• Nenhum resultado encontrado

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS CURSO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO CENTRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS CURSO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL"

Copied!
56
0
0

Texto

(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO SEMI-ÁRIDO PRÓ-REITORIA DE GRADUAÇÃO

CENTRO DE ENGENHARIA E CIÊNCIAS AMBIENTAIS CURSO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA E AMBIENTAL

JULI EMILLE PEREIRA DE MELO

LEVANTAMENTO DOS IMPACTOS INERENTES À INADEQUAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO

MOSSORÓ 2020

(2)

JULIEMILLE PEREIRA DE MELO

LEVANTAMENTO DOS IMPACTOS INERENTES À INADEQUAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO

Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido como requisito para obtenção do título de Engenheira Agrícola e Ambiental.

Orientador (a): Prof. Dr. Rafael Oliveira Batista

MOSSORÓ 2020

(3)

sejam devidamente citados e mencionados os seus créditos bibliográficos.

O serviço de Geração Automática de Ficha Catalográfica para Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC´s) foi desenvolvido pelo Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da Universidade de São Paulo (USP) e gentilmente cedido para o Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (SISBI-UFERSA), sendo customizado pela Superintendência de Tecnologia da Informação e Comunicação (SUTIC) sob orientação dos bibliotecários da instituição para ser adaptado às necessidades dos alunos dos Cursos de Graduação e Programas de Pós-Graduação da Universidade.

M528l Melo, Juli Emille Pereira de.

Levantamento dos impactos inerentes à inadequação do saneamento básico / Juli Emille Pereira de Melo. - 2020.

53 f. : il.

Orientador: Rafael Oliveira Batista.

Monografia (graduação) - Universidade Federal Rural do Semi-árido, Curso de Engenharia Agrícola e Ambiental, 2020.

1. meio ambiente. 2. impactos. 3. esgotamento sanitário. 4. resíduos sólidos. 5. saúde. I. Batista, Rafael Oliveira, orient. II. Título.

(4)

LEVANTAMENTO DOS IMPACTOS INERENTES À INADEQUAÇÃO DO SANEAMENTO BÁSICO

Monografia apresentada a Universidade Federal Rural do Semi-Árido como requisito para obtenção do título de Engenheira Agrícola e Ambiental.

Defendida em: 07/02/2020.

BANCA EXAMINADORA

_________________________________________ Prof. Dr. Rafael Oliveira Batista – UFERSA

Presidente

_________________________________________ Drª. Danniely Oliveira Costa – UFERSA

Membro Examinador

___________________________________________ Dr. Hudson Salatiel Marques Vale – UFERSA

(5)

AGRADECIMENTOS

Agradeço àquele que me deu a vida uma vez e me permitiu chegar até aqui. Aquele que nunca desistiu de mim e que cumpre todas as suas promessas. Agradeço a Deus, o dono da minha vida, que me permitiu sobreviver, mesmo com um coração doente.

Agradeço ao meu orientador o professor Doutor Rafael Oliveira Batista, por todos os conhecimentos repassados e pela inspiração que me deu ao longo dos anos na faculdade. Seu muito conhecimento atrelado à sua sabedoria, sensibilidade e humildade são dignos de admiração e ficarão marcados em minha vida.

Agradeço à minha mãe Edna por ter lutado todos esses anos em prol da minha vida. Que me deu forças quando eu não mais achava que tinha, que me orientou sempre nas maiores decisões da minha vida, que me inspira todos os dias com sua força e amor. Á ela, minha eterna gratidão. Agradeço ao meu pai Aldeirton que sempre me apoiou e se preocupou com minha saúde física e emocional.

Agradeço aos meus queridos professores Wilton Miranda e Rafael Rios, que me ofereceram a oportunidade de crescer academicamente no ensino através da monitoria e também na pesquisa. Obrigada por nunca terem desistido de mim, e por ter me feito ter uma visão ampla sobre os conhecimentos interdisciplinares que pude adquirir na universidade. Sou eternamente grata por tudo o que fizeram, suas atitudes, exemplos e amizade estão certamente marcados em meu coração.

Agradeço a todos os meus amigos, que estiveram comigo todos esses anos me dando força e inspiração para nunca desistir de lutar pelos meus sonhos.

Agradeço a todos os meus professores de engenharia agrícola por terem compartilhado os seus conhecimentos e amizade. Sou grata eternamente pela vida de vocês, pois foram essenciais para me fazer enxergar a beleza naquilo que ensinam.

(6)

Já estou crucificado com Cristo; e vivo não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne, vivo-a pela fé do filho de Deus, o qual me amou, e se entregou a si mesmo por mim. Gálatas 2:20

(7)

RESUMO

O saneamento básico é um dos serviços que mais inspiram preocupação a nível mundial, nacional e local, devido aos inúmeros impactos que sua inadequação pode causar para a saúde da população, economia e meio ambiente. O presente trabalho tem por objetivo estudar a relação da inadequação do saneamento básico com os impactos nas diversas áreas que sofrem interferência desse sistema. Para isso, realizou-se uma pesquisa bibliográfica acerca de temas específicos como: a importância das funções e dos serviços oferecidos pelo saneamento básico; a situação do saneamento no cenário brasileiro; os impactos sociais, ambientais e econômicos gerados pela inadequação dos serviços de saneamento; e, as medidas mitigadoras relacionadas aos impactos. Os dados mostram que o saneamento tem sua importância na prevenção de doenças, além de que a sua ausência ou inadequação pode gerar impactos na saúde (como gastroenterites, resistência bacteriana e cardiopatias); impactos na educação, segurança da mulher, no trabalho e na renda de famílias; e também impactos à economia de uma nação, como nos prejuízos sobre o turismo e investimento à saúde. Foram observadas as medidas necessárias a serem aplicadas a fim de buscar mitigar os problemas envolvendo a inadequação do saneamento.

(8)

ABSTRACT

Basic sanitation is one of the services that provokes the most concern at a global, national and local level, due to the countless impacts that its inadequacy can cause to the health of the population, economy and the environment. This work aims to study the relationship between the inadequacy of basic sanitation and the impacts in the various areas that are affected by this system. For this, a bibliographic research was carried out on specific topics such as: the importance of the functions and services offered by basic sanitation; the situation of sanitation in Brazil; the social, environmental and economic impacts generated by the inadequacy of sanitation services; and, mitigation measures related to impacts. The data shows that sanitation has its importance in preventing disease, additionally its absence or inadequacy can generate health impacts (such as gastroenteritis, bacterial resistance and heart disease); impacts on education, women's safety, work and family income; and also impacts on a nation's economy, such as losses on tourism and investment in health. The necessary measures to be applied that mitigate the problems involving inadequate sanitation were observed.

(9)

LISTA DE FIGURAS

Gráfico 01 - Percentual da população brasileira contemplada com serviços de saneamento básico p.24.

(10)

LISTA DE TABELAS

Tabela 01 - Funções do saneamento básico de acordo com a PNSB p.18.

Tabela 02 - Número de sedes municipais do Semiárido brasileiro atendidas com sistema de coleta de esgoto sanitário p.29.

(11)

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

a.C – Antes de Cristo

ANA – Agência Nacional de Águas

CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente

DRSAI - Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado INSA – Instituto Nacional do Semi-Árido

OMS – Organização Mundial de Saúde

PLANASA – Plano Nacional de Saneamento Básico PLANSAB – Plano Nacional de Saneamento Básico PNRS - Política Nacional de Resíduos Sólidos PNSB – Política Nacional de Saneamento Básico

SNIS - Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento

(12)

SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...10 1.2 Objetivos...12 1.2.1 Objetivo geral...12 1.2.2 Objetivos específicos...12 1.3 Metodologia...13 2. REVISÃO DE LITERATURA...14 2.1 O que é saneamento...14

2.1.1 Breve histórico sobre o saneamento no Brasil e no mundo...14

2.2 Funções do saneamento...17

2.3 Situação atual do saneamento básico...21

2.3.1 O cenário brasileiro...22

2.3.2 Saneamento no cenário nordestino...26

2.3.3 Situação do saneamento no semiárido brasileiro...27

2.4 A importância do saneamento básico...30

2.5 Impactos gerados pela inadequação do saneamento básico...31

2.5.1 Impactos ambientais...31

2.5.2 Impactos sociais e à saúde humana...35

2.5.3 Impactos econômicos...38

2.6 Medidas mitigadoras para as inadequações do saneamento básico...39

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS...42

(13)

1. INTRODUÇÃO

A base de organização de uma sociedade é formada por vários elementos que juntos devem promover o devido equilíbrio e estruturação das esferas da saúde, segurança, educação e meio ambiente. Um dos elementos em destaque neste sistema é a infraestrutura sanitária, que interfere diretamente na situação de saúde e qualidade de vida da população. O setor de saneamento passa por constantes modificações ao longo dos anos, buscando incrementar novas estratégias e mecanismos que visam a melhoria e o desenvolvimento de um país. O principal objetivo do saneamento é a promoção da saúde do homem, e tem como serviços essenciais o oferecimento de água potável, coleta e tratamento de esgotos, drenagem e coleta e manejo de resíduos sólidos.

