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Histórico de inundações na área de estudo

4 CARACTERIZAÇÃO DA SEDE MUNICIPAL DE TOUROS/RN

4.4 Histórico de inundações na área de estudo

O Estado do Rio Grande do Norte apresentou 206 registros oficiais de inundações excepcionais caracterizadas como desastre entre os anos de 1991 e 2012. Estas envolvem tanto inundações graduais como bruscas. Trazendo para o recorte da área de estudo proposto, a sede municipal de Touros teve registros equivalente as 3 (três) maiores inundações identificadas. Foram elas nos anos de 2000, 2004 e 2009, de acordo com o atlas de desastres do Rio Grande do Norte. Tais períodos evidenciaram elevados índices de precipitação média, podendo ser identificado no gráfico 2.

Gráfico 2- Precipitação média anual 1994 – 2019

Esses índices de precipitação elevadas os quais oscilaram entre períodos de estiagem e seca e períodos úmidos acabaram por contribuir com a ocupação das várzeas dos rios e lagoas. É justamente essa periodicidade a razão pela qual as pessoas entrem em um tipo de ciclo. Tal ciclo é alternante entre momentos de perdas e de lutas para se reestabelecer e conseguir novamente o que foi perdido.

Compreender essa historicidade adota respaldo na pesquisa em escala de análise temporal, o que acaba por servir como base de referência para perspectivas comparativas em se tratando de exposição a inundações. Isso evidencia que desde muito tempo as inundações assolam a vida das pessoas, as quais na grande maioria das vezes moram em lugares próximos aos rios por escolha, enquanto outros apenas se submetem por plena necessidade.

O notório é que houve grandes mudanças na infraestrutura da cidade. Destarte, o fato mais alarmante é o adensamento populacional nas margens do rio proporcionalmente menores, quando observados os registros do passado da cidade (FIGURA 44 A). Realmente, este é um aspecto evidente no desenvolvimento dos espaços urbanos, e é isso que fundamenta o ordenamento territorial e o planejamento urbano em ter problemas enraizados. Isso fica claro em comparação com fotografias atuais (FIGURA 44 B).

Figuras 44 A e B - Antiga área do centro da cidade de Touros - 1960 (A); atual área do centro da cidade de Touros (B)

Fonte: Blog Touros praia querida (2015); Fonte: Erick Jordan (2019).

Outro aspecto que chama bastante atenção é a quantidade de feições naturais perceptíveis na paisagem. Na fotografia antiga, datada de 1960, é possível identificar uma diferença daquela dos dias atuais. Na primeira, é possível perceber a presença de campos de dunas e uma vegetação densa, arbórea e arbustiva; já na segunda se percebe poucas espécies de árvores remanescentes,

estando a vegetação das várzeas do rio em menor quantidade. Ainda, algumas partes do curso fluvial inexistem.

Certamente essas mudanças aconteceram por toda a sede. O processo de urbanização gradativamente veio se espalhando pelas áreas mais próximas do centro da cidade. Apesar de não constar nos registros de sua evolução, este fato é perceptível através de conversas com os habitantes, os quais contam com clareza o quanto mudou a forma de ocupação em margens dos rios e lagoas, explicando que em determinado momento da história aquela área era passível utilização para pesca e lazer das pessoas.

Sabendo disso, pode-se entender que todas as mudanças geram consequências de variados tipos e intensidade. A habitação das pessoas em áreas de risco de inundações gerou diversos danos as pessoas com o passar dos anos (QUADRO 6). No entanto, o mais preocupante é que, através dessa pesquisa, foi possível perceber que este é um um problema antigo e tem registros de pelo menos os últimos 30 anos. Tal constatação nos leva a seguinte reflexão: todas as gestões passadas têm seu nível de responsabilidade considerando os corriqueiros problemas com inundações na sede de touros.

