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ABSTRACT

This study has sought to comprehend how the subjectivy in contemporaneidy is being constituted from use of technological instruments such as the television, videogame and the computer. The investigative context was the domestic environment, has the moments when the family members could be found together. These families were contacted from the questionnaire realized by the “Projeto Elos – Goiás” based on the criterions that day were families used technological instruments and were willing to participate in a research of this nature. Four filmed interviews and a video-interview were performed with each of the three families. The methodology was based on the Qualitative Epistemology in which the information was analyzed through a constructive interpretative procedure. The interaction, organization, dynamic and the media tic contents were the main axis of analysis. From this procedure emerged relevant information: the technologic instruments especially the televisions have mediated the family relationships; the communication established between the members to meet hand through contents of media modified the interactions and to make new forms of organization that included these instruments been created; the children’s introduced forms differently of subjection from each family vision about usually these instruments; the psychologies functions higher seem to shape that constant usually technologic instruments.

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INTRODUÇÃO

Pesquisar sobre o desenvolvimento humano é uma tarefa exigente, instigante e questionadora das próprias condições de humanidade do pesquisador. Em um movimento dialético, sinuoso e dinâmico, o pesquisador estuda o outro e se conhece, investiga fenômenos relevantes e constituidores de sua própria singularidade.

Ao enfocar no espectro maior do desenvolvimento humano a infância como objeto, esse estudo mobilizou na pesquisadora a paixão pelas crianças e a crença de que é necessário conhecer para cuidar melhor. Nesse sentido, a pesquisa tem o propósito de contribuir com as reflexões atuais sobre a infância na contemporaneidade.

Pensar nas novas gerações que nasceram em um momento histórico-cultural marcado pela emergência da tecnologia em todos os aspectos da vida humana, implica considerar as diversidades e multiplicidades de configurações geradas na atualidade. Muitas teorias psicológicas que são estudadas tratam de uma infância que muitas vezes não condiz mais com a infância contemporânea. As transformações vivenciadas têm gerado outros formatos de contextos relacionais que participam do processo constitutivo da subjetividade infantil.

Instrumentos tecnológicos como a televisão, o videogame e o computador são encontrados nos contextos familiares e parecem participar cotidianamente nas interações sociais.

As grandes e rápidas mudanças que ocorreram no século XX, em especial nas últimas décadas, redimensionaram as interações homem-mundo. A tecnologia empregada no desenvolvimento de áreas como o transporte e a comunicação criaram um cenário “transnacional”, “globalizado” em que homem e mundo são, dialeticamente, transformados e transformadores da realidade.

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Cotidianamente, estamos em contato com aparelhos tecnológicos que são a cada dia mais eficientes. De modo mais sofisticado (com o uso do videogame, do computador, da internet) ou através de instrumentos mais popularizados como a televisão, entramos em contato nas situações e contextos mais diversos com um mundo virtualizado. Estas transformações que ocorrem, modificam o mundo tanto objetividade quanto subjetivamente e reconfiguram os elementos constitutivos do sujeito.

Neste processo sócio-histórico de mudanças paradigmáticas, as transformações que são alavancadas pelas novas possibilidades comunicacionais parecem reconfigurar as relações. Os aparelhos tecnológicos fazem parte do cotidiano das crianças e tornam-se novos elementos.

A busca de compreensão dos processos que são mediados pelo uso dos instrumentos tecnológicos no contexto familiar, aponta para possibilidade de se conhecer como as crianças contemporâneas estão constituindo sua subjetividade. A pesquisa será realizada a partir da perspectiva de desenvolvimento psicológico discutida por Vygotsky e seus contemporâneos, em especial Carl Ratner e Fernando Rey.

Autores contemporâneos, que estudam sobre o tema em questão, serão discutidos com o intuito de se ter uma maior compreensão das relações que são estabelecidas com o uso desses aparelhos eletroeletrônicos que estão participando do cotidiano das crianças na atualidade.

A metodologia utilizada foi baseada na proposta da Epistemologia Qualitativa de Fernando Gonzáles Rey em que o conhecimento é construído de forma dinâmica, inter-relacional e considerando a emergência dos fenômenos em seu processo sócio-histórico e constitutivo.

Foram analisadas três famílias que tinham crianças em idade até 11 anos, que utilizavam, em seu cotidiano, aparelhos eletroeletrônicos no ambiente doméstico. Estas famílias foram contatadas a partir da enquête realizada pelo “Projeto Elos-Goiás” e participaram de quatro entrevistas com filmagem e uma videoentrevista.

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Os indicadores possibilitaram analisar o quanto estes instrumentos tecnológicos tem funcionado como mediadores nas relações familiares participando da constituição subjetiva das crianças na contemporaneidade de forma diferenciada.

A interação entre os membros da família e os instrumentos, os conteúdos midiáticos e a organização criada pela família para utilização dos instrumentos, foram os eixos principais de análise. Eles foram sendo tecidos ao longo do percurso construtivo-interpretativo: nos momentos das entrevistas, nas conversas informais, nas orientações e na análise propriamente dita.

Deste processo surgiram informações relevantes: os instrumentos tecnológicos, em especial a televisão, têm mediado as relações familiares; a comunicação estabelecida entre os membros se encontra perpassada por conteúdos da mídia modificando as interações e fazendo com que novas formas de organização que incluam tais instrumentos sejam criadas; as crianças apresentaram formas diferenciadas de subjetivação a partir da visão de cada família sobre o uso destes instrumentos; são construídos sentidos diferentes para o uso dos instrumentos em contextos diferentes.

Estas e outras considerações tornaram o processo investigativo instigante, complexo e grandemente marcado pelas reflexões que foram sendo tecidas possibilitando à pesquisadora e àqueles que tiveram contato com a pesquisa, repensar variados aspectos desse fenômeno que tem perpassado também suas vidas.

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DO USO DE INSTRUMENTOS À COMUNICAÇÃO NA

CONTEMPORANEIDADE

O desenvolvimento humano pensado a partir da compreensão dos fenômenos psicológicos sob o prisma do materialismo histórico e dialético proposto por Vygotsky e aprofundado pela perspectiva sócio-histórica considera que “todos os fenômenos sejam estudados como processos em movimento e em mudança” (Vygotsky, 1998, p.9).

Esta premissa remete a questionamentos acerca do quanto as transformações histórico-culturais da sociedade produzem mudanças no pensamento e no comportamento humanos e vice-versa. Esta visão, encontrada em Marx e Engels, define uma posição contrária àqueles que tradicionalmente buscavam estudar os fenômenos psicológicos em nível intrapsíquico e remete o estudo da origem das funções psicológicas superiores às interações sociais que são formadas e transmitidas em um processo histórico-cultural.

A origem dos processos psicológicos superiores encontra-se na interação social construída na ação coletiva e transformadora da natureza e pela criação e utilização de instrumentos. O uso de instrumentos têm sido pesquisados buscando compreender a relação entre os seres humanos e seu ambiente físico e social. Nesta pesquisa, busca-se compreender como o uso de instrumentos tecnológicos no cotidiano familiar tem participado da constituição subjetiva da criança contemporânea.

O termo ‘instrumentos tecnológicos’ será utilizado para designar os aparelhos eletroeletrônicos que estarão sendo discutidos nesse trabalho enquanto mediadores nas relações humanas: a televisão, o videogame e o computador. Esses aparelhos cumprem no cotidiano a função de instrumento, por serem elementos que se encontram na realidade externa e funcionarem

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como mediadores entre o mundo e as pessoas e como potencializadores da ação humana, como foi proposto por Vygotsky.

