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2 TRABALHO: SITUAÇÕES DE SOFRIMENTO E PRAZER

2.2 SITUAÇÕES DE PRAZER NO TRABALHO

Situações de prazer e sofrimento no trabalho de determinado sujeito são vivências que cada um reage de forma distinta, pois não se trata de fórmula única e universal, há os significados da cultura da empresa e da sociedade em geral a que cada um desses trabalhadores está inserido.

No caso do professor, em especial, a reação ocorre de maneira diferente entre eles, face aos mais variados fatores que os levam ao adoecimento. Entretanto, na relação professor/aluno está a maior fonte de oportunidade para o aparecimento de doenças psicofísicas, como também de grandes recompensas e gratificações.

Freitas (2006) entende que o prazer é resultante do fato de os professores atuarem em um contexto de trabalho que possibilita relações intersubjetivas, marcadas pela troca e confiança entre os pares; pela boa relação com os alunos, que emitem constantes elogios aos professores; e ainda, pela flexibilidade na organização do tempo de trabalho.

Geralmente o êxito da educação depende do perfil do professor, pois a gestão da instituição de ensino, via de regra, não fornece meios pedagógicos necessários à realização de tarefas cada vez mais extensas e complexas.

Nesse sentido, os professores são compelidos a buscar, por meios próprios, alternativas de mudanças desse status, qualificando-se ou requalificando-se, e até mesmo buscando novas estratégias e habilidades para melhor composição de suas tarefas diárias.

Nessa busca pelo conhecimento, pela reforma e modernização do seu trabalho, muitos professores encontram entre seus pares alternativas coletivas de estarem atualizados, de trabalharem em equipe e de descobrirem na multidisciplinaridade formas de parceria e convivência com o outro. Isso os faz esquecerem os desgastes que a gestão da empresa os impõe.

Nota-se que o trabalho tem um significado nas condutas e comportamentos dos sujeitos em seu ambiente laboral, portanto, compartilhar a significação que os professores atribuem às suas ações é uma forma de manifestar o prazer no trabalho.

Assim, podemos destacar que no trabalho do professor há vários pontos a serem observados que influenciam em seu comportamento, dentre os quais, a significação e o sentido do trabalho por eles desenvolvido. Isso então para o pesquisador, sob a ótica da psicodinâmica, é uma forma de trazer à tona aos trabalhadores que o compartilhamento significativo de suas ações pode trazer situações de prazer.

Lancman e Uchida (2003), nesse sentido, entendem que a psicodinâmica do trabalho, ao tentar compreender a ação de um determinado sujeito em um contexto de trabalho, percebe que todo comportamento é motivado e tem um sentido. Se certa conduta é insólita, isso se deve ao sofrimento subjetivo e às estratégias defensivas contra esse sofrimento.

Esses mesmos autores, concluem ainda que a inteligibilidade desse ato do sujeito vem não da conduta que ele expressa, mas do sofrimento que o motiva. A racionalidade que emerge a partir dessa análise do sofrimento é denominada por Dejours de “racionalidade páthica”, encontrada no mesmo centro de investigação da psicodinâmica do trabalho.

Diante desse entendimento, o posicionamento de Dejours (2006) é no sentido de que as estratégias individuais de defesa têm papel importante na adaptação do sofrimento, embora, por serem de natureza individual, possuam pouca influência na violência individual. E explica:

A psicodinâmica do trabalho descobriu também a existência de estratégias coletivas de defesa, que são estratégias construídas coletivamente. Se, mesmo nesse caso, a vivência do sofrimento permanece fundamentalmente singular, as defesas podem ser objeto de cooperação. As estratégias coletivas de defesa contribuem de maneira decisiva para a coesão do coletivo de trabalho, pois trabalhar é não apenas ter uma atividade, mas também viver: viver a experiência da pressão, viver em comum, enfrentar a resistência do real, construir o sentido do trabalho, da situação e do sofrimento (DEJOURS, 2006, p. 103).