Quadro 6 - Danos relacionados a eventos de inundações

Descrição da área afetada 1985 1989 2000 2002 2004 2009 Decreto nº 9.201-A e 28, de fevereiro de 1985 10.355, de 26 de

Abril de 1989 15.039, de 11 deagosto de 2000 16.114, de 14 dejunho de 2002. 17.650, de 16 dejulho de 2004 21.197, de 19 dejunho de 2009. Tipo de

ocupação Seminformações Seminformações Agrícola,residencial e turismo Residencial, comercial, industrial, turismo Residencial e

agrícola Residencial eturismo Localização

geográfica Seminformações Seminformações A cidade detouros em sua sede e os distritos de: Cajueiro, Boqueirão, Cajá, Santa Luzia, Carnaubinha, Boa Cica, Aractai e Lagoa de Serra verde Sede municipal de Touros e distrito de Cajueiro Todas as comunidades rurais e a área urbana do município de touros Zona Urbana: Conjunto Frei Damião: Zona Rural: Canudos, Baixa Funda, Arribão, Lagoa de Serra Verde e assentamentos: Quilombo dos Palmares, Planalto do Retiro, Cajá, Chico Mendes I e Chico Mendes 11. Distrito de Cajueiro, Distrito de Boa

Cica. Causas do

desastre Seminformações Seminformações Precipitaçãopluviométrica, inundações litorâneas provocadas pela brusca invasão do mar Avanço do nível

do mar Alta precipitaçãopluviométrica decorrente da constante precipitação de nuvens, tornando o período chuvoso irregular, comprometendo, assim, a comunidade, causando danos ambientais e sociais As fortes chuvas de 1.047,50 mm, registradas no período de 1 de janeiro à 25 de maio de 2009,provocou inundações e alagamentos, gerando danos e prejuízos nas áreas mais baixas do município. Danos humanos

e materiais Seminformações Seminformações 140 pessoasdesalojadas, 56 deslocadas, 196 afetadas e 44 residências estruturalmente danificadas Residenciais populares e infraestrutura pública 201 pessoas desalojadas, 24 deslocadas, 2 enfermas e 6 afetadas 35 pessoas desalojadas, 40 deslocadas e 500 afetadas. 11 residências danificadas, 1 escola, obras de arte e infraestrutura pública Danos

ambientais Seminformações Seminformações Sistema deesgotamento sanitário, rios, lagoas e erosão do solo

Sem danos

ambientais Sem danosambientais Sem danosambientais

Prejuízos econômicos e sociais

Sem

informações Seminformações Casas e vias detransportes danificados Afetou o comércio local, o turismo e a desvalorização das residências expostas Agricultura: Fruticultura e produção de grãos e leguminosas, além de 50 km de vias de transporte danificadas Agricultura: Fruticultura e produção de grãos e leguminosas e o abastecimento de água por mananciais comprometido Critérios

agravantes Seminformações Seminformações Despreparo dadefesa civil local e grau de vulnerabilidade das famílias

Despreparo da defesa civil local e grau de vulnerabilidade das famílias

Despreparo da defesa civil local e grau de vulnerabilidade das famílias

Despreparo da defesa civil local e grau de vulnerabilidade das famílias Nível de intensidade do desastre Sem

informações Seminformações III - Grande II - Médio III - Grande III - Grande

Fonte: Sistema de informações integradas sobre desastres (S2ID) e prefeitura municipal de Touros (2019). Pode-se perceber um registro histórico que, ao longo dos anos, vem gerando prejuízos e ainda nada foi feito para efetivamente minimizar os danos. Dessa forma, o risco se torna algo a ser convivido frequentemente. Estas áreas são expostas a inundações corriqueiramente, estando a população à mercê e, muitas vezes, comprometendo a sua própria qualidade de saúde.

A causa tradicionalmente foi atribuída ao meio natural de forma equivocada. Isso porque o desastre só foi capaz de se materializar em decorrência da forma de habitação das pessoas e os outros padrões de uso da terra. Nesse contexto, o poder público agiu para emitir decretos de calamidade buscando ajuda para lidar com os problemas de nível estadual e federal.