Ao se pensar em instrumentos tecnológicos surgem questionamentos tais como: 1) qual o lugar eles ocupam no processo de mediação dos sujeitos e do mundo? 2) será que as interações sociais contemporâneas mediadas por esses instrumentos estão reconfigurando a realidade concreta e criando novos elementos constitutivos do sujeito? 3) os avanços tecnológicos das últimas décadas do século XX, a forma de utilização que o próprio sujeito faz desta tecnologia (Pacheco, 1998), a quantidade e a complexidade de informações que são oferecidas a seus usuários (Ratner, 1995) de forma descontextualizada estariam redimensionando os processos psicológicos superiores?

Estas parecem ser importantes questões a serem discutidas diante das novas formas relacionais que estão sendo tecidas na atualidade.

As interações cotidianas do sujeito na contemporaneidade são marcadas por um processo histórico-cultural de mudanças profundas, construídas em um breve espaço de tempo, porém fundamentais para compreender as relações atuais que tem sido alavancadas, em grande parte, pelas novas tecnologias. Entretanto, o desenvolvimento tecnológico, que perpassa o cotidiano do sujeito, é parte de um sistema maior que tem se constituído com características peculiares nos séculos XIX e XX.

Nestes séculos, o homem experimentou formas diferenciadas de inter-relações, baseadas em mudanças que ocorreram nos níveis econômico, geopolítico, sociocultural e científico. Tais mudanças, consideradas de forma dialética como constituintes e constituídas em um processo dinâmico e complexo da humanidade, remetem-nos a um sujeito que, diferentemente dos períodos históricos anteriores, constitui-se tanto na localidade quanto na globalidade.

Em busca da compreensão desse sujeito contemporâneo e levando em conta que as mudanças que ocorreram em termos globais são contraditórias e ideológicas, torna-se relevante lançar luzes sobre fatos histórico-culturais.

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Esses fatos transformaram as relações humanas no século XX e possibilitaram o surgimento dos instrumentos tecnológicos.

O século XX marcou imensamente a humanidade, por ter sido um período de grandes tragédias, de ampliação das desigualdades sociais e de grande desenvolvimento tecnológico. O mundo vivenciou ao longo do século situações extremas que foram explicadas por Hobsbawm (1999) em três períodos: a Era da Catástrofe, a Era do Ouro e o Desmoronamento.

O primeiro, denominado a “Era da Catástrofe”, ocorreu a partir da Primeira Guerra Mundial. Nesse período toda a superfície da Terra foi abalada, causando a derrocada do imperialismo. Esse momento histórico demarcou uma situação de colapso da civilização ocidental, que havia experimentado no século XIX um período de grandes conquistas e de crescimento. Hobsbawm (1999, p.16) sintetiza o que foi o século XIX:

Tratava-se de uma civilização capitalista na economia; liberal na estrutura legal e constitucional; burguesa na imagem de sua classe hegemônica característica; exultante com o avanço da ciência, do conhecimento e da educação e também com o progresso material e moral; e profundamente convencida da centralidade da Europa.

Em um breve período de 40 anos, correspondente à Era da Catástrofe, do início da Primeira Guerra Mundial ao final da Segunda Guerra, uma crise econômica mundial, sem precedentes, fez ruírem-se grandes impérios, tornando a situação da Europa caótica. O fim da Segunda Guerra Mundial fortaleceu a URSS, que emergiu como superpotência e ampliou a possibilidade de derrotar o capitalismo, elevando o socialismo a uma alternativa global para a economia.

De forma surpreendente, o capitalismo adentrou uma nova era: a Era de Ouro (1947-1973). Foi o momento de maior impacto e mais irreversível de todo século XX e dos períodos decorrentes. O avanço das novas tecnologias que eram possíveis de prever desde 1914, por causa das conquistas da ciência natural, foi ganhando força e revolucionando principalmente áreas como os

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transportes e as comunicações. O tempo e a distância tornaram-se diferentes, possibilitando novas formas de inter-relação, que ultrapassa a relação face a face e que oferece entretenimento e acesso a informações entre todas as partes do globo terrestre, através de simples toques em botões. Nas palavras de Hobsbawn (1999, p.18), “a escala e o impacto extraordinários da transformação econômica, social e cultural decorrente, a maior, mais rápida, e mais fundamental da história registrada” .

A Era de Ouro inaugurou uma economia mundial, integrada, ultrapassando os limites nacionais e universalizando o que parecia ter sido um grande avanço da humanidade. Como um fenômeno mundial, o desenvolvimento econômico dos países mais ricos ocorreu de forma excepcional, porém os países mais pobres viveram um grande aumento, não da economia, mas de sua população, preparando um terreno de fome e graves crises que estavam por vir.

Em uma impressionante explosão econômica mostrou-se uma globalização que parecia possibilitar ao cidadão médio dos países cada vez mais industrializados o usufruto de situações antes só vividas por pessoas muito ricas. O acesso aos bens de consumo modernos (o carro, os produtos automatizados) era crescente nos países ricos e tornava-se o sonho dos indivíduos dos países pobres. Parecia haver um “surto econômico” movido pela revolução tecnológica.

Por meio dessa revolução pode-se avaliar o quanto tais mudanças transformaram a vida cotidiana das pessoas dos países ricos e desenvolvidos e, em menor escala, mas também, profundamente, dos países pobres do Terceiro Mundo. A economia aquecia-se louvando os princípios capitalistas que ampliavam a possibilidade de venda e conseqüentemente o aumento do lucro, incutindo a crença de que tudo que era “novo” era melhor e também revolucionado.

Outro ponto relevante é que a cada momento as tecnologias tornavam-se mais complexas e caras e em pouco tempo obsoletas, pois novas mudanças haviam sido feitas pelos cientistas e engenheiros que inovavam continuamente

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os produtos. A reformulação do capitalismo com o avanço na internacionalização da economia e as novas descobertas científicas, principalmente em áreas como a química e a farmacêutica do pós-guerra, criaram novas configurações,causando revoluções sociais e culturais advindas das próprias mudanças relacionais que foram sendo constituídas neste cenário adverso.

A Era de Ouro também conheceu sua falência ao aproximar-se da década de 1970. Os governos trataram a crise com soluções temporárias, o que concorreu para o surgimento de uma nova Era: o Desmoronamento.

Mesmo em meio a crises que beiravam a Depressão de 1930, após 1973 outras grandes inovações tecnológicas surgiram na informação e na engenharia genética. Os meios de comunicação globalizaram as informações e criaram novas configurações transnacionais. O mundo estava bastante diferente do início do século: a Europa deixou de ser o centro de poder do mundo; houve uma transformação de velhos padrões de relacionamento social humano e, ainda, uma aceleração inimaginável das comunicações e dos transportes, que propiciaram também a aceleração do processo de globalização.

Esses processos, que dialeticamente foram construindo e sendo construídos nas relações humanas, transformaram o homem e o mundo de forma profunda e acelerada e, assim, provocaram mudanças paradigmáticas.

Para Castells (1999), vivem-se os primeiros estágios de um intervalo histórico que produz transformações tão radicais como foi o intervalo da Revolução Industrial. As mudanças paradigmáticas foram ocorrendo em um processo dialético, heterogêneo e não-linear e assim ampliaram a complexidade das relações sociais, criando novas configurações na constituição da subjetividade.

Nesse processo de mudanças, a ascensão tecnológica parece que reestruturou a vida cotidiana de uma parte da população ocidental criando instrumentos que passam a fazer parte do dia-a-dia das pessoas, nos mais diversos contextos, como é o caso da televisão.

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Considerando esses fatores, pode-se ampliar a visão do contexto sócio-histórico em que os sujeitos contemporâneos têm vivenciado suas relações. Ela possibilita uma compreensão maior do significado dos elementos que constituem o sujeito e que são constituídos por ele neste início de milênio.

