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Risco de inundação na sede municipal de Touros/RN

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Academic year: 2021

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DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM GEOGRAFIA

ERICK JORDAN DA SILVA GOMES

RISCO DE INUNDAÇÃO NA SEDE MUNICIPAL DE TOUROS/RN

NATAL-RN 2020

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RISCO DE INUNDAÇÃO NA SEDE MUNICIPAL DE TOUROS/RN

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia

Orientadora: Profa. Drª. Juliana Felipe Farias Coorientador: Prof. Dr. Lutiane Queiroz de Almeida.

NATAL-RN 2020

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RISCO DE INUNDAÇÃO NA SEDE MUNICIPAL DE TOUROS – RN

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito para obtenção do título de Mestre em Geografia.

Orientadora: Profa. Drª. Juliana Felipe Farias

Coorientador: Prof. Dr. Lutiane Queiroz de Almeida.

BANCA EXAMINADORA

______________________________________________________ Profª. Drª. Juliana Felipe Farias

Orientadora (PPGE/UFRN)

______________________________________________________ Prof. Dr. Lutiane Queiroz de Almeida

Coorientador (PPGE/UFRN)

_______________________________________________________ Prof. Dr. Adriano Lima Troleis

Examinador Interno (PPGE/UFRN)

_______________________________________________________ Dr. Leonlene de Souza Aguiar

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Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes - CCHLA Gomes, Erick Jordan da Silva.

Risco de inundação na sede municipal de Touros/RN / Erick Jordan da Silva Gomes. - Natal, 2020.

174f.: il. color.

Dissertação (mestrado) - Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes, Programa de Pós-graduação e Pesquisa em Geografia,

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2020. Orientadora: Profa. Dra. Juliana Felipe Farias. Coorientador: Prof. Dr. Lutiane Queiroz de Almeida. 1. Risco - Dissertação. 2. Exposição - Dissertação. 3. Vulnerabilidade - Dissertação. 4. Inundações - Dissertação. I. Farias, Juliana Felipe. II. Almeida, Lutiane Queiroz de. III. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 551.311.2(813.2)

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Fátima) que ajudaram, junto dos meus pais, a formar o ser humano que eu sou hoje. A essas o meu eterno agradecimento.

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Gostaria primeiramente de agradecer a Deus a quem devo todas as minhas realizações e tudo de melhor que já aconteceu em minha vida. Muito obrigado por ser esse pai tão incrível o qual sempre me deu força e incentivo para seguir em frente.

A minha orientadora Juliana por sua paciência, disposição, excelentes conselhos e pela sua sensatez ao lidar com um orientando como eu, cheio de ideias e ansiedade. Ajudou a me colocar no caminho certo e a sistematizar minhas ideias, além de ser uma profissional e pessoa exemplar a quem tenho muita afeição.

Ao meu coorientador Lutiane por todo o cuidado, aconselhamentos, respeito as minhas ideias, a amizade, compreensão e o incentivo em seguir meus objetivos, além de acreditar no meu potencial em cumprir cada um deles. Uma pessoa a quem tenho eterna admiração como professor, pesquisador e ser humano. Agradeço, também, imensamente a Leila por todas as suas dicas, sugestões e contribuições para com minha pesquisa.

A todos os professores do Departamento de Geografia da UFRN, os quais foram responsáveis pela minha formação desde os primeiros meses da graduação até o mestrado. Em especial aos professores Adriano Troleis, Zuleide Lima, Celso Locatel, Silvio Braz e Rodrigo Amorim que, direta e indiretamente, contribuíram com a execução desse trabalho.

Um agradecimento especial a minha mãe (Elenice), minha guerreira, minha rainha, que me ensinou a nunca desistir, a ser forte e a acreditar em mim sempre. A quem devo muito amor pela criação que tive.

A toda a minha família, que por ser tão grande não conseguirei citar o nome de cada integrante. Mas sem a qual eu certamente não seria nada. Meu pai, meu avô e minhas avós, minhas tias, tios, primas, primos, minha irmã e o meu sobrinho.

Um agradecimento imenso aos queridos amigos que a UFRN colocou em minha vida: Ivaniza, Nadeline, Joanderson, Welton e Michel, que são pessoas as quais eu quero levar para toda a minha vida. Estes, além de me apoiarem operacionalmente durante a pesquisa, foram um alicerce para todos os momentos. Muito obrigado por fazerem parte da minha vida.

Todas as pessoas as quais me auxiliaram durante as atividades de campo, quero dizer que a presença de vocês foi muito importante. A troca de conhecimento, dicas, sugestões e tudo o que consegui aprender com vocês. Dessas pessoas eu destaco Caroline Barros, a qual tanto me ajudou

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Débora e Ana Clara, pesquisadoras e pessoas excepcionais que muito me ensinaram.

A turma do mestrado do Programa de Pós-graduação em Geografia, que compartilharam comigo aulas teóricas, de campo e grupo de estudos. Destaco: Diogo, Wanderson, Bruna, Denise, Vitória, Moacir, Miquéias, Anderson e Naiara, e os doutorandos os quais tanto me deram sugestões de como melhorar meu trabalho, em especial: Cleanto, Jaqueline, Bruno, Nayara e Thiara.

Aos membros do grupo de pesquisa GEORISCO (UFRN) os quais compartilham comigo afinidades em pesquisa e me fizeram perceber que o grupo é mais do que um grupo para estudos. É, verdadeiramente, um ambiente que estimula união, amizade e compartilhamento de experiências pelas quais se podem construir. Dentre eles eu destaco Vinnícius, Johnathan e Dyego, a pessoa que ajudou imensuravelmente nas etapas de processamento das imagens e em campo.

Agradeço aos membros da defesa civil municipal do município de Touros e a todos os moradores da cidade os quais tão bem me receberam e acolheram para participar dos questionários. A estes, também gostaria de dedicar esse trabalho. Tenho em mente que esta produção possa contribuir como um instrumento teórico a ser aplicado, permitindo desenvolver melhores condições de vida a população, principalmente os mais vulneráveis.

Gostaria de agradecer a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) pelo fornecimento da bolsa de pesquisa a qual auxiliou a execução e operacionalização do trabalho.

A todos meus mais sinceros agradecimentos e ressalto que sem cada um de vocês essa pesquisa não seria possível.

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Os ambientes de rios e lagoas apresentam acentuada oscilação nos níveis altimétricos de seu volume em decorrência de sua dinâmica natural. No entanto, a ação antrópica, caracterizada pelos diferentes padrões de uso do solo, pode através da construção das edificações nas margens de corpos hídricos, desencadear inundações. Estes são problemas recorrentes na sede municipal de Touros – Rio Grande do Norte, pela qual se caracteriza por condicionantes (tanto naturais quanto antrópicos), capazes de funcionar como gatilho na ocorrência de inundações. Sendo assim, essa pesquisa tem como objetivo avaliar a relação estabelecida entre os fatores de exposição à inundação e a vulnerabilidade social na sede municipal de Touros – RN. Essa pesquisa foi fundamentada na abordagem sistêmica. Com procedimentos metodológicos embasados na aplicação da metodologia para exposição física a inundações de Guerra (2009) e no Índice de vulnerabilidade social proposto por Almeida, Welle e Birkmann (2016). A partir da coleta de dados primários por aplicação de questionários, foram obtidas informações que deram base para a elaboração do índice de risco, calculado através da associação da exposição e da vulnerabilidade. Somado a isso, foram elaborados com suporte de aeronave remotamente pilotada (ARP), modelos digitais de terreno e de superfície que ajudaram a gerar curvas de nível e criar simulações de inundações em potencial. Observou-se que a relação entre exposição e vulnerabilidade são indissociáveis, e sua configuração é essencial para compreender como o risco se comporta na área de estudo. Nesse contexto, o destacável é que a área possui condicionantes naturais pelas quais intensificam o aumento dos níveis de corpos hídricos, que associados as características de vulnerabilidade sociais elevadas denotam a necessidade da elaboração de medidas de mitigação direcionada a ocorrência de inundações. Foi identificado que a ocupação da área, principalmente de ambientes lacustres, é o maior problema do município relacionado aos riscos de inundações Em decorrência do adensamento populacional intenso e a falta de ações que busquem minimizar o risco de desastres, como educação ambiental, a construção de um sistema de drenagem ou a implantação de instrumentos de monitoramento e alerta mostrou ser um problema em uma área em que esse perigo se tornou frequente. Finalmente, algo que fica claro é a urgente necessidade de medidas, sejam elas estruturais ou não, as quais busquem minimizar os riscos ao qual as pessoas estão cada vez mais expostas e com medo.

