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CIDADANIA EM CONSTRUÇÃO: POSSIBILIDADES E LIMITES NO PROCESSO DE “EXCLUSÃO”INCLUSÃO SOCIAL NO NÚCLEO COOPERATIVA DE LIXO DO REAL PARQUE

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(1)

Sônia Maria Rezende Camargo de Miranda

CIDADANIA EM CONSTRUÇÃO: POSSIBILIDADES E

LIMITES NO PROCESSO DE “EXCLUSÃO”/INCLUSÃO

SOCIAL NO NÚCLEO COOPERATIVA DE LIXO DO REAL

PARQUE

Doutorado em Ciências Sociais

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

(2)

Sônia Maria Rezende Camargo de Miranda

CIDADANIA EM CONSTRUÇÃO: POSSIBILIDADES E

LIMITES NO PROCESSO DE “EXCLUSÃO”/INCLUSÃO

SOCIAL NO NÚCLEO COOPERATIVA DE LIXO DO REAL

PARQUE

Tese apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de Doutora em Ciências Sociais, sob orientação da

Profa Dra Noemia Lazzareschi.

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO

PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

(3)

FOLHA DE APROVAÇÃO

(4)

AUTORIZAÇÃO

Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução tota l ou parcial desta tese por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.

(5)

DEDICATÓRIA

In memorian

À minha mãe,

Que recitava esta poesia quando eu era ainda uma criança, e hoje a trago na lembrança...

Ao meu pai que viveu esta poesia:

Não chores, meu filho; Não chores, que a vida

É luta renhida: Viver é lutar. A vida é combate, Que os fracos abate, Que os fortes, os bravos

Só pode exaltar.

Gonçalves Dias A canção dos Tamoios

Confesso que foi necessário repeti - lá muitas vezes durante esta

caminhada...

Obrigada pelos princípios de vida que vocês me deixaram...

(6)

AGRADECIMENTOS

À DEUS,

Por me deixar existir...

AO MEU ESPOSO FERNANDO,

Companheiro incondicional que cuidou de mim o tempo todo, para que eu pudesse vencer mais esta batalha...

AS MINHAS FILHAS CHRISTIANE e FABIANA,

Razão da minha existência...

AO MEU QUERIDO PAULO CEZAR AUGUSTO,

Que não mediu esforços e dedicou horas de seu descanso com seu competente suporte estatístico e também pela paciência e disponibilidade durante todo este trabalho.

AO MEU QUERIDO PAULO GUERRA,

Pelo incentivo constante, pela força e pelo apoio.

A MINHA QUERIDA SOBRINHA ELAINE, Pela ajuda nos mapas cartográficos

AOS MEUS DEMAIS FAMILIARES,

Nilce minha irmã, Adriane , e meus irmãos.

AOS MORADORES DA FAVELA REAL PARQUE,

Por terem acreditado e confiado em mim.

À TODOS OS FUNCIONÁRIOS DO CENTRO DE SAÚDE REAL PARQUE,

(7)

À TODOS OS APOIADORES DO PROJETO,

Foram tantos que diretamente ou indiretamente contribuíram que é possível nomeá-los.

À QUERIDA LÍDIA

Que lutou comigo para a realização deste trabalho.

Á MINHA ORIENTADORA,

Profa Dra Noemia Lazzareschi que me acolheu, confiou em mim e não mediu

esforços para a realização deste trabalho. Esta vitória é nossa!

À BANCA DE QUALIFICAÇÂO.

Profa Dra. Marisa do Espírito Santo Borin e Dra. Tamara Cianciarullo pelas

recomendações, que foram fundamentais para o caminhar desta tese.

AOS PROFESORES COORDENADORES:

Dra. Denise Marroni e Dr. José Fiusa; Dra. Ariadne da Silva Fonseca e Dra. Juliane Pozeti de Campos, pelo incentivo, pelo apoio, pela força, que foram fundamentais para que eu pudesse chegar até aqui.

À UNIA

Profa Celina, pelo apoio constante através da bolsa auxilio/Tese, que muito me

ajudou, e também pelo carinho.

À TODAS AS MINHAS COLEGAS DE TRABALHO

Da Faculdade de Enfermagem que sempre me apoiaram e me compreenderam em especial a Valéria, Álvaro e Clavdia.

AO MEU QUERIDO AMIGO DA PMSP

Rogério, que supriu todas as minhas dificuldades de informática me ajudando sem medir esforços.

(8)

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Distribuição segundo o número de moradores do Distrito de

Saúde Escola Butantã, Município de São Paulo, 2004 61 Gráfico 2 – Distribuição da população residente, segundo faixa etária,

região do Morumbi, São Paulo, 2000 63 Gráfico 3 – Distribuição da população residente segundo espécie e tipo de

domicílio, região do Morumbi, São Paulo, 2000 64 Gráfico 4 – Distribuição segundo população por sexo, residente por setor

censitário, região do Morumbi, São Paulo, 2000 66 Gráfico 5 – Distribuição segundo o sexo, dos Programas Sociais, dos

moradores da favela do Real Parque, São Paulo, 2003 76 Gráfico 6 – Distribuição segundo o estado civil, nos Programas Sociais, dos

moradores da favela do Real Parque, São Paulo, 2003 77 Gráfico 7 – Distribuição segundo a idade média, nos Programas Sociais,

dos moradores da favela do Real Parque, São Paulo, 2003 78 Gráfico 8 – Distribuição segundo a escolaridade, nos Programas Sociais,

dos moradores da favela do Real Parque, São Paulo, 2003 79 Gráfico 9 – Distribuição segundo o tipo de necessidades especiais, nos

Programas Sociais, dos moradores da favela do Real Parque,

São Paulo, 2003 80

Gráfico 10 – Distribuição segundo a situação no mercado de trabalho, nos Programas Sociais, dos moradores da favela do Real Parque,

São Paulo, 2003 81

Gráfico 11 – Distribuição segundo o abastecimento de água, nos Programas Sociais, dos moradores da favela do Real Parque, São Paulo,

2003 82

Gráfico 12 – Distribuição segundo o escoamento sanitário, nos Programas Sociais, dos moradores da favela do Real Parque, São Paulo,

2003 83

Gráfico 13 – Distribuição segundo a iluminação, nos Programas Sociais, dos

moradores da favela do Real Parque, São Paulo, 2003 84 Gráfico 14 – Distribuição segundo o destino do lixo , nos Programas Sociais,

dos moradores da favela do Real Parque, São Paulo, 2003 85 Gráfico 15 – Distribuição das cooperativas por ramo, Brasil, 2003 127 Gráfico 16 – Distribuição segundo o número de cooperados, Brasil, 2003 128 Gráfico 17 – Distribuição segundo o número de cooperativas por região,

Brasil, 2003 129

Gráfico 18 – Distribuição segundo a participação das cooperativas na

produção agrícola brasileira, Brasil, 2003 130 Gráfico 19 – Distribuição segundo a participação de mulheres no quadro de

(9)

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Distribuição quanto ao número de moradores do Distrito de

Saúde Escola Butantã, Município de São Paulo, 2004 60 Tabela 2 – Distribuição da população residente, segundo faixa etária,

(10)

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Dados indicativos da situação da favelização no Município de

São Paulo, 2004 44

Quadro 2 – Distribuição segundo a variação da população total e condições

de moradia, São Paulo, 1991-2000 48 Quadro 3 – Distribuição do número de moradores e média de moradores

por domicílio, região do Morumbi, São Paulo, 2000 64 Quadro 4 – Distribuição segundo escolaridade da população residente,

(11)

LISTA DE FIGURAS

(12)

LISTA DE MAPAS

Mapa 1 – Distritos de Saúde do Município de São Paulo 59 Mapa 2 – Unidades Básicas de Saúde do Distrito de Saúde Escola

Butantã 60

Mapa 3 – Vista do Real Parque por satélite e as classes sociais

especificadas 89

(13)

LISTA DE FOTOS

Foto 1 – Vista aérea da favela 89 Foto 2 – Vista aérea da favela – área demarcada 90 Foto 3 – Foto aérea da favela do Real Parque 247 Foto 4 – Apartamentos próximos à favela 248