Essa construção coletiva apresentada por Dejours, no caso especial dos professores universitários, ocorre quando estes põem em risco sua integridade moral. Eles sentem medo e para sobreviverem no ambiente de trabalho, diante das pressões organizacionais que lhes são impostas como: jornada extensa, rígido controle de ponto, baixos salários, carência de recursos materiais e humanos, individualismo, competitividade e outras sobrecargas, lutam contra esse medo na forma de estratégia de ação sobre a percepção que eles têm do risco.

Essa oposição ao risco, conforme o entendimento de Dejours (2006), é no sentido de negação da percepção, e uma estratégia que consiste em desprezar o risco, em lançar desafios, em organizar coletivamente provas de encenação de riscos artificiais, onde se submetem publicamente em fórmulas variáveis, podendo chegar ao “ordálio”.

As pressões da empresa, por vezes, parecem tão intensas que os professores necessitam dentro dessa cultura ter a aprovação ou não perante seus chefes, pares e discentes. Contudo, determinadas estratégias podem agravar o risco, em vez de limitá- lo, funcionando apenas em relação à percepção do risco que eles, os professores, pretendem banir da consciência.

Assim, vemos que o processo coletivo de compartilhamento de ideias e opiniões para atingir o mesmo ideal, combater injustiças e sofrimentos impostos a outros ou a si, são estratégias defensivas que podem ser utilizadas e que também geram prazer.

Um ambiente de pressão onde só cobranças são impostas geram o medo e a insegurança, todavia, diante de algumas atitudes, os professores podem mobilizar-se para, em prol de defender seus pares, defenderem-se a si próprios.

No caso da Instituição em análise, diante de inúmeras mudanças e exigências por parte dos donos da empresa, os chefes imediatos dos professores e coordenadores de curso tinham atitudes totalmente incompatíveis com trabalho educativo, posto que num ambiente onde a educação seja a base, o mínimo que se espera é a expressão de educação em seu sentido amplo.

Um exemplo dessas atitudes foi a edição de uma portaria que limitava novos prazos de entrega de diários de classe, cuja elaboração partia de um sistema informatizado e determinava que o professor que não cumprisse o prazo deveria ir até a secretaria acadêmica “solicitar sua advertência e, em seguida entregar à coordenação para que as providências administrativas fossem tomadas.” Ocorre que, além de ser um exemplo claro de assédio, o sistema inviabilizava o trabalho administrativo do professor, porque comumente apresentava problemas.

Destaca-se que em determinado momento houve um incidente em relação ao descumprimento de prazo com um professor tido como excelente profissional no sentido amplo das suas atividades e isso levou à indignação por parte de seus pares, além de outras ações que fizeram com que muitos deles, em reunião no curso de Direito, externassem sua revolta, reivindicando medidas a serem adotadas pela instituição, sob pena de ser formalizada uma greve.

Nesse contexto, aquele momento foi de puro prazer entre os professores de todos os cursos, pois diante de tantas pressões e abusos, os professores do curso de Direito superaram o medo, conseguiram ter voz, e essa voz parecia ser ampla, de todos os professores dos demais cursos.

O sentido de mudar, de encontrar apoio no outro vem da percepção de compartilhamento, de coletivo, de fazer com que em conjunto possam ser encontradas estratégias coletivas de defesa.

É importante ressaltar que a forma de organização do trabalho na atualidade é definida pela racionalização do trabalho, parcelarização e rotinização laboral, ativando o processo de rompimento entre o trabalho, enquanto realização humana, e o trabalho como produto.

Esse processo pode gerar, ao mesmo tempo, duas situações, quais sejam: de sofrimento e prazer. Uma relativa à perda da autonomia, desqualificação, controle e resultado do trabalho a partir da especialidade e confinamento de docentes em áreas e disciplinas, outra relativa à superação, à busca pelo crescimento profissional e pessoal, capacidade de ser multidisciplinar e adaptar-se às novas exigências do mercado positivamente.

Freitas (2006) entende que o prazer está associado ao atendimento das expectativas profissionais em relação ao trabalho, onde há satisfação nas atividades realizadas com liberdade de pensamento e de expressão para discutir o trabalho.

