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(1)

Blogs r e gion a is com o e spa ços de cida da n ia e

pa r t icipa çã o

Ca t a r in a Rodr ig u e s Univer sidade da Beir a I nt er ior Cov ilhã, PORTUGAL Em ail: cat sofia@ubi.pt

Re su m o

Com o em m uit as out r as ár eas, a nív el r egional e local t êm sur gido iniciat ivas int er essant es da ut ilização de blogs. Analisar a ut ilização dest as fer r am ent as no cont ex t o r egional é o pr incipal obj ect iv o dest e t r abalho. Em m uit os casos os blogs assum em - se com o espaços de cidadania e par t icipação cív ica, difíceis de alcançar em qualquer out r o m eio. Há t am bém aqueles que encont r ar am nest a fer r am ent a, a for m a ideal de pr om ov er a sua t er r a, apont ando o que de m elhor e pior exist e. Quais os pr incipais obj ect ivos dos aut or es dest es espaços? Qual o im pact o dos blogs r egionais? Que r esult ados conseguem efect ivam ent e alcançar ? Est as são algum as das quest ões par a as quais t ent ám os encont r ar r espost as, de for m a a m elhor com pr eender est e fenóm eno com unicacional.

1 . I n t r od u çã o

Jor nalism o, polít ica, ensino, cult ur a, ciência, invest igação e

t ecnologia, são apenas algum as das ár eas em que a ut ilização de

blogs se t em dest acado. No cont ext o r egional e local t êm t am bém

sur gido exem plos int er essant es da ut ilização dest as fer r am ent as que

int r oduziram alt er ações im por t ant es na for m a de int er vir , com unicar ,

par t icipar e exer cer a cidadania. Act ualm ent e, som os confr ont ados

com novos espaços de infor m ação e discussão pr opor cionados pelos

blogs. Cidadãos que, m uit as vezes, não se sent em r epr esent ados nos

m edia, opt am por cr iar os seus própr ios espaços onde falam sobr e

det er m inados assunt os com pessoas que par t ilham ou não o m esm o

t ipo de int er esses. Assist im os a um alar gam ent o do espaço público

que se apr esent a de for m a fr agm ent ada, um r eflexo da segm ent ação

das m ensagens com unicat ivas dir igidas a sect or es específicos, o que

cont r ibui sim ult aneam ent e par a um a m aior pr oxim idade dos cidadãos

aos t em as com os quais se ident ificam .

Tem sido ver ificado um cr escent e núm er o de blogs que sur gem

(2)

Defendem causas públicas, apont am pr oblem as exist ent es, cr it icam a

act ualidade local, analisam os m edia r egionais e expõem

pot encialidades da localidade em quest ão. Longe dos gr andes cent r os

ur banos não falt am m ot ivos de int er esse que, na m aior ia das vezes,

não m er ecem a at enção dos m edia nacionais e at é da infor m ação

r egional. Depois de descober t as as pot encialidades dest as

fer r am ent as, m uit os ciber naut as não hesit am em ut ilizá- las na defesa

ou pr om oção da sua t er r a. Muit os blogs r egionais assum em - se com o

espaços de int er venção cívica e de apr ofundam ent o da cidadania.

Nor m alm ent e sur gem da iniciat iva dos cidadãos que acr edit am t er

algo a acr escent ar , fazendo assim ouvir a sua voz. Acr esce- se ainda o

fact o de possibilit ar em o debat e sobre os m ais v ar iados assunt os que,

em m uit os casos, são de int er esse público.

Qual o im pact o r egional dos blogs? Por que sent em os cidadãos

necessidade de ut ilizar est a fer r am ent a de com unicação? Quais os

r esult ados que t êm efect ivam ent e conseguido alcançar ? Na t ent at iv a

de dar r espost as às vár ias quest ões aqui colocadas, pr et ende- se, com

est e t r abalho, fazer um a viagem pela blogosfer a por t uguesa à

pr ocur a de blogs r egionais e dos m ot ivos que levam à sua exist ência.

Em r elação à m et odologia, t er em os por base, não só bibliografia

sobr e blogs, espaço público e cidadania, m as t am bém a opinião que

os pr ópr ios bloggers t ecem sobr e alguns t em as em causa, por que são

eles, de fact o, os int er venient es act ivos na blogosfer a. Tent ar em os

fazer um a análise r eflexiva dando exem plos concr et os e consider ando

ainda os dados r ecolhidos at r avés de um quest ionár io r ealizado sobr e

os blogs r egionais. Par t im os assim à descober t a de um novo t er r it ór io

com unicacional que alar ga os hor izont es de localidades e t em as que

(3)

2 . Ala r ga m e n t o do e spa ço pú blico

Est a for m a de publicação pessoal e aut o- edição par ece de fact o

alar gar o espaço de par t icipação dos cidadãos, m ult iplicando, ou se

quiser m os cr iando, novos espaços públicos que podem ou não ser

am pliados pelos m edia. Um conj unt o de novas vozes acom panha

quest ões públicas e não só, indicando assim que a cidadania se

exer ce t am bém na I nt er net e at r avés dela.

A t r oca livr e de ideias possibilit ada a t odos, par a além de

r em et er par a a esfer a pública, conduz t am bém ao conceit o de

dem ocr acia que só exist e se os cidadãos puder em ex pr essar - se,

t r ocar ar gum ent os e dar a sua opinião livr em ent e, sendo que est as

posições podem ser cr it icadas por out r os de for m a igualm ent e livr e.