Critérios agravantes sempre são os mesmos. Um aspecto preocupante que se nota é o reconhecimento da falta de preparo da defesa civil municipal. Já que isso é visto como um problema, por que não se investe em especialização dessas pessoas? E, consequentemente, se vulnerabilidade é um aspecto negativo nessas áreas, por que não fazer políticas de incentivo ao desenvolvimento de emprego e renda dessas famílias? Esses questionamentos acabam por levantar mais ainda a importância de um trabalho específico o qual busque entender a realidade daquela área, quais são as necessidades emergenciais, o que pode ser feito para dar suporte a população e, principalmente, quais medidas podem garantir um futuro sem tantas consequências desastrosas para a sociedade.

Apesar dos registros antigos trazerem decretos de medidas emergenciais e relatórios referentes a perdas e danos, isso não é um problema recente. Esse aspecto se repete constantemente. O exemplo mais recente disto foi o evento de inundação ocorrido entre os dias 6 e 8 de julho de 2018 (FIGURA 45). Essa inundação atingiu tanto direta quanto indiretamente, aproximadamente, 8 mil pessoas, de acordo com a secretaria de administração de Touros.

De acordo com o portal G1 (2018), esta se materializou após a ocorrência de mais de 200 mm de chuva na região. Segundo a EMPARN, as áreas mais castigadas foram os bairros Frei Damião, Conjunto Calcanhar, Portal de Touros e o Distrito de Cajueiro (Entre elas apenas o distrito de Cajueiro não foi inserido na área de estudo por não fazer parte da sede municipal de Touros), todos estes localizados em áreas cujos terrenos das edificações estão sob ambientes de lagoas sazonais como, por exemplo, a mais conhecida delas por seu trasbordamento brusco: a Lagoa do Cassaco (FIGURA 46). As razões estão relacionadas aos sistemas de drenagem deficientes, resíduos lançados diretamente, impermeabilização dos solos, lençol freático raso, menor quantidade de vegetação e lotes sem permeabilidade suficiente para a infiltração dessa água.

Figura 45 - Evento de inundação ocorrido entre os dias 6 e 8 de julho de 2018

Fonte: Portal G1 (2018).

Figura 46 - Transbordamento da Lagoa do Cassaco, conjunto Frei Damião

Fonte: Erick Jordan (2019).

O mais destacável nesse cenário é o fato dos habitantes dessa área virem, pelo menos nos últimos 15 anos, ocupando área de lagoas temporárias no período de estiagem, subentendendo que elas não voltariam a surgir pela falta de chuva. Sendo assim, casas foram edificadas dentro

do limite da vazão das lagoas e, no momento em que o período chuvoso retornou, as mesmas encheram e voltaram a ocupar o seu espaço natural.

Não justificando, mas explicando o porquê do uso dessas áreas, àqueles moradores os quais não possuíam casa própria viram lotes com preços acessíveis, não se preocupando com o real risco em que poderiam estar submetidos. Apesar de muitos moradores antigos saberem que o lugar onde estavam edificando suas moradias outrora já foram ambientes lacustres e estavam seco provisoriamente, as suas atuais condições o levaram a adquirir tais espaços.

Àquilo que as pessoas temiam aconteceu. Em um ano, com precipitações um pouco acima da média para o período, trouxe elevados índices de chuva, e a causa desses índices se justificaram pela presença do fenômeno climático dos CCMs (FIGURA 47), ocorrido no dia 7 de julho de 2018 gerando chuvas intensas e concentradas em algumas áreas. Esse ocorrido fez com que as condições da área, no que diz respeito ao balanço entre o que chove e tende a se acumular com a capacidade de escoamento e infiltração nos terrenos, ficasse desequilibrado causando grandes transtornos, principalmente relacionados a invasão de água em residências e nas ruas (FIGURA 48).

