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Prazer e sofrimento no trabalho do professor em uma instituição de ensino superior em São Luís - MA

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Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação

PRAZER E SOFRIMENTO NO TRABALHO DO PROFESSOR

EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR EM

SÃO LUÍS-MA

Brasília - DF

2013

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PRAZER E SOFRIMENTO NO TRABALHO DO PROFESSOR EM UMA

INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR EM SÃO LUÍS – MA

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Católica de Brasília, como requisito para obtenção do Título de Mestre em Educação. Orientadora: Profª. Drª. Sandra Francesca Conte de Almeida

Co-Orientadora: Profª. Drª. Katia Cristina Tarouquella Rodrigues Brasil

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D377p Demetrio, Jaqueline Alves da Silva.

Prazer e sofrimento no trabalho do professor em uma instituição de ensino superior em São Luís - MA. / Jaqueline Alves da Silva Demetrio – 2013.

126f. : 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2013. Orientação: Profa. Dra. Sandra Francesca Conte de Almeida

Coorientação: Profa. Dra. Katia Cristina Tarouquella Rodrigues Brasil

1. Sofrimento. 2. Satisfação no trabalho. 3. Professores universitários. 4. Comportamento organizacional. I. Almeida, Sandra Francesca Conte de, orient. II. Brasil, Katia Cristina Tarouquella Rodrigues, coorient. III.Título.

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Dissertação de autoria de Jaqueline Alves da Silva Demetrio, intitulada “PRAZER E SOFRIMENTO NO TRABALHO DO PROFESSOR EM UMA INSTITUIÇÃO DE ENSINO SUPERIOR EM SÃO LUÍS – MA”, apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Educação da Universidade Católica de Brasília, em nove de 09/04/2013, defendida e aprovada pela banca examinadora abaixo assinada:

Profª. Drª. Sandra Francesca Conte de Almeida Orientadora

(Mestrado em Educação – UCB)

Profª. Drª. Katia Cristina Tarouquella Rodrigues Brasil Co-Orientadora

(Mestrado em Educação – UCB)

Profª. Drª. Laura Câmara Lima (Membro externo – UNIFESP)

Profª. Drª. Lêda Gonçalves de Freitas (Mestrado em Psicologia - UCB)

Profª. Drª. Carmem Jansen de Cárdenas (Membro suplente – UCB)

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Esta Dissertação é dedicada à minha família: meu esposo Creso, incentivador do meu crescimento pessoal e profissional e meus filhos Maurício e Marcelo, fonte de busca

constante por conhecimento e

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AGRADECIMENTOS

À Profª Sandra Francesca Conte de Almeida, pelo ser humano extraordinário que é, e por ter me orientado com muita competência, paciência e dedicação ao longo desta dissertação.

À profª Katia Cristina Tarouquella Rodrigues Brasil, co-orientadora, pelas importantes sugestões e recomendações.

Às Professoras Laura Câmara Lima e Lêda Gonçalves de Freitas, pela disponibilidade em participar como membros examinadores desta dissertação.

Ao Profº. Afonso Celso Tanus Galvão, que levou o mestrado à São Luís – MA, pelos ensinamentos competentes e precisos.

Aos professores do Mestrado em Educação da UCB, em especial, aos professores Cândido Alberto da Costa Gomes, Clélia de Freitas Capanema, Geraldo Caliman, Jacira da Silva Câmara, Luiz Síveres e Sandra Francesca Conte de Almeida, por provocarem o construir/desconstruir de novos caminhos no percurso do aprendizado, sem perder o foco no outro, e acima de tudo, com amor e respeito.

Às queridas e competentes funcionárias Célia, Erivana, Fátima, Joana e Sheila, por seus atendimentos e orientações repletos de generosidade e atenção.

À querida amiga e colega de todas as horas, Mônica Avelar, por ter me mostrado este Mestrado, ter sido companheira nos estudos e viagens São Luís/Brasília e por estar sempre presente nas discussões acadêmicas.

À Profª Fátima Garcês, que administrou de forma brilhante o Mestrado em São Luís, por sua dedicação e amizade.

Aos colegas professores e sujeitos desta pesquisa, que colaboraram corajosamente dando seus depoimentos e compartilhando as vivências de sofrimento e prazer no trabalho de professor universitário.

À Profª Marinalva, por sua revisão ortográfica, por seu companheirismo e amizade no trabalho e na vida.

Ao atencioso Maurício, pela normatização e tradução neste trabalho.

À minha eterna amiga Marta Cléa, profissional competente e dedicada, por seu auxílio incansável e por me inspirar neste tema de pesquisa.

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RESUMO

DEMETRIO, Jaqueline Alves da Silva. Prazer e Sofrimento no Trabalho do Professor em uma Instituição de Ensino Superior em São Luís – MA. 2013. 127f. Mestrado em Educação. Universidade Católica de Brasília. Brasília. 2013.

Este estudo investiga as vivências de prazer e sofrimento no trabalho do professor em uma instituição de ensino superior em São Luís – MA. Especificamente, visa como objetivos: verificar as relações entre a organização do trabalho docente e as condições sob as quais é desenvolvido, levando em consideração a forma das relações socioprofissionais; descrever as vivências de sofrimento e prazer no trabalho docente e investigar os mecanismos utilizados por essa categoria de trabalhadores como mediação do sofrimento. Tem como aporte teórico e metodológico a Psicodinâmica do Trabalho, com contribuições de estudo e pesquisa atuais sobre o problema investigado. Foram realizadas entrevistas semiestruturadas coletivas com quinze professores, em três diferentes grupos, cujos relatos, após transcrição, foram submetidos à análise de conteúdo, dando origem à elaboração de Núcleos de Sentido. Os resultados, com base nos depoimentos colhidos nas entrevistas, indicam uma realidade profissional opressora e limitante, no sentido da produção científica, com a presença de fatores como a desumanização da profissão e a falta de reconhecimento, contribuindo para o sofrimento dos professores pesquisados. A organização do trabalho apresenta-se profundamente hierarquizada, composta de regras rígidas, inflexíveis e centrada na produtividade do ensino, causando um profundo mal-estar no trabalho docente. As relações socioprofissionais com alguns pares, chefia e corpo administrativo apresentam, com grande frequência, situações que levam ao estresse, à precarização das condições de trabalho e à instabilidade no emprego, possibilitando inferir o quanto são desgastantes física e psicologicamente. No que tange às vivências de prazer no trabalho, os professores relatam que o convívio com os alunos é a principal fonte de satisfação pelo sentimento de resgate de sua dignidade e de valorização profissional.

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ABSTRACT

This study investigates the experiences of pleasure and pain at teacher's job in a higher education institution in São Luís - MA. Specifically, seeks the following objectives: to examine relationships between the organization of teaching and the conditions under which it is developed taking into account the shape of the socio-professional relationships; describe the experiences of pain and pleasure in teaching and investigate the mechanisms used by this category of workers as mediation of suffering. It has as a theoretical and methodological grant the psychodynamics of work, with contributions from current research and study on the problem investigated. Semi-structured conference interviews were conducted with fifteen teachers in three different groups, whose reports after transcription were subjected to content analysis, resulting in the development of Centers of Sense. The results, based on testimonies collected in the interviews indicate a true professional oppressive and limiting in the sense of scientific production, with the presence of factors such as the dehumanization of the profession and the lack of recognition contributing to the suffering of the surveyed teachers. The organization's work has become deeply hierarchical composite of rigid rules, inflexible and focused on teaching productivity, causing a deep malaise in teaching work. The socio-professional relationships with some peers, leadership and administrative body present with great frequency, situations that lead to stress, precarious working conditions and employment instability, allowing infer how they are physically and psychologically exhausting. Regarding the experiences of pleasure in work, teachers report that living with students is the main source of satisfaction, the feeling of rescuing their dignity and professional development.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO AO PROBLEMA PESQUISA... 9

