado do autor, pois o réu entrou em revelia operante – art. 484º/2 CPC. Note-se, contudo, que na revelia operante, o réu tem a faculdade de, querendo, alegar por escrito, sobre a matéria de direito, desde que tenha advogado constituído, pois trata- se de acções com declarativas comuns na forma ordinária. De seguida é proferida a sentença, julgando a causa conforme for de Direito. Isto é, o juiz tanto pode condenar o réu no pedido, total ou parcialmente, como pode absolve-lo da instância (com base na verificação de excepções dilatórias de que o tribunal tenha conhecimento oficioso).

PROCESSO CIVIL

FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

Página 97

 Revelia Inoperante: situações em que, a despeito de o réu não ter apresentado contestação, e apesar de ter sido citado na sua própria pessoa, não se consideram confessados os factos articulados pelo autor na petição inicial

 Revelia (Inoperante) Absoluta: embora o réu não tenha contestado, nem juntado procuração a constituir mandatário judicial e não tendo praticado qualquer acto de intervenção do processo, não se consideram confessados os factos articulados, sendo o réu só notificado da sentença final – art. 255º/4 CPC

 Revelia (Inoperante) Relativa: quando o réu não contestou, mas constitui mandatário no processo ou interveio, de alguma forma, na acção, não se consideram confessados os factos articulados pelo autor, sendo o réu revel (ou o seu mandatário – art. 253º CPC) notificado para actos processuais, mas não podendo requerer depoimento pessoal do autor – art. 552º/2 CPC a contrario sensu – nem arrolar testemunhas – art. 638º/1 CPC, a contrario sensu.

Situações em que, apesar destas cautelas quanto à citação pessoal, não se consideram confessados os factos articulados pelo autor, ainda quando o réu não tenha contestado nem junto a referida procuração forense no prazo da contestação:

1. Não se consideram confessados os factos articulados pelo autor, havendo vários réus, só algum ou alguns deles contestarem – art. 485º al. a) CPC. Se o(s) réu(s) contestante(s) tomarem posição definida sobre os factos alegados pelo autor na petição, os restantes não contestantes aproveitam dessa impugnação, mas já sofrem as consequências da falta de impugnação previstas no art. 490º/2 CPC, relativamente aos factos que o(s) contestante(s) impugnarem.

 Imagine-se que tendo por base o caso em análise, B contesta o pedido da garagem mas nada diz quanto ao pagamento de C/D – tais factos dão-se como confessados.

A norma em análise, art. 485º al. a) CPC, respeita a que situação de pluralidades de partes: só situações de litisconsórcio necessário ou também contempla as situações de litisconsórcio voluntário?

 Tendo em consideração o art. 29º do CPC parece que a interpretação do art. 485º al. a) do CPC deve ser realizada de forma sistemática.

PROCESSO CIVIL

FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

Página 98

 Litisconsórcio Voluntário: Se os consortes tiverem posições independentes não pode um consorte que não contestou beneficiar da contestação do outro consorte;

 Litisconsórcio Necessário: a posição de um dos consortes não é indiferente da posição dos outros consortes, independentemente que tal tenha efeitos favoráveis ou desfavoráveis.

 Problema: o processo terá duas velocidades quanto (1) aqueles que contestaram (ocorrem todas as fases da marcha do processo); (2) aqueles que não contestaram (passa-se da fase dos articulados para a fase da discussão e julgamento). Ou seja, os mesmos factos, na mesma acção, para uns são verdade e para outros não. Tal consubstancia uma situação anómala e inexequível na prática.

 Solução da Doutrina e Jurisprudência: embora antigamente defendessem uma interpretação restritiva da situação em análise, ou seja que o art. 485º al. a) apenas se aplicava às situações de litisconsórcio necessário, hoje, devido aos problemas que tal interpretação acarreta, entendem que deve se considerar que a referida norma se aplica tanto às situações de litisconsórcio necessário como às situações de litisconsórcio voluntário.

2. A revelia inoperante ocorre ‘’Quanto o réu ou algum dos réus

for um incapaz’’ e a relação material litigada se situar na área

da incapacidade – art. 485º al. b) CPC. Note-se que esta modalidade de revelia inoperante é de difícil verificação, visto que a falta de contestação do incapaz importa a citação do MP (art. 15º CPC), correndo novo prazo para a contestação; só se verifica a revelia inoperante se o MP não oferecer contestação no novo prazo que lhe é reconhecido.