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The environments of rivers and lagoons present a marked oscillation in the altimetric levels of their volume due to their natural dynamics. However, the anthropic action, characterized by the patterns of land use, can, through the construction of buildings on the margins of water bodies, trigger flooding. These are recurrent problems at the municipal headquarters of Touros - Rio Grande do Norte, for which they stand out due to conditions (both natural and man-made), capable of functioning as a trigger in the occurrence of floods. Therefore, this research aims to evaluate the relationship between factors of exposure to flood and social vulnerability at the municipal headquarters of Touros - RN. This research was fundamental in the systemic approach. With methodologies based on the application of the methodology for physical exposure to war floods (2009) and on the Social Vulnerability Index proposed by Almeida, Welle and Birkmann (2016). From the collection of primary data through the application of questionnaires, the information that provided the basis for the preparation of the risk index, association through the association of exposure and vulnerability, was informed. In addition, digitally modeled terrain and surface models were developed with the support of remotely piloted aircraft (ARP), which helped generate contour lines and create simulations of potential floods. It was observed that the relationship between exposure and vulnerability are inseparable, and their configuration is essential to understand how the risk behaves in the study area. In this context, what is noteworthy is that the area has natural conditions that intensify the increase in the levels of water bodies, which associated with the high social vulnerability characteristics denote the need for the elaboration of mitigation measures directed to the occurrence of floods. It was identified that the occupation of the area, mainly of lakeside environments, is the biggest problem of the municipality related to the risks of floods Due to the intense population density and the lack of actions that seek to minimize the risk of disasters, such as environmental education, the construction of a drainage system or the implementation of monitoring and alert instruments has proved to be a problem in an area where this danger has become frequent. Finally, something that is clear is the urgent need for measures, whether structural or not, which seek to minimize the risks to which people are increasingly exposed and afraid.

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Figura 1 - Mapa de localização da sede municipal de Touros – RN 16 Figura 2 - Esquema de representação de um sistema hidrológico 22

Figura 3 - Classificação dos riscos ambientais 25

Figura 4 - Diferenciação entre alagamentos, enchentes e inundações 31 Figura 5 - Modelo esquemático da relação conceitual entre risco, perigo e

vulnerabilidade 36

Figura 6 - Abordagem conceitual (Risco, perigo e desastre) 37

Figura 7 - Etapas dos procedimentos metodológicos 39

Figura 8 - Resumo da relação dos índices InRisco, IVs e InEx 40 Figura 9 - Setorização da sede municipal de Touros-RN 41 Figura 10 - Delimitação das residências por imagem de satélite e ARP 46 Figura 11 - Áreas prioritárias da sede municipal de Touros-RN 48

Figura 12 - Interpolação IDW 49

Figura 13 - Levantamento de imagens com ARP 51

Figura 14 - Formulário para preenchimento dos especialistas 55 Figura 15 - Cálculo da exposição por fatores mediante a aplicação dos pesos 55 Figura 16 - Cálculo dos fatores de exposição física por setor 55

Figura 17 - Cálculo do InEx 56

Figura 18 - Exemplo de aplicação de amostragem estratificada 59 Figura 19 - Fase 1- Média aritmética das variáveis 60 Figura 20 - Fase 2 - Cálculo por indicador: Agregado por variáveis 60 Figura 21 - Fase 3 - Cálculo por subcategoria: Agregado por indicador 60 Figura 22 - Fase 4 - Cálculo por categoria: Agregado por subcategoria 60 Figura 23 - Fase 5 - Cálculo final do índice de vulnerabilidade social: Agregado

por categoria 61

Figura 24 - Cálculo do IVS 62

Figura 25 - Esquema de elaboração do calculo do InRisco 63

Figura 26 - ARP do modelo Phantom3 Professional 65

Figura 27 - Coleta dos pontos de controle com apoio de GNSS 66 Figura 28 - Etapas do processamento das imagens de ARP 67

Figura 29 - Diferença entre o MDT e o MDS 68

Figura 30 - Depósitos litorâneos praiais 69

Figura 31 - Depósitos aluvionares de canal 70

Figuras 32 A e B - Depósitos eólicos litorâneos vegetados (A) e não vegetados

(B) 70

Figuras 33 A e B - Planície fluvial (A) e Planície costeira (B) 71 Figuras 34 A e B - Lagoa do Cassaco (A) e falésia (B) 72

Figura 35 - Rio Maceió 72

Figura 36 - Rio Maceió (Centro da cidade) 73

Figura 37 - Lagoas do bairro Frei Damião 73

Figura 38 - Lagoas do assentamento São Sebastião 74

Figura 39 - Poluição no rio Maceió 75

Figura 40 - Neossolos Quartzarênicos 75

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do Norte no dia 06/07/2018

Figura 43 - Ocupações próximas a lagoas sazonais 83

Figuras 44 A e B - Antiga área do centro da cidade de Touros - 1960 (A); atual

área do centro da cidade de Touros (B) 85

Figura 45 - Evento de inundação ocorrido entre os dias 6 e 8 de julho de 2018 89 Figura 46 - Transbordamento da Lagoa do Cassaco, conjunto Frei Damião 89 Figura 47 - Fenômeno climático dos CCM, 7 de Julho de 2018 90 Figura 48 - Invasão de água em residências e nas ruas 91 Figuras 49 A, B e C - Barricadas na frente de suas casas com madeira (A); Móveis elevados com tijolos (B) e Marca do muro quebrado durante a inundação após restauração (C)

91

Figura 50 - Canais abertos para escoamento de água 92 Figuras 51 A e B - Bombas da CAERN (A) e do exército retirando a água da área

inundada (B) 93

Figura 52 - Surgimento de rachaduras nas casas 93

Figura 53 - Níveis dos fatores de exposição física a inundações 95 Figura 54 - Níveis dos fatores de exposição física a inundações 96

Figura 55 - Setor 4 97

Figura 56 - Setor 5 98

Figuras 57 A e B – Setor 12 (A); aterramento da lagoa (B) 98

Figura 58 - Setor 10 99

Figuras 59 A e B - Setor 13 (A); Setor 14 (B) 100

Figura 60 - Características das áreas 100

Figuras 61 A e B - Setor 1 (A); Setor 3 (B) 101

Figura 62 - Setor 11 101

Figura 63 - Mapa do índice de exposição a inundações 103 Figura 64 - Mapa de Suscetibilidade (Frei Damião) 105

Figura 65 - Dejetos presentes na lagoa 105

Figuras 66 A e B - Problemas estruturais como rachaduras em paredes (A);

Comprometimento de calçadas (B) 106

Figura 67 - Mapa da capacidade de lidar (Frei Damião) 107 Figuras 68 A e B - Casas mais baixas que a rua (A) e Muretas construídas na

entrada da casa (B) 108

Figuras 69 A e B - Elevação da residência (A e B); Substituição dos móveis de

madeira por de alvenaria (C) 108

Figura 70 - Mapa da capacidade de adaptação (Frei Damião) 109 Figura 71 - Mapa do índice de vulnerabilidade social (Frei Damião) 111 Figura 72 - Mapa da suscetibilidade (Rio Maceió – Centro) 112 Figura 73 - Canais que lançam dejetos das residências nos rios 112

Figura 74 - Bueiro 113

Figura 75 - Mapa da capacidade de lidar (Rio Maceió – Centro) 114 Figura 76 - Casas mais altas nas proximidades do rio 115 Figura 77 - Mapa da capacidade de adaptação (Rio Maceió – Centro) 116 Figura 78 - Degradação do rio destacada pela presença de aguapés 117 Figura 79 - Mapa do índice de vulnerabilidade social (Rio Maceió - Centro) 117

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Figura 82 - Mapa da capacidade de lidar (São Sebastião) 120

Figura 83 - Calçadas mais elevadas que o entorno 121

Figura 84 - Mapa da capacidade de adaptação (São Sebastião) 122 Figura 85 - Mapa do índice de vulnerabilidade social (São Sebastião) 123 Figuras 86 A e B - Lagoas sazonais (A); solo encharcado (B) 124 Figura 87 - Mapa do índice de risco a inundação no setor Frei Damião 126 Figura 88 - Mapa do índice de risco a inundação no setor Frei Damião 126 Figura 89 - Marca dos canais abertos durante a inundação 127 Figuras 90 A e B - Obras inacabadas de muretas/elevação das residências ou de

suas respectivas calçadas 128

Figura 91 - Mapa do índice de risco a inundação no setor Rio Maceió (Centro) 130 Figura 92 - Mapa do índice de risco a inundação no setor São Sebastião 132 Figuras 93 A e B - Água acumulada (A); acúmulo de água nas áreas com

calçamento (B) 132

Figura 94 - Canais para o escoamento da água 133

Figura 95 - Simulação de inundação em potencial no setor Frei Damião 135 Figura 96 - Simulação de inundação em potencial no setor Rio Maceió (Centro) 136 Figura 97 - Simulação de inundação em potencial no setor São Sebastião 137 Figura 98 - Sucessão de etapas para gestão do risco de desastres 139