1 PSICODINÂMICA DO TRABALHO... 15

1.1 O TRABALHO E A PSICODINÂMICA DO TRABALHO... 15

1.2 CONDIÇÕES DE TRABALHO... 27

1.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO... 39

2 TRABALHO: SITUAÇÕES DE SOFRIMENTO E PRAZER... 53

2.1 SOFRIMENTO PSÍQUICO DE PROFESSORES... 53

2.2 SITUAÇÕES DE PRAZER NO TRABALHO... 63

2.3 PESQUISAS SOBRE SOFRIMENTO E PRAZER NO TRABALHO... 72

3 MÉTODO... 79

3.1 UNIVERSO DA PESQUISA... 81

3.1.1 Participantes... 81

3.1.2 Entrevista semiestruturada coletiva... 82

3.1.3 Procedimentos de coleta de dados... 83

3.1.4 Análise dos dados... 84

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO... 86

4.1 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS NÚCLEOS DE SENTIDO... 86

4.1.1 Caracterização do ambiente de trabalho como indicador de sofrimento/prazer no trabalho... 86

4.1.2 Organização do trabalho e núcleos de sentido... 88

4.1.2.1 Estrutura organizacional hierarquizada, centrada na produtividade do trabalho docente e com regras inflexíveis..... 88

4.1.2.2 Trabalho exaustivo, pouco remunerado e não reconhecido.... 92

4.1.2.3 Trabalho burocrático, rotineiro, estéril, chato.... 95

4.1.3 Condições de trabalho e núcleos de sentido... 100

4.1.3.1 Condições de trabalho e suporte organizacionais razoáveis, sem grandes riscos com potencial para causar dano físico ao professor... 101

4.1.4 Relações socioprofissionais e núcleos de sentido... 104

4.1.4.1 Relações sociais de trabalho entre pares e gestores frias, instáveis e competitivas... 104

4.1.4.2 Relações interpessoais professor/aluno de mútuo reconhecimento, confiança e respeito... 106

4.1.5 Estratégias defensivas individuais e coletivas no trabalho docente... 110

CONSIDERAÇÕES FINAIS... 114

REFERÊNCIAS ... 119 ANEXO A - Convite para participação na pesquisa.... ANEXO B - Termo de consentimento referente à entrevista coletiva... ANEXO C - Roteiro de entrevista...

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INTRODUÇÃO AO PROBLEMA DE PESQUISA

A questão propulsora deste estudo tem a ver com a influência do ambiente de trabalho sobre o professor, com destaque nas relações de trabalho, nas formas organizacionais e nas vivências de prazer e sofrimento dos sujeitos trabalhadores de uma instituição de ensino superior, de caráter privado, localizada na cidade de São Luís, estado do Maranhão.

Entende-se que pesquisar situações de prazer e sofrimento em determinado caso concreto tem grande importância para detectar as origens dos sintomas de adoecimento de trabalhadores decorrentes das pressões laborais, bem como a conscientização e resolução de problemas oriundos do trabalho docente.

Vários estudiosos endossam o referencial teórico da psicodinâmica do trabalho e, para este estudo, será levado em consideração obras de Christophe Dejours e outros autores, bem como pesquisas acadêmicas que compartilham de seus ensinamentos.

Considerando o entendimento de Dejours (2011, p. 25), sobre a relação homem/trabalho, verificaremos neste estudo como esse fenômeno ocorre, pois o referido autor ensina que o trabalho pode ser equilibrante e fatigante. “Se um trabalho permite a diminuição de carga psíquica, ele é equilibrante. Se ele opõe essa diminuição, ele é fatigante.”

As pesquisas com o suporte teórico e metodológico na teoria da Psicodinâmica do Trabalho, nos últimos dez anos no Brasil, apresentam relevância para este estudo, pois se mostram em crescimento e buscam reformas necessárias na área da organização do trabalho. Nesse sentido, encontramos apoio em Mancebo (2006), Dejours (2004), Ferreira e Mendes (2001), Lima Junior e Ésther (2001), Mendes e Tamayo (2001), Heloani e Lancman (2004), Moraes (2005), Gasparini, Barreto e Assunção (2005), Abrahão e Torres (2004), Lancman e Uchida (2003), Barros e Mendes (2003), Aguiar e Almeida (2006), Ferreira, Fernandes, Prado, Baptista, Freitas e Bonini (2009), e ainda outros importantes autores que estudam o trabalho e suas implicações ao sujeito.

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no trabalho que afetam o comportamento e a saúde física e mental do trabalhador, busca-se modificar essa realidade.

Diante do exposto, propõe-se identificar as situações geradoras de prazer e sofrimento no processo do trabalho de docentes, em distintas áreas de uma instituição de ensino superior da cidade de São Luís, no estado do Maranhão, analisados segundo o referencial teórico da psicodinâmica do trabalho de Christophe Dejours.

Ao longo da história, o modelo capitalista influenciou na forma de produção e na organização do trabalho de muitas empresas, em especial, na área de educação, pois se percebe a precarização do trabalho docente, de forma a exigir mais tarefas pelo mesmo salário, dentre outras situações que fazem dos professores instrumentos e elementos de exploração, ficando evidente o assédio moral no contrato de trabalho e, consequentemente, deixando fluir situações de desprazer e sofrimento no trabalho.

Conforme Freitas, Lima e Antonio (2010, p. 126), o assédio moral no trabalho “registra-se em curva ascendente em todo mundo. Para a Organização Internacional do Trabalho (OIT), a instabilidade crescente dos empregos produz cada vez mais pressões nos ambientes de trabalho. Assim, as práticas de intimidação, assédio moral, hostilidade (mobbing) e outras condutas similares aparecem com mais frequência”.

Nesse sentido, percebe-se que professores e funcionários da instituição em estudo, de modo geral, apresentam sinais de adoecimento, situações típicas de sofrimento, pois o ambiente de trabalho deixa aqueles trabalhadores exauridos, fatigados, deprimidos, intolerantes e sem ânimo para realizarem tarefas mínimas do dia a dia.

Estes mesmos autores mostram através dos dados da OIT que a violência no trabalho “caracteriza-se como todos os tipos de comportamentos agressivos e abusivos que visam causar danos físicos, psicológicos ou desconfortos em suas vítimas, apresentando as seguintes características: a) ação de exclusão de uma ou mais pessoas de determinada atividade profissional; b) agressões persistentes em relação ao rendimento profissional; c) ridicularização da reputação pessoal ou profissional de uma pessoa; d) desprezo contínuo de uma pessoa pelo chefe e/ou colega de trabalho, entre outras”.

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equipe. Entretanto, com o passar dos anos, houve mudanças no modelo de gestão, bem como nos setores organizacionais, modificando aquela visão.

Inicialmente, as referidas mudanças ocorreram no setor administrativo e por isso professores e coordenadores não sentiram de imediato grande impacto, apesar de tomarem conhecimento por meio de conversas informais ou de notícias enviadas através de emails sobre acontecimentos que prejudicavam funcionários daquele setor. Posteriormente, isso afetou também o setor acadêmico, deixando coordenadores, professores e até mesmo muitos alunos insatisfeitos.

Assim, a partir de relatos que se pôde ouvir na sala de professores e em outros ambientes da empresa, inúmeros fatos foram expostos pelos funcionários de forma queixosa, envolvendo-os emocionalmente e interferindo na produtividade e em outros aspectos da vida cotidiana daqueles profissionais.

Para o embasamento teórico deste estudo, concentraremo-nos nas ideias de Dejours que, apesar de dar enfoque na maior parte de seus trabalhos à contextos fabris, onde a relação trabalho e saúde é mais direta e os riscos são mais evidentes, usa a psicodinâmica do trabalho como método para evidenciar determinadas situações de sofrimento e o modo pelo qual os sujeitos conseguem adaptar-se e dirimir seus problemas nesse contexto criativo da docência.

Nessa perspectiva, Dejours (1992), em seus estudos sobre a psicodinâmica, propõe-se a identificar doenças mentais específicas correlacionadas à profissão ou situações de trabalho, através de abordagem da nova psicopatologia do trabalho que se preocupa com a dinâmica mais abrangente que se refere à gênese e às transformações do sofrimento mental vinculadas à organização do trabalho, observando então uma população real e normal em seu ambiente de trabalho, submetidas às pressões no seu dia a dia.