O uso de instrumentos na atualidade

As novas tecnologias inauguradas no século XX encontram-se em franca expansão pelo mundo. Elas propiciam aos sujeitos contemporâneos o uso de instrumentos tecnológicos que transformam a natureza e potencializam o poder do homem em atividades concretas. São tecnologias que parecem transformar as funções psicológicos superiores e que apontam para criação de uma realidade virtualizada.

É possível pensar em alguns aspectos fundamentais desse processo histórico, os quais foram cotidianamente constituindo esse sujeito e sendo constituídos por ele. Autores como Carl Ratner (1999), partindo dos princípios vygotskianos, continuaram a desenvolver postulados teóricos nesta base de compreensão dos fenômenos psicológicos, análise dos traços gerais da psicologia humana. Assim, consideram que a consciência tem um caráter socialmente construído e que os fenômenos psicológicos são elaborados e modificados nas interações sociais e não de forma individualizada. Desse ponto de vista, a consciência altera e é alterada na interação social e no uso de instrumentos, o que resgata a noção vygotskiana de interdependência entre a consciência, a socialidade e o uso de instrumentos.

Nessa interdependência, segundo Ratner, a consciência é uma atividade mental que percebe de forma abrangente a estimulação captada pelos sentidos. Ela permite analisar, interpretar, deliberar, planejar, sentir, decidir e ainda refletir a prática em uma atitude autoconsciente.

A socialidade é vista como uma atividade conjunta coordenada que prescinde de cooperação, comunicação e ações que valorizem, respeitem, compreendam e cuidem dos outros. Isto posto, é na interação com o outro que o ser humano se constitui.

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Os instrumentos são pensados como uma terceira mediação. Eles aparecem como construtos artificiais que transcendem o organismo físico, aumentam os poderes e universalizam a ação. Como uma terceira mediação entre as pessoas e o mundo, os instrumentos que podem ser criados de forma ilimitada viabilizam o desenvolvimento de habilidades também ilimitadas, que se encontravam em potencial nos seres humanos.

Esta interdependência entre os três mediadores sugere uma relação em que o desenvolvimento da consciência requer, necessariamente, uma participação na atividade social prática. Eles se reforçam mutuamente em um processo complexo que demonstra “(1) as origens sociais e tecnológicas da consciência e (2) a natureza da consciência que gera a socialidade e a tecnologia” (Ratner, 1995, p.19).

A interdependência evidencia que qualquer dessas mediações que se encontrarem em um nível avançado possibilitará o desenvolvimento desse estado nas outras mediações. Isso afasta o homem cada vez mais da determinação naturalística e possibilita seu domínio sobre a natureza.

Na perspectiva dessa interdependência, os instrumentos físicos ampliam sobremaneira a possibilidade de desenvolvimento da consciência. Esse desenvolvimento se dá pelas formulações e reformulações que são exigidas diante de um número ilimitado de atividades, vale dizer, de atividades que podem ser realizadas pela variação de instrumentos inventados.

Outro aspecto fundamental em relação ao uso de instrumento como mediador, que na atividade potencializa o poder humano e amplia seu desenvolvimento, refere-se a sua interdependência com a socialidade. Ao longo da vivência do homem no mundo, desde a invenção e utilização dos primeiros instrumentos primitivos (que foram criados para garantir a sua sobrevivência facilitando sua relação com a natureza), até o atual contexto social (que foi construído em processos histórico-culturais mencionados anteriormente), os instrumentos contribuíram para um grande avanço tecnológico.

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Esse avanço tecnológico pode ser tomado como um exemplo desta interdependência, de três formas diferentes, ao se considerar que:

(1) ele foi baseado no desenvolvimento da consciência, que possibilitou a invenção de instrumentos cada vez mais sofisticados que, por sua vez, modificaram as próprias formas de relações humanas na atividade prática cotidiana;

(2) as relações sociais propiciaram o desenvolvimento da consciência, que possibilitou a criação de instrumentos tecnológicos;

(3) a invenção de instrumentos desenvolveu a consciência, possibilitando sofisticá-los de acordo com as necessidades sociais.

Nas três possibilidades, as mediações mostram-se interdependentes com, portanto, uma ênfase voltada para as relações sociais que constituem o sujeito.

Ratner (1995), ao analisar o advento das tecnologias, em especial as tecnologias dos meios de comunicação, observou que elas oferecem instrumentos mais sofisticados, se comparados aos instrumentos utilizados pelo homem primitivo. Para esse autor, as tecnologias modificam os processos psicológicos superiores, ampliando capacidades e habilidades que reconfiguram o pensamento.

As capacidades cognitivas, o pensamento relacional e o pensamento abstrato são alguns processos que têm sido fundamentalmente reestruturados pelo uso de instrumentos tecnológicos. Assim, de forma dialética, tais processos são modificados pelo uso de instrumentos em atividades criadas pelo próprio sujeito contemporâneo em sua constante necessidade de transformação da natureza através do trabalho em sociedade.

As capacidades cognitivas, segundo Ratner, são ampliadas pelo uso de instrumentos. Ao criarem um instrumento ou ao adequá-lo a um fim determinado, as pessoas estimulam mais o pensamento, por conferirem uma flexibilidade à ação. Desse ponto de vista, o pensamento voltado para as formas diferentes de utilizar os objetos incita a imaginação, o que dá origem a novos usos para os instrumentos.

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Ocorre também uma maior estimulação do pensamento relacional pela flexibilidade que ele confere à ação. A necessidade de considerar o tipo de instrumento que ele deverá criar para alcançar a meta desejada potencializa a quantidade de informações e as variadas combinações possíveis a serem processadas para alcançar a meta. Na atualidade, tanto a televisão, como o videogame e o computador descarregam sobre a consciência uma infinidade de estímulos audiovisuais exigindo um processamento mais eficiente das funções psicológicas, e da atenção.

O pensamento abstrato é incitado no uso instrumental dos objetos, pois exige uma descontextualização funcional e espacial que garante a possibilidade de se pensar em realidades futuras. Esta estimulação ocorre ainda pela necessidade de serem consideradas todas as hipóteses em nível conceitual, do que possa vir a ser o instrumento ideal para se alcançar a meta. Esse processo complexo ocorre dentro de um contexto histórico-cultural que comprova que “as mediações não são simplesmente aprimoramento das capacidades naturais; [elas] constituem metamorfose radical dessas capacidades” (Ratner,1999, p.20).

Os instrumentos possuem um similar, em nível de atividade psicológica, que é o signo. A similaridade ocorre por ser o signo uma ferramenta que auxilia os processos psicológicos, agindo enquanto representação da realidade e como referência a objetos que se encontram ausentes dos sentidos. Os signos, assim como os instrumentos, fazem a mediação entre a realidade externa e as funções psicológicas superiores.

É possível perceber com clareza a importância dada por Vygotsky (1998, p. 54) aos instrumentos psicológicos na análise que se segue:

Na medida em que esse estímulo auxiliar [o signo] possui a função específica de ação reversa, ele confere à operação psicológica formas qualitativamente novas e superiores, permitindo aos seres humanos, com o auxílio de estímulos extrínsecos, controlar o seu próprio comportamento. O uso de signos conduz os seres humanos a uma estrutura específica de comportamento que se destaca do desenvolvimento biológico e cria novas formas de processos psicológicos enraizados na cultura.

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Os signos, que inicialmente são marcas externas, se transformam em processos internos de mediação, ou processo de internalização, que consiste na representação mental do objeto, de eventos e de situações.

A internalização, conceito fundamental nos princípios vygotskianos, ocorre amparada pelos processos filogenéticos e ontogenéticos. Por esses processos, em que o ser humano desenvolve-se enquanto espécie e enquanto indivíduo particular e passa necessariamente por mudanças ao longo deste desenvolvimento relacionadas ao uso de signos.

