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Condicionantes naturais e sua relação com as inundações

4 CARACTERIZAÇÃO DA SEDE MUNICIPAL DE TOUROS/RN

4.3 Condicionantes naturais e sua relação com as inundações

As condições ambientais são fundamentalmente deflagrantes de desastres quando associadas a estrutura organizacional da sociedade, justamente pelo fato desta não respeitar os limites dos condicionantes naturais e de sua dinâmica habitual. Tal fato gera um desequilíbrio na relação entre o homem e o meio físico.

As inundações, por exemplo, são problemas urbanos constantes em áreas as quais o homem se apropriou inadequadamente em decorrência do seu desenvolvimento enquanto sociedade, principalmente, considerando sua construção histórica advinda dos primeiros povoamentos humanos, sobretudo, nas planícies de inundação de corpos d’água. Viver nas margens de rios, lagoas e corpos hídricos, em geral, é assumir um risco. A sensação constante de medo de um provável evento repentino pode lhe causar danos.

Estes eventos podem ocorrer devido ao comportamento natural dos rios ou ampliados pelo efeito de alteração produzida pelo homem na urbanização em função da impermeabilização das superfícies e a canalização dos rios (TUCCI, 2003). O fato é que as causas das inundações são de ordens diversas, sendo indispensável para uma pesquisa identificar essas causas e caracterizar como os condicionantes naturais podem ser determinantes na probabilidade de ocorrência desses fenômenos, os quais só se configuram como um desastre pela presença do ser humano nessas áreas.

Segundo Amaral e Ribeiro (2009, p. 45), a probabilidade e a ocorrência de inundação, enchente e de alagamento são analisadas pela combinação entre os condicionantes naturais e antrópicos. Entre os condicionantes naturais destacam-se:

a) Formas do relevo;

b) Características da rede de drenagem da bacia hidrográfica; c) Intensidade, quantidade, distribuição e frequência das chuvas; d) Características do solo e o teor de umidade;

O estudo desses condicionantes naturais permite observar e compreender a dinâmica do escoamento da água nas bacias hidrográficas (vazão) de acordo com o regime de chuvas conhecido e, por consequência, estimar a relação que este pode ter com eventuais consequências a vida da população (AMARAL; RIBEIRO, 2009, p. 45). As condições naturais são aquelas cuja ocorrência é propiciada pela bacia em seu estado natural. Algumas dessas condições são: relevo, tipo de precipitação, cobertura vegetal e capacidade de drenagem (TUCCI, 2003).

A priori, é importante destacar que a área de estudo, localizada em um ambiente costeiro, é formada por planícies e possui um relevo é plano ou pouco ondulado marcado pela presença de dunas. Tucci (2003) afirma que quando o relevo é acidentado as áreas mais propícias à ocupação são as planas e as mais baixas, justamente aquelas que apresentam alto risco de inundação.

A várzea de inundação de um rio cresce significativamente nos seus cursos médio e baixo, onde a declividade se reduz e aumenta a incidência de áreas planas. Em geral, área de topografia mais plana, próximas de cursos d’água, com elevado grau de impermeabilização do solo e em cotas próximas ao nível do mar, terá uma maior propensão para sofrer com inundações e alagamentos (MIRANDA, 2016). Nesse contexto, é importante ressaltar que mis do que razões sociais ou estruturais existe um processo de ocupação das áreas próximas aos recursos hídricos de forma cultural.

Para a análise prática do objeto de estudo em questão, é necessário ter clareza da dinâmica dos corpos hídricos do rio Maceió e da lagoa do Cassaco, ambos na sede municipal de touros. Trata-se, pois, de uma estratégia fundamental na caracterização e identificação do risco de inundação, visto que a exposição do meio a geração de vazões as quais extravasem o leito do rio, dando origem a inundações, depende de como os condicionantes naturais e antrópicos estão dispostos pela bacia. Isso implica diretamente na transformação da precipitação em escoamento superficial, no processo de escoamentos gerados e na criação de áreas propícias ao acúmulo de excedentes hídricos (MIRANDA, 2016).

Os aspectos climáticos são, provavelmente, os mais ativos agentes influenciadores das inundações. Quando os índices de precipitação são mais intensos, a quantidade de água penetrante num corpo d'água é maior que sua capacidade de drenagem natural ocasiona a inundação das áreas circunvizinhas, devido ao extravasamento das águas sob seu limite de equilíbrio.

Segundo Tucci (2003), quando os índices de precipitação são mais elevados, o solo não tem capacidade de infiltrar toda a água. Grande parte do volume acaba escoando para o sistema de drenagem, superando sua capacidade natural de escoamento. O volume excessivo que não é capaz de ser devidamente drenado preenche a várzea do leito fluvial, inundando de acordo com a topografia das áreas adjacentes. Esses eventos ocorrem aleatoriamente, variando de acordo com os processos climáticos locais e regionais (TUCCI, 2003, p.45).