Figura 99 - Valas verdes 143

Figura 100 - Telhados verdes 143

Figura 101 - Poços de infiltração 144

Figura 102 - Exemplo de Boca de lobo apropriada a área de estudo 145

Figura 103 - Pluviômetro 149

Figura 104 - Placa de sinalização 150

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Critérios de da sede municipal de Touros-RN 42 Quadro 2 - Fatores de exposição física a inundações 52

Quadro 3 - Indicadores de vulnerabilidade social 58

Quadro 4 - Levantamento das áreas prioritárias 66

Quadro 5 - Formações vegetais 75

Quadro 6 - Danos relacionados a eventos de inundações 86 Quadro 7 - Causas das inundações nos setores delimitados 140 Quadro 8 - Exemplos práticos de medidas estruturais e não-estruturais 141

LISTA DE GRÁFICOS

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Cálculo do Índice de exposição física a inundações 47 Tabela 2 - Cálculo da amostragem pela quantidade de residência das áreas

prioritárias 56

Tabela 3 - Cálculo do Índice de risco à inundação e seus valores máximos e mínimos padronizados (valores máximos e mínimos por setor) 59 Tabela 4 - Resultado do Fexp para estabelecer áreas prioritárias 64 Tabela 5 - Índice de exposição física a inundações 102 Tabela 6 - Resultados dos InRisco mais altos para o setor Frei Damião 125 Tabela 7 - Resultados dos InRisco mais altos para o setor Rio Maceió (Centro) 129 Tabela 8 - Resultados dos InRisco mais altos para o setor São Sebastião 131 Tabela 9 - Número de residências atingidas por setor 138

LISTA DE SIGLAS

ARP - Aeronave Remotamente Pilotada CCM - Complexo Convectivo de Mesoescala

CPRM - Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais DRIB - Disaster Risk Indicators in Brazil

EMBRAPA - Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

GEORISCO - Grupo de pesquisa em dinâmicas geoambientais, riscos e ordenamento do território IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e estatística

IDEMA - Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte INEX - Índice de Exposição

INMET - Instituto Nacional de Meteorologia INPE - Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais INRISCO - Índice de Risco

IVS - Índice de Vulnerabilidade MDS - Modelo Digital de Superfície MDT - Modelo Digital de Terreno RN - Rio Grande do Norte

SEMUT - Secretaria Municipal de Tributação SIG - Sistemas de Informações Geográficas

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte ZCIT - Zona de Convergência Intertropical

GNSS - Global Navigation Satellite System FEXP - Fatores de exposição física a inundações SAAE - Serviço autônomo de água e esgoto

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1 INTRODUÇÃO 14

2 BASES TEÓRICAS E CONCEITUAIS 18

2.1 A perspectiva sistêmica e a análise dos riscos 18

2.2 Os riscos na ciência geográfica e o ordenamento do território 24

2.3 Riscos e perigos 27

2.3.1 Inundações, enchentes e alagamentos: Uma distinção conceitual 30

2.4 Vulnerabilidade social e os desastres 32

3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS 38

3.1 Setorização da sede municipal de Touros – RN 41

3.2 Produção cartográfica e atividades de campo da pesquisa: técnicas e

operacionalização 47

3.3 Índice de Exposição Física A Inundações – INEX 51

3.4 Índice de Vulnerabilidade Social – IVS 57

3.5 Índice de Risco – INRISCO 63

3.6 Elaboração e utilização dos modelos digitais e seu suporte para os

estudos de inundações em áreas urbanas 64

4 CARACTERIZAÇÃO DA SEDE MUNICIPAL DE TOUROS/RN 69

4.1 Aspectos ambientais 69

4.2 Aspectos socioeconômicos 78

4.3 Condicionantes naturais e sua relação com as inundações 79

4.4 Histórico de inundações na área de estudo 84

5 ÍNDICE DE RISCO DE INUNDAÇÃO (INRISCO) NA SEDE

MUNICIPAL DE TOUROS – RN 95

5.1 Índice Exposição Física A Inundações (INEX) na sede municipal de

Touros – RN 95

5.2 Índice de Vulnerabilidade Social (IVS) na sede municipal de

Touros/RN 104

5.2.1 Frei Damião 104

5.2.2 Rio Maceió (centro) 111

5.2.3 São Sebastião 118

5.3 Índice de Risco de Inundação (INRISCO) 124

5.4 Simulações de inundações em potencial 135

6 PROPOSIÇÃO DE AÇÕES E MEDIDAS MITIGADORAS DE

IMPACTOS RELACIONADOS À OCORRÊNCIA DE

INUNDAÇÕES 139 6.1 Medidas estruturais 141 6.2 Medidas não-estruturais 147 7 CONSIDERAÇÕES FINAIS 151 REFERÊNCIAS 156 APÊNDICES 164

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1 INTRODUÇÃO

Na atualidade vislumbra-se o amplo debate sobre as questões ambientais, alertando para a necessidade de conscientização da sociedade sobre as consequências do processo histórico de sua materialização espacial. O fato é que, por muitas vezes, o planejamento não tem a velocidade suficiente para acompanhar a dinâmica social, de modo a corroborar na ocupação desordenada do território e, por conseguinte, contribuir com o surgimento dos mais diversos tipos de riscos. De acordo com Castro et al. (2005), o risco pode ser considerado, de forma simples, estando vinculado a um acontecimento que pode ou não se realizar. Entretanto, a existência de um risco só se constitui quando há a valorização de algum bem, seja ele material ou imaterial, pois não há risco sem a noção de que se pode perder algo.

As temáticas que permeiam os estudos de risco têm se tornado cada vez mais relevantes, além de serem mais frequentemente citadas, principalmente no contexto das mudanças climáticas em relação à exposição e a adaptação face aos eventos extremos. A complexidade de situações de riscos sociais e ambientais tende a aumentar, principalmente se forem ignoradas. Desta forma, podem ficar ainda mais difíceis de serem antecipadas, avaliadas e comunicadas (IPCC, 2012).

Seguindo essa linha de raciocínio, vale ressaltar que o uso desigual do solo acabou criando uma hierarquia, pela qual define socioespacialmente que parcela da população habita determinada área em detrimento de outra. Esse processo de segregação resultou na ocupação de áreas consideradas de risco em decorrência de suas restrições de usos mediante a dinâmica natural do meio.

A concepção do risco envolve a ideia de incerteza, ou seja, algo que tem possibilidade de ocorrer. Os riscos, em sua essência, levam em consideração a relação entre as características da dinâmica natural do meio físico e às peculiaridades da população que habita nas áreas as quais sofrem influência dessa dinâmica.

A vulnerabilidade social é um aspecto fundamental para compreender o risco. Isso se deve ao fato de que, cada grupo ou sujeito desenvolve as suas capacidades de prever, lidar e se adaptar a um desastre, envolvendo uma sucessão de fatores que determinam o grau pelo qual é posta em risco a vida de alguém por algum tipo de evento passível de ser identificado que ocorre na natureza ou na sociedade (BLAIKIE, 1991, p. 9).

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A vulnerabilidade social considera desde a prestação de serviços públicos relativos à infraestrutura de saneamento básico até as características particulares das pessoas que vivem em determinada área, tais como renda e escolaridade. Assim, demonstra que abrange muito mais do que a ocorrência do fenômeno, mas sim as condições daqueles que podem sofrer danos relacionados a ele, sejam eles relativos a susceptibilidade, capacidade de lidar ou de adaptação.

Consequentemente, a compreensão dessas características deve ser feita através de procedimentos que se adaptem da melhor forma a análise das particularidades de cada área. Neste sentido, a espacialização dos fenômenos e a sobreposição de informações desempenham funções relevantes, ao garantirem a visibilidade e o conhecimento eficaz dos aspectos, bem como sua forma de configuração no espaço.

O planejamento e o ordenamento territorial, do mesmo modo que as práticas de educação ambiental associadas à possibilidade de conscientização da população, são algumas medidas que podem ser tomadas na perspectiva da redução de risco de desastres, primordialmente pelo fato de que a prevenção e mitigação destes exige, por vezes, tanto ações gradativas quanto emergenciais, as quais necessitam do apoio de todos os agentes envolvidos.

Diante do exposto, este estudo busca questionar: como se caracteriza a relação estabelecida entre os fatores de exposição à inundações e a vulnerabilidade social na sede municipal de Touros-RN? O referido município está situado no litoral do Estado do Rio Grande do Norte (RN), fazendo divisa com municípios de São Miguel do Gostoso, Rio do Fogo, Pureza, João Câmara e Parazinho (FIGURA 1).

