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Relações sociais de trabalho entre pares e gestores frias, instáveis e

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS NÚCLEOS DE SENTIDO

4.1.4 Relações socioprofissionais e núcleos de sentido

4.1.4.1 Relações sociais de trabalho entre pares e gestores frias, instáveis e

Neste quesito, seguem relatos que confirmam a realidade de uma instituição com organização do trabalho limitadora, burocrática e repressora e a sua influência sobre os sujeitos envolvidos, tornando-os competitivos, apáticos e desestimulados para prosseguir na profissão. Por vezes, quando absorvidos pelas regras institucionais, esquecem-se da ética e da política da boa convivência.

Prof. Phil: “[...] com relação às relações sociais no trabalho, em relação aos colegas de trabalho, mesmo aquele que concorre pela sala de aula com você,ou seja, com carga horária, a relação é muito boa com os professores, apesar de gerar uma competição interna, onde quem vai pegar mais carga horária que o outro tem que sair se vendendo para todo coordenador de curso. O que atrapalha são as interferências externas: ou você agrada o seu coordenador, ou agrada os alunos, ou é substituído.”

Profª. Karol: “[...] hoje, a gente começa a perceber que essa coisa do humano, das relações, deixa muito a desejar. O próprio coordenador, a forma como ele se comunica, como ele se relaciona, ele fica ali no gabinete dele, ele é um coordenador que

tá para ali, que não sai dali, dificilmente. Pelo menos na minha coordenação é assim que funciona. Dificilmente a coordenação vai à sala de professores, dificilmente sai daquele mundinho ali e vai para um cafezinho, pra conversar, para interagir, então, fica naquela postura, naquela autoridade, e...”

Profª May: “[...] e não sabe o que tá acontecendo com a gente e com o curso”. Profª Karol: “[...] exatamente, e aí não sabe o que tá acontecendo com a gente,

né?”.

Profª Cindy: “[...] não sabe em tese, porque sempre tem colegas que sabem ir lá fazer fofocas, contar vantagens, fazer intrigas, se locupletar, ou seja, tem gente que fica sempre rodeando o coordenador, o diretor do Complexo pra, digamos assim, ser bem visto, estar em evidência pra se garantir, pra pegar mais turmas, pra fazer minicursos e ganhar mais algum à custa dos outros.”

Profª May: “[...] é, mas isso é uma cultura geral aqui que vem de cima, alguém começou aceitando esse tipo de comportamento e que agora parece que é a norma da casa, tá demais, todo dia se escuta uma confusão, uma fofoca, meu Deus, é só chegar à sala dos professores que tem uma novidade, quando não é aquela coisa da demissão”.

Profª Mary: “[...] relações mesmo, são com os alunos e com alguns professores que a gente acha que pode confiar, se bem que, às vezes, você pensa que fulano é seu amigo, até se abre com ele mas, de repente, ele te passa uma rasteira. Além da coisa do humano também tem aquela da ética, aqui se acabou isso porque é todo mundo querendo passar a perna em todo mundo”.

“[...] e ainda eu sinto, eu então me sinto até privilegiada assim diante de outros colegas daqui da IES porque ele não sabe como é a vida dele no outro semestre, e aí a gente fica assim, as pessoas da relação: onde tá fulano? Tá no outro Complexo? Aí a gente ouve assim: não, fulano não tá mais, não tá mais...”.

“[...] a profª. Cindy, por exemplo, que ficou jogada com pouca turma lá no Complexo A, ficou isolada por conta daquele episódio que ela se atrasou por causa do vírus existente no computador da sala dos professores que apagou suas provas e da fila pra imprimir provas que a fez chegar à turma com atraso de uns quinze minutos e o coordenador a proibiu de aplicar a prova. Ela o enfrentou, e no semestre seguinte ela não tava mais no curso de administração do Complexo C”.

“[...] e assim, a gente vai pra onde? Se é da chamada panelinha da IES... e tu nem sabe... e de repente tu ficas sem saber mesmo... e a Instituição ajuda? Não ajuda. E

se tu tens um pouco de boa vontade, não pode dizer nada, não pode se compadecer, não pode dizer a verdade, não pode, não pode de jeito nenhum”.

Profº. John: “[...] se a gente tem alguma coisa pra resolver, se a gente leva uma

questão pra resolver, um problema, ou que a gente tem alguma falta, ou que a gente tem que resolver algum problema da Instituição com relação ao curso, tu ficas mal visto, parece que a gente tá criticando o coordenador, tá falando mal da Instituição. Então, das duas uma, e corre o risco de você ficar sem turma, e você fica, você fica e você fica sem turma. Ou você é amigo do rei, ou você não é nada.”

Profª May: “[...] eu me sinto muito mal. Sabe, todos os dias você chega em casa cansada porque você tem um compromisso consigo mesma e quer fazer um bom trabalho com seus alunos, até porque eles não têm culpa disso aqui e eles sabem de tudo, às vezes, sabem mais que nós, porque se você chegar em sala e for ouvi-los é capaz de nem dar aulas de tanta queixa.”

“[...] sim, mas o que eu ia dizendo, você se esforça tanto, capricha tanto, abre mão de fazer suas coisas pessoais, de estar com seus filhos, para que, sem critério nenhum, um dia você chegar e não estar mais, ou com a turma, ou no Complexo, ou até mesmo na Instituição, é doído demais. E mais, não sabem quem é você, qual a sua formação acadêmica, o que você está fazendo, além do que não te estimulam a nada, nem a fazer um bom trabalho, nem ser um bom profissional, sequer ser um ser humano, e o que você vai ensinar então? E o que você vai pensar então? E você tem que guardar tudo isso porque você não tem e não pode desabafar com ninguém, e isso é uma bola de neve, e vai passando, e vai passando e você nem se dá conta de que não tá fazendo nada na sua vida pra você. E quando sair daqui vai fazer o quê? Porque o mundo tá andando e você tá parado, é muito triste, muito triste”.

Verifica-se, portanto, nas percepções dos professores que as relações interprofissionais com alguns pares, com a chefia e com o corpo administrativo, na maioria das vezes, levam ao estresse, possibilitando aferir o quanto essas relações são determinantes no desgaste físico e psicológico dos docentes.

4.1.4.2 Relações interpessoais professor/aluno de mútuo reconhecimento, confiança e