Refer indo- se à esfer a pública bur guesa, Haber m as consider a- a

um espaço hom ogéneo onde as pessoas ut ilizam a r azão par a a t r oca

de ar gum ent os e ideias. “ A esfer a pública bur guesa pode ser

ent endida inicialm ent e com o a esfer a das pessoas pr ivadas r eunidas

em um público; elas r eivindicam est a esfer a pública r egulam ent ada

pela aut or idade, m as dir ect am ent e cont r a a pr ópr ia aut or idade, a fim

de discut ir com ela as leis ger ais da t r oca na esfer a

fundam ent alm ent e pr iv ada, m as publicam ent e r elevant e, as leis do

int er câm bio de m er cador ias e do t r abalho social” ( Haber m as,

1994: 42) . “ O conceit o de esfer a pública t al com o pr opost o por

Haber m as e out r os, incor por a diver sas pr ovas de aut ent icidade

r econhecidas pelos indivíduos que vivem em dem ocr acia: livr e

cir culação, par t icipação volunt ár ia e não inst it ucionalizada na vida

pública, ger ação da opinião pública at r avés de r euniões de cidadãos

envolvidos no discur so r acional, liberdade de expr im ir opiniões e de

discut ir assunt os do Est ado e de cr it icar a for m a com o é or ganizado o

(4)

João Car los Cor r eia lem br a as pr incipais car act er íst icas da

esfer a pública m oder na, t al com o ela foi pensada, sobr et udo por

Haber m as: “ a em er gência de um a for m a de r acionalidade que se

ident ificou com a em ancipação, em r elação às explicações m et afísicas

e t eológicas; o apar ecim ent o de um a for m a de subj ect ividade

const it uída na vivência da fam ília r est r it a, da lit er at ur a e da

pr opr iedade, e que t eve a sua t r adução polít ica na em er gência do

cidadão, ist o é, do suj eit o livr e e r acional que par t icipa na for m ação

de um a opinião esclar ecida; o apar ecim ent o de um a publicidade

cr ít ica ent endida com o a publicit ação, com vist a ao debat e, das

decisões do poder , a fim de que a legit im idade de t ais decisões fosse

obt ida no t r ibunal da opinião pública; e o exer cício efect ivo de for m as

dialógicas de int er acção no debat e em or dem à const it uição da

opinião m ais esclar ecida” ( Cor r eia, 1998: 21) . O aut or r efer e assim

algum as com ponent es da esfer a pública idealizada por Haber m as

com o a capacidade ar gum ent at iva e a liber dade de pr oblem at ização e

quest ionam ent o do cidadão com base na t r oca de ar gum ent os ent r e

iguais. A com unicabilidade ent r e os indivíduos na esfer a pública er a

assim ident ificada com o exer cício da r azão. Em m uit os dos pont os

r efer idos descor t inam os algum as sem elhanças ent r e est e m odelo de

esfer a pública e a blogosfer a, no sent ido em que am bas se

configur am com o um a inst ância onde t odos podem falar , quest ionar

-se e debat er sobr e t udo.

A alt er ação t ecnológica foi um a das causas que cont r ibuiu par a

um a m udança r adical do espaço público. Podem os m esm o falar num a

m ult iplicidade de espaços públicos que vigor am gr aças à cr escent e

ut ilização de novas t ecnologias da infor m ação e da com unicação. É

assim possibilit ada a cr iação de novas esfer as públicas onde se

desenvolve o debat e com base na t r oca de ar gum ent os. “ Sur gir am

possibilidades efect ivas de divulgar cont eúdos cr ít icos de int er esse

(5)

sua vigilância cr ít ica sobr e os m edia que per t encem ao m ainst r eam ,

denunciando um a infor m ação com er cial ou r elacionada com

int er esses est r at égicos dom inant es, par a, em seu lugar , veicular

visões alt er nat ivas pr oduzidas no ext er ior do est ablishm ent

m ediát ico. No sent ido da dem ocrat ização do sist em a m ediát ico,

sur gir am opor t unidades com o um a cer t a pr olifer ação de im pr ensa

alt er nat iva, a dem ocr at ização das r edes infor m át icas, a expansão de

r ádios e t elevisões com unit ár ias e as t elevisões de acesso público”

( Cor r eia, 2004: 163) .

É visível o nascim ent o de novos espaços que pr om ovem o

debat e sobr e os m ais var iados t em as, per m it indo que o r ecept or

deixe de ser passivo face aos cont eúdos r ecebidos. Por isso, convém

dizer que o espaço público “ é o r esult ado de um m ovim ent o de

em ancipação que valor izou a liber dade individual, a expr essão de

opiniões e que per m it e aos agent es polít icos, sociais, r eligiosos e

cult ur ais dialogar , opor - se e r esponder uns aos out r os publicam ent e.

Designa, ainda, act ualm ent e, o conj unt o de cenas e palcos m ais ou

m enos inst it ucionalizados onde se debat em as quest ões do m om ent o.

A im pr ensa, a r ádio, a t elevisão, m as t am bém , desde há algum

t em po, a I nt er net , const it uem , por est a r azão, canais e filt r os

essenciais dest a t r oca de pont os de vist a” ( Rieffel, 2003, 46) . Nos

dias de hoj e assum em - se m esm o com o elem ent os fundam ent ais par a

a t r oca de ideias e par a o desenvolvim ent o dos debat es na esfer a

pública. “ Com a I nt er net , o cidadão deixar ia de ser um m er o

consum idor de infor m ações polít icas. Ele conver t e- se, at r avés das

fer r am ent as da r ede, num em issor ou co- pr odut or dessas

infor m ações, j á que, nesse am bient e, o fluxo não é unidir eccional,

m as m ult idir eccional e hor izont al, aber t o à par t icipação dos

ut ilizador es” ( Aguiar , 2006: 3) .