A definição da área de estudos foi realizada tendo por base os históricos de inundações recentes (mais precisamente nos últimos 20 anos neste município), os quais ocasionaram diversos problemas de cunho social e ambiental decorrentes da presença de edificações nas margens de rio e lagoas, o que acabou elencando a necessidade de um estudo em escala local de tal realidade, principalmente levando em conta a propensão de recorrência desses eventos na área, além da dificuldade da população exposta em lidar e se adaptar aos mesmos.

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Figura 1 - Mapa de localização da sede municipal de Touros – RN

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Nos últimos anos, o município passou por um crescimento representativo de sua área urbana. A sede municipal alterou sua configuração com o passar do tempo, sendo que essa mudança, ocasionada pelo crescimento da cidade, acabou utilizando-se de áreas anteriormente composta por feições de origem natural em áreas com geomorfologia característica de zonas litorâneas onde os fenômenos singulares e cíclicos, agregados a vulnerabilidade das pessoas, consolidam a existência de um ambiente de risco a inundações.

Como caso prático é possível destacar, dentre os episódios de ocorrência de desastre, o exemplo da inundação ocorrida em julho de 2018, quando a prefeitura municipal determinou através do decreto nº 045 de 09 de julho de 2018, situação de emergência considerando os critérios agravantes da situação de anormalidade mediante a inundação. Dentre eles, podemos destacar: A vulnerabilidade da população local e do cenário afetado.

Neste sentido, considerando sua problemática, esse estudo tem como objetivo geral avaliar a relação estabelecida entre os fatores de exposição à inundação, bem como a

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vulnerabilidade social da população na sede municipal de Touros, RN. Para atender a este objetivo da pesquisa foram delimitados outros específicos, os quais consistem em:

 Relacionar os cenários de inundações com os condicionantes naturais do município;  Estabelecer, a partir da elaboração e aplicação de índices, os níveis de exposição física a inundações;

 Verificar a vulnerabilidade da população local a eventos de inundação; e

 Propor ações e medidas mitigadoras que visem diminuir os impactos relacionados à ocorrência de inundações.

Desta forma, a elaboração desta dissertação parte da hipótese de que os habitantes com alta vulnerabilidade social, ou seja, as pessoas mais susceptíveis e com menor capacidade de lidar e de se adaptar aos eventos de inundações, estão residindo em zonas com restrições de uso. Isso faz com que os efeitos ou resposta aos processos naturais em decorrência dos padrões de ocupação do solo, formem áreas de risco de desastres.

A pesquisa justifica-se pelo retorno social que poderá gerar, servindo como base para o poder público representado pela prefeitura (aqui incluindo as secretarias municipais e a defesa civil), auxiliando na elaboração de medidas mitigadoras de impactos relacionados a inundações, tanto em suas ações emergenciais quanto em longo prazo. Somado a isso, é elencado o fato de que os dados do trabalho ora desenvolvidos podem facilitar na elaboração de políticas públicas efetivas, como obras para minimização dos impactos de inundação, e medidas de educação ambiental, com foco na conscientização e na orientação das famílias em caso de desastres. Para tanto, deve ser considerado a intensidade e a localização do fenômeno. Abordando especificamente o município norteador desta pesquisa, é possível perceber que, nos momentos atuais, apresenta alguns sinais concernentes as consequências dos usos inadequados de áreas de lagoas e margens de rios.

Por isso, a identificação da vulnerabilidade da população, atrelada à compreensão dos fatores físicos de exposição a inundações, fornecerão conhecimento da dinâmica das áreas de risco, permitindo prevenção e mitigação de impactos da área em estudo, assim como fornecimento de suporte a população na recuperação de prováveis eventos que podem ocasionar desastres.

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2 BASES TEÓRICAS E CONCEITUAIS

2.1 A perspectiva sistêmica e a análise dos riscos

Quando se trata de compreender o ambiente natural em sua relação mais próxima com a vida do ser humano, se faz necessário destacar que ambos fazem parte de um sistema, cujas ações podem desencadear diversos eventos geradores de diferentes impactos e variadas consequências. A ciência geográfica deve ordenar seus estudos a partir de uma ideia de totalidade. Conforme proposto por Christofoletti (1987), a Geografia Física não deve estudar os componentes da natureza isoladamente, mas investigar a unidade resultante da integração e as conexões existentes nesse conjunto.

Nesse sentido, o biólogo Ludwig Von Bertalanffy publicou a obra "Teoria Geral dos Sistemas", na qual discute as diversas concepções do conceito de “sistema”, sendo útil para qualquer direcionamento das ciências. A referida teoria, em sentido restrito, procura derivar da definição geral do ‘sistema’ como complexo de componentes em interação, conceitos característicos das totalidades organizadas (tais como interação, soma, mecanização, centralização, competição, finalidade etc.), e aplicá-los a fenômenos concretos (BERTALANFFY, 1975).

Contrariando um lógica que por muito tempo compreendeu as partes para explicar o todo, foi possível perceber uma complexidade muito maior na relação entre elas que aquela oriunda das informações fornecidas por fragmentos isolados sob os quais não era possível ter acesso aos resultados condizentes com a realidade.

O significado da expressão um tanto mística “o todo é mais do que a soma das partes” consiste simplesmente em que as características constitutivas não são explicáveis a partir das características das partes isoladas. As características do complexo, portanto, comparadas às dos elementos, parecem “novas” ou “emergentes” (BERTALANFFY, 1975, p.83).

Nesse sentido, a análise sistêmica surgiu com o objetivo de fornecer informações que ajudavam a explicar problemas mais complexos da natureza, os quais progressivamente não era mais possível justificar por uma única variável, reconhecendo assim que associar seus elementos seria indispensável no processo de entendimento do todo.

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Os sistemas foram definidos como conjuntos de elementos que se relacionam entre si com certo grau de organização, procurando atingir um objetivo ou uma finalidade (BERTALANFFY, 1950). Em relação às organizações, o que acontece em um processo, por exemplo, pode modificar ou afetar outros, e como resultado, o sistema como um todo (BERTALANFFY, 2008).

Os sistemas passam a ser estudados em virtude das relações entre as unidades que os compõe e o seu nível de organização. Não se trata de realizar uma análise fragmentada e, sim, partindo de um grau de sistematização o qual permita assumir a função de um todo que, por sua vez, é maior que a soma de suas partes (CHRISTOFOLETTI, 1979).

De acordo com Chorley e Kennedy (1971), um sistema é um conjunto organizado e composto por objetos e seus atributos, os quais são formados por componentes ou variáveis que exibem relações diversas uns com os outros e operam associadamente com um todo maior em sua complexidade de acordo com determinado modelo.

“Um sistema é qualquer conjunto ordenado e inter-relacionado de coisas e seus atributos, conectados por fluxos de energia e matéria, distinto do ambiente circundante fora do sistema” (CHRISTOPHERSON, 2012, p.5). A partir deste entendimento, o sistema carrega consigo elementos principais de variadas proporções dentro de sua hierarquia. Porém, em uma lógica integradora, todos eles possuem relevância no funcionamento deste. Assim, a importância se dará de forma variada, oscilando à medida que se leva em consideração a escala de análise espacial e temporal.

Dentro desse conceito, é possível identificar claramente que a geografia, seja ela em qualquer abordagem precisa compreender o espaço de forma sistemática, indissociável e como um ambiente onde existe inter-relação por parte dos agentes que o integram. Nas palavras de Bertalanffy (1975, p.53):

É necessário estudar não somente partes e processos isoladamente, mas também resolver os decisivos problemas encontrados na organização e na ordem que os unifica, resultante da interação dinâmica das partes, tornando o comportamento das partes diferentes quando estudado isoladamente e quando tratado no todo. Destarte, para entender o sistema, é necessário um olhar dinâmico, que procure apreender tanto a totalidade das relações e dos fenômenos que são verificados em determinado espaço como as principais interações que ocorrem entre eles. Tal abordagem deve ser associada a uma concepção da realidade empírica, visto que esse entendimento tende a ser melhor analisado observando as suas especificidades in loco.

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A análise sistêmica prioriza sua compreensão através das interações existentes em um sistema ambiental, levando em consideração a forma como este se estrutura e qual sua dinâmica de funcionamento, tornando mais forte a ligação entre as características existentes em um sistema. Vale salientar que cada qual possuem suas peculiaridades, ao mesmo tempo em que estabelecem certa relação de interdependência entre as mesmas (CRISPIM, 2011).

