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Projeto folhas: uma perspectiva de formação continuada de professores - análise no campo curricular de química

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Academic year: 2021

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BELMAYR KNOPKI NERY

PROJETO FOLHAS: UMA PERSPECTIVA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE PROFESSORES – ANÁLISE NO CAMPO CURRICULAR DE QUÍMICA

Dissertação apresentada como requisito parcial para a obtenção do título de Mestre em Educação nas Ciências pela Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul.

Orientador: Prof. Dr. Otavio Aloisio Maldaner

Ijuí 2008

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ERRATA

pág. linha Onde se lê: Leia-se: Abstract 1 Leaves Sheaves

8 13 14 15 17 21 24 27 100 24 256 426

(3)

UNIJUÍ – Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Educação nas Ciências – Mestrado

A Banca Examinadora, abaixo assinada, aprova a Dissertação PROJETO

FOLHAS: UMA PERSPECTIVA DE FORMAÇÃO CONTINUADA DE

PROFESSORES - ANÁLISE NO CAMPO CURRICULAR DE QUÍMICA elaborada

por BELMAYR KNOPKI NERY como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação nas Ciências.

Dr. Otavio Aloisio Maldaner Dra. Lenir Basso Zanon (Orientador – UNIJUÍ) (UNIJUÍ)

Dra. Cátia Nehring Dra. Maria do Carmo Galiazzi (UNIJUÍ) (FURG)

Ijuí, 25 de abril de 2008. Rio Grande do Sul

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Aos meus queridos Antonio, Bruno e Livia, sem os quais, talvez, um trabalho dessa natureza fosse empreendido há mais tempo, mas que também sem os quais não teria se realizado hoje.

(5)

Agradeço

Ao Professor Carlos Roberto Vianna, idealizador do Projeto Folhas.

Aos colegas professores que trabalham na Rede Pública Estadual de ensino do Paraná, especialmente àqueles que estiveram comigo nos eventos de formação da Secretaria de Estado da Educação, de 2005 até hoje, pelo debate e discussões imprescindíveis para o desenvolvimento deste trabalho.

Aos colegas professores, sujeitos da pesquisa, pela dedicação nas entrevistas.

À colega de Departamento e amiga Fátima, pelas deliciosas conversas, incursões, de certa forma inconscientes, que resultaram no aprofundamento do Folhas e pela correção do texto final.

Aos meus amigos do Departamento de Educação Básica: Bernardo, pelas belas discussões epistemológicas e Ademir pelas importantes contribuições relacionadas ao Projeto no seu todo.

Aos outros colegas do Departamento, Fronza, Carlos, Viviane, Navarro, Miriam, Jussara, Denise, Rosane, Marcos, Neusa, Eneida, Donizete, Anne, Marina, pelos momentos de forte interação ao implantarmos o Folhas.

Ao Professor Otavio, caro Professor e Orientador, pela receptividade, apreço e entusiasmo com que me acolheu durante as aulas e nas sessões de orientação.

Às Professoras Lenir e Cátia pelas consideráveis intervenções na qualificação do texto.

E à minha filha Livia pela ajuda com as “manhas” dos programas de computador.

(6)

Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado mas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele.

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RESUMO

O presente trabalho focaliza o Projeto Folhas, parte das ações de Formação Continuada da Secretaria de Estado da Educação do Paraná, que teve início em 2004, propriamente, e está em andamento. Analisa-o como um Projeto de formação continuada no campo curricular da Química. Primeiramente, expõe o contexto histórico de surgimento do Projeto, explicitando as ações de formação de professores na gestão governamental de 1995 a 2002 e as ações da atual gestão governamental, de 2003 a 2010. Apresenta uma revisão de literatura pertinente à temática da pesquisa na tentativa de situar o Folhas em relação às reflexões dos estudiosos do assunto, às perspectivas, aos conceitos, às tendências e aos alertas em Formação de Professores. Na seqüência, com base nos pressupostos teóricos de Vigotski, analisa o Projeto como um processo interativo de formação/constituição/significação. Para a produção dos dados da pesquisa, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com cinco professores da Rede Estadual de ensino do Paraná, que produziram Folhas, com a intenção de olhá-los em processo formativo pela via do Projeto. As categorias pesquisadas, Folhas e

produção, Folhas e produção no formato e Folhas e validação evidenciaram o maior

número de momentos-situações formativos e demonstraram que o processo formativo via Projeto se realiza nas duas etapas do Folhas, produção e validação. A interpretação dos dados da pesquisa resultou em quatro categorias de análise, as quais inspiraram onze proposições que foram, então, discutidas e defendidas, conjugando as falas dos entrevistados, as reflexões da pesquisadora e as construções dos teóricos que abordam o tema. Ao escreverem Folhas, os professores produzem seu material de aula e, portanto, seu ensino, exercitam a pesquisa, produzem currículo e são valorizados por isso. Em atitude refletida, no espaço da validação, professor-autor e professor-validador compartilham a formação e discutem ensino e aprendizagem tendo como objeto referente o texto do Folhas a ser validado. O Projeto reconhece o professor como sujeito que pensa, cria, produz, trabalha com o conhecimento e valoriza sua ação reflexiva e sua prática.

Palavras chave: Projeto Folhas – Formação Continuada – Professores de Química da Educação Básica

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ABSTRACT

The present work focus on the Leaves Project, part of the Continuing Formation Program of the State Secretary of Education of Paraná, which had it’s beginning in 2004 originally and continues into action-development. The work analyses it as a Continuing Formation Project in the Curricular Area of Chemistry. Firstly, it presents the historical context of the Project’s origin, explaining the actions of teachers’ formation in the governmental management from 1995 to 2002 and the present actions of the government management from 2003 to 2010. Secondly, it presents a literature concerning the research theme in the attempt to place the

Leaves in relation to the reflections of the subject researchers, to the perspectives, to

the concepts, trends and to the warnings in Teachers’ Formation. In the sequence, based on Vigotski’s theoretical presumptions, it analyses the Project as an interactive process of formation/constitution/meaning. For the production of the research data, a semi-structured interview was made with five teachers from the Paraná State Schools who had produced Leaves with the intention of seeing them in formation process via the Project. The researched categories, Leaves and production, Leaves

and production in the format and Leaves and validation highlighted the greatest

number of formative momentum/situations and demonstrated that the formative process via project occurs in the two stages of Leaves, production and validation. The research data interpretation resulted in four categories of analysis, which inspired eleven propositions that were then discussed and defended conjugating the voices of the interviewed, the reflections of the researcher and the constructions of the theoricists who approach the theme. In writing the Leaves, the teachers produce their class materials, thus, their teaching; exercise researching; produce curriculum, and are valued by those. In reflected attitude in the space of validation, teacher-author and teacher-valuator share the formation and discuss teaching and learning having as referential object the text of Leaves to be validated. The project recognizes the teacher as an individual who thinks, creates, produces, works with knowledge and values his/her reflective action and his/her practice.

Keywords: Leaves Project – Continuing Formation - Chemistry Teachers from Basic Education.

