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TEMA: CITAÇÃO (NOÇÃO EFEITOS MODALIDADES) E CONTESTAÇÃO

No documento Processo Civil - Casos Práticos (páginas 79-94)

c Celebrado o contrato definitivo, IP não paga o remanescente do preço, obrigando XC a instaurar a respectiva acção de condenação?

TEMA: CITAÇÃO (NOÇÃO EFEITOS MODALIDADES) E CONTESTAÇÃO

NOTA1: Uma vez recebida pela secretaria e não sendo por ela recusada, a petição é

apresentada a distribuição. Este é o acto processual pelo qual as diferentes petições são repartidas entre as diferentes secções de processo da secretaria e entre os diversos juízes (pelo menos dois) que servem o tribunal – art. 209º e ss CPC. Feita a distribuição, o processo é remetido à secção, juízo ou vara designados onde o processo vai correr e é aí autuado com os documentos que o acompanham. Feita a autuação, o processo não é normalmente concluso ao juiz, ou seja não há em regra despacho liminar sobre a petição inicial, sendo que o juiz só toma contacto, pela primeira vez com o processo, na fase do saneador. Contudo, nos casos em que não há despacho liminar pelo juiz da causa, a secretaria pode submeter a petição à apreciação do juiz, quando julgue ocorre a falta de um pressuposto processual insanável e de conhecimento oficioso.

NOTA2: Compete à secretaria promover oficiosamente e em regra sem necessidade

de despacho prévio as diligências adequadas à citação do réu – art. 234º/1 e art. 479º CPC. O acto de citação, uma vez realizado, implica a remessa ao citando do duplicado da petição inicial e da cópia dos documentos que a acompanham, sendo o citando advertido de que fica citado para a acção, sendo indicado o tribunal, vara e secção onde corre o processo – art. 235º/1 CPC. No acto de citação pessoa deve ser indicado ao réu o prazo dentro do qual pode oferecer a contestação, a eventual necessidade de patrocínio judiciário e as cominações que sobe ele a lei fará incidir em caso de falta de contestação – art. 235º/2 CPC. Note-se que a noção de citação encontra-se consagrada no art. 228º CPC.

NOTA3: Importa salientar quais são os efeitos da citação:

 Efeitos Processuais

 Impede que o réu proponha contra o autor uma acção com o mesmo objecto, prevenindo a litispendência – art. 481º/1 al. c) CPC

 Constitui uma situação de litispendência se o réu já tiver sido citado para outra acção idêntica movida pelo mesmo autor – art. 499º/1, art. 494º al. i), art. 497º e art. 498º CPC

 A citação do réu estabiliza os elementos essenciais da causa, ou seja, os sujeitos (as partes), o pedido e a causa de pedir – art. 268º

 Atenção que tal efeito não significa que tais elementos permaneçam imutáveis, uma vez que podem sobrevir, por um lado, alterações objectivas (alteração do pedido e da causa de pedir – art. 270º e 271º CPC), e por outro lado, podem ocorrer modificações subjectivas (incidentes de intervenção de terceiros)

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 Efeitos Substantivos

 Com a citação ocorre a cessação da boa fé do possuidor – art. 481º al. a) CPC. Com a citação o réu fica a saber que está a lesar o direito do autor (proprietário, usufrutuário), ou seja não pode desconhecer que os poderes de facto que sobre a coisa exerce estão a lesar o direito do autor – art. 1260º/1 CC.

 Interrupção da prescrição: se o réu for o devedor e estiver a correr em seu beneficio o prazo de prescrição (pode não estar a correr esse prazo em seu beneficio – art. 318º a 322º CC) a prescrição interrompe-se com o acto de citação. Contudo, como a citação depende da promoção oficiosa da secretaria e esta pode ter muito serviço ou expediente em atraso, em homenagem aos interesses do autor/credor, a prescrição é automaticamente interrompida dentro dos 5 dias posteriores à entrada da petição na secretaria, se a citação não for efectuada dentro desses 5 dias por facto não imputável ao autor – art. 323º/2 CC. Note-se que quando a citação é anulada, a prescrição é interrompida.

 O réu fica constituído em mora se a obrigação for sem prazo, ou seja, se for uma obrigação pura – art. 805º/1 CC e art. 662º/2 al. b) CPC. A citação do réu, sendo a obrigação pura produz, deste modo, a interpelação judicial produtora do vencimento da obrigação.