Para Ross (2010), os sistemas ambientais naturais submetidos às ações antrópicas apresentam maior ou menor fragilidade devido às suas particularidades intrínsecas. Tal fenômeno é percebido levando em consideração os elevados índices de explorações ambientais alicerçados pelo consumismo excessivo humano.

Sendo assim, o ser humano entra como parte desse sistema ambiental. Suas ações, práticas cotidianas, processos os quais surgiram em decorrência da apropriação e da modificação do território tendem a ser integrantes de uma realidade interligada que desencadeia consequências em escala gradativa de acordo com aquilo que lhe foi exposto.

Ao delimitar os fenômenos, as escalas temporais e espaciais de análises, uma função relativamente complexa é a identificação dos elementos desse sistema e, consequentemente, o papel desempenhado por cada um deles dentro deste, além da compreensão de como se dá - ou não - a troca ou a entrada de matéria e energia. A vista disso, os sistemas podem ser caracterizados como sendo isolados ou não. Sendo assim, pode-se dizer que:

Sistemas isolados são aqueles que, dadas as condições iniciais, não sofrem nenhuma perda nem recebem energia ou matéria do ambiente que os circundam [...]. Os sistemas não-isolados mantêm relações com os demais sistemas do universo no qual funcionam podendo ser subdivididos em: Fechados, quando há permuta de energia (Recebimento e perda), mas não de matéria [...] Abertos, são aqueles nos quais ocorrem constantes trocas de energia e matéria, tanto recebendo como perdendo (CHRISTOFOLETTI, 1980, p. 3).

Um sistema é caracterizado por: a) seus elementos e/ou unidades que o estruturam; b) suas inter-relações, ou seja, os elementos que dependem um dos outros, através de ligações que configuram sua dinâmica; c) seus atributos: características e qualidades associadas a um sistema para que se possa dar-lhe aspectos variados, tais como comprimento, área, volume, composição ou densidade dos fenômenos identificados; d) entrada (input); e e) saída (output) (CHRISTOFOLETTI, 1979).

Os sistemas naturalmente exercem comportamentos variados de seus elementos considerados dentro ou fora dele. Em outras palavras, aquilo que entra e sai de cada um. Por isso,

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estudos sobre riscos naturais podem recorrer a essa teoria, primordialmente pela possibilidade de atender a vinculação da percepção do ser humano associada aos condicionantes naturais que o cercam.

“Quando decidimos qual será o sistema a ser investigado, definindo os seus elementos e as suas relações, torna-se mais fácil delimitá-lo no espaço e distinguir as suas unidades componentes interligadas pelas relações internas” (FARIAS, 2002, p. 25). Delimitar um sistema significa balizar aquilo que se propõe a compreender dentro dele, é o caso, por exemplo, dos estudos de risco, que em geral se propõe a abranger a influência e a relação do homem com seu meio, elencando as consequências que se destacam no espaço.

A abordagem dos riscos, principalmente no âmbito da geografia, necessita de uma observação dos sistemas como unidades ambientais e da forma como cada elemento que permeia o espaço estabelece funções dentro dele. Essas funções emitem características que os classificam dentro de determinado sistema.

Os sistemas apresentam entrada (input) e saída (output), respectivamente. A entrada é constituída por aquilo que o sistema recebe, ou seja, é o que o sistema importa do meio ambiente para ser processado. Cada sistema é alimentado por determinados tipos de entradas. As entradas recebidas pelo sistema sofrem transformações em seu interior, e depois são encaminhadas para fora. A saída é o resultado final do processamento de um sistema (LOPES et al., 2015, p. 2). Assim sendo, temos que o input é a entrada, isto é, aqueles fatores externos cuja ação ou a existência integram o sistema e são fundamentais na definição da intensidade dos processos que agirão sobre ele antecedendo o output, ou seja, a saída, compreendida como o resultado do processamento das relações dentro dele.

Um sistema tende a manter-se em equilíbrio a partir da identificação de seus fenômenos dentro de uma visão cíclica, buscando retornar a seus moldes iniciais. Porém, essa concepção não deve ser vista como regra absoluta, até porque se houver alguma anormalidade no input do sistema é provável que haja uma desordem ou um desequilíbrio dentro dele.

Nessa lógica, existem eventos que de maneira geral tendem a trazer certa alteração no equilíbrio do sistema – a exemplo das inundações -, as quais, tecnicamente, não seguem uma lógica constante e se configuram como eventos súbitos, sem nenhuma certeza do momento de sua ocorrência.

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A análise dos eventos raros de baixa frequência e elevada magnitude, representa outro aspecto no estudo das características das entradas e saídas. Todo fluxo através do sistema provoca algum efeito, mas essas mudanças variam grandemente com a intensidade da entrada. (CHRISTOFOLETTI, 1979, p. 63) Dentro da observação da natureza sistêmica do ambiente devem ser considerados atributos cuja compreensão exige a noção do equilíbrio das partes dentro desse sistema, desde a entrada (Input), processamento e saída (Output) do mesmo. Sendo assim, um exemplo de sistema em que a relação harmônica entre os fatores naturais e sociais são fundamentais em uma análise holística eficiente é a representação de um sistema hidrológico (FIGURA 2).

Figura 2 - Esquema de representação de um sistema hidrológico

Fonte: Elaborado pelo autor (2018).

Para compreender como esse sistema está funcionando é necessário assimilar primeiramente o input, quer dizer, a água, que compõe a entrada, esta em forma de precipitação pluviométrica, que associada ao equilíbrio entre as características naturais e os padrões de uso e ocupação do solo tendem a sair (output) em determinado momento por circunstâncias naturais como evapotranspiração, escoamento e infiltração ou de maneira intencional por parte da ação antrópica, como o uso de bombas por exemplo.

Com o passar do tempo, esse sistema passa por uma fase de adaptação integrando um ciclo que acompanha as mudanças tanto do meio físico, quanto da sociedade. Nesse sentido,

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Christofoletti (1979, p.63) afirma que “Quando o evento de entrada ultrapassa o limiar compatível com a organização do sistema, há profunda alteração e o sistema a tende a se reajustar”.

A alteração brusca dos elementos do sistema desencadeia certa desordem, a qual pode se configurar como um desastre dependendo de uma série de fatores naturais e sociais. Diante desse raciocínio, a fundamentação teórica habita na concepção de que os desastres naturais resultam da interação dos impactos físicos e a sensibilidade dos sistemas ambientais, bem como na vulnerabilidade da sociedade (CHRISTOFOLETTI, 1999).

Diante do exposto, o surgimento de áreas de risco alerta para a necessidade de cuidados, visto que à medida que o risco se materializa, aumenta a probabilidade da ocorrência de eventos de natureza danosa, os quais culminam em perdas diversas para o ser humano. Muitas destas são irreparáveis (como é o caso da perda de vidas humanas). Nesse contexto, o poder público, agente responsável pela garantia de segurança da população, precisa tomar frente e preocupar-se com situações como a supracitada.

Na concepção de Veyret (2007), o risco é indissociável da política. A tomada de decisão referente ao ordenamento do território, divisão de bens, utilização dos recursos, equivale a fazer apostas sobre o futuro, ou seja, a projetar cenários e simulações. Tais cenários estão fundamentados sob um contexto que envolve não só a gestão, mas, também, a elaboração de políticas públicas e, sobretudo, a definição da estrutura da sociedade imposta.

A apreensão integrada da forma como a organização social está posta fornece subsídios efetivos na solução de problemas ligados as áreas de risco, sendo fundamental no processo de planejamento urbano uma gestão de risco mais eficaz que pense medidas idealizadas para minimizar e atenuar os impactos relacionados a um eventual desastre. É importante destacar que a materialização do risco tende a se refletir na relação natureza-sociedade, onde é possível uma complexa interação entres seres humanos e os eventos naturais. Sendo assim, analisar os riscos naturais e desastres exige a compreensão tanto dos sistemas ambientais quanto sociais.

É, principalmente, pela necessidade do ser humano em se adaptar e interagir com a natureza que a abordagem sistêmica, ao possibilitar a compressão do todo interagindo com as partes é fundamental para a gestão e o planejamento de áreas de risco. Neste sentido, vale ressaltar que a realidade não se resume a limitação imposta por suas partes compreendidas de forma isolada, mas sim pela complexidade oriunda da conexão entre elas.

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2.2 Os riscos na ciência geográfica e o ordenamento do território

Desde o desenvolvimento da Geografia enquanto ciência no século XIX há interesse pela compreensão da interface homem-natureza, dos quais na pós-modernidade surgiram os estudos alusivos aos riscos. Tais estudos preocupam-se justamente com as características e as consequências da apropriação e influência das ações humanas no espaço.