Os blogs, pelas suas car act er íst icas pr ópr ias, podem ser vist os

(6)

dir igir em a um a audiência segm ent ada. Apesar de par t ir em da

individualidade do seu aut or ( ou aut or es) , t er iam vant agens face à

concepção de esfer a pública for m ulada por Haber m as um a vez que

ser iam de índole m ais alar gada e dem ocr át ica, pr opor cionada pelas

novas fer r am ent as de com unicação, um fact or que depende, cont udo,

da lit er acia digit al, que j ulgam os ser o aspect o cr ucial pelo qual

dever á passar o fut ur o.

3 . Os blogs r e gion a is

Par a além de se apr esent ar em com o novas for m as de m ediação

ent r e o público e o pr ivado, onde é evident e a em er gência de novas

ident idades, os blogs const it uem novas vozes que se fazem ouvir no

espaço público a pr opósit o de t em as locais e r egionais, m uit as vezes

associados ao poder polít ico. Est a ligação dos blogs à polít ica, que

ocupa um a fat ia im por t ant e na blogosfer a por t uguesa, não pode ser

descur ada, t am bém ao nível local, at é por que alguns dos blogs

exist ent es nascem com o um a for m a de oposição ou de cr ít ica face à

polít ica aut ár quica em vigor . Alguns são alim ent ados por j or nalist as,

out r os por polít icos, out r os ainda são escr it os por cidadãos anónim os

de for m a cr iat iva e hum or íst ica. Est es espaços desem penham um

papel im por t ant e na obser vação at ent a da vida polít ica e assum em

-se, acim a de t udo, com o espaços de cr ít ica e debat e pr om ovendo a

int er acção ent r e as pessoas.

Muit as vezes, o cont eúdo dos blogs locais e r egionais acaba por

ser com plem ent ar à infor m ação t r ansm it ida pelos m eios de

com unicação social com a vant agem da t r ansm issão de infor m ação

ser feit a de for m a inst ant ânea, a qualquer hor a e de qualquer lugar ,

bast ando par a isso um a ligação à I nt er net . Acr escent a- se a est es

(7)

aos m edia. Talvez por isso os blogs sej am , cada vez m ais, um a font e

par a os j or nalist as, t am bém ao nível r egional.

“ O fact o de o j or nalism o r egional ser um dos r ar os espaços de

exer cício r egular da leit ur a e at é de escut a de infor m ação por par t e

dos públicos do int er ior , facilm ent e t or na clar o que sej a neles que se

cham em os públicos à pr oblem at ização da sua for m a de viver e do

desenvolvim ent o da sua r egião” ( Cor r eia, 1998: 164) . Cont udo, não

podem ser ignor ados os vár ios const r angim ent os que ocor r em a est e

nível. Not e- se que, na m aior ia dos casos, os m edia r egionais est ão

dependent es do poder polít ico, nom eadam ent e das Câm ar as

Municipais, não só em t er m os not iciosos, m as t am bém em t er m os de

publicidade. Os blogs acabam assim por ser t am bém um a alt er nat iva

aos m edia locais, no sent ido em que divulgam o que m uit as vezes

não t em espaço nos j or nais e r ádios. Ao escr ev er num blog, o aut or

t em t ot al liber dade, é edit or de si pr ópr io e não est á obr igado a

seguir cr it ér ios edit or iais que lhe sej am im post os ext er nam ent e,

encont r ando- se for a de qualquer t ipo de const r angim ent os ou

int er esses económ icos.

A cr edibilidade do aut or , m as t am bém a cr edibilidade das font es

usadas, t em um papel r elev ant e. Claro que no caso de um blogger

anónim o est a ser á m uit o m ais difícil de alcançar e de m ant er . “ Um

com unicador cr edível ser á ent endido pelo público com o alguém que

t em infor m ação cor r ect a sobr e algum pont o e além disso não par ece

t er um a int enção ocult a par a m ost r ar as coisas de out r o m odo

difer ent e ao «cor r ect o»” ( Léon, 1996: 15) . A cr edibilidade do aut or

afir m a- se na qualidade do seu t r abalho e dos r ecur sos usados par a o

desenvolver . Ar ist ót eles at r ibuía m uit a im por t ância ao et hos, ou sej a,

ao car áct er do or ador1, um fact or decisivo par a a cr edibilidade.

1

(8)

Não é por acaso que os blogs de pessoas conhecidas ganham

facilm ent e um significat ivo núm er o de leit or es. No ent ant o, acont ece

t am bém o cont r ár io: pessoas que ganham cr edibilidade enquant o

aut or es de blogs e passam a ocupar espaços de opinião nos m edia

t r adicionais, t alvez por t r azer em um a lufada de ar fr esco no

panor am a opinat ivo. Exist em j á vár ios exem plos em j or nais de

r efer ência nacionais, m as t am bém a nível r egional sur gir am j á alguns

casos2. Os blogs per m it em cr iar um a ver dadeir a esfer a de visibilidade

pública, sendo nor m alm ent e os m ais popular es aqueles que m er ecem

m ais consider ações e ecos por par t e dos m edia.

Quem escr eve na blogosfer a e assina com o seu nom e,

assum indo a ver dadeir a ident idade, pr oduz um a espécie de efeit o de

t r anspar ência. Os blogs const it uem um conj unt o de vozes que se

fazem ouvir , individualm ent e ou em gr upo. Uns conseguem ir m ais

longe que out r os, at ingindo um audit ór io alar gado. Um anónim o

nunca t er á a m esm a cr edibilidade de alguém per feit am ent e

ident ificado e a quem possam ser im put adas r esponsabilidades sobr e

o que é dit o. O anonim at o, ainda que em algum as cir cunst âncias sej a

a única for m a de dizer algo, pode t am bém ser vir apenas par a fazer

acusações, difam ar ou especular . Nos blogs, é m uit o com um

encont r ar aut or es anónim os ou que cr iam um a “ ident idade”

alt ernat iva. Para uns est a é, no fundo, “ a m agia” da I nt ernet , para

out r os, o pior que est e m eio t em par a ofer ecer . “ Falt as m uit o com uns

na Net são: a especulação em excesso, apr esent ada com o

infor m ação; a pr olifer ação de font es im pr ecisas ou anónim as;

infor m ações não confir m adas e que são apr esent adas com o fact os.