NOTA4: A citação pode ser de duas modalidades: pessoal ou edital – art. 233º/1 CPC

 Citação Pessoal: é a regra, encontrando-se o seu regime consagrado no art. 233º/2 e ss CPC.

 Citação Edital: é a excepção, ocorrendo quando o citado se encontre em parte incerta (art. 244º e 248º CPC) e quando sejam incertas as pessoas a citar (art. 233º/6 CPC) – art. 251º CPC. Esta modalidade de citação é o ultimo recurso, sendo que se utiliza tal quando não for possível cita o reu por qualquer outra via e após terem resultado infrutíferas as buscas efectuadas nas bases de dados – art. 244º/1 CPC. Realiza-se mediante a afixação de ditais e a publicação de anúncios – art. 248º a 252º CPC. Sendo a citação edital e não tendo o réu contestado não se produzem os efeitos da revelia - art. 485º al. b) in fine CPC.

NOTA5: Sendo a pessoa citada, começa a correr o prazo para constar que, no

processo comum ordinário, é de 30 dias nos termos do art. 486º CPC. Note-se que a este prazo pode-se acrescer uma dilação.

NOTA6: A contestação é, do ponto de vista material, a peça escrita através da qual o

réu responde à petição inicial, tomando posição perante essa petição e manifestando oposição ao pedido formulado pelo autor. Em certos casos, o réu pode, na contestação deduzir pedidos contra o autor (reconvenção). A falta de oposição pode, por sua vez, traduzir-se na omissão de qualquer conduta reactiva do réu que se traduz na revelia – art. 484º e 485º CPC.

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NOTA7: Se o réu contestar, a sua contestação pode, do ponto de vista formal, assumir

duas modalidades: a contestação-defesa e a contestação-reconvenção. Iremos agora proceder a uma breve enunciação da matéria em causa:

 Contestação Defesa

 Defesa por Impugnação

 Defesa por Impugnação Directa/Frontal: o réu limita-se a impugnar os factos articulados pelo autor (dizendo que não é verdade ou é inexacto ou que não aceita o que o autor afirma nos artigos X, Y e Z da petição inicial)

 Defesa por Impugnação Indirecta: o réu, não impugnando os factos, afirma que desses factos não resulta o efeito jurídico pretendido pelo autor (o autor alega que cedeu o gozo ao réu de um imóvel a título de comodato, a que agora pôs termo pedindo a restituição do imóvel, alegando o réu que existiu, de facto, essa cedência do gozo, mas que ela foi feita na decorrência de um contrato de doação, que teria celebrado com o autor). Ou seja, o réu aceita os factos alegados pelo autor, ou alguns deles, mas impugna a qualificação jurídica fornecida pelo autor e os factos a ela ligados, atribuindo-lhes uma diferente versão jurídica (negação indirecta). É claro que o mesmo que o réu não impugne indirectamente, o tribunal conhece oficiosamente a matéria de direito (a qualificação jurídica dos factos dados como assentes ou que tenham sido objecto de prova), podendo (e devendo) controlar se os efeitos jurídicos pretendidos pelo autor poem ser actuados a partir do factos alegados.

 Defesa por Excepção

 Defesa por Excepção Dilatória: o réu aceita os factos narrados na petição inicial, mas alega factos capazes de obstar à apreciação do mérito da causa e que conduzam (ou podem conduzir, se os que forem sanáveis não forem objecto de sanação) à absolvição da instância ou à remessa do processo para o tribunal competente – art. 493º. O réu alega a falta de pressupostos processuais ou outros vícios ou irregularidades da instância. Sendo as excepções dilatórias (art. 494º CPC) de conhecimento oficioso pelo tribunal (art. 495º CPC) não pode entender-se que, a larga maioria, destas são apenas aquelas cujo relevo depende da vontade do réu em alega-las. Apenas a incompetência relativa nos casos não abrangidos pelo art. 110º CPC depende de alegações por parte do réu.

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 Defesa por Excepção Peremptória: o réu invoca factos impeditivos, extintivos ou modificativos do efeito jurídico visado pelo autor; se o conseguir, a consequência é a absolvição total ou parcial do pedido formulado pelo autor – art. 487º/2 e art. 493º/3 CPC. Se forem julgadas procedentes, a pretensão originária do autor modifica-se e o tribunal deve condenar o réu a título condicional, na pretensão subsequente.