Foto 5 – Favela Real Parque 249

Foto 6 – Favela Real Parque 249

Foto 7 – Local onde houve desmoronamento de barracos no córrego 250 Foto 8 – Festa das crianças do Real Parque 251 Foto 9 – Meninos catadores de lixo reciclável, da Favela Real Parque:

contraste social 252

Foto 10 – Meninos catadores de lixo reciclável, da Favela Real Parque:

contraste social. 252

(14)

LISTA DE SIGLAS

ABC – Região da Grande São Paulo: Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul

ACI – Aliança Cooperativa Internacional

AIT – Associação Internacional dos Trabalhadores

ANR – Associação Nacional de Recicladores

ANTEAG – Associação Nacional dos Trabalhadores em Empresas de Autogestão

APA – Atenção Primária Ambiental

BANESPA – Banco do Estado de São Paulo

BNH – Banco Nacional da Habitação

BPC – Benefício de Prestação Continuada

CEMPRE-- Compromisso Empresarial com a Reciclagem ( associação)

CETESB – Companhia de Tecnologia de Saneamento ambiental

CIT – Centro Integrado do Trabalhador

CNC – Conselho Nacional de Cooperativismo

CNUMAD – Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento

COOPMARE – Cooperativa dos Catadores Autônomos de Papel Aparas e Materiais Recicláveis

COPASADHS – Conferência Pan-americana sobre Saúde e Ambiente no Desenvolvimento Humano Sustentável

CPAs – Cooperativas de Produção Agropecuária

CGC -- Cadastro Geral de Contribuinte

CPSs – Cooperativas de Prestação de Serviços

CPT – Comissão Pastoral da Terra

(15)

CSII – Centro de Saúde II

DIEESE – Departamento Interestadual de Estatística e Estudos Sócio-econômicos

DSE – Distrito de Saúde Escola Butantã

FAT – Fundo de Amparo ao Trabalhador

FIPE – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas

FIPE-SEHAB – Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas – Secretaria Municipal da Habitação

GUNM – Grande União Nacional Moral das Classes Produtoras

HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana (sigla em inglês)

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICE – Instituto de Cidadania Empresarial

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

INAF – Indicador de Analfabetismo Funcional

INOCOOPS – Instituto Nacional de Orientação às Cooperativas

IPEA – Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada

IPT – Instituto de Pesquisas Tecnológicas

IPTU – Imposto Predial e o Imposto Territorial Urbano

LIMPURB – Departamento de Limpeza Pública

MDS – Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MEC – Ministério de Educação e Cultura

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

OCB – Organizações das Cooperativas Brasileiras

OCE – Organização das Cooperativas Estadual

OIT – Organização Internacional do Trabalho

ONGs – Organizações Não-Governamentais

(16)

OPAS – Organização Pan-americana de Saúde

OSCIP – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público

PAIF – Programa de Atenção Integral à Família

PANTEC – Plano Territorial de Qualificação do Município de São Paulo

PCOUC – Programa Capacitação Ocupacional e Utilidade Coletiva

PETI – Programa de Erradicação do Trabalho Infantil

PIA – População em Idade Ativa

PMSP – Prefeitura Municipal de São Paulo

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio

PNDU – Política Nacional de Desenvolvimento Urbano

PNRS – Política Nacional de Resíduos Sólidos

PR – Sigla do Estado do Paraná

PSF – Programa da Saúde da Família

sd – sem data

SDTS – Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade

SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados

SENACOOP – Secretaria Nacional de Cooperativas

SIG – Sistema de Informação Geográfica

SMS – Secretaria Municipal de Saúde

sp – sem página

UBS – Unidade Básica de Saúde

UNESP – Universidade Estadual Paulista

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNIEMP – Fórum Permanente das Relações Universidade-Empresa

(17)
(18)

RESUMO

(19)

do bairro das classes sociais distintas), no sentido simbólico (o dispor de uma identidade), no sentido psicológico (sentimento de dignidade e auto-estima) e no sentido cidadão (a construção dos direito civis, políticos e sociais). Enfim, a aparição de um novo personagem no cenário social: os higienistas ambientais,

transformadores da realidade. Destaca-se a revelação de uma nova cidadania a partir da “capacidade de realizar funcionamentos”, como afirma Sen (2001) quando permitem-se sair do encarniçamento social de pessoas “coisificadas” e se transformam em homens cidadãos. Isto pode ser conseguido através do Trabalhador Social, a partir do “método da roda”, um “espaço” de mediação entre os “diferentes”, em ações que se mobilizam e proporcionam melhorias sociais em organizações governamentais como uma Unidade Básica de Saúde, com propostas objetivas e de alcance real. Cabe ressaltar que os moradores de favelas, neste caso, do Real Parque, mesmo em condições precárias de saúde, são capazes de ser produtivos e obter renda que garanta sua subsistência desde que sejam participativos de uma organização econômica baseada na igualdade, solidariedade e interdependência.

(20)

ABSTRACT

Resulting from the author’s personal involvement with the favela Real Parque, holding a position of Technical Director at the Centro de Saúde Real Parque (Health Center Base Unit) from 1987 to 2002, an idea arose to set up a project for selective gathering of waste solids, which involved the organization of a cooperative system that would generate sustainable income for the people, having in focus the minimization of poverty of the “Real Parque favela” residents. The “favela” is located in the south side of São Paulo, which is one of the most wealthy regions of the city, attached to the Morumbi Administrative District, where the difference between the rich and wealthy population, living in luxurious condominiums, contrasts clamorously with the socially destitute residents of the “favela Real Parque”. With the objective of verifying whether there is a possibility for building up citizenship, with political, civic and social rights, by forming a cooperative nucleus called ReciclaReal at the “Real Parque”, this survey is being conducted in a socially empiric manner called ‘action-survey’, while revealing quantitative and qualitative demographic details, which comprehensively includes the local reality and suggests ‘solidarity economics’ as a new form of social organization, and an alternative for inclusion of those whose insertion in the job market is extremely difficult. Based upon authors who have pondered on matters regarding the build-up of citizenship, it is evident that the combined economic, social and technological transformations that occurred since the beginning of the 20th century have produced both positive and negative aspects.

(21)

of a neighborhood who have different social backgrounds), in the symbolic sense (owning an identity), in the psychological sense (a feeling of dignity and self-esteem) and in the sense of citizenship (building up civil, political and social rights). Thus, the appearance of a new personage in the social scenario: the Environmental Hygienist, a person who can transform reality. It is noteworthy that there is revelation of a new citizenship, resulting from the “capabilities to perform faculties” as mentioned by Sen (2001), when it is admissible to leave the social animosity of robotized people, and they become full-fledged human citizens. This might be obtained through the Social Laborer, as a result of the ‘wheel method’ – an intermediation gap between different people – in actions that mobilize and grant social improvements at government organizations, such as the “Unidade Básica de Saúde” health centers, with objective proposals and within tangible reach. It should be pointed out that the residents of “favelas”, in this case the Real Parque, even under precarious health circumstances, are capable of being productive and to earn an income that can assure their subsistence, provided they participate in an economic organization, based on equality, solidarity and interdependence.

