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CIDADANIA EM CONSTRUÇÃO: POSSIBILIDADES E LIMITES NO PROCESSO DE “EXCLUSÃO”/INCLUSÃO

DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO POPULAÇÃO POR SEXO, RESIDENTE POR SETOR CENSITÁRIO, REGIÃO DO MORUMBI, SÃO PAULO,

3.4 A favela Real Parque

Constitui-se num polígono e é delimitada ao norte pela Conde de Itaguaí, ao sul pela marginal Pinheiros, a leste pela Duquesa de Goiás e a oeste pela rua Cezar Valejo. (Fotos, 1, 2, no texto 3, 5, 6 em anexo )

Conforme já se mencionou anteriormente, as informações aqui apresentadas foram extraídas via mapas cartográficos, (Mapa 3) baseados nas informações do IBGE (2000). Tais informações revelam que existem 650 domicílios, com 2.747 habitantes nesta área assinalada com a seguinte distribuição: 1% de habitantes da classe25 A, 4% da classe B, 14% da classe C, 67% da classe D e 13% da classe E. A classe dominante da favela é a classe D. A renda média mensal é de três salários- mínimos, sendo que o responsável pelo domicilio tem em média cinco anos de estudo e 35 anos de idade.

25 Foi utilizado o Critério de Classificação Econômica Brasil (2006), da ABEP (Associação Nacional de Empresas de Pesquisa) com base no levantamento Sócio-Econômico do IBOPE (2000)que estima o poder de compras das pessoas e famílias urbanas (apêndice 1) A classe A1 corresponde a classe A do Real Parque; A classe A2 corresponde a Classe AB do Real Parque; a Classe B1 corresponde a

classe B do Real Parque; a Classe B2 corresponde a Classe BC do Real Parque e as demais D e E

Em 2003, foi realizada uma pesquisa participante pelo Projeto Casulo, vinculado ao Instituto de Cidadania Empresarial, que trouxe à lume outros dados. Há um número maior de domicílios, ou seja, 821 domicílios na favela: 63 no alojamento, 489 nos apartamentos do Cingapura, somando-se um total de 1.373 residências com 4.314 moradores. A média de moradores por domicílio é de 3,9 pessoas. Em relação à escolaridade do responsável, apontam-se os seguintes dados: 39% estudou até a 4.a série do ensino fundamental; 33% até a 8.a série; 16% , analfabetos e 1% , o nível universitário.

Deixando de lado estas divergências de cunho estatístico, o que se quer priorizar é que coexiste lado a lado uma população cuja diversidade de renda e de escolaridade é insofismável.

Segundo o relatório do PNUD, o índice de qualidade e de força de trabalho aumenta com o número de anos completos de escolaridade do trabalhador. Segundo estes dados, o índice do Brasil, diante dos países latino-americanos, é anacrônico. Há apenas dois países com índices semelhantes: Bolívia e Honduras, cuja população apresenta em média quatro anos de escolaridade. A média brasileira é duas vezes menor àquela do Cone Sul. De outra maneira, é preciso salientar que, na atualidade, diante da economia neoliberal e flexível, não basta ter anos de escolaridade, mas sua atualização contínua, aliada à capacidade de resolver problemas, a partir do conhecimento. É a questão da educação, já citada anteriormente, “o aprender a aprender” e rejeitar o analfabetismo funcional26 que leva a empresa a ter prejuízos enormes. Para que o analfabetismo funcional se erradique só existe uma saída: educar e treinar para a qualidade. Segundo o Indicador de Analfabetismo Funcional (INAF, 2006), é questionável se quatro anos