As atividades, cuja participação do homem ocorre, em todos os momentos de sua vida, estão carregadas de símbolos externos, que vão transformando-se em signos internos e mediando as atividades psicológicas superiores. A internalização permite ao homem apreender a realidade externa, relacioná-la aos conteúdos psicológicos dinâmicos que já foram internalizados e modificados e externalizar no mundo algo diferenciado, socialmente mediado e transformador da realidade.

Na atividade prática, o uso de instrumentos e dos signos, ou instrumentos psicológicos, tem uma estreita ligação com um outro aspecto desenvolvimental. Ele aparece como o grande diferenciador entre a espécie humana e as demais espécies. Trata-se da linguagem, aspecto que define a constituição essencialmente social dos seres humanos.

A relação entre o uso de instrumentos psicológicos e a linguagem foi estabelecida por Vygotsky e seus colaboradores. Em experimentos que possibilitaram um estudo sobre o pensamento e a linguagem, as conclusões a que chegaram são assim sintetizadas (Vygotsky, 1998):

a) A fala e o uso de instrumentos relacionam-se, possibilitando à criança, no processo de interação social, o desenvolvimento intelectual. Em um primeiro momento existem processos independentes entre a inteligência prática e o uso de signos entre as crianças pequenas;

b) A inteligência prática desenvolve-se no período pré-verbal de forma análoga à de macacos antropóides, ou seja, o instrumento torna-se objeto de facilitação

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para resolução de problemas práticos. Com o desenvolvimento da fala e o uso de signos, surgem relações sociais diferenciadas, pois a criança torna-se capaz de controlar o ambiente e reorganizar seu próprio comportamento.;

c) A ação motora em convergência com a produção verbal possibilita uma forma de solução de problemas que não se faz dissociadamente, pelo contrário, faz-se como uma função complexa só possível em seres humanos. O aumento da complexidade de ação, assim como o aumento na dificuldade de resolução do problema, amplia a importância da fala. Nesse sentido, para algumas crianças é impossível, em alguns momentos, resolver um problema se não puder ao mesmo tempo verbalizar;

d) Há uma relação imbricada entre a fala e a inteligência prática, e na história ontogenética e filogenética do desenvolvimento humano constitui linhas desenvolvimentais diferenciadas. Esta relação que é possibilitada pelas interações sociais em um processo dinâmico leva a inteligência prática e o uso da fala a uma “unidade dialética”, possibilita ao ser humano diferenciar-se totalmente de qualquer outro animal e desenvolver o uso de instrumentos psicológicos;

e) A fala inicialmente é utilizada pela criança como uma forma de acompanhamento de sua ação, uma fala egocêntrica, que na atividade prática facilita a manipulação direta do objeto e controla o comportamento da própria criança. Aos poucos, nas relações interpessoais e na busca de solução de problemas com a ajuda de adultos ou crianças mais velhas, a fala comunicativa, ou fala social, vai tornando-se uma fala interna que capacita a criança a antecipar e planejar as ações futuras por si mesma;

f) A internalização do campo visual é possibilitada por uma “unidade de percepção, fala e ação” (Vygotsky, 1998, p.35). Este processo retira da criança a necessidade de manipulação direta dos objetos para substituí-la por um processo psicológico que antecede e controla suas próprias ações. A linguagem agora se coloca como elemento intrapessoal e não somente interpessoal. A criança consegue dirigir suas próprias ações no mundo. A

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importância dada aos aspectos comunicativos da linguagem é ampliada pela função planejadora que a fala adquire.

Ressalte-se que Vygotsky busca a aplicação do materialismo histórico e dialético para explicar as funções psicológicas superiores e sua essencialidade social. Nessa perspectiva, o desenvolvimento da criança não se encontra pautado somente pelo desenvolvimento biológico, mas na constituição sociocultural e histórica de suas vivências. Isso quer dizer que as funções psicológicas superiores vão sendo desenvolvidas em um processo dinâmico entre o uso da fala e a atividade que a criança desempenha.

Assim, a linguagem demonstra a relevância da socialidade, por ser um instrumento que possibilita a objetificação da consciência (Ratner, 1995). Ela não apenas forma o pensamento como o expressa. Nesse sentido, as mudanças qualitativas que ocorrem nas funções psicológicas superiores, com a aquisição da linguagem, são possibilitadas pela mediação dos instrumentos e dos signos.

Os estudos de Vygotsky, desenvolvidos, aprofundados e acrescidos na perspectiva sócio-histórica, deram destaque aos aspectos comunicativos da linguagem e contribuíram muito na busca de compreensão da complexidade do desenvolvimento humano.

Essa perspectiva foi fortalecida em meados da década de setenta, diferenciando-se do que vinha sendo estudado anteriormente. Caminhando nos princípios vygotskianos, o ser humano é considerado muito complexo, de tal sorte que a tentativa de análise centrada em apenas um aspecto constitutivo do ser humano acaba sendo restritiva e fragmentária (Bock et al., 2001). Além de biológico, o ser humano constitui-se na historicidade, na cultura a que pertence, nas relações sociais que o vinculam e definem sua própria espécie humana. A comunicação aparece como um fator definidor da humanidade. Nas palavras de Vygotsky (2000, p. 6), “a função primordial da fala é a comunicação, o intercâmbio social”.

Considerar os aspectos comunicativos da linguagem requer ainda o reconhecimento de que há uma intencionalidade no que é comunicado. Nesta

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linha de pensamento considera-se que as pessoas falam por terem a necessidade de trocas verbais que possam anunciar ao outro seus pensamentos. A linguagem aparece como reguladora da conduta, como possibilidade de informar sobre os seres humanos e/ou informar sobre o que os cerca. Comporta ainda, nesta perspectiva, uma relação em que dialogar, compartilhar um tema e saber comentar sobre ele é parte fundamental desse aprendizado que se dá nas interações sociais.

A comunicação que perpassa todos os contextos humanos tem sido objeto de pesquisas recentes que buscam ampliar as discussões de Vygotsky. Nesse caminho, Cupolillo et al. (no prelo), discutindo as idéias de Vygotsky em um estudo sobre o processo de comunicação no cotidiano de atividades educacionais, esclarece:

A comunicação seria uma função básica na linguagem da criança, substrato das relações intersubjetivas que, ao ser internalizada, passaria a constituir os processos intelectivos, a nível intrassubjetivo, em grau crescente de complexidade. Ao se orientar internamente transforma-se de maneira reconstrutiva, em processo intrapsíquico, ocorrendo então uma variação da função.

A comunicação apresenta um sujeito concreto em sua dimensão histórico-cultural e a linguagem enquanto um dos mediadores de sua subjetividade, responsável pela construção e organização da complexidade do pensamento e portanto constituída por elementos de sentido. Através da linguagem, a consciência se reconfigura na integração dos elementos que a constituem, produzindo novos níveis de pensamento.

Os princípios elaborados por Vygotsky continuam sendo amplamente discutidos e têm sido um apoio constante em estudos sobre os processos vivenciados na atualidade.

É interessante considerar, em uma leitura atual, a posição de Pearce (1996) ao falar sobre as mudanças paradigmáticas que estão ocorrendo no mundo, em especial as mudanças nos paradigmas comunicacionais, em virtude dos avanços tecnológicos. Ele retoma a história da humanidade, desde a invenção da escrita, para relembrar que a comunicação oral, como forma

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primária de o ser humano comunicar-se, foi sofrendo mudanças importantes ao longo dos séculos diferenciando esta forma original. O desenvolvimento da escrita permitiu registrar a fala modificando sobremaneira as formas de o homem comunicar-se e de transmitir às gerações futuras sua cultura.

