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CAPÍTULO I – A EDUCAÇÃO SUPERIOR E AS POLÍTICAS DE FORMAÇÃO

1.5. A TEORIA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS E SUA APLICABILIDADE NAS

Objetivou-se, nesta seção, apresentar os aportes da Teoria das Representações Sociais, de modo a promover uma reflexão sobre a relação desta com a educação, ressaltando a

pertinência do entrelaçamento desses dois sistemas. A Teoria das Representações Sociais, desenvolvida por Moscovici (1978) e que foi compreendida como uma modalidade sociológica da Psicologia Social (FARR, 1998) contribui com as discussões aqui propostas, além de servir como base teórico-metodológica para a pesquisa.

No que se refere à Teoria das Representações Sociais, discorreu-se sobre a relação desse conceito como o conceito de representações coletivas, elaborado por Durkheim; logo em seguida, foram apresentados alguns elementos constitutivos da teoria.

A Teoria das Representações Sociais (TRS) tem Moscovici (1978) como principal representante e cabe, aqui, entender os aspectos históricos e o surgimento dela, para que se possa entender sua relação com a educação. Cada vez mais pesquisadores de diversas áreas, entre elas Educação, Psicologia e Sociologia têm utilizado a TRS para estudar as relações entre grupos e culturas para apreender as representações de diversos objetos socialmente construídos.

O pensamento sociológico usa o conceito de representações há muito tempo; já no século XIX ele era trabalhado por Émile Durkheim e Marcel Mauss como um meio de analisar a realidade coletiva, retratando as crenças, os conhecimentos e sentimentos do grupo social. Moscovici substitui o termo coletivo por social, ampliando-lhe o significado ao estabelecer que ele não só traduz como produz conhecimentos, como afirma Horochovski (2004). De fato, segundo Cerqueira (2007) Moscovici desenvolveu uma TRS a partir da teoria de Émile Durkheim, que tratava a representação coletiva como visão sociológica dos fatos sociais.

Ao desconsiderar a luta pelo poder no interior das classes sociais, Durkheim propôs as representações sociais como forma da síntese da vontade coletiva. “Para ele, os instrumentos simbólicos seriam fatores estruturantes e a autonomia desejável seria a atitude de aceitação das regras, uma vez que seriam racionalmente estabelecidas” (ALEVATO 1999, p. 89). Dessa teoria, o que se pode entender é que todas as classes sociais poderiam definir a vida coletiva e as representações seriam uma espécie de livre arbítrio.

Em 1961, Moscovici faz ressurgir o conceito de representações, buscando e renovando, a partir da Psicologia Social e de pesquisas que mostravam como se constrói a mediação entre o individual e o social, “[...] negando, assim, explicações essencialmente sociais como em Durkheim, ou as essencialmente cognitivistas, como em Piaget”, conforme apontam Costa e Almeida (s.d.).

Moscovici se negou a trabalhar com a terminologia representações coletivas de Durkheim, por esta ser representada por um caráter fixo e estático. “Ele via as representações como algo mais dinâmico, produto de construção e reconstrução do dia a dia na sociedade, daí a preferência pelo termo social”, como afirma Souza (2009, p. 8). De acordo com essa perspectiva teórica, Spink (2004, p. 8) afirma que:

As representações são essencialmente dinâmicas; são produções de determinações tanto históricas como do aqui-e-agora e construções que têm uma função de orientação: conhecimentos sociais que situam o individuo no mundo e situando-o, definem sua identidade social – o seu modo de ser particular, produto de seu ser social.

Ciências como a psicologia clínica, a sociologia, a antropologia há muito se preocupam em entender o pensamento e a conduta irracional dos indivíduos e suas transformações, fato apontado pelo estudo epistemológico das representações nas pesquisas de Moscovici (1989). Este autor considera que os estudos produzidos por essas ciências se mostraram fragmentados, pelo fato de se manterem presos em domínios específicos, destacando o caráter coletivo das representações à sua dinâmica, quando não partiam dos substratos psíquicos às origens e interiorização das mesmas, “[...] sem contudo, se preocuparem com a comunicação que permite os indivíduos convergirem, de sorte que alguma coisa de individual passa a tornar social e vice-versa”, como afirmam Costa e Almeida (s.d.).