Em decorrência do crescimento urbano desordenado e sem o devido planejamento no que se refere ao uso do solo, alguns danos oriundos dessa forma de ocupação da superfície surgem, podendo gerar prejuízos diretos a sociedade, sobretudo àquela parcela da população financeiramente mais limitada.

Nessa perspectiva, Marandola e Hogan (2005, p.3) afirmam: “Os estudos geográficos acerca do risco receberam tratamento especial dos pesquisadores preocupados com fenômenos naturais que, em situações extremas, causavam danos e expunham as populações ao perigo”. Desta forma, pode-se enfatizar que o pensamento do geógrafo atua justamente na possibilidade de representação espacial e na perspectiva de análise integrada, procurando associar os fenômenos e suas atribuições dentro do ambiente.

Segundo Mendonça (2011), a expressão espacial dos riscos é uma das principais dimensões de interesse das sociedades. Os riscos são espacial e temporariamente estabelecidos. Nesse sentido, não se trata de abordá-los isoladamente, ou seja, no âmbito apenas natural ou social, mas sim sobrepor aos elementos que compõe o espaço geográfico.

É nessa perspectiva que o risco se fortalece como geográfico. Suas configurações e influências na composição e estruturação do território permitem a essa ciência entender não só os fenômenos de forma fragmentada, mas sim seu comportamento, causas e efeitos, levando em conta uma maior variedade de elementos que configuram o espaço.

O risco é uma construção social. Em outras palavras, é uma percepção humana de um indivíduo ou grupo de indivíduos da possibilidade de ocorrência de um evento potencialmente perigoso e causador de danos, no qual as consequências se dão de acordo com a vulnerabilidade inerente dos mesmos (ALMEIDA, 2011).

Nesse contexto, é indispensável reconhecer que como conceito, a dimensão do risco leva em consideração uma diversidade de variáveis, principalmente no âmbito da geografia,

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justamente pelo fato da conexão entre o homem e a natureza ser tão complexa e dinâmica em relação à classificação das condições humanas.

Segundo Cerri e Amaral (1998), há inúmeras formas de classificar os riscos. Uma delas tem por bases potenciais de perdas e danos ao homem. Essa forma considera os riscos ambientais como classe maior, subdividindo-os em classes e subclasses que visam fornecer subsídio para uma análise ambiental que se preocupa com as influências do homem sobre o espaço, bem como com as forças naturais do meio. A classificação dos riscos ambientais (FIGURA 3), analisada a partir de uma perspectiva geográfica, permite perceber o ambiente abrangendo tanto as feições naturais quanto as de razão social, as quais se subdividem em: riscos tecnológicos, sociais e naturais.

Figura 3 - Classificação dos riscos ambientais

Fonte: Adaptado de Cerri e Amaral (1998).

O risco social como categoria pode ser analisado por variáveis distintas. No entanto, muitas das vezes são entendidos como o dano que uma sociedade - ou uma parcela dela - pode causar (HEWITT, 1997). Em síntese, são aqueles que remetem a problemas sociais resultantes

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das condições de vida da população e, consequentemente, a ausência dos serviços que lhe são basicamente necessários como, por exemplo, saúde, saneamento básico, emprego, renda e diversos outros fatores relativos aos cidadãos que serão, ou não, beneficiados com tais recursos.

Os riscos tecnológicos estão associados a eventos que tendem a gerar danos ou consequências diretas em detrimento de desastres desencadeados pelos resultados das ações humanas, elencando falhas de ordem antrópica. Assim, envolve desde estruturas ou obras que podem ser comprometidas (como o risco de colapso de pontes ou barragens, por exemplo), até vazamentos ou contaminações por produtos tóxicos.

Os riscos naturais podem ser entendidos como aqueles que dizem respeito à condição natural e dinâmica do meio físico, cuja variabilidade pode causar eventos capazes de gerar prejuízos de forma repentina, temporária ou duradoura. Segundo Egler (1996), o mesmo está associado ao comportamento dos sistemas naturais e a sua dinâmica, considerando o grau de estabilidade e de instabilidade observado pela exposição a eventos de curta ou longa duração.

A diminuição dos efeitos oriundos dos riscos ambientais necessita de um conhecimento pelo qual abrange diretamente as características naturais presentes no território e, consequentemente, dos aspectos os quais o homem lhe impôs. Seguindo esse mesmo raciocínio, é possível mensurar que, apenas a partir dessas dimensões, é possível observar o território como algo a ser ordenado, buscando a minimização dos danos de ordem social, econômica e natural, permitindo uma análise empírica tangível.

Analisar concretamente o território significa entendê-lo como um produto da história da sociedade, e que, portanto, está em constante modificação. Ele é resultado de um processo de apropriação de um grupo social e do quadro de funcionamento da sociedade, comportando, assim, ao mesmo tempo, uma dimensão material e cultural dadas historicamente (MACHADO, 1997, p. 27). Nessa perspectiva, Raffestin (1993) esclarece que o território é resultado das ações dos atores sociais que o compõe. São eles que produzem o território partindo da realidade inicial preexistente que é o espaço. Há, portanto, um processo que cria o território, no qual se manifestam todas as espécies de relações de poder.

Reconhecendo o território como uma unidade dinâmica e em constante estado de modificação pelo ser que se apropria e que naturalmente possui a capacidade de transformá-lo, salienta-se que os estudos em risco e vulnerabilidade são indispensáveis nessa categoria de análise. Isso se deve ao fato de que os usos inapropriados e desregulados são geradores de

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problemas graves, sejam elas para a sociedade ou para o meio físico. De modo a exigir o emprego coerente de políticas públicas, as quais tenham como função alcançar um desenvolvimento que mantenha o equilíbrio em sua estruturação, essas aplicações comumente são chamadas de ordenamento do território.

O ordenamento territorial é uma forma singular de uso do território que apresenta um arranjo de objetos sociais, naturais e culturais historicamente estabelecidos. Mas esse ordenamento não é apenas condição social de reprodução da ordem capitalista. Pode ser também uma ferramenta de planejamento e execução de políticas públicas (POLETTO, 2008, p.50).

Esse território construído, visto como herança de transformações sociais, econômicas, culturais e até mesmo de ordem natural, é o ambiente em que a interação homem/meio tende a elencar os aspectos relativos à exposição do ser humano sob suas próprias ações. Nessa perspectiva, compreender o território na concepção do risco significa incluir a relevância deste em termos de grandeza dentro do espaço.

As compreensões da dinamicidade do ambiente e do ordenamento do território mostram-se ferramentas indispensáveis na geografia. Vale ressaltar que essa ciência historicamente preocupa-se em entender o espaço com suas especificidades e inter-relações, as quais exercem influência umas nas outras em um sistema que não pode - nem deve - ser compreendido de forma fragmentada.

A geografia tem frequentemente se preocupado com os estudos de risco e sua representação no território. Por meio desta, permite que cada vez mais os pesquisadores se dediquem a esse tipo de análise, desenvolvendo pesquisas em um viés direcionado para uma abordagem pela qual não se volta apenas à compreensão do meio natural, mas sim da sua relação constante com a sociedade.

2.3 Riscos e perigos

Os estudos sobre riscos e perigos tendem constantemente a ganharem evidência, visto que são realizados de forma multidisciplinar, cujos resultados são bastante aplicáveis. Ademais, contribuem para a análise de diversos ambientes ativos que sofrem modificações constantes por sua dinâmica natural e como consequência do processo da ocupação humana.

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Segundo Cardona (2003), o termo "risco" é bastante complexo, principalmente por estar relacionado diretamente a algo que remete ao acaso ou a possibilidade, visto que ainda não foi percebida concretização em danos e perdas. É, a vista disso, imaginário, de difícil apreensão e algo mentalmente e intimamente associado com o subjetivo.

Ademais, os riscos são alusivos a uma construção histórico-social. A definição das populações em situação de risco aborda um processo que estabeleceu o território como ele está posto, e essa construção ocorre heterogeneamente. A situação socioeconômica das pessoas é um dos principais fatores que determina o surgimento de áreas de risco, tendo em vista que se trata de locais onde o capital imobiliário não é investido (a exemplo das zonas periféricas e/ou espacialidades com restrições ambientais). Esses espaços acabam sendo ocupados por pessoas que detém um menor poder aquisitivo obrigadas a viverem em espaços marginalizados das cidades.

[...] risco é um complexo, e, ao mesmo tempo, um conceito curioso. Ele representa algo irreal em relação à mudança aleatória e a possibilidade, com algo que ainda não aconteceu. É imaginário, difícil de entender e nunca pode existir no presente, apenas no futuro. Se houver certeza, não há risco. O risco é algo em mente, intimamente relacionado com a psicologia pessoal ou coletiva (CARDONA, 2004, p. 47).

