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A educação superior e as políticas de formação docente : representações sociais por estudantes de licenciaturas

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Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Programa

Stricto

Sensu

Mestrado em Educação

A EDUCAÇÃO SUPERIOR E AS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO

DOCENTE: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS POR ESTUDANTES

DE LICENCIATURAS

Brasília-DF

2014

(2)

JULIANA LACERDA MACHADO

A EDUCAÇÃO SUPERIOR E AS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE: REPRESENTAÇÕES SOCIAIS POR ESTUDANTES DE LICENCIATURAS

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da

Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Mestre em Educação.

Orientadora: Dra. Ranilce Guimarães-Iosif Coorientadora: Dra. Divaneide Lira Lima Paixão

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Dissertação de autoria de Juliana Lacerda Machado, intitulada A educação superior e as políticas de formação docente: representações sociais por estudantes de licenciaturas, apresentada como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Educação da Universidade Católica de Brasília, em 29 de maio de 2014, aprovada pela banca examinadora abaixo:

_________________________________________________ Prof.ª Doutora. Ranilce Guimarães-Iosif

Orientadora Educação – UCB

_________________________________________________ Prof.ª Doutora. Divaneide Lira Lima Paixão

Coorientadora Educação – UCB

_________________________________________________ Prof. Doutor. Wellington Ferreira de Jesus

Examinador interno Educação – UCB

_________________________________________________ Profª. Doutora. Lívia Freitas Fonseca Borges

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Aos meus pais, Maria Lacerda e José Eustáquio, com todo amor e gratidão e aos estudantes dos cursos de licenciaturas, que ainda sonham em se tornarem professores da

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AGRADECIMENTOS

Uma pesquisa, para ser bem sucedida, necessita além de planejamento, da colaboração de muitas pessoas. Mas o maior apoio é invisível, é o apoio que vem da fé. Eis o porquê do meu primeiro e principal agradecimento ser este:

A Deus e a Nossa Senhora das Graças, presenças constantes em minha vida, fazendo-me renovar a cada dia.

À minha querida e amada irmã, Luciana Lacerda, por não medir esforços para me ajudar em todos os momentos e por representar força e motivação constantemente em minha vida.

Ao meu cunhado Eduardo de Sousa, pela acolhida em Brasília, pois sem a ajuda dele tudo teria sido mais difícil.

Ao meu namorado, Jorge Luz, por representar companheirismo, motivação, força e amor em minha vida.

Ao meu irmão, Luiz Eustáquio, por me ajudar em todos os momentos e por ser uma pessoa honesta, carinhosa e divertida.

À minha grande e querida amiga, Daniela Viana, por ser além de amiga, uma irmã que a vida me deu de presente.

À Elizabeth Mitsue Hachiya Saud, Dirlenvalder Loyolla e Leonardo Francisco de Matos pela grande ajuda na coleta de dados.

Ao Gevair, pela amizade, apoio, paciência e grande ajuda com a formatação e tabulação dos dados estatísticos.

À querida professora Ranilce Guimaraes-Iosif, minha orientadora, comprometida em defender a autonomia acadêmica, uma pessoa que eu admiro, respeito e compartilho dos mesmos ideais de educação, justiça social e cidadania. Muito obrigada pela atenção e dedicação dispensadas a mim durante a realização desta pesquisa.

À querida Divaneide Paixão, minha coorientadora, pelo acolhimento e mediação, por sua orientação pautada nos ideais de incentivo, afetividade, amizade e por ter me recebido em sua casa em um momento tão especial de sua vida. Minha eterna gratidão por iluminar os caminhos para o conhecimento do EVOC e do Alceste, decisivos nas análises aqui empreendidas.

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À professora, Adriana Levino pela participação na qualificação do projeto e revisão textual.

A todos os professores do Programa, especialmente ao Carlos Ângelo, Célio da Cunha, Maria Cândida, Sandra Francesca e Wellington Ferreira de Jesus pelos ensinamentos que permanecerão para além dos conhecimentos acadêmicos, ensinamentos para a vida!

Aos funcionários do programa pela dedicação com que sempre me atenderam, especialmente ao Aurélio Rodrigues da Silva, Erivana da Silva Florêncio e Debora Caralho Alves de Oliveira.

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Porque se chamava homem Também se chamavam sonhos

E sonhos não envelhecem

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RESUMO

MACHADO, Juliana Lacerda. A Educação Superior e as Políticas de Formação Docente: representações sociais por estudantes de licenciaturas. 231f. Dissertação (Mestrado em Educação) UCB, Brasília, 2014.

Há décadas tem vigorado no Brasil a ideia de desvalorização da profissão docente. As discussões em torno da precarização do trabalho docente indicam que as licenciaturas constituem objeto legítimo de representações sociais (RS). O objetivo principal dessa investigação foi identificar as RS que estudantes dos cursos de licenciaturas de Ciências Biológicas e Letras elaboram sobre a educação superior e as políticas de formação docente. Trata-se de um estudo de caso qualitativo realizado em uma Universidade Pública localizada no Estado de Minas Gerais. Os dados foram coletados por meio de questionário e analisados a partir da Análise de Evocação (Doise, 2002) e Análise de Conteúdo (Bardin, 1979) com o auxílio dos softwares EVOC e ALCESTE. 39 sujeitos participaram desta pesquisa. Os

resultados indicaram a existência de um campo comum que aproxima o pensamento dos estudantes de Ciências Biológicas e Letras, o qual comporta uma visão a respeito dos professores da educação básica carregada de marcas históricas da desvalorização da docência. Variações entre os grupos de participantes foram identificadas em decorrência dos objetivos profissionais. Enquanto os estudantes de Ciências Biológicas demonstraram desejo em cursar o bacharelado na intenção de se tornarem pesquisadores, parte dos estudantes do curso de Letras afirmou o desejo de se tornarem professores da educação básica. A conclusão sugere que as RS sobre a educação superior e as políticas de formação docente estão ancoradas em características e conceitos historicamente construídos acerca da licenciatura. A presença de uma representação negativa em relação às licenciaturas e às políticas de formação de professores está fundamentada em valores hegemônicos na sociedade contemporânea, que contribui para a crescente desvalorização das licenciaturas, precarização e intensificação do trabalho docente na educação básica. O estudo também chama atenção para a necessidade da criação e implementação de políticas de formação docente mais atrativas para os jovens, um desafio que precisa ser enfrentado com seriedade e urgência.

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ABSTRACT

MACHADO, Juliana Lacerda. Higher Education and Teacher Training Policies: social representations by pre-service teacher students. 231f. Master's Degree in Education Dissertation. UCB, Brasília, 2014.

The idea that teaching is devalued in Brazil has gained strength for many decades. The discussions around the precarization of teaching indicate that pre-service teaching degrees are legitimate objects of social representations (SRs). The main objective of this research was to identify the SRs that students of Biological Sciences elaborate on higher education and teacher education policies. This is a qualitative case-study conducted in a public university located in the state of Minas Gerais. Data was collected through a questionnaire and analyzed using evocation analysis (Doise, 2002) and content analysis (Bardin, 1979) with the aid of the EVOC and ALCESTE software programs. Thirty-nine subjects participated in this research. The results indicated the existence of a common ground between the thinking of Biological Sciences and Humanities students. This thinking is a snapshot of the situation of basic education teachers that is filled with the historical signs of the devaluation of teaching. Variations between groups of participants were identified as a result of professional goals. While Biological Sciences students demonstrated a desire to obtain a Bachelor's degree with the intention of becoming researchers, Humanities students stated the desire to become basic education teachers. The conclusion suggests that the SRs on higher education policies and teacher education are anchored in historically constructed features and concepts about the pre-service teacher degree. Negative conceptions affecting pre-pre-service degrees and teacher training policies are based on hegemonic values in contemporary society that contribute to the increasing devaluation of these degrees. The study also underscores the need for the creation and implementation of teacher education policies that are more attractive to young people, a challenge that needs to be addressed with seriousness and urgency.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

LISTA DE QUADROS

Quadro 1. Características do sistema central e do sistema periférico de uma representação ... 42 Quadro 2. Principais ações políticas do MEC para a promoção da Educação Antirracista...79 Quadro 3. Principais ações políticas para a Educação Superior no primeiro mandato do governo Lula (2003-2006) ... 80 Quadro 4. Principais ações políticas para a Educação Superior no segundo mandato do governo Lula (2007-2010) ... 82