26 Segundo o professor e Consultor de Empresas para Programas de Engenharia da Qualidade, Antropologia Empresarial e Gestão Ambiental, Paulo Augusto Botelho: Analfabetismo Funcional não se trata de pessoas que não sabem ler, escrever e contar; mas daquelas que não conseguem compreender a palavra escrita e nem pensar. Os manuais de procedimento são ignorados e os computadores provocam arrepios. Preferem ouvir explicações verbais de colegas e diante do chefe – isso quando ele é um chefe – fazem de conta que entendem tudo mas posteriormente saem perguntando como deve ser realizado o serviço. Agem por tentativa e erro. Calcula-se que existam no Brasil, aproximadamente 70% deles na população economicamente ativa e no mundo há em torno de 800 e 900 milhões deles. Geralmente, são pessoas que têm até o quarto ano de ensino fundamental, mas podem-se encontrar pessoas com nível de cargos-chaves em empresas públicas ou privadas. Elas não possuem habilidades de leitura compreensiva, escrita e cálculo para fazer frente às necessidades de profissionalização e tampouco da vida sócio-cultural. Disponível em: <www.paulobotelho.com.br>. Acesso em: 26 fev. 2006, às 22h00min.

de escolaridade garantem o alfabetismo funcional. O conceito é relativo, pois depende das demandas de leitura e escrita colocadas pela sociedade. Na América do Norte e na Europa, tomam-se oito ou nove anos como patamar mínimo para se atingir o alfabetismo funcional.

Considerada a questão do analfabetismo funcional, que atinge a população brasileira, fica clara a “exclusão social” a que estão submetidos estes moradores. O que se costuma historicamente destacar são as carências materiais, tais como: insuficiência de renda, fome, desemprego, todas proeminentes, mas não as mais cruciais, pois dentre elas encontra-se a “exclusão” de caráter político. Neste contexto, busca-se apoio novamente nas palavras de Demo:

Politicamente pobre é pessoa que sequer consegue saber que é pobre.

Quer dizer, não há pobreza mais comprometedora do que a ignorância representando esta situação de mais grave indignidade social. A rigor trata-se do pobre que não tem ‘oportunidade’ de sair da pobreza, porque ainda é apenas ‘objeto’ dela. Pobreza é fazer a riqueza do outro, sem dela participar. É vangloriar da opulência do patrão sem perceber que ela foi, pelo menos em parte, injustamente apropriada. O pobre não tem como sair da pobreza, se não descobrir criticamente que é injustamente pobre. (...) Passar fome é problema social muito comprometedor, mas não saber que se passa fome injustamente é o que torna a fome fonte de privilégios históricos. Portanto a fome sinaliza menos uma situação de carência de alimentos, do que sua apropriação injusta. De fato, produzir alimentos não é mis problema tecnológico, importante. A humanidade teria facilmente o desconforto da obesidade, do que da magreza. Se maiorias passam fome, é porque, de um lado, a fome é politicamente mantida por razões de apropriação injusta da riqueza, e, de outro já não é possível produzir a necessária riqueza de maneira sustentável (2002, p. 97).

Portanto, é a educação com qualidade que pode construir um sujeito emancipatório, isto é, que saia da alienação e da ignorância através da inclusão na política, conquistando a cidadania pessoal sem descriminação.

O Censo do IBGE (2000) afere que aproximadamente 31% das mulheres da favela Real Parque são chefe de família. Na pesquisa de mestrado, desenvolvida pela autora deste trabalho, na favela Real Parque este dado já havia se confirmado. Verificou-se que a maioria dos sujeitos (mulheres no climatério) estava sem companheiro e atuava como chefe de família devido a mudanças no relacionamento com o companheiro. Alguns meses após o casamento, estas, na maioria das vezes, associam-se ao alcoolismo. O companheiro/marido ou o ex- companheiro eram referidos com sentimentos de ódio, mágoa, insegurança, solidão,

decepção e rejeição. Desta maneira, “acabavam vivendo sozinhas”. Trata-se de uma “significação cristalizada” ligada à situação de gênero e classe. (MIRANDA, 1996).

Os dados da favela Real Parque mostram uma densidade populacional altíssima de 27.584 hab/Km2, diagnosticando que a maioria dos barracos é de pequenas dimensões, apinhado, além do fato de que os moradores do Cingapura vivem em prédios que possuem quatro andares, o que contribui para que este dado seja tão elevado. Os domicílios concentram, em média, 4 pessoas residentes, com uma distribuição de 0,22% de banheiros por habitante.