Neste sentido, observar como essa precipitação ocorre, a partir da distinção do fenômeno atmosférico a qual ela está atribuída, permite diferenciar chuvas concentradas em poucas horas ou chuvas duradouras, bem como entender o papel de cada uma dessas frente aos potenciais impactos e problemas socioambientais gerados.

Um dos fenômenos mais significativos na geração de altos índices de precipitação anuais na área de estudo é o Complexo convectivo de mesoescala (CCM). Esse fenômeno traz fortes chuvas em um curto período de tempo como, por exemplo, o fenômeno ocorrido no leste do RN no dia 06/07/2018 (FIGURA 42).

Este sistema de mesoescala trouxe precipitações concentradas, causando altos índices pluviométricos por todo o litoral do estado. Segundo a defesa civil municipal, em Touros foram registrados 200 mm de chuva apenas em dois dias (quer que sejam, 7 e 8 de julho de 2018). Foram gerados diversos transtornos para a população, sobretudo para aquelas que habitavam áreas pelas quais margeiam lagoas.

A cobertura vegetal tem como efeito a interceptação de parte da precipitação podendo gerar escoamento e a proteção do solo contra a erosão. A perda desta cobertura para uso agrícola tem produzido, como consequência, o aumento da frequência de inundações devido à falta de interceptação da precipitação e ao assoreamento dos rios (TUCCI, 2003).

A cobertura vegetal é um condicionante natural importante, principalmente pela sua capacidade atenuante de alguns impactos, bem como seu importante papel na manutenção dos ecossistemas. No entanto, considerando que a sede municipal de Touros está densamente ocupada, as áreas de vegetação são escassas e os remanescentes das espécies são poucos. Portanto, deve-se ressaltar que chuvas de maior intensidade ou maiores durações tendem a favorecer a saturação dos solos, o que eleva o escoamento superficial e a concentração de água nas encostas e vales. A vegetação também é um fator relevante, isto porque auxilia na retenção de agua no solo e diminui a velocidade do escoamento, minimizando os níveis de erosão (REIS et al., 2012, p. 34).

Figura 42 - Complexo convectivo de mesoescala ocorrido no leste do Rio Grande do Norte no dia 06/07/2018

Fonte: INPE (2018).

O estudo dessas condicionantes naturais permite perceber a dinâmica do escoamento da água nas bacias hidrográficas (vazão), de acordo com o regime de chuvas. A planície de inundação, também denominada várzea, é uma área pela qual, periodicamente, será atingida pelo transbordamento dos cursos d’água, constituindo, portanto, uma área inadequada à ocupação (REIS et al., 2012).

No entanto, pelas mais diversas razões, essas áreas têm sua fiscalização e controle negligenciados, Isso mostra justamente que ela exige um ordenamento territorial e uma delimitação dos usos possíveis para os espaços. Desta forma, a periodicidade nos níveis de água nas planícies de inundação faz com que o ser humano, com menores condições financeiras, considerando o barateamento dos lotes de terreno, ocupe essas áreas e habite-as.

A sequência de anos sem enchentes é razão suficiente para que as áreas inadequadas sejam loteadas e posteriormente vendidas a preços mais baixos. Esta pode ser destacada como uma das ações as quais levam a ocupação em áreas de risco: a invasão de áreas ribeirinhas pela população de baixa renda (SANTOS, 2012).

A sede municipal de Touros possui um problema grave com relação ao planejamento e ordenamento do território da cidade, principalmente relacionado a ocupação em área de lagoas sazonais, Isso porque o processo de urbanização acelerado intensificou a dificuldade da gestão em lidar com o surgimento de zonas que podem oferecer algum risco a população local. É claramente perceptível a evolução desse processo com o surgimento de ocupações muito próximas aos limites das lagoas (FIGURA 43). Podemos pegar como exemplo o Bairro Frei Damião. Nos últimos anos, aquilo que outrora já foram lagoas, se tornou áreas habitadas, sem o devido planejamento e gestão relacionados aos riscos.

Figura 43 - Ocupações próximas a lagoas sazonais

Fonte: Imagens Google Earth (2014 e 2018).

Dentre os anos de 2014 a 2018, o volume das lagoas diminuíram de forma considerável (FIGURA 43). Essa mudança se deu pela oscilação dos regimes pluviométricos com o passar dos anos. Consequência direta disso é a diminuição do volume das lagoas, deixando o solo exposto e fazendo com que os proprietários vendessem como áreas passíveis de serem ocupadas.

Sendo assim, o conhecimento acerca dos condicionantes naturais é vital para o presente estudo. Isso porque considera diretamente sua relação com a iminência dos riscos a inundações. Seguindo essa linha de raciocínio, vale salientar que a existência deste permeia a associação das informações de exposição ao fenômeno físico e as características da população susceptível, atrelada a suas capacidades mediante um desastre.