Assim, Moscovici tentou demonstrar, no campo científico, com seus estudos que a sociedade pode ser modificada pelos indivíduos, já que estes têm capacidade para tal realização, pois, são sujeitos ativos e criativos que se reconstroem como ser humano e são os construtores da realidade, porque participam de relações criadas “[...] num processo de elaboração, construção e apropriação da realidade objetiva. A partir disso, ocorre a complexidade do termo Representações Sociais, utilizado pela Psicologia Social”, como exposto por Souza (2009, p. 9, grifo da autora).

A teoria desenvolvida por Moscovici (1978) sempre tentou superar o aspecto individualista da psicologia e o aspecto coletivista da sociologia e da antropologia, sempre por meio da ajuda dessas mesmas ciências. Tal como apontam Costa e Almeida (s.d.), “Moscovici considerou que o social só existe se existir um sujeito e que o sujeito só existe no social. Essa interação dialética entre ambos é que foi tomada por Moscovici como ponto de partida para a formulação da Teoria das Representações Sociais”.

Ainda segundo os autores supracitados, o que de novo a teoria de Moscovici apresentava não era a questão da interação entre indivíduo e meio, e sim a interface dessa relação, já que a representação é uma construção do indivíduo e sua origem e seu destino é social. O que realmente importava para Moscovici não era estudar a relação entre indivíduo e meio social, mas sim “[...] entender o dinamismo dessa relação, ou seja, como o social interfere na elaboração das representações sociais do grupo a que pertencem”. A relação dialética entre individual e social é que fez com que Moscovici (1978, p. 65) afirmasse que “[...] a estrutura de cada representação aparece desdobrada; possui duas faces tão pouco dissociáveis como o verso e o reverso de uma folha de papel: a cara figurativa e a casa simbólica”.

Por meio de discursos, diversas linguagens, imagens vinculadas na mídia que acabam sendo cristalizadas por meio de arranjos materiais e espaciais, é que podemos identificar os fenômenos das representações sociais, tais como um gesto expresso, uma palavra dita, uma ação realizada em determinados contextos e situações que podem surpreender os indivíduos, o grupo ou a sociedade, como expõem Santos e Almeida (2005).

Quando se estuda a teoria de Moscovici sobre as representações sociais é relevante que o contexto em que os indivíduos estão inseridos seja levado em consideração, tanto para o desenvolvimento da pesquisa, quanto para entender que as representações sempre levam em consideração os conteúdos imaginários que caracterizam o imaginário social, bem como elas representam os campos estruturados pelos hábitos, conforme ressalta Spink (2004).

Os conteúdos imaginários têm relação direta com sistemas simbólicos que são construídos por meio de desejos, experiências e motivações dos indivíduos envolvidos em um determinado contexto social e os sistemas simbólicos são constituídos de símbolos (ALMEIDA, 2005, p. 48). Segundo Jung (1964, p. 20) o que as pessoas chamam de símbolo é “[...] um termo, um nome ou mesmo uma imagem que nos pode ser familiar na vida diária, embora possua conotações especiais além de seu significado evidente e convencional. Implica alguma coisa vaga desconhecida e oculta para nós”.

Moscovici (2007, p. 181) entende por Representações Sociais “[...] um conjunto de conceitos, explicações e afirmações interindividuais. São equivalentes, em nossa sociedade, aos mitos e sistemas de crenças das sociedades tradicionais; poder-se-ia dizer que são a versão contemporânea do senso comum”. Para este autor são três as dimensões na estruturação das representações sociais existentes, elas apresentam relação com o conteúdo da representação e

se referem ao contexto social no qual o sujeito está inserido. Santos (2005, p. 30-31) as destacam:

a) Atitude – expressa uma resposta organizada (complexa) e latente (encoberta). Uma tomada de posição com relação a um objeto. A atitude é ligada à história dos indivíduos ou do grupo.

b) Informação – remete à quantidade e qualidade do conhecimento possuído a respeito do objeto social.

c) Campo da representação – [...] é uma estrutura que organiza e hierarquiza os elementos da informação apreendida e reelaborada.

Logo, conhecer essas dimensões ajuda na compreensão das diferentes representações sociais entre vários grupos sociais, o que foi observado na pesquisa realizada, já que foram analisados dois grupos, os estudantes dos cursos de Ciências Biológicas e Letras.

