• Nenhum resultado encontrado

Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.16 número4

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Rev. Soc. Bras. Med. Trop. vol.16 número4"

Copied!
3
0
0

Texto

(1)

Revitta da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical 16:219-221, Out-Dez, 1983

COMUNICAÇÃO

CICLO INTRACELULAR DO TRYPANOSOMA CRUZI E SUA IMPORTÂNCIA

NA PATOGÊNESE DA DOENÇA DE CHAGAS

W ashington L uiz T afu ri, Egler C hiari e P ed ro R aso

A té o m o m e n to , são d esconhecidos os m eca­ nism os m ed ian te os quais o T. cruzi ab a n d o n a o sangue, atravessa a p arede capilar e e n tra nas célu­ las . T am bém , são p o u co sabidos os m ecanism os pelos quais cum pre o cam inho inverso: do in te rio r das células p ara a c o rre n te circu lató ria. E x p eriên ­ cias in vitro5 p arecem m o stra r que a p en etração das form as epim astigotas e am astigotas nas células se faz p o r en d o cito se, e que d uas h o ras após a pen etração os p arasitas seriam envolvidos p o r u m a m em brana, que os separa dos orgânulos citoplas- m áticos. P o sterio rm en te, essa m em b ran a envoltó- ria se fragm entaria e os parasitas ficariam livres no citoplasm a celular.

É sabido que, in vitro, logo após sua en trad a nas células as form as trip o m astig o tas se tra n sfo r­ m am em am astigotas e q u e estas se m u ltip licam , p o r divisão binária, a cada 12 h o ra s4 . D ep en d en d o do tam an h o das células parasitad as, cada u m a delas pode co n te r u m m áx im o de 5 0 0 am astigotas; ou seja, segundo D vorak3 , o co rrem nove gerações antes do ro m p im en to da célula e da liberação dos parasitas.

A presença o u n ão de fo rm as epim astigotas típ icas na célula h o sp ed eira de v erteb rad o s é co ntrovertida. T u d o p arece in d icar, p o rém , q u e a tran sfo rm ação do s am astigotas se inicia im ed iata­ m ente antes de ser atin g id o o p o n to c rític o p ara o ro m p im en to da célula, q u a n d o esta se ach a cheia de parasitos. A tran sfo rm ação seria m u ito rápida. Seria esse, possivelm ente, o m o tiv o , segundo a opinião de E lkeless2, e a nossa, p elo q u al a m e ta ­ m orfose e a presen ça in tracelu lar de trip o m astig o ­ tas são d etectad o s tã o raram en te. D e fa to , a revi­ são de nossas fo tografias, arquivadas desde 1 964 e referen tes à fase aguda de in fecção ex p erim en tal em cam undongos, co n firm o u q u e as células parasi­ tadas c o n te n d o n in h o s de am astig o tas n ão m o s­ tram sinais de ru p tu ra (d a m em b ran a plasm ática)

e não lib eram parasitas. À s am astigotas íntegras in d u zem lise do cito p lasm a m ie as circu n d a, fo r­ m ando-se ao re d o r d a co lô n ia p arasitária in tra c e ­ lular um halo claro, sem densidade eletrô n ica. É im p o rta n te assinalar que nesse halo se en co n tram livres, co m p o n e n te s do cito p lasm a celular, em várias fases do p rocesso lític o ; as m ito cô n d rias são as que m ais resistem à d estru ição sen d o en co n ­ tradas, com freqüência, algum as relativ am en te bem conservadas.

D e p a rta m e n to d e B io lo g ia d o IC E B d a U F O P e D e p a rta ­ m e n to d e A n a to m ia P a to ló g ic a d a U F M G . T ra b a lh o fin an c ia d o p e lo C N P q e F IN E p .

R e c e b id o p a ra p u b lic a ç ã o e m 1 3 /4 /1 9 8 3 .

Fig. 1. A-B. C é lu la m u sc u la r e s tria d a e s q u e lé tic a re p le ta d e p a ra sito s (epi-E -e tr ip o m a s tig o ta s - T - ).