Em outras palavras, o conceito supracitado faz menção a uma abstração da realidade, sendo referente a projeção de algo com potencialidade de acontecer. Assim, não consiste em algo materialmente existente e palpável. Não se remete a uma certeza, e sim a uma eventualidade.

O risco se configura na probabilidade de que algum evento aconteça, na concretização de algo. A intensidade de seu impacto pode adquirir aspectos de desastre, especialmente no espaço urbano em sua diversidade, a qual pode ser densamente habitada e ocupada irregularmente, o que tende a potencializar os efeitos danosos (PASCOALINO; ALMEIDA, 2009).

Assim, a compreensão do risco existe naturalmente intrínseca ao ser humano na sua própria existência enquanto ser social. Isso porque ela está correlacionada tanto a fatos concretos, os quais convergem na possibilidade de que coisas possam ou não acontecer ao indivíduo, quanto a percepção dos mesmos sobre suas exposições em situações que podem lhe causar algum tipo de dano. Nesse direcionamento, Veyret (2007) destaca que o risco é a percepção de um indivíduo -ou grupo de indivíduos – quanto da probabilidade de ocorrência de um evento potencialmente perigoso e causador de danos em suas variadas formas de materialização.

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Por conseguinte, os riscos também são perceptivos e surgem atrelados a visão de mundo daquele que lhe observa e sente seus impactos. Nesta linha de raciocínio, Veyret (2007) destaca que o risco não existe sem um indivíduo ou população que o perceba e que possa sofrer seus danos.

Em consorciação, Beck (2008) destaca que as ameaças e inseguranças de maneira geral são condicionantes da própria existência humana, uma vez que a noção de “risco” passa a ser incorporada à condição de incerteza, insegurança e ausência de proteção nas esferas econômica, ambiental, social e cultural. Neste sentido, as perspectivas multifacetadas dos riscos envolvem uma abordagem sistêmica, visto que naturalmente quem está em risco está exposto a algo, e é nessa lógica que é importante esclarecer o que viria a ser o risco.

Pode ser compreendido como sendo a probabilidade de consequências prejudiciais ou perdas esperadas (mortes, ferimentos, a propriedade, meios de subsistência, a atividade econômica interrompida ou ambiente danificado) resultantes de interações entre os riscos naturais ou induzidas pelo homem e as condições vulneráveis (UN-ISDR, 2004, p. 16).

Por esse ponto de vista, Castro et al. (2005) releva que o risco pode ser visto como uma categoria analítica associada a noção de incerteza, exposição a algum perigo, perdas e prejuízos, sejam eles materiais, econômicos ou humanos, em função de processos de ordem “natural”. O risco em si refere à probabilidade de ocorrência de algum evento no tempo e no espaço, e pode ou não ser constante à medida que afeta, direta ou indiretamente, a vida humana.

Desse modo, a partir das concepções expostas anteriormente, é possível simplificar que: o risco é resultado da proporção entre o perigo e a vulnerabilidade, onde “P” (perigo ou ameaça) é o próprio evento ou fenômeno perigoso, e “V” é a vulnerabilidade de um indivíduo ou grupo de indivíduos. Para estabelecer o nível ou a existência do risco, matematicamente atribui-se a fórmula: R = P x V, onde R = Risco, P = Perigo e V = Vulnerabilidade (WISNER et al. 2012).

Destarte, no direcionamento aqui descrito, a concepção do risco virá acompanhada da compreensão do perigo e da vulnerabilidade, estando a primeira relacionada a exposição ao fenômeno desencadeador, e a segunda as condições daqueles que estão expostos. Contudo, vale esclarecer que, apesar de se aproximar do risco, o conceito de perigo possui significado distinto. Enquanto o primeiro refere-se à percepção humana, o segundo está atrelado ao evento passível de ocorrer.

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Assim, os riscos estão sempre atrelados as potenciais perdas materiais e prejuízos diretos ao ser humano. Por isso, o entendimento do vínculo entre o mesmo e a noção de perigo torna-se necessária na discussão que busca fomentar uma orientação do significado e do uso correto dos termos.

Nas literaturas, encontramos que o perigo é: "uma ameaça potencial para os seres humanos e seu bem-estar" (SMITH, 1992, p.6). Em outras palavras, trata-se de uma condição ou fenômeno com potencial de ameaçar a vida humana, a saúde, a propriedade ou os elementos da natureza, trazendo consequências desagradáveis (FERNANDES; ROCHA, 2007).

O perigo remete-se a tudo aquilo que pode gerar danos, seja direta ou indiretamente. Sendo assim, tendem a atingir qualquer parcela da sociedade, a depender praticamente da sua localização geográfica e do aparato técnico disponível pela mesma. Todavia, é notório que a maior parte daqueles que sofrem com os perigos são os habitantes mais necessitados, em conformidade com suas respectivas moradias, situadas em áreas periféricas da cidade e em condições de vulnerabilidade elevadas. Assim, Tominaga et al. (2009, p. 15) ressalta:

Os perigos naturais ameaçam igualmente qualquer pessoa, mas, na prática, proporcionalmente, atingem os mais desfavorecidos devido a uma conjunção de fatores: há um número muito maior de população de baixa renda, vivendo em moradias mais frágeis, em áreas mais densamente povoadas e em terrenos de maior suscetibilidade aos perigos (TOMINAGA et al., 2009, p.15).

Neste sentido, o perigo é uma ameaça baseada na ocorrência de um fenômeno. Essa ameaça é parte da estruturação da sociedade contemporânea considerando sua possibilidade de ocorrência. Ressalta-se, também, que o processo de urbanização e os avanços advindos da modernidade trouxeram novas configurações ao ambiente de maneira geral. Ao mesmo tempo, tal realidade aproximou os laços de convivência social com a constante probabilidade de ocorrência de eventos potencialmente danosos.

2.3.1 Inundações, enchentes e alagamentos: Uma distinção conceitual

Exemplos práticos de perigos recorrentes são as inundações. Estas são recorrentes porque seguem certa periodicidade considerando a dinâmica do leito fluvial, que ao alcançar altos níveis em seu volume pode transbordar. Fazem referência a eventos que constituem perigos naturais. No entanto, vale ressaltar que apenas oferecem risco, ou se configuram como um perigo, a partir do

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momento que existe população em nível de exposição. Essas ocorrem em áreas cuja dinâmica hidrológica influencia no aumento de corpos hídricos acima de seu leito normal, gerando danos diretos a sociedade local. É válido destacar que esse conceito ainda é, muitas vezes, confundido com os eventos de enchentes e alagamentos (FIGURA 4). Porém, suas definições são distintas.

Figura 4 - Diferenciação entre alagamentos, enchentes e inundações

Fonte: Adaptado de Brasil (2007).

Resumidamente, alagamento é um fenômeno de acúmulo de águas em uma área pela qual apresenta problemas no sistema de drenagem urbana. Já a inundação, conceitualmente, é o aumento do nível dos rios além do seu leito normal. Esta última se configura quando ocorre um transbordamento das águas sobre as áreas próximas ao curso do rio, atingindo a planície de inundação ou áreas de várzea (BRASIL, 2007).

É preciso se fazer a distinção entre os conceitos de cheia ou enchente e de inundação. A enchente é o fenômeno que ocorre quando há aumento do nível de água de um rio em razão de fortes precipitações periódicas, mas sem transbordamento de seu leito menor ou leito de cheia. Já a inundação se dá quando há o transbordamento d’água para além do leito de cheia e há a ocupação do leito maior ou planície fluvial (ALMEIDA, 2010, p. 134).

Vale esclarecer que a subida do nível de um corpo hídrico é uma condição natural desse sistema. Assim, essa oscilação dentro de um ambiente sem alterações não configura como um desastre. Este somente ocorre quando os seres humanos habitam essas áreas e expõe-se ao risco diante das mais diversas razões.

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As inundações são muito antigas se considerada a história da humanidade. O ser humano sempre buscou se localizar próximo dos rios para usufruírem de seus recursos, alimentação e abastecimento de água. Essas áreas mais próximas, normalmente, são planas. Tal condição torna estes espaços propícios para a ocupação humana (TUCCI, 2003).

Mattedi e Butzke (2001) destacam que algumas pesquisas mostraram que os habitantes de áreas de risco, apesar de perceberem os eventos como uma ameaça, habitualmente não atribuem seus impactos a fatores sociais. Isso é comum com problemas urbanos, como é o caso as inundações. Sendo assim, apesar das pessoas perceberem o rio como uma ameaça, costumam associar a destruição e o comprometimento de suas residências a força da natureza e não a forma de ocupação do espaço.

