• Nenhum resultado encontrado

1 PSICODINÂMICA DO TRABALHO

1.3 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

A organização do trabalho na empresa repercute nos atos dos sujeitos que nela estão inseridos, e através dela se pode conhecê-los. Conforme seja a forma organizacional instituída e o modelo de gestão atribuído, os empregados podem agir deixando externar o que lhe é mais forte.

Ainda que seja uma organização positiva, bem elaborada, é impossível que todos os empregados cumpram fielmente as determinações impostas, respeitando com rigor todos os procedimentos necessários para o êxito da tarefa.

Vale lembrar que foi anteriormente mencionado que quanto às condições do trabalho, evidencia-se o ambiente físico, químico e biológico, questões de cunho estrutural; e quanto à organização do trabalho são levados em consideração a divisão do trabalho, as divisões de tarefas, hierarquia institucional, modelos de gestão e comando, relações de poder, questões de responsabilidade e outras, nesse âmbito.

Dessa forma, Dejours e Abdoucheli entendem que “[...] é através das organizações do trabalho que se extrai o que potencialmente desestabiliza a saúde mental dos trabalhadores, pois todas as pressões delas decorrem.” Assim, fazem um contraponto dos conceitos de condições do trabalho e organização do trabalho (ABDOUCHELI; DEJOURS, 2011, p.125).

A desestabilidade na saúde mental dos trabalhadores ocorre por questões de natureza subjetiva. O conflito entre a subjetividade e as pressões externas nem sempre é elaborado e recebido de forma natural, sempre há afetos que ensejam o desprazer, como o sofrimento, a angústia, o medo, a submissão que de algum modo é pulsional.

A partir do momento que Dejours percebeu que no trabalho o sujeito pode sofrer e não, necessariamente, enlouquecer, o foco das pesquisas se deslocou para o estudo das defesas construídas coletivamente contra o sofrimento sob o método da Psicodinâmica (MORAES, 2005).

O centro de investigação da psicodinâmica passou a ser o encadeamento entre as pressões de trabalho (plano objetivo) que causam sofrimento (plano subjetivo) e conduzem à estruturação de estratégias coletivas de defesas (plano intersubjetivo). As defesas (construídas coletivamente) suavizam a percepção do sofrimento (individual), possibilitando a luta contra os efeitos patogênicos do trabalho (DEJOURS; ABDOUCHELI, 2011).

As pesquisas indicaram que as pressões do trabalho advêm da organização nele imposta, cujo conceito, como foi apontado anteriormente, contrasta com o de condições do trabalho, abordado nos estudos de medicina do trabalho e ergonomia.

Moraes (2005), baseado nos ensinamentos de Dejours e Abdoucheli, diz que a organização do trabalho inclui a divisão do trabalho (divisão de tarefas sintetizadas no modo operatório prescrito) e divisão de homens e mulheres (estrutura hierárquica e divisão entre concepção e execução).

O mesmo autor ensina que em relação às consequências da organização do trabalho, estas incidem sobre o funcionamento psíquico de forma individual, gerando a carga psíquica de trabalho, e também sobre as relações interpessoais, mobilizando a afetividade, amor, ódio, solidariedade e confiança.

Assim, o sofrimento surgiria do conflito entre organização do trabalho e o funcionamento psíquico, sendo que esse “[...] conflito pode ser reconhecido como fonte de sofrimento e, ao mesmo tempo, como chave de sua possibilidade de análise” (DEJOURS; ABDOUCHELI, 2011, p.127).

Contudo, a organização do trabalho nem sempre fora como a conhecemos hoje, embora continuadamente tenha demonstrado dificuldades de aceitação de boas condições do trabalho por conta da forma de gerir. Nesse sentido, Dejours (1992), na obra A Loucura do Trabalho, faz um levantamento histórico desde o século XIX, demonstrando o desenvolvimento do capitalismo industrial caracterizado pelo crescimento da produção, êxodo rural e concentração de novas populações urbanas e o impacto no trabalho.

Nesse período, destacava-se a duração do trabalho de até 16 horas diárias, trabalho infantil na produção industrial a partir dos três anos de idade, salários muito baixos, insuficientes para garantir o mínimo necessário, ensejando péssimas condições de moradia, alimentação e higiene e o consequente esgotamento físico e mental (DEJOURS, 1992).

Através dessa realidade, pode-se constatar a subalimentação, falta de higiene, promiscuidade, os acidentes de trabalho e a potencialização dos efeitos que resultam situação inversa ao bem-estar e condições mínimas de subsistência humana.

