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6 PROPOSIÇÃO DE AÇÕES E MEDIDAS MITIGADORAS DE IMPACTOS RELACIONADOS À OCORRÊNCIA DE INUNDAÇÕES

6.1 Medidas estruturais

Medidas estruturais configuram-se somos sendo obras de engenharia as quais são implementadas buscando diminuir o risco associado as inundações. Essas medidas normalmente agem alterando parte da dinâmica do ambiente, e geralmente possuem custos mais elevados de serem aplicado, muitas vezes inviabilizando sua inserção em alguns municípios (TUCCI, 2005).

É fundamental esclarecer que as medidas de cunho estrutural tem a eficiência técnica e prática necessária na resolução de muitos problemas relacionados ao risco e por isso devem ser prioridades considerando as possibilidades por parte da gestão em implementá-las.

Levando isso para a base empírica trabalhada, no que diz respeito as áreas prioritárias e as medidas que melhor se aplicam a cada realidade, primeiramente é importante destacar que se tratam de áreas distintas diferentes entre si, tanto em níveis de infraestrutura urbana quanto em características ambientais. No entanto, algumas formas de minimizar o risco de inundação são procedimentos comuns e podem ser aplicados em todos os setores.

A priori, uma das medidas estruturais pela qual podem ser tomadas é a construção dos chamados reservatórios de retenção ou contenção, os quais, segundo Rocha e Ribeiro (2018), são equipamentos de acumulação provisória de águas pluviais. A construção destes em vias públicas como ruas e praças atua no sistema de microdrenagem, evitando que os acúmulos de águas nos extremos de vazão venham a causar inundações. Esses reservatórios tem função de regular a quantidade de água nos corpos hídricos evitando os picos de cheia.

Essa solução é um dos meios viáveis tanto financeiramente quanto ambientalmente, causando menores danos ambientais e auxiliando na contenção do acumulo de água. Ao aplicar nas áreas de lagoas, impediria que estas enchessem para além de seu leito normal evitando, dessa forma, o extravasamento.

Levando em consideração as características das lagoas e do rio estudados, uma medida que pode ser adotada é a dragagem desses ambientes naturais. Segundo Oliveira (2010) dragagem é o processo de retirada ou relocação de resíduos e sedimentos do fundo de um curso d’água. Essa estratégia diminuiria consideravelmente o assoreamento presente neles.

É preciso reconhecer, por outro lado, que uma das mais eficazes medidas estruturais para o controle de inundações é a cobertura vegetal. Esta tem efeito pela existência de superfícies vegetadas ao longo do corpo hídrico, tendo importante influência no ciclo hidrológico em função do amortecimento das águas e da redução do escoamento. Além disso, essa vegetação auxilia na fixação do solo evitando sua erosão, considerada um fator agravante das inundações em virtude do assoreamento dos cursos d'água (ROCHA; RIBEIRO, 2018).

A vegetação consegue armazenar parte do volume da água da precipitação. Sendo assim, quando ela é removida deixando o solo exposto ou impermeabilizado por moradias, a consequência é que as cheias aumentem e a água se acumule com mais facilidade, aumentando o risco de inundações e, consequentemente, da iminência de um desastre.

Considerando a vegetação como forma de medida estrutural aplicável na área de estuda, se propõe, inicialmente, a inserção de valas verdes (FIGURA 99) as quais consistem em “canais

superficiais lineares amplos e com inclinação, desenhados para armazenar e transportar o escoamento superficial em baixas velocidades, permitindo a sedimentação de partículas contaminantes” (ROCHA; RIBEIRO, 2018 p. 86). A construção dessas valas não seria financeiramente caro, e sua viabilidade é clara, visto que a criação de passagem para a água é algo que naturalmente tende a diminuir a vazão das lagoas e, associadas à presença de cobertura vegetal, poderia conter o escoamento e melhorar a infiltração, fazendo com que a água não se acumulasse e não aumente o seu nível, evitando grandes danos.

Figura 99 - Valas verdes

Fonte: Cartilha Geotecnia UnB (2010).

Uma estratégia possível se utilizando da cobertura vegetal seriam os telhados verdes (FIGURA 100), os quais consistem na colocação de plantas no telhado das casas, permitindo que a mesma auxilie na retenção de água da chuva evitando seu acumulo no solo. Essas soluções são financeiramente vantajosas e de fácil aplicação.

Figura 100 - Telhados verdes

Outra maneira apropriada e financeiramente viável de ser implementada em todas as áreas são o poços de infiltração (FIGURA 101), os quais segundo Barbassa et al. (2014) são sistemas com propriedade de reter precipitações pluviométricas comumente utilizados em países europeus e nos Estados Unidos com microrreservatórios de detenção, valas e trincheiras de infiltração, que ao funcionarem associados estruturam um importante rol de alternativas tecnológicas de microescala que têm como função reter água pluvial, em contraponto a parcela naturalmente escoada. Sua função é infiltrar a água, amortecendo os picos de vazão pelos quais possam atingir o sistema de drenagem e, consequentemente, diminuindo o volume do escoamento superficial direto através da retenção do volume excedente de chuva acumulado no solo.