Razão por que, na I nt er net , a incr edulidade e a dúvida sur gem a cada

passo. A fiabilidade das infor m ações que cir culam na Net é m uit o

que pr eviam ent e t êm os ouvint es, pois est es dois últ im os aspect os não são t écnicos” ( Sousa, 2001: 17) .

2

(9)

desigual” ( Cast anheir a, 2004: 152) . O r ecur so ao pseudónim o é

t am bém m uit o fr equent e, t or nando evident e a em er gência de novas

ident idades pr opor cionadas por est a for m a de com unicação. “ O

blogger não é obr igado a r evelar a sua ver dadeir a ident idade, o que

per m it e um a part icipação m ais descom pr om et ida” ( Canavilhas,

2004: 6) . A nível r egional há “ per sonagens” que solidificar am o seu

lugar na blogosfer a e que conquist aram um significat ivo núm er o de

leit or es. Um bom exem plo é o «Asno», um conhecido blogger da

Beir a I nt er ior que pr om ov eu j á a cr iação de vár ios blogs em

difer ent es aldeias ser r anas.

Par a além da ident ificação do aut or há out r o aspect o

fundam ent al associado à cr edibilidade e que t em a v er com as font es

cit adas ou usadas par a divulgar um a det erm inada infor m ação.

Manuel Pint o sublinha a im por t ância dos blogs com o font es de

infor m ação: por um lado, com o um a nova font e dos m edia ( m esm o

quando os m eios de com unicação social não cit am essa font e) , por

out r o, com o um a nova font e par a os cidadãos e par a os pr ópr ios

blogger s. Sendo est es disposit ivos t am bém espaços de debat e, não

ser á dem ais lem br ar o seu papel “ de m onit or ização do m eio

envolvent e pelo acom panham ent o dos vár ios cam pos da vida social e

do escr ut ínio público do j or nalism o e dos m edia”3.

Talvez o gr ande at r act ivo dos blogs, o ver dadeir o im pulso que

desper t a os sent idos de m ilhar es de ut ilizador es sej a o fact o de est es

poder em ser sim ult aneam ent e infor m ador es, com ent adores, edit or es

ou sim plesm ent e escr it or es, de diár ios ínt im os ou de assunt os de

int er esse público. O ut ilizador t em o poder nas m ãos, algo que nunca

3 Palavr as pr ofer idas por Manuel Pint o, no âm bit o de um a com unicação apr esent ada

(10)

t inha sido t ão fácil. “ Os blogs provar am ser um a gr ande possibilidade

par a r eunir e par t ilhar o conhecim ent o” ( Bow m an e Willis, 2003: 38) .

A discussão e a t roca de ideias são bast ant e com uns nest e

m eio. Por ém , “ se é cer t o que t odos t êm o «dir eit o» de publicar , não é

m enos cer t o que só alguns, m uit o poucos, t er ão o «dir eit o» de ser

lidos” ( Ser r a, 2003: 101) . “ Num vast o oceano de infor m ação, as vozes

individuais afogam - se. O pr et endido car áct er dem ocr at izador da

I nt er net dilui- se na sua im ensidade inabar cável” ( Est alella, 2005) . A

possibilidade de par t icipar , t r ansm it ir um a ideia ou t om ar um a

posição, não t er á qualquer ut ilidade se essa infor m ação não for

r ecebida por alguém .

Mas o que im por t a salient ar , no âm bit o dos blogs r egionais, é o

fact o de se assum ir em com o novas vozes no espaço público, ainda

que de for m a fr agm ent ada. “ A blogosfer a é o lugar da conver sa sobr e

o m undo. Nela exist em pessoas que t r ocam opiniões sobr e a

r ealidade e cont r ibuem para enr iquecer a per cepção que cada um

t em do m eio social, polít ico e cult ur al em que t odos vivem os”

( Gr anier i, 2005: 97) . Desenvolver o espír it o de com unidade,

int er ligando os seus elem ent os, t em sido o pr incipal obj ect ivo da

gener alidade dos blogs locais que par t ilham int er esses, apont am o

que est á er r ado e enalt ecem as pot encialidades do lugar a que

per t encem . “ Um dos pr incipais pont os de for ça, hoj e, é a capacidade

da Rede, at r avés dos blogs, de est abilizar as r elações ent r e os

indivíduos, de ident ificar os int er locut or es, de det er m inar pont os de

r efer ência” ( Gr anier i, 2005: 111) . Com o quest iona Cam ponez, “ o que

é o r egional e o local senão o poder de lhe at ribuir um a ident idade,

em sum a, o poder de o nom ear ?” ( Cam ponez, 2002: 271) .

Na Beir a I nt er ior os blogs r egionais t êm m er ecido a at enção da

im pr ensa local. O Jor nal do Fundão, na sua edição de 20 de Julho de

2006, dedicou cer ca de um a página ao t em a. Um t ext o int it ulado

(11)

opinião dos seus aut or es. O m esm o j or nal hav ia not iciado a 1 de

Junho, um pr ocesso j udicial suscit ado pelos t ext os publicados no blog

Chicken Char les – O Ant i- Her ói4, que consist ia num a escrit a sat ír ica

sobr e o pr esident e da Câm ar a Municipal da Covilhã e a out r as figur as

da cidade.

Mas ser á que podem os blogs r egionais const it uir r edes ou

espaços de influência com consequências nas decisões polít icas? A

ver dade é que o cont eúdo dos blogs t em cada vez m ais peso nas

decisões do poder polít ico, ainda que, na m aior ia dos casos, de for m a

não assum ida. Apesar de t udo, alguns aut ar cas j á m ost r ar am não ser

indifer ent es a est e fenóm eno.