A . x 9 .5 0 0 ; B x 1 7 .8 0 0

(2)

Comunicação. Ciclo intracelular d o Trypanosom a cruzi e sua im portância na patogênese da doença d e Chagas. Tafuri WL, ChiariE, R aso P. R evista da Sociedade Brasileira d e M edicina Tropical 1 6 :2 1 9 -2 2 1 , Out-Dez, 19 8 3

A gora, p o rém , analisando as lesões do tecid o m u scu lar esq u elético de cam u n d o n g o s in fectad o s com a cepa M R d o T. cruzi e sacrificados 11 dias apôs a in o cu lação , e n c o n tra m o s u m a dessas células m usculares in te n sa m e n te p arasitad as e co m o sar- colem a ro m p id o (Fig. 2). P ra tic a m e n te to d o s os parasitas ainda c o n tid o s n a célula, co m o já saidos dela eram epi e trip o m astig o tas ín teg ro s (Fig. 1). Essa Fig. 2 m o stra : 1) o sarcolem a ro m p id o (seta a); 2) u m resq u ício de sarcolem a ao lad o de um p arasita (seta b ); 3 ) p a rte de prováveis trip o m a sti­ g otas (T ) d eb aix o do sarcolem a, en tre este e o sar- coplasm a; 4 ) e n tre os trip o m a stig o ta s e o sarco- plasm a, a p a re n te m en te n ão alterad o s, resto s de sarcoplasm a in c o m p le ta m e n te lisado.

Fig. 2. C é lu la m u sc u la r e sq u e lé tic a . O m o m e n to d a r u p tu r a (se ta s a e b) d o sa rc o le m a (S ). P a ra sito s c o rta d o s em vário s s e n tid o s (T ) so b o sa rco lem a. x 9 .5 0 0

P or sua vez, a Fig. 3, da m esm a fib ra m u s­ cular e do m esm o n in h o de parasitas, m as de o u tro cam p o , em o u tra p a rte da célula, m o stra parasito s já lib erad o s da célula e já c aíd o s no in te rstíc io . M ostra, ainda, q ue n este cairam tam b ém c o m p o ­ n en tes do cito p lasm a da célula p arasitad a: m

ito-cônd rias m ais o u m en o s alteradas, resto s do re- tíc u lo en d o p lasm ático liso e rugoso, restos de mio- fíbrilas, p a rtíc u la s am orfas não identificáveis. Em sum a, foi d o c u m e n ta d o u m m o m e n to da ru p tu ra da célula e da lib eração dos parasito s p ara o in ters­ tíc io , que coin cid iu co m a tran sfo rm ação dos m esm os p ara trip o m astig o tas.

A lém , deste fato , a observação deve ser regis­ trad a, tam b ém p o rq u e d o cu m en ta o desague, no in te rstíc io , de co m p o n e n te s do sarcoplasm a (Fig. 3 ); ou seja, de m aterial auto-antigênico. T rabalhos nossos a n te rio re s6 tin h a m m o stra d o que nem to d o s os am astigotas são capazes de tran sfo rm arem em trip o m astig o tas, m as que ap ro x im ad am en te 15% d os p rim eiros, d e n tro da célula h ospedeira ou fo ra dela, d egeneram ; o u seja, liberam antígenos. A d o cu m en tação o b tid a agora (Fig. 3), m ostra, c o m o aliás era ób v io , q u e ta m b é m trip o m astig o tas degeneram . Desse m o d o , p o d e ser afirm ado que o po o l de an tíg en o s, n a trip an o sso m íase am ericana é fo rm ad o p o r trê s grupos, n o m ín im o , de

substân-Fig. 3. T rip o m a s tig o ta s (T ), flag elo s d o p a ra sito (F ), re sto s d e m io fib rila s (M ), m ito c ô n d ria s a p a re n te m e n te n o rm a is (M i) e d e g e n e ra d a s (se ta s), re sto s d e re tíc u lo e n d o p la sm á tic o , rib o so m a s e o u tra s p a rtíc u la s a m o rfa s no in te r s tíc io b e m j u n to d a c élu la m u sc u la r (M C).

C. C o lág e n o x 2 0 .0 0 0

cias: 1) co m p o n e n te s d a célula p arasitada e rom ­ pid a; 2) co m p o n e n te s de am astigotas; 3) co m p o ­ n en tes de trip o m astig o tas e possivelm ente de epi- m astigotas.