(22)

SUMÁRIO

Introdução 01

Cap. I. O Caminhar metodológico 32

1.1 Tipo de estudo 32

1.2 Objetivo prático 34 1.3 Objetivos específicos 35 1.4 Objetivos de conhecimento 35 1.5 Momentos da investigação 37 1.6 Fases do desenvolvimento do projeto 38 1.7 Local de estudo: o cenário 39

1.8 O sujeito 39

1.9 Coleta de dados 39 1.10 Resultados e discussão dos dados 40 Cap. II. A História das favelas paulistanas 42 2.1 As Políticas Públicas 53 Cap. III. Local de estudo: o cenário 58 3.1 Localização da área de abrangência do Distrito de Saúde Escola

Butantã 60

3.2 Características sócio-econômicas e culturais do Distrito

Administrativo do Morumbi 62 3.3 O bairro Real Parque 67 3.4 A favela Real Parque 71

3.4.1 Indicadores dos Programas Sociais, na favela Real Parque 75

Cap. IV. O diagnóstico participativo das necessidades da população do Real

Parque 91

4.1 O desmoronamento dos barracos do córrego: da cidadania

(23)

6.4 Marcos conceituais 147 6.5 As cooperativas de li xo 149 6.6 A formação do núcleo de cooperados do Real Parque: o

ReciclaReal 150

Cap. VII. Os coletores de lixo do ReciclaReal: uma cidadania em constituição 163 7.1 A cidadania na visão dos recicladores de lixo do ReciclaReal 163 7.2 Um breve perfil dos sujeitos 164 7.2.1 Cooperados que trabalham no núcleo ReciclaReal 165 7.2.2 Cooperados do ReciclaReal que trabalham na CooperAção 165 7.3 A tentativa de i nclusão dos excluídos através do núcleo de

cooperativa do Real Parque: O ReciclaReal 166 Cap. VIII. Limites e possibilidades: desafios enfrentados pelos participantes

do núcleo cooperativa de lixo ReciclaReal 179 8.1 Limites e dificuldades 180 8.1.1 Estruturais 180 8.1.2 Falta de Recursos Financeiros: Condições do local para o

funcionamento do ReciclaReal 181 8.1.3 Falta de Recursos Financeiros: dificuldades no transporte

do lixo 182

8.1.4 Falta de recursos financeiros: inexistência de um galpão

para funcionamento adequado 183 8.1.5 O conteúdo ergonômico do trabalho 185 8.1.6 A Falta de Equipamentos de Proteção individual (EPI) de

segurança do trabalho 188

8.1.7 O sofrimento Psíquico também aparece nas Cooperativas

de lixo 188

8.1.8 Alguns princípios Básicos do Cooperativismo devem ser

aprimorados 190

8.1.8.a Hierarquia de comando 191 8.1.8.b A transparência das transações comerciais 194 8.1.9 Dificuldades de Gestão de Pessoas 195 8.1.10 Dificuldades na gestão do próprio negócio: os

atravessadores do lixo 196

8.1.11 Debilidade das Políticas Públicas 198 8.2 Possibilidades 200 8.2.1 Possibilidades encontradas pelos participantes do

núcleo-cooperativa de lixo ReciclaReal 200 8.2.2 O Despertar da consciência coletiva dos recicladores do

Real Parque: solidariedade e interdependência 200 8.2.3 Uma nova cidadania em construção: “a capacidade de

realizar funcionamentos” 207 8.2.4 A cidadania em movimento: liberdade de expressão,

participação e o exercício político. 210 8.2.5 A interdependência e a solidariedade: Empresários,

profissionais liberais e favelados sentam na mesma roda 212 8.2.6 A saúde e as possibilidades em relação ao trabalho 215 8.2.6.a O binômio: saúde x doença x força de trabalho 216 8.2.7 O trabalho em transformação: Taylorismo X Criatividade na

(24)

8.2.8 A globalização, o consumo e a nova cultura do lixo no

bairro Real Parque 222

Considerações Finais 226

Referências Bibliográficas 233

Anexos 247

(25)

CIDADANIA EM CONSTRUÇÃO: POSSIBILIDADES E

LIMITES NO PROCESSO DE “EXCLUSÃO”/INCLUSÃO

SOCIAL NO NÚCLEO COOPERATIVA DE LIXO DO REAL

PARQUE

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por objeto a construção da cidadania a partir de uma cooperativa de lixo como alternativa de trabalho e renda para pessoas “excluídas socialmente”1 cuja inserção no mercado de trabalho é extremamente

desfavorável2, já que se encontram afastadas do mercado formal e informal por falta de empregabilidade3: os moradores da favela do Real Parque, na cidade de São

Paulo.

1 O conceito exclusão entre aspas, “exclusão”, será usado na presente investigação, para designar

pessoas cuja inserção no mercado de trabalho é extremamente desfavorável. Esta opção deve-se ao esgarçamento do conceito e as diversas polêmicas que o mesmo tem causado entre os intelectuais. O termo exclusão solicita um complemento. Excluído de que? A maioria dos excluídos não está fora do planeta nem de seus paises onde vivem. Possuem uma relação de interdependência com os seres que se relacionam. Da mesma maneira tem acesso aos meios de comunicação de massa, responsável pela socialização cultural. Possuem desejos de consumo mesmo que não tenham condições de satisfazê-los. A dificuldade ou a não satisfação dos mesmos para preencher as necessidades humanas básicas está relacionada à inserção extremamente desfavorável no mercado de trabalho. Uma das causas fundamentais de exclusão social da nossa época é o desemprego estrutural. (ASSMANN e SUNG, 2000).

Para Borin (2003), o termo “exclusão social”, não é um conceito e tampouco algo novo, expressa uma situação social, resultante de um processo dinâmico, estabelecido por inúmeras transformações, ocorridas no universo produtivo. Destacando ainda a fala de Martins (1997), a autora comenta que inexiste a exclusão, havendo certas contradições, ao se espelhar no modelo capitalista. O termo em pauta, sugere o “não pertencimento”, o “sobrante” da existência social, criando um imaginário social, de que são indivíduos sem direitos autênticos, convivendo contíguos ao mundo dos “integrados”.

Para aprofundar mais este conceito ver também, Gilberto Dupas, Economia global e exclusão social, Paz e Terra, 1999.

2 Expressão utilizada por Assmann, H. e Sung M.S., em seu livro Competência e Sensibilidade solidária: educar para a esperança, Petrópolis: Vozes, 2000, p.90.

(26)

A complexidade de que se reveste a relação trabalho e cidadania nos remete, ainda de maneira sucinta, ao entendimento desses dois conceitos no contexto atual da globalização para que se possa favorecer a compreensão do objeto eleito desta investigação.

O trabalho é uma categoria sociológica chave, porque pelo trabalho os homens produzem a história. Só os homens trabalham os animais não o fazem. As formigas e as abelhas não possuem o processo mental do trabalho. É através do trabalho que o homem age na natureza e a transforma para dela tirar as condições materiais de sobrevivência e a produção da consciência. “O que distingue o pior arquiteto da melhor abelha é que ele figura na mente sua construção antes de transformá-la em realidade. No fim do processo do trabalhador, aparece um resultado que já existia antes, idealmente na imaginação do trabalhador” (MARX, 1988, p.202). Foi a partir desta concepção filosófica de trabalho, que Marx construiu toda a sua critica da sociedade capitalista.

Diversos autores têm discutido os significados do trabalho para descobrir qual é a sua influência sobre os trabalhadores. Segundo Mills (1969), o trabalho tem vários significados: ganha-pão, vida interior; expiação, expressão de si mesmo, dever inelutável e desenvolvimento da natureza humana. “O trabalho não tem nenhum significado intrínseco” (p.233). O trabalho não tem nenhum significado próprio e o seu significado está ligado àquilo que ele representa para o indivíduo em todo o seu viver, refletindo em satisfação ou frustração. Mesmo que o trabalhador não tenha consciência, o trabalho é o “produto liquido de sua atividade” e o que as pessoas pensam dele, conseqüentemente repercute na sua personalidade. (MILLS 1969).

(27)

pessoa tornava-se um trabalho mecânico realizado por escravos, seres inferiores, ”pois embrutecia o espírito, e tornava o homem incapaz para a prática da virtude” (MILLS, 1969, p.233).

Para o cristianismo em seus primórdios, o trabalho era uma punição e servia para a expiação dos pecados, mas em seus fins últimos, era visto como caridade, saúde do corpo e da alma e afastar os maus pensamentos. Para Santo Agostinho, este deveria ser obrigatório para os monges, mas alternado com orações. Nos mosteiros, o trabalho intelectual (ler e copiar) efetuado pelos monges, era visto como inferior à meditação sobre as questões divinas. (MILLS, 1969)

Foi Lutero quem estabeleceu o trabalho como ‘base e chave da vida’, e uma ‘vocação’ e o ‘caminho religioso para salvação’. (Mills, 1969, p.234). Max Weber (1973) em seu livro: “A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo”, observa que os protestantes eram mais hábeis no comércio que os católicos. Esta relação de fé e sucesso econômico relacionada à religião exerce uma profunda influência sobre a vida econômica. Mais especificamente, a teologia e a ética do calvinismo foram fatores essenciais ao desenvolvimento do capitalismo do norte da Europa e dos Estados Unidos.