A citada autora, no estudo sobre a saúde e o processo de adoecimento no trabalho dos professores em ambiente virtual, observou forte expressão das vivências de prazer, pois mesmo identificando uma organização de trabalho contraditória, rígida, diante de novos processos de controle, encontrou elementos flexíveis no trabalho desses professores como a liberdade na organização do tempo de trabalho e a realização de tarefas na conformidade de suas necessidades.

Ainda nesse sentido, a mesma autora concluiu que esses elementos favorecem a expressão da subjetividade dos professores, na medida em que a vivência de uma experiência singular, onde o sujeito exprime seu SER, viabiliza a construção de significados ao operar como mediador entre o inconsciente e o meio social, posto que o trabalho edifica a identidade do professor, propicia o prazer e contribui no enfrentamento do sofrimento.

Freitas (2007, p. 124), sobre as vivências de prazer, diz surgir do “[...] bem que o trabalho produz no corpo, na mente e nas relações sociais, com causa nas dimensões que estruturam o contexto de trabalho. Essas vivências, portanto, manifestam-se por meio da gratificação, da realização, do reconhecimento, da liberdade e da valorização no trabalho.”

Assim, quando no trabalho do professor é identificada a valorização e seus componentes, a referida autora entende que estes são indicadores de saúde no trabalho por viabilizarem a estruturação psíquica, identidade e expressão da subjetividade no ambiente laboral, de modo a possibilitar as negociações, a formação de compromisso e a ressonância entre o subjetivo e a realidade concreta de trabalho.

Conforme Dejours, a saúde e o prazer no trabalho são processos que estão sempre a ser conquistados, e não estão em lugar nenhum adquiridos definidamente. A conquista da saúde no trabalho passa, por conseguinte, pela forma como os trabalhadores enfrentam a diversidade do contexto de trabalho. Assim, o uso de estratégias de mediação do sofrimento são fundamentais para a busca da saúde e do prazer no contexto de trabalho (FREITAS, 2007, p. 127).

Portanto, diante do exposto, verifica-se a importância da valorização do trabalho do professor, do reconhecimento de suas ações na prática docente e do prazer que vem dessas vivências e que repercute no reconhecimento social, gerando confiança, respeito e referência entre seus pares e alunos.

De outra forma, na perspectiva de Soboll (2007), o indivíduo é levado a cumprir as exigências da organização para obter, em troca, possibilidade de desenvolvimento na carreira e visibilidade diante dos pares e supervisores.

Freitas (2007) ainda entende que a mobilização do sujeito em relação ao trabalho está envolvida com uma busca de identidade, ou seja, o trabalho apresenta-se como um campo possível de realização e de desejo subjetivo fundamental de obter um benefício em termos de sentido para si, de construção de identidade.

Essa afirmativa coaduna com os ensinamentos de Dejours para a construção da identidade do sujeito. O reconhecimento do fazer no trabalho do professor, emitido pelos pares ou pelos superiores, também é o reconhecimento da identidade do sujeito. O desenvolvimento da carreira do docente, assim contempla uma vivência de prazer no trabalho.

Para Soboll (2007, p. 144) “o desejo de fazer carreira impulsiona o sujeito a envolver-se pelo anseio e vencer e não mais pela obrigação de trabalhar, o que o leva a produzir mais e melhor”, responder aos desígnios da organização, superando-se, torna um objetivo para o indivíduo: a obrigação torna-se um valor pela via de sucesso.

Portanto, o aumento da produção científica docente, estimulado pelas instituições reguladoras da pós-graduação e de fomento à pesquisa como CAPES, CNPq e congêneres, nos estados, que por sua vez cobram também das instituições de ensino, determinando requisitos para manutenção de programas de pós- graduações e financiamentos para pesquisas, geram não e tão somente vivências de sofrimento, mas de prazer.

Se de um lado observa-se vivências de sofrimento através do estresse, cansaço e até frustração na competição de professores pelo aumento da produção científica, por outro, observa-se o crescimento profissional, incentivo salarial por titulação acadêmica, reconhecimento desse profissional no meio acadêmico e outros elementos constitutivos de vivências do prazer no trabalho.