 Excepções Peremptórias Extintivas: destroem os efeitos jurídicos resultantes do preenchimento de determinada previsão da lei

o Caducidade

o Dação em Cumprimento o Dação Pro Solvendo o Compensação o Remissão da dívida

o Consignação em depósito o Prescrição

o Cumprimento da Obrigação

 Excepções Peremptórias Impeditivas: impedem a produção da consequência jurídica desejada pelo autor, apesar de se verificarem todos os pressupostos factuais necessários para realizar a previsão da lei.

o Erro na Declaração o Dolo

o Incapacidade Acidental

o Erro sobre a pessoa ou o objecto do negócio o Nulidade do negócio

 Excepções Peremptórias Modificativas: a verificação implica a modificação da pretensão invocada pelo autor, alterando o objecto da acção.

o Excepção de não cumprimento do contrato (exemplo: se o réu invocar com sucesso a excepção de não cumprimento do contrato, o tribunal deve condená-lo imediatamente a cumprir o contrato se e quando o autor realizar a correspondente contraprestação)

o Condição suspensiva (exemplo: se o réu excepcionar a verificação de uma condição suspensiva da prestação exigida pelo autor, o tribunal pode condenar imediatamente o réu a cumprir a referida prestação quando se verifique o facto futuro e incerto)

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o Modificação oposta a pedido de resolução do contrato com fundamento em alteração anormal das circunstâncias

Defesa por Impugnação Indirecta Defesa por Excepção Peremptória

O réu nega simplesmente o efeito jurídico pretendido pelo autor e atribui uma diferente versão jurídica aos factos (que aceita) invocados pelo autor

O réu opõe ao efeito jurídico pretendido pelo autor um facto impeditivo, modificativo ou extintivo

Note-se que as excepções peremptórias respeitam ao mérito da causa, que não aos pressupostos processuais ou à formação regular da instância, sendo que deste modo não atingem a relação jurídica processual. A sua procedência pode ser total ou parcial, visto que pode atingir de diferente forma o direito material invocado pelo autor.

Quanto ao regime de conhecimento das excepções peremptórias o tribunal conhece oficiosamente destas cuja invocação a lei não faça depender da vontade do interessado – art. 496º CPC. Ou seja, somente são de conhecimento provocado (ou seja, cujo conhecimento brota da iniciativa das partes, neste caso, do réu) as circunstancias impeditivas, extintivas ou modificativas do direito invocado pelo autor, quando elas respeitarem a uma relação jurídica em que a vontade das partes (ou de uma delas, posto que constitua um direito potestativo) é plenamente eficaz para produzir o efeito jurídico pretendido pela acção. Deste modo são de conhecimento oficioso as excepções peremptórias que:

 Traduzam nulidades ou o próprio abuso do direito (art. 334º CC) – art. 286º do CC (de contratos ou de negócios unilaterais) – o pagamento, a novação, a dação em cumprimento, a remissão ou quaisquer outras causas extintivas do direito invocado pelo autor. Quanto a estas basta que os factos que lhe servem de base constem dos autos para que o juiz possa (e deva) conhece-las, mesmo que o réu não as tenha invocado na contestação.

 A prescrição, a compensação, a incapacidade, os vícios do consentimento (erro, dolo, coacção, reserva mental conhecida) e a caducidade (só em matéria excluída da disponibilidade das partes)

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 Contestação Reconvenção: o réu exercita o seu direito de acção contra o autor. Na contestação a lei dá na verdade a oportunidade ao réu para, querendo, formular, ele próprio pedidos contra o autor, os pedidos reconvencionais. O réu pode deduzir reconvenção sem que tenha que apresentar uma adicional defesa por impugnação ou por excepção, podendo simplesmente, limitar-se a juntar um pedido reconvencional.

Reconvenção Excepção

Na reconvenção há um pedido autónomo formulado pelo réu contra o autor. O réu pretende obter um benefício económico que não se traduz na mera extinção, modificação ou impedimento da pretensão do autor.

Na defesa por excepção peremptória, embora o réu deduza factos impeditivos, extintivos ou modificativos do direito invocado pelo autor e peça que o tribunal declare, por exemplo, a extinção desse direito, o certo é que a pretensão deduzida pelo réu que serve e fundamento à acção, é dela intrinsecamente dependente, mais não passa se não de uma consequência da excepção invocada contra o autor, por isso que não transcende a mera pretensão de improcedência (total ou parcial) da pretensão do autor.