Com a invenção da imprensa vieram mudanças inclusive na noção de autoridade. Antes, pela vivência com um processo de comunicação face a face, as pessoas, em geral as mais velhas, detinham o poder de repassar à sua comunidade os ensinamentos, as vivências das gerações antecedentes, enfim, a cultura.

Pearce (1996, p.174) defende que estamos vivenciando mudanças paradigmáticas em âmbito global. Ele define o novo paradigma da comunicação como “novas maneiras de pensar sobre nós mesmos, nossa relação mútua e a sociedade em que vivemos”. Dentro dessas mudanças que são alavancadas por um modelo globalizante de relações político-econômicas, toda a multiplicidade e complexidade das relações humanas vão se constituindo na realidade que difere inteiramente de outros momentos históricos da humanidade.

Este novo paradigma surgiu em resposta às circunstâncias de materialidade do mundo contemporâneo e tem sido um fator preponderante nas relações por revelar muito das condições sociais que constituem e que são constituídas pelo homem.

Na era atual, a comunicação independe da proximidade, da quantidade de interlocutores que estão sendo alcançados pela mensagem que se deseja transmitir. Essa idéia por si só apresenta diferenças relevantes se considerarem as profundas mudanças nas relações interpessoais que são constituídas e constituem o ser humano vivenciadas na contemporaneidade.

A “revolução das comunicações”, cabe esclarecer, participa de um processo dinâmico, complexo, histórico e cultural que vem sendo experimentado, criado e recriado pela humanidade. Porém não é razoável pensar que a maioria da população participe de forma homogênea dessas revoluções tecnológicas, visto que o mundo adentrou o século XXI com uma

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grande parte de sua população que não tem acesso a direitos básicos para sobrevivência biológica e social como o alimento, a moradia, o lazer, o acesso a escolas e tratamentos médicos sequer satisfatórios.

Considerando que as políticas econômicas mundiais e nacionais continuam privando grande parte dos seres humanos de direitos básicos, fica o questionamento sobre quando e como as pessoas que tiveram seus direitos usurpados pela política neoliberal do mundo globalizado poderão ter um contato mais efetivo com os instrumentos que potencializam essa revolução.

Segundo análises de Martín-Barbero (2001), a convergência entre a sociedade capitalista e a racionalidade tecnológica causa uma dissociação. Trata-se da dissociação entre a sociedade dos conectados a uma oferta infinita de bens e saberes, e os excluídos tanto dos bens mais elementares quanto da informação que lhe possibilita o exercício da cidadania.

O processo de globalização que se está vivenciando é percebido por alguns como a realização de uma “grande utopia” e por outros como “o mais terrível dos pesadelos” (Martín-Barbero 2001, p.34). As tecnologias da informática e da comunicação estão criando um mundo intercomunicado, porém opaco, opacidade essa causada por um processo em que se encontra globalizado somente o mercado que unifica a competitividade e uma “densidade e compressão informativa” que são introduzidas pela virtualidade e velocidade que transpõem a noção de espaço e distanciam os elementos materiais. Além das modificações dos processos macrossociais, existe no imaginário coletivo uma grande apreensão sobre o que é vivido na atualidade.

Pensar no contexto que tem sido construído historicamente pelo homem coloca-o diante de uma era pautada por avanços científicos em que as máquinas e os instrumentos tecnológicos têm modificado noções básicas, como as noções de espaço e de tempo que sempre se referiram ao concreto, à materialidade, às leis físicas e dinâmicas que regeram as relações no mundo até a atualidade. Tempo e espaço em uma situação virtualizada trazem o mundo para dentro das casas através de instrumentos tecnológicos como a televisão, transformando sobremaneira o mundo objetivo e subjetivo:

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Um mundo assim configurado debilita radicalmente as fronteiras do nacional e do local, ao mesmo tempo que converte esses territórios em pontos de acesso e transmissão, de ativação e transformação do sentido de comunicar. (Cohn, 2001, p. 34)

Entretanto, deve-se advertir a ancoragem territorial é a condição fundamental para que se possa habitar o mundo, posto que o sujeito está inserido em um local. Assim, a humanidade depende de um espaço real para existir, pois é no território que a corporeidade cotidiana e a temporalidade ocorrem .

Na perspectiva de Pearce (1996), vive-se com uma sensação de descontinuidade, de vertigem, é como estar em um “terremoto”, porque, para as gerações anteriores que cresceram em uma realidade relacional diferente, o mundo virtual, digital que se impõe a cada dia transforma paulatinamente as realidades externa e interna. São essas realidades que possibilitam ao sujeito participar, ativa e passivamente, como autor e como personagem desse momento histórico de transitoriedade paradigmática.

Os processos de comunicação compreendidos enquanto parte integrante e definidora da atividade humana remetem a reflexão sobre a relação entre as novas gerações e os instrumentos tecnológicos: a televisão, o videogame e o computador, que têm participado do cotidiano dos sujeitos na atualidade, em especial das crianças.

Seguem-se informações que foram sendo acumuladas ao longo das últimas décadas sobre estes instrumentos tecnológicos e sua relação com os sujeitos contemporâneos.

A TELEVISÃO

Considerando que existem informações muito diversificadas sobre os instrumentos tecnológicos, em especial a televisão, serão enfocados apenas aspectos que têm pertinência para esse estudo.

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A televisão surgiu no Brasil há 50 anos e popularizou-se há pouco mais de 25 anos. Um ambiente familiar perpassado pela mídia televisiva tem sido uma realidade relativamente nova na constituição do sujeito contemporâneo.

A crescente ascensão da mídia televisiva sobre os demais meios de comunicação dos países latino-americanos, entre eles o Brasil, ocorreu de forma decisiva a partir da década de 1970. Foram sendo modificadas as mediações entre as realidades rural e urbana que constituem a nação brasileira e que antes tinham no rádio o mais expressivo meio de comunicação à longa distância. Martín-Barbero (2001, p. 31) analisa a modernidade da televisão na América Latina, e assim se referem:

A rádio, conectada à oralidade cultural desses países [da América Latina] e tendo exercido até os anos setenta um papel decisivo na mediação entre o mundo expressivo-simbólico do rural e a racionalidade tecno-instrumental da cidade, foi destituída dessa função pela televisão, meio no qual se tecem hoje poderosas cumplicidades da cultura oral e da visualidade eletrônica.

Segundo os autores citados, houve um acréscimo na forma como a comunicação de massa tem ocorrido. Enquanto o rádio exercitava a oralidade, a televisão oferece som e imagem ampliando a visualidade.

Já vêm desde 1950 pesquisas realizadas nessa área. Uma análise sobre a produção científica existente sobre a criança e a tv foi realizada pelo The Media Research Group, citado por Guareshi (O meio comunicativo e seu conteúdo, apud Pacheco, 1998). Este instituto fez uma revisão literária de 157 artigos, do período entre 1985 e 1995, e demonstrou que, desse total, 139 artigos (88%) referiam-se aos efeitos da mensagem e do meio televisivo no desenvolvimento, na saúde mental, na percepção, no deslocamento da leitura, no jogo ou na relação entre fantasia e realidade. Outras 26 referiam-se à mediação dos pais e da família na ação de assistir à TV, 8 eram sobre atitudes e crenças, 7 sobre leis/políticas e controle, 14 sobre padrões de assistência e 5 sobre esse produto como instrumento educativo.

Entre essas pesquisas que produziram importantes informações, encontram-se as que buscavam estabelecer as conseqüências cognitivas que

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o aparelho proporcionava à criança. Guareshi propôs uma reconceituação da relação entre criança e mídia, visto que as pesquisas anteriores baseavam-se em uma dicotomia criança/TV, sem considerar a natureza socialmente contingente do desenvolvimento da criança.