Apesar disso é notável que as políticas de vários países ao redor do mundo não oferecem a devida atenção às questões de infraestrutura sanitária, ignorando ou mascarando a interrelação desse setor com os demais setores que compõem a sociedade. Esse fato impossibilita a aquisição de informações por parte da população, que por falta de conhecimento sofre diretamente ou indiretamente com os efeitos de um problema cujas causas foram geradas pelo descaso governamental na implementação de sistemas de saneamento. Esse descaso gera inúmeras consequências para o desenvolvimento de uma nação, impedindo o seu crescimento e podendo provocar a regressão dos índices que representam a qualidade de vida de uma população. Em pleno século 21, em um mundo em constante desenvolvimento tecnológico e humano, índices apontam que a higiene, saneamento e abastecimento de água continuam a ter implicações na saúde.

A inadequação do saneamento básico gera inúmeros problemas, sobretudo em países em desenvolvimento como o Brasil, China, Índia, Argentina e México, por exemplo. Os impactos mais notáveis causados pela deficiência desse sistema estão ligados à incidência de doenças no meio da população. Uma grande quantidade de doenças está associada às deficiências de higiene, saneamento e qualidade da água, sendo amplamente evitável com recursos econômicos e intervenções (BARTRAM e CAIRNCROSS, 2010). Essas doenças são comumente denominadas de Doenças Relacionadas ao Saneamento Ambiental Inadequado (DRSAI), que têm relação direta com o ambiente degradado (FONSECA e VASCONCELOS, 2011).

Além disso, um saneamento básico inadequado provoca a poluição dos recursos hídricos, poluição urbana e improdutividade, ocasionando impactos negativos à economia das regiões e severas consequências ao meio ambiente e bem-estar da população. A inadequação

(14)

do saneamento básico é um dos fatores responsáveis pela reação em cadeia que gera vários problemas não só às áreas já citadas, mas também à inúmeras outras, cujas causas dificilmente são associadas aos problemas de saneamento, como por exemplo na área da educação e segurança. Esses problemas são reflexo da falta da vontade política e integração das esferas governamentais. Implementação de saneamento não deve ser apenas um plano governamental específico, mas uma meta nacional e prioritária para garantir o melhor desenvolvimento do país. Não ter saneamento adequado é sinônimo de subdesenvolvimento. A implementação de boas condições sanitárias é a base para o desenvolvimento de uma nação. Apesar de se tratarem de obras aparentemente invisíveis aos olhos do povo, sua importância não deve ser negligenciada. A implementação de condições sanitárias adequadas gera grandes impactos na vida das pessoas (VAN MINH e HUNG, 2011). Os avanços nas áreas de abastecimento de água e de esgotamento sanitário, principalmente em países em desenvolvimento são refletidos na redução das taxas de mortalidade (SOARES et al., 2002). Além disso o acesso ao saneamento básico melhora a saúde, evita doenças, promove valorização econômica de regiões e amplia oportunidades à população, aumentando a produtividade.

(15)

1.1 Objetivos

1.1.1 Objetivo geral

O presente trabalho tem como objetivo estudar a relação da inadequação do saneamento básico com os impactos nas diversas áreas que sofrem interferência desse sistema, através do o levantamento de dados e informações encontradas na literatura.

1.1.2 Objetivos específicos

- Compreender de maneira geral os conceitos levantados pela literatura a respeito dos serviços e funções do saneamento básico, bem como refletir sobre o processo histórico da incorporação do saneamento ao cotidiano da população;

- Analisar a situação do quadro brasileiro de saneamento, bem como observar a situação da região Nordeste e semiárida no cenário de saneamento básico nacional;

- Analisar a importância dos serviços oferecidos pelo saneamento para a vida da população de maneira geral;

- Levantar impactos sociais, ambientais e econômicos gerados pela inadequação dos serviços de saneamento;

- Apontar medidas mitigadoras que visam minimizar os impactos gerados devido à inadequação do saneamento básico.

(16)

1.2 Metodologia

Realizou-se uma pesquisa bibliográfica acerca dos impactos gerados pela inadequação do saneamento básico. De acordo com Severino (2007), a pesquisa bibliográfica é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos e digitais como livros, artigos científicos e teses. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados.

Foi realizada uma pesquisa sobre os conceitos básicos que envolvem o saneamento básico, apontando fatos importantes da evolução dos serviços no contexto histórico do Brasil e do mundo, bem como relacioná-los às situações existentes ao longo do planeta que sofrem pelos impactos causados pela inadequação do saneamento. Informações sobre a importância, a situação do cenário nacional brasileiro, bem como as implicações das irregularidades presentes nos serviços sanitários foram discutidas, a fim de se apresentar propostas mitigadoras para os impactos ambientais, sociais e econômicos sobre a inadequação do saneamento básico.

Todos os dados coletados através da pesquisa foram expostos de forma a esclarecer o assunto aos leitores bem como proporcionar o devido entendimento sobre o assunto abordado ao longo da revisão.

(17)

2. REVISÃO DE LITERATURA 2.1 O que é saneamento básico

Sanear é uma palavra derivada do latim que significa tornar saudável, higienizar e limpar. O conceito de saneamento pode ser entendido como sendo o conjunto de mecanismos que trabalham para promover o abastecimento de água potável, limpeza urbana, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e drenagem de águas pluviais (BRASIL, 2007). Em outras palavras saneamento é o conjunto de medidas que tem como finalidade garantir a preservação do meio ambiente a fim de se prevenir patologias e promover a saúde, qualidade de vida e produtividade da população (TRATA BRASIL, 2019a).

Do entendimento legal retira-se que saneamento básico é a prestação de serviços, infraestruturas e instalações operacionais (BRASIL, 2007).

2.1.1 Breve histórico sobre o saneamento no Brasil e no mundo

A definição de saneamento é algo de origem recente quando comparado com a existência de práticas sanitárias de vários séculos atrás. Antes de se haver a disseminação de ideias pautadas na preocupação com meio ambiente e com o bem-estar do ser humano, já se ouvia falar de atividades, ainda que rudimentares que buscavam implementar de alguma forma o saneamento. Escritos no antigo testamento da Bíblia mostraram várias práticas vinculadas às atividades sanitárias desenvolvidas pelo povo judeu, como por exemplo o uso da água para limpeza de roupas. Já durante o período de 950 a.C foram construídas as represas de Salomão, entre as cidades de Belém e Hebron, para acumular águas da chuva e abastecer o templo e a cidade de Jerusalém (BARROS, 2014). Além disso, também se tem conhecimento da existência do primeiro sistema de abastecimento de água, que foi criado na Assíria, em 691 a.C., o aqueduto de Jerwan (AZEVEDO NETTO e FERNÁNDEZ, 2018). Muitas outras práticas se difundiram ao longo dos séculos, surgindo em lugares distintos ao redor do planeta.

Na Grécia antiga, já havia o hábito de enterrar as fezes ou as afastarem para um local distante de suas residências. Em Roma, ruas com encanamentos serviam de fontes públicas, e para evitar doenças, separavam as águas servidas do abastecimento de água para a população. (...). Iniciou-se a construção de galerias de esgoto em Nippur, na Babilônia, a primeira galeria de esgotos da história. No Vale do Indo, foram criadas ruas com canais de esgoto cobertos por tijolos, banheiras e privadas com lançamento de dejetos para os canais. Acondicionamento de água em vasos de cobre, exposição ao sol, filtragem com utilização de carvão ou cascalho e imersão de barra de ferro aquecida. Em Nimrud iniciou-se a construção de um sistema de esgoto (BARROS, 2014).