As condições de trabalho, na época, limitavam-se a intensas exigências laborais e de vida e inúmeros acidentes graves compunham uma realidade opressora que considerava a miséria e a falta de higiene como doença contagiosa, conforme

apresentado nas literaturas “Miséria Operária” e “O germinal”, propiciando assim o sofrimento e o consequente isolamento (DEJOURS, 1992).

Vale destacar que atitudes de opressão da época despertaram movimentos que criaram conflitos entre patrões e empregados, cujos objetivos eram o direito à vida, sobrevivência e à liberdade de organização. Assim, o Estado passou a intervir nas relações privadas e diante de inúmeras pressões, tardiamente e lentamente, a partir de 1881 apresentou leis sobre redução de jornada, acidentes de trabalho, higiene e segurança e aposentadoria (DEJOURS, 1992).

A partir da primeira guerra mundial (1914-1918), os movimentos operários adquiriram bases sólidas e a organização dos trabalhadores traduziu-se no direito de viver, salvar o corpo dos acidentes, prevenir doenças profissionais e intoxicações por produtos industriais, assegurar cuidados e tratamentos convenientes, desenvolvendo sempre lutas pela saúde (DEJOURS, 1992).

Nesse contexto, surgiam inquietações em relação ao trabalho, editavam-se leis reconhecendo doenças profissionais e só após a segunda guerra mundial foram tomadas medidas que asseguravam a melhoria do ambiente de trabalho, com a instituição da Medicina do Trabalho.

Ressalta-se também que nesse momento da história havia preocupação com higiene e segurança no trabalho por conta dos inúmeros acidentes existentes; a jornada de trabalho e os descansos eram instituídos e, assim, a guerra favorecia esse movimento de proteção e cuidado com o trabalho em virtude da perda de mão de obra nos campos de batalha. Nesse sentido, percebe-se então como pano de fundo que a preocupação era com o capital e não como social.

O Estado era chamado cada vez mais a intervir nas relações particulares, sobretudo naquelas onde cabiam apenas às partes como: os “direitos trabalhistas”, negociar valores salariais e condições de trabalho, e ainda observar questões de “ordem” por conta das greves e movimentos operários, sem deixar de mencionar a higiene:

A higiene designa os meios a serem postos em prática para preservar a saúde das classes privilegiadas e não a da classe operária. [...] “a higiene pública, que é a arte de conservar a saúde dos homens em sociedade, deve receber um grande desenvolvimento e fornecer numerosas aplicações ao aperfeiçoamento de nossas instituições.” [...] “Ela faz sentir a necessidade de leis sanitárias. Ela se estende a tudo o que diz respeito às endemias, às epidemias, às zoonoses, aos hospitais, aos hospícios, aos cabarés, aos presídios, [...] Da investigação dos hábitos, das profissões, de todas as nuanças de posições sociais, ela deduz reflexões e conselhos que não deixam de influir na força e na riqueza dos Estados” (DEJOURS, 1992, p.15).

Essa nova visão vem demonstrar certa preocupação com a saúde, a ordem moral e social nas aglomerações operárias e também com o aspecto físico do trabalhador, ainda que até hoje a miséria, fome, desemprego, promiscuidade sejam condições favoráveis à violência sob todas as formas, como a manutenção do poder de políticos e de classes mais abastadas. Por outro lado, as preocupações com a saúde mental dos sujeitos e sua relação com o trabalho ainda era pequena até aquele momento. Eis então que surge a Psicopatologia do Trabalho.

Pensar e agir com interesses particulares, sem levar em consideração o outro e suas necessidades mais básicas, é uma forma de gerir com incompetência, pois quando o trabalhador é estimulado, produz mais. Por que então não organizar o trabalho de forma democrática e produtiva? É de natureza humana ser egoísta e opressor?

Dejours (1992) relembra o modo de produção taylorista que vislumbrava aumentar a produtividade, evitando o desperdício de tempo através de planilhas e cronômetros. Trata-se de uma modalidade de organização do trabalho que até hoje continua ganhando terreno, especialmente, no setor terciário.

Os impactos no corpo e na mente dos trabalhadores inseridos nesse tipo de organização demonstram os danos causados no aparelho psíquico, sobretudo no corpo entregue sem obstáculos à injunção da organização do trabalho. O corpo sem defesa, explorado, fragilizado pela privação de seu protetor natural, que é o aparelho mental, adoece ou corre o risco de tornar-se doente (DEJOURS, 1992, p.19).