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LISTA DE SIGLAS

CEEBJA – Centro Estadual de Educação Básica de Jovens e Adultos CETEPAR – Centro de Excelência em Tecnologia Educacional do Paraná BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD – Banco Internacional para a Reconstrução e Desenvolvimento. Banco Mundial

DEB – Departamento de Educação Básica DEM – Departamento de Ensino Médio LDP – Livro Didático Público

MEC – Ministério da Educação

NRE – Núcleo Regional de Educação

OAC – Objeto de Aprendizagem Colaborativa PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais PI – Plano de Investimento

PIC - Plano de Implementação de Capacitação

PNLEM – Plano Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio PROEM – Programa Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio PROMED - Programa de Melhoria e Expansão do Ensino Médio PQE – Projeto Qualidade do Ensino Público do Paraná

QPM – Quadro Próprio do Magistério

SAE – Sistema de Administração da Educação

SEED – Secretaria de Estado da Educação do Paraná SUED – Superintendência de Educação

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...1

1 CONTEXTO HISTÓRICO DE SURGIMENTO E MEMÓRIA DO FOLHAS...5

1.1 PROGRAMAS EDUCACIONAIS E CARACTERIZAÇÃO DAS AÇÕES DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA GESTÃO SECRETARIAL DE 1995 A 2002...9

1.2 PRINCÍPIOS EDUCACIONAIS E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA ATUAL GESTÃO...18

2 FORMAÇÃO CONTINUADA ...23

2.1 REVISÃO DE CONCEITOS E PERSPECTIVAS...23

2.2 PROCESSOS INTERATIVOS/PROCESSO FOLHAS ...35

3 METODOLOGIA ...50

3.1 O INSTRUMENTO E A METODOLOGIA DA PESQUISA ...50

3.2 OS SUJEITOS DA PESQUISA ...53

3.3 A ORGANIZAÇÃO DOS DADOS DA PESQUISA ...57

4 DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA...64

4.1 FOLHAS E FORMAÇÃO INICIAL...64

4.1.1 Ao produzirem Folhas, os professores-autores defrontam-se com suas concepções epistemológicas e metodológicas de ensino de Química...64

4.1.2 Características da formação inicial dos professores influenciam diferentes aspectos na produção de Folhas. ...74

4.2 FOLHAS E PRODUÇÃO ...81

4.2.1 O formato requerido pelo Folhas é determinante na busca da sistematização teórica da ação pedagógica do professor...81

4.2.2 Ao experienciar o processo Folhas, o professor-autor supera a condição de executor de currículo e passa a produtor de currículo...94

4.2.3 A escrita do texto do Folhas tem grande potencial formativo...97

4.2.4 O professor que participa do Projeto Folhas vivencia um processo de pesquisa. ...102

4.3 FOLHAS E INTERAÇÃO ...110

4.3.1 Da relação interativa entre professores, no processo de validação, emergem elementos que vão constituí-los, formá-los. ...110

4.3.2 O espaço pedagógico da escola é ambiente privilegiado de formação pelo Folhas...116

(11)

4.3.3 A etapa de validação no Folhas viabiliza um processo de formação em

rede. ...122

4.4 FOLHAS E VALORIZAÇÃO DO PROFESSOR...125

4.4.1 Diferentes expectativas mobilizam os professores para a produção de Folhas. ...125

4.4.2 O professor que vivencia o processo Folhas desenvolve atitude autônoma frente aos processos pedagógicos e aos conhecimentos da disciplina na qual escreve. ...129

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...135

REFERÊNCIAS...144

(12)

1

INTRODUÇÃO

Nesta dissertação, apresento a pesquisa realizada sobre o Projeto Folhas. O Projeto faz parte das ações de Formação Continuada de Professores da SEED (Secretaria de Estado da Educação do Paraná), na qual trabalho como técnica-pedagógica da disciplina de Química. O Projeto foi implantado em todo o Estado em 2004, segundo ano da primeira gestão de governo, que irá até 2010, e está em andamento. Tem como objetivo viabilizar meios para que os professores1 da Rede Pública do Estado pesquisem a aprimorem seus conhecimentos, produzindo, de forma colaborativa, textos de conteúdos escolares, nas disciplinas da Educação Básica.

É importante mencionar que, como o Projeto está em curso, à medida da necessidade sofre e sofreu ajustes quanto à sua estrutura e estes refletem no seu desenvolvimento.

Para a breve exposição do processo Folhas, que julgo ser necessária já de início, e que apresento na seqüência, considero as características do Projeto à época da pesquisa propriamente, de novembro de 2006 a junho de 2007.

O texto a ser produzido pelo professor-autor do Folhas atende às seguintes especificações, que se encontram minuciosamente descritas no Manual de Produção do Folhas, ANEXO A deste trabalho:

• Problema inicial

• Desenvolvimento teórico disciplinar • Desenvolvimento teórico interdisciplinar • Desenvolvimento contemporâneo

1 Optei, por usar o tratamento “professores” para professores homens e professores mulheres indistintamente para evitar interrupções demasiado freqüentes que dificultariam a fluência da leitura do texto.

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2

• Propostas de atividades • Referências

O Problema inicia o texto do Folhas. Deve ser enunciado de modo a provocar, no aluno, a busca e o estudo do conteúdo pertinente ou necessário à sua resolução. Após a escolha do conteúdo e a elaboração do problema, o professor-autor passará ao Desenvolvimento Teórico, desenvolvendo o conteúdo na perspectiva de contribuir para a compreensão, discussão do problema e sua possível resolução. Para compor o texto, o professor-autor necessita explicitar relações interdisciplinares do conteúdo proposto com duas outras disciplinas escolares. As atividades propostas no texto devem proporcionar, aos alunos, um aprofundamento maior dos estudos, além de serem avaliativas. E, por fim, as referências devem ser cuidadosamente realizadas, seguindo as normas e a lei de direitos autorais.

Depois de produzido, o Folhas inicia o processo de validação, que consiste em revisão, correção, modificação e complementação, resultando num texto com correção conceitual e gramatical, linguagem e grau de complexidade adequados aos alunos da Educação Básica. O Processo de Validação acontece em três instâncias: na escola, com a atuação de três professores, no NRE2 (Núcleo Regional de Educação) e no DEB-SEED (Departamento de Educação Básica). Na escola, a validação tem início quando o professor-autor apresenta para cada um dos três professores-validadores uma cópia do Folhas. Os professores-validadores fazem a leitura do Folhas, utilizando o Manual de Produção, no intuito de validar a sua disciplina e analisar o Folhas na perspectiva do aluno. A partir da leitura orientada pelo Manual de Produção, cada professor-validador emite parecer descritivo, digitado em editor de texto, registrando seus comentários, argumentando, justificando e indicando ao professor-autor as mudanças que considera necessárias para que o Folhas seja validado e continue o processo. Em seguida, entrega o Parecer ao professor-autor do Folhas, que faz as adequações solicitadas. Os Pareceres de Validação acompanham o arquivo que contém o Folhas a ser anexado no momento da inscrição no Sistema Folhas3. A validação tem continuidade no

2 O Paraná conta atualmente com 32 Núcleos Regionais de Educação que representam a SEED nos municípios sede.

3 Espaço no Portal Dia a Dia Educação reservado para o Projeto Folhas onde estão registrados todos os Folhas produzidos, em processo de validação e publicados. Todos os professores da rede têm acesso aos campos de seu interesse. Os integrantes das equipes dos NRE igualmente acessam locais que necessitam para realizar suas atribuições e os técnicos-pedagógicos do DEB também podem executar suas tarefas e monitorar todos os Folhas no Sistema.

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3

Núcleo Regional de Educação ao qual a escola do professor-autor pertence. À época da pesquisa, eram especialmente constituídas comissões que seguiam o mesmo processo de validação na escola. A comissão no Núcleo Regional de Educação era assim composta: coordenador do Folhas no NRE; um professor de cada uma das disciplinas contempladas pelos Folhas. Havia algumas exigências para participação na comissão de validação, a saber: ser autor de Folhas inscrito no processo, ter disponibilidade para atuação na comissão de validação simultaneamente às atividades regulares e ser habilitado na disciplina em que pretendia ser validador4. Ao integrar-se à comissão de validação, o validador lia o Folhas como o auxilio do Manual de Produção, emitia parecer descritivo, registrava-o e enviava-registrava-o aregistrava-o cregistrava-oregistrava-ordenadregistrava-or da cregistrava-omissãregistrava-o pregistrava-or via eletrônica. O cregistrava-oregistrava-ordenadregistrava-or dregistrava-o Folhas no NRE coletava os pareceres da comissão e enviava-os ao Departamento de Educação Básica da SEED.