Portanto, o tema em questão, sob a ótica da psicodinâmica do trabalho, vem demonstrando que o sofrimento e o possível adoecimento físico e psíquico de professores e de trabalhadores, de forma geral, devem-se ao fato de que mudanças estruturais e organizacionais possibilitam o aparecimento de vários sintomas que aparentemente são físicos, orgânicos, mas advém de fundo emocional.

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trabalho que influenciam ou têm relevância na vida acadêmica do docente, constitui-se objeto investigativo desta pesquisa.

Trata-se, portanto, em desenvolver um estudo voltado para as relações que possam eventualmente se estabelecer entre a organização do trabalho e o sofrimento psíquico de determinados professores, levantando questões acerca do sofrimento e prazer associadas ao trabalho desses profissionais.

Na perspectiva da violência no ambiente socioeducativo e no contexto do trabalho, ao longo do tempo, parece que a concepção dos sujeitos pouco mudou, posto que se verifica uma postura de assédio por parte dos empregadores, no sentido de exigir mais do professor, com maior carga horária, mais atividades e menor remuneração ao lado de maior capacitação profissional.

Além disso, em outro aspecto, o do discente face ao contexto do mercado de trabalho, observa-se a exigência de cursos em menor tempo, a preços mais baixos e com o pensamento de que porque paga tem o direito de faltar aulas, ter boas notas e ser o “patrão” do professor.

Vários casos no Brasil refletem essa concepção, o que aliado à história pessoal do professor, as suas experiências de vida em sociedade e em ambientes de trabalho, reúnem fatores que levam esse sujeito ao adoecimento psíquico.

Dejours (2011), em psicodinâmica do trabalho, analisa as relações desses sujeitos quanto ao sofrimento e prazer em seus ambientes de trabalho, demonstrando que as relações psicoafetivas geradas pela evolução dos conflitos intersubjetivos e intrassubjetivos possam, de alguma forma, alterar a saúde e o bem-estar do sujeito em seu local de trabalho, interferindo no rendimento e na qualidade do que produz.

Sabe-se que a angústia e emoção, por exemplo, que são afetos psíquicos, possuem traduções somáticas: as palpitações, a hipertensão arterial, os tremores, os suores, as parestesias, as câimbras, a desidratação das mucosas, a hiperglicemia, o aumento do cortisol sanguíneo, a poliúria são manifestações mais frequentes (DEJOURS, 2011, p.29).

Desse modo, percebe-se que durante o período em que o professor está laborando, o ambiente de trabalho pode interferir em sua saúde, integridade física e moral. Sabe-se também que no decorrer do tempo sempre é feita alteração no contrato de trabalho, bem como no ambiente laboral, o que pode dar início ao sofrimento psíquico do professor.

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face ao acúmulo de cargas laborais que deixam o sujeito amontoando energias para o corpo de forma negativa, a ponto de irem surgindo sintomas físicos de fundo emocional, os quais, às vezes, nem o próprio sujeito se dá conta.

Segundo Dejours (2011), a carga psíquica do trabalho decorre do confronto da imposição do empregador e do desejo do trabalhador contidos na organização do trabalho, mas essa carga pode aumentar se diminuir a liberdade no exercício da profissão.

Sob essa vertente, faz-se necessário desenvolver esta pesquisa, no intuito de descobrir as situações de prazer e desprazer nas quais o professor está envolvido em seu cotidiano de trabalho, bem como se a influência desses fatores pode refletir em seu rendimento e conduta, e que atitude adota para superar as adversidades no ambiente laboral.

Nesse sentido, deparamo-nos com uma situação problema, que é a de descobrir que estratégias defensivas de professores, em determinada Instituição de Ensino

Superior, são utilizadas como forma de resistência e enfrentamento do sofrimento psíquico provocado pelo trabalho.

Dessa forma, o objetivo geral desta pesquisa é investigar as vivências de prazer e sofrimento no trabalho desses professores, e como objetivos específicos se busca verificar as relações entre o processo de trabalho docente, as condições sob as quais ele se desenvolve e o possível adoecimento físico e mental dos professores de uma Instituição de Ensino Superior, de caráter particular, através da caracterização do contexto do trabalho na dimensão organizacional, condições e relações socioprofissionais, bem como descrever as vivências de sofrimento e prazer, sendo este utilizado como forma estratégica de sobrevivência ou de mediação para aliviar ou neutralizar o sofrimento.

Nessa perspectiva, contextualizar-se-á a estrutura do trabalho introduzindo a situação problema, buscando identificar as estratégias defensivas utilizadas pelos professores da Instituição de Ensino Superior, em estudo, como forma de resistência e enfrentamento do sofrimento psíquico provocado pelo trabalho.

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Assim, será apresentado o referencial teórico que viabilizará suporte necessário para melhor compreensão deste tema, evidenciando a psicodinâmica do trabalho como método de estudo dos movimentos psicoafetivos gerados pela evolução dos conflitos intersubjetivos e intrassubjetivos, decorrentes do ambiente de trabalho.

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1 PSICODINÂMICA DO TRABALHO

1.1 O TRABALHO E A PSICODINÂMICA DO TRABALHO

Dejours (2001), no âmbito da psicologia, diz que o trabalho tem lugar central na construção da identidade, nas relações de gênero e na construção da sociedade. Em psicodinâmica do trabalho, ele visa argumentar a tese da centralidade do trabalho ante a construção da identidade, pois o trabalho é também uma atividade dirigida ao outro, ou seja, trabalhamos sempre para alguém, quais sejam: para um patrão, para um chefe, para nossos subordinados e para nossos colegas.

Entretanto, Dejours (2001) complementa, nesse sentido, que se reconhecido for o trabalho pode ser um poderoso mediador na construção da identidade, mas, se não oferecer a possibilidade de ser reconhecido só produzirá sofrimento e, progressivamente, impelirá o sujeito para a descompensação.

Vale ressaltar que muito se conjectura em outros ramos da ciência sobre o trabalho, desde sua gênese e, consequentemente, seu desenvolvimento, seja como forma de inserção na sociedade, seja como parte manipulável desta. Originalmente podemos relembrar que esse vocábulo nos remete a dor, castigo. Cassar, ao definir trabalho, destaca que:

Se no passado o trabalho tinha conotação de tortura, atualmente significa toda energia física ou intelectual empregada pelo homem com a finalidade produtiva... Trabalho pressupõe ação, emissão de energia, desprendimento de energia humana, física e mental, como objetivo de atingir algum resultado (CASSAR, 2011, p.3).

Assim, sobre o termo trabalho pode-se observar numerosas modificações de conteúdo, ao longo do tempo, em função do aumento de dados empíricos e da confrontação com outras disciplinas do homem no trabalho, como a ergonomia, sociologia do trabalho, economia do trabalho, segurança e medicina do trabalho, direito do trabalho, dentre outras.

Sabemos que viver em sociedade requer condições de sobrevivência, de status social, dentre outras que fazem com que o sujeito, às vezes, desafie seus próprios limites e se submeta a condições de trabalho nem sempre justas e seguras. Assim, sua energia, tempo, habilidade e trabalho são vendidos com o intuito de sobreviver em sociedade, segundo sua hierarquia de valores.

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aspectos materiais, mas em demonstrar suas aptidões, apresentar sua capacidade de refletir, interpretar e interagir em distintas situações, comprovar sua criatividade, desempenho e competência.

Entender o mundo do trabalho, suas formas de organização e os reflexos sobre a saúde, qualidade de vida e o modo de adoecimento dos trabalhadores é de fundamental importância na ótica da psicodinâmica do trabalho para a compreensão e intervenção das situações que gerem sofrimento e agravos à saúde.

Nassif (2005) entende que o trabalho pode contribuir para o desenvolvimento psíquico do sujeito trabalhador, seja fortalecendo sua saúde mental, seja no favorecimento da formação de distúrbios expressos, individual e/ou coletivamente, através de transtornos psicossomáticos e psiquiátricos, contexto que muitas vezes é negligenciado pela psiquiatria, por se preocupar com o sofrimento mental ligado apenas aos fatores orgânicos e individuais, colocando de lado as condições sociais, em especial, o trabalho sobre a saúde mental.