(28)

Para Mills (1969), o artesanato é um modelo idealizado de satisfação de trabalho e se distingue nos seguintes aspectos: obedece a um processo de criação; não separa o produto do seu criador; o trabalhador é livre para desenvolver seu conhecimento e habilidades; enfim é livre para organizar seu trabalho; além disso, não há separação entre o trabalho, divertimento e a cultura. Os mesmos se tornam unos e determinam o seu modo de subsistência e de viver.

(29)

de atenção relaxada e meditativa necessária para produzir e apreciar a obras de arte. ’

A passagem do mundo rural do pequeno empresário para a sociedade urbana levou a separação do homem e seu processo de produção e sua alienação. Em quase todas as ocupações os empregados vendem a sua independência e a sua capacidade de tomar decisões. Dimensiona-se que 10 ou 12 milhões de pessoas trabalharam em tarefas inferiores às suas capacidades durante os anos 30. Cada vez mais aumenta o número de trabalhadores que executam tarefas inferiores à sua capacidade de trabalho. Esta alienação objetiva é conseqüência do capitalismo moderno e da divisão de trabalho. No contrato ele vende sua energia, a sua capacidade e seu tempo a outrem. Dentro desta divisão o trabalhador não realiza do começo ao fim o processo de produção, o que significa que seu trabalho fica separado perdendo a sua significação, embora “o processo é invisível para ele”. Mesmo na categoria de colarinhos brancos, isto também ocorre devido à impossibilidade de usar a razão individual, pela “centralização das decisões e a racionalização formal da burocracia” (p.243). O homem deixa de ser livre para criar, modificar e torna-se objeto de manipulação. O artesanato hoje, limita-se a um mínimo de profissionais liberais e intelectuais privilegiados (MILLS, 1969).

Marx e Engels já falavam no Manifesto Comunista (1948) que:

O desenvolvimento da maquinaria e a divisão de trabalho levam o trabalho dos proletários a perder o caráter independente e com isso qualquer atrativo para o operário. Esse se torna um simples acessório da máquina, do qual só se requer a operação mais simples, mais monótona, mais fácil de aprender. Em decorrência as despesas causadas pelo operário reduzem-se quase exclusivamente aos meios de subsistência de que necessita para a manutenção e para reprodução de sua espécie. Mas o

preço de uma mercadoria e, portanto, o do trabalho4, é igual ao seu custo

de produção. Logo à medida que crescem a maquinaria e a divisão de trabalho, cresce também a massa de trabalho, quer através do aumento das horas de trabalho, quer através do aumento do trabalho exigido num certo tempo, quer através da aceleração da velocidade das máquinas, etc. (MARX e ENGELS; 2004, p.52)

Acreditamos que numa sociedade capitalista, o direito ao trabalho apesar da perda de seu caráter independente e de atrativo para o operário, é um

(30)

daqueles mais sagrados do cidadão porque, sem ele , o indivíduo não tem acesso à alimentação, à habitação, à educação de bom nível, à assistência médica de qualidade, ao lazer, enfim, aos direitos sociais. É fundamental ter trabalho para que o indivíduo exerça seus plenos direitos à cidadania.

Para Chauí (1995), a origem da palavra cidadania ocorreu no período socrático ou antropológico. Com o desenvolvimento das cidades, do comércio, do artesanato e das artes militares, Atenas tornou-se centro da vida social política e cultural da Grécia, vivendo o seu período de esplendor. Foi a época de maior florescimento da democracia. A democracia grega possuía duas características importantes: igualdade de todos os homens adultos e livres perante a lei e o direito de todos os cidadãos participarem diretamente do governo da cidade, da pólis. Deve-se ressaltar que estavam excluídos da cidadania as mulheres, escravos, crianças, e velhos que os gregos chamavam de dependentes. Os estrangeiros também estavam excluídos. De outro modo, a democracia direta ou por eleição de representantes, garantia a participação de todos os cidadãos no governo e o que deles participavam tinham o direito de discutir, defender as suas opiniões sobre as decisões da cidade. Desponta a figura política do cidadão. Surge, a partir de então, a arte do saber falar e ser capaz de persuadir. Passar a existir os sofistas, mestres de oratória ensinada aos jovens.

Mas democracia hoje significa distribuição mais eqüitativa de renda. Não há democracia se o individuo não exerce os direitos sociais ou seja alimentação moradia, lazer, educação, saúde. Trabalho e a sobreviver com dignidade.

Para Marshall (1965), o conceito de cidadania é ditado pela história e não pela lógica e divide-se em três partes:

Estas três peças, ou elementos são;civil, político e social. O elemento

civil é composto dos direitos necessários para a liberdade individual, a

liberdade da pessoa, a liberdade do discurso, o pensamento e a fé, o

direito a própria propriedade, concluir contratos válidos, e o direito à

justiça. O último é de uma ordem diferente da outra, porque é o direito de defender e afirmar todos os direitos que são únicos em termos da igualdade devido à lei. Isto mostra-nos que as instituições associadas o mais diretamente com os direitos civis são as cortes de justiça. Pelo

elemento político eu significo odireito de participar no exercício do poder

(31)

elemento social eu significo a um bem-estar econômico e a segurança de viver a vida civilizada de acordo com os padrões que prevalecem na sociedade. As instituições conectadas ou mais próximas com esses

direitos são o sistema educacional e os serviços sociais.5 (Marshall, 1965,

p. 78-79).

Todos os direitos do cidadão brasileiro se acham assegurados pela Constituição. No entanto, muitas vezes, não são concretizados por falta de políticas públicas. Alguns têm acesso a quase todos os direitos, enquanto outros, a grande maioria, não, em virtude da inexistência de uma renda ou, quiçá, do salário abaixo do mínimo preconizado.

Para Covre (1995), ser cidadão significa não apenas ter direitos, mas também deveres, oriundos da Carta da Organização das Nações Unidas (ONU), 1948, das cartas de Direito dos Estados Unidos, 1776, e da Revolução Francesa, 1789, que apresentam como proposta de cidadania o fato de "que todos os homens são iguais ainda que perante a lei, sem discriminação de raça, credo ou cor” (p.17). Cabe a todos “o domínio sobre seu corpo e sua vida, o acesso a um salário condizente para promover a própria vida, o direito à educação, à saúde, à habitação, ao lazer” (p.17). E mais: “é direito de todos, poderem expressar-se livremente, militar em partidos políticos e sindicatos, fomentar movimentos sociais, lutar por seus valores. Enfim, ter uma vida digna de ser homem" (p.9). A autora ainda acrescenta que esses são os direitos do cidadão, mas que seus deveres também não devem ser esquecidos, ou seja, "de ter responsabilidade em conjunto com a coletividade", "cumprir normas", "fazer parte do governo direta ou indiretamente” (p.9) através do voto, de movimentos sociais. Ressalta que as pessoas pensam que a cidadania envolve apenas direitos e ficam desatentas ao fato de que elas próprias são agentes de mudança, pois podem apresentar propostas e preconizar igualdade de condições para todos os membros da sociedade, desde que empunhem como "arma" a Constituição.

Mas, exercer os direitos de cidadão e construir a cidadania torna m necessária a democracia. Chauí (1995) destaca que a democracia é o único regime político que permite a ocorrência de conflitos dentro de uma sociedade. Trabalha suas necessidades e interesses mediante as disputas entre partidos políticos e eleições, uma vez que os institui como direitos e os exigem respeitados. Os

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movimentos sociais e as associações permitem “um contrapoder social” que limita o poder do Estado. A democracia, por estar sempre aberta a novas formas de existência e transformações, objetiva a liberdade de trabalhar as diferentes concepções e ideologias6.

Refere-se, ainda aos principais obstáculos da democracia atual, ao fato de que a sociedade democrática se acha dividida em classes sociais, ou seja, ricos e pobres, com interesses conflitantes, embora a ideologia insista em afirmar que todos sejam iguais.