A partir do segundo semestre de 2007, período em que os dados empíricos desta pesquisa já haviam sido produzidos, cada um dos 32 NRE compôs uma equipe de professores das 16 disciplinas da Educação Básica: Língua Portuguesa, Espanhol, Inglês, Matemática, Geografia, História, Educação Artística, Educação Física, Arte, Ciências, Biologia, Física, Química, Sociologia, Filosofia e Ensino Religioso. Hoje, não se constituem mais as comissões de validação. O professor da disciplina, no NRE, é responsável pelas validações, que seguem a mesma ordem e procedimentos que acontecem no DEB. Esse procedimento de validação nos NRE, portanto, modificou-se devido à existência das equipes disciplinares.

No DEB, a validação tem o caráter de terminalidade do processo: caso o Folhas seja considerado adequado às exigências do Manual é validado e publicado no Portal Dia a Dia Educação5. Caso o Folhas ainda apresente necessidade de adequações às exigências do Manual, é devolvido diretamente ao professor-autor para realizar as alterações e efetuar nova inscrição, dando início a um novo processo.

O objetivo fundamental desta pesquisa foi estudar o Projeto Folhas do ponto de vista teórico, ou do ponto de vista dos teóricos que lhe dão sustentação. Para

4

O termo Validador foi substituído por Colaborador no processo de validação do Folhas. A sua substituição aconteceu em meados de 2007, em acordo da equipe dos técnicos pedagógicos integrantes do DEB da SEED. Optei por conservá-lo nesta dissertação, pois ainda era usado oficialmente quando a pesquisa estava em curso.

5

Acessado no sitio www.dia-a-diaeducacao.pr.gov.br, veículo de expressão cultural dos educadores da rede pública do Estado que atende a toda comunidade escolar, num processo aberto e interativo.

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4

isso, o texto inicia situando historicamente o Projeto Folhas, como projeto de formação continuada de professores. A formação continuada, especificamente, é analisada no contexto das gestões governamentais de 1995 a 2002 e de 2003 a 2010, na tentativa de mostrar diferenças significativas entre elas, nas políticas de formação de professores. O trabalho está redigido a partir de duas perspectivas: uma pessoal, em que trago as minhas vivências do Projeto desde o início da sua implantação, ao estilo de um memorial, e outra, que denomino institucional, em que apresento como o contexto histórico configurou o Projeto na instituição SEED. Segue apresentando uma revisão de literatura pertinente à temática da pesquisa, para situar o Folhas em relação às reflexões dos estudiosos do assunto, às perspectivas, aos conceitos, às tendências e aos alertas em Formação de Professores. Nessa parte do texto, também, amplia-se a revisão de literatura e procura-se focalizar o Folhas como um processo interativo, relacionando-o aos processos interativos no referencial teórico vigotskiano. A metodologia, que aparece na ordem no texto, consta de três itens: i) o instrumento e a metodologia da pesquisa; ii) os sujeitos da pesquisa e iii) a organização dos dados da pesquisa. Os dados da pesquisa foram construídos a partir de entrevistas semi-estruturadas com cinco professores autores de Folhas, que atuam em salas de aula da Rede de ensino do Estado e que estão registrados nos Quadros 4 e 5 do trabalho. A sua interpretação resultou na definição de quatro categorias de análise que inspiraram onze proposições, as quais se encontram discutidas e defendidas na seqüência no texto. Algumas constatações a partir dos resultados da pesquisa e algumas considerações sobre o presente e o futuro do Projeto, bem como sobre estudos que podem ser deflagrados no futuro, fecham o texto.

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5

1 CONTEXTO HISTÓRICO DE SURGIMENTO E MEMÓRIA DO FOLHAS

Projeto Folhas.

Folhas. Que nome é esse?

Invariavelmente, quando nós6 apresentamos o Projeto às pessoas que não o conhecem, sejam colegas professores, amigos de fora do nosso círculo profissional, parentes, nos fazem essa pergunta.

Vou começar por contar o porquê do nome do Projeto, que já é parte da sua história, para tratar, em seguida, de percorrer o caminho histórico de sua construção de dois pontos de vista: um institucional-formal e outro que designo pessoal-informal. Decidi iniciar pelo segundo.

O Projeto Folhas, à época da sua criação, integrou um conjunto de ações de formação continuada de professores do Ensino Médio público da Secretaria de Estado da Educação do Paraná (SEED), que pretendia dar oportunidade ao profissional da educação de refletir sobre concepção de ciência, educação, conhecimento e disciplina curricular e que buscava, principalmente, a valorização desses profissionais. O objetivo do Projeto era viabilizar meios para que os professores da Rede Pública pesquisassem e aprimorassem seus conhecimentos, com a produção colaborativa de textos de conteúdos pedagógicos tradicionalmente trabalhados na Educação Básica.

Com a denominação de “Folhas”, esses textos se constituiriam como material de estudo para os alunos e de apoio ao trabalho docente.

Assim, os textos, depois de produzidos, comentados, validados, eventualmente reformulados, na escola especialmente, mas também via internet, no portal educacional da Secretaria de Estado da Educação (Dia-a-dia Educação), acabariam por constituir uma coletânea de textos, disponíveis para impressão em folhas de papel. Daí o nome.

Ao reconstituir a história do Projeto, o que primeiramente me vem à memória são as agradáveis reuniões em que apreendíamos o Folhas tanto na sua aparência quanto na sua essência. Eram reuniões com o então Chefe do Departamento de

6 Nesta dissertação usa-se a primeira pessoa do singular quando se trata de uma ação da pesquisadora. A primeira pessoa do plural é usada quando se refere à pesquisadora como professora e também para designar ações do grupo de técnicos-pedagógicos do Departamento de Educação Básica da Secretaria de Estado da Educação. Para outras ações usa-se a terceira pessoa marcando o tratamento impessoal.

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Ensino Médio (DEM)7, Professor Doutor Carlos Roberto Vianna, idealizador do Projeto e os colegas professores-técnicos pedagógicos das doze disciplinas de tradição curricular do Ensino Médio. Esses encontros não tinham pauta delimitada nem horário rigoroso para acabar e começavam com um mote de discussão, enunciado de forma a deflagrá-la e a nos instigar a ela.

Pensarmos sobre o nome do Projeto, o seu formato, suas características como ação de formação continuada de professores, sua concepção teórico-metodológica instalou o debate com inúmeras discussões, extensas, por vezes acaloradas, entre nós professores/técnicos/autores dos primeiros Folhas.

Experienciamos, assim, a dinâmica do Folhas, no processo de apresentação e desenvolvimento das ações, como atores, vivendo dois papéis: o papel de autor de Folhas e o de técnico-pedagógico do Departamento.

Como professores-autores, cada um de nós produziu pelo menos um Folhas que passou por todas as etapas do processo de construção: da produção individual à validação pelos colegas professores-técnicos das disciplinas contempladas na relação interdisciplinar, retorno ao autor, reformulação, nova validação.

A etapa de produção, como mencionado, foi realizada individualmente. Ela se realizou quando entregamos o texto produzido para os colegas que respondiam pelas duas disciplinas contempladas na relação interdisciplinar, exigência formal do Projeto, cada uma a seu tempo. Os colegas leram o texto, analisaram-no, principalmente com relação à abordagem dada à sua disciplina, no sentido de apreciar criticamente a relação entre ela e a disciplina do Folhas analisado. Analisaram, ainda, a relação interdisciplinar com vistas aos critérios de interdisciplinaridade aceitos pelo Projeto.

Além da validação prescrita pelo Projeto, aconteciam validações públicas, em que todos nós, professores/técnicos/autores, líamos um Folhas escolhido, que era criticado oralmente pelos colegas, buscando um refinamento para além da sua estrutura. Presentes nessa validação pública estavam todos os colegas das disciplinas curriculares do Ensino Médio, o que possibilitava uma fecunda interação entre os saberes disciplinares, mesmo que não estivessem explicitamente contemplados no texto analisado.