Muitos são os colaboradores de Moscovici que têm contribuído para a ampliação teórica das representações sociais, entre eles podemos citar Denise Jodelet, Willem Doise e Jean-Claude Abric. Souza (2009) destaca que Abric privilegiou em seus estudos, a dimensão cognitiva da representação social tendo como princípio um enfoque estrutural, por entender que uma representação social é uma organização estruturada de informações, crenças, opiniões e atitudes; assim ele cria a Teoria do Núcleo Central, que é concebida como uma abordagem complementar da Teoria das Representações Sociais.

Abric apresentou, em 1976, e em caráter experimental, a teoria do Núcleo Central, que chega com a intenção de identificar a organização interna das representações sociais em torno de um núcleo central formado por um ou mais elementos que refletiriam a representação de determinado objeto e o seu significado, “[...] por constituir um sistema sociocognitivo particular, composto de dois subsistemas: um sistema central (ou núcleo central) e um sistema periférico” (SOUZA, 2009, p. 13). Assim, cada subsistema teria sua função específica e os sistemas são complementares.

O núcleo central apresenta duas funções importantes no processo de elaboração da representação, sendo elas: a geradora e a organizadora. A primeira só é possível por meio do significado do elemento constitutivo da representação que pode ter sido criado ou elaborado e tenha um valor. A segunda função representa a ligação entre os elementos, que estabelecem a unidade e estabilidade da representação, como expõe Abric (2000).

O núcleo central “[...] trata-se do elemento, ou elementos, o mais estável, da representação, aquele que assegura a continuidade em contextos móveis e evolutivos. Ele será, dentro da representação, o elemento que mais vai resistir à mudança” (ABRIC, 2000, p.

31). O que acaba representando uma propriedade do núcleo central e significa que qualquer modificação nele acarretará uma modificação completa da representação. Ainda segundo o autor, é a identificação do elemento central que proporciona o estudo comparativo das representações, sendo que este elemento não poderá ser considerado apenas pela frequência com que aparece em um grupo social por fatores quantitativos, deve se perceber elementos qualitativos que estabelecem uma relação com o significado da representação.

Abric (2000, p. 32) destaca as funções dos elementos periféricos, sendo estas fundamentais para a compreensão da representação social de determinado objeto, são elas:

- Função de concretização: diretamente dependentes do contexto, os elementos periféricos resultam da ancoragem da representação na realidade. Eles constituem a interface entre o núcleo central e a situação concreta na qual a representação é laborada ou colocada em funcionamento [...].

- Função de regulação: mais leves que os elementos centrais, os elementos periféricos têm um papel essencial na adaptação da representação às evoluções do contexto. Então, as informações novas ou as transformações do meio ambiente podem ser integradas na periferia da representação. Elementos susceptíveis de entrar em conflito com os fundamentos da representação poderão ser integrados, seja lhes atribuindo uma importância menor, seja lhes reinterpretando na direção do significado estabelecido pelo núcleo central, ou ainda, lhes atribuindo um caráter de exceção [...].

- Função de defesa: [...] funciona como o sistema de defesa da representação. [...] A transformação de uma representação se opera, na maior parte dos casos, através da transformação de seus elementos periféricos: mudança de ponderação, interpretação novas, deformações defensivas, integração condicional de elementos contraditórios [...].

O conteúdo dos elementos periféricos é heterogêneo, pelo fato deles estarem ancorados na realidade vivida pelos grupos sociais. O sistema periférico é também um elemento importante para todos os mecanismos que venham resguardar o significado da representação (ABRIC, 2000). Sendo esse sistema capaz de absolver qualquer elemento que possa colocar o núcleo central em perigo. Dessa forma, percebe-se uma forte capacidade de defesa desse sistema.

O autor apresenta ainda um quadro síntese das diferenças entre cada um dos sistemas apontados na organização interna das representações sociais.

Quadro 1. Características do sistema central e do sistema periférico de uma representação

Sistema Central Sistema Periférico

- Ligado à memória coletiva e à história do

grupo. - Permite a integração das experiências e das histórias individuais. - Define a homogeneidade do grupo. - Tolera a heterogeneidade do grupo.

- Estável; - Coerente; - Rígido.

- Flexível;

- Tolera as contradições. - Resistentes às mudanças. - Evolutivo.

- Pouco sensível ao contexto imediato. - Sensível ao contexto imediato. - Gera o significado da representação;

- Determina sua organização.