Nesta mesma direção, a autora mencionada enfatiza que nos países onde o capitalismo avançou, a exploração dos trabalhadores diminuiu, principalmente com o Estado do Bem-estar Social. A exploração recaiu nos países emergentes. A situação da democracia se tornou muito frágil nos dias atuais, conseqüente à produção capitalista, à economia flexível e à política neoliberal. Abandonou-se a política de Bem-estar Social (política que garante os direitos sociais), adotando a política de Estado mínimo, que afasta a interferência do Estado no planejamento econômico. Com novas tecnologias, automação da produção, velocidade da informação, comunicação e distribuição de produtos, houve grandes mudanças nas forças produtivas, alterou-se o processo de trabalho, conduzindo ao desemprego em massa, mesmo nos países de capitalismo avançado. Isto explica os movimentos contra imigrantes e migrantes e a “exclusão” social, cultural e política que está atingindo também os países emergentes, como é o caso do Brasil.

Desta maneira, a conquista obtida pelos trabalhadores de ter trabalho e direitos outrora, quando o capital se ampliava e reproduzia com absorção da mão de obra no mercado de trabalho, perdeu-se, e caminha-se para a sua marginalização, já que o mercado não carece de “massas trabalhadoras” e, portanto, não precisa manter os direitos sociais e econômicos dos trabalhadores e não necessita mais de seus serviços.

6 Chauí (1995) entende ideologia como manifestação das idéias e da consciência... A ideologia

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As economias mundiais têm passado por processo de transformação de paradigmas tecnológicos que se iniciam em economias avançadas para as menos desenvolvidas. Para entender a dinâmica da sociedade contemporânea e suas principais mutações no mundo do trabalho, faz-se necessário distinguir na história, o final do século XVIII, com a Revolução Industrial, na Inglaterra, como referência histórica da noção de trabalho criada na modernidade. É na virada do século XIX para o século XX que acontece o nascimento do taylorismo e no século XX o fordismo.

Uma análise retrospectiva faz-se necessária para melhor entendimento do acirramento da crise do desemprego no mundo global e de maneira mais acentuada nos países emergentes como o Brasil.

Os paradigmas do processo produtivo taylorista se firmaram em 1911, com a publicação de Taylor do seu livro: Princípios de Administração Cientifica. O fordismo se iniciou em 1914 e após a segunda guerra mundial em 1945, ocorreu a sua universalização, sendo aceito no mundo inteiro. Tais princípios implicavam em conhecimentos simples, de tarefas repetitivas, sem demandar elevado grau de qualificação. Taylor reduziu o homem a gestos e movimentos, sem capacidade de desenvolver atividades mentais, que após uma aprendizagem rápida, funcionava como uma “máquina”, sem necessidade de pensar. Desta forma, quase nenhuma qualidade intelectual do trabalhador era necessária. Isto causou resultados dramáticos com conseqüências humanas e sociais. O taylorismo gerou muitos empregos, mas degradou o trabalho.

Ford permitiu a produção em série, fabricar quantidades enormes de determinado produto padronizado. Seu esquema caracteriza va pelo trabalho ritmado, coordenado e econômico, produção em massa, através de maquinário, mão de obra e matéria prima padronizada, mas sem a preocupação das repentinas mudanças de mercado com suas flutuações, tanto no mercado nacional como no internacional. O fordismo teve seu ápice no período posterior à Segunda Guerra

Mundial, nas décadas de 1950 e 1960.

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foram os nomes dados a esta nova transformação: hipermodernidade; pós-modernidade. De qualquer maneira, o que estava marcada para os autores, era a passagem controlada da racionalidade instrumental, que sufocava singularidades para, provavelmente num momento seguinte, “emergir sinais de subjetividade e diferença” (NASCIMENTO, 1997, p.78).

Nas décadas de 70 e 80, as altas taxas de inflação e a crise do petróleo em 1973, levam ao colapso o sistema econômico, obrigando uma nova reestruturação para a sobrevivência das indústrias. São necessários novos tipos de mercados, outras áreas geográficas e mão de obra barata. Desponta um sistema inteiramente novo, distinto, confronto direto com o fordismo, denominado por Harvey (1992) de acumulação flexível. Este se apóia em novas formas flexíveis de atuação de processo de trabalho, de mercado de trabalho, de produtos e padrões de consumo.

Com o uso de novas tecnologias produtivas como os robôs, cria-se o gerenciamento de estoques em ‘just-in-time’, que diminui a redução física de armazenagem e adequada quantidade de material necessária à produção. Este tipo de gerenciamento surge no Japão na indústria automobilística, denominada de toyotismo7. Isto gera uma série de trans formações e desmembramentos no mundo do trabalho: desconcentração em unidades menores de produção e flexibilidade de contratos a favor de trabalho em tempo parcial, temporário ou subcontratado. Com a comunicação via satélite e compressão de tempo e espaço, favorece-se a diminuição dos custos com transportes, com transmissão imediata das decisões num espaço cada vez mais amplo. Estas mudanças na produção exigem aceleração do ritmo na inovação do produto e exploração de nichos de mercado altamente especializados em pequena escala e estabelecem um aumento de empregos no setor de serviços a partir dos anos 70. (HARVEY; 1992),

7 Não se trata aqui de uma revolução tecnológica, mas um aperfeiçoamento tecnológico ou uma

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Mas é necessário acelerar também o consumo, diminuindo a meia vida do produto. No setor de vestuários, por exemplo, a vida média diminuiu pela metade em relação ao tempo fordista, que era de cinco a sete anos. Outras manobras são feitas para aumentar o consumo, condução de modas fugazes e uso de artifícios que induzam a necessidade.

Todas estas características vieram refletir sem dúvida na empregabilidade, destacando-se dois tipos de trabalhadores: um que se ocupa na

posição central, que são “empregados em tempo integral” e “condição permanente”. “Possuem maior segurança”, boas “perspectivas de promoção e reciclagem”, “pensão”, “seguro” e outros salários indiretos. São altamente especializados devido a sua competência, capazes de compreender o processo de produção e a dinâmica do mercado; Tomam decisões rápidas e inovadoras. São pessoas adaptáveis, flexíveis e geograficamente móveis, ou seja, movimentam-se a qualquer lugar que for necessário; dominam a linguagem técnica dos computadores e falam vários idiomas. Estão aptos a trabalhar em várias partes do mundo. Compreendem todo o processo de trabalho e são capazes de tomar decisões rápidas dentro do mercado de consumo, o que exige conhecimento de economia e tendências de mercado. Acompanham a moda e são capazes de formar verdadeiros times, liderando trabalhadores (HARVEY, 1992).

O outro grupo, denominados periféricos, abrange dois subgrupos distintos: o primeiro formado por trabalhadores de tempo integral, cujas habilidades estão facilmente disponíveis no mercado de trabalho e podem ser substituídos por

máquinas ou outros trabalhadores. Trata -se de trabalho rotineiro executado por “pessoal do setor financeiro”, “secretárias” e “aqueles que executam trabalho manual menos especializado”. O segundo é formado por trabalhadores em tempo parcial, com contrato parcial de trabalho, subcontratado e com menos segurança de emprego. Numericamente são maiores, porém possuem menor segurança na sua empregabilidade. (HARVEY, 1992).

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Para Harvey (1992), estes arranjos flexíveis têm como mudança mais radical, o aumento da subcontratação e do trabalho temporário. 70% das firmas britânicas relataram este tipo de contrato entre 1982 e 1985. Tais mudanças acarretam efeitos maléficos quando se pensa em termos dos direitos sociais ,tais como: os direitos de pensão, níveis salariais, segurança no emprego, cobertura de seguro, (no Brasil, seguro- desemprego). Enfim, “torna-se clara a precarização do trabalho: os empregos estáveis dão lugar ao trabalho temporário, o tempo integral cede ao tempo parcial, com perda significativa de salário e nível de vida.” (Nascimento, 1997, 90), e pode-se acrescentar a perda dos direitos sociais do cidadão.