 Condições Processuais de Admissibilidade da Reconvenção: a reconvenção exige uma certa conexão ou compatibilidade processual com o objecto processual (pedido e causa de pedir) definido pelo autor

 O tribunal da acção tem que desfrutar da competência em razão da matéria, hierarquia e da nacionalidade (art. 98º CPC) para o efeito de apreciar e julgar o pedido reconvencional

 Ao pedido inicial do autor e ao pedido reconvencional tem de corresponder a mesma forma de processo, salvo se a diferença resultar apenas do diferente valor dos pedidos (art. 274º/3 CPC) ou o juiz a autorizar, desde que a tramitações de ambas as formas de processo não sejam manifestamente incompatíveis e seja indispensável ou conveniente a sua apreciação conjunta.

 Não é exigida identidade subjectiva das partes, ou seja a reconvenção pode ser dirigida contra quem possa vir a colocar-se ao lado do autor, através do incidente da intervenção principal provocada (pelo reu). A reconvenção apresentada pelo reu pode respeitar a terceiros, que possam ou devam litisconsorciar-se com o autor ou com o réu (art. 325º e 326º CPC)

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 À reconvenção do réu não pode o autor, na réplica, apresentar uma nova reconvenção a esse pedido reconvencional formulado pelo réu na contestação: é inadmissível a reconvenção da reconvenção. Na replica o autor apenas esta salvo de contestar o pedido reconvencional e responder à matéria das excepções invocadas pelo réu – art. 502º/1 CPC.

▲ Consequência da Falta dos Requisitos Processuais Reconvencionais: a reconvenção encontra-se viciada como excepção dilatória o que implica a absolvição do réu da instância.

 Condições Materiais de Admissibilidade da Reconvenção

 O pedido reconvencional tem que resultar da mesma causa de pedir (ou de parte da mesma causa de pedir) que serve de fundamento à acção ou à defesa – art. 274º/2 al. a) CPC.

 É admissível o pedido reconvencional quando o réu deseja conseguir o mesmo efeito jurídico que o autor se propõe a obter – art. 274º/2 al. c) CPC. Nada obsta a que a identidade do efeito seja apenas parcial.

 A reconvenção é também possível quando o réu invoca o direito a ser indemnizado, pelo autor, de benfeitorias ou de despesas relativas à coisa cuja entrega lhe é exigida na acção – art. 274º/2 al. b) in fine CPC

 A Compensação de Créditos: Compensação Excepção vs Compensação Reconvenção: o pedido reconvencional pode ter como fundamento a compensação de créditos enquanto forma de extinção das obrigações (art. 847º CC) – art. 274º/2 al. b) primeira parte.

 A tese da compensação excepção (jurisprudência maioritária): há quem entenda que só existirá reconvenção quando o contracrédito invocado pelo réu excede o valor do crédito reclamado pelo autor e o réu pretende a condenação do autor no montante da diferença que lhe seja favorável. Argumentos:

 A compensação somente pode ser declarada por uma parte à outra (art. 848º CC) e nunca é susceptível de constituir um pedido contra o autor, excepto na parte em que o contracrédito eventualmente exceder o crédito. Nos restantes casos haverá defesa por excepção.

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 A compensação de um contra crédito cujo montante não exceda o montante do crédito é uma causa extintiva da dívida, de tal modo que a sua invocação é um meio de defesa do réu e só artificialmente pode ser deduzida através de um pedido reconvencional.

 Sendo a acção deduzida num processo sumaríssimo (ou com o processo especial para cumprimento de obrigações pecuniárias resultantes de contratos) não há resposta à contestação e o réu esta impedido de formular reconvenção, pois que ao autor não seria então assegurado o contraditório.

 A tese da compensação reconvenção gera um obstáculo à dedução da compensação, já que não são compatíveis as dividas que tenham que ser deduzidas em tribunal cuja competência seja diferente em razão da matéria (credito invocado num tribunal ou juízo de comercio e o contracrédito somente invocável num juízo de instancia civil) ou hierarquia ou competência internacional.

 Se a compensação respeita a um crédito ilíquido e o reu pretende que na acção sejam efectuadas as operações de liquidação, essa compensação deverá ser deduzida por reconvenção.

 A Tese da Compensação Reconvenção: a compensação, quando pretenda ser invocada pelo réu, é sempre objecto de um pedido reconvencional, pois representa uma pretensão autónoma, ainda quando não exceda o montante do crédito reclamado pelo autor, sendo que o art. 274º/2 al. b) CPC não distingue se o contra credito do reu é igual, inferior ou superior ao credito reclamado pelo autor; pretensão que se pode fazer valer extrajudicialmente e judicialmente, contrariamente ao sustentado pela anterior posição.