LISTA DE FIGURAS

Figura 1. Classificação Hierárquica Descendente sobre o discurso dos estudantes de Ciências Biológicas e Letras (N=39). C1= Classe 1, C2= Classe 2, C3=Classe 3, C4=Classe 4, C5=Classe5 ... 172 Figura 2. Projeção das palavras analisadas por meio da Análise Fatorial de Correspondência do discurso dos estudantes de Ciências Biológicas e Letras. ... 191

LISTA DE GRÁFICOS

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LISTA DE TABELAS

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LISTA DE SIGLAS

ACE Análise de Condições de Ensino ACO Avaliação das Condições de Oferta

AGCS Acordo Geral sobre Comércio em Serviços AFC Análise Fatorial de Correspondência

ALCESTE Analyse Lexicale por Contexte d’um Ensemble de Segments de Texte ALP Associação Livre de Palavras

ANPEd Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Educação AR Agências Reguladoras

APEOESP Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento BM Banco Mundial

CAH Classificações Ascendentes Hierárquicas

CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior CAS Country Assistance Strategy

CDF Classificação Descendente Fatorial CEB Câmara da Educação Básica CF Constituição Federal de 1988 CFE Conselho Federal de Educação

CHD Classificação Hierárquica Descendente

Conaes Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior CNE Conselho Nacional de Educação

CONSED Conselho Nacional de Secretários de Educação

CNTE Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação CTC/EB Conselho Técnico Científico da Educação Básica ENC Exame Nacional de Cursos

Enem Exame Nacional de Ensino Médio EUA Estados Unidos da América

EVOC Ensemble dês Programes Permettant l‘Analyse des Évocations FHC Fernando Henrique Cardoso

FMI Fundo Monetário Internacional

FUNDEB Fundo de Manutenção Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação

FUNDEF Fundo de Manutenção e Desenvolvimento do Ensino Fundamental e de Valorização do Magistério

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística IES Instituição de Ensino Superior

IF Instituto Federal

Inep Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira Insaes Instituto Nacional de Supervisão e Avaliação da Educação Superior LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional

LIBRAS Língua Brasileira de Sinais

MBA Master of Business Administration MEC Ministério da Educação

Mercosu Mercado Comum do Sul

MTE Ministério do Trabalho e Emprego NC Núcleo Central

OCDE Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico OIs Organismos Internacionais

OM Ordem Média de Evocação

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ONGs Organizações Não Governamentais

Paiub Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras PAR Plano de Ações Articuladas

PARFOR Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica PCN Parâmetros Curriculares Nacionais

PIB Produto Interno Bruto

PIBID Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência PISA Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes PL Projeto de Lei

PNAD Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio PNE Plano Nacional de Educação

PNUD Programa das Nações Unidas para o desenvolvimento PPP Parcerias Público-Privadas

Prodocência Programa de Consolidação das Licenciaturas

Prolind Projeto Inovador de Apoio a Licenciaturas Interculturais Específicas para a Formação de Professores Indígenas

ProUni Programa Universidade para Todos Provão Exame Nacional de Cursos

PSDB Partido Social Democrata Brasileiro PSPN Piso Salarial Profissional Nacional UAB Universidade Aberta do Brasil UCA Unidade de Contexto Analisada UCB Universidade Católica de Brasília UCE Unidade de Contexto Elementar UCI Unidade de Contexto Inicial UE União Europeia

UnB Universidade de Brasília

UNESCO Organização para a Educação, a Ciência e a Cultura das Nações Unidas

Uniafro Programa de Ações Afirmativas nas Instituições Públicas de Educação Superior UNICAMP Universidade Estadual de Campinas

Rais Relação Anual de Informações Sociais

REUNI Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais

RS Representações Sociais

Saeb Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica SAPs Structural Adjustment Programs

Secad Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade SEE Secretaria de Estado de Educação

SEE-MG Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais

Seres Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior Sesu Secretaria de Educação Superior

SINAES Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 16

CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO SUPERIOR E AS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE ENQUANTO OBJETO DE ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ... 19

1.1. O PROBLEMA DE PESQUISA ... 19

1.2. OBJETIVOS ... 21

1.3. JUSTIFICATIVA ... 22

1.4. METODOLOGIA ... 25

1.4.1. Tipo de pesquisa ... 26

1.4.2. Geração dos dados: procedimentos e instrumentos ... 28

1.4.3. Procedimento de tratamento e a análise de dados ... 30

1.5. A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SUA APLICABILIDADE NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO ... 36

CAPÍTULO II – A NOVA CONFIGURAÇÃO DA POLÍTICA E GOVERNANÇA NA EDUCAÇÃO SUPERIOR ... 47

2.1. A NOVA CONFIGURAÇÃO DAS POLÍTICAS DE EDUCAÇÃO SUPERIOR NO BRASIL ...47

2.1.1. A governança contemporânea na educação superior brasileira: desafio para as políticas de formação docente ... 58

CAPÍTULO III – POLÍTICAS PARA FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL: AVANÇOS, CONTRADIÇÕES E DESAFIOS ... 67

3.1. AS POLÍTICAS EDUCACIONAIS PARA FORMAÇÃO DOCENTE NO BRASIL ENTRE 1995-2014 ... 67

3.2. AS DIRETRIZES CURRICULARES E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES NO BRASIL. ... 98

3.3. AS LICENCIATURAS E O PERFIL DOS PROFESSORES DA EDUCAÇÃO BÁSICA ... 105

3.4. DESCAMINHOS NA CONDUÇÃO DA POLÍTICA EDUCACIONAL EM MINAS GERAIS ...112

CAPÍTULO IV – PROFISSIONALIZAÇÃO DOCENTE ... 118

4.1. CARACTERÍSTICAS E PARTICULARIDADES DO TRABALHO DOCENTE 118 4.1.1. A carreira docente é atrativa? ... 122

4.2. IMPACTO DA GLOBALIZAÇÃO NEOLIBERAL NA DESCONSTRUÇÃO DA PROFISSÃO DOCENTE ... 126

4.2.1. A profissionalização entre discursos e realidades ... 130

4.2.2. Os primeiros anos de profissão docente... 133

CAPÍTULO V – EDUCAÇÃO SUPERIOR E POLÍTICAS DE FORMAÇÃO SOB A ANÁLISE DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS ... 136

5.1 CARACTERÍSTICAS DO CAMPO DO ESTUDO E PERFIL DOS PROTAGONISTAS... ... 137

5.1.1 Perfil dos estudantes de Ciências Biológicas ... 137

5.1.2 Perfil dos estudantes de Letras ... 142

5.2. CONTEÚDO E A ESTRUTURA DAS RS DOS ESTUDANTES DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E LETRAS ... 145

5.2.1. RS do Ensino Superior para estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Letras... ... 146

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5.2.3. RS das Políticas de Formação Docente para estudantes dos cursos de Ciências

Biológicas e Letras ... 162

5.3. CAMPO COMUM, AS DIFERENCIAÇÕES INDIVIDUAIS E GRUPAIS E OS PROCESSOS DE ANCORAGEM DAS REPRESENTAÇOES SOCIAIS ... 171

5.3.1. EIXO 1 – A DOCÊNCIA: PROCESSO DE FORMAÇÃO E PRÁTICA PROFISSIONAL ... 172

5.3.1.1. Classe 1 – Escolha pelo curso de graduação...170

5.3.1.2. Classe 4 – O exercício da docência e a legislação: um enfoque negativo...172

5.3.1.3. Classe 5 – Amor pelo Ensino...175

5.3.1.4. Classe 6 – Processos de formação docente...178

5.4. EIXO 2 – AS EXPECTATIVAS DE ATUAÇÃO NA DOCÊNCIA: ÚNICA OPÇÃO PROFISSIONAL ... 183

5.4.1. Classe 2 – Escolha pela docência devido a condições financeiras precárias ... 183

5.4.2. Classe 3 – Expectativa de atuação profissional dos estudantes de Ciências Biológicas.. ... 186

5.5. AS DIFERENÇAS DAS FALAS EM FUNÇÃO DAS CARACTERÍSITCAS DO SUJEITO ... 190

5.6. ANCORAGENS DAS DIFERENÇAS ... 193

ANCORAR PARA CONCLUIR: AS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS DOS ESTUDANTES, DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E LETRAS ... 197

Possíveis caminhos para investigações futuras ... 201

REFERÊNCIAS ... 202

APÊNDICES ... 223

APÊNDICE A – Solicitação de Autorização ao Coordenador da Universidade Pública ... 223

APÊNDICE B – Termo de consentimento da pesquisa aos coordenadores ... 224

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INTRODUÇÃO

No Brasil, durante os anos de 1990, diversas reformas educativas foram implementadas e estas transformaram profundamente a relação entre Estado e educação, atingindo significativamente a formação e a atuação dos profissionais da educação. Esta pesquisa aborda as mudanças suscitadas em decorrência da reestruturação econômica e da globalização capitalista e de suas consequências no campo educacional, mais especificamente na educação superior, no que pese as políticas de formação nos cursos de licenciaturas.