De outro modo, a subcontratação abre oportunidades para abrir pequenos negócios e o retorno a sistemas mais antigos, como trabalho doméstico artesanal e familiar. Há, da mesma forma, o florescimento de outros tipos de exploração de formas de trabalho e de produção, principalmente nas grandes cidades: Nova Yorque, Los Angeles, dominadas por grupos imigrantes. É o que assistimos em relação à subcontratação de mão de obra de bolivianos na indústria têxtil do bairro do Brás em São Paulo. Outro modo de subcontratação foi a exploração da força de trabalho das mulheres em tempo parcial, substituindo trabalhadores homens com melhor remuneração. A subcontratação, sem dúvida, permitiu atender a uma variedade maior de necessidades de mercado, produção de pequenos lotes e a superação do sistema fordista.

Novas experiências, nestas mesmas décadas, no domínio industrial começaram a tomar forma. A acumulação flexível leva a maciças fusões, alianças estratégicas em que se mantêm as marcas apesar das fusões, (Harvey; 1992), como as que ocorreram aqui no Brasil, Santander x Banespa, Sadia x Perdigão para citar apenas algumas. Isto traz, como conseqüência, a diminuição de postos de trabalho

e diversificações corporativas com unidades produtivas em locais mais baratos e a globalização da produção que desestrutura o mercado de trabalho.

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de pequenos negócios que agregam em torno de poderosas organizações financeiras ou de marketing. Nada é produzido diretamente, mas estas poderosas organizações transmitem ordens para um conjunto de produtores independentes. (HARVEY; 1992).

Estas transformações ocorridas no século XX de caráter global, (não só em uma determinada região ou nação) são comandadas por gigantescos blocos de capital atuando em diferentes setores, com produção em escala global, regional e em redes. Global porque “o capital, a matéria prima, o trabalho, a administração, a informação, a tecnologia e os mercados” que compõem à atividade produtiva, o consumo e a circulação estão organizados em escala global. Em rede, porque existe uma conexão entre os agentes econômicos, a produtividade gerada e a concorrência. Há uma rede global em interação entre redes empresariais. (CASTELLS, 1999) Estas empresas “não possuem mais nacionalidade” na afirmação de Corsi (1997, p.104). Seus interesses estão espalhados pelo mundo. Estabelecem políticas de vendas, pesquisas e planejamento dos investimentos. O capital tende a crescer num processo de desterritorialização com a formação de mercado fi nanceiro global.

Harvey (1992) aponta para dois novos movimentos utilizados nas últimas décadas do século XX, de grande importância a respeito da globalização: as informações precisas e atualizadas, uma nova “mercadoria muito valorizada” e a reorganização do sistema financeiro global.

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XVI, Francis Bacon: “Saber é Poder”. Dentro deste novo contexto, “a produtividade não é um objetivo em si”, comenta Castells (1999, p.119).

O uso de computadores e comunicações eletrônicas favorece a coordenação do fluxo de informações e o fluxo financeiro em “rapidez de tempo, espaço e moeda”. Harvey (1992) e Castells (1999) compartilham da mesma opinião: o tempo futuro vive no tempo presente.

Tudo isso atrelado com o crescimento do “empreendimentismo com papéis”, ou seja, obter lucros a partir da variação das moedas e taxas de juros, lucros financeiros, sem dar importância à produção de bens e serviços. Empresas e nações não buscam a tecnologia pela própria tecnologia, mas estão motivadas pelo lucro e aumento do valor de suas ações. A “lucratividade e a competitividade são os verdadeiros determinantes da inovação tecnológica e do crescimento da produtividade.” (CASTELLS; 1999; p.136). Marx, hoje não reconheceria mais a famosa fórmula D (dinheiro) ? M (mercadoria) ? D’ (dinheiro), (MARX, 1988, p.170), pois esta se encontra obsoleta. O dinheiro permite fazer dinheiro sem produção de mercadorias. A informação e o conhecimento sempre foram valorizados no crescimento da economia, mas diante deste novo paradigma, transformaram-se em um “gigante” que “possibilita que a própria informação se torne o produto do processo produtivo” (p.119). É uma terceira Revolução Industrial comparada a uma nova fonte de energia como a eletricidade e o motor a vapor. Considera-se pela primeira vez na história, um elemento fundamental: a mente humana como um elemento decisivo e uma força direta da produção.

De outro modo, Santos (2002) argumenta que, apesar de sua grande importância, a globalização não resulta somente da economia informacional, mas, de um conjunto de fatos e decisões políticas como o consenso de Washington8. Os Estados centrais e os demais países que o adotaram, o fizeram

8 O “Consenso de Washington” diz respeito, à visão americana sobre a condução política e

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com certa autonomia, demonstrando uma decisão política. “A globalização hegemônica é um produto de decisões de Estados nacionais. A desregulamentação da economia, por exemplo, tem sido um ato eminentemente político” (p.50), em que os Estados nacionais cedem às pressões do Consenso de Washington, embora os muitos que o adotaram, o fizeram por falta de alternativas. É fundamental lembrar que este ato não deixa de ser uma decisão política.

Concomitantemente, é neste processo de mundialização que a produção internacionaliza -se e a regulação deixa de ser nacional. O Estado abdica da sua função maior que é “controlar/limitar a desigualdade social“ (NASCIMENTO, 1997, p.84). E, consequentemente, a desigualdade aumenta. Além do mais, para fazer cumprir o consenso de Washington é necessário economizar, reduzir os gastos sociais, combater a i nflação e o déficit público. Isto leva à diminuição de investimento em saúde, educação, habitação e ao estreitamento dos direitos sociais do cidadão. A privatização das empresas estatais, outra regra do jogo, como ocorreu no Brasil com os serviços de telecomunicações e a Vale do Rio Doce, por exemplo, levou ao enxugamento do número de funcionários e aumento do desemprego e diminuição de postos de trabalhos nestas empresas, por terceirização de serviços. A desregulamentação dos mercados oprime as empresas nacionais que não conseguem competir com os preços das multinacionais. A globalização econômica, portanto, tem como traços principais, segundo Santos:

Economia dominada pelo sistema financeiro; investimento em escala global; processo de produção flexível e multilocais; baixos custos de transportes; revolução na economia da informação e comunicação; desregularão das economias nacionais; preeminência das agencias financeiras multilaterais; emergência de três grandes capitalismos transnacionais: o americano, baseado no EUA e nas relações privilegiadas deste pais com o Canadá, o México e a América Latina; O japonês, baseado no Japão e nas sua relações privilegiadas com os quatro pequenos tigres e com o resto da Ásia; e o europeu, baseado na União Européia e nas relações privilegiadas desta com a Europa de leste e com Norte de África.(SANTOS, 2002, p.29).

Vários autores, no entanto concordam: Resende (1997), Dowbor (1996,1997), Iannni (1997), Sposati (1997), Castells (1999), Santos (2002) que com o espaço no capitalismo, se globaliza, com universalização e deslocamento de

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procedimentos administrativos racional-legais, antes de competência quase que exclusiva do Estado nacional. A economia se globaliza enquanto os sistemas de governo perdem a sua governabilidade, sua autonomia e deixam de exercer sua função de modo soberano, com o papel regulador e coordenador do desenvolvimento econômico e social. Há reversão de suas competências para a gama de organizações internacionais e transacionais, portadoras de uma nova legitimidade e uma nova ordem como a ONU, a FMI, BIRD, a bolsa de Nova York, de Londres, de Tóquio ou as ONGs configurando-se na crise do Estado nacional. A soberania dos Estados mais fracos está ameaçada não pelos Estados poderosos, mas, sobretudo pelas agencias internacionais financeiras empresas multinacionais e transnacionais. É o “encolhimento” do Estado nos dizeres de Santos (2002). Precisamos com isso “construir uma alternativa ao individualismo e a concorrência ao neoliberalismo. Precisamos articular uma sociedade solidária, capaz de também construir formas de economia solidária.” (SPOSATI, 1997, P.46)

Resende (1997) afirma que a globalização é a perversa filha legítima do capitalismo cuja árvore é de tronco europeu com suas ramificações periféricas nas colônias. “É uma era planetária eurocêntrica que se afirma pela violência, destruição, escravidão e pela extorção feroz das Américas, da África, da Ásia e da Oceania. É uma mundialização de conflitos entre imperialismo concorrentes...” (p.31)

É Paulo Freire (1997, p.249-250) que clama em seu discurso quando fala da ética do mercado:

A liberdade do comércio sem limite é licenciosidade do lucro. Vira privilégio de uns poucos que, em condições favoráveis, robustece seu poder contra os direitos de muitos, inclusive o direito de sobreviver. (...) O desemprego no mundo não é, como disse e tenho repetido uma fatalidade. É antes o resultado de uma globalização da economia e de avanços tecnológicos a que vem faltando o dever ser de uma ética realmente a serviço do ser humano e não do lucro e da gulodice das minorias que comandam o mundo. (...) A um avanço tecnológico que ameaça a milhares de mulheres e de homens de perder seu trabalho deveria corresponder outro avanço tecnológico que estivesse a serviço do atendimento das vitimas do progresso anterior. (...) Não se trata, acrescentamos de inibir a pesquisa e frear os avanços, mas pó-los a serviço dos seres humanos.