(18)

Apesar de se ter indícios históricos antigos de estruturas como estas, é necessário enfatizar que o seu potencial tecnológico não era tão avançado. Não havia a preocupação com certos fatores inerentes à qualidade dos serviços prestados e nem análises dos impactos causados por estes serviços. Um exemplo clássico disso foi o que ocorreu na Idade Média, onde famílias escavavam poços dentro de suas casas para fins de abastecimento de água, próximos a fossas e esterco de animais (BARROS, 2014). Devido à falta de conhecimento da população acerca da importância de se ter condições sanitárias adequadas, práticas como essas foram responsáveis por disseminar doenças por toda a Europa no século XIV. Entre os anos de 1347 e 1350 a grande peste negra, disseminada através de pulgas e ratos, foi responsável por dizimar cerca de um quarto da população da Europa (PEREIRA et al., 2018).

A interdisciplinaridade do saneamento básico ou saneamento ambiental, como alguns autores preferem dizer, é um conceito novo que emergiu apenas com o surgimento da preocupação com as questões ambientais e de saúde humana.

Com o passar dos anos outras tecnologias passaram a ser implementadas a fim de potencializar o desempenho da infraestrutura sanitária e melhorar a sua eficiência. Pompeu (1972) afirma que na idade contemporânea, em 1829, surgiam na França leis que procuravam combater à poluição das águas, aplicando punições àqueles que lançassem produtos ou resíduos perigosos nos corpos hídricos. Nesta época também se iniciou a implantação do saneamento. O mesmo ocorreu na Inglaterra, porém devido ao desenvolvimento industrial nesta região, muitas pessoas das zonas rurais iniciaram um processo imigratório para as zonas urbanas. Devido às condições sanitárias insalubres em que estavam inseridos, os trabalhadores sofriam com os surtos de doença na região, o que aumentou o índice de mortalidade na Europa nesse século, principalmente entre crianças. (HUCK, 1995).

A cólera foi uma das doenças responsáveis por devastar a vida de milhares de pessoas em toda a Europa do século XIX, sendo estudada pelo médico inglês John Snow, que associou a origem dessa doença à água contaminada, comprovando a sua relação através de estudos em Londres (STANWELL-SMITH, 2003). Ainda no século XIX inicia-se a implantação e administração do saneamento, bem como começa-se a difusão de leis ligadas às questões sanitárias. Um dos acontecimentos mais importantes que favoreceu o desenvolvimento do saneamento neste século foi o estudo desenvolvido por Edwin Chadwick, em 1842, que proporcionou ao surgimento de bases necessárias para associar às condições sanitárias às questões de saúde (RINGEN, 1979).

(19)

Já no Brasil, a implementação do saneamento foi tardia e sua história reflete causas de impactos que dificultaram e ainda dificultam a manutenção da qualidade de vida da população e a preservação do meio ambiente.

Freire (2003) afirma que na época da escravatura as cidades possuíam chafarizes onde os escravos carregavam água para as casas dos colonos e o descarte dos resíduos sólidos e efluentes eram feitos por meio de recipientes de madeira carregados pelos escravos.

Somente com o surgimento das linhas férreas foi que alguns mecanismos de saneamento começaram a surgir, como por exemplo a água encanada para as casas, encanação de esgotos e aparelhos sanitários (FREIRE, 2003).

Por muito tempo e ainda hoje as ações de saneamento no Brasil têm sido dificultadas devido a vários fatores, em destaque para a falta de planejamento, falta de investimento, gestão inadequada das companhias de saneamento, baixa qualidade dos projetos e burocracias na obtenção de licenças para as obras. Devido à existência desses obstáculos não há crescimento tão expressivo desse serviço ao longo do território brasileiro, se comparado com o desenvolvimento deste nos países desenvolvidos.

Ao final do século XIX várias epidemias surgiram no país, que impulsionou às elites brasileiras a se conscientizarem sobre a “interdependência sanitária” onde as doenças estavam ligadas às péssimas condições sanitárias (DE SWAAN, 1990).

Nos séculos XIX e XX, no que se refere ao saneamento, o País caracterizava-se por comportamentos particulares, em cada região, no enfrentamento e na prevenção das doenças, justificados pela ausência de unidade de ações, resultando no abandono e na marginalização das populações carentes, o que se verifica ainda hoje (RUBINGER, 2008).

A fim de se minimizar a ocorrência desses problemas foram criadas diretrizes e leis ao longo da história do país, para favorecer a implementação adequada dos serviços sanitários. Um grande marco da história do saneamento no Brasil ocorreu em 1971, onde instituiu-se o Plano Nacional de Saneamento (PLANASA) (SAIANI e TONETO JÚNIOR, 2010). Rubinger (2008) declara que as ações realizadas através desse plano priorizaram e beneficiaram as áreas que apresentavam retorno econômico dos investimentos, o que contribuiu para agravar o quadro de desigualdades sociais no País. Na mesma linha de pensamento Rezende e Heller (2002) ressaltam como deficiência deste modelo a falta de integração da política de saneamento com outras políticas públicas, o que favoreceu a presença de assimetrias e a contribuiu para a existência de um quadro de exclusão social no país.

O investimento dos serviços de saneamento foi por muito tempo centralizado nas regiões mais desenvolvidas do território brasileiro, como Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A falta

(20)

de atenção para as demais regiões prejudicou em demasiado a vida da população residente no Norte e Nordeste, que ao longo da história vem sofrendo com inúmeros impactos vinculados às péssimas condições sanitárias, que se refletem no abastecimento com água de má qualidade, falta de controle de patógenos, falta de tratamento de efluentes domésticos e industriais, bem como má gestão de resíduos sólidos.

Muitos obstáculos surgiram no decorrer dos anos, como por exemplo a disputa pelo gerenciamento desses serviços, que ocorreu entre governos federal, estadual e municipal. Com o surgimento da Lei Federal nº 11.445 ou Lei Nacional do Saneamento Básico – LNSB em 05 de janeiro de 2007 os municípios passaram a ter autonomia para gerenciar essas diretrizes (BRASIL, 2007).

Atualmente quem conduz as políticas, estratégias e metas para os serviços de saneamento no Brasil é o PLANSAB (Plano Nacional de Saneamento Básico), que atua também em conjunto com outros que monitoram as diretrizes, como a ANA (Agência Nacional de Águas) e o SNIS (Sistema Nacional de Informação sobre Saneamento).

2.2 Funções do saneamento

Dentre as principais funções do saneamento básico estão a coleta e o tratamento de resíduos líquidos e sólidos (lixo e esgoto), prevenção da poluição de corpos hídricos e manutenção da qualidade e do abastecimento da água (RIBEIRO e ROOKE, 2010). Outra importante função desse serviço é a prevenção da disseminação de doenças e o controle de vetores, que são veiculados por meio do resíduos sólidos e líquidos urbanos (CAVINATTO, 1992). Nesse sistema ainda incluem-se a drenagem das águas pluviais, prevenção de enchentes e cuidados com as águas subterrâneas. Todas essas funções desempenham um importante papel que é o de promover a integração mundial para o desenvolvimento sustentável, o que garante a preservação do meio ambiente e sua biodiversidade animal e vegetal.

A política nacional de Saneamento básico define os conceitos para os principais pilares do saneamento e estão sumarizados na Tabela 1.

(21)

Tabela 01 - Funções do saneamento básico de acordo com a PNSB.

Tipo de mecanismo Função

abastecimento de água potável

constituído pelas atividades, infra-estruturas e instalações necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até as ligações prediais e respectivos

instrumentos de medição

esgotamento sanitário constituído pelas atividades, infraestruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposição

final adequados dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até o seu lançamento final no meio ambiente limpeza urbana e manejo de

resíduos sólidos

conjunto de atividades, infra-estruturas e instalações operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e

destino final do lixo doméstico e do lixo originário da varrição e limpeza de logradouros e vias públicas drenagem e manejo das águas

pluviais, limpeza e fiscalização preventiva das

respectivas redes urbanas

conjunto de atividades, infraestruturas e instalações operacionais de drenagem urbana de águas pluviais, de transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de

vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas nas áreas urbanas

Fonte: Brasil (2007).