A crescente precarização do magistério em todos os níveis, acirrada nas últimas décadas, tem levantado questionamentos acerca da compreensão dos fenômenos que causam essa condição, especialmente do ponto de vista sociológico, como fruto dos projetos político-econômicos recentes que influenciam na construção de políticas educacionais que regem os cursos de licenciaturas. Os espaços profissionais deixam de ser dependentes das capacidades intrínsecas de seus profissionais e passam a ter ligação direta com a ordem econômica e social que define assim o que é valor nas relações de poder, como afirma Veiga (1999).

Este trabalho discute uma recorrente contradição na área da educação no Brasil, a formação inicial de professores, a partir de uma nova perspectiva que envolve a união da Teoria das Representações Sociais (TRS) e análise das políticas de formação docente. Abordou a formação de professores a partir da análise das implicações das políticas educacionais sobre os cursos de licenciaturas, utilizando-se a TRS na concepção de Serge Moscovici1 (1978) para construir a descrição do perfil dos estudantes dos cursos de licenciaturas e para investigar a concepção que eles têm a respeito da educação superior e das políticas de formação docente.

A Teoria das Representações Sociais (TRS) analisa como indivíduos inseridos em um determinado meio social apossam-se do conhecimento produzido à sua volta por meio das suas relações sociais. Este estudo buscou apreender as representações sociais de estudantes de Ciências Biológicas e Letras sobre a educação superior e as políticas de formação docente. A pesquisa foi realizada em uma Universidade Pública situada em um município do Estado de Minas Gerais, sendo essas licenciaturas as únicas oferecidas nessa universidade.

1Serge Moscovici é um psicólogo social que nasceu na Romênia em 1928. Dedicou parte de sua vida aos

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A escolha dos cursos de licenciatura se fez devido à importância que lhe é atribuída ao formar profissionais cuja função é colaborar com a aprendizagem e construção da cidadania dos estudantes e também com o desenvolvimento humano, social e econômico do País.

Para Oliveira et al. (2004) o estudo das representações sociais sobre o processo educacional deve levar em consideração o processo educativo como parte do processo de desenvolvimento do ser humano. As práticas e as representações sociais estão diretamente ligadas em uma relação dialética de determinação, podendo-se fazer deduções a respeito das práticas educativas a partir das representações sociais, bem como reconhecer intercâmbios existentes entre a licenciatura, as políticas de formação docente e o atual status social

destinados aos professores. Assim, considera-se necessário traçar o perfil dos estudantes de Ciências Biológicas e Letras, destacando as expectativas acadêmicas e profissionais deles frente a esses cursos de licenciaturas e do futuro profissional que os espera, sendo este movido por estratégias que buscam condições de autoaprendizagem constante e pouco prestígio social.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep, 2013), na educação básica brasileira, em 2010 havia 2.023.748 profissionais atuando em sala de aula. No ano de 2012, esse número sofreu um pequeno aumento e passou para 2.095.013. Porém, um dado bastante interessante divulgado pelos pesquisadores Nascimento, Silva, Silva (2014, p. 37) aponta que o Brasil é um dos países que mais formam profissionais da educação no mundo, “[...] ao menos em termos da participação de diplomados nos cursos de educação no total de graduados no ensino superior”. Ainda segundo os pesquisadores, anualmente são mais de 220 mil novos profissionais da educação ingressando no mercado de trabalho com diploma de graduação, mas nem sempre nas escolas de educação básica e o número de graduados no setor corresponde a 20% dos formados em nível superior. Ainda assim, faltam profissionais na educação básica, algumas áreas sofrem mais com essa escassez como as áreas de exatas e ciências, assim disciplinas como física, matemática, química e ciências acabam tendo seus ensinamentos comprometidos nas escolas.

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profissional dos jovens brasileiros e, também, na construção das representações sociais dos estudantes das licenciaturas que se preparam para serem professores da educação básica.

Cabe ressaltar que o cidadão investigado neste estudo não pode ser considerado como privilegiado, no contexto da realidade brasileira, por se tratar do futuro professor da educação básica do país, ele já sofre com todos os problemas que atualmente assombram a escola brasileira, pois como ressaltam Santos e Oliveira (2009, p. 32) “[...] as condições de trabalho do professorado não possibilitam a plena realização das medidas e ações emanadas das políticas voltadas para o ensino e para a gestão da escola”. Ainda segundo as autoras, disso decorrem, diversas formas de resistência ao trabalho, como adoecimento e absenteísmo do corpo docente, já que a dinâmica do trabalho escolar tem intensificado o trabalho docente, sem responder às necessidades destes em relação à carreira e salário, bem como em relação ao combate à crescente violência nas escolas e à precariedade da infraestrutura e dos equipamentos na maior parte dos estabelecimentos de ensino no país. As autoras ainda levantam alguns questionamentos ao analisarem a implementação do cooperativismo e da prática democrática dentro das escolas como propõem as reformas realizadas no âmbito da formação de professores, em uma sociedade que prega o individualismo e a competição. Destacam ainda a falta de tempo do professor em responder por uma profissão que exige dupla jornada de trabalho, tendo que se considerar ainda que muitos deles atuam em mais de uma instituição de ensino.

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CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO SUPERIOR E AS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE ENQUANTO OBJETO DE ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

O presente capítulo descreve o objeto de estudo investigado, apresenta o problema de pesquisa, os objetivos, a justificativa, a metodologia e a teoria das representações sociais. O objeto deste estudo é a formação inicial de professores a partir da análise das implicações das políticas educacionais sobre os cursos de licenciaturas. Utiliza-se a TRS na concepção de Moscovici (1978) para construir a descrição do perfil dos estudantes dos cursos de licenciaturas e para investigar a concepção que eles têm a respeito da educação superior e das políticas de formação docente. Situa-se na área de concentração “Política e Administração Educacional” e na linha de pesquisa “Política, Gestão e Economia da Educação”, do Programa de Pós-graduação stricto sensu em Educação da Universidade Católica de Brasília –

UCB.

1.1. O PROBLEMA DE PESQUISA

A busca pela profissionalização docente no Brasil tem sido uma luta histórica por parte dos docentes, caracterizada por inclusões e exclusões, avanços e retrocessos. Ela tem existido como discursos construídos, descontruídos, assimilados ou rejeitados. A profissionalização continua como agenda importante entre os projetos sociais e educativos, como afirma Contreras Domingo (1997).

Percebe-se que juntamente com a aspiração à profissionalização em espaços distintos como nos de formação, corporativos e sindicais, é crescente a precarização do magistério em todos os níveis, como aponta Veiga (1999). Este fato tem sido bastante discutido, não apenas em trabalhos acadêmicos ou científicos, mas também na imprensa brasileira. É comum reportagens em jornais ou programas de televisão abordarem alguns dos principais problemas enfrentados pelos professores na atualidade: violência nas escolas, arrocho salarial, falta de perspectiva profissional, precárias condições de trabalho, alto grau de intensificação do trabalho docente, perda de autonomia dos docentes.

