• Nenhum resultado encontrado

4 CARACTERIZAÇÃO DA SEDE MUNICIPAL DE TOUROS/RN

4.1 Aspectos ambientais

O município de Touros encontra-se inserido, geologicamente, na Província Borborema, sendo constituído pelos sedimentos da Formação Jandaíra, do Grupo Barreiras (ENb), dos depósitos Colúvio-eluviais (NQc), de Dunas Inativas (Qd), e dos depósitos Litorâneos (Q2l) e Aluvionares (Q2a) (CPRM, 2005). Recobrindo estas unidades, ocorrem os depósitos marinhos, praiais, eólicos e aluviais do Quaternário (BARRETO et al., 2004).

Adaptando este recorte para a sede municipal de Touros algumas outras composições se destacam, podendo, assim, identificar unidades geológicas como: Depósitos litorâneos praiais, depósitos eólicos litorâneos vegetados e não vegetados, e os depósitos aluvionares de canal. Os depósitos litorâneos praiais (FIGURA 30) são caracterizados pela presença de sedimentos no ambiente, desenvolvendo-se em locais altamente dinâmicos e, por isto, sofrendo retrabalhamento constante por processos marinhos, eólicos e fluviais (AMARAL, 2014).

Figura 30 - Depósitos litorâneos praiais

Os depósitos aluvionares de canal (FIGURA 31), segundo Amaral (2014), correspondem a areias quartzosas com granulação na fração de areia fina a muito grossa presentes nas margens dos canais fluviais, cuja dinâmica de deposição sedimentar se dá pela ação dos rios. As características desses sedimentos estão diretamente associadas à decorrência da ação da água.

Figura 31 - Depósitos aluvionares de canal

Fonte: Foto de Erick Jordan (2019).

Os depósitos eólicos litorâneos vegetados (FIGURA 32 A) e não vegetados (FIGURA 32 B) correspondem, respectivamente, aos depósitos de Dunas Fixas ou Paleodunas, podendo ser entendidos como sendo sedimentos eólicos quaternários atualmente fixados pela vegetação natural; e as dunas as quais sofrem deslocamento em função da constante ação eólica e a ausência de cobertura vegetal (AMARAL, 2014).

Figuras 32 A e B - Depósitos eólicos litorâneos vegetados (A) e não vegetados (B)

Fonte: Google Maps (2015).

O relevo da área de estudo, em consonância com o substrato geológico que o embasa, é abundante em formas naturalmente presentes em ambientes sedimentares. Cunha et al. (1990)

destacou as unidades geomorfológicas a seguir no setor costeiro Maxaranguape-Touros/RN: planície de deflação, dunas móveis, dunas fixas (cordões e corredores interdunares), superfície de aplainamento, vales (vertentes, planície de inundação e terraços), lagoas e falésias.

Considerando o recorte espacial proposto, pode-se afirmar que a sedimentação dos materiais localizados na área é um dos processos mais importantes na origem das formas presente nesse ambiente, principalmente porque esses sedimentos poder ser oriundos de sistemas deposicionais fluviais, eólicos, lacustres, transicionais e de origem marinha. Os mesmos se localizam nos setores rebaixados do relevo onde os processos de agradação se tornam predominantes em comparação aos de dissecação, ou seja, as áreas de planície. Sendo assim, a unidade a qual essas coberturas tendem a formar são as planícies costeiras e fluviais. Em outras palavras, áreas em que o relevo é prioritariamente plano (DINIZ et al., 2017).

A partir dessas informações, é possível identificar na sede municipal formas geomorfológicas como a planície fluvial (FIGURA 33A), planície costeira (FIGURA 33 B), lagoas como, por exemplo, a do Cassaco (FIGURA 34 A), falésias (FIGURA 34 B) e dunas as quais desempenham importante papel na dinâmica do município, seja como valor turístico e paisagístico ou como social, elencando os possíveis usos desempenhados pelas mesmas.