Figura 47 - Fenômeno climático dos CCM, 7 de Julho de 2018

Figura 48 - Invasão de água em residências e nas ruas

Fonte: Erick Jordan (2018).

De imediato, os moradores criaram barricadas na frente de suas casas com madeira (FIGURA 49 A), elevaram seus móveis com tijolos (FIGURA 49 B) e, em alguns casos extremos, quebraram o muro de suas casas (FIGURA 49 C) para que a água não ficasse acumulada dentro da residência. Essas medidas foram necessárias, principalmente para evitar maiores perdas.

Figuras 49 A, B e C - Barricadas na frente de suas casas com madeira (A); Móveis elevados com tijolos (B) e Marca do muro quebrado durante a inundação após restauração (C)

Os moradores abriram canais (FIGURA 50) os quais cortaram as ruas e foram em direção as dunas com o intuito de fazer a água escoar mais rápido em direção ao mar. Porém, essa medida acabou sendo apenas um atenuante. Isso porque não serviu totalmente. A quantidade de água foi superior a capacidade de transporte de seu volume. Por essa razão, levaria muito mais tempo para que a quantidade hídrica começasse a diminuir. Por isso, a prefeitura municipal pediu apoio ao governo estadual e federal e teve apoio de bombas (FIGURAS 51 A e B) oriundas do exército e da CAERN as quais removiam a água dessas áreas. Apenas assim, ainda em ritmo lento, foi possível restaurar a situação do leito normal.

Figura 50 - Canais abertos para escoamento de água

F Fonte: Erick Jordan (2018).

De acordo com o jornal Tribuna do norte (2018), segundo informações do gabinete civil do governo do RN, pelo menos 210 pessoas ficaram desalojadas e precisaram ser retiradas de sua residência e foram para a casa de parentes ou amigos, enquanto cerca de 55 ficaram desabrigadas. Essas não tinham condições de voltar para seu domicílio, devido a danos estruturais como a queda de muros e o surgimento de rachaduras (FIGURA 52), o que poderia colocar em risco a vida das pessoas. Além disso, não tiveram apoio de familiares ou amigos nas proximidades, necessitando de abrigos por parte da prefeitura. Os principais locais que serviram a esses propósitos foram as igrejas.

Outro aspecto relevante no que diz respeito as consequências dessa inundação na vida das pessoas foram o surgimento de doenças de veiculação hídrica, as quais chegaram a gerar

problemas diversos lotando os hospitais em preparar-se para receber e atender essas pessoas, sobretudo os com saúde mais fragilizada, como crianças e idosos.

Figuras 51 A e B - Bombas da CAERN (A) e do exército retirando a água da área inundada (B)

Fonte: Erick Jordan (2018).

Figura 52 - Surgimento de rachaduras nas casas

Essa inundação gerou, por parte da gestão municipal, uma preocupação muito maior. Aqui, merece destaque o bairro Frei Damião, em que as ocupações são muito grandes e a retirada dessas pessoas seria muito mais complexo do que se estima. Por isso, elaboraram um plano de drenagem o qual, futuramente, estimam executar as obras para finalmente ser capaz de lidar melhor com esse risco naquela área.

A sede municipal sofre há anos com problemas de inundações, sendo o bairro Frei Damião tradicionalmente castigado anualmente pelos transtornos gerados pelo desastre. As famílias tentam se adaptar e lidar com o problema. No entanto, levando em consideração suas condições, isso se torna cada vez mais complexo. Historicamente, o problema se repete. Destarte, obras para melhorar o sistema de drenagem da área não foram executadas, e quanto mais esta demora, mais difícil fica a vida das pessoas, sendo àqueles mais prejudicados por isso.

5 ÍNDICE DE RISCO DE INUNDAÇÃO (INRISCO) NA SEDE MUNICIPAL DE