Em conformidade do exposto na tabela 1, quando mal gerenciadas, as áreas representativas do saneamento podem apresentar sérias deficiências que comprometem o funcionamento e eficiência das demais funções. Entre os problemas gerados pelo gerenciamento inadequado estão a intensa poluição dos recursos hídricos, como mananciais de abastecimento de água das cidades, deficiências no sistema de drenagem, contribuindo para ocorrência de enchentes, condições inadequadas para a destinação do lixo, diminuição de áreas verdes e aumentando a poluição do ar. É devido a isso que todos os sistemas de saneamento devem prezar pela efetividade de suas funções.

O acesso a água limpa e de boa qualidade, bem como o acesso à um saneamento adequado é um direito de todos os seres humanos (UNESCO, 2018). O fornecimento de água potável é um serviço extremamente importante na prevenção de doenças, produção e industrialização de alimentos e outros produtos (NERI, 2005). Como meio preventivo é capaz de reduzir ou eliminar as chances de disseminação de patógenos, o que reduz a procura por unidades de saúde, oferecendo à população a chance de ter uma vida mais saudável (GUIMARÃES et al., 2007).

(22)

Os serviços de água tratada, coleta e tratamento dos esgotos levam à melhoria da qualidade de vidas das pessoas, sobretudo na saúde Infantil com redução da mortalidade infantil, melhorias na educação, na expansão do turismo, na valorização dos imóveis, na renda do trabalhador, na despoluição dos rios e preservação dos recursos hídricos, etc. (TRATA BRASIL, 2019a).

Nocko et al. (2017) também afirma que a melhoria do acesso à água potável e à instalações de saneamento seguras, implica em impactos positivos à saúde. A OECD (2011) aponta que o acesso ao saneamento e à água é capaz de contribuir para a diminuição das taxas de mortalidade e morbidade. Isso pode ser explicado pelo fato de que a água é um dos principais vetores de doenças infecciosas, devido às partículas em suspensão, sais dissolvidos e microrganismos patogênicos, o que representa um alto risco sanitário à população caso seja distribuída sem tratamento.

O mal gerenciamento do saneamento pode gerar graves problemas, que se refletem em dados alarmantes sobre a situação de vida de milhares de pessoas ao redor do planeta. O relatório da OMS – Organização Mundial de Saúde, revela que cerca de 2,2 bilhões de pessoas no mundo não têm serviços de água potável gerenciados de forma segura, 785 milhões não possuem nenhum tipo de acesso e 144 milhões ingerem água sem tratamento (WHO e UNICEF 2017a).

A garantia da disponibilidade a longo prazo de água de boa qualidade, só pode ser evidenciada se houver, juntamente com outras ações, a coleta e o tratamento de esgotos e águas pluviais (NOCKO et al., 2017).

Antunes e Barbosa (2013) afirmam que todos os critérios e projetos referentes à coleta e tratamento de efluentes deverão ter como base cuidados que garantam a manutenção e melhoria dos usos e qualidades dos corpos hídricos receptores já que esses sistemas de tratamento têm como finalidade remover substâncias indesejáveis ou de transformá-las em outras menos nocivas ao meio ambiente e à saúde humana.

A inadequação do esgotamento sanitário ou a ausência do mesmo pode provocar alterações do meio em que o efluente é despejado, tais como rios e córregos, o que gera graves consequências ambientais. Esses efluentes são classificados como efluentes sanitários e industriais, cuja determinação da carga orgânica é fundamental para a definição do tratamento e destinação adequada (ANTUNES e BARBOSA, 2013).

O aumento da poluição e o aparecimento de legislações voltadas às questões ambientais intensificou a preocupação com o tratamento e a destinação final de efluentes. No Brasil, a legislação que estabelece as condições e padrões de lançamento de efluentes é a Resolução CONAMA Nº 357/2005, que também normatiza penalidades que podem ser aplicadas em caso

(23)

de descumprimento da legislação (BRASIL, 2005). Além disso a Resolução Nº 430/2011 também estabelece padrões e condições para o lançamento de efluentes no meio ambiente (BRASIL, 2011).

Já em relação à coleta e gerenciamento de resíduos sólidos, a lei que rege essa gestão no Brasil é a Lei Nº 12.305/2010 que instituiu a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Ela define a gestão de resíduos sólidos como sendo o “conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável” (BRASIL, 2010b). Essa lei estabelece princípios que baseiam-se na não-geração, redução, reutilização e o tratamento de resíduos sólidos, visando o tratamento e destinação final ambientalmente adequadas (MONTEIRO et al., 2017), sendo de extrema importância na elaboração de projetos de saneamento que visem o desenvolvimento sustentável de uma nação.

Art. 53. Os serviços públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos urbanos, compostos pelas atividades mencionadas no art. 3º, inciso I, alínea "c", e no art. 7º da Lei nº 11.445, de 2007, deverão ser prestados em conformidade com os planos de saneamento básico previstos na referida lei e no Decreto nº 7.217, de 2010 (BRASIL, 2010a).

Cunha (2001) relata que as operações de coleta visam recolher de forma organizada, segura e econômica todos os resíduos sólidos gerados pela comunidade, bem como transportá-los e levá-transportá-los para serem tratados ou dispostos em locais adequados. O tipo de coleta e posterior tratamento dos resíduos sólidos depende da sua classificação, devendo ser tratados e destinados conforme a sua especificidade determinada por lei.

O aumento da produção de bens de consumo e o acelerado crescimento populacional, têm provocado um aumento na geração de resíduos a nível mundial, o que leva a refletir sobre a necessidade de serem aplicados métodos de tratamento que visem a diminuição do volume do lixo gerado. Além disso, a falta de estrutura e os danos gerados apontam para necessidade de mudanças nas formas de tratamento, que tem sido negligenciada devido à falta de consciência ambiental dos governantes e da população (REIS et al., 2017). Essa negligência contribui para a persistência de métodos inadequados e destinação final do lixo, como lixões a céu aberto e aterros controlados, por exemplo. Reis et al. (2017) apontam que pelo menos duas dezenas de doenças humanas apresentam ligação direta ou indireta com os lixões, que favorecem a proliferação de vetores e a contaminação do solo e águas.

Quando não há uma preocupação governamental em prestar o serviço de saneamento básico os efeitos são imediatos e de consequências duradouras. Compromete-se a saúde pública, causando uma série de doenças, inclusive, de difícil tratamento à exemplo de ...eventuais lesões cutâneas causadas por cortes por material perfuro cortantes como: vidros, latas, garrafas e palitos de

(24)

churrasco, geralmente jogados em ambientes costeiros, principalmente nas praias (OLIVEIRA, 2018).

Atrelado aos problemas ocasionados pelo mal gerenciamento governamental, tem-se os serviços de drenagem e manejo de águas pluviais urbanas como os que apresentam maior carência de políticas (BRASIL, 2013).

Na execução dos serviços de drenagem e manejo de águas pluviais são levados em consideração aspectos sociais, legais, tecnológicos e ambientais. O controle das áreas mais impermeabilizadas, verificação da aplicabilidade da legislação, tecnologias a serem utilizadas e encaminhamento devido das águas são os aspectos que devem ser observados na implementação desses serviços (EOS, 2018).

O Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) revela cenários sobre a realidade brasileira no âmbito dos serviços de drenagem e manejo de águas:

A urbanização acelerada e caótica, com a falta de disciplinamento do uso e ocupação do solo, inclusive das áreas de inundação natural dos rios urbanos, e, ainda, a falta de investimentos em drenagem das águas pluviais, resultou no aumento das inundações nos centros urbanos de maneira dramática. Também o uso do sistema de drenagem para esgotamento sanitário doméstico e industrial, a não existência de medidas preventivas nas áreas sujeitas à inundação e a predominância de uma concepção obsoleta nos projetos de drenagem têm contribuído para a ampliação dessa problemática. O financiamento das ações é dificultado pela ausência de taxas ou de formas de arrecadação de recursos específicas para o setor. No conjunto do País, dados da PNSB 2008 indicam que 70,5% dos municípios possuíam serviços de drenagem urbana, sendo que esse índice era maior nas Regiões Sul e Sudeste. A existência de um sistema de drenagem é fortemente associada ao porte da cidade (BRASIL, 2013).

No Brasil, o serviço público de drenagem pluvial urbana é realizado e custeado pelos municípios (SCHMITT et al., 2018). Sousa e Freitas (2016) expõem que é essencial que um planejamento seja efetivado, almejando a manutenção do ciclo da água, prevenindo assim danos às edificações, e controlando problemas sanitários.