D ian te de tal d o cu m en tação e de acordo com dad o s da lite ra tu ra , m u itas observações indi­ cam q u e do p o o l de an tíg en o s que caem no inters­

(3)

Comunicação. Ciclo intracelular d o Trypanosoma cruzi e sua importância na patogênese da doença de Chagas. Tafuri WL, ChiariE, Raso P. R evista da Sociedade Brasileira d e Medicina Tropical 1 6 :2 1 9 -2 2 1 , Out-Dez, 19 8 3

tíc io m u ito s (d o p arasito o u da célula h o sp ed eira) poderiam fu n cio n ar com o im unógenos, c o n trib u in ­ do para explicar os fen ô m en o s in flam ató rio s e destrutivos que caracterizam , em p a rte , a tripanos- som ose am ericana.

De fato a m io card ite que se desenvolve na fase aguda e crônica da d o en ça é, pelo m enos em parte, u m a im un o in flam ação . Já a p a rtir da segun­ da sem ana de infecção são n o tad as através da p re­ sença in situ e no soro de an tic o rp o s IgM, IgG e IgA anti T. cruzi. Segundo observações de A raú ­ j o 1, co n firm an d o nosso p en sa m e n to , to d a s as 3

form as de parasito in d u zem reações im unes, com ap arecim ento, no soro, de duas classes de im uno- globulinas IgG e IgM.

É provável que configurações moleculares que fazem parte da estrutura das três formas do

T. cruzi, bem como certos componentes da célula hospedeira que caem no interstício, no momento da ruptura da mesma sejam os responsáveis pelos mecanismos de auto-imunidade (causando dano), observada na doença de Chagas. Até o m omento, ao que sabemos da literatura, foi constatada apenas a presença de anticorpos (IgM e IgG) induzidos por determinantes antigênicos do T. cruzi que agem

tanto contra o parasito quanto contra as estruturas da célula hospedeira (membranas de neurônios centrais e periféricos, plasmalema do músculo

estria d o esq u elético e c a rd ía c o ; m em b ran a b asal e re tíc u lo sarco p lasm ático do m ú scu lo c a rd íaco ).

R E F E R Ê N C IA S B IB L IO G R Á F IC A S

1. A ra ú jo F G . A n tig e n ic a n aly sis o f T ry p a n o s o m a cruzi. IX R e u n iã o A n u a l P e sq u isa B á sica em d o e n ç a d e C hag as, C a x a m b ú , M G , B rasil, p . 1 6 0 , 1 9 8 2 .

2. E lk e less G . O n th e life c y cle o f Trypanosom a cruzi. I. P a ra sito l. 3 7 :3 7 9 - 3 8 5 ,1 9 5 1 .

3. D v o ra k JA . N ew in v itro a p p ro a c h to q u a n tita tio n o f Trypanosom ti cru zi v e rte b ra te cell in te ra c tio n s . P A H O In te r n a tio n a l S y m p o siu m o f n e w a p p ro a c h e s A m e ric an T ry p a n o s o m ia s is R e se arc h . B elo H o riz o n ­ te , B rasil, 1 8 - 2 1 M a rch , 1 9 7 5 . P an A m e ric a n H e al­ th o rg a n iz a tio n , p. 1 0 5 -1 2 0 .

4 . M ey er H , O liv eira - M u sac ch io M X. C u ltiv a tio n o f T rypanosom a cruzi in tissu e cu itu res': A fo u r-Y e a r stu d y . P a ra sito lo g y 3 9 :9 1 -9 4 , 1948.

/

5. N o g u e ira N , C o h n Z . T rypanosom a cruzi: M ech an ism o f e n try a n d in tra c e llu la r fa te in m a m m a lia n cells. J o u rn a l E x p e rim e n ta l M ed icin e 1 4 3 :1 4 0 2 - 1 4 7 0 , 19 7 6

6. T a fu ri W L. P a th o g e n e sis o f lesio n s o f th e a u to n o m ic n e rv o u s sy ste m o f m o u se in e x p e rim e n ta l a c u te C h ag as’ disease. T h e A m e ric an J o u r n a l o f T ro p ic a l M ed icin e a n d H y g ie n e 1 9 :4 0 5 - 4 1 7 , 1 9 7 0 .

Imagem

Fig.  1.  A-B.  C é lu la  m u sc u la r e s tria d a  e s q u e lé tic a  re p le ta   d e  p a ra sito s (epi-E -e  tr ip o m a s tig o ta s  -   T  -  ).
Fig.  2.  C é lu la   m u sc u la r  e sq u e lé tic a .  O  m o m e n to   d a   r u p tu r a   (se ta s  a  e  b)  d o   sa rc o le m a  (S )

Referências