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sucessivas nos primeiros alunos. O Censo da Educação Superior de 2011 (BRASIL, 2013) e os pesquisadores Nascimento, Silva, Silva (2014) também deixaram clara a estagnação e até a redução do número de matrículas em algumas licenciaturas, especialmente nas que são essenciais para o desenvolvimento tecnológico do País: química, física, matemática. Segundo Demo (2014) essas disciplinas são “mais exigentes” requerem uma formação “mais pesada” e no decorrer da formação dos docentes ainda há muita reprovação, apesar de atualmente existir uma preocupação maior com esta questão. Ainda segundo o autor não dá para comparar esses cursos com a Pedagogia, já que nesta ingressam milhares de estudantes e milhares de estudantes são formados, na área de exatas isso não acontece e é preciso cuidar dessa questão de forma urgente.

Infelizmente a escassez de profissionais não é uma realidade apenas da área de exatas, outras áreas como biologia, geografia e educação artística também são afetadas, faltam professores para ministrarem aulas dessas disciplinas. O Censo da Educação Superior de 2011 (BRASIL, 2013) também apontou que pela primeira vez, em 2012, ocorreram mais ingressantes nos cursos de tecnologia que em licenciaturas, assim o Brasil parece conseguir suprir necessidades de qualificação do mercado de trabalho, e ao mesmo tempo coloca em risco a formação de futuros profissionais, já que o número de concluintes nos cursos de licenciaturas de todas as áreas sofreu uma diminuição de 6% em 2012 e tem oscilado com crescimento desigual desde 2004, enquanto outros tipos de graduação apresentaram maior crescimento no mesmo período, como afirma Chaves (2014).

Logo, surge um questionamento: caso o abandono por essas áreas continue crescendo quem ministrará essas disciplinas nas escolas de educação básica no Brasil? Fica evidente que na atualidade, a docência não é objeto de desejo dos jovens brasileiros. Gatti (2011, p. 319) participa dessa discussão com um questionamento: “Quem quer ser professor?”, a autora responde citando a pesquisa de Gatti et al. (2010) realizada com alunos do ensino médio em vários estados brasileiros, em que os alunos mostraram reconhecer o trabalho do professor, porém o qualificaram como desgastante, atividade que exige paciência e dedicação e apontaram que pela falta de perspectivas profissionais não é uma profissão para se escolher, pois é uma profissão que não tem uma boa remuneração e não proporciona crescimento profissional.

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estrutura e o campo comum das representações sociais de estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Letras sobre o ensino superior e as políticas de formação docente? Quais os aspectos de diferenciação individual e grupal das representações sociais acerca do ensino superior e das políticas de formação para os estudantes de Ciências Biológicas e Letras? Quais os elementos de ancoragem que estão presentes nas representações sociais do ensino superior e das políticas de formação para os estudantes de Ciências Biológicas e Letras?

As questões supracitadas contribuíram para a formulação da questão problema que sustenta o presente estudo: Quais as representações sociais de estudantes das licenciaturas de Ciências Biológicas e Letras sobre a educação superior e as políticas de formação docente?

Parte-se do princípio de que o modelo contemporâneo de políticas educacionais, ao não promover de forma satisfatória a profissionalização docente compromete a autonomia docente, a função social e a qualidade do ensino em todos os níveis de ensino, o que contribui para a evasão dos estudantes das licenciaturas e a desistência de seguir a profissão docente.

1.2. OBJETIVOS

O objetivo geral deste estudo é identificar as representações sociais de estudantes de licenciaturas sobre a educação superior e as políticas de formação docente nas áreas de Ciências Biológicas e Letras de uma instituição pública de Ensino Superior.

Assim, para alcançar o objetivo geral constroem-se os seguintes objetivos específicos: a) Identificar o perfil de estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Letras de uma

instituição pública de ensino superior;

b) Analisar como as atuais políticas educacionais têm ajudado na promoção da profissionalização dos professores da educação básica brasileira;

c) Evidenciar a estrutura e o campo comum das representações sociais de estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Letras sobre o ensino superior e as políticas de formação docente;

d) Identificar aspectos de diferenciação individual e grupal das representações sociais dos estudantes de Ciências Biológicas e Letras acerca do ensino superior e das políticas de formação docente;

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A formulação dos objetivos partiu do pressuposto de que as representações sociais surgem de um processo interativo e comunicativo com a intenção de tornar familiar o não familiar e podem ser expressas por meio de ideias e linguagens. Dessa feita, é importante e necessário entender por intermédio de que ideias e linguagens as representações são manifestadas no meio acadêmico e de que forma as políticas de formação e outros elementos simbólicos influenciam na construção das representações sociais dos estudantes.

1.3. JUSTIFICATIVA

A experiência da pesquisadora como professora da educação básica em comunidades marginalizadas e como professora de cursos de formação em instituições privadas de Ensino Superior de Minas Gerais, levou-a refletir a respeito da educação que a população pobre brasileira muitas vezes tem recebido: professores desmotivados, individualistas e que não se identificam com a docência, alunos pertencentes a famílias pobres e desestruturadas, falta de diálogo entre escola, professores, alunos e família, fragilidade das instituições de ensino e dos currículos, gestão antidemocrática. Estes e outros fatores contribuem para uma educação básica e superior com menor qualidade, e reforçam a dificuldade que a sociedade apresenta em exigir do Estado a tão sonhada qualidade da educação.

Logo, a experiência profissional e a preocupação com a oferta de uma educação de qualidade capaz de se opor à pobreza e ajudar na promoção da cidadania dos professores e estudantes da educação básica e dos cursos de licenciaturas justificam o interesse da pesquisadora pelo tema pesquisado.

É importante ressaltar que a formação de professores tem sido realizada em um contexto político em que as políticas neoliberais influenciam fortemente a educação superior. Santos e Almeida Filho (2011) mostram que a educação passou a ser uma mercadoria competitiva nos mercados internacionais, prejudicando seu caráter emancipador. Demonstram ainda que o conhecimento no ensino superior passou de universitário para pluriversitário, pois a formação passa a ser voltada para a mão-de-obra, atendendo assim aos interesses mercadológicos.

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favorecem a expansão avassaladora do setor privado, como apontam Guimarães-Iosif (2007); Santos e Almeida Filho (2008); Monfredini (2009); Teodoro (2011); Braga (2012) e Santos A. (2012).

Diante desse contexto, a formação docente para todos os níveis de ensino tem sido negligenciada, sendo esta formação resultado de uma política profissional que legítima a competição profissional e ignora a formação humana, ética e emancipadora. Esses fatores influenciam na qualidade da educação oferecida e na formação de cidadãos mais engajados socialmente. E como ressalta Guimarães-Iosif (2009) é complexo discutir a respeito de educação para a cidadania e aprendizagem, quando a própria cidadania dos professores da escola pública encontra-se comprometida e estes inseridos em espaços sociais marcados pela opressão e exclusão social.

Assim, a escolha pelos estudantes das licenciaturas de Ciências Biológicas e Letras de uma universidade estadual, justifica-se por se tratar de um grupo de pessoas que atuarão no processo de construção da cidadania de crianças e jovens do Estado brasileiro e que estão sendo formados em uma universidade pública, que sofre cada vez mais com os cortes financeiros do Estado.

Conhecer um pouco mais das representações sociais dos estudantes de Ciências Biológicas e Letras acerca do ensino superior e das políticas de formação docente, por meio da fala de quem de fato está sendo afetado por elas, pode ser um importante instrumento para a construção de uma educação que leve em consideração o desenvolvimento humano, ético, científico, social e emancipador; conhecimentos esses que devem nortear o sistema educacional em qualquer nível de ensino. Logo, os cursos de licenciaturas que privilegiam esses aspectos oferecem uma formação mais humanizada, e por consequência há professores mais engajados socialmente e preocupados com a construção da própria aprendizagem e de seus alunos e com a promoção de uma educação básica de qualidade e contra hegemônica.

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indivíduos da nação. Portanto, se não receberem uma boa formação ficará difícil propiciá-la aos seus futuros alunos.

Guimaraes-Iosif (2009, p. 69) contribui com essa discussão ao afirmar que as políticas lançadas na década de 1990, resultado da influência do neoliberalismo na educação, se restringem à dimensão formal da educação e enfatizam as áreas de matemática, português e ciências, sendo as questões sociais, históricas e geográficas deixadas de lado. Dessa forma, novos padrões de qualidade em educação surgem em todo mundo “[...] e fazem com que os professores e muitas escolas passem a trabalhar em função deles, desprezando outros aspectos importantes da educação, principalmente sua dimensão política e crítica”.