7 Denominação antiga do atual DEB, Departamento de Educação Básica, que integra, a partir do início do ano letivo de 2007 o Ensino Fundamental e o Ensino Médio na SEED. Uso a denominação DEM somente nesse momento do texto, para ser fiel à história do Folhas em mais esse ponto.

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Para “ajustar” a linguagem do texto produzido, tínhamos uma conversa com os colegas, técnicos/professores de Língua Portuguesa. Eram realizados ajustes necessários para adequar a linguagem do texto à proposta principal de escrita do Folhas: ter como interlocutor o aluno. Uso o termo conversa, porque o que acontecia era mesmo uma conversa argumentada entre nós, autor do texto e o técnico/professor de Língua Portuguesa, não somente no sentido estrito de uma correção textual mas, também, de uma melhor adequação da linguagem aos moldes do Projeto. Essa conversa fornecia-nos inúmeros subsídios para melhorar o entendimento do nosso texto pelo nosso leitor, já que o colega de Língua Portuguesa desempenhava o papel de aluno, de não conhecedor do conteúdo a ser ensinado, conteúdo de Química, no meu caso.

Como técnicos-pedagógicos do departamento participamos na elaboração de um manual de confecção de Folhas (ANEXO A), que foi distribuído amplamente entre os professores da Rede. A natureza desse trabalho, elaboração e escrita de um manual, possibilitou-nos um refinamento ainda maior da concepção do Projeto como um todo. Também oferecemos oficinas de elaboração de Folhas a um grande número de professores na forma de encontros descentralizados nos 32 Núcleos Regionais de Educação (NRE) e no Centro de Capacitação de Faxinal do Céu8.

Nessas oficinas vivenciamos, na produção dos professores/autores, as dificuldades que tinham sido as nossas, em outro momento, o que, de certa forma realimentou o processo de definição e de implementação do Projeto.

A par das discussões com vistas a decisões de ordem, pode-se dizer pedagógica, crescia uma preocupação do DEM e da SEED com a operacionalização do Projeto no Paraná todo, com seu universo de professores: como as produções circulariam, como seriam os procedimentos de encaminhamento das escolas, os locais de produção, para os 32 NRE em todo o Estado e para a SEED. No primeiro ano do Projeto, as produções circularam com o serviço de malote. Já no ano seguinte foi implantado um sistema via internet, denominado Sistema Folhas, inserido no Portal Dia-a-dia Educação, para inscrição e circulação das produções. Também havia a intenção do DEM, impulsionada pela reivindicação dos professores

8 Órgão da Secretaria de estado da Educação vinculado ao Centro de Excelência em Tecnologia Educacional do Paraná, (CETEPAR). Local de realização de eventos de grande porte, com infra-estrutura hoteleira e de atendimento à capacitação dos profissionais da educação do Estado. Está situado no distrito de Faxinal do Céu, no município de Pinhão, no quilômetro 78 da rodovia PR 170. É resultado da remodelação da vila residencial da usina hidrelétrica de Foz do Areia.

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8

nos encontros de disseminação do Projeto, de enquadrá-lo no seu Plano de Carreira, com uma pontuação que se somaria às outras modalidades de participação para ascensão na carreira do professor estatutário. Até que o processo de regulamentação do Projeto tivesse sido oficializado, ocorreu o que chamamos fase piloto, etapa em que não estava bem definido como seria efetuada a pontuação. Nesta fase, tivemos um número inexpressivo de produções.

Depois de regulamentados o enquadramento e a pontuação, as produções aumentaram em quantidade, atingindo um número expressivo, de acordo com o Relatório de Gestão 2003-2006 (ANEXO B). No entanto, decresceram quando, em fase posterior, somente os Folhas que atravessassem todo o processo e fossem publicados no Portal poderiam resultar em pontuação para o professor-autor.

Atualmente, os Folhas que, após passarem pelo processo de validação no NRE e SEED, forem publicados no Portal Dia-a-dia Educação receberão pontuação de acordo com a Resolução Secretarial no2368/07. Serão pontuados: i) o autor do Folhas publicado: 06 pontos, até o limite de 12 pontos no período de dois anos. ii) o validador de Folhas publicado: 01 ponto por Folhas até o limite de 03 pontos no período de dois anos.

Enfim, a forma como nós, técnicos-pedagógicos, vivemos o processo de construção do Folhas no Departamento acabou gerando, além de uma crença muito positiva no Projeto, uma autonomia para o trabalho de implantação e divulgação, nossa atribuição como agentes de uma política de Estado para formação de professores.

Depois de trazer uma visão, como disse, de caráter mais pessoal, mais informal do Projeto Folhas, passo a apresentá-lo institucionalmente, na sua concepção como Projeto de formação continuada de professores, especificamente professores de Química, meu foco no conjunto de profissionais que atuam na Educação Básica pública do Paraná. Para tanto, considero oportuno desenhar o cenário político-educacional de surgimento do Projeto no Estado. Nesse cenário focalizo as ações de formação dos professores implementadas na gestão governamental anterior (1995-2002) e as ações projetadas e implementadas na atual gestão (2003-2010). Para situar as ações de formação continuada em cada uma delas, apresento, brevemente, os projetos e seus componentes, sem, no entanto, descrevê-los detalhadamente. Procuro detalhar a descrição de pontos nos

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projetos que, a meu ver, dão boa medida de como se configuraram historicamente os fatos.

1.1 PROGRAMAS EDUCACIONAIS E CARACTERIZAÇÃO DAS AÇÕES DE

FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA GESTÃO SECRETARIAL DE 1995 A 2002

O governo que administrou o Estado do Paraná entre 1995 e 2002 planejou, para a educação, ações agrupadas em dois grandes projetos: “Projeto Qualidade no Ensino Público do Paraná”, PQE e “Programa Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio no Paraná”, PROEM. Foram inseridos nas estratégias políticas educacionais inscritas no “Plano ABC – Alunos permanecendo com sucesso na escola, Bons professores atuando com competência e Comunidade participando da condução do processo educativo”.(PROEM, 1996, p.9).

De acordo com o Plano de Implementação da Capacitação dos Recursos Humanos da Educação (PIC-PQE 1996, p.3), o Projeto Qualidade do Ensino Público do Paraná foi co-financiado pelo Banco Mundial (BIRD), previsto para ser executado em cinco anos, contados a partir de outubro de 1994, data da assinatura do Acordo de Empréstimo. O PQE propunha melhorar a produtividade do sistema de ensino público e o aproveitamento educacional de seus alunos. O projeto apresentava cinco componentes: material pedagógico; capacitação dos recursos humanos; desenvolvimento institucional; estudos e pesquisas; rede física.

O componente capacitação de recursos humanos foi operacionalizado pelo Plano de Implementação de Capacitação (PIC) e constava de dois programas. Eram programas complementares que envolviam todas as instâncias do sistema, desde a escola, passando pelo Município e Núcleo Regional de Educação, chegando até as equipes da unidade central da Secretaria de Estado da Educação. Os programas eram oferecidos aos profissionais, professores e diretores que atuavam em escolas do ensino fundamental da Rede Estadual e dos municípios parceiros, aos técnicos das equipes de ensino da SEED, dos Núcleos Regionais de Educação e dos Órgãos Municipais de Educação. O PIC definia os objetivos e atividades a serem realizados em cada ano, dirigidos ao Ensino Fundamental, e constituía-se parte integrante do Plano de Capacitação Permanente da SEED, que compreendia, ainda, as modalidades, denominadas, na ocasião, Ensino Médio, Ensino Supletivo e Educação Especial.