Nos dias atuais, os setores da economia e administração têm observado no mundo do trabalho, de forma clara, que o comportamento das pessoas que laboram em determinadas situações de péssima gestão acabam refletindo nos resultados das empresas porque elas se tornam desestimuladas e não produzem satisfatoriamente. Nesse sentido, a saúde e a medicina do trabalho, em especial, demonstram doenças e até acidentes advindos deste contexto “desorganizado de trabalho”.

A visão de mercado hoje ainda persiste na forma cruel de descartar aqueles que não estão aptos a compartilhar do projeto, bem como os velhos e os jovens mal preparados ou vacilantes, e manter aqueles que demonstrarem disponibilidade, produtividade e, sobretudo, equivalência de ideias.

Essa direção de posicionamento faz com que trabalhadores tidos como sobreviventes das organizações do trabalho travem uma guerra contra seus próprios concidadãos, agindo de forma cruel, desonesta, sem pudor ou ética, gerando pura banalização do mal. Nesse sentido, Dejours pôde abstrair da perspectiva de Hannah Arendt e ensinar que atitudes sem pensar ensejam atos de barbárie:

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Culturalmente, viver em sociedade requer das pessoas posturas compatíveis com o meio e o ambiente de trabalho onde estão atuando. Assim, quando são inseridas em um contexto que as submetem a situações ou ações negativas tendem a agir conforme seus preceitos e padrões éticos e morais, portanto, quando possuem princípios positivos agem conforme a ética estabelecida, angustiam-se e sofrem diante de determinadas situações que lhe são impostas. Todavia, se assim não o for, elas tendem a compactuar com o mal.

Nesse contexto, podemos observar o mundo do trabalho no sistema capitalista, onde cada vez mais se exige desempenho superior em termos de produtividade, disponibilidade, disciplina e abnegação, implicando em sofrimento individual e/ou coletivo, em nome da razão econômica, posto que o importante é a competitividade, o resultado e o lucro.

Freitas (2006) apresenta que as transformações no trabalho do professor, no atual contexto histórico, inseriram novas demandas e novo ambiente como o virtual e, com base em muitos autores, verifica a inserção de novos papéis para o docente, pois o setor da educação acompanha o cenário econômico de seu tempo e requer atendimento aos interesses do mundo produtivo.

Nesse sentido, Freitas (2006) traça algumas das novas atribuições do professor no cenário atual, dentre as quais a de “buscar formação continuadamente”:

Na atual sociedade da informação, em que as mudanças são cada vez mais rápidas, exige-se do professor que esteja em constante processo de formação. A questão é que, ao mesmo tempo em que se exige mais desse profissional, as condições de trabalho cada vez mais se deterioram. A UNESCO (2004), em pesquisa sobre o perfil dos professores brasileiros, detectou que um terço dos pesquisados se considera pobre. Isto demonstra que, apesar das inúmeras exigências que vêm sendo incorporadas ao fazer docente, na prática não há uma valorização desse profissional. Aumentam-se as exigências, mas as condições de trabalho não acompanham as novas demandas impostas à carreira LIBÂNEO (2000), KUENZER (1999) e ARROYO (1999) (apud FREITAS, 2006).

Diante dessa exposição elaborada por Freitas (2006), percebe-se que o trabalho do professor deve acompanhar o contexto político, social e econômico do seu tempo e também conquistar mudanças importantes para sua classe, embora perdure o pouco salário, diante de tantas atividades a desenvolver com presteza e seriedade, o que poderá gerar prazer, mas também sofrimento.

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considerar que os custos com os primeiros são mais elevados, possuem valor hora/aula mais caro, direitos adquiridos como quinquênio e ticket combustível que, inclusive, os novos contratados não terão. Além disso, a legislação trabalhista brasileira não permite redução salarial. Por essa razão, os novos contratos poderão ser distintos dos anteriores.

Assim, temos hoje um vasto exemplo da banalização da injustiça social: descartar o caro, ainda que tenha contribuído positivamente para a empresa, e contratar o novo que se submeta às novas regras impostas.

No setor da educação, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) dá diretrizes para a formação de instituições particulares e públicas no sentido de exigir capacitação profissional, número de professores especialistas, mestres e doutores, porém, às vezes essas instituições logram êxito em seu pleito, “esquecem-se” de regras e normas sobre política de manutenção do status anterior.

Ainda que seja de forma legal e até legítima é compreensível essa postura neoliberal, entretanto, nosso objeto não é discutir a legalidade ou ilegalidade das ações da empresa, mas analisar o impacto das pressões e das relações do trabalho no sujeito e em sua vida psíquica, inserido nesse contexto, no caso, o professor, e observar que estratégias ele utiliza como forma de sobrevivência a esse modelo de gestão.

Dejours (2006), ao analisar as condutas humanas, ainda que num contexto econômico de mercado globalizado, observa as atitudes dos sujeitos que consentem e submetem-se nesse ambiente de trabalho e explica que:

Nessa perspectiva, a guerra sã não teria origem unicamente na natureza do sistema econômico, no mercado ou na “globalização”, mas nas condutas humanas. Que a guerra econômica seja desejada por certos dirigentes nada tem de enigmático, e, como eu já disse antes, não creio que ela resulte de uma cegueira, mas de um cálculo e de uma estratégia. Que a máquina de guerra funcione, por sua vez, pressupõe que todos os outros (os que não são “decisores”), ou pelo menos a maioria deles, contribuem para o seu funcionamento, sua eficácia e sua longevidade, ou, em todo caso, que não a impedem de continuar em movimento (DEJOURS, 2006, p.16).

É válido afirmar que o sistema econômico mundial, em especial, o mercado de trabalho brasileiro funciona nessa lógica, pois é inevitável enxugar quadros de funcionários, reformular e adequar a empresa ao contexto econômico de seu momento na conformidade das normas, leis existentes no país que obviamente são elaboradas pelos homens de seu tempo.

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apenas defender sua segurança e sobrevivência a essa situação de tormenta, já que é por intermédio do sofrimento no trabalho que se forma o consentimento para participar do sistema.

Quando esse modo administrativo funciona, gera sofrimento crescente aos sujeitos nele inseridos, tornando-os sem perspectivas de melhora. É a partir dessa situação que, muitas vezes, se iniciam os problemas físicos como a fadiga, o uso de bebidas alcoólicas, a irritabilidade, a intolerância, o aumento de peso devido ingestão demasiada e fora de hora de alimentos não saudáveis, como o consumo de cafezinho com biscoitos servidos nas salas de professores, além de outros que se configuram como estratégia defensiva, muitas vezes, de caráter coletivo.

Dejours (2011, p. 120), que inicialmente denominou seu campo de análise em psicopatologia do trabalho, definindo como objeto de estudo “a análise dinâmica dos processos psíquicos mobilizados pela confrontação do sujeito com a realidade do trabalho”, entende que é no trabalho, espaço coletivo, que é propiciado à transformação do sujeito e do campo social.

Para o referido autor, o sofrimento tem sua especificidade na psicopatologia do trabalho, pois o sujeito, dentro de um espaço de liberdade no contexto laboral, luta contra esse mal-estar individual ou coletivo, de forma a transferir suas dores e angústias, voltando-se para os alimentos ou bebidas como meio de canalizá-los ou aliviá-los, conduzindo, então, ao ocultamento ou à identificação do sofrimento, sob a forma de patologia ou ao enfrentamento efetivo de dinâmicas causais, enraizadas nas situações de trabalho.

Pensar sobre a realidade dos sujeitos em seu ambiente de trabalho não é tarefa fácil para os que estão nela inseridos, nem tampouco para o médico do trabalho que rapidamente investiga apenas sintomas físicos, sem fazer qualquer relação ao dia a dia do professor. Ainda nesse sentido, Dejours (2011) destaca que:

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Nesse entendimento, a análise inicial do sofrimento inseria-se na Psicopatologia do Trabalho de Dejours como um método investigativo que entendesse os temas relacionados entre o trabalho e a saúde mental do trabalhador, tendo como objeto de estudo o sofrimento no trabalho que possui uma série de mecanismos de regulação.