A qualidade política da educação refere-se à competência de intervenção, por meio da qual o cidadão compromete-se com a conscientização e a emancipação popular, lutando contra as injustiças sociais, a pobreza e a desigualdade social, como aponta Guimarães-Iosif (2009). A qualidade política seria a face da educação para superação da condição da pobreza política dos grupos mais marginalizados, de forma que eles possam construir sua própria história, e que essa construção seja feita por meio de questionamentos, autonomia, criticidade, emancipação e transformação social, segundo Demo (2000b).

Ao conhecer as representações sociais dos estudantes de Ciências Biológicas e Letras sobre as políticas de formação docente e sobre o ensino superior, esta pesquisa pode oferecer subsídios para novas diretrizes nos cursos de formação de professores, no sentido de levantar questões importantes relacionadas à formação, aprendizagem e cidadania docente e discente. Além disso, os resultados do estudo podem contribuir para que a universidade possa compreender melhor a importância de se discutir as representações sociais construídas por seus alunos, para que estas incentivem não somente a pesquisa, mas também a docência e a extensão.

Com o suporte da metodologia de abordagem qualitativa, foi investigada uma Instituição de Ensino Superior (IES) pública, localizada em Minas Gerais. A escolha por essa Universidade se deu pelo fato dela ter sido a primeira IES pública instalada no município, representando assim, desenvolvimento cultural local e a oportunidade de muitos estudantes pobres egressos do ensino médio terem acesso ao Ensino Superior.

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aprender para ensinar. Podem-se citar alguns estudos interessantes e atuais relacionados a essa temática, tais como: Santana (2010), Cunha F. (2012) e Oliveira (2012). Os dois primeiros trabalhos são dissertações e o último, tese, todos produzidos na Universidade de Brasília (UnB).

Em relação às pesquisas previamente mencionadas, o trabalho de Santana (2010) buscou compreender o processo de desenvolvimento de professores em um ambiente de formação acadêmica, ressaltando como a formação superior representa um contexto de desenvolvimento humano. A pesquisa Cunha F. (2012) propôs um referencial teórico-metodológico para a formação continuada de professores no ambiente escolar, apoiado na prática filosófica, e que destaca os processos de construção da subjetividade do professor como sujeito social. Já a pesquisa de Oliveira (2012) investigou o mal-estar docente de professores de três escolas públicas do Distrito Federal que trabalham como o projeto de Educação Integral.

Cabe ressaltar que esta pesquisa inova e avança ao relacionar a análise de políticas educacionais com a TRS e ao se voltar para a identificação das representações sociais construídas pelos estudantes dessas licenciaturas a respeito da educação superior e das políticas educacionais para a formação docente no Brasil, também inova ao abrir espaço para os licenciandos se posicionarem em relação às políticas de formação docente. Ouvir os estudantes das licenciaturas, que sofrem direta ou indiretamente com as consequências das políticas de formação docente em tempos neoliberais não constitui a única solução para os problemas da formação dos estudantes dos cursos de licenciatura, mas pode representar o início de um estudo que abre espaço para rever as atuais políticas de formação docente no Brasil.

A relevância deste estudo para a sociedade local é que o mesmo poderá contribuir para que a Instituição de Ensino Superior (IES) reveja a aplicação das Diretrizes Curriculares nos seus projetos pedagógicos dos cursos de formação, na tentativa de promover um espaço de formação docente com mais humanidade e autonomia.

1.4. METODOLOGIA

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fases da pesquisa e sobre a geração dos dados, por último apresenta as etapas do procedimento de tratamento e análise de dados.

O principal objetivo da investigação que se propôs aqui foi identificar as Representações Sociais (RS) de estudantes de licenciaturas dos cursos de Ciências Biológicas e Letras sobre o ensino superior e as políticas de formação docente. Para tanto, o estudo pressupôs a participação de dois grupos distintos de sujeitos: estudantes de Ciências Biológicas e estudantes de Letras. O delineamento teórico-metodológico condutor da pesquisa foi a Teoria das Representações Sociais, mais precisamente a perspectiva social, proposta por Doise (2001), cujo modelo de análise implica três dimensões analíticas para o estudo das RS, sendo elas: partilha de crenças comuns entre indivíduos de um mesmo grupo ou sociedade; variações ou diferenças individuais nas tomadas de posição em relação a um dado objeto de representação e caracterização dos elementos de ancoragens das tomadas de posição em outras realidades simbólicas coletivas.

A pesquisa apoiou-se em técnicas qualitativas, não dispensando os dados quantitativos e com base nos procedimentos metodológicos da abordagem de Moscovici (1978) propôs-se: (1) identificar o perfil dos estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Letras de uma instituição pública de ensino superior; (2) analisar como as atuais políticas educacionais têm ajudado na promoção da profissionalização dos professores da educação básica (3) evidenciar a estrutura e o campo comum das representações sociais dos estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Letras sobre o ensino superior e as políticas de formação docente; (4) identificar aspectos de diferenciação individual e grupal das representações sociais dos cursos de Ciências Biológicas e Letras acerca do ensino superior e as políticas de formação docente; (5) analisar quais os elementos de ancoragem que estão presentes nas representações sociais dos estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Letras sobre o ensino superior e as políticas de formação docente.

1.4.1. Tipo de pesquisa

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importância desse método ao conseguir promover uma íntima ligação entre o pesquisador e seu objeto de investigação.

A estratégia de pesquisa escolhida foi o Estudo de Caso por este possibilitar a imersão na realidade social, por ter a finalidade de estudar fenômenos em uma unidade social a partir do seu contexto real, fazendo uso de uma análise mais profunda e intensa do objeto delimitado. Esse tipo de estudo privilegia um fenômeno, descreve-o de forma densa e busca a compreensão do objeto estudado em sua complexidade. O Estudo de Caso é uma estratégia de pesquisa que visa a investigação empírica, pesquisando fenômenos dentro dos seus contextos reais, por isso é uma pesquisa naturalista, sendo que o pesquisador tem pouco controle em relação aos fenômenos pesquisados, conforme ressalta Martins (2008).

O Estudo de Caso caracteriza-se pelo fato de as situações serem reais ou com base no real, o pesquisador pode aplicar hipóteses, sem deixar de ter como parâmetro a realidade. Dessa maneira, a técnica de Estudo de Caso oferece oportunidades para aplicação de conhecimentos assimilados em situações da realidade e promove condições para o exercício da análise e da prática da tomada de decisões. Daí a escolha de se desenvolver esse tipo de pesquisa que se adapta à investigação do fenômeno proposto desde o início da pesquisa.

O trabalho possui também um caráter exploratório, já que proporciona a construção das definições das unidades de análises, o caso específico que será investigado (ANDRÉ, 2005). Essas definições possibilitaram responder às questões construídas na problematização, contribuindo com o contato inicial no campo, com a identificação dos atores da pesquisa, e na definição dos procedimentos e instrumentos de coletas de dados, dentro do rigor científico para que seja garantida a validade da pesquisa.

Para Souza (2009, p. 58) o estudo qualitativo acerca das representações sociais é extremamente importante no desenvolvimento de uma pesquisa que tem como objetivo “[...] conhecer o significado das ações e das relações entre indivíduos e objetos num contexto social, a partir das experiências cotidianas e das interações que se estabelecem nos ambientes de trabalho, de lazer, como também da família”.

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plurimetodológica permite uma profunda explicação com relação ao que os sujeitos pensam e como o pensamento deles se organiza e estrutura, favorecendo também a compreensão do motivo deles pensarem de determinada forma, diante das ancoragens sócio históricas e culturais que refletem um pensamento social.

1.4.2. Geração dos dados: procedimentos e instrumentos

A técnica de associação livre de palavras, além das questões abertas procurou dar conta dos objetos de representação aqui selecionados, quais sejam as políticas de formação docente e o ensino superior nas áreas de Ciências Biológicas e Letras. Dessa forma, foi privilegiado o caráter plurimetodológico adotado nas pesquisas que têm por base a TRS.