De acordo com Rodríguez (2002), o impacto da globalização e os seus efeitos deletérios e excludentes tendem cada vez mais a acentuar o ”fosso crescente entre ricos e pobres”, em escala global, de Norte a Sul. Parece que a

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mensagem do capitalismo é a de que “pode [se] viver sem estas pessoas” como aponta o pensamento de Friedmann (1992). Sua participação na sociedade de consumo se reduz meramente a ”ver vitrines” no dizer de Moody (1997), ambos os autores, citados por Rodríguez acima.

Concorda-se com Rodriguez quando o mesmo menciona que a globalização vem aprofundar este problema, mas não é e nem pode ser o bode expiatório para todos os malefícios econômicos. Vários autores indicam que a globalização tem o poder de desestruturar mercados de trabalho e deixar uma população “a ver navios”, mas em compensação pode elevar o nível de vida de outras populações favorecidas por ela. Não se pode, portanto, afirmar que a globalização só oferece prejuízos sociais. Castells (1999) se refere a isto. “A nova economia afeta tudo e a todos, mas é inclusiva e exclusiva ao mesmo tempo; os limites da inclusão variam em todas as sociedades, dependendo das instituições, das políticas e dos regulamentos.” (p.203). Devido à globalização, as empresas são obrigadas a diminuir os seus custos, como vimos acima, e se vê obrigada a deslocar fábricas de um local para outro que encontre estas condições dimensionadas. Quando isto ocorre, deixa uma população “a ver navios” e, no entanto, permite que outra seja favorecida. Sposati (1997) vem corroborar com esta idéia e expressa: enquanto a China, por exemplo, dispõe de mão de obra barata, e acaba sendo favorecida por este processo, os americanos, tem visto reduzido os seus postos de trabalho.

Segundo alguns autores, o impacto tecnológico surgido com a globalização levou à resultados positivos: progressos ocorreram na área da saúde, na informação e outros e dessa maneira a globalização não pode ser de todo censurada. É necessário abandonar o negativismo da evolução afirma Miranda (2000), quando se tem o olhar retrospectivo e festejar alguns avanços alcançados: no passado as guerras eram a lógica do dia a dia; a escravidão era generalizada; as pessoas morriam de epidemias hoje totalmente controladas pela existência de vacinas, antibióticos; a longevidade alcança médias em torno dos 70 anos. Em contrapartida, Dowbor (1997), nos lembra não podemos nos esquecer dos seus malefícios: o transporte moderno leva a uma rede de distribuição de drogas que matam milhões de pessoas, as pesquisas de laboratório em genética avançam sem

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muito controle e regulamentação; armas letais são cada vez mais vendidas. Acrescenta-se a isto, a fabricação de armas biológicas; a técnica da agricultura de alimentos geneticamente modificados, os transgênicos, com efeitos na própria biodiversidade podendo interferir na segurança alimentar e no equilíbrio ecológico, sintetizando a falta de ética e solidariedade humana.

Santos (2002), e Castells (1999) tendem a reconhecer que a globalização produz assimetrias, é seletiva, e tem uma geometria variável, mas desestruturou a hierarquia econômica do mundo e pôs fim a idéia de divisão de paises do hemisfério norte e sul, na medida em que a novíssima divisão internacional de trabalho não ocorre entre paises, mas entre agentes econômicos e posições distintas na economia global. Esta é a grande diferença da economia global para a economia-mundo. Para Castells: ”uma economia global é algo diferente: é uma economia com capacidade de funcionar com unidade em tempo real, em escala planetária” (1999, p.142).

Estamos diante de uma nova estrutura internacional. Umas das mais dramáticas transformações da globalização econômica neoliberal está em concentrar a riqueza nas mãos das multinacionais. Das 100 maiores economias do mundo, quase 50% (47) são multinacionais. O comércio possui 70% de empresas multinacionais. Mais de um terço do produto industrial mundial é produzido por estas empresas e uma porcentagem ainda maior transita entre elas. O impacto dessas empresas em relação à desigualdade de classes em escala mundial tem sido amplamente discutido. Cerca de 1 bilhão e meio de pessoas, ou seja, um quarto da população mundial vive na pobreza absoluta9, com rendimento inferior a um dólar

por dia. Segundo relatório do Banco Mundial de 1995, nos países pobres onde vivem 85,2% da população mundial, detém-se 21,5% do rendimento mundial,

9 Pobreza absoluta: é entendida como a situação “em que se encontram membros de uma determinada sociedade de despossuídos de recursos suficientes para viver dignamente ou não que não têm as condições mínimas para suprir as suas necessidades básicas. Vida digna e necessidades básicas constituem sempre, definições sociais e históricas, variando, no entanto, no tempo e no espaço.” (NASCIMENTO, 2000, apud BORIN, 2003) No entanto Borin complementa: a pobreza com privação absoluta tem como referencial a renda necessária a manutenção biológica do individuo e está relacionada aos padrões mínimos de necessidades. No entanto a palavra “necessidade” contém uma cilada, e é “carregada de subjetividade”. Por estar relacionada a valores, cada cidadão tem uma necessidade.

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enquanto 14,8% da população dos paises mais ricos detêm 78,5% do rendimento mundial. Há 25 anos, a concentração de riqueza conseqüente à globalização naquele país líder deste modelo econômico, EUA, atingia proporções espantosas. No final na década de 80, 1% das famílias norte-americanas detinha 40% da riqueza do país e as 20% mais ricas detinham 80% da sua riqueza. (SANTOS, 2002)

O novo relatório do Banco assinala disparidades alarmantes entre a qualidade de vida nos países ricos e nos pobres. Enquanto sete de cada 1.000 crianças nos países ricos morrem antes dos cinco anos de idade, esse número eleva-se a 121 de cada 1.000 crianças nos países mais pobres. Enquanto 14 de cada 100.000 nascimentos vivos nos países ricos resultam em mortalidade materna, essa taxa pode atingir 1.000 mortes por 100.000 nascimentos vivos nos países pobres. E enquanto os países ricos atingiram a meta de educar todas as meninas no nível de primeiro grau, esse progresso fica muito atrás em lugares como o Sudeste asiático onde apenas 61% delas completam o ensino de primeiro grau. (BANCO MUNDIAL, 2003)

Segundo a Organização Internacional do Trabalho (OIT, 2006), há no mundo aproximadamente 180 milhões de pessoas em situação de desemprego denominado “aberto”, ou seja, aquelas que procuram emprego, mas acabam sem ter o que fazer. Um terço destas pertence à população jovem com faixa etária entre 15 a 24 anos.

Daniel Martinez, diretor geral da OIT na América e no Caribe, na Oficina Regional da OIT realizada em Lima em 2005, ao analisar as taxas de desemprego dos países da América Latina, afirmou que estes estão decrescendo. O desemprego vem afetando mais mulheres e jovens. (OIT, 2006). No entanto, informações da Pesquisa de Empregos e Desempregos (PED, 2006) realizada pelo SEADE e DIEESE, mostram que na região metropolitana de São Paulo, em março de 2006, houve um aumento do desemprego em relação ao mês anterior (fevereiro), de 16,3% para 16,9% quando se aborda o desemprego total10.