- Permite a adaptação à realidade concreta; - Permite a diferença do conteúdo.

Fonte: Abric (2000, p. 34)

Segundo Moscovici (1978, p. 24) a propagação da ciência e sua entrada no dia a dia das pessoas se dão por meio da “[...] comunicação que propaga o conhecimento em uma dada sociedade e que esse processo de socialização dá origem a um novo tipo de conhecimento adaptado às necessidades de um grupo social”. Assim, consideram-se os cursos de licenciaturas de Ciências Biológicas e Letras meios de socialização do conhecimento. Almeja- se que os estudantes dessas licenciaturas não apenas reproduzam conhecimento científico, mas que eles sejam capazes de reelaborar e transformar esse conhecimento de acordo com o contexto social e cultural nos quais estão inseridos.

São responsáveis pela formação das representações sociais dois processos, a ancoragem e a objetivação, que tem como objetivo tornarem o não-familiar em familiar para os indivíduos de um determinado grupo social.

Sobre a ancoragem Paixão (2008, p. 113) escreve que ela

[...] é feita da realidade social por intermédio de atividades que buscam a inserção orgânica do que é estranho no pensamento já constituído. [...] ancora-se o desconhecido em representações já existentes, fazendo com que o novo objeto da representação ganhe sentido.

De fato Moscovici (2007, p.61) esclarece que a ancoragem é um processo que

[...] transforma algo estranho e perturbador, que nos intriga, em nosso sistema particular de categorias e o compara com um paradigma de uma categoria que nós pensamos ser apropriada [...]. Ancorar é, pois, classificar e dar nome a alguma coisa. Coisas que não são classificadas e que não possuem nome são estranhas, não existentes e ao mesmo tempo ameaçadoras.

Postura de resistência surge quando o indivíduo não consegue classificar um objeto que lhe é estranho. Essa postura só é superada quando o objeto ameaçador é nomeado e rotulado, assim ele passa a integrar uma categoria para poder ser representado socialmente, conforme aponta Souza (2009). Assim, o não-familiar passa a ser familiar, como Moscovici (2007) defendeu em sua teoria.

O indivíduo consegue por meio da ancoragem integrar o objeto da representação a um sistema de valores que lhe é conhecido, próprio, denominando-o e classificando-o, pela função que esse objeto mantém com o meio social. Isto significa dizer que um objeto só é ancorado quando ele passa a ser parte de um sistema de categorias que já existe, para isso ele deverá sofrer alguns ajustes.

O processo de objetivação tem como função tornar o abstrato em algo concreto, de modo que o indivíduo consiga reproduzir um conceito em uma imagem ou em um núcleo figurativo, conforme Santos e Almeida (2005). Núcleo figurativo é:

[...] uma estrutura imagética em que se articulam de forma mais concreta ou visualizável, os elementos do objeto de representação que tenham sido selecionados pelos indivíduos ou grupos em função de critérios culturais e normativos. (SÁ, 2002, p. 65)

Moscovici (2007, p. 71) mostra que o conceito de objetivação é “[...] descobrir a qualidade icônica de uma ideia, ou ser impreciso; é reproduzir um conceito em uma imagem”. Jodelet (2001) aponta uma relação existente entre ancoragem e objetivação, o objeto quando se materializa mentalmente, na forma de representação social, se consolida e é traduzido em pensamentos e ação nas práticas sociais do cotidiano, sendo a apreensão das representações sociais acerca das políticas de formação docente e do ensino superior nos cursos de Ciências Biológicas e Letras o objetivo maior desta pesquisa.

O estudo das representações sociais na educação tem se fundamentado no fato de que esse campo de estudo tem avançado, promovendo assim, a inovação de velhos paradigmas das ciências humanas, propiciando a compreensão de fenômenos que ocorrem no âmbito educacional. Da mesma forma, que ocorre em outros campos da pesquisa, na educação, as representações sociais constituem um campo organizador de sentido e orientador do pensamento e práticas sociais. Isso ocorre porque no ambiente escolar acontecem articulações e combinações de diferentes questões e objetos, “[...] de acordo com uma lógica própria, em uma estrutura sistematizada, para a qual contribuem informações e julgamentos valorativos, colhidos em diferentes fontes, experiências pessoais e grupais”, conforme Sacramento (2009,

p. 42). Assim, no ambiente escolar, são incorporadas as interpretações históricas e pessoais de cada um, por meio das conversações, que dão origem ao processo de formação das representações sociais.