Figuras 33 A e B - Planície fluvial (A) e Planície costeira (B)

Figuras 34 A e B - Lagoa do Cassaco (A) e falésia (B)

Fonte: Erick Jordan (2018; 2019).

No tocante as características relacionadas aos recursos hídricos, o principal curso fluvial presente na sede de Touros é o rio Maceió (FIGURA 35), o qual se configura como um dos afluentes oriundos da bacia hidrográfica do boqueirão. De acordo com Cruz (2010), este último recobre uma área equivalente a 220 Km². O destaque também se observa na presença de lagoas perenes e intermitentes distribuídas por toda a área da sede municipal.

Figura 35 - Rio Maceió

Fonte: Erick Jordan (2019)

No centro da cidade o rio Maceió (FIGURA 36) se destaca como principal corpo hídrico, dotado de habitações muito próximas à margem do curso fluvial. Nas adjacências, lagoas sazonais chamam atenção por sua dinâmica de aumento e diminuição da sua vazão. Algumas destas se localizam no bairro Frei Damião (FIGURA 37) localizado ao norte da sede municipal, e

outras se encontram no assentamento São Sebastião (FIGURA 38), próximo a área central do município.

Figura 36 - Rio Maceió (Centro da cidade)

Fonte: Elaborado pelo autor, imagens cedidas por Lutiane Almeida (2019). Figura 37 - Lagoas do bairro Frei Damião

Figura 38 - Lagoas do assentamento São Sebastião

Fonte: Elaborado pelo autor, imagens cedidas por Lutiane Almeida (2019).

No entanto, apesar do rio Maceió ser o único curso fluvial perene que cruza a sede municipal, sua conservação e preservação foi há tempos negligenciada. Esta realidade pode ser notada na forma como são lançados resíduos por parte da população local, reforçando a perspectiva de que a poluição no rio Maceió (FIGURA 39) possa estar em um nível avançado. Esse mesmo problema ocorre nas lagoas, ambientes onde os moradores constantemente usam como depósito de lixo, lançando os detritos e esgotos diretamente sem nenhum tratamento, elencando a falta de cuidado com o meio em que vivem.

O município apresenta características de solos relativamente homogêneos, com predominância dos neossolos quartzarênicos (FIGURA 40). Tal classe compreende solos areno- quartzosos profundos, com baixos teores de argila (equivalente a menos de 15% dentro em 2m de profundidade). Trata-se, pois, de solos ácidos com baixa saturação de bases e alta a média saturação com alumínio trocável. Têm fertilidade natural muito baixa (LIMA, 1996).

No que remete aos aspectos da vegetação, o município de Touros possui formações específicas relacionadas à sua localização geográfica as quais remetem a aspectos típicos de um ambiente litorâneo com vegetações compostas por Caatinga Hipoxerófila, Cerrado, Campo de Várzea, e Formação de Praias e Dunas (Quadro 5).

Figura 39 - Poluição no rio Maceió

Fonte: Erick Jordan (2019). Figura 40 - Neossolos Quartzarênicos

Fonte: Erick Jordan (2018). Quadro 5 - Formações vegetais

Tipo de vegetação Características

Caatinga Hipoxerófila árvores com espinhos e de aspecto menos agressivo doVegetação de clima semi-árido apresenta arbustos e que a Caatinga Hiperxerófila. Entre outras espécies, destacam-se a Catingueira, Angico, Braúna, Juazeiro,

Marmeleiro, Mandacaru, Umbuzeiro e Aroeira. Cerrado intercaladas de árvores e/ou arbustos. Frequente emVegetação aberta com predomínio de gramíneas

áreas de clima tropical.