4 . N a pr im e ir a pe ssoa

Os cidadãos sent em - se m ot ivados par a debat er e dar a sua

opinião sobr e causas públicas, algo que par ecia est ar ador m ecido.

“ Se t odas as pesquisas sobr e opinião pública dem onst r am a

indifer ença do eleit or ado nos confr ont os do debat e polít ico e,

fr equent em ent e, t am bém a sua ignor ância sobre m uit íssim os

assunt os, na Rede o confr ont o cont ínuo, a socialização das

infor m ações e a dim ensão par t icipat iva est ão a pr oduzir cidadãos

m ais infor m ados ( «diver sam ent e» infor m ados) e m ais int er essados

nas quest ões públicas” ( Gr anier i, 2005: 118) .

Não falt am exem plos de blogs por t ugueses que podem ser

int egr ados na cat egor ia dos blogs regionais ( se é que é possível

est abelecer cat egor ias) em bor a depois abor dem os m ais var iados

aspect os e é isso que os dist ingue. Pr aça da República5, Blog do

Alandr o Al6, Mais pelo Minho7, Debaixo dos Ar cos8, O lado negr o do

4

ht t p: / / cov ilhas.blogspot .com /

5

ht t p: / / pr acadar epublica.w eblog.com .pt /

6

ht t p: / / alandr oal.w eblog.com .pt / 7

(12)

concelho de Our ém9, são alguns exem plos de espaços dedicados

essencialm ent e à apr esent ação, r eflexão, análise e por vezes cr ít ica

das localidades de que são or iginár ios. No concelho da Covilhã

t am bém t êm sur gido exem plos nest e dom ínio: Casegas vai nua10,

Alpedr inha@New s11, Mont anha12, Máfia da Cova13, O Cânt ar o

Zangado14, Junt a de Fr eguesia do Fer r o15, São Jorge da Beir a16, ent r e

out r os.

Pr om over a r egião, divulgar infor m ações sobr e a m esm a,

denunciar o que est á er r ado, prov ocar o debat e, incent ivar a

int er acção e desper t ar consciências, for am alguns dos obj ect ivos

apont ados pelos blogger s que r esponder am ao quest ionár io a

pr opósit o da r ealização dest e t r abalho17. Cr iar um elo de ligação com

a com unidade em igr ant e foi t am bém um aspect o dest acado por

Fer nando Pir es, aut or do Alpedrinha@New s, Vasco Per eir a, “ O

Padr inho” , do Máfia da Cova, e “ Asno” , aut or do Casegas Vai Nua,

t am bém r esponsável pela cr iação de vár ios blogs em aldeias do

I nt er ior do País. Est a r efer ência aos em igr ant es m ost r a a exist ência

de um cer t o espír it o de com unidade conseguido at r avés do blog e que

dificilm ent e ser ia conseguido de out r a for m a. Ver ifica- se, com alguns

8

ht t p: / / debaixodosar cos.blogspot .com

9

ht t p: / / our em negr o.blogspot .com

10

ht t p: / / casegas.blogspot .com

11

ht t p: / / www .alpedr inhanew s.blogspot .com

12

ht t p: / / covilha.blogspot .com /

13

ht t p: / / m afiadacova.blogspot .com 14

ht t p: / / ocant ar ozangado.blogspot .com

15

ht t p: / / w w w .fr eguesiadofer r o.blogspot .com / 16

ht t p: / / sj or gedabeir a.blogspot .com

17

A pr opósit o da apr esent ação dest e t r abalho foi enviado um quest ionário a 30 aut or es de blogs considerados locais ou regionais. For am r ecebidas 12 r espost as às oit o quest ões colocadas ( 1. Por que é que cr iou um blogue dedicado, em gr ande par t e, à r egião? 2. Quais os pr incipais obj ect ivos do blogue? 3. Consider a o seu blogue um a for m a de int er venção cívica e de exercício da cidadania? 4. Est es blogs acabam por ser um com plem ent o dos m edia locais, no sent ido em que div ulgam o que m uit as vezes não t em espaço nos j or nais e r ádios r egionais. É est e t am bém o papel dest e blogue? 5. Qual o im pact o do blogue na com unidade envolv ent e? 6. Pr eocupa- se com o núm er o de v isit as? 7. E com os com ent ár ios? 8.Acr edit a que os

blogs r egionais podem const it uir r edes ou espaços de influência com consequências

(13)

blogs, a exist ência de car act eríst icas com uns com com unidades

vir t uais ant er ior es que vigor am em por t ais da I nt er net . Esses

elem ent os em com um são: um a ideologia dom inant e, no sent ido em

que os seus m em br os se ident ificam com det er m inados ideais,

debat endo quando há um a discor dância em r elação a det er m inados

t em as; a per m anência no t em po; um a act ividade const ant e; e um a

afinidade ao nível das r elações sociais est abelecidas. Depois das

m ailing- list s e das com unidades vir t uais cr iadas em por t ais, por

exem plo, podem os obser var a ut ilização dos blogs com um a

finalidade sem elhant e às ant er iores: par t ilhar int er esses, t r ocar

infor m ação e conhecim ent o em r elação a um det er m inado assunt o e

cim ent ar r elações ao longo do t em po, de for m a dinâm ica e

par t icipat iva. Podem os assim dizer que as com unidades acabam por

encont r ar a t ecnologia que m elhor ser ve o seu pr opósit o, não se

sobr epondo um as for m as às out r as. Há gr upos que se or ganizam em

por t ais e há out r os que par a os seus obj ect ivos opt am por um blog.