Na Psicopatologia do Trabalho centravam-se os estudos sob a perspectiva de que o trabalho, suas organizações e condições propiciavam o adoecimento mental, portanto, objetivavam os autores dessa linha compreender o sofrimento psíquico no trabalho.

Entretanto, Dejours passou da psicopatologia para a psicodinâmica do trabalho porque entendeu que o trabalho não era apenas fonte de sofrimento, mas de prazer, de solidariedade, de cooperação, além de complemento para a personalidade do sujeito, pois, antes do trabalhador falar de si, diz do seu trabalho, “sou professor”, “sou engenheiro”, e a psicodinâmica vai além da psicopatologia, pois aborda o adoecimento psíquico no trabalho, respeitando a subjetividade e a identidade em construção do sujeito.

Segundo Nassif (2005), corroborada por Billiard (1996) e Lima (1998), a expressão ‘psicopatologia do trabalho’ surgiu em 1952 como título de um artigo escrito pelo psiquiatra Paul Sivadon, e na sequência, com as publicações de Louis Le Guillant sobre ‘psicologia do trabalho’, em 1952 e a ‘psicopatologia social’, em 1954.

Todavia, Nassif (2005) apresenta que desde 1927 já se mencionava estudos nesse sentido como as publicações Psiquiatria Ocupacional, Saúde Mental Ocupacional e Psiquiatria Industrial no American Journal of Psychiatry.

Vale dizer que inicialmente o direcionamento do estudo sobre psicopatologia era para estabelecer relações entre as injunções e constrangimentos organizacionais e a desestabilização psicológica dos indivíduos, esperando que diante de certas condições ambientais as pessoas descompensassem psiquicamente (LANCMAN; UCHIDA, 2003).

Contudo, o esperado não ocorria, os trabalhadores não enlouqueciam, mas ficavam em estado de aparente normalidade, embora em sofrimento constante. Então, Dejours percebe a emergência de um novo foco de pesquisa e seu olhar se desloca para a Psicodinâmica do Trabalho, pois o que é natural e óbvio para as pessoas, passa a ser um problema a ser explicado (LANCMAN; UCHIDA, 2003).

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desdobra-se sobre um trabalho de campo radicalmente diferente do lugar da cura e a inspiração é sempre o trabalho de campo (HELOANI; LANCMAN, 2004).

A Psicodinâmica do Trabalho não busca transformar o trabalho, mas modificar as relações subjetivas no trabalho. Ou, para dizer de outra forma: o que uma enquête modifica, não é o trabalho, mas o trabalhar. Modifica não o trabalho, mas o trabalhador (MOLINIER, 2001, p.134).

A Psicodinâmica do Trabalho é uma teoria e um método investigativo que visa compreender os aspectos psíquicos e da subjetividade do sujeito, bem como o modo de apreendê-la nas organizações do trabalho sob a ótica que articula sofrimento e saúde no trabalho.

A afirmativa de que a Psicodinâmica do Trabalho é antes de tudo uma clínica, apresentada por Heloani e Lancman (2004), é no sentido de que se trata de um método específico que liga a intervenção à pesquisa, pautado nos princípios da pesquisa-ação, e por ter características específicas é intitulada clínica do trabalho.

A clínica do trabalho busca desenvolver o campo da saúde mental e trabalho, partindo do trabalho de campo e se deslocando e retornando constantemente a ele. Visa intervir em situações concretas de trabalho, compreender os processos psíquicos envolvidos e formular avanços teóricos e metodológicos reproduzíveis a outros contextos. Segundo Dejours, “a Psicodinâmica do Trabalho é antes de tudo uma clínica. Ela se desdobra sobre um trabalho de campo radicalmente diferente do lugar da cura. Afirmar que ela é uma clínica implica que a fonte de inspiração é o trabalho de campo, e que toda a teoria é alinhavada a partir deste campo” (HELOANI e LACMAN, 2004, p.82).

Assim, sob o método investigativo da Psicodinâmica, Dejours tenta compreender os impactos do trabalho sobre o sujeito e como este ou o grupo de trabalhadores conseguem lidar com as adversidades sem adoecer, se há, portanto, defesas e estratégias individuais e ou coletivas no sentido de dirimir ou sanar os problemas advindos do contexto do trabalho.

Na obra de Dejours, A Banalização da Injustiça Social, é demonstrada a responsabilidade e a injustiça de determinados sujeitos, bem como atitudes de resignação e, às vezes, de não mobilização coletiva diante das ações no contexto do trabalho. Desse modo, reflete que a Psicodinâmica do Trabalho sugere que a adesão do discurso economicista seria uma manifestação do processo de banalização do mal. Para tanto, ensina que:

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sofrimento psíquico. Ou bem contribui para agravá-lo, levando progressivamente o indivíduo à loucura, ou bem contribui para transformá-lo, ou mesmo subvertê-lo, em prazer, a tal ponto que, em certas situações, o indivíduo que trabalha preserva melhor a sua saúde do que aquele que não trabalha. Por que o trabalho ora é patogênico, ora estruturante? O resultado jamais é dado de antemão. Depende de uma dinâmica complexa cujas principais etapas são identificadas e analisadas pela psicodinâmica do trabalho (DEJOURS, 2006, p.21).

Dessa forma, Dejours propõe como definição para a Psicopatologia do Trabalho a análise dinâmica dos processos psíquicos mobilizados pela confrontação do sujeito com a realidade do trabalho, onde o centro de gravidade dos conflitos advém do sujeito embutido de uma história singular preexistente, frente à uma situação de trabalho distinta de sua vontade, que o modifica (DEJOURS, 2011, p.120).

Em Psicopatologia do Trabalho, parte-se de uma subjetividade já constituída anteriormente para uma realidade nova, a do trabalho que, mesmo antes da existência de conflitos, transforma o sujeito através de uma suplementação de subjetividade.

A utilização do termo psicopatologia como forma indicativa das interações ordinárias, que nem sempre possuem resultados patológicos, deve-se a duas vantagens: a primeira porque esse termo advém da raiz pathos, que remete ao sofrimento e não só à doença ou à loucura, designando então o estudo dos mecanismos e processos psíquicos mobilizados pelo sofrimento, sem pressupor seu caráter mórbido ou não mórbido. A segunda vantagem do termo aplica-se aos ensinamentos de Freud (Freud, 1901) como referência explícita à teoria psicanalítica do funcionamento psíquico. Assim, os estudos referentes à psicopatologia, em análise por estudiosos a partir do final da década de 1970, não reportam ao mórbido, mas à psicopatologia da vida cotidiana, do trabalho e da normalidade (DEJOURS, 2011).

Portanto, ressalta-se que, conforme Dejours (2011), a Psicodinâmica do Trabalho teve sua origem na Psicopatologia do Trabalho com alicerces na Teoria Psicanalítica e tem como objeto a análise psicodinâmica dos processos intersubjetivos mobilizados pelas situações de trabalho.

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Contudo, os estudos iniciais de Dejours eram centrados na relação entre os sujeitos e a organização do trabalho, importando-se em compreender a lógica do sofrimento, sua origem e desenvolvimento. Entretanto, ele observou que o termo psicopatologia, cuja ênfase inicial era o sofrimento patológico, não mais se ajustava aos novos aspectos encontrados, daí a mudança de denominação à psicodinâmica que inclui a lógica do prazer e a normalidade do sofrimento (UCHIDA, 2007).

Dejours, em seus trabalhos, tece duras críticas às instituições e organizações, entretanto, como pesquisador psicodinamista produz conceitos, teorias e metodologias que criam esperanças de que a realidade pode ser diferente, ou seja, modificada (LANCMAN; UCHIDA, 2003, p.79).

Lacman e Uchida (2003) dizem que Dejours, em seu percurso teórico, coloca-se inicialmente na tradição francesa de Psicopatologia do Trabalho, dos psiquiatras sociais Sivadon, Guillant e Begoin, tendo como objetivo buscar o nexo causal entre determinadas organizações e condições do trabalho e o adoecimento mental.