O movimento operário atuou firmemente para combater o sistema de organização do trabalho da época. Daí, observa-se rápida evolução da relação saúde- trabalho. No fim da guerra, em 1919, leis importantes são votadas como, por exemplo, a de reconhecimento das doenças profissionais. Houve também a criação de comitês e comissões para seguros contra acidentes de trabalho e higiene industrial (DEJOURS, 1992).

Por conseguinte, a partir de 1903 surgem leis para atenuar perigos e a insalubridade, mas somente após o ano de 1936 o período torna-se fecundo para a melhoria da relação saúde trabalho, com férias pagas, jornada semanal de 40 horas, livre associação e direito de greve (DEJOURS, 1992).

Contudo, observa-se que há sempre uma preocupação só com a saúde do corpo que é objeto de exploração do sistema econômico capitalista. Porém, críticas são feitas no sentido de despertar para o problema da exploração a partir do corpo lesado, doente e

da mortalidade crescente dos operários, em relação ao resto da população (DEJOURS, 1992).

Convém destacar que, nessa época, o corpo aparece como a primeira vítima do trabalho industrial, da periculosidade das máquinas, dos produtos industriais, gases, vapores, poeiras tóxicas, parasitas, vírus, bactérias, característicos dos componentes das condições de trabalho. Entretanto, restaria saber se exauria, nesse ponto, o adoecimento, ou se além estaria também algo ainda mais prejudicial, o impacto na mente. Com relação a esse entendimento Dejours (1992) argumenta o seguinte:

A proposição é exata, e seria um erro pô-la em dúvida. Mas é muito limitada. Como se os mecanismos invisíveis da exploração exigissem, para serem evidenciados, uma demonstração dos seus efeitos visíveis no corpo. Estamos talvez autorizados, hoje, a revisar o ponto de vista segundo o qual a exploração teria por alvo, diretamente, o corpo. E a inverter a problemática, insistindo nas mediações em jogo no exercício das exigências corporais. Tudo se daria como se as condições de trabalho nocivas só atingissem o corpo após tê-lo submetido, domesticado e adestrado como a um cavalo de tração. Docilidade que, como vamos ver, depende de uma estratégia inicialmente concernente ao aparelho mental, para dele anular as resistências que ele opõe, espontaneamente, à exploração (DEJOURS, 1992, p.21).

Progressivamente os pensamentos vão se delineando também sob a perspectiva de averiguar os danos sobre a mente e sobre a subjetividade do sujeito. Porém, o desenvolvimento desigual das forças produtivas, das ciências, técnicas, máquinas, do processo do trabalho da organização e condições do trabalho culmina numa situação muito heterogênea (DEJOURS, 1992).

Posteriormente, entre 1914 e 1968, de modo progressivo, o tema sobre melhores condições de trabalho fortalece as lutas operárias frente à proteção da saúde física, mas quanto a saúde mental, começa a ganhar força a partir de 1968 (DEJOURS, 1992).

Se desenha uma nova etapa: nesse caso as lutas pela proteção da saúde mental. Miséria operária, luta pela sobrevivência, redução da jornada de trabalho, corrente das ciências morais e políticas, corrente higienista e corrente alienista deram lugar, respectivamente, ao corpo doente, à luta pela saúde, à melhoria das condições de trabalho, e à corrente contemporânea da medicina do trabalho, da fisiologia do trabalho e da ergonomia (DEJOURS, 1992, p.22).

Após a década de 1968, apesar de pouca literatura sobre psicopatologia do trabalho (Girardon, Amiel, Sivadon, Veil, Leroy...), o conflito que opõe o trabalho à vida mental é um território quase desconhecido. Além disso, os especialistas na área concentravam-se fora das questões de saúde mental, e o sofrimento psíquico permanece praticamente não analisado (DEJOURS, 1992).

Para Dejours (1992), esse silêncio demonstrava a dificuldade do movimento operário em levar efetivamente essa complexa discussão sobre o tema, mas hoje, ainda

que “balbuciante”, essa luta pela saúde mental prossegue discutindo sobre o objetivo do labor e para buscar melhores condições de trabalho.

Pelo exposto, percebe-se que a luta pela sobrevivência condenava as longas jornadas de trabalho, a luta pela saúde do corpo direcionava à denúncia das condições de trabalho. Nesse sentido, Dejours é enfático ao criticar as organizações do trabalho, pois é através delas que o trabalhador pode adoecer, mas também é por elas que se pode transformar a realidade laboral.