 A Tese Mista: a compensação traduz uma figura hibrida, a um tempo reconvenção e excepção peremptória. A compensação, ao mesmo tempo que extingue, total ou parcialmente, o direito de crédito do autor (pela invocação do contra credito) realiza e dá execução a este contracrédito do reu, que é distinto e autónomo daquele direito e pode, inclusivamente, não exibir qualquer nexo com a pretensão deduzida pelo autor. Há jurisprudência que admite a dedução da compensação por via reconvencional, ainda que o contracrédito seja de valor inferior, quando tal crédito emerge do mesmo facto jurídico invocado pelo autor.

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 Posição da Prof. Maria dos Prazeres Beleza: tal não se relaciona com o valor dos créditos uma vez que a compensação não assenta no excesso pois este é um pedido autónomo sendo sempre um pedido reconvencional. Apesar das vantagens e das desvantagens é preferível aplicar a todo o contra crédito o regime da reconvenção. Ou seja, a professora defende que existe sempre reconvenção, não se devendo dividir uma realidade intrínseca do ponto de vista substantivo. Além disso, o contra crédito encontra-se relacionado com o crédito: um resulta de uma relação jurídica societária e o outro de um contrato de compra e venda (por exemplo). Está-se a trazer uma nova relação jurídica para a acção e tal faz-se através da reconvenção e não através de uma mera defesa por excepção.

i. O A sempre referiu durante a negociação que a compra da fracção abrangia um local de garagem, pelo que tem direito à utilização da mesma;

No presente caso estamos face a uma Defesa por Impugnação Directa/Frontal (art. 487/1 e 2): o réu limita-se a impugnar os factos articulados pelo autor, uma vez enquanto o autor (A) alega que C se apoderou indevidamente da garagem do prédio, C diz que A sempre referiu que a compra da fracção abrangia um local de garagem.

Efectivamente o círculo de factos aparentemente novos que são invocados não consubstanciam excepções; estes factos aparentemente novos são factos que apenas visam contradizer os factos alegados pelo autor. O facto, em análise, alegado por C, contraria a ideia de facto, ou seja a apropriação.

NOTA1: Enquanto as excepções dilatórias são pressupostos que impedem o

conhecimento do mérito da causa, as excepções peremptórias são factos que modificam, extinguem ou impedem o direito alegado pelo autor.

NOTA2: Na impugnação indirecta impugna-se o efeito jurídico que o autor pretende

tirar dos factos que alegou,

ii. Caso assim não se considere, nunca a garagem pode ser considerada fracção autónoma, por força do estabelecido no regulamento de condomínio;

No presente caso estamos face a uma Defesa por Impugnação Indirecta: o réu, não impugnando os factos, afirma que desses factos não resulta o efeito jurídico pretendido pelo autor. Ou seja, o réu aceita os factos alegados pelo autor, ou alguns deles, mas impugna a qualificação jurídica fornecida pelo autor e os factos a ela ligados, atribuindo-lhes uma diferente versão jurídica (negação indirecta). Aplicando tal ao caso concreto: C invoca as regras constantes no regulamento do condomínio.

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PROF. ALBERTO DOS REIS: este autor refere a impugnação de direito existindo, em qualquer dos factos que se irá mencionar de seguida, sempre um erro de direito:

 Erro à Indagação da Norma Aplicável: o autor que faz a indagação comete um erro aplicando, por exemplo, as regras do contrato de doação em vez das regras do contrato de compra e venda.

 Erro de Interpretação: aplica-se a norma correcta mas interpreta-se de forma errada.

 Erro na Aplicação da Norma: embora se aplica a norma correcta e se faça a interpretação da mesma de forma correcta a aplicação aos factos no caso é incorrecta.

iii. Não tem de pagar o remanescente do preço porque a fracção não tem as características que lhe foram asseguradas por A, vendedor, pelo que o contrato é anulável;

No presente caso estamos face a uma defesa excepção peremptória impeditiva. Ou seja, existe uma Defesa por Excepção Peremptória quando o réu invoca factos impeditivos, extintivos ou modificativos do efeito jurídico visado pelo autor; se o conseguir, a consequência é a absolvição total ou parcial do pedido formulado pelo autor – art. 487º/2 e art. 493º/3 CPC. Se forem julgadas procedentes, a pretensão

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