Nessa perspectiva, Dejours e outros autores influenciados por essa ideia visavam compreender o sofrimento psíquico no trabalho sob o direcionamento de estabelecer relações entre as injunções e constrangimentos organizacionais e a desestabilização psicológica dos indivíduos, esperando que em determinadas condições ambientais o sujeito descompensasse psiquicamente (LANCMAN; UCHIDA, 2003).

Todavia, Dejours observou, a partir de um trabalho de campo, ao estudar situações concretas de trabalho, que aquilo não ocorria, ao contrário, o que encontrava era um “estranho silêncio”, distinto dos “ruídos” da loucura do trabalho, um estado de aparente normalidade (LANCMAN; UCHIDA, 2003, p.82).

Isso porque inicialmente os estudos em Psicopatologia do Trabalho evidenciavam uma clínica de afecções mentais que poderiam ser ocasionadas pelo trabalho, preponderando a patologia profissional somática resultante dos danos físico-químico-biológicos do posto de trabalho, como os de Le Guillant, Bègoin e Moscovitz que evidenciaram as síndromes de certas profissões, como faxineiras, telefonistas, mecanógrafos, mecânicos das estradas de ferro (DEJOURS, 2011, p.121).

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direcionados às doenças mentais mais que aos trabalhadores de forma geral (DEJOURS, 2011, p.121).

Nas doenças mentais era fundamental a questão da readaptação ao trabalho perigoso, em especial, no exército, assim como a reinserção profissional dos doentes mentais da construção civil e serviços públicos, a questão da inaptidão a certos postos, como os de segurança para epiléticos e para os alcoolistas, destacando-se então o não tratamento da saúde mental dos trabalhadores em atividades de escritório, oficinas e do campo (DEJOURS, 2011, p.121).

Na década de 1970, as primeiras investigações procedidas por Dejours eram direcionadas aos operários semiqualificados, uma vez que nessa época as pesquisas davam importância às questões relativas ao trabalho/saúde mental, face ao modelo causalista emprestado da patologia somática de origem profissional, almejando encontrar evidências de doenças mentais específicas do trabalho.

Entretanto, essas pesquisas não obtiveram os resultados esperados, ou seja, destacar a doença mental caracterizada, pelo contrário, nos operários especializados que eram submetidos a trabalhos repetitivos foram detectados problemas psíquicos que favoreciam doenças do corpo, de onde podemos destacar que o trabalho exige mais que uma atividade eficiente, exige um caráter humano. Assim, quando a forma organizacional possui meio de produção eficiente os resultados são mais proveitosos e eficazes.

O trabalho organizado de forma solidária, humana interfere de forma positiva no subjetivo desses trabalhadores, atenuando os problemas advindos de sua atividade, fazendo com que, em determinados postos de trabalho, as situações de prazer se sobressaiam sobre as de desprazer.

Nesse entendimento, então sobressai a diferença de pensamento das perspectivas anteriores. No início foram descobertos comportamentos entre os que laboravam na construção civil e em serviços públicos, que embora fossem insólitos não poderiam ser considerados patológicos. Posteriormente, esses comportamentos foram ligados a estratégias de defesa.

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tarefas repetitivas e nos trabalhos de escritório onde parecem ocupar um papel modesto. Ressalta-se que o medo é também um instrumento de controle social na empresa.

Dejours, nessa linha de pensamento, entende que:

Não podendo evidenciar doenças mentais específicas, atentamos aos comportamentos estranhos, insólitos ou paradoxais visando destacar uma semiologia (ou seja, um conjunto de signos característicos) com um valor descritivo generalizável ao conjunto de uma categoria profissional, e que ela seria patognomônica de uma situação de trabalho supostamente homogênea (por exemplo, os operários especializados e a situação de trabalho repetitivo, sob pressão de tempo) (DEJOURS, 2011, p.122).

Na sequência dessas pesquisas, aos poucos, outro modelo teórico se encarregava de embasar os dados empíricos, no sentido de demonstrar o adoecimento no trabalho e as defesas contra o sofrimento, de forma que os trabalhadores sejam sujeitos de seu trabalho, refletindo sobre sua situação e organizando sua conduta, comportamento e discurso, sempre com o entendimento de que seu estado tem influência sobre o seu trabalho.

Assim, passamos a outra conotação sobre a fundamentação teórica do contexto de trabalho das pessoas, abandonando o modelo causalístico, renunciando a ideia de que o comportamento dos trabalhadores fosse determinado por vontade própria ou por força das pressões da situação, contradizendo, portanto, ao patológico e ao não patológico (DEJOURS, 2011).

Entretanto, também era necessário ir contra a percepção do domínio da psicopatologia tradicional ligada à ordem individual, ou seja, a de que a doença mental só teria sentido a um indivíduo, em particular. O sofrimento e o prazer pertencem ao domínio privado mas o trabalho é de natureza fundamentalmente social, donde pode recrutar indivíduos situados no meio social, abrindo-se ao funcionamento coletivo (DEJOURS, 2011).

Nesse sentido, se as pressões do trabalho são tidas como perigosas para a saúde mental, são então estendidas a todos os grupos de trabalhadores, ao coletivo, pois através do ritmo, do contexto, dentre outros itens, pode-se identificar consequências similares, senão idênticas, sobre o estado mental do grupo trabalhador considerado.

Dessa forma, Dejours percebeu que os resultados dessas investigações não foram conclusivos, de modo que havia a necessidade em admitir que no conflito social-privado, o privado resiste intensamente e as pressões do trabalho, por si só, são incapazes de fazer emergir uma psicopatologia de massa.

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também de reagir e se defender. Ocorre que as reações de defesa são fortemente singularizadas em função do passado, da história e da estrutura de personalidade de cada sujeito. Também, em certa etapa do desenvolvimento teórico, fizemos referência à noção de estrutura mental, conjunto de caracteres supostamente invariáveis e estáveis em cada indivíduo, que determinará a forma que poderá tomar a doença mental, em caso de descompensação do equilíbrio entre as pressões do trabalho (excessivas) e as possibilidades defensivas (transbordadas) do indivíduo (DEJOURS, 2011, p.123).

Entender os comportamentos desses sujeitos na estrutura laboral, sob a concepção da psicodinâmica apresentada por Dejours, significa romper com modelos médicos-biológicos anteriores, como a teoria pavloviana e as concepções comportamentalistas, e enfrentar a questão da dificuldade de uma abordagem epidemiológica em matéria de saúde mental no trabalho, principalmente, no que concerne ao trabalho do professor universitário, em especial.

Nesse aspecto, seria importante a utilização de uma metodologia que privilegiasse as entrevistas individuais. Entretanto, essas entrevistas inevitavelmente ressaltariam, na ordem singular, o que estivesse ligado ao passado do sujeito, sua historia familiar e sua história das relações afetivas.

Essa metodologia não daria o resultado significativo visto que não concederia valor significativo à situação material, social e profissional do sujeito e pouco seria relevante ao trabalho do psicanalista que, nesse caso, não priorizaria o estudo da realidade concreta das situações.

Nesse sentido, o sujeito que expõe ao investigador as relações conflituosas que ele tem com seu chefe faz apenas com que ele tenha uma visão ecoada de um impasse afetivo do qual o sujeito não consegue libertar-se e não a legítima compreensão da realidade evocada. Por essa razão é que se realizam entrevistas coletivas no ambiente de trabalho, a fim de perceber a dimensão específica das pressões do trabalho.

Assim, entendemos a Psicodinâmica do Trabalho como um convite a refletir sobre as situações cotidianas do ambiente de trabalho as quais interferem no emocional do sujeito, causando-lhe desconforto, desprazer e adoecimento.

Dejours (2007) ensina que a Psicodinâmica do Trabalho é uma disciplina clínica teórica. Sua investigação clínica de determinado contexto de trabalho apoia-se na observação e escuta de situações vivenciadas pelos trabalhadores, fundamentando seu objeto de estudo na descrição e conhecimento das relações entre trabalho e saúde.

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de destruição, ou ao contrário, de construção da saúde (DEJOURS, 2007, p.16).