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A capacitação de recursos humanos, enquanto elemento constitutivo do PQE, integrava o programa Valorização do Profissional da Educação, formulado no Plano de Ação da SEED-PR para o período 1995-1998, tendo como suporte os projetos de apoio: Universidade do professor; Vale-saber; Prêmio excelência na escola; Revista educacional interativa.

O PROEM, Programa Expansão, Melhoria e Inovação no Ensino Médio do Paraná, foi objeto de contrato de empréstimo assinado em dezembro de 1997, entre o governo do Estado do Paraná e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), o qual foi executado principalmente pela Secretaria de Estado da Educação e se estendeu para a gestão governamental seguinte, até 2006. (PROEM, 2000, p.7)

O programa mencionado tinha como objetivos aumentar a eficiência, eficácia e eqüidade da educação do Ensino Médio. Segundo Documento Síntese do Programa (1996, p.3), esse trinômio, “mais do que objetivos, constitui-se em requisito que deve presidir estrategicamente as ações propostas no programa, de modo a proporcionar impactos qualitativos no panorama atual do Ensino Médio.”.

O PROEM estava estruturado em três subprogramas: Melhoria da Qualidade do Ensino Médio, Modernização da Educação Técnica Profissional e Fortalecimento da Gestão. Dentro do subprograma Melhoria da Qualidade de Ensino é que encontramos o componente Desenvolvimento de Recursos Humanos, com os Projetos de Capacitação dos Profissionais da Educação, Plano de Carreira e Estatuto do Professor, Incentivos para Desenvolvimento da Competência do Professor e Revista Educacional Interativa, que dizem respeito ao objeto que estamos abordando. No subprograma Melhoria da Qualidade para Formação de Professores, com os Projetos Infra-estrutura para Centros Educacionais para Professores, Desenvolvimento Curricular, Informática e Softwares Educacionais e Regionalização da Oferta para Formação de professores, também encontramos elementos que somaram na minha análise.

Diante disso, pode-se dizer que os programas citados compunham um conjunto de ações abrangentes, no sentido de atender às necessidades da educação paranaense, não deixando de lado a demanda requerida de formação dos professores.

Dentre os programas citados, a ação de formação de professores ganhou visibilidade, efetivamente, na gestão governamental anterior, com os subprogramas, i) Universidade do professor, ii) Vale-saber, iii)Prêmio excelência na escola e iv)

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Revista educacional interativa. E, dentre estes, o subprograma que mais se destacou foi o denominado Universidade do professor. Esse subprograma foi explicitado pela Universidade do Professor, instituição hoje extinta, que, de acordo com seu estatuto, era uma sociedade civil, com sede em Curitiba e atuação em todo território paranaense. Dela faziam parte oito universidades do Paraná, e outras entidades, sendo que a Universidade do Professor coordenava todas as atividades de capacitação docente. As modalidades de capacitação oferecidas compreendiam Seminários de Atualização e Motivação; Seminários de Atualização Curricular nas Áreas de Conteúdos Específicos do Currículo; Seminários de Gestão Escolar e Ações de Suporte ao Currículo; Cursos de Especialização e Extensão em parceria com as Instituições de Ensino Superior, segundo o documento Universidade do

Professor – dois anos de realizações, emitido pela Secretaria de Estado da

Educação do Paraná (1997, p.9).

De acordo com um dossiê emitido pela SEED, para responder a uma solicitação da Assembléia Legislativa do Estado, os objetivos dos seminários são assim explicitados: aguçar a percepção para o lado subjetivo da vida; sensibilizar para o desenvolvimento de uma visão global, em que pessoa e profissional são discutidos como uma unidade indivisível; desenvolver uma postura mental estratégica; compreender os novos paradigmas que passam a reger a sociedade; estimular para a importância da educação permanente; ver a qualidade profissional como um ato interno à pessoa (1996, p.34).

A construção do Centro de Capacitação Profissional em Faxinal do Céu, em 1995, no município de Pinhão, centralizou a realização dos eventos de capacitação, com deslocamento dos docentes contratados e professores de todo o Estado para lá. Nesse centro, eram ministrados cursos aos professores e a outros profissionais da educação da Rede. Participaram especialistas em assuntos diversos, com imersões semanais, no citado centro, de localização estratégica privilegiada, mais ou menos no centro do Estado, num espaço físico anteriormente ocupado pelas instalações de uma usina hidroelétrica da companhia de eletricidade do Estado, especialmente reestruturadas e adequadas para esse fim.

No Quadro 1, apresentado na seqüência, elaborado por Gentili (1998, p.334), com base em dados oficiais retirados do jornal EDUCAÇÃO (1997)9, temos alguns

9 Publicação em formato tablóide com tiragem mensal de 75 mil exemplares. É um veículo oficial de divulgação de Secretaria de Estado de Educação do Paraná.

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dos cursos e palestras oferecidos pela empresa Luna&Associados Consultores de Empresas S/C contratada para desenvolvê-los no Centro de Capacitação de Faxinal do Céu.

Título Enfoque

Cosmologia: o Ser e o Universo Relacionar os indivíduos com o Cosmos.

O Pensamento Oriental e o Holismo

A integração corpo-mente-espírito no pensamento oriental como base para a exploração de idéias de polaridade energética (Yin e Yang).

Auto-estima: aprendendo a gostar mais de você A auto-estima como conceito essencial para uma vida plena.

Visão de Futuro: uma âncora para a realização pessoal

A importância de estruturar uma vida pessoal atraente e significativa como grande âncora motivadora, energizante e canalizadora de atividades e decisões.

Inteligência Emocional: a redefinição da inteligência

O equilíbrio emocional como atributo cada vez mais requerido numa sociedade em que a maior parte das atividades estão se deslocando de uma prática individual para uma prática grupal ou em equipes.

Dominância Cerebral: explorando a diversidade

Apresentar a teoria da dominância cerebral mostrando como opera o cérebro de modo que os participantes possam entender como essas características diferenciadas são responsáveis por diferentes níveis de aproveitamento escolar.

Harmonizando o corpo: práticas e exercícios

Práticas de modalidades de artes marciais como objeto de vivência que objetivam a compreensão do si mesmo e da transcendência.

Quadro 1: Cursos e palestras oferecidos na Universidade do Professor pela empresa Luna & Associados. Fonte: Gentilli (1998, p.334) com base em dados do Jornal Educação (Agosto, 1997).

Ao analisar a natureza dos cursos ministrados, o que pode ser percebido pelos seus títulos e enfoque, nota-se que o foco foge da especificidade do trabalho educativo. Não havia distinção, muitas vezes, entre os cursos ministrados aos professores e os ministrados aos gestores, como se o processo pedagógico, que

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tem na sala de aula seu lugar de realização, pudesse ser gerido conforme se gerenciam outros processos, a exemplo do administrativo escolar ou do administrativo empresarial.

O processo pedagógico é essencialmente diferente dos outros mencionados e é formação para gerir esse processo que o professor requer.