Clar o que nem t odos os blogs poder ão ser apelidados de

com unidades vir t uais, m as m uit os deles cont r ibuír am par a a cr iação

de com unidades ao per m it ir em com ent ár ios e ao cr iar em links para

out r os blogs, t r ocando opiniões v ir t ualm ent e, fazendo com ent ár ios

sobr e ideias cont idas nout r os blogs, par t ilhando int er esses,

est abelecendo r elações e acim a de t udo com unicando18. Clar o que os

blogs não podem ser confundidos com chat s, por exem plo, onde a

conver sa decor r e em t em po r eal. Mas os blogs per m it em que a

discussão acont eça dado o gr ande núm er o de pessoas que ader iu a

est a nova “ m oda da net ” . Per m it em m esm o que det er m inados

18

(14)

assunt os est ej am em análise dur ant e um per íodo consider ável de

t em po e que as discussões ent r e blogger s se t or nem um a pr át ica

cor r ent e, at é por que com o t em po se vão est abelecendo r elações de

cum plicidade ou discór dia.

Os blogs t êm a capacidade de conseguir agr egar um a r ede à

sua volt a que é im pulsionada pelos assunt os abor dados nos m esm os.

Com o o j or nalism o, a polít ica, a m úsica, a lit er at ur a, o cinem a, o

hum or e t ant as out r as coisas, t am bém os assunt os de índole local e

regional ( que envolvem os m ais var iados t em as) conseguem r eunir

um enor m e núm er o de blogger s e leit or es. À volt a de det er m inados

t em as r eúnem - se ver dadeir as com unidades que par t ilham , discut em

e acr escent am ideias e opiniões. Tudo ist o gr aças à facilidade t écnica

de m ant er est e fenóm eno vivo. No ent ant o é necessár ia um a

act ualização const ant e par a que os visit ant es não fiquem

defr audados. Quando isso não acont ece, a vida de um blog é cur t a,

um a vez que não r esponde ao r equisit o m ais exigido: a act ualização.

Exer cer o dir eit o à expr essão e ao exer cício da cidadania sem

const r angim ent os, cr iando espaços de debat e público são linhas que

a m aior ia dos inquir idos diz seguir. Par a além de infor m ar , alguns

deles apr esent am - se ainda com o um a for m a de sat ir izar , diver t ir e

at é ensinar e t r ocar conhecim ent os. Em t er m os de cont eúdo, a

polít ica ocupa um a fat ia im por t ant e nos blogs r egionais, onde são

fr equent es as cham adas de at enção par a o poder local, m as exist em

out r os t em as que m er ecem dest aque, com o é o caso da t r adição, da

sabedor ia popular, das quest ões am bient ais, da art e e da

gast r onom ia.

Na quest ão cent r al dest e t r abalho, t odos consider ar am o seu

blog com o um a for m a de int er venção cívica e de exer cício de

cidadania. Miguel Araúj o, aut or do blog Debaixo dos Ar cos, sobr e a

cidade de Aveir o e não só, diz que “ a int er venção cívica e o exer cício

(15)

exist ência do pr oj ect o” . Fundam ent os esses que r ecent em ent e

pr om over am a disponibilidade de vár ios blogger s par a a r ealização de

t er t úlias públicas, num a dat a a com binar . Miguel Araúj o consider a

m esm o que “ o blog pr et ende abr ir o espaço público à par t icipação de

t odos, dent r o dos pr incípios básicos do r espeit o, dem ocr acia e

plur alism o” e que “ só no m ais elem ent ar pr incípio do exer cício cívico

de cidadania fazia sent ido cr iar o blog” . Fr ancisco Tat a diz t am bém

que a int er venção cívica e o exer cício da cidadania const it uem um a

int enção do Blog do Alandr o Al, que “ por vezes não é conseguida, por

falt a de civism o dos com ent ador es” .

Foi t am bém quest ionado o fact o de est es blogs poder em ser um

com plem ent o dos m edia locais, no sent ido em que div ulgam o que

m uit as vezes não t em espaço nos j or nais e r ádios r egionais. João

Espinho, aut or do blog Praça da República, considera que isso

acont ece “ não t ant o no aspect o infor m at ivo, de divulgação not iciosa,

m as sim da análise à act ualidade local. Muit as vezes os m edia

t r adicionais per dem a opor t unidade de um com ent ár io cr ít ico – ou

evit am - no, sendo o blog o espaço pr ivilegiado par a exer cer a cr ít ica,

em t em po út il, pr opor cionando um debat e alar gado ( at r avés dos

com ent ár ios) , o que pode t r azer novas quest ões, ent r et ant o

olvidadas ou m esm o om it idas pelos ór gãos de com unicação social” .

Eduar do Bast os, aut or do Mais pelo Minho, r efer e que, por exem plo,

Par edes de Cour a “ não t em um a r ádio local e os j or nais do concelho

são quinzenais ( dois) ou m ensais ( um ) ” . Nest e sent ido, o r esponsável

sublinha que “ o blog ganha em act ualidade” . Vasco Per eir a, um dos

aut or es do Máfia da Cova r efer e o fact o de m uit a da infor m ação

divulgada no blog t er or igem nos m edia, sendo que é sem pr e feit a

essa r efer ência. “ Exist e t am bém m uit a infor m ação que nos chega por

out r as vias – ou por conhecim ent o pessoal ou por e- m ail – e nesse

sent ido som os um com plem ent o com a divulgação de event os, de

(16)

publique sem analm ent e um ar t igo de opinião no Diár io de Aveir o, o

blog nada t em a ver com a com unicação social. Nem t em

pr eocupação de ocupar qualquer vazio j or nalíst ico. Se t al acont ecer é

m er am ent e fr ut o do acaso e das opções cr ít icas e escolhas dos

t em as. Est es sim podem ser escolhidos por influência do m ediat ism o

da im pr ensa, r egional, nacional ou int er nacional” . Há t am bém quem

negue desde logo qualquer com plem ent ar idade ent r e o seu blog e os

m eios de com unicação social. É o caso de Luís Am or eir a, aut or do

blog O Cânt ar o Zangado. Tr at a- se de um espaço dedicado ao t ur ism o

e às quest ões am bient ais cuj o principal obj ect ivo passa por

“ cont r ibuir par a o apar ecim ent o de um m ovim ent o or ganizado de

cont est ação das opções que se est ão a t om ar par a o

«desenvolvim ent o» da Ser r a da Est r ela” .