Para a realização desta pesquisa optou-se pela construção de um questionário que oferecesse condições de acessar a RS dos estudantes de Ciências Biológicas e Letras. O questionário2 como instrumento qualitativo foi fundamental para conhecer melhor os estudantes, traçando o perfil deles e analisando como têm sido construídas as RS sobre as políticas de formação docente e o ensino superior e quais as expectativas deles em relação ao curso escolhido. O questionário é uma importante estratégia na pesquisa social por “[...] tratar-se de um conjunto ordenado e consistente de perguntas a respeito de variáveis e situações que se deseja medir ou descrever” (MARTINS, 2008, p. 36).

Segundo Almeida (2001, p. 143) o questionário é um instrumento privilegiado no estudo das representações sociais por várias razões, pois permite:

[...] a partir de uma análise quantitativa, identificar a organização das respostas, evidenciar os aspectos explicativos ou discriminantes de uma dada população (análise intragrupo) ou entre populações (intergrupos), situar as posições dos grupos estudados em relação aos eixos explicativos, etc. Além disso, a possibilidade de padronização do instrumento reduz os riscos de uma interpretação equivocada por parte do pesquisador e evita grandes variações na interpretação das perguntas, já que as questões são exatamente as mesmas para todos os sujeitos.

A primeira parte do questionário contém 19 questões que abordam dados sócios demográficos dos atores da pesquisa, cujo principal objetivo é o de traçar uma caracterização dos participantes de cada grupo e, sobretudo, na possibilidade de evidenciar as diferenças interindividuais das posições dos estudantes acerca dos objetos sociais em análise. Essa parte

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do instrumento contém itens sobre: idade, sexo, etnia escolarização, prática religiosa, partido político, práticas culturais.

A segunda parte do questionário busca acessar as RS do ensino superior, das licenciaturas e das políticas de formação docente por meio de três questões de associação livre. Os termos indutores foram apresentados conforme indicado na Tabela 1.

Tabela 1. Comando e termos indutores das questões de associação livre

Responda as perguntas a seguir com as primeiras palavras, frases ou expressões que lhe vem à mente.

1. O que vem em sua mente quando você pensa na expressão ENSINO SUPERIOR? Dê 5 (cinco) respostas.

2. O que vem em sua mente quando você pensa na palavra LICENCIATURA? Dê 5 (cinco) respostas.

3. O que vem em sua mente quando você pensa na expressão POLÍTICAS DE FORMAÇÃO DOCENTE? Dê 5 (cinco) respostas.

Fonte: Elaboração da autora.

Segundo Souza (2009) opta-se pela técnica de evocação livre quando se considera os atributos qualitativos e quantitativos na determinação dos elementos periféricos e centrais de uma representação. Esta técnica é também conhecida como associação livre ou teste por associação livre. A técnica de evocação livre é utilizada nas pesquisas de representação social de caráter científico, pois ela permite uma coleta dos elementos que constituem o conteúdo das representações do objeto estudado e também por permitir uma estruturação do núcleo central (OLIVEIRA et al., 2005). Esta técnica tem como objetivo principal propor palavras ou expressões que funcionarão como indutoras, em seguida solicita-se que o participante responda informando as palavras ou expressões que primeiro ocorrem em sua mente, tem como finalidade diminuir as defesas e o desejo social, por privilegiar repostas menos racionais.

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A técnica de associação livre de palavras pode ser caracterizada, segundo Abric (2001) como um tipo de investigação aberta que é estruturada por meio da evocação de respostas dadas a partir de um estímulo indutor, e acaba evidenciando universos semânticos de palavras e expressões que se agrupam por determinadas populações, o que acaba permitindo a atualização de elementos implícitos que poderiam ser perdidos ou mascarados nas produções discursivas. Portanto, os termos indutores usados nas questões de evocação devem ser equivalentes ao objeto de RS estudado.

Por fim, a terceira parte do instrumento desta pesquisa foi composta por questões abertas que foram analisadas com o auxílio do software Alceste. Este software foi

desenvolvido em 1979, na França, por Max Reinert e tem como objetivo auxiliar a interpretação do corpus textual, como destacam Nascimento e Menandro (2006). Mesmo

sendo um software que se originou na França, é possível fazer a análise de textos em

português, pois possui dicionário neste idioma.

1.4.3. Procedimento de tratamento e a análise de dados

Concluída a geração dos dados, o material coletado foi organizado para análise e interpretação. Vale ressaltar que a análise e interpretação dos dados apoiaram-se em procedimentos de dupla ordem: qualitativos e quantitativos. Ambos os softwares utilizados na

análise dos dados utilizam de procedimentos estatísticos para qualitativamente explicar os fenômenos, como será esclarecido a seguir. Assim, na análise, procurou-se descrever de maneira fiel e íntegra as informações fornecidas pelos sujeitos da pesquisa para, em seguida, iniciar o processo de interpretação, com o intuito de extrair sentido das falas oriundas de algumas questões abertas do questionário. Sendo assim, descrição e análise são caminhos fundamentais para a interpretação.

Foram definidos diferentes tipos de tratamento e análise para os dados da segunda e terceira parte do instrumento, que busca apreender o campo comum das RS dos estudantes de Ciências Biológicas e Letras sobre o ensino superior, as licenciaturas e as políticas de formação docente. O software utilizado para o tratamento dos dados coletados na segunda

parte do instrumento pela técnica de Associação Livre de Palavras foi o EVOC, e o software utilizado para os dados coletados na terceira parte foi o Alceste.

As questões de livre associação foram analisadas com a ajuda do software EVOC,

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ordem de aparecimento, as frequências e as médias de evocação, proporcionando conhecer os elementos estruturais das representações sociais. O software EVOC possibilita o cálculo das

Ordens Médias de cada uma das palavras Evocadas (OME) diante do termo indutor apresentado. Posteriormente, as palavras são agrupadas em categorias estabelecidas em razão dos caracteres comuns desses elementos e dos critérios orientados pela imersão da análise em questão (PAIXÃO, 2008). O software permite dois tipos de análises: a lexicográfica e a categorização por análise de conteúdo como apontam os pesquisadores Carvalho et al. (2005).

Segundo Cândido (2007), a partir da preparação do corpus para o lançamento de

dados, o processamento do EVOC possibilita uma análise que oferece dados para o reconhecimento da estrutura das RS. Essa análise, realizada pelo subprograma nomeado RANGMOT, considera dois critérios: a frequência e a ordem da evocação. Como destaca Paixão (2008) após o cruzamento desses critérios é definida a relevância dos elementos que se associam ao termo indutor. A autora ressalta ainda que a análise de evocação é apresentada respeitando-se os quadrantes organizados em dois eixos, sendo que o eixo vertical corresponde à frequência e o horizontal à ordem de evocação.

Tabela 2. Quadrantes da análise de evocação

Ordem Média de Evocações

F R E Q U Ê N C I A 1º Quadrante Núcleo Central

ATRIBUTOS COM ALTA FREQUÊNCIA E PRONTAMENTE EVOCADOS

2º Quadrante Sistema Periférico

ATRIBUTOS COM ALTA FREQUÊNCIA E TARDIAMENTE EVOCADOS

3º Quadrante Sistema Periférico’

ATRIBUTOS COM BAIXA FREQUÊNCIA E PRONTAMENTE EVOCADOS

4º Quadrante Periferia Distante

ATRIBUTOS COM BAIXA FREQUÊNCIA E TARDIAMENTE EVOCADOS

Fonte: Cândido (2007).

Os quadrantes são explicados por Simoneau e Oliveira (2011, p. 15):

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Em outra etapa o EVOC reúne as palavras evocadas em categorias. O subprograma AIDCAT oferece uma lista com sugestões de categorias que necessitam de análise para que só então se crie conjuntos de palavras, como destaca Cândido (2007). Tal como observa Paixão (2008, p. 172) a categorização dos termos passa pela avaliação de juízes que “[...] avaliam cada um dos temas sob os quais as palavras são agrupadas”. A autora ressalta que uma análise estatística é ainda feita pelo software, o que acaba possibilitando conhecer se uma

representação social caracteriza melhor um subgrupo ou outro. Para que ocorra a diferenciação dos subgrupos é necessário que as variantes que caracterizam os participantes sejam utilizadas, como afirma Cândido (2007).