Nessa perspectiva, o que se torna estimulante é descobrir como fazem os trabalhadores para resistir aos ataques ao seu funcionamento psíquico provocados pelo seu trabalho, bem como o que fazem para não ficarem loucos, posto que as pressões do dia a dia ensejam o sofrimento no trabalho, onde mesmo que os sujeitos estejam em estado compatível com a normalidade estão implicados em uma série de mecanismos de regulação.

Sobreviver a todas essas pressões que advém do mundo do trabalho, ou adoecer em função dele, é o tipo de situação que a psicodinâmica tenta compreender a partir de casos concretos. Trabalhar implica em questões como: a de sobrevivência, status social, ou até mesmo altruísmo como, por exemplo, mudar a sociedade, ser reconhecido como pessoa capaz de se relacionar com o outro. Não podemos deixar de expor que se trata da experiência do real que pode ser, ao mesmo tempo, afetiva e penosa, trabalhando com as emoções do sujeito.

Assim, para melhor compreensão do sofrimento sob a metodologia da Psicodinâmica do Trabalho na experiência do real, faz-se necessário conhecer o trabalho e suas formas organizacionais, bem como as condições de trabalho e seus impactos sobre os trabalhadores.

1.2

CONDIÇÕES DE TRABALHO

O contexto da sociedade civil requer obediência a certas regras que podem implicar nas ações que o sujeito se submete no processo de sobrevivência social, seja sob a forma de dominação advinda do processo de organização do trabalho, seja sob a forma de ocultação, reprimindo seus sonhos e desejos.

Quando o sujeito se submete ao mundo do trabalho, submete-se também às normas da empresa que demonstram a forma de gestão, e nessas normas estão inseridas as condições de trabalho e a organização do trabalho, embora não devamos esquecer que os efeitos sobre a saúde mental do trabalhador não resultam especificamente do sistema organizacional ou do mercado, mas de como ele é conduzido.

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poeiras, fumaças etc.), seja biológico (vírus, bactérias, fungos etc.), bem como a condições de higiene, segurança e as características antropométricas do posto de trabalho.

Quanto à organização do trabalho, este mesmo autor destaca que se trata da divisão do trabalho e do conteúdo da tarefa na medida em que ela deriva do sistema hierárquico, das modalidades de comando, das relações de poder, das questões de responsabilidades, dentre outras que demonstram a relação com o outro e com a tarefa (DEJOURS, 1992).

Desse modo, trabalhar enseja sempre uma relação coletiva, onde há o sujeito e sua tarefa laborando para alguém, sejam superiores hierárquicos, colegas ou subordinados, que na maioria das vezes se percebe a cooperação para o cumprimento das regras estabelecidas no ambiente de trabalho.

A relação do coletivo de trabalho passa pela relação com o outro que se submete e se compromete a cooperar na construção, estabilização, adaptação, transmissão e no respeito às regras de trabalho para manutenção do funcionamento organizacional, cujo contexto enseja esforço e, consequentemente, sofrimento (DEJOURS, 2007).

O trabalho preenche, então, um espaço na construção de identidade do sujeito, nas formas de sociabilidade e na autoestima, sobretudo no aspecto da determinação do sofrimento psíquico, onde a psicodinâmica busca compreender a dinâmica psíquica das situações de sofrimento e prazer, interligadas ao anseio do trabalhador e aos modelos de gestão da empresa em que está inserido.

Observar as condições de trabalho requer verificar como elas interferem em possíveis disfunções psíquicas e somáticas que o trabalhador apresenta, visto que o trabalho pode apresentar-se como meio de exploração capitalista ou como social democrata, vislumbrando a inserção social e a significação do sujeito enquanto ser humano.

A psicodinâmica apresentada por Dejours não objetiva somente pôr fim ao sofrimento no trabalho, mas transformá-lo em possibilidades de superá-lo, de fazer com que o trabalhador entenda qual o seu papel enquanto sujeito na sociedade, qual a sua forma de contribuição e construção para uma sociedade mais justa e solidária.

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coletivo, possibilitando o prazer em produzir e em estar com o outro, ainda que necessite obedecer às regras institucionais.

As pessoas trabalham porque esperam uma retribuição, um reconhecimento que está além da retribuição material, como o salário. E se estão em um ambiente favorável, ainda que seu posto de trabalho seja mecanicista, sentem-se produtivas e valoradas. Desse modo, o sofrimento emocional cede lugar ao prazer. Vale ressaltar também que o cansaço físico pode ser atenuado quando o sujeito se sente emocionalmente bem, satisfeito e valorizado.

Dejours ensina que o trabalho exige esforço e sofrimento, mas na essência da cooperação, imbuídas de regras, há a necessidade de o sujeito se expor e correr riscos ao implicar-se em debates coletivos sobre como se adaptar às regras da empresa, expondo-se, assim, ao olhar e às críticas dos outros e ainda:

O trabalho é uma prova capital para a própria subjetividade, tendo, ao fim do processo, a possibilidade de uma transformação do sofrimento. Pois, vencendo a resistência do real, o sujeito transforma-se a si mesmo, torna-se de algum modo, mais inteligente, mais competente mais hábil do que era antes de ter superado essas dificuldades. Trabalhar não é apenas produzir, implica necessariamente na transformação do eu (DEJOURS, 2007, p.18).

O papel da organização do trabalho é de suma importância para que os trabalhadores possam reagir a um possível adoecimento físico ou psíquico. Em outras palavras, é na organização do trabalho que o sujeito procura forças para lutar contra a doença mental.

Segundo Dejours, a organização do trabalho não é só a divisão do trabalho, das tarefas entre os operadores, os ritmos impostos e os modos operatórios prescritos, mas também, e sobretudo, a divisão dos homens para garantir esta divisão de tarefas representadas pelas hierarquias, as repartições de responsabilidade e os sistemas de controle. Não se trata, portanto, de uma questão meramente física ou estrutural, mas de cooperação e colaboração (DEJOURS, 1992).

Assim, quando a organização do trabalho entra em conflito com o funcionamento psíquico dos homens, “quando estão bloqueadas todas as possibilidades de adaptação entre a organização do trabalho e o desejo dos sujeitos”, então, emerge um sofrimento patogênico, ficando evidentes as dificuldades da prática cotidiana do trabalho nesse ambiente, externando uma situação de sofrimento no trabalho (DEJOURS, 1992, p.10).

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sujeito é passível de ser colaborador, pois a maneira de ser de cada um e os problemas pessoais ultrapassam os limites do pessoal e invadem o público quando se relacionam no ambiente de trabalho e acabam interferindo nas suas tarefas diárias.

O trabalho possui um papel importante na consolidação da identidade e na sociabilidade do sujeito, bem como na determinação do sofrimento psíquico do mesmo. É no confronto de ideias, atitudes e desejos do trabalhador no contexto do trabalho, conforme os modelos de gestão, que o sujeito demonstra sua maneira de ser e agir.

A ação revela a condição humana oferecida pelo trabalho, não apenas de como saber como desempenhar suas tarefas, mas como ser também capaz de se relacionar, de conduzir seus sentimentos, de controlar ou não suas emoções, pois isso faz parte do seu crescimento pessoal e profissional.

Determinadas condições de trabalho, sejam físicas ou organizacionais, podem trazer adoecimento físico e mental para o trabalhador. Condições físicas e químicas de trabalho como, por exemplo, as temperaturas, gases tóxicos etc. são claramente apontadas pelos trabalhadores como fonte de perigo para o corpo (DEJOURS, 1992, p.66).

No caso do professor, em especial, as condições físicas de trabalho podem ser um fator de risco potencial para causar dano físico ou mental. Salas com excesso de calor, sem ventilação, mofo e ruído, por exemplo, atrapalham não só o exercício da profissão, como o desempenho dos alunos.

A continuidade de trabalho nessas circunstâncias geram doenças como a rinite alérgica, rouquidão, pneumonia, doenças respiratórias que inviabilizam a rotina de trabalho, gerando faltas ao serviço para o professor e também ausência dos alunos em sala de aula.