Marques (2003, p. 107), ao estudar a gestão democrática do trabalho educativo e a direção administrativa afirma:

A consciência e compromisso profissionais dos educadores, ao definirem as responsabilidades que solidariamente assumem e as coordenadas teórico-metodológicas da ação educativa, defrontam-se com os sistemas organizados do ensino, com as leis e normas que os regem, com as armaduras institucionais da escola, com as determinações econômico-políticas e culturais da sociedade mais ampla, com os avanços tecnológicos que impõem novos desafios à educação numa sociedade em rápida transformação, com as limitações impostas pelo indispensável emprego dos meios materiais e recursos de apoio. Esse confronto assume formas

agudas na separação entre o fazer e o dirigir, própria da divisão capitalista do trabalho e mediada pelo domínio dos recursos institucionais, aprofundando-se o conflito entre os educadores, cujo compromisso com o conhecimento e a liberdade intelectual é prioritário, e os administradores psicologicamente envolvidos pela organização e forçados à tomada de decisões rápidas e acertadas/eficazes, ao

mesmo tempo em que são coagidos a se abrigarem numa burocracia denunciadora da carência de autoridade moral hegemônica. (MARQUES, 2003, p.107) [grifo meu]

As ações de formação precisam ser pensadas e encaminhadas no sentido de minimizar o confronto mencionado, confronto entre as práticas efetivas dos que fazem a educação no seu dia-a-dia e as ações estratégicas. O autor (2003, p. 108), refere-se, também, às diferenças entre as ações educativas e as ações estratégicas:

Na ação estratégica orientam-se os agentes para o êxito das próprias pretensões individuais ou corporativas num acordo forçado por razões externas ao que fazem. A ação educativa requer, ao contrário, mecanismos de coordenação que

lhe sejam internos, isto é, reconhecidos como válidos em si mesmos e, por isso, criticáveis em princípio e só aceitáveis pelo convencimento racional, isto é, pela força

do melhor argumento. (MARQUES, 2003, p.108) [grifo meu]

Os professores, pelo menos os de sala de aula, não necessitam desenvolver habilidade administrativa para dar suas aulas, mas um outro tipo de habilidade, voltada para a melhoria da qualidade do trabalho educativo.

Embora existissem outras ações de formação de professores, as capacitações em Faxinal do Céu deram o tom às ações de formação continuada, na gestão 1995 – 2002 da SEED, devido à publicidade e à força da mídia, capacitações em bloco, na forma de grandes eventos, com um número elevado de profissionais,

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completando a capacidade do Centro de Capacitação, aproximadamente 1000 profissionais/evento (1996, p.5).

No Quadro 2, baseado em dados constantes do documento Monitoramento dos Eventos Realizados de 1995 a 2002, do Programa de Capacitação Continuada da SEED evidencia-se o elevado número de participantes, entre professores e gestores, nos eventos realizados em Faxinal do Céu.

. 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 Total

Número de

eventos 34 36 48 20 64 86 83 371

Número de

participantes 28.286 27.174 30.799 7.283 27.542 32.311 21.889 175.284

Quadro 2 Distribuição do número de eventos e de participantes nos eventos de Faxinal do Céu no período de 1996 a 2002. Fonte: Documento denominado “Monitoramento dos Eventos Realizados de 1995 a 2002”, dos arquivos da Coordenação de Capacitação dos Profissionais da Educação da SEED.

É preciso lembrar que os eventos tinham duração média de uma semana, entre deslocamentos e atividades. Pelo Quadro 2, pode-se notar que, nos três últimos anos da gestão considerados, o Centro de Capacitação não ficou ocioso uma semana sequer no período letivo.

As outras modalidades de formação, com outras características, ficaram desvalorizadas, obscurecidas, diluídas, quase imperceptíveis em outros projetos. Eram tempos de franca implantação dos PCN (Parâmetros Curriculares Nacionais) nas escolas do Paraná e do Brasil. No que diz respeito ao Paraná, ressalte-se que tiveram uma implantação abrupta, rápida, verticalizada, com pouca discussão, o que pode ter levado à implementação desfigurada das idéias originais, presentes naqueles documentos. Como professora de sala de aula na época, junto aos demais colegas, recebemos aquelas orientações sem ter noção de como ensinar

competências e habilidades e como avaliá-las, muito por desconhecer o significado

das duas categorias e não saber traduzi-las no dia a dia da sala de aula.

Essa formação, de caráter mais geral, aliada às idéias veiculadas pelos PCN (1999) no que se refere às orientações curriculares, o tratamento metodológico dado aos conteúdos de ensino das disciplinas escolares, muitas vezes desfigurados, trouxe problemas à educação paranaense como um todo, na visão de Arco-Verde, interpretada a partir da entrevista concedida à pesquisadora em 17 de julho de 2007, transcrita, que consta do arquivo pessoal da pesquisadora. A Professora Yvelise

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Arco-Verde é Superintendente da Educação da SEED desde 2003, início da atual gestão secretarial.

Arco-Verde, na mesma entrevista, para exemplificar, apontou um primeiro problema: o número excessivo de disciplinas nas matrizes curriculares, ao final da gestão secretarial anterior. Eram, segundo ela, cerca de 1700, no conjunto de escolas do Estado, na forma de disciplinas escolares e projetos complementares, com as mais diferentes denominações e propósitos.

Citam-se, na seqüência, algumas dessas disciplinas, com base em consulta realizada pela pesquisadora aos arquivos da sede do Núcleo Regional da Área Metropolitana Norte e Núcleo Regional da Área Metropolitana Sul (respectivamente, dois NRE dos 32 existentes no Estado), nos dias 8 e 9 de janeiro de 2008:

Disciplinas Escolares: Química Aplicada à Saúde; Oficina de Artesanato; Oficina de

Literatura, Redação e Arte; História Regional; Laboratório de Artes; Oficina de Programas de Saúde com Ênfase em Ciências; Laboratório de Cálculo; Física Aplicada ao Meio Ambiente; Educação da Vida e Saúde; Oficina de Artes Cênicas; Geografia Regional; Ciência Ambiental; Oficina de Ciências com Ênfase Experimental; Cidadania e Cultura; Oficina de Texto, Teatro e Oratória; Comportamento Humano e Ética; Experimentos de Ciências da Natureza; Recreação e Jogos; Oficina de Saúde; Oficina de Musicalização; Educação Física Aplicada à Qualidade de Vida; Oficina Interativa com Ênfase em Ritmo e Expressão Corporal; Oficina Lógico-Matemática; Matemática/Economia/Mercado; Oficina de Orientação Sexual/Saúde; Oficina de Ética e Cidadania; Cultura Brasileira; Dinâmica de Relações Humanas; Oficina de Pesquisa Histórica; Qualidade de Vida Através da Ciência; História da Cultura do Paraná; Psicologia das Relações Humanas; Leitura de Múltiplas Linguagens; Literatura Infanto-Juvenil; Corpo e Ritmo; Estudos da Sociedade; Aprendendo a Empreender.

Este rol de disciplinas constitui pequena amostra no universo de 1997 escolas, segundo Demonstrativo do Número de Escolas da Rede Estadual de Ensino 2002/2003 do SAE, Sistema de Administração da Educação. As disciplinas citadas fazem parte das Matrizes Curriculares de cerca de 21 escolas localizadas em apenas 13 municípios do total do Estado (cerca de 400). Uma leitura preliminar pode ser feita, de pronto. Nas Matrizes Curriculares (ANEXO D), encontramos 39 disciplinas diferentes distribuídas entre as 21 escolas. Um número expressivo, mais de uma disciplina diferente por escola. O que se questiona não é a diversidade em

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si, que é aceitável devido às escolhas, respeitando a realidade próxima de cada escola e município, mas a especificidade delas. As escolas que possuem as Matrizes Curriculares estudadas pertencem à Região Metropolitana de Curitiba, que não é muito extensa e não se caracteriza por tantas diferenças e tão acentuada diversidade que justifique esse número exagerado e variado de disciplinas escolares.

Esse quadro se desenhou devido à atribuição dada às escolas de, autonomamente, escolherem as disciplinas e projetos que comporiam as suas matrizes curriculares. Algumas delas constam anexadas no final deste trabalho. (ANEXO D)

Em relação aos projetos,

a formulação e execução eram individualizadas, por professor ou por escola. Havia também programas apoiados e patrocinados por empresas privadas ou por instituições não governamentais, cujos serviços, via de regra, se apresentavam com um ótimo material de mídia, propostas de capacitação de professores pelas empresas ou órgãos contratados, assim como a distribuição de materiais didáticos aos alunos e premiações para as escolas, alunos ou professores. (DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO BÁSICA DO ESTADO DO PARANÁ, 2007, p.14)

O elevado número de projetos e a sua diversidade trouxeram, como conseqüência, uma pulverização de saberes, muitas vezes deslocados de seu contexto de produção, e sua fragmentação que, no limite, conduz à excessiva especialização. Ainda, trouxeram um esvaziamento dos conteúdos disciplinares propriamente ditos. No âmbito escolar, ensinavam-se valores sociais, valores morais, história, educação ambiental, mas Química, em si, muito pouco. Ou ainda, o que é pior, a meu juízo, esses domínios eram, dessa forma, atingidos por projetos nas escolas, mas a Química continuava sendo ensinada nos moldes tradicionais, com pouca ou nenhuma relação com eles.