Essa estratégia metodológica “[...] é considerada como uma técnica de análise estrutural das representações sociais por compreender a percepção da realidade de um determinado grupo social por meio de uma composição semântica pré-existente” (SOUZA, 2009, p. 66). Sendo essa composição visível e imagética e instituída ao redor de alguns subsídios simbólicos simples que podem substituir ou nortear a percepção real do objeto estudado.

Oliveira et al. (2005, p. 574-575) citam duas razões por se optar por essa técnica em pesquisas sobre estudos científicos:

[...] a primeira, por possibilitar a apreensão das projeções mentais de maneira descontraída e espontânea, revelando inclusive os conteúdos implícitos ou latentes que podem ser mascarados nas produções discursivas; a segunda, pelo fato de se obter o conteúdo semântico de forma rápida e objetiva, reduzindo as dificuldades e os limites das expressões discursivas convencionais.

Diversas pesquisas que buscaram discutir as representações sociais acerca da educação ou de objetos sociais a ela relacionados (SHIMAMOTO, 2004; RIBEIRO; JUTRAS, 2006; SOUZA, 2009; MUNHOZ, 2010; ABDALLA, MARTINS, SILVA, 2012) já utilizaram o procedimento de coleta de dados por meio de questionário de associação livre, demonstrando ser uma tendência, no Brasil, estudos e pesquisas desenvolvidas com base na Teoria das Representações Sociais, que se fundamentam na Teoria do Núcleo Central, elaborada por Abric (2001).

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[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações visando obter, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou não) que permitem a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens (BARDIN, 1979, p. 42)

Franco (2007, p. 12) ressalta que as mensagens ou expressões que constituem o objeto da análise de conteúdo “[...] expressam as representações sociais na qualidade de elaborações mentais construídas socialmente, a partir da dinâmica que se estabelece entre a atividade psíquica do sujeito e o objeto do conhecimento”.

Dessa forma, observa-se que a relação entre sujeito e objeto social é constituída na prática social e histórica da humanidade, via linguagem, como afirma Paixão (2008). Por meio dessa concepção, entende-se que as representações sociais são construídas por processos sociocognitivos que têm influência na vida cotidiana dos indivíduos, nos seus processos comunicacionais e também nos seus comportamentos. Moscovici (2003, p. 86) faz algumas afirmações a respeito da influência das representações sociais nos comportamentos dos sujeitos:

Para compreender melhor a relação que se estabelece entre o comportamento humano e as representações sociais, devemos partir da análise de conteúdo das representações e considerar, conjuntamente, os afetos, as condutas, os modos, como os atores sociais compartilham crenças, valores, perspectivas futuras e experiências afetivas.

Franco (2007, p.12) ressalta que os sujeitos produzem discursos a respeito de um dado objeto dentro da condição do contexto no qual os sujeitos estão submetidos, e essas condições envolvem aspectos e:

[...] situações econômicas e socioculturais nas quais os emissores estão inseridos, o acesso aos códigos linguísticos, o grau de competência para saber decodificá-los o que resulta em expressões verbais (ou mensagens) carregadas de componentes cognitivos, subjetivos, afetivos, valorativos e historicamente mutáveis.

As categorias criadas procuraram atender as exigências de serem exaustivas, excludentes, concretas e adequadas, como sugere Minayo (2007). As interpretações dos dados foram construídas com base nas categorias construídas e na perspectiva teórica adotada. Assim, a análise de conteúdo tem uma concepção crítica e dinâmica que procurou identificar os significados e sentidos atribuídos pelos sujeitos das representações acerca do ensino superior e das políticas de formação docente.

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em cálculos estatísticos feitos sobre a coocorrência de palavras em segmentos de texto, os quais são considerados o enunciado mínimo em um discurso. O software promove também a

diferenciação de classes de palavras que representam formas diferentes de discurso e que são correspondentes ao objeto de interesse da pesquisa, como ressaltam Nascimento e Menandro (2006). Portanto, o software analisa a estrutura do discurso por meio de análises estatísticas e

matemáticas, de acordo com o número de classe, das relações existentes entre elas, das divisões realizadas no respectivo material, bem como da formação de classes, das formas radicais e das palavras relacionadas aos valores de qui-quadrado (χ2) correspondentes, bem

como seu contexto semântico (SILVEIRA, 2009).

Os enunciados são classificados a partir da análise lexical e a partir de perfis lexicais, tendo como base a ideia de que dois enunciados serão mais próximo um do outro quanto mais eles tenham raízes lexicais próximas, como destaca Oliveira et al. (2005). Dessa forma, é possível verificar o que há de comum nas diferentes visões do objeto em estudo.

Por meio do software o corpus analisado é segmentado em grandes unidades, que são

nomeadas de Unidade de Contexto Inicial (UCI), que podem ser entrevistas ou respostas às questões de diferentes sujeitos que estão reunidas em um mesmo corpus, como destaca

Silveira (2009). O texto completo é dividido novamente em partes de texto, abrangendo, geralmente, três linhas, como afirma Ribeiro (2005). Cada parte de texto ou enunciado representa o pensamento manifestado e cada parte é denominada de unidade de contextos elementares (UCE’s), assim o trabalho de classificação do ALCESTE se faz com base na presença das palavras do corpus a cada UCE (SILVEIRA, 2009).

O processo de análise lexical segue na medida em que apreendem como lexemas apenas as palavras plenas, que ele lematiza, por meio da construção de um Quadro Lexical Inteiro, cruzando seus enunciados e seus lexemas para calcular uma participação disjuntiva de classes de unidades de contextos elementares, de modo que a variância interclasses seja maximizada em função da variância interclasses, sobre o que se refere aos lexemas que as unidades de contexto elementares contêm como destaca Silveira (2009).

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A análise estatística denominada Classificação Hierárquica Descendente (CHD) tem como objetivo calcular as participações em classes gramaticais, apresentando duas posições por meio de um dendograma, parecido com uma árvore, como informa Ribeiro (2005). Logo em seguida, uma Análise Fatorial de Correspondência (AFC) é realizada para que se possa visualizar as oposições resultantes da classificação descendente fatorial (CDF), sob forma de um plano fatorial, portanto as palavras que aparecem com muita frequência não são necessariamente descartadas, mas são acopladas a uma certa classe, com base no valor do

qui- quadrado (χ2), como exposto por Silveira (2009).

A autora supracitada destaca que para se realizar uma análise mais qualitativa por meio do Alceste, deve-se recortar um corpus em UCE’s, agrupando-as em Unidade de Contexto Analisadas (UCA’s) em função do vocabulário. Dessa forma, esta última etapa irá fornecer as bases para a interpretação qualitativa dos dados.

A estudiosa segue descrevendo a segunda e terceira etapas da análise qualitativa do Alceste. A segunda etapa permite uma descrição inicial das classes obtidas, conseguem-se também os principais resultados e a dependência mútua, bem como o vocabulário dominante de cada uma das classes, sendo estes elementos que irão compor a interpretação dos dados. A terceira etapa refere-se à efetivação dos cálculos complementares sobre cada uma das classes, sendo que as unidades de contexto mais representativas de cada classe são calculadas e extraídas, ocorrendo também nesta etapa o cálculo dos segmentos repetidos e das Classificações Ascendentes Hierárquicas (CAH).

Dessa forma, o Alceste apresenta o número de classes resultantes da análise, as formas reduzidas, o contexto semântico e as UCE’s de cada classe. A partir deste momento o pesquisador nomeia e interpreta cada classe, por meio das informações fornecidas pelo

software como informa Silveira (2009). A autora destaca ainda que o Alceste permite uma

análise criativa por parte do autor da pesquisa, de acordo com o foco da pesquisa e das experiências prévias do pesquisador.

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Tabela 3. Etapas de análise pelo software ALCESTE.

