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Classe 2 – Escolha pela docência devido a condições financeiras precárias

CAPÍTULO V – EDUCAÇÃO SUPERIOR E POLÍTICAS DE FORMAÇÃO SOB A

5.4. EIXO 2 – AS EXPECTATIVAS DE ATUAÇÃO NA DOCÊNCIA: ÚNICA

5.4.1. Classe 2 – Escolha pela docência devido a condições financeiras precárias

A Classe 2 representa 15% do total do corpus analisado. A Tabela 20 traz as palavras mais significativas desta classe e apontam os discursos de alguns estudantes a respeito da opção pela docência como profissão devido a condições financeiras precárias, sendo que estas lhe impedem de cursar outros cursos que exigem uma condição econômica melhor.

A Tabela 20 demonstra as palavras com maiores χ2 e apontam os discursos de alguns

estudantes a respeito da opção pela docência como profissão devido a condições financeiras precárias, sendo que estas lhe impedem de cursar outros cursos que exigem uma condição econômica melhor.

Tabela 20. Classe 2. Escola pela docência devido a condições financeiras precárias.

Classe 2: Escola pela docência devido a condições financeiras precárias. χ

2 Condições 56 Financeiras 56 Única 48 Falta 42 Optei 39 Psicologia 33 Engenharia 30 Universidade 29 Cidade 23 Sonho 16 Pagar 16 Salário 16 15,0%

Alguns estudantes manifestaram o desejo de cursar engenharia, psicologia, nutrição e direito, pois segundo eles, estes cursos lhe renderiam melhores condições de trabalho e salários, bem como maior realização pessoal e social, já que são cursos com maior prestígio social em relação à docência.

Faço letras por falta de oportunidade. Faria psicologia, nutrição ou direito. Devido a condições financeiras de minha família optei em estudar em uma universidade pública, porém com o tempo aprendi a gostar do curso de letras. (Estudante 24, Letras, 20 anos)

Fiz o vestibular da universidade e passei, e era a única opção de curso. Cursaria administração, devido a melhores condições de trabalho e salários melhores. (Estudante 29, Letra, 21 anos)

Não escolhi, moro em cidade do interior e não tenho condições financeiras para arcar com as despesas de graduação. A única universidade pública que temos apenas oferece na nossa região cursos de licenciatura. (Estudante 4, Ciências Biológicas, 41 anos)

A universidade só disponibiliza dois cursos, letras e biologia, ambos licenciatura, por não ter condições financeiras de pagar outro curso, optei por fazer a licenciatura. (Estudante 6, Ciências Biológicas, 21 anos)

Faço por falta de opção. Faria outro curso e não tenho expectativas com esse. (Estudante 18, Ciências Biológicas, 21 anos)

Não escolhi, faço por falta de opção de outros bons cursos na cidade. Cursaria engenharia ambiental, gosto de trabalhar com o meio ambiente. (Estudante 21, Ciências Biológicas, 28 anos)

Observa-se nos discursos acima a não identificação dos estudantes com as licenciaturas cursadas, eles apenas as fazem por uma questão financeira, pois não têm como arcar com as despesas de outros cursos que lhes renderiam melhores salários e maior reconhecimento social como profissionais. Demo (2000b) afirma que é complexo pensar na promoção da cidadania docente quando o professor ganha menos de mil dólares, para o autor esse é o valor mínimo que um professor deve receber para ter e propiciar à família o mínimo de dignidade e ainda dar continuidade a sua formação, investindo assim, em capital cultural, como compra de livros, viagens, participação em eventos educacionais, entre outros.

Guimaraes-Iosif (2009, p. 151) afirma que a remuneração mínima destinada aos professores deveria ser de dez salários mínimos “[...] reajustados pela realização de formação continuada de qualidade”. A autora ainda afirma que o Piso Salarial não resolverá o problema, já que se deve levar em consideração as diferenças de custo de vida nas cidades brasileiras, pois não dá para comparar o custo de vida de uma cidadezinha do interior com os grandes centros urbanos, assim se analisar o custo de vida de cada região fica evidente que o salário do professor da escola pública não atende as necessidades básicas desse profissional.

Contribuindo com esta discussão Nascimento, Silva, Silva (2014) afirmam que nos registros da Relação Anual de Informação Sociais (Rais) 2012, observa-se que os profissionais de atividades pedagógicas apresentaram remuneração horária média 20% inferior aos de profissionais de outras carreiras que exigem formação superior. Segundo Neri (2013) quando se trata da remuneração o salário mensal médio das carreiras ligadas à licenciaturas é o terceiro mais baixo entre 48 carreiras pesquisadas. Assim, o indicador remuneração em relação à atratividade docente acaba tendo um grande peso no momento em que o jovem brasileiro vai fazer sua escolha profissional, o que acaba contribuindo para que a docência não seja uma profissão atrativa.

Um dos estudantes afirma que cursa licenciatura por falta de opção de “bons cursos na cidade”, ou seja, nem mesmo os estudantes matriculados nos cursos de licenciaturas as reconhecem como sendo boas oportunidades de seguir uma profissão, o que acaba fazendo com que o curso perca cada vez mais prestígio social.

Os discursos acima fazem suscitar um questionamento: Quem é o sujeito que está sendo atraído para a carreira docente no Brasil? Talvez para essa questão seja interessante retomar a pesquisa realizada por Louzano et al. (2010) em que os pesquisadores apontaram que dos jovens brasileiros que fizeram o Enem 2005 apenas 11% manifestaram desejo de se tornarem professores do ensino fundamental ou médio, sendo que entre esses apenas 5%

estavam entre os 20% dos estudantes com melhor desempenho, e 16% estavam entre os 20% com pior desempenho. Portanto, apenas 10% dos interessados em seguir a carreira docente estão entre os melhores alunos do ensino médio do País. Os dados citados demonstram que no Brasil a carreira docente parece atrair uma porcentagem elevada de estudantes menos qualificados.

É inevitável questionar: Até quando o Brasil vai aceitar a atual situação da carreira docente? Quando surgirão políticas públicas realmente eficientes em relação à docência? O Brasil tem enfrentado muitos problemas para a contratação de professores da rede pública, tais como: pouca atratividade financeira para os alunos do ensino médio se tornarem professores, o salário inicial de um professor do setor público ainda é mais baixo que de outros profissionais em início de carreira, além é claro do baixo status social que vem acompanhando a carreira docente.

5.4.2. Classe 3 – Expectativa de atuação profissional dos estudantes de Ciências