Muito tem se discutido a respeito da influência das políticas de formação nos cursos de licenciaturas, já que é desses cursos que surgem os profissionais cuja responsabilidade é formar cognitiva e socialmente crianças e jovens que exercerão a cidadania no Estado brasileiro. Dessa forma, estudar as representações sociais das políticas públicas de formação docente e as licenciaturas é fundamental, visto que elas podem oferecer caminhos para a promoção de intervenções educativas que poderão contribuir com a criação de práticas pedagógicas e a construção de uma docência mais reflexiva e transdisciplinar3 que contribua para a promoção de uma proposta de formação docente, contextualizada nos cenários encontrados.

Souza (2009, p. 36) afirma que o interesse em estudar as representações sociais para a compreensão dos acontecimentos na educação, “[...] consiste no fato de que orienta a atenção para o papel de conjuntos organizados de significações sociais no processo educativo”. Assim, como observa Carvalho (2003) tal estudo possibilitará entendimento da ação dos fatos sociais sobre o processo educativo, sendo possível também compreender como as pessoas se organizam e agem dentro do seu ambiente educacional. Este autor indica ainda que o ambiente escolar tem como função social ensinar e sua prática social é orientada por valores, história de vida e motivações das pessoas que lá estão. Esses mesmos valores e motivações permeiam a relação ensinar e prender entre os sujeitos, conforme expõe Carvalho (2003).

A análise das representações sociais sobre a educação superior e as políticas de formação docente se torna extremamente pertinente, já que o objetivo deste trabalho não é apenas entender a relação ensino/aprendizagem, mas também entender o significado das representações sociais nos processos concretos de vida dos grupos sociais, aqui citados. Conhecer essas representações é fundamental para a reformulação das práticas educativas e esclarecer quais são os discursos socialmente postulados acerca dos cursos de licenciaturas.

A TRS na área educacional envolve o estudo de muitos temas e também muitas discussões, pois, as representações são capazes de possibilitar o entendimento de fatores sociais, psicológicos e cognitivos que são influenciadores na formação de conceitos e

3 O conceito de transdisciplinaridade utilizado neste trabalho é o mesmo encontrado na obra de Arnt (2007), no

qual o conhecimento representa algo para além da disciplina, há nele a articulação da ciência, arte, filosofia, tradição, reconhecendo desse modo a multidimensionalidade humana e os múltiplos níveis de realidade, de maneira que as relações humanas com o meio ambiente sejam potencializadas, na busca do bem comum.

significados ao ensino e aprendizagem adotados pela instituição de ensino, como afirma Souza (2009). Dessa forma, as instituições de ensino representam um campo favorável para o estudo das influências das representações sociais sobre as práticas realizadas nesse espaço.

Contribuindo com essa discussão, Costa e Gomez (1999, p. 175) afirmam que “[...] rever a escola é rever práticas, ideias, imagens, conceitos, é reconhecer quando as representações interferem em processos de mudança na direção de um novo rumo para a vida social, que clama por liberdade, justiça, solidariedade e amor”. Esse é o verdadeiro sentido de uma educação transdisciplinar, respaldada na pedagogia da autonomia de Freire (2011) na busca da promoção de uma sociedade emancipada e justa.

No meio educacional o saber ou saberes são construídos, mas cada indivíduo os constrói de forma diferente e particular porque, como destacam Costa e Almeida (s.d., apud SACRAMENTO, 2009, p. 43) apesar das representações sociais se originarem “[...] nas condições sócio-estruturais e sócio-dinâmicas de um grupo, não impede que os indivíduos deem a essas representações um toque singular”. Percebe-se que mesmo pertencendo a grupos sociais, as pessoas carregam consigo experiências e vivências, histórias de vidas distintas que vão possibilitar “[...] percepções e apreensões diferenciadas de um objeto, em relação a outros indivíduos de seu grupo” (SACRAMENTO, 2009, p. 43).

Assim, entende-se que cada representação social, embora seja coerente com o pensamento coletivo, possui particularidades que refletem os valores, crenças, experiências e histórias de vida de cada indivíduo pertencente a um mesmo grupo social, o que pode acabar proporcionando percepções distintas e, com isso, alterar o conteúdo da representação,