Quant o ao im pact o dos blogs na com unidade envolvent e, João

Espinho defende que “ edit ar um blog num m eio pequeno, onde t oda a

gent e se conhece, t em obviam ent e bast ant e im pact o. Talvez por isso,

o Pr aça da República faz par t e da leit ur a diár ia de m uit os bej enses” .

O aut or acr edit a que “ t odos os lar es dest a cidade, ligados à I nt er net ,

passar am j á, pelo m enos um a vez, pelo Pr aça da República” . Par a

Vasco Per eir a, “ é difícil de avaliar o im pact o do blog na cidade.

Sabem os que t em algum , pois act ualm ent e cont am os com a visit a e

par t icipação de m uit as pessoas da cidade e de out r as que t êm ou

t iver am algum a ligação com a cidade, por exem plo ex- alunos da

Univer sidade da Beir a I nt er ior , em igr ant es com r aízes na r egião ou

covilhanenses a viver em nout r as par t es de Por t ugal” . “ Asno” , aut or

de Casegas Vai Nua, diz que o im pact o do blog na com unidade

env olv ent e foi “ m uit o gr ande” , sendo o segundo m ais vist o na r egião,

logo a seguir ao Máfia da Cova. Apesar do feedback que v ai sendo

r ecebido, há quem diga não conseguir m edir esse efeit o, com o é o

caso de Miguel Araúj o, que afirm a desde logo que algum im pact o

(17)

Há t am bém quem gar ant a que o im pact o com eçou por ser r eduzido,

t endo vindo a aum ent ar ( com o é o caso de Luís Am or eir a, aut or do

blog O Cânt ar o Zangado) .

Um dado com um na m aior ia das r espost as é a pr eocupação

com o núm er o de visit as, m as m ais ainda com os com ent ár ios.

Eduar do Bast os explica que depois de algum as exper iências

desagr adáveis no início do Mais pelo Minho, t eve de act ivar a

m oder ação de com ent ár ios, “ por que alguns iam m uit o além do que,

at é legalm ent e, ser ia adm it ido” . Act ualm ent e isso j á não acont ece,

apesar do aut or apenas r esponder a com ent ár ios ident ificados. João

Espinho consider a que “ o Praça da República é um espaço onde os

com ent ár ios são, por si só, quase um novo blog. Há post s que

ult r apassam as t r ês dezenas de com ent ár ios” . O aut or apaga os

com ent ár ios consider ados ofensivos sem sent ir necessidade de se

j ust ificar por isso.

Poder ão os blogs r egionais const it uir r edes ou espaços de

influência com consequências nas decisões polít icas, sociais, cult ur ais

ou out r as? Há quem consider e que por enquant o não ( Delfina Br ás,

do Blog de São Jor ge da Beir a) , m as t am bém quem pense que sim

( Fer nando Pir es, do Alpedr inha@New s) . Fer nando Tat a diz que o Blog

do Alandr o Al j á cont r ibuiu par a isso. Vasco Per eir a, do Máfia da

Cova, acr edit a que os blogs r egionais podem const it uir r edes ou

espaços de influência com consequências nas decisões polít icas,

sociais, cult ur ais ou out r as “ se for em blogs com algum a visibilidade,

escr it os com um a linguagem cor r ect a e por pessoas com cr edibilidade

na com unidade em que est ão inser idas” . Miguel Ar aúj o acr edit a que

“ os blogs influenciam decisões e opiniões públicas, pr ovocam algum

confor t o ou desconfor t o quando elogiam ou cr it icam decisões polít icas

das aut ar quias. Tant o assim é, que os pr ópr ios aut ar cas não são

indifer ent es ao fenóm eno, consult am - no e, em alguns r ar os casos,

(18)

se r ecusar em a adm it ir que os blogs são t am bém um a for m a de

par t icipação cívica e os seus edit or es olhados com o «for ças do m al»

ou «a soldo das oposições», a t ar efa dos blogs é cont inuar a ser a voz

dos que não se podem fazer ouvir . Obviam ent e que os blogs

r egionais são lidos pelos aut ar cas e polít icos locais e ser vem - lhes

par a afer ir r esult ados da sua act uação. Há um longo cam inho a

per cor r er , por par t e dos blogs r egionais, que não se devem confinar à

divulgação desde ou daquele event o, m as sim ser m ais um a

plat afor m a de int ervenção pública, num t em po em que o exer cício da

cidadania est á cada vez m ais enfr aquecido” .

Os blogs r egionais t r abalham com o fact or pr oxim idade que

aliado às novas t ecnologias per m it e cham ar a at enção da com unidade

que par a além de acom panhar a infor m ação t r ansm it ida t em ainda a

possibilidade de par t icipar de for m a act iva. For am j á vár ios os casos

em que os blogs se envolver am na defesa de causas públicas. O

Máfia da Cova, por exem plo, defendeu a m anut enção das

Mat er nidades na Beir a I nt er ior e o Blog Cor t es do Meio19 cont inua a

sua lut a pela colocação de um a Caixa Mult ibanco na Fr eguesia ( não

deixa de ser cur ioso pedir um a t ecnologia, a Caixa Mult ibanco,

at r avés de out r a, a I nt er net ) .