 Embora estejamos a analisar a revelia inoperante na citação pessoal importa referir que esta alínea se refere à citação edital: só se aplica a situação de revelia

inoperante às citações editais acompanhadas de revelia absoluta? Imagine-se que o citado editalmente

apenas nomeia mandatário judicial ou indica a morada actual: não se pode aplicar esta alínea?

PROCESSO CIVIL

FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

Página 99

Segundo a Prof. Maria dos Prazeres Beleza para se aplicar a regra constante do art. 485º al. b) o citado editalmente só beneficia de tal ‘’excepção à revelia’’ se tiver se mantido numa situação de revelia absoluta.

3. A revelia é inoperante quando a vontade das partes é ineficaz para, em exclusivo, produzir o efeito jurídico visado pela acção – art. 485º al. c) CPC - ou seja quando a acção respeita a relações jurídicas indisponíveis, o que se coaduna com a regra do art. 490º/2 CPC (factos inconfessáveis, sobre os quais não pode haver admissão por acordo) embora este ultima preceito tenha um âmbito mais limitado, uma vez que só se aplica a certos factos e não a todos os factos articulados pelo autor na petição.

 Acção de divórcio, sem consentimento de um dos cônjuges, de investigação da paternidade/maternidade, de impugnação da paternidade presumida, de anulação do casamento civil, etc. – São acções de estado e dizem respeito a relações jurídicas subtraídas à vontade das partes. A falta de contestação do réu não exime o autor da prova dos factos que alega na petição, pelo que terá de haver saneamento (mas não a selecção da matéria de facto controvertida), instrução, audiência de discussão e julgamento (da matéria de facto) e da sentença final. Tal não significa que a acção seja julgada procedente, uma vez que pode suceder que, independentemente da falta de contestação do réu, o juiz não constitua ou extinga a relação jurídica que lhe é pedido na petição, julgando a acção improcedente, por motivo de o autor não ter conseguido provar os factos subjacentes ao erro sobre as qualidades essenciais do outro cônjuge ou a coação moral (na acção de anulação de um casamento).

 Esta norma refere-se a direitos indisponíveis. Razão: por via processual, se tal não consubstanciasse uma excepção à revelia, obtia-se um efeito que se encontra vedado a nível substantivo.

PROCESSO CIVIL

FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

Página 100

 Antigamente, o divórcio por mutuo consentimento só podia ocorrer passados 3 anos uma vez que se visava evitar os ‘’casamentos à experiência’’. O que acontecia é que muitas vezes as pessoas queriam separar-se antes de decorrido o prazo de 3 anos pelo que, se não existisse esta regra, podiam combinar que um iria propor a acção e o outro não contestava o que conduzia a que se produzissem os efeitos da revelia: os factos eram dados como confessados.

 Actualmente, não havendo contestação, em matéria de diretos indisponíveis, é sempre necessário existir prova dos factos alegados na petição inicial pelo autor.

4. A revelia é inoperante quando se trate de factos para cuja prova se exija documento escrito – art. 485º al. d) CPC. Só se consideram confessados os factos alegados pelo autor que carecem de prova documental.

 Numa acção de execução específica de contrato promessa em que o autor peça, igualmente, a título de pedido subsidiário (para o caso de não proceder o pedido principal), a condenação do réu em indemnização por responsabilidade civil pré contratual nos preliminares da celebração desse contrato promessa – art. 227º CC – a falta de contestação do réu só inviabiliza a procedência do pedido principal (a execução especifica do contrato promessa, ai onde a sentença faz as vezes ou substitui a declaração negocial do promitente faltoso), uma vez que a prova do contrato promessa só pode fazer-se mediante a apresentação do documento escrito comprovativo do contrato (na hipótese de o autor também não apresentar tal documento) mas não impede que o tribunal aprecie e julgue o referido pedido (subsidiário) de indemnização.

 Do ponto de vista do Direito Civil para a prova de certos factos exigem-se determinados tipos de meios probatórios. Por exemplo: pode-se provar a celebração de um contrato de compra e venda de um bem imóvel através de prova testemunhal? Não, a lei exige para a prova de tal a existência de escritura pública ou documento particular autenticado. Exige-se sempre documento escrito.

PROCESSO CIVIL

FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

Página 101

No Caso: C/D foram citados pessoalmente como oportunamente foi analisado e nada fizeram, ou seja: (1) não contestaram; (2) não constituíram mandatário judicial; (3) não intervieram de qualquer forma no processo. Tendo como pressuposto que a citação foi feita com as formalidades legais, ou seja realizada correctamente, C/D encontram- se em revelia absoluta nos termos do art. 483º CPC. Deste modo, nos termos do art. 484º/1 CPC, consideram-se confessados os factos articulados pelo autor. Estando face a uma revelia (operante) absoluta, nos termos do art. 484º/2 CPC, ocorrerá uma supressão de certas fases da marcha do processo, passando-se directamente da fase dos articulados para a fase da discussão e julgamento da matéria de direito a fim que o juiz posteriormente a tal realize a sentença.