Um ponto relevante desta pesquisa refere-se à constatação de que tanto as crianças quanto a mídia possuem variabilidade, mobilidade e multiplicidade de capacidades. O encontro entre criança e mídia televisiva ocorre como um fenômeno inserido em um contexto histórico-cultural específico e que mobiliza tanto elementos objetivos quanto subjetivos da realidade social.

A presença da televisão no cotidiano contemporâneo é analisada por Martín-Barbero (2001, p. 31) considerando as mudanças paradigmáticas da sociedade que têm sido alavancadas pelo uso que as pessoas fazem das novas tecnologias. Os autores destacam a mediação social que as imagens televisivas conseguem:

Essa capacidade de mediação provém menos do desenvolvimento tecnológico do meio ou da modernização de seus formatos do que daquilo de que as pessoas dele esperam e do que lhe pedem. [Essas] demandas (...) põem em jogo o contínuo desfazer-se e refazer-se das identidades coletivas e dos modos como elas se alimentam de e se projetam sobre as representações da vida social que a televisão oferece.

As pessoas convivem, concomitantemente, com as mais extraordinárias inovações tecnológicas e com a miserabilidade de grande parte da humanidade (que sequer possui alimento!). Este cenário incoerente e desconexo em que os sujeitos buscam novas formas de relacionar-se acaba por reforçar, cotidianamente, a “desmesurada capacidade de representação que a televisão adquiriu” (Martín-Barbero, 2001, p.31).

A modernidade tem sido apreendida por grande parte da população através da televisão. Nesse sentido, a participação nesta era eletrônica é muito mais imaginária, virtual, do que vivenciada no cotidiano geral. As imagens produzidas fazem parte de uma realidade que foi experienciada pelo telespectador ou pode fazer parte de uma realidade virtual que perpassa as vivências cotidianas nos mais diversos espaços onde ela possa estar: nas

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lojas que vendem aparelhos de TV, nos bares, nos shoppings e especialmente nas residências.

Ao refletir sobre comunicação de massa, Ianni (2001, p. 65) conceitua de forma complexa a televisão:

Trata-se de um meio de comunicação, informação e propaganda presente, ativo no cotidiano de uns e de outros, indivíduos e coletividades, em todo o mundo. Registra e interpreta, seleciona e enfatiza, esquece e sataniza o que poderia ser a realidade e o imaginário. Muitas vezes transforma a realidade seja em algo encantado seja em algo escatológico, em geral virtualizando a realidade, em tal escala que a realidade aparece como forma espúria do virtual.

Segundo Sarlo (1997), a televisão tem sido percebida por seus telespectadores como uma possibilidade de restauração de laços sociais perdidos nos caminhos da contemporaneidade. A televisão, como elemento participante da atualidade, ocupa um espaço que foi aberto pela corrosão instaurada na sociedade contemporânea.

[A televisão] responde a uma demanda por rapidez, eficácia, intervenção personalizada, atenção às manifestações da subjetividade e particularismo que seu público não encontra em outra parte. Os sujeitos televisivos adoram a proximidade (mesmo sendo uma proximidade imaginária) e a televisão lhes repete que ela, a única, está sempre perto.” (Sarlo, 1997, p. 78)

A autora citada considera que a televisão tornou-se um “totem tecnológico” mitificado pelo seu público. Sugere, ainda, que os sujeitos atuais vivem em “estado de televisão” e isso faz com que possam considerar o fato de estarem juntos diante do vídeo significar que estariam unidos por novos laços familiares, uma espécie de “videofamílias”.

Outro destaque que deve ser considerado é que em nome de sua própria ampliação de poder, a televisão cria uma relação mimetizada, de fusão com o telespectador, deixando a ele pouca possibilidade de crítica.

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A relação que é estabelecida entre a TV e os telespectadores coloca esse instrumento de tecnologia em uma posição muito próxima à relação vivida entre os pessoas. A TV emite opiniões, impõe valores, cria realidades inexistentes e modifica a realidade existente. Com todos esses atributos a televisão aproxima-se muito da relação que é estabelecida entre as pessoas. Rubim (2001) traz a reflexão de Muniz Sodré, que denomina de “telerrealidade” essa nova dimensão constitutiva da sociabilidade contemporânea que se distingue da realidade da materialidade, da territorialidade e da proximidade relacional.

Nesta perspectiva, a “telerrealidade” apresenta-se como uma nova formatação da realidade. Noções como de tempo e espaço tornam-se relativas, obedecendo não a uma lógica vivencial, mas a uma realidade que se deseja criar, algo que se encontra distante, mas que pode ser apreendido e traduzido como um acontecimento próximo que mobiliza sentimentos, sensações, emoções, lembranças, carregando de sentido o que é transportado pela TV e que se torna um elemento constitutivo do homem contemporâneo.

Os gêneros televisivos trazem conteúdos diversificados e oferecem ao telespectador várias possibilidades para que suas necessidades construídas na virtualidade possam ser satisfeitas.

A TV oferece uma seqüência inesgotável de programações com recursos audiovisuais que exibem um poder sedutor, inebriante e narcísico dentro das possibilidades objetivas e subjetivas de cada telespectador. As palavras de Schuler (Guareshi, 1998, p.90) clarificam o quanto é encantadora a sedução do aparelho televisivo:

O telespectador pós-moderno é um Narciso dotado de um olho eletrônico que causaria inveja a deuses onividentes, já que devassa todos os rincões do mundo. Movendo-se em direção oposta ao olho aventureiro de Blow-Up, o olho do telespectador delicia-se com a abundância de informações. Mistura iguarias familiares e exóticas durante 24 horas por dia. Vitrines sedutoras interrompem o programa a cada instante. Faces produzidas pela cirurgia e pela indústria dos cosméticos

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brilham como pirilampos. Provocam paralisia momentânea.

Para além da momentânea paralisia, pode-se ainda considerar uma situação paradoxal: a audiência televisiva ocorre entre a pessoa e o instrumento tecnológico sem requerer necessariamente a presença de outros. Entretanto, os conteúdos televisivos participam da maioria das discussões em todos os âmbitos da vida, até mesmo no meio familiar.

Segundo Guareschi (1998), mais de 80% do que se fala em interações sociais são fatos apresentados na mídia. Ou seja, mesmo que o ato de estar assistindo à TV seja solitário, ao encontrar-se com os outros é sobre os programas e personagens assistidos que as pessoas irão dialogar.

Na visão de Sarlo (1997, p. 80), assistir à televisão por algumas horas do dia produz mais que pontos de audiência. Este consumo televisivo gera “um sistema retórico cujas figuras passam para o discurso cotidiano: se a televisão fala como nós, nós também falamos como a televisão.”

Assim, a televisão apresenta-se como reflexo e refletor do público. Ela constrói seu público em um movimento circular em que ela reflete e também é refletida pelo público de forma mimetizada.

A televisão possui, ainda, características como ser ‘laica, democrática e mítica’. O fundamento mítico ocorre de forma reparatória:

[A televisão] repara a ausência de deuses neste mundo, através de um Olimpo de pequenos ídolos descartáveis, efêmeros porém fortes como semideuses enquanto possuam a qualidade aurática que a tv lhe proporciona. Diante da aridez de um mundo desencantado, a televisão traz uma fantasia sob medida para a vida cotidiana. Sarlo (1997, p.82)

Essa realidade de um cotidiano contemporâneo cada vez mais perpassado pela mídia televisiva tem sido estudada nos mais diversos países. Na Alemanha a média de exposição à TV fica entre 92 minutos para crianças de 6 a 9 anos e 108 minutos para crianças de 10 a 13 anos. Além de ser um

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tempo curto (levando em consideração os índices apresentados a seguir), segundo Sampaio (2001), a televisão alemã cerca as programações infantis de uma intensa discussão para considerar a qualidade e adequação dos programas às necessidades da criança.