Etapas de análise do ALCESTE

1. Leitura do texto e cálculo dos dicionários a) Reformatação e divisão do texto em segmentos similares – UCE’s;

b) Pesquisa do vocabulário e agrupamento das ocorrências das palavras por meio das suas raízes (formas reduzidas);

c) Criação do dicionário das formas reduzidas. 2. Cálculo das matrizes de dados e classificação

das UCE’s

a) Seleção das UCE’s em função dos seus vocabulários e cálculo da matriz das formas reduzidas cruzadas com a UCE;

b) Cálculo das matrizes de dados para a Classificação Hierárquica Descendente;

c) Classificação Hierárquica Descendente definitiva.

3. Descrição das Classes de UCE’s escolhidas a) Definição das classes escolhidas; b) Descrição das classes;

c) Análise Fatorial de Correspondência (AFC), gerando uma representação gráfica das relações entre as classes e as variáveis, dispostas em um plano fatorial.

4. Cálculos complementares a) Fornecimento das UCE’s mais características de classe;

b) Pesquisa de segmentos repetidos por classe; c) Construção de uma matriz de formas associadas a uma mesma classe, cruzando com as UCE’s da referida classe;

d) Eleição das palavras mais características de cada classe para a demonstração de um “index de contexto de ocorrência”;

e) Exportação das UCE’s para outros programas de informática.

Fonte: Ribeiro (2005)

A análise qualitativa por meio do Alceste reconstruiu o discurso coletivo dos participantes, assim para que o discurso fosse condizente com cada classe temática, partiu-se das palavras e Unidades de Contexto Elementar (UCE’s), oferecidas pela análise estatística. Foram utilizados os fragmentos das frases das respostas das questões abertas, aproximando ao máximo do seu significado original. Por fim, os fragmentos de texto foram reorganizados de modo a contemplar a temática representativa de cada classe e de cada eixo.

1.5. A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SUA APLICABILIDADE NAS PESQUISAS EM EDUCAÇÃO

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pertinência do entrelaçamento desses dois sistemas. A Teoria das Representações Sociais, desenvolvida por Moscovici (1978) e que foi compreendida como uma modalidade sociológica da Psicologia Social (FARR, 1998) contribui com as discussões aqui propostas, além de servir como base teórico-metodológica para a pesquisa.

No que se refere à Teoria das Representações Sociais, discorreu-se sobre a relação desse conceito como o conceito de representações coletivas, elaborado por Durkheim; logo em seguida, foram apresentados alguns elementos constitutivos da teoria.

A Teoria das Representações Sociais (TRS) tem Moscovici (1978) como principal representante e cabe, aqui, entender os aspectos históricos e o surgimento dela, para que se possa entender sua relação com a educação. Cada vez mais pesquisadores de diversas áreas, entre elas Educação, Psicologia e Sociologia têm utilizado a TRS para estudar as relações entre grupos e culturas para apreender as representações de diversos objetos socialmente construídos.

O pensamento sociológico usa o conceito de representações há muito tempo; já no século XIX ele era trabalhado por Émile Durkheim e Marcel Mauss como um meio de analisar a realidade coletiva, retratando as crenças, os conhecimentos e sentimentos do grupo social. Moscovici substitui o termo coletivo por social, ampliando-lhe o significado ao estabelecer que ele não só traduz como produz conhecimentos, como afirma Horochovski (2004). De fato, segundo Cerqueira (2007) Moscovici desenvolveu uma TRS a partir da teoria de Émile Durkheim, que tratava a representação coletiva como visão sociológica dos fatos sociais.

Ao desconsiderar a luta pelo poder no interior das classes sociais, Durkheim propôs as representações sociais como forma da síntese da vontade coletiva. “Para ele, os instrumentos simbólicos seriam fatores estruturantes e a autonomia desejável seria a atitude de aceitação das regras, uma vez que seriam racionalmente estabelecidas” (ALEVATO 1999, p. 89). Dessa teoria, o que se pode entender é que todas as classes sociais poderiam definir a vida coletiva e as representações seriam uma espécie de livre arbítrio.

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Moscovici se negou a trabalhar com a terminologia representações coletivas de Durkheim, por esta ser representada por um caráter fixo e estático. “Ele via as representações como algo mais dinâmico, produto de construção e reconstrução do dia a dia na sociedade, daí a preferência pelo termo social”, como afirma Souza (2009, p. 8). De acordo com essa perspectiva teórica, Spink (2004, p. 8) afirma que:

As representações são essencialmente dinâmicas; são produções de determinações tanto históricas como do aqui-e-agora e construções que têm uma função de orientação: conhecimentos sociais que situam o individuo no mundo e situando-o, definem sua identidade social – o seu modo de ser particular, produto de seu ser social.

Ciências como a psicologia clínica, a sociologia, a antropologia há muito se preocupam em entender o pensamento e a conduta irracional dos indivíduos e suas transformações, fato apontado pelo estudo epistemológico das representações nas pesquisas de Moscovici (1989). Este autor considera que os estudos produzidos por essas ciências se mostraram fragmentados, pelo fato de se manterem presos em domínios específicos, destacando o caráter coletivo das representações à sua dinâmica, quando não partiam dos substratos psíquicos às origens e interiorização das mesmas, “[...] sem contudo, se preocuparem com a comunicação que permite os indivíduos convergirem, de sorte que alguma coisa de individual passa a tornar social e vice-versa”, como afirmam Costa e Almeida (s.d.).

Assim, Moscovici tentou demonstrar, no campo científico, com seus estudos que a sociedade pode ser modificada pelos indivíduos, já que estes têm capacidade para tal realização, pois, são sujeitos ativos e criativos que se reconstroem como ser humano e são os construtores da realidade, porque participam de relações criadas “[...] num processo de elaboração, construção e apropriação da realidade objetiva. A partir disso, ocorre a complexidade do termo Representações Sociais, utilizado pela Psicologia Social”, como

exposto por Souza (2009, p. 9, grifo da autora).

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Ainda segundo os autores supracitados, o que de novo a teoria de Moscovici apresentava não era a questão da interação entre indivíduo e meio, e sim a interface dessa relação, já que a representação é uma construção do indivíduo e sua origem e seu destino é social. O que realmente importava para Moscovici não era estudar a relação entre indivíduo e meio social, mas sim “[...] entender o dinamismo dessa relação, ou seja, como o social interfere na elaboração das representações sociais do grupo a que pertencem”. A relação dialética entre individual e social é que fez com que Moscovici (1978, p. 65) afirmasse que “[...] a estrutura de cada representação aparece desdobrada; possui duas faces tão pouco dissociáveis como o verso e o reverso de uma folha de papel: a cara figurativa e a casa simbólica”.

Por meio de discursos, diversas linguagens, imagens vinculadas na mídia que acabam sendo cristalizadas por meio de arranjos materiais e espaciais, é que podemos identificar os fenômenos das representações sociais, tais como um gesto expresso, uma palavra dita, uma ação realizada em determinados contextos e situações que podem surpreender os indivíduos, o grupo ou a sociedade, como expõem Santos e Almeida (2005).

Quando se estuda a teoria de Moscovici sobre as representações sociais é relevante que o contexto em que os indivíduos estão inseridos seja levado em consideração, tanto para o desenvolvimento da pesquisa, quanto para entender que as representações sempre levam em consideração os conteúdos imaginários que caracterizam o imaginário social, bem como elas representam os campos estruturados pelos hábitos, conforme ressalta Spink (2004).

Os conteúdos imaginários têm relação direta com sistemas simbólicos que são construídos por meio de desejos, experiências e motivações dos indivíduos envolvidos em um determinado contexto social e os sistemas simbólicos são constituídos de símbolos (ALMEIDA, 2005, p. 48). Segundo Jung (1964, p. 20) o que as pessoas chamam de símbolo é “[...] um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais além de seu significado evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga desconhecida e oculta para nós”.

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Tabela 4. Evolução do Número e Percentual de Instituições de Educação Superior, segundo a  Categoria Administrativa – Brasil – 2009-2011
Tabela  5.  Número e percentual de matrículas, ingressos (todas as formas e por processos  seletivos) e concluintes de graduação (presencial e a distância), segundo o grau acadêmico –  Brasil – 2010-2011
Gráfico 1. Distribuição do Número de Matrículas de Graduação por Modalidade de Ensino,  segundo o Grau Acadêmico – Brasil – 2011
Gráfico 2. Desempenho no Enem e opção profissional
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