Em síntese, podemos perceber que as exigências atuais de empregabilidade são bem diferentes de outrora, por ocasião das sociedades industriais em que os trabalhadores do campo tiveram somente que aprender o funcionamento das máquinas e adaptar-se ao estilo de vida das cidades. No mundo

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global, os trabalhadores devem dominar a linguagem da informática e das máquinas de alta tecnologia, possuir raciocínio rápido e abstrato, ter iniciativa, ser criativos, competitivos, comunicativos, dominar demais idiomas, estar muito bem informados, além de ter que ser líderes para formarem verdadeiros times. Isto não se aprende nas ruas e não se adquire em escolas de baixo nível. É necessária uma educação transversal com abordagem transdisciplinar, desenvolvendo a criatividade do aluno, problematizando a realidade que o cerca, para que se possa ter uma boa inserção no mercado de trabalho.

O impacto da globalização tem demonstrado não só o crescimento do desemprego, a alta competitividade, bem como a deteriorização das relações sociais, perda da subjetividade de milhões de trabalhadores que foram substituídos por máquinas, o que permitiu melhores resultados com menores custos.

De outra maneira os que se encontram empregados não são, tão mais felizes. Henríquez argumenta as conseqüências que este tipo de economia traz. “Jamais o indivíd uo esteve tão encerrado nas malhas das organizações (em particular das empresas) e tão pouco livre em relação ao seu corpo, ao seu modo de pensar, à sua psique” 11 (HENRÍQUEZ; 1997 P.19). De outra maneira, Mills (1969),

já previa na década de 60 que o desenvolvimento do homem em uma só faculdade a custas de todas as outras causava o seu aprisionamento, o que fez A. Ferguson, o mestre de Adam Smith, dizer que não temos cidadãos livres, somos uma nação de ilhotas.

Hoje, exigem-se homens multiqualificados e multifuncionais, mas o “indivíduo continua preso às malhas da organização”. O homem em certas condições pode ‘ser criador de sua própria história e alcançar sua “autonomia”, a sua construção social é crer na sua vocação de homem livre e criador, mas se enganando, “preso a grades sutis” de outros homens que a isto reivindicam. (HENRÍQUEZ; 1997). Berman, ao falar da modernidade afirma “a sociedade moderna é um cárcere” em que “as pessoas que aí vivem foram moldadas por suas [próprias] barras. Somos seres sem espírito, sem coração, sem identidade sexual e pessoal - quase podíamos dizer: sem ser” apesar de parecer absurdo. São esses “homens massa” ou “homens ocos” que têm o direito não só de governar a si

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mesmos, mas a massa majoritária, ou seja, governar-nos (BERMAN, 1996, p.27). Mas, esta é uma outra discussão que delongaria muito tempo e que não é nosso propósito no momento.

Afirma-se, pois, que a economia atual atingiu níveis acentuados de crescimento, mas há disparidade entre países ricos e pobres. Dowbor (1997) aponta com clareza que o fato do desemprego não é devido mais à falta de crescimento econômico, mas do próprio crescimento econômico. O setor de ponta das empresas nobres multinacionais, que aplicam o “just-in-time”, reengenharia e outras, empregam 1,2 milhões no terceiro mundo contra 73 milhões de pessoas em todo o mundo. A população ativa no terceiro mundo é da ordem de 2,2 bilhões de pessoas. Abaixo do setor de ponta, cresce o desemprego precário, contando com a mão de obra terceirizada no setor de transportes, alimentação, garagens e outros. A empresa como a Nike contrata pessoas com salários ínfimos para que o setor de ponta da empresa apenas gere o produto.

Diante desta crise em que cada vez mais aumenta o desemprego e a desigualdade social, exigem-se novas formas de enfrentamento. A economia solidária não é uma panacéia. Segundo Singer:

É um projeto de organização socioeconômica por princípios opostos ao do Laissez faire: em lugar da concorrência, a cooperação, em lugar da seleção darwiniana pelos mecanismos do mercado, a limitação – mas não a eliminação! – destes mecanismos pela estruturação de relações econômicas solidária entre produtores e entre consumidores. (SINGER; 2003, p.9)

Há experiências bem sucedidas na indústria, na agricultura, que permitem sustentar uma nova alternativa para o capitalismo neste momento histórico de maneira prática.

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de ser algo de qualidade, ressaltando-se ínfimas exceções, pois não se investe neste país em educação e saúde.

Embora existam alguns programas federais, estaduais e municipais de políticas sociais que buscam criar um corpo de proteção social e prover condições para que indivíduos e famílias possam sair da situação de pobreza, muitas barreiras e desafios são enfrentados para a sua implementação e funcionamento. O primeiro deles é a própria situação econômica que o país enfrenta na atualidade. Estes programas, além de onerosos, requerem recursos que são escassos, ficam à mercê da vontade política do governante, da capacidade de enfrentar a politicagem dos adversários, bem como de inúmeros outros desafios. Moretto e Pochmann (2002) relatam o esforço estratégico vivido recentemente na Prefeitura de São Paulo, no governo da prefeita Marta Suplicy, referente à implantação dos programas de inclusão social, pois seu grande entrave é sua descontinuidade e falta de avaliação, o que produz pequeno impacto sobre a real situação: a pobreza.

Draibe e Henrique (1988), analisando a crise do Welfare State feita pela OCDE (1981), acreditam que as dificuldades enfrentadas são conseqüentes à crise econômica devido ao aspecto financeiro e fazem o seguinte questionamento: Estes programas sociais estariam promovendo maior equidade social? Faz-se necessário, portanto, reexaminar estas políticas no sentido de distribuição mais equilibrada frente à crise política e social e, de fato, orientar para a minimização da pobreza e desigualdades sociais. Mas, trata -se de uma discussão complexa que iremos aprofundar mais a frente. O que queremos ressaltar é que há uma parcela de estudiosos da ala conservadora que acredita que o Bem-estar Social (Welfare State) não passa de uma cilada, pois cria dependência e fomenta a ociosidade, a violência e o desemprego dos seus beneficiados. A crise de desemprego é gerada pela expansão dos gastos sociais excessivos que desestabiliza o Estado em vários aspectos, gerando o desequilíbrio do orçamento e aumento da inflação mediante a elevação de tributos, emissão de moedas ou encargos sociais. (DRAIBE e HENRIQUE, 1988)

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últimos 30 anos e eliminou a pobreza (pelo menos na forma na qual se revela no mundo, em 80%). O país investiu bilhões de dólares em programas sociais. Há muito tempo inexistem favelas e cortiços e há sistema público de saúde, educação e transporte eficientes. Ninguém sofre de falta de alimentação, abrigo ou vestimenta. O salário mínimo é de 1.300 euros. Mas, isto não foi suficiente para impedir a explosão de violência ocorrida em dezembro de 2005 nos bairros mais modestos da Paris que deixou cerca de 9.000 carros incendiados e causou prejuízos em torno de 500 milhões de euros. O quebra-quebra envolveu trabalhadores imigrantes e seus descendentes, camada mais pobre e desqualificada de jovens de origem mulçumana, sem nível de instrução e qualificação profissional que ocupa 30% a 40% contra 10% da média nacional em relação ao desemprego. É um país com liberdade econômica à iniciativa individual, mas é o Estado quem decide o que é melhor para o seu povo. Protege o emprego com leis que foram criadas há décadas e controla a concorrência entre empregados e empregadores. Tem como atividade econômica central as estatais e semi-estatais. Apesar de possuir políticas eficientes para diminuir as desigualdades, criou armadilhas que prendem o país nos dias atuais e entre a população estabelece-se uma profunda dependência do Estado. O modelo originou uma cultura antitrabalho, muitas greves e férias duas vezes por ano. Isto dificulta a expansão da riqueza e de empregos. ”O modelo francês, sem dúvida, deu certo para eliminar as diferenças. Mas, este sucesso tem se revelado insuficiente: as pessoas salvas da pobreza ficam congeladas numa situação da qual não podem sair”. (GUZZO, 2005, p.50)

Recentemente, em março de 2006, assistimos à revolta dos jovens franceses por ocasião do projeto de lei que impunha a não garantia dos benefícios sociais do trabalhador ao término do contrato de trabalho. (primeiro emprego). O governo francês não teve outra saída, a não ser, retirar o projeto de lei de votação.

Referências

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