Já nos Estados Unidos, a média em 1992 era de três a quatro horas diárias para crianças acima de 2 anos, bem próxima da média brasileira, que em 1992 era de quatro horas diárias. Em 1990, as pesquisas já apresentavam um índice de 93% de crianças e adolescentes brasileiros que declaravam ver TV diariamente. A estes dados pode-se acrescentar que nas regiões mais urbanas do Brasil 94,6% dos domicílios possuem TV, e que portanto ela é cotidianamente utilizada (Sampaio, 2001).

O fato de as crianças, inclusive as brasileiras, ficarem um tempo elevado assistindo à televisão levanta alguns questionamentos, com destaque para a possibilidade de estarem ocorrendo transformações nas funções psicológicas superiores acarretadas pelo uso que as crianças têm feito da televisão.

Guareschi (1998) faz uma avaliação sobre a relação a criança e a TV considerando o meio comunicativo e os conteúdos desse meio. De um lado se apresenta a TV, com recursos básicos que são essenciais para despertar o interesse humano: a imagem, o som e o texto. De outro lado a criança, que se encontra em um ambiente familiar e social perpassado pela mídia televisiva: se antes ele tinha somente as pessoas de sua família e seus amigos, agora se acrescentam a televisão e tudo que ela possa veicular.

Nesse ambiente, funções psicológicas, como a atenção, são amplamente utilizadas. Assistir à televisão requer o uso da atenção visual, primeiramente, seguida pela audição. A visão e a audição são utilizadas de uma forma tão intensa que conseguem encobrir os estímulos recebidos pelos outros sentidos, inclusive estímulos orgânicos. As crianças podem nem perceber a vontade de se alimentar, de repousar ou de excretar, motivados pela atenção que se encontra totalmente voltada para a TV. Ou, ainda, podem nem perceber a ausência do outro real, corpóreo. As relações da criança

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podem acabar incluindo, e por vezes privilegiando, os personagens de seus programas favoritos.

Analisando as atividades de assistir à televisão e realizar a leitura de um livro, Guareschi problematiza a questão da imaginação e da criatividade. O livro possibilita à criança imaginar os personagens e todo o contexto onde ocorrem as tramas; a televisão “poupa” a criança desta experiência criativa por trazer as imagens, o som e os textos prontos. Não há o que fazer a não ser reproduzir o que foi feito, portanto ela possibilita uma imaginação de alienação e não de criatividade. Guareschi (1998, p. 91) ainda explica:

A TV se coloca diante da criança como objeto total, que nunca se ausenta, não frustra, não abandona; capaz de

fazer cessar tensões internas, capaz de fazer a criança esquecer seus desejos. Torna-se um sem-lacunas de silêncio, não permite a dúvida nem a angústia. Um objeto de produção contínua de presença e de discurso.

Esse instrumento da tecnologia e que tem feito parte da contemporaneidade parece estar realmente adquirindo funções que ultrapassam as possibilidades de uma máquina. Esta idéia é compreensível se se considerar a proposta de Resende (2001), de que a TV ultrapassa a relação de unilateralidade estabelecida entre as pessoas e outros equipamentos eletrônicos, tornando-se o “outro” que interfere ativamente na vida das pessoas tanto ou mais que antigas instituições como a escola e a igreja. Por sua linguagem alcançar de forma extraordinária um número enorme de pessoas apresentando, criando, destruindo e reinventado a realidade ela media o mundo real reconfigurando as relações e constituindo de forma diferente a criança que tenha nascido nesta nova era.

O VIDEOGAME

O videogame é um outro aparelho apresentado como instrumento tecnológico. Ele apresenta características que o aproximam da televisão e

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outras que o difere pelo nível de complexidade perceptiva e motora exigida de quem o utiliza.

Em relação à televisão, o videogame apresenta similaridades no que se refere ao poder sedutor, a força das imagens que sucessivamente vão criando contextos virtuais diversos. Entretanto, ele diferencia-se pela interatividade que proporciona entre o jogador e a máquina. Enquanto a televisão pode ser assistida, o videogame, como o próprio nome sugere, é um jogo realizado diante do vídeo e que exige habilidades específicas de seus jogadores.

Essas habilidades raramente são ensinadas pelos pais ou pela escola, até porque as gerações anteriores participantes de um outro meio sociocultural desenvolveram outras habilidades.

O próprio jogo encarrega-se de ensinar seu manuseio de forma gradativa, em uma seqüência de fases com graus crescentes de dificuldades que permitem o aprendizado e o aperfeiçoamento de combinações entre a percepção visual, a percepção auditiva e a agilidade da ação que o jogo exige do jogador.

Esta aprendizagem também pode ser fruto da relação entre pares. Um amigo, com mais experiência naquele videogame específico, não necessariamente mais velho cronologicamente, instrui o colega explicando as regras e os procedimentos para alcançar a vitória fase a fase.

De acordo com a eficiência em vencer todos os obstáculos que se apresentam cada vez mais difíceis, haverá o prêmio de um novo cenário, com novos obstáculos a serem vencidos. Ocorre a dependência da eficiência no uso da coordenação visomotora e do desenvolvimento de habilidades em manusear botões e alavancas.

Se for eficiente, o jogador será premiado constantemente e receberá em sua tela novos contextos interativos e desafiadores que poderão novamente colocá-lo em um grau de excitação causado pelo desejo da vitória virtual e para finalmente ofertar-lhe um novo prêmio. Trata-se de mais um contexto interativo e desafiador, e ele terá de ser ainda melhor para conseguir vencer.

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A ineficiência ou o fracasso na manipulação dos botões, ou mesmo na compreensão das regras, causa a penalidade máxima: começar de novo, passar pelos passos anteriores e ter cuidado para não errar no final.

Sarlo (1997), ao observar um ambiente em que existem pessoas jogando em uma casa de videogame, relata a aparência fria e caótica do contexto em que estão inseridas essas pessoas. Mesmo que sejam muitas pessoas, cada uma encontra-se separada do outro e voltada para uma máquina de onde são produzidos os mais diversos sons e uma infinidade de luzes que enchem o espaço.

Sem a luz e o som, o lugar ficaria vazio, porque na verdade seus móveis são esses mesmos efeitos: trata-se de um cenário de luzes onde cada metro quadrado apresenta uma disposição nitidamente delimitada de cores e ruídos. Por isso, cada um pode isolar-se e ficar na sua. (Sarlo, 1997, p. 43)

A presença de observadores não intimida ou incomoda o jogador que parece ensimesmado. Ele permanece mergulhado na configuração visual do vídeo que promove um infinito periódico poderoso, hipnotiza os jogadores e induz à busca de um limite inalcansável, que é a vitória sobre a máquina.

Quando a pessoa que observa é um adulto, possivelmente uma mãe preocupada com seu filho, o contraste entre o ambiente e sua presença na casa de videogame é notório. O filho, naquele espaço, tem mais poder, autoridade e inteligência que ela, por saber manusear os controles. As mães desta nova geração, em geral, se perdem no “labirinto gráfico”, que não lhes interessa e que em geral não compreendem.

O uso do videogame possibilita, segundo a autora citada, uma subcultura que valoriza a vitória virtual sobre a máquina, que oferece como prêmio uma recompensa simbólica que só possui validade para aqueles que compreendem as dificuldades que foram vencidas para chegar àquela fase. É como se essas pessoas constituíssem um mundo à parte, em que os valores

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desenvolvidos são diferenciados daqueles exercidos no âmbito geral da sociedade.