2.3 Situação atual do saneamento básico

A inadequação do saneamento básico a nível mundial é uma situação que faz parte da realidade de bilhões de pessoas por todo o planeta, o que afeta diretamente a qualidade de vida. Mais de 2 bilhões de pessoas ao redor do mundo não tem acesso a água de qualidade para o consumo e mais de 4 bilhões não possuem acesso a saneamento seguro, representando ¼ e ½ da população mundial, respectivamente (WHO e UNICEF, 2017b). Não bastasse serem dados alarmantes, ainda observa-se o fato de que a população mundial está crescendo rapidamente, o que tem aumentado a demanda por água e acelerado o consumo de recursos naturais, sendo estes os fatores responsáveis pela degradação acelerada do meio ambiente (WWAP, 2018).

(25)

Bartram et al. (2005) afirma que há uma crise silenciosa a rodear a vida de milhares de pessoas, sendo ela responsável por matar cerca de 3900 crianças por dia e dificultar o alcance do Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. Suas causas estão diretamente relacionadas com a inadequação ou falta de condições sanitárias eficientes.

2.3.1 O cenário brasileiro

As condições históricas de exploração do Brasil foram responsáveis por muitos problemas persistentes no país, que se acentuaram com a crescente corrupção, perdurando consequências drásticas ao longo dos anos. A pobreza, condições precárias de saúde e educação, são o reflexo do desinteresse dos governantes para com a manutenção da qualidade de vida no país. Com uma população de cerca de 210 milhões de habitantes, o Brasil ainda apresenta um grande déficit quando o assunto é esgotamento sanitário.

Segundo Damatta (1986) no Brasil há uma resistência por parte da população e dos governantes de cumprir com as obrigações legais. O “jeitinho brasileiro” está presente até nas áreas em que se necessita uma maior seriedade e comprometimento técnico, como por exemplo, na execução de projetos governamentais. O problema que há no jeitinho brasileiro é a péssima cultura de por a economia acima da qualidade dos produtos e serviços, o que leva à população e seus respectivos governantes a sempre buscarem soluções mais “baratas” para os problemas. Esse tipo de economia está muitas vezes presente na compra de materiais e na contratação de profissionais mais baratos, que em algumas situações não são os mais adequados ou capacitados.

O professor Franci (2016) aponta um outro aspecto negativo gerado pela implementação de tecnologias inadequadas para os problemas de saneamento que pode ser observado com o favorecimento de fornecedores incompetentes.

Tome-se como exemplo o Espírito Santo, onde desde a década de 1990 vários programas de saneamento de âmbito estadual se sucederam com a promessa de universalizar os sistemas de água e esgoto. Por volta do ano 2000 houve um importante edital que deu origem à implantação das principais estações de tratamento de esgoto sanitário hoje existentes no estado. Várias denúncias foram realizadas na ocasião ao Ministério Público Estadual e ao Banco Mundial sobre o resultado da licitação, que teve como vencedora a empresa...com o sexto melhor preço (FRANCI, 2016).

Como reflexo disso, Franci (2016) observa que atualmente as cinco grandes Estações de Tratamento de Esgoto implantadas possuem uma alta conta de energia de cerca de 12 milhões por ano, onde o dinheiro desperdiçado limita os investimentos da empresa na melhoria dos sistemas de saneamento.

(26)

Isso é fácil de ser observado na execução de projetos de saneamento, principalmente na parte de esgotamento sanitário. Em várias partes do Brasil, principalmente nas regiões menos desenvolvidas, as instalações sanitárias não são devidamente dimensionadas e inseridas no sistema, seja por imperícia técnica ou por questão de economia nos materiais, o que pode vir a gerar sérios problemas como entupimento das canalizações em residências e em vias públicas pelo acúmulo de um volume de resíduo incompatível com a capacidade do sistema. Um exemplo contrário disso é o que ocorre nos Estados Unidos, onde toda a canalização do esgotamento sanitário, além de cumprir sua função de receber os resíduos de origem humana, também é preparada para receber resíduos sólidos como papel ou similares diretamente nos vasos sanitários.

Além disso, a cultura corrupta existente no Brasil impede com que certos governantes busquem investir em serviços sanitários, por não serem obras visíveis à população (MILARÉ, 2018).

O interesse manifestado pelos governantes é a reeleição após o encerramento do mandato e para que isso ocorra eles buscam investir em obras consideradas visíveis. Outro grave problema que também impede com que a população tenha acesso a condições sanitárias dignas é o desvio de capital, uma vez que não direcionado corretamente ou não aplicado às áreas de necessidade da população gera problemas (EOS, 2017a).

O presidente do instituto Trata Brasil, Édison Carlos aponta que nos investimentos no setor de saneamento básico do Brasil ainda são muito baixos, o que leva ao país a apresentar indicadores de saneamento típicos de século 19, o que não deveria ocorrer. O Instituto Trata Brasil indica que os números do Brasil referentes ao saneamento básico estão estagnados a anos, onde apontam que cerca de 35 milhões de brasileiros não possuem acesso à rede de água potável, 100 milhões não são contemplados com coleta de esgotos e apenas 46% dos esgotos gerados são tratados (TRATA BRASIL, 2019b).

Dados brasileiros mostram que a universalização da coleta de esgoto seria capaz de reduzir cerca de 74,6 mil internações ao ano (TRATA BRASIL, 2019b). Em nível nacional o desenvolvimento adequado do saneamento é limitado, devido á ausência de estratégias de planejamento na área da saúde (HELLER, 1997). No Brasil, o quadro epidemiológico tem piorado principalmente nas áreas mais carentes, devido às persistentes doenças ocasionadas pela falta ou inadequação do saneamento (EOS, 2017b). Em 2017 foram apontadas mais de 258 mil internações por doenças de veiculações hídricas no país segundo o Ministério da Saúde (DATASUS, 2017).

(27)

O Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento aponta em seu relatório que 93% de toda a população urbana do Brasil é abastecida com água onde as regiões do Sul (98,4%), Centro-Oeste (98,1%) e Sudeste (95,9%) apresentam os melhores índices (BRASIL, 2019a). Já as regiões Nordeste (88,8%) e Norte (70,0%) apresentam as menores percentagens de abastecimento de água do país, o que revela a necessidade de se ter um maior investimento e alcance e atenção das políticas públicas de saneamento (BRASIL, 2019a). Segundo o mesmo sistema, o índice de perdas no sistema de distribuição de água no ano de 2017 foi de 38,3%, onde a região que mais apresentou perdas foi a região Norte, com 55,1%.

Em relação ao esgotamento sanitário cerca de 60% da população urbana do país conta com rede coletora de esgoto, tendo como pior índice a região Norte (13%) e melhor índice a região Sudeste (83,2%) (BRASIL, 2019a). Desses 60% apenas 46% é tratado, porém quando comparado aos dados do ano anterior, percebe-se que houve um aumento de 252,5 mil (4,6%) e de 122,9 mil metros cúbicos (3,0%), nos volumes de esgotos coletado e tratado, respectivamente o que indica um melhoramento nos serviços prestados e redução de impactos ambientais.

Observando o total populacional atendido pelos serviços de abastecimento de água, coleta e tratamento de esgoto, e não só a população urbana, é possível perceber que há uma certa queda nos índices citados. As informações sobre os dados estatísticos da população brasileira contemplada pelos serviços de saneamento encontram-se sumarizada no gráfico 01.

Gráfico 01 - Percentual da população brasileira total contemplada com serviços de saneamento básico por regiões.

(28)

O Brasil é o quarto país no mundo que mais produz lixo (WWF, 2019). No ano de 2017 a cobertura de coleta do lixo domiciliar atendeu 91,7% da população brasileira representando uma massa de 60,6 milhões de toneladas de resíduos, onde registrou que cerca de 0,95 kg por habitante dia foram coletados (BRASIL, 2019b). Relatórios feitos apontam que para cada 10 kg de resíduos, apenas 400 gramas são coletadas de forma seletiva. Apenas 1,65% do total de resíduo sólido urbano coletado no país é efetivamente recuperado (BRASIL, 2019b).

A Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS) estabelece que todos os lixões do país deveriam ser fechados e substituídos por aterros sanitários até o ano de 2014, porém isso não foi possível (BRASIL, 2010b). Muitos estados do brasil ainda têm os lixões como o destino principal do lixo. Uma outra situação preocupante é a falta de informações sobre a destinação de uma grande quantidade de resíduo gerado.

A figura 2 ilustra as formas de disposição final dos resíduos adotada pelos municípios, nas Regiões Geográficas e no Brasil:

Figura 02 - Percentual de municípios conforme o tipo de disposição final de resíduos.

Fonte: Brasil (2019b).

Na figura pode-se perceber que a porcentagem de aterros sanitários ainda é muito pequena se comparado às outras formas de destinação dos resíduos sólido, o que leva a conclusão de que o Brasil ainda encontra-se muito atrasado em relação ao desenvolvimento dos serviços de saneamento, sobretudo em relação ao gerenciamento de resíduos.

(29)

2.3.2 Saneamento no cenário nordestino

Devido às suas condições históricas, a região nordeste constantemente apresenta índices de saneamento muito piores do que outras regiões do Brasil. O SNIS aponta que apenas 46,3% da população do Nordeste é abastecida com água potável, 34,8% do esgoto é coletado (BRASIL, 2019a).

É perceptível em algumas regiões brasileiras, especialmente o Nordeste, uma enorme incidência de parasitoses intestinais e doenças, principalmente nas zonas rurais (FONSECA et al., 2010). Além disso a área sofre com a falta de abastecimento de água tratada, onde cerca de 30 % da população não tem acesso (BRASIL, 2016). Esses dados ainda mostram que há grandes perdas na distribuição de água na região (46,94%), com destaque para os estados do Rio Grande do Norte (53,80%), Maranhão (57,85%) e Sergipe (60,21%). Em relação à porcentagem da coleta de esgoto, o Nordeste apresenta uma das piores, com apenas 23,81% dos esgotos coletado e 31,44% tratados (BRASIL, 2016). Apesar disso o investimento na última década trouxe melhorias notáveis, porém a falta de recursos e de capacidade técnica efetiva retardam o processo (ENANPUR, 2017).

Outro ponto importante é apresentado por Lins (2019) sendo mostrado o quadro de doenças de veiculação hídrica no Nordeste, como infecções intestinais, dengue, diarreia e gastroenterites. A autora descreve uma queda no número de casos de infecções intestinais, diarreia e gastroenterites de entre os anos de 2014 e 2016, porém revela um sensível aumento no número de casos de dengue, devido a uma epidemia no ano de 2016. A autora também apresenta dados sobre a mortalidade infantil no Nordeste, que supera a taxa de mortalidade infantil por morbidade do Brasil no ano de 2016, sendo 3,23 para o Brasil e 3,95 para o Nordeste. Ela ainda observa que o período de aumento da taxa de mortalidade coincide com o período em que houve maiores internações devido a doenças relacionadas ao saneamento básico.

Sousa e Leite Filho (2008) estudaram o impacto do saneamento sobre a mortalidade infantil de crianças menores de 1 ano no Nordeste brasileiro, e observaram uma redução 31,8% entre os anos de 1991 e 2000 para as cidades que apresentaram evolução no acesso à água tratada.

Os dados coletados por Duarte (2018) revelam o distanciamento entre o ideal e a concretude da realidade, sendo perceptível o descaso no cuidado dessas questões relativas ao saneamento básico no Nordeste. Pode-se afirmar, portanto, que esse sistema praticamente é inexistente, dada a contingência que o mesmo deveria cobrir.

(30)

No indicador que mede acesso à água e esgoto inadequados, os resultados mostram que apenas quatro municípios apresentaram resultado igual a zero, sendo eles Várzea Grande (PI) (que pertence à Nova Delimitação), Aroeiras do Itaim (PI), Carrapateira (PB) e Timbaúba dos Batistas (RN). Esses municípios, de acordo com o Indicador, estão mais próximos de possuir acesso adequado à água e esgoto Apenas 30 municípios apresentaram resultado maior que 50% (DUARTE, 2018 p. 47).

Saiani e Tonedo Junior (2010) afirmam a distribuição do saneamento ao longo do país é desigual devido à critérios econômicos, onde quanto maior a contribuição monetária de uma determinada região, maior é o investimento em saneamento. Segundo eles esse é o motivo pelo qual as regiões mais pobres do Brasil, como o Nordeste, não têm tanto acesso ao saneamento básico de qualidade.

Um fato notável existente na região Nordeste foi apontado por Silva (2015) que diz respeito à atuação do programa Cisternas, que foi responsável por instalar um milhão de cisternas com mecanismos de captura da água da chuva. Segundo o autor essa iniciativa contribuiu no melhoramento da qualidade de vida da população do semiárido nordestino, o que também evitou a migração para regiões com maior disponibilidade de água.

Cirilo (2008) esclarece sobre o desenvolvimento de processos de reutilização da água em indústrias do Nordeste, porém mostra que essa realidade ainda não alcançou a reutilização de efluentes sanitários tratados ou não para outros tipos de atividades.

Portanto, a permanência de um sistema de saneamento básico no Nordeste brasileiro é uma realidade a ser construída em detrimento dos diversos aspectos até então questionados, e que certamente trazem preocupação, mas também esperança, pois através do conhecimento da realidade exposta se torna mais fácil toda e qualquer iniciativa, no sentido de viabilizar o acesso ao direito de saneamento básico para essa região tão carente do mesmo.

2.3.3 Situação do saneamento no semiárido brasileiro

O Semiárido é uma microrregião que quase sempre é associado à região Nordeste, isso porque na diversidade da composição dos estados nordestinos observa-se a permanência do clima semiárido. Conforme Duarte (2018) o semiárido e o nordeste brasileiro são, de fato, a extensão um do outro.

Dos nove estados que compõem a região Nordeste, todos possuem mais de 20% da sua população que habita municípios caracterizados como semiárido. Destaque para os estados do Piauí, Ceará e Paraíba, que possuem mais de 60% da sua população, sendo o Piauí o que mais possui pessoas nessa classificação (87%) (DUARTE, 2018 p. 34).

(31)

Cirilo (2008) esclarece que as regiões semiáridas apresentam uma baixa precipitação anual entre 250 e 500 mm e com uma vegetação de arbustos que perdem as folhas nos meses mais secos.

Considerando o aspecto da climatologia da região, percebe-se que a escassez de água é um desafio para a mesma. No semiárido brasileiro uma grande parte de famílias humildes ainda utiliza tecnologias de eficiência limitada de saneamento (fossa seca, fossa negra e tanque sépticos) cuja operação desencadeia a contaminação do solo e água, o que prejudica a saúde da população. Ainda segundo Cirilo (2008) há um grande problema envolvendo a destinação dos esgotos, que são direcionados à corpos hídricos, o que gera consequências desastrosas para o ambiente, como poluição, doenças e redução de água potável.

A disposição de resíduos ricos em nutrientes, especialmente nitrogênio e fósforo, nos rios e outros corpos d’água, tem levado à eutrofização de mananciais e contribuído para floração de algas tóxicas chamadas cianofíceas, que se constituem em uma verdadeira praga para os reservatórios de abastecimento de água. Essas algas liberam toxinas (neurotoxinas e hepatotoxinas) que podem causar sérios danos à saúde humana, até mesmo a morte. O tratamento da água, além de difícil, é extremamente dispendioso (CIRILO, 2008 p.74).

Segundo Ferreira et al. (2015) a qualidade da água em regiões como a do semiárido, especialmente no estado do Rio Grande do Norte, é comprometida devido à enorme quantidade de sais na água subterrânea.

No Semiárido brasileiro existem somente 243 sedes municipais que possuem sistema de coleta de esgoto sanitário e apenas 43,7% da população pertencente a essas sedes são atendidas com tais serviços (MEDEIROS et al., 2014). A tabela 02 apresenta o número de sedes municipais do semiárido brasileiro atendidas com sistema de coleta de esgoto sanitário.

(32)

Tabela 02 - Número de sedes municipais do Semiárido brasileiro atendidas com sistema de coleta de esgoto sanitário.