Conforme Heloani e Lancman (2004), as organizações de trabalho e os sistemas de produção que as influenciam, a combinação deles, suas brechas e fragilidades adaptam modelos organizacionais e tecnológicos, muitas vezes, de forma incompleta, provisória e cumulativa.

Os modelos de organização do trabalho, em determinadas empresas, geralmente não possuem flexibilidade suficiente para lidar com situações complexas e distintas. Nessa perspectiva, os empregados desenvolvem estratégias que, por vezes, transgridem normas internas, apesar de favorecer melhores resultados na execução da tarefa e na economia psíquica do sujeito.

Abrahão e Torres (2004) observam que nas situações que requerem resoluções de problemas e tomadas de decisões, a organização do trabalho, responsável pela gestão e poder de comando, assume papel determinante, podendo subsidiar na melhoria dos espaços de resolução de problemas, ou não, se restringir ou inviabilizar as possibilidades, quando determinar regras limitadoras de competências.

Dejours, em seus estudos sobre a organização do trabalho, ensina-nos que deve ser levada em consideração a organização do trabalho prescrita, formalizada pela empresa, e a real, executada pelos trabalhadores, que quando em descompasso pode surgir o sofrimento mental, posto que para a execução das tarefas seria necessário transgredir (DEJOURS,2011).

Assim, Abrahão e Torres (2004, p.68) consideram que a organização do trabalho influencia o planejamento, a execução e a avaliação, permeando todas as etapas do processo produtivo. “Ela prescreve normas e parâmetros que determinam quem vai fazer, o que vai ser feito, como, quando e com que equipamentos/instrumentos; em que tempo, com que prazos, em que quantidade, com que qualidade, enfim, a organização do trabalho constitui a “viga central” da produção”.

Portanto, é através da organização do trabalho que temos as normas e comandos de como agir perante as atividades designadas, mas esta tem se transformado no

decorrer da história, exigindo cada vez mais o desempenho excelente, em tempo exíguo, de um número maior de tarefas.

No caso do trabalho do professor universitário, em especial, sua tarefa não se limita mais em ministrar aulas, elaborar e corrigir provas; vai mais além, pois deve ministrar aulas excelentes, criativas, modernas, elaborar exercícios e avaliações em conformidade com a vida prática do curso e compatíveis aos concursos e mercado de trabalho.

Por conseguinte, ainda por conta da modernização, deve lançar trabalhos, notas e faltas, aulas, painéis, chats em sistema de computador, dentre tantos outros afazeres que cumulam a atividade de professor com a de secretário, expositor e o que mais puder; isso sem deixar de expor que compete com seus pares na confecção da produção científica.

No processo de evolução do trabalho, muitas mudanças efetivamente ocorreram, novos conceitos foram criados, inseriram-se novos modos de fazer e ver o trabalho, traçaram-se novos objetivos, metas, parâmetros, tudo com o intuito de adaptar o trabalho às novas exigências de mercado. Se antes o empregado era apenas executor de tarefas, agora deve assumir o controle, planejar para reduzir custos e atrair mais renda maximizando sua produtividade (ABRAHÃO; TORRES, 2004).

Nessa perspectiva, a organização do trabalho também se molda à realidade, visando um ambiente que priorize atividades que requerem processamento rápido e eficaz das informações, capacidade de antecipação dos momentos críticos, seguido de efetiva solução de problemas (ABRAHÃO; TORRES, 2004).

A presença de padrões rigorosos de execução e de pressão temporal restringe as complexas inter-relações que se estabelecem na atividade para cumprir sua função. Dores e tensões podem refletir uma sobrecarga proveniente das confrontações entre as distintas lógicas atuantes na situação de trabalho, que demandam estratégias de regulação frente às normatizações, regras impostas e cobranças rígidas (ABRAHÃO; SANTOS, 2004, p. 68).

No caso específico do professor universitário, estudos como os de Gasparini; Barreto e Assunção (2005); Moraes (2005); Simplício e Andrade (2011); Lima e Lima- Filho (2009); Aguiar e Almeida (2008); Brant e Minayo-Gomez (2003); Abrahão e Torres (2004); Glina; Rocha; Batista e Mendonça (2001) apontam o processo de sobrecarga no trabalho, como a pontualidade e assiduidade exigidas pelo rígido controle de ponto eletrônico, de uma extensa jornada de trabalho incompatível com o trabalho em equipe como, por exemplo, o planejamento e desenvolvimento da

multidisciplinaridade, atividade que requer cooperação e enseja reflexos na saúde do trabalhador.