Esses instrumentos constituem uma mistura de era mecânica e de era tecnológica, potencializando as ações do homem e criando agora um mundo virtual: o inimigo é virtual, as vitórias são virtuais, os contextos são fragmentários e independentes e não possibilitam um enredo histórico.

A constituição infantil acaba por exercitar habilidades que dependem de reflexos corporais para manusear corretamente as alavancas e os botões em uma velocidade excepcional. De outro lado, existe uma lógica extracorporal, que é exercitada no contato com o vídeo e leva o jogador a buscar por horas a fio vencer os desafios de uma fase, para obter um incentivo auditivo e visual que o eleva à categoria de herói. A durabilidade dessa sensação é tão fugaz quanto tudo mais que ocorre nesse jogo.

No próximo segundo, após vibrar intensa e velozmente com sua nova conquista, uma nova imagem seguida de sons desafiadores o coloca de volta à condição de jogador e mantém a continuidade da lógica do jogo. É exigida então uma aceleração física dos reflexos, numa “teoria do encontro entre a aceleração dos movimentos e a tradução dos reflexos em decisões que retardem o fim” (Sarlo, 1997, p. 48)

Esses instrumentos tecnológicos respondem à demanda de vários perfis de jogadores. Os bons compreendem a lógica inovadora e “perfeita” dos videogames e conseguem com um tempo considerável e constante de uso especializarem-se na tarefa de vencer virtualmente. Os maus jogadores pensam ser a velocidade física o que há de mais difícil a ser vencido e se relacionam com o videogame “como se cumprissem um destino inexorável, que nunca conseguem adiar ou transpor, através de uma pontuação mais elevada” (Sarlo, 1997, p.49). Eles escolhem máquinas com jogos mais simplórios, e que os aproximam de realidades advindas da publicidade televisiva.

As crianças acompanham esta categoria por ainda não conseguirem entender a abstração dos jogos geométricos. Elas utilizam, geralmente, máquinas que se adaptam a desejos mais previsíveis e que deixam bem clara

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a regra do jogo obedecendo a uma lógica de variação e repetição. O objetivo é o acúmulo de pontos e o aumento de possibilidades de encontrar saídas que levem à fase posterior. Novas portas devem ser abertas, entretanto sem nenhuma ligação que possa dar um sentido narrativo.

Não existe uma história sendo contada. A independência de cada fase faz com que ocorram “unidades regulares” que informam se o jogador ganhou ou perdeu. O videogame utiliza personagens imaginários e até aqueles que vêm das mídias, porém os mais verídicos são aqueles inventados para os videogames, que se distanciam das narrativas conhecidas.

Sarlo acrescenta que os personagens são utilizados nestas “unidades regulares” e no jogo não são apresentados como partes de uma ficcionalidade cujo desenlace se dará no final. Ocorre um “esvaziamento da narrativa”, porque os personagens independem de uma história para que possam existir, assim como a ação prescinde de uma narração. Não existe história, existe um tema geral fragmentado em várias fases independentes, que se estruturam em cima de peripécias. Não existe, na verdade, um enfrentamento entre personagens, mas uma luta entre o jogador e o videogame.

O COMPUTADOR

Considerado nesta pesquisa como um instrumento tecnológico, ou seja, como um mediador, o computador, na forma como é conhecido na atualidade, teve um desenvolvimento que partiu da mecânica para a eletrônica. Em 1890, surgiu o primeiro computador mecânico. Com o objetivo de desenvolver máquinas cada vez menores e com maior capacidade, as partes mecânicas foram sendo substituídas pôr componentes elétricos, as válvulas e os transistores deram lugar ao chip (pastilha eletrônica), que permitiu o avanço e conseqüente disseminação dos microcomputadores. A partir daí, surgiram os primeiros programas de edição de textos.

Em 1984, foi lançado o Macintosh, que revolucionou o mercado promovendo o uso de ícones e do mouse que facilitaram o acesso a programas prescindindo de um grande conhecimento na área, por parte dos usuários. No

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ano seguinte, a Microsoft lançou o Windows e alcançou muito sucesso, a partir de 1990, pelas facilidades que implementou.

Lopes de Oliveira (1996, p.2) esclarece que a miniaturização dos componentes eletrônicos possibilitou uma redução do custo e conseqüentemente a disseminação social do computador. Nas palavras da autora,

[o microcomputador] deixou de ser apenas uma máquina de calcular tamanho gigante, para se transformar num equipamento doméstico, multifacetado e útil na realização de atividades tão diversas quanto o “home bank”, o lazer e educação das crianças.

A autora discute o desenvolvimento das interfaces e o processo de digitalização que tem ocorrido pelo fato de ter sido possível democratizá-lo. O processo de digitalização que tem sido implementado traz a possibilidade de uma alta resolução de imagens, da utilização de sons, inclusive a voz humana, formando um cenário virtual tão sedutor quanto o fazem a televisão e o videogame. A maioria dos programas oferece no vídeo uma variabilidade de cores, movimento, contraste e luminosidade associada a sons repetitivos e a textos com formatações diferentes que atraem e mantém a criança diante do computador.

Essa disseminação não ocorre de forma homogênea na sociedade mas a cada ano torna-se maior a utilização dos microcomputadores no cotidiano. Se há uma ampliação no uso, conseqüentemente multiplicam-se no mercado acessórios, aplicativos para os mais diversos perfis de consumidores.

Nessa escalada, existe, hoje, uma infinidade de softwares para crianças. Uma criança de 4 anos ou menos, familiarizada com o computador, consegue, com pouco auxílio, abrir um arquivo de seu interesse, pois reconhece o ícone (representado pelo desenho) e com ajuda do mouse consegue encontrar e executar no Windows seu software preferido.

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Neves (2002) acrescenta que até mesmo crianças que ainda não estão alfabetizadas sentem uma grande atração por jogos interativos, tais como os playstations, e que estes jogos abriram as portas para que a criança adentrasse no computador. Para a autora, parece haver uma sintonia entre a informática e o dinamismo do pensamento da criança. Esta atração pelos computadores e o seu sucesso mesmo nas idades do pré-escolar é comprovada pela destreza com que pequenas mãozinhas mexem num aparelho que foi pensado para o adulto.

Esses fatores indicam que a computação tem sido expandida pela possibilidade de desenvolvimento tecnológico, mas principalmente pela aceitação de seu uso que foi ocorrendo por parte de um dos mais expressivos contextos de promoção do conhecimento: a escola.

A escola aceitou a computação dividida entre medos, ressalvas, excitação, sentimento antagônicos de progredir e de deixar de existir. De forma análoga, pode-se dizer que um grupo de pessoas envolvidas com a educação percebeu a inserção do computador na escola como a chegada de uma bruxa malvada que poderia trazer conseqüências nefastas ao processo de ensino-aprendizagem; que poderia destituir os professores da condição de detentores do saber e ainda causar danos aos processos mentais da criança.

Neste sentido, Chaves (2002) aponta que uma das principais críticas é a de que o contato constante com o computador poderia levar a criança a desenvolver formas de pensar "mecanizadas". As crianças poderiam estar aprendendo, em seu contato com o computador, a pensar como o computador "pensa", isto é, de forma absolutamente precisa, lógica, automatizada.

Do outro extremo, estariam aqueles que deram um sentido oposto: estaria chegando à escola uma fada-madrinha que transformaria as crianças em seres mais inteligentes e criativos. E essa possibilidade de desenvolver na criança um pensamento automatizado torna-se uma qualidade a mais, o que justificaria a utilidade do computador na escola. Afinal várias disciplinas como a Matemática e Física seriam aprendidas de forma mais competente. Essa

Referências

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