Os dados da pesquisa participante, realizada pelo Projeto Casulo (2003), mostram que os responsáveis pela família são em quase a sua maioria (63,7%) de nordestinos, advindos principalmente de Pernambuco, que chegam à capital de São Paulo em busca de novas oportunidades de trabalho. No geral, são assim distribuídos: 25,2% são de Pernambuco; 17,8%, da Bahia; 8,1%, da Paraíba; 6,5%, do Ceará; 3,4%, de Alagoas e 2,7%, do Maranhão. Apenas 15,5% são oriundos da cidade de São Paulo; além de 12,7% procedentes de Minas Gerais e 8,1% provenientes de outros Estados ou de locais desconhecidos. Acredita-se que tais dados refletem melhor a realidade por terem sido obtidos por jovens da comunidade, através de pesquisa participante.

É interessante se observar que os moradores da favela são em sua maioria do nordeste, região em que o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é de 0,6 em Pernambuco e Rio Grande do Norte, que ocupam a 116.ª a 117.ª posições atrás da Guatemala, Bolívia, El Salvador e Honduras; Maranhão se encontra entre a 124.ª e a 125.ª posições; e Ceará na 126.ª posição; Piauí e Alagoas, nas 127.ª e 128.ª posições. O último lugar é ocupado pela Paraíba, com um IDH abaixo de 0,5, correspondendo a uma posição inferior à 131.ª. Cabe ressaltar que o Brasil, em 1995, ocupava a 63.ª posição, com um IDH de 0,804 que, se comparado ao do Canadá, que ocupa a 1.ª posição com IDH 0,950, a distância é considerável (DEMO, 1996).

Nesta mesma investigação (do Projeto Casulo), foram apontados os principais problemas da favela pelos depoentes: a falta de emprego, 17%; a questão das drogas, 15%; problemas com segurança, 11%; saúde, 10%; limpeza pública,

9%; habitação, 9%; alcoolismo, 8%; lazer, 8%; transporte, 6%; escola. 6%; e outros 1%. Ao indagar à comunidade quem pode resolver os problemas, 40% acreditam que é o poder público, mas a maioria, 48%, crê que é a própria comunidade, organizada através de movimentos sociais, que deve encontrar a solução para a construção da cidadania. Mas, apesar da consciência política, não existe o envolvimento das pessoas, pois 73% dos entrevistados não possuem ninguém da família que tenha participação social-comunitária. (INSTITUTO DE CIDADANIA EMPRESARIAL, 2003)

Demo (2001) refere-se à “constrangedora miséria política” em que o país está submergido. De fato, quanto à filiação, nas regiões metropolitanas do Brasil, apenas 14,5% são filiados aos sindicatos e 10% a órgãos comunitários, o que demonstra que a cidadania organizada é extremamente frágil, contando com poucos militantes que batalham pelos direitos à cidadania. Por isso, percebe-se que a insuficiência de renda está associada à injustiça histórica, responsável pela desigualdade que permeia a sociedade.

O principal lazer da favela é ouvir música, encontrar com os amigos, ver TV e praticar esportes (INSTITUTO DE CIDADANIA EMPRESARIAL, 2003).

3.4.1 Indicadores dos Programas Sociais, na favela Real Parque

Para aprofundar os dados a respeito dessa população marginalizada (1.318 pessoas) procurou-se analisar os indicadores dos programas sociais, “Renda Mínima”, “Bolsa Trabalho” e “Começar de Novo” com base em um levantamento realizado pela Prefeitura Municipal de São Paulo , em junho de 2003. Os dados revelam o seguinte:

Há na favela Real Parque uma população de 4.314 habitantes (Casulo, 2003), sendo que 1318 pertencem ao Programas Sociais acima citados, perfazendo um porcentagem de 30,55% de adesão aos mesmos., destacando que a idade desses indivíduos oscilou entre 17 e 48 anos.

GRÁFICO 5

DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO O SEXO, DOS PROGRAMAS SOCIAIS DOS