Pesquisa desenvolvida por professores da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) sobre as condições de trabalho e saúde do/a professor/a universitário/a detectaram que o ambiente de trabalho demonstra o risco com potencial para causar dano físico ou mental ao trabalhador (LIMA; LIMA FILHO, 2009).

Essa pesquisa de caráter exploratório, realizada com 189 professores universitários da citada universidade, demonstrou que os docentes apresentavam exaustão emocional, considerando a elevada manifestação de sintomas como nervosismo, estresse, cansaço mental, esquecimento, insônia, entre outros (LIMA; LIMA FILHO, 2009).

(32)

percentual nos quesitos de estado de conservação dos equipamentos existentes, falta de equipamentos para o desenvolvimento do trabalho, ruídos, adequação dos mobiliários, uso de microfones e ingestão de água.

Quanto a aspectos estruturais e de equipamentos, percebeu-se que há divergência de departamentos, influenciando na qualidade de trabalho e no modo de todos se relacionarem. A gestão interfere nessa questão posto que a insatisfação se faz presente mais em alguns departamentos que em outros, onde uns contam com mais recursos que outros, deixando claro a separação do professor pesquisador produtivo dos demais, atrelando interesses políticos ou de mercado (LIMA; LIMA FILHO, 2009).

Segundo relato de um entrevistado, em alguns departamentos, “os professores já utilizaram recursos próprios para pintarem a própria sala”. Portanto, a aquisição de material e equipamento para atender a necessidade dos departamentos fica condicionada, principalmente, ao financiamento de pesquisas e recursos pagos. Percebe-se que aqueles departamentos em que o mercado tem mais interesse em seus projetos e assessorias, são os que dispõem de melhores condições físicas e materiais para o desenvolvimento de seu trabalho (LIMA; LIMA FILHO, 2009, p.68).

No relato apresentado acima, podemos verificar que o professor se encaixa como qualquer outro trabalhador que tem seu trabalho equiparado a produto de mercado, deixando transparecer o modelo capitalista de gestão, onde prevalece quem produz mais e melhor, favorecendo, assim, a rivalidade entre seus pares e destruindo a possibilidade de colaboração e de crescimento socioeducativo.

Os autores daquela pesquisa ainda expõem nessa perspectiva que:

À medida que os recursos disponíveis para a pesquisa são canalizados pelas áreas consideradas mais “rentáveis”, eles passam a ser usados privativamente dentro da própria instituição: laboratórios, computadores, salas, auditórios e equipamentos que servem apenas e exclusivamente aos grupos, núcleos e centros de pesquisa construídos às expensas do dinheiro público (propriamente os editais) e em parceria com empresas. Para Bosi (2007), cada vez mais privatizados os meios de produção do trabalho docente (e do conhecimento), resta aos professores desenvolverem suas próprias condições de trabalho, combinando “competição”, “empreendedorismo”, e “voluntarismo” (LIMA; LIMA FILHO, 2009, p.69).

Convém ressaltar que esse tipo de situação não é exclusivo daquela referida universidade ou de universidades públicas, ocorre também em instituições particulares de ensino onde, muitas vezes, equipamentos que viabilizam a aula como data show, vídeos, ou até mesmo a água que o professor leva para sala de aula são de recursos próprios.

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de reciclagem e aperfeiçoamento, exibir uma aula dinâmica e atual e ainda tem que se deparar com fatores ambientais inadequados, o que lhe gera estresse no trabalho.

As condições do trabalho do professor que se submete a duplas jornadas, jornadas ininterruptas, noturnas ou até mesmo jornadas alternativas como a do professor que grava aulas para os cursos à distância, sem contar que esse labor pode ser num ambiente insalubre, perigoso ou penoso. Tudo isso também gera desgastes que podem levá-lo à exaustão física e mental.

A legislação brasileira tem previsão legal de adicionais para essas situações excepcionais de trabalho. Adicional de hora extra, de hora noturna, de insalubridade, de periculosidade, de penosidade, mas são situações em que deveriam ser “excepcionais”, não rotineiras e assimiladas como normais e regulares.

No quesito da insalubridade, percebe-se que ainda está presente, em algumas salas de aula, o quadro de giz que traz consequências como doenças alérgicas e respiratórias. Destaca-se ainda que mesmo os quadros brancos com pincéis expõem o professor a esses riscos físicos, e quando o professor adoece fisicamente, consequentemente, repercute a nível mental e psíquico. Todavia, apesar disso, o professor continua ministrando suas aulas doente, rouco, afônico, podendo agravar ainda mais seu estado físico. Essa atitude de desprezo ou ignorância pelo risco enfrentado se justifica com o medo que o sujeito tem de ser considerado um professor faltoso, relapso e perder o seu posto de trabalho, principalmente, se for do sexo masculino.

É válido afirmar que as doenças alérgicas causadas, às vezes, pelo uso do giz ou do pincel podem desencadear uma pneumonia com tosse e/ou outros sintomas. Quando isso acontece, alguns professores têm vergonha ao tossir, sentem-se constrangidos e até culpados por estarem com esse tipo de doença.

Dejours, em sua obra “A Loucura do Trabalho”, expõe como se sente o sujeito em situações de doenças físicas, o quanto ele sofre e como assume a postura de conviver com ela, de “domesticá-la”, de “contê-la”, de “controlá-la”, mas de modo algum trata de evitar essa situação, e em suas observações, o autor então constata a reticência do sujeito em falar da doença e do sofrimento.

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vergonha: “Não é de propósito que a gente está doente”. Maçiçamente, com efeito, emerge uma verdadeira concepção da doença, própria ao meio. Concepção dominada pela acusação. Toda doença seria de alguma forma, voluntária: “Se a gente está doente é porque é preguiçoso”. “Quando a gente está doente, se sente julgado pelos outros” (DEJOURS, 1992, p.29).

O direito do trabalho, aliado à medicina do trabalho, preocupa-se com trabalhadores que são tidos como executores de práticas ou acontecimentos reiterados e, portanto, regulares. Para melhor assistir a esses profissionais, pois algumas situações decorrerem apenas das condições físicas de trabalho, estas ciências podem constatar e amparar algumas doenças e acidentes do trabalho.

Entretanto, há situações em que o trabalhador apresenta a doença física e mental, decorrente das vivências diárias de sofrimento psíquico quando, por exemplo, se inclui o assédio moral no contrato de trabalho. Assédio para Cassar é:

O assédio é o termo utilizado para designar toda conduta que cause constrangimento psicológico ou físico à pessoa. Já o assédio moral é caracterizado pelas condutas abusivas praticadas pelo empregador direta ou indiretamente, sob o plano vertical ou horizontal, ao empregado que afetem seu estado psicológico. Normalmente, refere-se a um costume ou prática reiterada do empregador (CASSAR, 2011, p.976).

Segundo Freitas, Lima e Antonio (2010), o assédio trata-se de uma violência no ambiente de trabalho sob a forma de práticas de intimidação e condutas que têm como consequências o estresse, a depressão, fobias, perturbações do sono e outras.

A violência no trabalho, segundo a OIT (2003), caracteriza-se como todos os tipos de comportamentos agressivos e abusivos que visam causar danos físicos, psicológicos ou desconfortos em suas vítimas, apresentando as seguintes características: a) ação de exclusão de uma ou mais pessoas de determinada atividade profissional; b) agressões persistentes em relação ao rendimento profissional; c) ridicularização da reputação pessoal ou profissional de uma pessoa; d) desprezo contínuo de uma pessoa pelo chefe e/ou colegas de trabalho, entre outras (MENDES, 2010, p.126).

Situações como essas podem ser recebidas e enfrentadas conforme a vivência individual do sujeito que sofre, pois cada um possui uma maneira única de reagir a determinadas situações. Ainda assim não se aceita, conforme os padrões ético-sociais, que um possa se sobrepor a outro de forma negativa e degradante.

Num contexto de trabalho em que o objeto é a educação, no mínimo, é inaceitável o tipo de comportamento opressor, ou seja, o assédio moral no contrato de trabalho. Entretanto, conforme o sistema organizacional e o perfil da empresa e de seus gestores a visão pode fazer favorecer essas práticas abusivas e ilegais.

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