Quando da entrevista concedida à pesquisadora em 17 de julho de 2007, Arco-Verde menciona outro fato representativo da situação encontrada:

Quer dizer, realmente não tinha um projeto político pedagógico de escola. Existiam propostas individualizadas, de professores que queriam dar determinada disciplina, e aí na lista das cinco mil disciplinas, existia de tudo, até os rios da China eram dados - provavelmente algum especialista que estudou sobre os rios da China – mas ele ia de escola em escola, ou ficaria só ali dando em uma mesma escola, e só aquela escola iria estudar os rios da China (...)

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Essa breve descrição, de fato, indica a ausência de uma política educacional e curricular no Estado que estava “à mercê de propostas díspares, sem consistência e unidade teórica, além da carência de indicativos pedagógicos que fossem desenvolvidos nas escolas da rede estadual.” (INTRODUÇÃO ÀS DIRETRIZES CURRICULARES DO ESTADO DO PARANÁ, 2007, p.14)

A formação de professor, aquela voltada para o aprimoramento do seu fazer pedagógico, com inegáveis e imediatos reflexos na sala de aula, foi relegada a segundo plano. Não se questiona a formação humana integral de um profissional, seja de que área for. O que se critica é o privilégio dado àqueles cursos de caráter empresarial, com ênfase motivacional ou organizacional, em detrimento de cursos focados na problemática do fazer pedagógico do professor e no fazer pedagógico específico da sua disciplina de ensino. Igualmente, critica-se a ausência de reflexão sistematizada sobre a prática educativa.

Uma perspectiva tradicional de formação continuada, na qual um profissional detentor de um saber a ser ensinado é convidado a tratar da formação dos professores que atuam nas salas de aula, contexto muitas vezes estranho a esse profissional, era a que atendia às expectativas das políticas de formação continuada para aquela realidade, haja vista o grande número de eventos de formação oferecidos aos professores nesse formato e com as características já descritas (Quadro 2).

Vista por esse ângulo, a valorização do profissional/professor estadual viria, como que por encanto, via estratégias de sensibilização e motivação interior baseadas em dinâmicas que se prestam muito bem às aspirações de valorização de um profissional de uma empresa, mas que talvez não sejam as mesmas de um profissional/professor que atua na escola pública. Valorização baseada na idéia de que o professor, se estivesse bem consigo mesmo, garantiria um bom ensino ao seu aluno. É como se o professor, individualmente, e cada um à sua maneira, pudesse prover os aspectos que constituem e conduzem à valorização da sua profissão.

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1.2 PRINCÍPIOS EDUCACIONAIS E DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES DA ATUAL GESTÃO

O governo atual, cuja gestão iniciou em 2003 e que, por sua reeleição, se estenderá até 2010, estabeleceu princípios educacionais que norteiam sua administração, a saber:

[...] defesa da educação pública, gratuita e universal; processo coletivo de trabalho e compromisso de consulta e respeito às decisões dos atores que compõem o trabalho pedagógico; prioridade do pedagógico sobre o administrativo; formação escolar de qualidade em todos os níveis e etapas de ensino; atendimento às especificidades e às diversidades culturais. (JORNAL EDUCAÇÃO 2003, p.5)

Estes princípios estão expressos em 7 Linhas de Ação, conforme transcrito a seguir:

- Estabelecimento de uma política educacional do Estado do Paraná com a elaboração, em conjunto com fóruns municipais e estadual e de outras instituições e organizações da sociedade civil, do Plano Estadual de Educação para o Estado do Paraná;

- Currículo escolar como eixo estruturante com a revisão, atualização e reestruturação da proposta curricular do Estado do Paraná com a implantação de práticas coletivas de estudos e pesquisas que visem à melhor administração pedagógica da educação do Paraná;

- Otimização do espaço e tempo escolar, com a revitalização da escola paranaense, com programas e projetos que estimulem os alunos e a comunidade a participarem da formação escolar, científica e tecnológica, além das atividades culturais, esportivas e artísticas que estarão à disposição dos alunos;

- Educação como direito do cidadão, com a publicização da política educacional do Estado do Paraná, com a reorganização dos serviços, da estrutura da rede e da postura do servidor público da área da educação;

- Pesquisa como fonte de apoio às ações educacionais, com planejamento, estudos e pesquisas, por meio do acompanhamento e avaliação dos sujeitos presentes nas atividades educativas, como suporte para as definições de projetos pedagógicos e estratégias administrativas para o desenvolvimento de ações educacionais em todos os níveis de ensino;

- Apoio pedagógico à prática educativa, com implementação da prática de ensino dos professores, com a investigação e atualização permanente dos conhecimentos a serem elaborados na relação com os alunos, a partir da produção de materiais de apoio didático-pedagógico, ressignificação dos espaços e das propostas educacionais, bem como da implantação de sistemas tecnológicos que possibilitem avanços qualitativos na educação paranaense;

- Valorização dos profissionais da educação, com condições de trabalho e formação continuada, acrescidas de programas voltados para a necessária formação inicial que habilita o professor ao exercício do magistério. (JORNAL EDUCAÇÃO, 2003 p. 5)

Seguindo essas linhas, algumas ações foram efetivadas, apoiadas em um Programa do Governo Federal, o PROMED, Programa de Melhoria e Expansão do Ensino Médio, que contava, como organismo financiador, com o Banco Mundial (BIRD). Através de um Projeto de Investimento, PI, a SEED programou ações

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articuladas e priorizadas que respondiam ao diagnóstico do Ensino Médio. O Projeto Folhas foi uma dessas ações.

A leitura das metas dos planos de ação das duas últimas gestões da SEED permite notar em ambas uma abrangência significativa nos projetos educacionais. Porém, diferentemente da gestão secretarial anterior, observa-se que a escola, mais notadamente no seu aspecto pedagógico, em contraste com o administrativo/gerencial, passa a ser o referencial para o planejamento e desenvolvimento das ações no atual processo de gestão, coerentemente com alguns dos princípios estabelecidos. A partir deles, observa-se uma outra visão do que seja educação e do que seja formação de professores, principalmente, e de quais ações implementar para a melhoria da sua qualidade. Mais do que a escola ser o referencial para o desenvolvimento das ações, na atual gestão, o professor passa a protagonizá-las. A começar pelo próprio Folhas, projeto que coloca em evidência a produção do professor, no espaço de produção de conhecimento dele, a escola, mais precisamente a sala de aula. E, como programa de formação, o Folhas caracteriza-se como um programa de formação permanente, não pontual. Ainda, o professor pode produzir e inscrever-se, enfim, experienciar o processo a qualquer momento durante o ano, quando for mais apropriado para ele. Outra propriedade importante do Projeto é a constituição de um espaço de produção e de formação colaborativa, que é viabilizado pela etapa de validação notadamente. Muitos são os sujeitos envolvidos no processo Folhas como um todo, desde o professor-autor, os colaboradores na escola ― colegas da própria disciplina do Folhas e os que validam as relações interdisciplinares ―, os colegas nos NRE até os técnicos-pedagógicos do DEB, o que configura uma extensa rede de formação. Assinala-se, que, nessa gestão, o professor é considerado profissional do ensino, não se aceita mais que desempenhe suas funções, “amadoristicamente”, em sala de aula. Ele é chamado a tratar da própria formação. A todos os professores que quiserem, é dada a oportunidade de fazê-lo. Contam com o apoio dos professores/técnicos pedagógicos do DEB, com os quais podem se comunicar via correio eletrônico, diretamente, para esclarecimentos, com os representantes das disciplinas escolares nas sede dos NRE, sempre próximas aos seus municípios de residência ou de atuação. Têm, por outro lado, acesso a material de pesquisa para a produção dos seus Folhas, na

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forma de livros das Bibliotecas do Professor10, de Literatura11, de Autores Paranaenses12, existentes em todas as escolas de Educação Básica do Estado.