Assim, a afirmativa de que não há prazer sem sofrimento é no sentido de que qualquer trabalho possui essas duas vivências. Desse modo, o importante é fazer das determinações da empresa uma possibilidade de crescimento, de compartilhamento de ideias, de coletivo na busca de estratégias que viabilizem esse estresse no labor.

Dessa forma, Lima júnior e Ésther (2001, p. 24) entendem que “[...] sofrimento e prazer são oriundos da dinâmica interna das situações e da organização do trabalho, ou seja, são produtos dessa dinâmica, das relações subjetivas e de poder, das condutas e ações dos trabalhadores permitidas pela organização do trabalho”.

Entretanto, eles apontam que o desafio real na prática é definir as ações suscetíveis de mudar o destino do sofrimento e favorecer sua transformação, e não sua

eliminação, pois quando o sofrimento pode ser transformado em criatividade, traz uma contribuição que beneficia a identidade (LIMA JÚNIOR; ÉSTHER, 2001).

Os benefícios dessa transformação, portanto, complementam os autores, aumentam a resistência do sujeito ao risco de desestabilização psíquica e somática, funcionando como um mediador para a saúde.

De forma distinta, os autores destacados ainda relatam que quando a situação, as relações sociais de trabalho e as escolhas gerenciais empregam o sofrimento no sentido patogênico, o trabalho funciona como um mediador de desestabilização e da fragilização da saúde.

Nesse sentido, Mendes e Tamayo (2001, p. 40) ensinam que “as vivências de prazer-sofrimento formam um único constructo composto por três fatores: valorização e reconhecimento, que definem o prazer; e desgaste com o trabalho, que define o sofrimento.”

Sobre a vivência do prazer, os mesmos autores dizem que ocorre quando são experimentados sentimentos de valorização e reconhecimento no trabalho, conceituando valorização em sentimento de que o trabalho tem sentido e valor por si mesmo, sendo importante e significativo para a organização e a sociedade.

Quanto ao reconhecimento, Mendes e Tamayo (2001, p. 41) definem no “sentimento de ser aceito e admirado no trabalho e ter liberdade para expressar sua individualidade”. O sofrimento, segundo eles, é vivenciado quando experimentado o desgaste em relação ao trabalho, que significa a sensação de cansaço de desânimo e descontentamento com o trabalho.

Portanto, se o prazer e o sofrimento são vivências de sentimentos de valorização, reconhecimento e/ou desgaste no trabalho, o professor universitário, em especial, diante de determinada forma organizacional poderá ter, apesar de pressões existentes, o prazer do reconhecimento quando consegue transmitir valores, técnicas e habilidades ao discente transformando-o em profissional competente e cidadão.

Ser professor vai além da transmissão da técnica, do conhecimento de forma criativa e habilidosa, pois forma opiniões, modela talentos, transmite valores, e diante da postura que adota, do perfil que tem, serve de parâmetro, de modelo a seguir, e quando vê seu trabalho realizado, sente prazer, vivencia o respeito, o reconhecimento, sente-se competente e estimulado.

Augusto (2011, p. 30) afirma que “as vivências de prazer surgem do amálgama que o trabalho traz para o corpo, a psique e as relações interpessoais. As suas causas originam-se das dimensões que estruturam o contexto de trabalho”.

Essa autora compartilha da mesma opinião apresentada neste estudo, de que as vivências de prazer constituem-se como um dos indicadores de saúde no trabalho por possibilitarem a estruturação psíquica, a identidade e a expressão da subjetividade no trabalho, de modo a viabilizar as negociações, a formação de compromisso e a ressonância entre o subjetivo e a realidade concreta de trabalho (AUGUSTO, 2011).

Nesse sentido, observa-se que o prazer no trabalho surge como indicador de saúde e construtor de identidades individuais e coletivas, de modo que nem sempre o trabalho é apenas e tão somente estressante e gerador de sofrimento.

Assim, a psicodinâmica enquanto método investigativo dos impactos no trabalho sobre o sujeito desperta para a relação prazer e sofrimento no trabalho como vivências capazes de construir a subjetividade do sujeito, partilhando dos ensinamentos da psicanálise de Freud, em especial.