Semiárido Número de sedes

municipais População (hab)

Índice de atendimento urbano de esgoto referido aos municípios atendidos com esgoto (%) Total Atendidas com sistema de coleta de esgoto Urbana dos municípios Urbana das sedes com sistema de coleta de esgoto sanitário Urbana efetivamente atendida com sistema de coleta de esgoto sanitário Urbana atendida com sistema de coleta e tratamento de esgoto sanitário Alagoano 38 2 506610 48465 35949 35949 72,2 Baiano 266 51 3997766 2113805 977660 846950 46,3 Cearense 150 68 3046650 2170829 743468 666598 34,3 Mineiro 85 35 727435 482316 291717 242493 60,5 Paraibano 170 22 1425603 710608 377766 343846 53,2 Pernambucano 122 16 2399752 1018846 440589 325162 43,2 Piauiense 128 5 524348 92433 29567 23667 32,0 Potiguar 147 40 1221023 685667 298570 284542 43,5 Sergipano 29 4 252006 53508 26559 2734 49,6 total 1135 243 14101193 7376477 3221845 2771941 43,7

Fonte: SNIS adaptado por Medeiros et al. (2014).

De acordo com um relatório elaborado pelo INSA, o tipo de rede coletora de esgoto predominante no semiárido é a rede separadora convencional, responsável por captar, coletar e transportar esgoto e água pluvial, representando 48,2% das sedes (MEDEIROS et al., 2014). O autor evidencia que em relação aos sistemas de tratamento de esgoto as lagoas facultativas, de maturação, anaeróbia, aeróbia, mista e aerada, podem ser encontradas na região semiárida.

O relatório do INSA ainda afirma que nos 8.235 km de rede de coleta de esgoto existente na região foram registrados 56.993 extravasamentos, onde tem-se os semiáridos piauiense, sergipano, potiguar, cearense, paraibano e mineiro apresentando condições de operação mais eficientes (MEDEIROS et al., 2014).

Percebe-se que a coleta dos registros relativos às questões de saneamento no semiárido não ocorre de forma igualitária, há descasos em algumas regiões, fator que dificulta o mapeamento preciso das necessidades, gerando prejuízos que se sucedem ao longo dos anos (DUARTE, 2018). Na pesquisa de Duarte, é possível identificar o descompromisso em relação à coleta de dados para os órgãos de vigilância sanitária em estado como o Rio Grande do Norte,

(33)

onde pode-se afirmar, que por ocasião da pesquisa, praticamente não há informações neste sentido, pois a área informada é ínfima em relação à contingência do estado.

2.4 A importância do saneamento básico

As questões da promoção de um sistema de saneamento básico eficaz dizem respeito à promoção da qualidade de vida, da qual todo o ser humano necessita, a negação desse aspecto é a extensão da negação do direito à vida. Assim:

A deficiência dos serviços de saneamento básico tem profunda correlação com questões de saúde pública e de degradação do meio ambiente. A falta de saneamento básico e a precariedade dos serviços contribuem para a incidência de infecções gastrointestinais de origem infecciosa presumível. Ademais, a falta de saneamento é a principal causa de degradação ambiental das bacias hidrográficas brasileiras, principalmente daquelas onde estão situadas grandes metrópoles. Essa situação de carência permite a disseminação de doenças de veiculação hídrica, com impactos negativos em campos como educação, trabalho, economia, biodiversidade, disponibilidade hídrica e outros (FERREIRA e GARCIA 2017, p.2).

É possível, portanto, a percepção dos prejuízos que a ausência de uma vigilância sanitária eficiente pode causar. Problema que atinge à população, nos mais variados grupos sociais, sendo responsável por doenças que têm veiculação direta com os recursos hídricos disponíveis. A precariedade dos serviços oferecidos é, por demais ultrajante, que se perpetua ao longo dos anos na totalidade dos estados, bem como os seus municípios, com raríssimas exceções. Esse problema tem uma proporção gigante, desde o aspecto familiar ao social é impossível não perceber os danos causados pela falta de saneamento básico. No aspecto industrial não ocorre diferente. Simensato e Bueno (2019) afirmam que a água potável é extremamente importante para as indústrias alimentícias, e sua indisponibilidade prejudica a qualidade sanitária do produto. Isso se torna ainda mais importante quando entende-se que a água é incorporada em vários produtos da indústria de alimentos, o que alerta ainda mais para a necessidade de garantir sua potabilidade (CUNHA, 2016).

A água, portanto, como recurso essencial para a existência da vida, em sua forma mais ampla e diversificada, necessita ser cuidada para cumprir de forma eficiente o seu propósito. Marin-Morales et al. (2016) esclarece que por ser um solvente universal, a água é capaz de se misturar com várias substâncias, incluindo aquelas que podem contaminá-la.

A implementação de condições sanitárias adequadas é de extrema importância para a população mundial. Países que ainda não atingiram a universalização dos serviços de saneamento básico carregam péssimos índices de desenvolvimento humano, índice de qualidade ambiental e salubridade (NERI, 2005).

(34)

Compreende-se, nesta perspectiva, a urgência de um programa de saneamento básico onde o acesso a água seja controlado de forma eficaz, pelos órgãos competentes, onde os municípios ofereçam condições de mapeamento dos recursos hídricos disponíveis.

2.5 Impactos gerados pela inadequação do saneamento básico

O conceito de impacto ambiental é apresentado pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), em sua resolução Nº 001/86 como sendo "qualquer alteração das propriedades físicas, químicas, biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que afetem diretamente ou indiretamente: a saúde, a segurança, e o bem estar da população; as atividades sociais e econômicas; a biota; as condições estéticas e sanitárias ambientais; a qualidade dos recursos ambientais" (BRASIL, 1986).

Os impactos ambientais, sociais e econômicos gerados pela inadequação do saneamento básico são originados devido à ocorrência de deficiências ou falhas no desempenho das funções do saneamento, podendo ser relacionadas com a ineficácia na coleta e tratamento de esgotos, a não disponibilidade de água potável para a população, falhas no sistema de drenagem e coleta de águas pluviais e mal gerenciamento dos resíduos sólidos urbanos.

2.5.1 Impactos ambientais

O meio natural e social é bastante complexo devido a interação de seus componentes entre si e com outros meios. Sabe-se que devido a isso o meio ambiente está exposto a diversas modificações constantemente, sendo estas consequências de fenômenos naturais ou ações antrópicas. Como o meio ambiente interage com a população de várias localidades, é de se esperar que certas ações sejam provocadas sobre ele, causando assim impactos ambientais, que podem ser benéficos ou não.

A falta ou inadequação dos serviços básicos de saneamento além de acarretar altos riscos para a saúde, contribuem para a degradação do meio ambiente, causando danos. Estes problemas ambientais são decorrentes da inadequação dos tratamentos de esgotos, destinação inadequada dos resíduos sólidos urbanos (depósitos ao a céu aberto) e da falta de drenagem das águas pluviais, o que pode gerar enchentes (LAHOZ e DUARTE, 2015). Esse cenário somado à ocupação desordenada, são responsáveis por gerar vítimas fatais e prejuízos econômicos ao patrimônio (BARBOSA e IBRAHIN, 2014). Estes problemas atingem principalmente a população com menor poder aquisitivo, que habita em áreas inapropriadas como fundos de vales, áreas de encosta e várzeas (SOUSA e TRAVASSOS, 2008). No cenário que envolve a

(35)

falta, mal gerenciamento ou inadequação do saneamento básico é de se esperar que haja uma implicação sobre o meio ambiente de forma negativa.

Cirino (2018) relaciona a falta de esgotamento sanitário adequado com o aumento populacional e crescimento das cidades, que traz como consequência o desequilíbrio do meio ambiente. Segundo a autora, isso ocorre devido ao lançamento a céu aberto das águas que saem das residências sem tratamento, que pode ser percebido em alguns locais no lançamento de esgotos diretamente sobre o solo ou em corpos hídricos. Isso trás sérios problemas para o meio ambiente, além da disseminação de doenças para a população.