Campo de Várzea cursos d’água constituída, principalmente, por espécies.Vegetação que ocorre nas várzeas úmidas e periferia de Destacam-se o Junco, Baronesa e Periperi. Formação de Praias e Dunas Vegetação nativa fixadora de sedimentos arenosos

Na área de estudo, a cobertura vegetal é composta por espécies arbustivas de Caatinga Hipoxerófila, vegetações de várzeas (FIGURA 41 A) nas margens de corpos hídricos, e Formação de Praias e Dunas com vegetação fixadora dos sedimentos arenosos (FIGURA 41 B).

Figuras 41 A e B - Vegetação de várzeas (A); Formação de Praias e Dunas com vegetação fixadora dos sedimentos arenosos (B)

Fonte: Erick Jordan (2019); Google Maps (2015).

De acordo com a classificação climática de Koppen-Geiger, o município possui um clima do tipo As, ou seja, apresenta um clima tropical chuvoso com verão seco e estação chuvosa adiantando-se para o outono. A precipitação pluviométrica detém média anual de 1.069,7mm, com período chuvoso de março a junho e temperatura média anual em torno de 26,5ºC, com umidade relativa média anual de 68% (CPRM, 2005).

Para interpretar como se configuraram os índices pluviométricos foram analisados dados históricos do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET), obtidos da estação pluviométrica de Ceará-Mirim (a mais próxima do município com disponibilidade de dados), e elaborado um gráfico de precipitação média mensal 1993 – 2019 (GRÁFICO 1).

No gráfico, é possível perceber que o período de chuvas mais intensas se inicia em março, com índices de precipitação média mensal de quase 200 mm. Após esse mês, os índices permanecem altos até meados de julho, sendo o mês de junho o momento com maiores índices de chuva durante o ano (cerca de 240 mm mensais em média), ressaltando esse período como aquele que possui maiores valores registrados de precipitação anual. Após esse momento, a partir de agosto os índices de precipitação começam a diminuir consideravelmente até o final do ano, em dezembro, onde os valores médios de chuva são de menos de 50 mm. Segundo Diniz e Pereira (2015), no RN, o único sistema de grande escala responsável por precipitações pluviométricas é a

Zona de Convergência Intertropical (ZCIT), considerando que o território potiguar não é influenciado pelas frentes frias nem por outro sistema de macroescala gerador de chuvas.

Gráfico 1 - Precipitação média mensal 1993 – 2019

Fonte: Dados do INMET (1993; 2019).

Dentre os sistemas atmosféricos atuantes se destacam os Complexos Convectivos de Mesoescala (CCMs). Estes são aglomerados de nuvens que se formam devido às condições locais favoráveis como temperatura, relevo, pressão, etc., e provocam chuvas fortes e de curta duração, normalmente acompanhadas de fortes rajadas de vento (SOUZA et al., 1998). Os CCMs atuam constantemente pelo RN. A avaliação de sua influência na geração de eventos com elevados índices de precipitação é indispensável para conhecer a sazonalidade na ocorrência de pluviosidade.

Por localizar-se na zona litorânea do estado, a sede municipal de Touros é constantemente afetada pela maritimidade atribuída a sua condição de proximidade ao oceano atlântico, o que influência na pouca variação da sua temperatura durante o ano e no aumento dos índices pluviométricos, bem como na umidade relativa do ar.

Os aspectos climáticos deram suporte importante para o trabalho. Isso porque a sazonalidade de mudanças climáticas é uma das variáveis pela qual acabou intensificando o uso do solo em área de lagoas. O destaque para sistemas atmosféricos mais repentinos os quais trazem intensas quantidades de precipitação acumulada para determinados períodos do ano. Isso

acabou fazendo com que a população durante o período seco acabasse ocupando áreas impróprias para sua habitação.

Considerando a delimitação do ambiente de estudo, pode-se descrever que as áreas de risco estão diretamente associadas as características físico-naturais. Isso porque, a falta de compreensão da perspectiva integrada do meio considerando não só aspectos físico mas também os sociais que compõe o espaço resulta em consequências adversas, as quais em sua natureza podem gerar impactos distintos paras as pessoas.