Nos termos do art. 484º/3 CPC, se a causa for de grande simplicidade a sentença poderá limitar-se à parte decisória devido à confissão dos factos (trata-se de uma confissão ficta que assenta numa presunção inilidível sobre a veracidade daqueles factos).

No presente caso considera-se que não existe nenhuma excepção constante no art. 485º pelo que se considera que os efeitos da revelia, constantes no art. 484º CPC, se produzem.

Quanto a B – Citação Edital

Nos termos do art. 483º CPC, B encontra-se em revelia absoluta. Contudo não se podem aplicar as consequências que resultam do art. 484º CPC uma vez que é necessário atender ao art. 485º al. b) in fine do CPC ‘’Não se aplica o disposto no

artigo anterior (leia-se no art. 484º CPC)(…) Quanto o réu (…) houver sido citado editalmente e permaneça na situação de revelia absoluta.’’

A razão da protecção oferecida pelo legislador ao citado editalmente deve-se ao facto de existir uma grande probabilidade deste não tomar conhecimento efectivo que existe a acção a correr contra ele. A citação edital é um meio que assegura a cognoscibilidade mas não o conhecimento.

Deste modo, por aplicação do art. 483º, 484º e 485º al. b) in fine do CPC os factos alegados na petição inicial não são considerados como provados relativamente a B. O processo irá decorrer normalmente (leia-se terá todas as fases da marcha do processo), embora possa considerar-se que a fase dos articulados, uma vez que não existe contestação e consequentemente lugar a réplica, termina neste momento. Conjugação da situação de C/D com a situação de B

Anteriormente concluímos que quanto a C/D existindo uma citação pessoal e aplicando o art. 483º e art. 484º CPC os factos serão considerados como confessados mas quando a D, uma vez que este foi citado editalmente, por aplicação da excepção constante do art. 485º al. b) in fine CPC os factos não serão dados como confessados. Ora daqui resulta um enorme problema: estando face a uma situação em que existem co réus ocorre uma situação em que os mesmos factos são dados como provados quanto a uns (C/D) e não quanto a outros (B). Tal conduz a que existam duas tramitações processuais distintas. Tais tramitações processuais, aparentemente distintas, tem de passar a coexistir. Ou seja, numa situações como esta a paralisação dos efeitos da revelia aproveita aos outros co réus (C/D) de modo a salvaguardar dois aspectos: (1) que os mesmos factos, na mesma acção, não sejam considerados como provados quanto a uns e não provados quanto a outros; (2) existir uma tramitação a correr em dois planos diferentes. Note-se que a paralisação dos efeitos da revelia aproveita apenas ao factos que são comuns.

PROCESSO CIVIL

FDUCP

Maria Luísa Lobo – 2012/2013

Página 102

NOTA1: E se o autor, A, na petição inicial tiver anexado a certidão de compra e venda (art. 523º/1 CPC)? Tal consubstancia uma excepção da revelia, mas concretamente a que se encontra presente na al. d) do art. 485º? A consequência da revelia presente

no art. 484º CPC não exonera o juiz de cumprir certos deveres a que se encontra obrigado na descoberta da verdade e na verificação de pressupostos processuais. O juiz confrontado com a falta de contestação se concluir que a citação ocorreu normalmente irá aplicar a consequência constante no art. 484º CPC, sendo necessário, analisando a petição inicial, quais os factos considerados provados, não podendo considerar como provados factos para os quais a lei exige documento escrito. Se tais factos se encontram provados na petição inicial o juiz aplicará a consequência do art. 484º CPC, a menos que outra excepção constante do art. 485º do CPC se verifique. É sempre necessário atender que em matéria probatória vigora o Princípio do Inquisitório nos termos do art. 265º/3 CPC.

NOTA2: a al. d) do art. 485º CPC vale para os factos em que a lei exige documento

escrito, sendo que os restantes factos, não sendo objecto de contestação, serão dados como provados.

ii. diga se, apesar de os réus não terem contestado, C e D podem vir ao processo, passado o prazo da contestação, invocar:

TEMA: PRINCÍPIO DA CONCENTRAÇÃO DA DEFESA NA CONTESTAÇÃO E SUAS

No documento Processo Civil - Casos Práticos (páginas 95-102)