Figura 101 - Poços de infiltração

Fonte: Santos et al. (2016).

Esse dispositivo estruturalmente consiste como uma vala perfurada no solo e revestida internamente por uma manta geotêxtil, preenchida com brita e criando um reservatório subterrâneo em condições de reter a água do deflúvio pluvial. A água que é armazenada vai se infiltrando no solo através do fundo e das paredes. Nela, a eficiência de captação é amplificada quando se instala em algumas áreas mais baixas de vias públicas (RIGHETTO, 2009).

Uma das medidas estruturais mais eficazes seria, obviamente, uma proposta de reassentamento das pessoas para outros espaços da cidade de forma mais segura, desenvolvendo políticas habitacionais e evitando que essas pessoas estejam diariamente expostas a altos níveis de risco a inundação. Esse aspecto deve considerar diretamente as condições financeiras do município em fazê-lo. Isso porque apesar de eficaz, não custa necessariamente barato para ser realizado.

Essa solução não parece, a priori, muito viável nos setores Frei Damião e Rio Maceió. Isso porque a quantidade de residências é elevada e a transferência desse número de pessoas para outro lugar custaria caro e parte da população poderia optar por não sair de suas casas. No entanto, no assentamento São Sebastião, a quantidade de casas expostas é proporcionalmente menor, ou seja, essa solução poderia ser aplicada e ajudaria a evitar problemas futuros as pessoas e até mesmo para a gestão municipal.

Segundo Martins (2012), o sistema de drenagem compreende tudo que é construído para garantir a qualidade do funcionamento do sistema viário pelo qual dá acesso as casas e terrenos. Ele é composto pelos pavimentos das ruas, guias e sarjetas, bocas de lobo (FIGURA 102), galerias de drenagem, sistemas de detenção e infiltração de água, trincheiras e valas, além de vários outros dispositivos relacionados a infraestrutura dos logradouros.

Figura 102 – Exemplo de Boca de lobo apropriada a área de estudo

A ausência total desse tipo de infraestrutura urbana nos bairros de Frei Damião e São Sebastião acabam por destacar um problema significativo. Isso porque sua falta causa o acúmulo recorrente de água nas vias de acesso e, além disso, dificulta seu escoamento pelo grau de impermeabilização das margens dos rios e das ruas. Sendo assim, a melhor solução definitiva para essas áreas seria a implantação de um sistema de drenagem o qual atendesse as necessidades do lugar. Para isso, seria necessária a construção de uma lagoa de captação que conseguisse coletar grande parte da água oriunda do transbordamento das lagoas, evitando que a inundação alcançasse as casas.

É importante ressaltar que associado à rede de drenagem funcional, essas áreas também carecem de um sistema de esgotamento sanitário, visto que grande parte dos esgotos são jogados diretamente no quintal ou nas lagoas. Por essa razão, ao ocorrer um transbordamento a mesma leva essa água contaminada a acesso com as pessoas (entre elas idosos e crianças com saúde mais fragilizadas).

Os sistemas de drenagem urbana são essencialmente de caráter preventivo a inundações, principalmente nas áreas mais baixas expostas em localidades marginais de cursos naturais de água. É evidente no que diz respeito à drenagem que os problemas se agravam em função da urbanização inadequada (ANDRADE FILHO et al., 2000).

No Rio Maceió o um sistema de drenagem está comprometido, isso porque não existem galerias para o escoamento da água oriunda dos bueiros. Estes tem como destino o próprio rio, o que eventualmente pode gerar graves problemas relacionados ao trasbordamento os quais, por esse e outros motivos, já demonstram sinais visíveis de contaminação.

Apesar de tudo, a construção de um sistema de drenagem no setor Frei Damião vem sendo prioridade para a gestão municipal em decorrência das inundações frequentes e intensas, já existindo uma proposta de plano de drenagem pelo qual ainda não chegou a ser executado.

De todos estes, cada um é ambientalmente viável da sua maneira, e não tende a ser agressivo ao meio ambiente. Além disso, são capazes de funcionar e coexistir com o meio físico evitando danos ou prejuízos sociais e ambientais. As medidas estruturais, de maneira geral, são mais vantajosas em nível de eficiência comprovada por serem construções implementadas com o direcionamento de resolver o problema. No entanto, algumas delas demandam gastos financeiros elevados. Porém, isso não exclui a possibilidade da realização de medidas mais simples e baratas, como a construção de reservatórios e a implantação de valas e telhados verdes.

Em todas as etapas de implantação dessas medidas é necessário o pensar interdisciplinar, pelo qual se preocupe em atender as peculiaridades do ambiente que por ser muito dinâmico permeia a compreensão de diversos aspectos naturais, sociais e de infraestrutura, os quais só funcionarão plenamente se todos os atores que propuserem medidas se articulem a compreender o todo da área que sofrerá a intervenção desses agentes.