As ações de formação continuada de profissionais e seus desdobramentos, dentre elas o Folhas, objeto de análise desta pesquisa, são realizadas nos/pelos diversos departamentos pedagógicos da SEED, com o auxílio dos 32 Núcleos Regionais de Educação, sediados em municípios paranaenses. No atual Departamento de Educação Básica, estão em andamento, além do Projeto Folhas, as ações: Grupos de Estudo; Objeto de Aprendizagem Colaborativa (OAC); Departamento de Educação Básica Itinerante. Outras ações também integram o projeto de formação de professores, como simpósios, capacitações, reuniões técnicas. Todas são ações de formação voltadas ao trabalho educativo na escola e, por certo, trazem uma nova luz à prática pedagógica em sala de aula, a meu ver.

No Departamento de Ensino Médio, hoje Departamento de Educação Básica, que é o setor da SEED no qual o Folhas nasceu, foram desenvolvidas, também, ações simultâneas e articuladas de construção de orientações curriculares para as disciplinas dessa modalidade de ensino, ações de aquisição para suprimento de material de apoio pedagógico (Bibliotecas de Literatura, Biblioteca do Professor, Biblioteca do Aluno da Educação Básica, Biblioteca de Autores Paranaenses) e ações de formação continuada, que já citamos. Algumas dessas ações estão acontecendo, outras já foram encerradas.

O Projeto Folhas constitui, hoje, a principal ação de formação continuada do Departamento de Educação Básica, com um total de produções até 2006, de 2032 Folhas, segundo Relatório de Gestão 2003-2006 do DEB, (2006, p.15). Estes números se referem a todas as disciplinas do Ensino Médio. Na disciplina de Química foram produzidos, em 2004, 74 Folhas, em 2005, 48 e em 2006, 14.

Um rápido olhar para os números registrados possibilita uma primeira constatação: o decréscimo acentuado do número de Folhas de Química no período. Ao procurar explicações para esse fato, encontram-se alguns indícios, os quais podem estar relacionados às ações realizadas nos anos em que o Projeto foi desenvolvido. O número expressivo de Folhas em 2004 está ligado ao fato de que o

10 207 títulos de natureza teórica e metodológica das disciplinas de tradição curricular da Educação Básica. Doze títulos reservados para Química.

11 266 títulos de Literatura Universal destinados aos alunos da Educação Básica.

12 29 títulos de autores paranaenses que promove, no âmbito das disciplinas que compõem a matriz curricular da Educação Básica, o conhecimento e a discussão de aspectos peculiares da cultura do Estado.

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Projeto constituía novidade para os professores da Rede, que nunca antes haviam tido oportunidade de publicizar suas produções. Em muitos casos, elas representavam suas aulas escritas. Em 2004, também, o Projeto foi regulamentado quanto à pontuação que o professor-autor receberia pela produção, o que, sem dúvida, a incrementou. Nessa fase do Projeto, a validação acontecia diretamente na SEED, feita pelos técnicos pedagógicos das disciplinas.

Em 2005, apesar da divulgação que a SEED realizou próxima aos professores, através de oficinas de produção em todos os NRE, com presença maciça dos professores dos municípios, o número de Folhas produzidos diminuiu. Também foram oferecidas oficinas de validação para os coordenadores do Folhas nos NRE. Nesse ano o processo foi descentralizado, ou seja, os NRE funcionariam, então, como intermediários no processo todo. Para que o processo se desenvolvesse era imprescindível que todas as instâncias do sistema integrassem o Projeto. A par da descentralização, as inscrições passaram a acontecer via internet e as produções a circular pela web, para serem validadas, como já descrito minuciosamente em outro momento neste trabalho. O acesso aos Folhas já produzidos para consulta, as novas inscrições, envio das produções e validação, tudo feito somente via internet, pode ter afastado o professor do Projeto, devido à dificuldade de acesso à rede de computadores e à pouca familiaridade de alguns com esse recurso tecnológico. A operacionalização dessa fase foi demorada e trabalhosa. Os NRE apresentaram muitas dificuldades no repasse das informações relativas ao Projeto. Eram dificuldades de entendimento da estrutura do Folhas, de circulação de informações, de ordem teórica e outras, o que pode ter desmotivado o professor para a produção. Outra possibilidade que se apresenta como um fator determinante da diminuição do número de Folhas produzidos é a exposição das fragilidades na formação do professor. O Folhas produzido mostra o que o professor-autor sabe, mas também o que ele não sabe, principalmente na validação. É diferente da perspectiva tradicional de formação continuada, em que um agente externo diz que o professor tem fragilidades. No processo Folhas, ele, professor, se defronta com sua fragilidade, se conscientiza dela. Isso pode levar o professor a “entrar em crise” e rejeitar o Projeto.

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Em 2006, o DEB deixou um pouco de lado a divulgação dos Folhas e investiu intensamente na implantação das Diretrizes Curriculares Estaduais, produção, distribuição do LDP13, fato que também pode ter desestimulado as produções.

Esses fatos, em separado ou em conjunto, contribuíram para a diminuição do número de produções de Folhas de Química.

Hoje, estão disponíveis, no Portal Dia a Dia Educação, em torno de 250 Folhas das quatorze disciplinas curriculares do Ensino Médio que o professor pode acessar, fazer “download”, imprimir, usar como material de apoio para as aulas.

Entendo ser importante, neste ponto, retomar, resumidamente, alguns fatos marcantes relativos ao Folhas e algumas modificações no seu curso que ocorreram até o término desta pesquisa. O Projeto iniciou em 2003. Teve uma fase pré-lançamento, período experimental, em que produção e validação limitaram-se aos professores-técnicos-pedagógicos do Departamento. Foi lançado efetivamente em 2004 em todo o Estado. Em 2005, o processo de validação que antes ocorria no DEB foi descentralizado e passou a realizar-se também nos NRE, com as comissões de validação. Em 2006 foi implantado o Sistema Folhas e as produções e validações passaram a acontecer via Portal Dia-a-Dia Educação, pela internet, com exceção da primeira validação, que continua a acontecer pessoalmente na escola.

Essa parte do trabalho tratou de contextualizar o Projeto na instituição (SEED), detalhando as condições que demandaram sua criação e seu desenvolvimento até hoje. Tratou, ainda, de focalizar as duas gestões secretariais separadamente, para evidenciar os aspectos referentes à formação de professores em que elas diferem, tanto quanto à qualidade da formação oferecida ao professor da Rede, quanto ao papel ativo que passa a desempenhar nela, isto é, de promotor da própria formação.

Na continuidade, apresento uma revisão da literatura sobre formação continuada, realizada com enfoque em alguns aspectos importantes da temática para a pesquisa, quais sejam: a reflexão sistemática sobre a prática por parte do professor e como ela conduz à pesquisa da própria prática; a avaliação escolar como precioso momento formativo do professor e ações compartilhadas de formação de professores, em serviço, bem como, em graduação.

13 Livro produzido pelos professores da rede pública do Estado do Paraná, composto de uma coletânea de Folhas. Foi distribuído para todos os alunos dos anos finais da Educação Básica no início do ano letivo de 2007.

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