Obviamente, não é coerente atribuir o acontecimento de um desastre às ações que a natureza executa, visto que a sua dinâmica é um processo natural pelo qual se modifica de acordo com uma sazonalidade constante. A ocorrência de chuvas, por exemplo, não é a causadora dos desastres, tendo em vista que a origem desse fenômeno é social e surge a parir do momento em que o ser humano se apropria de determinadas áreas com o provável potencial de lhe oferecer algum risco.

No entanto, é fundamental ao buscar entender a possível eminência de um desastre analisar as características naturais locais. Bem como sua dinâmica, procurando apreender seu funcionamento, assim como os condicionantes para a materialização do risco, visando a prevenção e mitigação dos possíveis impactos e problemas socioambientais gerados.

O fato é que, a partir do momento que o risco se concretiza e são identificados danos a sociedade (materiais ou imateriais), surge o desastre, o qual pode se tornar mais efetivo se a vulnerabilidade das pessoas for elevada e, de acordo com a proporção, pode vir a se tornar o que se conceitua como catástrofe.

2.4 Vulnerabilidade social e os desastres

Existem incontáveis formas de se definir vulnerabilidade. É caracterizada normalmente por seus aspectos direcionados ao objetivo de determinado estudo, o resultado que almeja ser alcançado e, obviamente, as especificidades do que se quer conhecer em nível de escala, temporal ou espacial, bem como as particularidades da área de estudo.

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Dentre as ciências ambientais, os estudos sobre vulnerabilidade tendem a contribuir para o entendimento das circunstâncias que põem as pessoas sob algum tipo de risco, da mesma forma que permitem a concepção dos condicionantes os quais reduzem a habilidade com que as pessoas e os lugares podem responder às ameaças do meio, ou seja, reduzem sua resiliência (CUTTER, 2003).

Fundamentalmente, é possível dizer que a vulnerabilidade é a predisposição de ordem física, econômica, política ou social que uma determinada comunidade tem de ser afetada ou de sofrer algum tipo de dano, causado por um fenômeno desestabilizador de ordem natural ou antrópica (CARDONA, 2004).

Diante disso, a necessidade de investigar a vulnerabilidade, associada à exposição a perigos naturais, está associada a busca pela diminuição dos impactos frente a probabilidade de um desastre iminente. De fato, essa categoria abrange tanto características dos indivíduos, quanto de seu grupo social, ao considerar os fatores socioeconômicos que restringem diretamente sua capacidade mediante a ocorrência de um evento capaz de causar danos ou perdas.

De certo modo, a vulnerabilidade social é parcialmente o produto das desigualdades - os fatores sociais que influenciam ou moldam a suscetibilidade de vários grupos para prejudicar e que também regem a sua capacidade de responder (CUTTER et al., 2003). Nessa perspectiva, Tapssel et al. (2010, p.13) ainda reforça que:

[...] vulnerabilidade social é muitas vezes um produto de desigualdades e causas externas aos perigos naturais e não relacionadas com o tipo de perigo. Além disso, do ponto de vista estratégico, o tipo de perigo também pode ser considerado irrelevante, pois as principais preocupações para todos os riscos são evitar a perda de vidas, danos, perdas financeiras, etc (TAPSSEL et al., 2010, p. 13).

Desse modo, conhecer a vulnerabilidade como aspecto social exige do observador a consciência de que esta surge vinculada a noção da desigualdade social e, consequentemente, as capacidades da população de se estabelecer frente à estruturação da sociedade. Ademais, o pesquisador deve ter claro em sua mente o fato de que a mesma está relacionada a exposição dos indivíduos a uma variedade de fenômenos de naturezas diversas, a qual podem resultar na perda de algo ou algum prejuízo em potencial.

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É válido esclarecer que as diferenças econômicas, de poder, de status, etc., entre os grupos sociais estão refletidas no espaço, determinando ou, pelo menos, influenciando decisivamente onde os membros de cada grupo podem viver (SOUZA, 2005).

Quase sempre existiram grupos que, devido a sua pobreza, sua etnia ou a outros fatores eram forçados a viverem em certas áreas (geralmente menos atraentes e bonitas, menos dotadas de infraestrutura, mais insalubre e etc.), sendo, na prática ou até formalmente, excluídos de certos espaços, reservados para as classes e grupos dominantes (SOUZA, 2005, p.68).

Sendo assim, a desigualdade social e as diferenças econômicas geram segregação e, consequentemente, forçam determinadas parcelas da população (sobretudo as mais pobres) a viverem em determinadas áreas periféricas da cidade onde existem riscos de variadas razões e de distintas intensidades.

No entanto, pode-se dizer que existem áreas de risco as quais comportam uma população com baixo índice de vulnerabilidade e, consequentemente, áreas com alta vulnerabilidade que não estão em zonas de risco. Por isso, se faz importante identificar como esse aspecto inerente às pessoas se comporta no espaço geográfico, de modo a servir como instrumento lógico que dá suporte a tomada de decisões frente ao ordenamento do território.

Campos (1999) afirma que o conceito de vulnerabilidade é negativo, pois se refere, principalmente, a certas qualidades e fraquezas ou impotência de um grupo social no enfrentamento de ameaças específicas. Essa afirmativa é reforçada à medida que Narváez et al. (2009) sugerem que a vulnerabilidade configura-se enquanto à predisposição dos seres humanos, seus meios de vida e suporte dos mecanismos de danos e perdas para a ocorrência de eventos físicos potencialmente perigosos.

Corriqueiramente, a vulnerabilidade se destacou no âmbito da compreensão da condição subjetiva das pessoas, pelo qual tende a permitir que um determinado perigo se consuma como um desastre. Porém, a sua definição ainda são temas constante de debates no meio científico atual. O conceito de vulnerabilidade tem sido continuamente ampliado, passando a apresentar uma abordagem mais abrangente ao incluir a exposição, suscetibilidade, capacidade de lidar e de adaptação, buscando relacioná-las com as diferentes áreas temáticas - tanto de natureza física, social, econômica, quanto ambiental (BIRKMANN, 2006).

Segundo Blaikie et al. (1994, p. 11) “Por vulnerabilidade, entendemos as características de uma pessoa ou grupo e sua situação que influenciar a capacidade de antecipar, lidar, resistir e

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se recuperar do impacto de um risco natural (um evento ou processo natural extremo)”. Desse modo, compreender a vulnerabilidade exige um entendimento particular do que é real, visto que considerando base conceitual utilizada, ela irá se fragmentar em três partes: susceptibilidade, capacidade de lidar e capacidade de adaptação.

Segundo Almeida, Birkmann e Welle (2016) a susceptibilidade se refere a comunidades ou elementos expostos (infraestrutura, ecossistemas, capacidade econômica, nutrição, etc.) nos quais os tornam mais propensos a experimentar danos e serem afetados negativamente por um risco natural ou pela mudança climática. Já a capacidade de lidar se refere a uma resposta direta ao impacto de um determinado evento de risco, o que implica na reação imediata durante uma crise ou desastre. Por fim, a capacidade de adaptação diz respeito à competência de um grupo ou sociedade, organização e sistemas, usando ferramentas e recursos disponíveis para enfrentar e gerenciar emergências, desastres ou condições adversas que possam levar a um processo prejudicial causado por um fenômeno perigoso.

Neste sentido, o risco é o produto de potencial perigo associado às condições de vulnerabilidade de uma população exposta pela qual o perigo intenso e a alta vulnerabilidade levam ao desastre. Assim, reduzir o risco implica considerar tanto os aspectos sociais quanto os físicos (VINCHON et al., 2011), vindo a exposição ser representa pela análise do fenômeno físico e sua relação com o ambiente, e a vulnerabilidade o produto da associação entre suscetibilidade, capacidade de lidar e de se adaptar a um eventual desastre. Sendo assim, a partir das concepções previamente discutidas é possível estabelecer um modelo esquemático da relação conceitual entre risco, perigo e vulnerabilidade (FIGURA 5).

Diante do exposto, a ocorrência de um desastre natural está sempre associada às perdas (sejam elas econômicas, sociais ou ambientais). Neste contexto, adota-se o termo risco, o qual pode ser considerado com a probabilidade de consequências prejudiciais ou perdas resultantes da interação entre perigos naturais e o ambiente (UNDP, 2004).

Tobin e Montz (1997) conceituam desastres como sendo o resultado de eventos adversos os quais causam impactos na sociedade, sendo distinguidos principalmente em função de sua origem, isto é, da natureza do fenômeno que o desencadeia. Assim, o desastre surge justamente ao considerar-se as consequências diretas da materialização do risco na sociedade, ou seja, perdas materiais (destruição de residências danos a patrimônios em geral) e imateriais (vidas).

Referências

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