O esgoto é um efluente líquido composto por 99% de água e 1% de matéria orgânica, no qual estão presentes excrementos humanos e água do serviço doméstico, onde seu tratamento tem como finalidade desfazer essa mistura (GOMES et al., 2005). Quando o esgoto não é coletado de forma adequada ou simplesmente não existe rede coletora, a população utiliza fossa séptica ou lança seus efluentes contaminados diretamente em valas, córregos, rios e praias (LINS e LINS, 2019). Philippi Jr (2004) relata que as praias são um alvo constante dessa realidade, pois as construções próximas a ela favorecem o despejo do esgoto no mar. Tais atividades contribuem sobremaneira para a poluição e contaminação de corpos hídricos e do meio ambiente em geral:

Esse tipo de atitude provoca a morte principalmente da vida marinha, muitos dos organismos não sobrevivem por longo tempo em ambientes marinhos, especialmente devido à ação das radiações solares, temperatura, salinidade, predação e competição e antibióticos produzidos por organismos marinhos, enquanto muitos patógenos podem sobreviver por mais tempo sob tais condições e representar risco potencial à saúde pública (LINS e LINS, 2019). Além dos impactos à saúde, a deterioração causada pelo despejo de esgoto sem tratamento em corpos hídricos compromete os padrões de qualidade ambiental. Esses padrões levam em conta alteração da quantidade de oxigênio disponível no meio, matéria orgânica, pH, nutrientes e temperatura do curso d'água (SOARES et al., 2002). Dependendo da magnitude essas alterações podem trazer consequências desastrosas para o ecossistema. Uma das mais graves seria o processo de eutrofização do corpo hídrico apontado por Von Sperling (2005). O autor afirma que cargas altíssimas de nitrogênio e fósforo, no esgoto bruto, podem provocar o crescimento exagerado de algas na superfície do corpo hídrico, criando uma camada que impede a penetração dos raios solares na água. A ausência de luz provoca a morte das algas nos níveis mais inferiores do corpo hídrico, o que aumenta ainda mais a quantidade de matéria orgânica na água. Segundo Von Sperling (2005) isso provoca um aumento na concentração de bactérias que se alimentam da matéria orgânica, consumindo o oxigênio dissolvido no meio Esse fenômeno é responsável por provocar a diminuição da quantidade de oxigênio disponível para

(36)

os seres aquáticos, causando a morte de peixes e outros seres aquáticos, alteração da cor, odor e sabor da água, modificando a qualidade da água e tornando-a imprópria para o consumo sem o devido tratamento.

Seja pela ineficiência do tratamento ou pela sua ausência, os impactos gerados pelo descarte indevido de esgotos não se restringem somente às altas concentrações de matéria orgânica presente no efluente, mas também de várias outras substâncias que podem apresentar toxicidade. Um grave impacto não muito citado no cotidiano é àquele ocasionado pela presença de medicamentos descartados inadequadamente, ou excretados, que contaminam os efluentes. Ao serem dispersos no ambiente, essas substâncias podem contaminar o homem através da água e do solo, causando impactos sobre o meio ambiente e sobre a saúde pública (FALQUETO et al., 2010). Borrely et al. (2012) afirma que devido aos medicamentos apresentarem substâncias pouco voláteis, sua distribuição ocorre no ambiente aquático e também são dispersos na cadeia alimentar.

Em seus estudos Falqueto et al. (2010) citam que uma quantidade de 50% a 90% dos medicamentos ingeridos é excretada e chega aos esgotos. Kümmerer (2001) em seus estudos afirma que dentro dos grupos de fármacos que são mais preocupantes, os antibióticos e estrogênios merecem uma atenção especial. Devido ao seu uso muitas vezes indiscriminado, os antibióticos apresentam o potencial de desenvolver bactérias resistentes no ambiente, o que representa um problema gravíssimo para a saúde pública, fato estudado por alguns pesquisadores como Bower (1999), Miranda e Castillo (1998).

Estudos apontam que os estrogênios também representam um grande perigo para o meio ambiente devido ao seu potencial de afetar negativamente o sistema reprodutivo de seres aquáticos (SUMPTER, 1998). Os estudos de Sumpter (1998) mostram a ocorrência da feminização de peixes machos em rios contaminados com descarte de efluentes contendo estrogênios. Harrison et al. (1997) afirmam que substâncias como essas podem estar ligadas a ocorrência de câncer de mama em mulheres e câncer testicular em homens, bem como e redução da fertilidade masculina, além de provocar distúrbios de fertilidade em espécies marinhas.

Os estudos de Borrely et al. (2012) avaliaram a contaminação das águas por resíduos do fármaco cloridrato de fluoxetina. Brooks et al. (2005) detectou fluoxetina em tecidos de peixes.

Outro grave problema causado pelo mal gerenciamento do lixo ou esgotamento sanitário é o causado pelos microplásticos. Esses materiais correspondem à minúsculas partículas de plástico que adentram no meio aquático geralmente através de esgotos, rios, vento, escoamento superficial e deposição humana direta, chegando a corpos hídricos (ANDRADY, 2011). Devido

(37)

à sua persistência no ambiente e sua alta durabilidade esse composto é responsável por causar graves desequilíbrios em ecossistemas aquáticos.

Gouveia (2018) disserta que os microplásticos são capazes de entrar em organismos humanos e animais através da ingestão de água ou outros de seres vivos, podendo se acumular dando continuidade ao fenômeno de bioacumulação ao longo da cadeia trófica. Anbumani e Kakkar (2018) afirmam que o acúmulo de microplásticos no organismo pode causar disfunções alimentares, causando danos no sistema digestivo e outras complicações metabólicas, bem como pode causar alterações nas funções hepáticas.

Segundo Portela et al. (2011) a produção de resíduos sólidos tem aumentado e se intensificado com o tempo, onde atrelado a isso tem-se observado a incorporação de uma grande variedade elementos prejudiciais à saúde descartados junto a esses resíduos. A autora explica que a destinação inadequada e o mal gerenciamento desses resíduos pode contaminar o solo e corpos hídricos e assim contribuir para o aparecimento de vetores causadores de doenças.

Tartari (2005) e Lauermann (2007) acrescentam que a deposição inadequada, consequência do mal gerenciamento de resíduos sólidos, é capaz de contaminar o solo com metais pesados e substâncias tóxicas. Os autores ainda afirmam que essa prática permite a redução da biota do solo, diminuindo a sua biodiversidade, bem como a diversidade da fauna, além de causar impactos como poluição de áreas próximas, contaminação dos catadores e poluição visual. O grande problema que envolve os catadores é o de que eles se submetem a ter o contato direto com materiais que podem gerar danos á saúde, sofrendo riscos de contaminação por químicos, lixo hospitalar, materiais cortantes etc (CAVALCANTE e FRANCO, 2007).

Sasaki (2017) aponta que o problema gerado pelos lixões está relacionado à sua deposição inadequada a céu aberto, sem nenhum controle sanitário ou ambiental, o que faz com que os materiais fiquem em contato direto com o solo descoberto. O autor ainda esclarece que os impactos ambientais mais notáveis da deposição de resíduos a céu aberto seriam a produção de chorume e gases como o metano, um dos agravadores do efeito estufa. Possamai et al. (2007) descreve esses ambientes como sendo propagadores de vetores de doenças, sejam eles macro ou microvetores, como cachorros, gatos, ratos, urubus, pombos ou moscas, mosquitos, bactérias e fungos.

Outro grave problema que causa impactos ambientais é a falta de drenagem, principalmente nos centros urbanos, onde em épocas de grande precipitação ocorrem enchentes, expondo à população a riscos (OLIVEIRA, 2008).

Referências

Documentos relacionados

Fonte: Laudos de Avaliação de Empresa CVM (2002 a 2018). A análise descritiva do comportamento da importância da representatividade da metodologia Fluxo de Caixa

Devido a presença de riscos ocupacionais nas lojas de material de construção, então uma das maneiras de evitar acidentes e aperfeiçoar os fatores físicos de saúde

Este trabalho consistiu num estudo teórico sobre a cementação sólida, suas vantagens e limitações, e estudo experimental sobre a viabilidade de realizar o tratamento de cementação

O anexo VI da NR-05 apresenta as etapas para elaboração de mapas de riscos que são o conhecimento do processo de trabalho, identificação e classificação dos

O objetivo desse trabalho é identificar e avaliar os riscos que estão envolvidos nas atividades dos trabalhadores coletores de resíduos sólidos na cidade de Porto do

Quando se analisou separadamente os anos mais críticos, considerados muito seco e muito chuvoso, utilizando os modelos de Linacre (1977) e Linacre (1993), e comparados com o

Cada organização determina as combinações de probabilidade e impacto e definem os riscos, como mostra a Figura 3 (GOMEZ, 2010). c) Avaliação de qualidade dos dados

De acordo com a Belhot e Cardoso (1994), a manutenção necessita ser capaz de atender as necessidades de sua operação que, em grandes empresas, representa parte considerável da