Mancebo (2007) observa que embora a organização do trabalho se apresente com as ingerências do novo panorama social que se materializa nas universidades através dos programas de avaliação institucional e docente, na organização e formato de alguns cursos e nas formas preconizadas de captação de recursos, tanto para o provimento de estrutura material quanto para a remuneração docente, e ainda as reivindicações de mudanças no sentido de autonomia e perfis universitários coerentes às novas necessidades da sociedade, o professor ainda mantém a construção de alianças, de compartilhamento dos conhecimentos e de produção de novos sentidos e significados.

Portanto, percebe-se que o professor, mesmo sob a pressão da gestão no qual esteja inserido, é capaz de criar defesas contra o sofrimento padecido no trabalho. As estratégias de defesa podem finalizar as ações cotidianas perversas de forma que ele não desanime e venha abater-se ou sucumbir.

O trabalho docente constitui-se num lugar contraditório que suscita, a um só tempo, sobretrabalho e prazer; assujeitamento e captura acrítica dos envolvidos para as novas demandas colocadas para a universidade, mas também espaço para as invenções, pensamento e crítica (MANCEBO, 2007, p. 79).

A mesma autora ainda conclui que na esfera da universidade há uma rede de relações e produções, às vezes, na direção do ajustamento à nova ordem social; noutras, na busca de brechas e possibilidades de escape, inúmeras vezes produzindo

assujeitamento, sofrimento, doença e em outras circunstâncias, favorecendo crescimento, prazer e solidariedade.

Assim, sob todo o exposto, vale ressaltar algumas considerações que envolvem esse contexto de trabalho prazeroso e sofredor. O trabalho composto de vários elementos é um espaço de construção de identidade que influencia na autoimagem do trabalhador, sendo fonte de prazer e sofrimento no processo psíquico e social dos sujeitos que, na visão de Freitas (2006), é lugar seguro junto à comunidade por viabilizar um contato direto com a realidade.

Dejours (2007) afirma que o trabalho é também uma relação com o outro, face à cooperação, comprometimento, ao funcionamento coletivo, bem como a construção, estabilização, adaptação, transmissão e respeito às regras, exigindo do sujeito muitos esforços e sofrimento, mas também prazer, quando há reconhecimento.

Para esse autor, o trabalho é necessário para nos tornar hábeis em nossa atividade, facilmente demonstrável, e infelizmente não se reduz simplesmente a um segmento de tempo, isto é, à mera repartição de tempo em que permanecemos no trabalho. “É toda a subjetividade que é arrebatada nesse movimento, até o mais íntimo do ser. É uma das razões pelas quais pode-se ficar doente, ou ao contrário, ser transformado com alegria pela relação como trabalho”.

O mesmo autor ainda acrescenta que saúde e prazer no trabalho são processos que estão sempre a ser conquistados e não estão em lugar nenhum adquiridos definidamente. A conquista da saúde no trabalho surge quando os trabalhadores enfrentam a diversidade do contexto de trabalho através do uso de estratégias de mediação do sofrimento, o que é fundamental na busca da saúde e do prazer laboral.

Portanto, “o trabalho é uma fonte inesgotável de paradoxos. Incontestavelmente, ele dá origem a terríveis processos de alienação, mas pode ser também um possante instrumento a serviço da emancipação, bem como do aprendizado e da experimentação da solidariedade e da democracia” (DEJOURS, 2006, p. 141).

No trabalho docente a sobreimplicação é um conceito que permitiria compreender o sentido de prazer que os professores encontram em seu trabalho, sua “sobrevivência” enquanto sujeito, ao mesmo tempo em que se transformam em trabalhadores “full-time”, trabalhadores com 24 horas de trabalho diário, ainda que espacialmente fora dele. Trabalho, subjetividade e sobre-exploração apresentar-se-iam organicamente imbricados na sobreimplicação e o encanto que paira sobre a vida universitária poderia, sob esse prisma de análise, estar-se voltando contra o próprio professor (MANCEBO, 2007, p. 79).