Par a além de t odo um conj unt o de fact or es posit ivos que

im por t a r ealçar , m er ece um a análise o fact o de os blogs ser em

t am bém um a for m a de alguns grupos r adicais afir m ar em a sua

ident idade colect iva e a sua ideologia. Os blogs da Fr ent e Nacional,

por exem plo, t êm sur gido um pouco por t odo o país. Um gr upo de

j ovens “ nacionalist as e r adicais, t al com o se ident ificam ” ader iu à

blogosfer a com o blog Beir a I nt er ior Nacional20. Est e espaço

apr esent a ainda ligações a sit es com o a Fr ent e Nacional, Part ido

Nacional Renovador , Juvent ude Nacionalist a e Fór um Nacional. A

19

ht t p: / / cor t esdom eio.blogs.sapo.pt / 27341.ht m l 20

(19)

exist ência de espaços dest e géner o é de fact o im pr essionant e. Na

r ede, e com a facilidade na cr iação de blogs, é possível escr ever t udo,

sem qualquer t ipo de r est r ições, daí a pr olifer ação de sít ios dest a

nat ur eza, que de out r a for m a t er iam um a dificuldade acr escida em

com unicar as suas ideias. É visível, cont udo, um cer t o r eceio em

divulgar a ver dadeir a ident idade por par t e de quem escr eve. Apesar

da liber dade sem lim it es do m undo online, os const r angim ent os do

m undo offline par ecem ainda im pedir os aut or es de se ident ificar em ,

t alvez por t em er em r epr esálias. E se, por um lado, é necessár io t er

em cont a a possibilidade de t udo ser publicado, por out r o, é

igualm ent e necessár io consider ar que nem t udo pode ser lido e por

vezes est es gr upos podem não conseguir ir além do segm ent o de

onde são or iginár ios.

5 . Con clu sã o

Sem dúvida que a quest ão da segm ent ação j á ver ificada com os

m edia e ainda m ais visível com os blogs cont r ibuiu de for m a decisiva

par a a fr agm ent ação assist indo- se a um a explosão de “ esfer as

públicas alt er nat ivas dot adas de dinam ism o e capazes de

r esponder em e de se afir m ar em com o um com plem ent o inv er so das

segm ent ações de audiência causada pelos m edia sit uados no

m ainst r eam ” ( Cor r eia, 2004: 214) . Hoj e, t odos os cidadãos podem t er

o seu pr ópr io espaço de opinião, de acor do com os t em as que m ais

lhe desper t am int er esse. Um a das car act er íst icas dos blogs é a sua

fr agm ent ação nar r at iva que cr ia “ expect at ivas de cont inuidade

m ediant e fór m ulas com gr ande poder de at r acção e adição sobr e

leit or es/ r ecept or es, que r eper cut e posit ivam ent e sobr e a fidelidade

da audiência” ( Pér ez, 2005: 141) .

Se, por um lado, a I nt er net pode par ecer um m eio que induz a

(20)

ao m undo at r avés do com put ador , ou de induzir a exclusão social e

cult ur al pelo fact o de haver ainda um gr ande núm er o de pessoas sem

acesso a est e m eio, por out r o lado, a I nt er net , par ece t am bém

desper t ar um a part icipação cívica cr escent e do público em assunt os

do seu int er esse e da com unidade envolvent e. Os blogs conseguir am

at r air m ilhar es de pessoas par a um novo sent ido de t r ansm it ir ideias,

sent im ent os, t r ocar opiniões e est abelecer r elações de afinidade, o

que per m it iu alar gar o espaço público at é ent ão confinado

essencialm ent e aos m edia e aos assunt os por est es t r at ados.

A pr ópr ia quest ão da par t icipação r em et e- nos a ligação à

com unidade. “ Os blogs podem ser act os de par t icipação cívica”

( Gillm or : 2005: 143) e per m it em que novas vozes se façam ouvir .

“ Cabe desej ar que no fut ur o cada vez m ais m eios de com unicação

ut ilizem est as t ecnologias par a am pliar e gar ant ir a par t icipação

cidadã no debat e dem ocr át ico” ( Lar a, 2004: 13) . O apr ofundam ent o

de det er m inadas m at ér ias pode r esult ar int er essant e e pode

const it uir um as das possibilidades da blogosfer a que consist e em

at r air um a par t icipação m ais act iv a dos cidadãos. Sabem os que nos

m edia isso não é possível, sej a por pr oblem as de t em po ou de

espaço, ou por out r os fact or es de nat ur eza or ganizacional, edit or ial,

com er cial ou out r a. Os blogs const it uem um a for m a act ual e

pr ivilegiada de int er venção cívica, que apr oxim a os cidadãos da

com unidade e dos t em as que m ar cam a act ualidade. Gillm or

r econhece a ut ilidade do seu pr ópr io blog, um a ut ilidade que der iva

do debat e e da t r oca de opiniões const ant es com os leit or es21. Dan

Gillm or consider a fundam ent al ouvir o que o público t em a dizer ,

salient ando a apost a que deve ser feit a na par t icipação cív ica e na

int er venção pessoal.

21

(21)

Os blogs r egionais car act er izam - se pelo seu olhar at ent o sobr e

os m edia e o poder local, fazendo um a análise const ant e da

act ualidade. Par a além disso ecoam nest e t ipo de blogs as cham adas

de at enção par a sit uações que não t êm lugar na com unicação social,

bem com o pist as par a t r abalhos j or nalíst icos que at é ent ão for am

esquecidos, chegando m esm o a colm at ar algum as deficiências

infor m at ivas. O r ecur so à fot ogr afia é t am bém um a const ant e. Est as

fer r am ent as assum em - se assim com o um a im por t ant e for m a de

com unicação que pr om ove a int er acção, o debat e e a t r oca de saber

com t ot al liber dade de pr oblem at ização e quest ionam ent o, t am bém a

(22)

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Referências

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