Dessa forma, esse modelo de gestão é incoerente com a natureza do trabalho do professor, marcado pela complexidade de tarefas, pela necessidade de cooperação, aceitação e reconhecimento de seus pares, alunos e gestores, bem como pelas ações administrativas, tecnológicas e científicas a que está inserido.

Assim, pode-se expor que no trabalho do professor ainda vigoram princípios de controle rigoroso, divisão de tarefas, necessidade de cooperação professor-aluno, pressão temporal para produção, pelas ações mediadas pela tecnologia, dentre muitos outros itens que causam danos à saúde do professor, sob a forma de tensões, dores, rouquidões, lesões e até síncopes nervosas.

Siqueira (2007), ao tratar das artimanhas da gestão na realidade atual das organizações, comenta a fragilidade do vínculo empregatício e os impactos negativos no empregado que diante da realidade padronizada o torna cada vez mais desprovido de sentido.

No atual cenário sócio econômico, os sujeitos são cada vez mais descartáveis no mundo do trabalho. A demissão passa a ser prática cotidiana, sem que haja preocupação com os impactos negativos, não apenas em termos individuais, como o aumento da angústia e da ansiedade, mas também, em termos da comunidade na qual o indivíduo está inserido (SIQUEIRA, 2007, p.133).

O autor trata da questão como impactante, não apenas para um indivíduo, mas para toda uma comunidade que sofre seus reflexos. O professor, em particular, tem suas angústias no sentido de ter de cumprir as metas que lhe são impostas de forma exemplar, isso se ele é do setor público.

Contudo, quando o professor faz parte de uma instituição particular e depende somente dela para sua sobrevivência financeira e de seus dependentes, certamente tem angústias maiores, pois o processo de demissão pode modificar sua vida social de tal forma que se isola, deixa de manter vínculos, sofre e adoece.

Por outro lado, cumprir metas pode e deve ser prazeroso quando o modelo de gestão deixa o sujeito livre para produzir e crescer na empresa, quando reconhece seus feitos e através deles constrói um cenário favorável, criativo, inovador e gerador de perspectivas futuras.

Entretanto, para Siqueira (2007), esse cenário não é o usual nas empresas nos dias de hoje, pois o sujeito se defronta cada vez mais com a padronização dos processos de trabalho que o deixa isolado, e de onde ele poderia extrair o seu sustento e

sociabilidade, recebe o descaso. Isso ocorre porque a repetição é norma e se teme, portanto, a mudança.

Em contraposição, no trabalho o sujeito tem a possibilidade de preencher sua carência, diminuir suas angústias, dar sentido à sua vida. Por essa razão, investe toda sua afetividade na empresa, em um processo de amor e ódio em relação à organização na qual está inserido (SIQUEIRA, 2007).

Essa relação do sujeito com a organização do trabalho sob o processo de identificação, inicialmente passa por um processo de idealização onde as qualidades reconhecidas nas empresas são apresentadas como perfeitas e a dissolução do espírito crítico torna-se uma das condições essenciais que permitem o processo de adesão ocorrer. Constrói-se, então, uma representação imaginária de uma organização idealizada (SIQUEIRA, 2007).

A organização é o instrumento que faz com que o trabalhador veja a empresa como algo de grande valor e produto de atos heroicos, ainda que seja frágil, com contradições e incoerências explícitas ou não, e o processo de mudanças estabelecidas pelo capital, instiga a gestão gerencialista, dominadora e castradora (SIQUEIRA, 2007).

Todavia, as organizações constroem diariamente os limites e controles que nos são impostos, moldando como deseja os seus membros, adequando-o aos interesses organizacionais, pois é seu objetivo a formalização máxima, isto é, a tentativa de lutar contra a surpresa (SIQUEIRA, 2007).

Os trabalhadores dinâmicos, competentes e inovadores são vistos como um patrimônio que deve adaptar-se às mudanças constantes estabelecidas pelo capital, como a flexibilização organizacional e a multifuncionalidade na execução de tarefas, permitindo ser dominado, transformando-se em um indivíduo anulado e alienado, consciente ou inconscientemente.

Com o desenvolvimento de novas técnicas de gestão, de inovadoras tecnologias gerenciais, o trabalhador é inserido e se coloca voluntariamente