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Escoamento Sanitário 86,90%

DISTRIBUIÇÃO SEGUNDO O DESTINO DO LIXO NOS PROGRAMAS SOCIAIS DOS MORADORES DA FAVELA DO REAL PARQUE, SÃO PAULO,

III. Participação da comunidade 31 (BRASIL, 1988)

4.1.1. a Conselhos Comunitários em São Paulo

Para Gohn (2000), aparecem três tipos de conselhos no século XX no cenário nacional. Os conselhos comunitários, criados para participarem da administração municipal, no final dos anos 1970; os populares, que surgem dos movimentos populares e setores organizados da população; os institucionalizados, que participam da gestão publica criados através do ato do legislativo que são os conselhos gestores e o conselho de representantes previsto pela lei Orgânica Municipal de São Paulo . (GOHN, 2001)

Os conselhos comunitários, em São Paulo, partiram de setores organizados da sociedade, administradores e governos. Criados em 1960, foram propostos por Adhemar de Barros no Governo do Estado de São Paulo. (GOHN, 2001)

Em 1979 foram criados pela Prefeitura do Município de São Paulo, conseqüente às mobilizações sociais e políticas, os conselhos comunitários. O então prefeito da época, Reynaldo de Barros, cria o Conselho Comunitário denominado na época de “forças comunitárias”. (GOHN, 2001)

Em 1984, no governo Montoro, foram criados os Conselhos na Secretária da Família e Bem Estar Social (FABES), com o objetivo de criar canais de participação popular. Teve-se nesta época a preocupação de não institucionalizá -los para que os grupos se pudessem expressar com naturalidade e espontaneidade. (GOHN, 2001)

Os Conselhos Populares (CPs) surgiram em oposição ao regime militar pelo partido de esquerda e tinham como núcleo central a participação popular. Eles surgem como um espaço de organização dos movimentos sociais de massa, não exclusivamente sindicais, nem político-partidários. Vale ressaltar dois exemplos significativos: o Conselho Popular de Campinas, no início dos anos 1980 e o da zona leste de São Paulo criado em 1976 pelos sanitaristas dos postos de saúde articulados ao partido comunista da região e as CEB. (GOHN, 2001)

Os conselhos gestores têm como papel mediar a relação entre a

sociedade e o Estado e representa a participação da população, estabelecida de maneira concreta pela Constituição Federal e pela Lei Orgânica no 8080. Implica no planejamento das ações de saúde com a participação dos usuários, movimentos sociais, funcionários e poder público. Tem como papel elencar prioridades a partir das dificuldades sentidas em seu meio ambiente, a construção de um planejamento conjunto, com ênfase na discussão das prioridades, levando o gestor sempre a repensar sua prática, fazendo os ajustes necessários para um atendimento com qualidade. A sua importância é reconhecida de forma oficial, pois, como já vimos anteriormente, o repasse financeiro de verbas federais só poderá ocorrer aos estados e municípios a partir da existência dos conselhos, legislação em vigor desde 1996. Devemos estar atentos que estes são diferentes dos conselhos populares, porque estes últimos são constituídos apenas por representantes da sociedade civil, não tendo seu papel oficializado junto ao poder publico. Estes deveriam funcionar como fontes de captação das reivindicações da população em geral, e depois repassadas ao Conselho Gestor para as possíveis negociações. No entanto, na prática isto não ocorre devido os diferentes interesses políticos, que acabam cindindo o objetivo comum.

Para que haja implantação dos conselhos de saúde há necessidade de sua regulamentação por leis estaduais e municipais. No município de São Paulo, o decreto no 42.005 regulamenta a lei 13.325 de 8 de fevereiro de 2002, que dispõe sobre a organização de conselhos gestores do Sistema Único de Saúde. Os conselhos Gestores de unidades de saúde têm composição tripartide, com no mínimo 4 (quatro) e no máximo 16 (dezesseis) membros e o mesmo número de suplentes (SÃO PAULO, 2002) sendo 50% de representações de usuários, 25% de representantes dos trabalhadores de saúde e 25% de representantes da direção da unidade respectiva.

Competem aos Conselhos Gestores, observadas as diretrizes do Sistema Único de Saúde: Não só propor como também acompanhar, avaliar e fiscalizar os serviços e as ações de saúde prestada à população, bem como solicitar informações de caráter técnico administrativo, econômico, financeiro e operacional, relativas à respectiva unidade, acompanhar o orçamento participativo; participar da elaboração e do controle da execução orçamentária; definir estratégias de ação

visando à integração do trabalho da unidade aos Planos locais, regionais, municipal e estadual de saúde, assim como os planos, programas e projetos intersetoriais. (SÃO PAULO, 2002)

Como podemos observar, os Conselhos Gestores, popularmente ditos Conselhos de saúde, têm caráter deliberativo e atuam propondo medidas que visam aperfeiçoar o planejamento de saúde, e acompanham a sua organização fazendo uma constante avaliação e controle. Mas não é só isso, eles deverão acompanhar o orçamento econômico financeiro e operacional e participar da elaboração e controle da execução orçamentária; além disso, devem ter acesso a todas as informações neste nível. A eles deverão ser encaminhadas todas as reivindicações, queixas e denúncias que deverão ser averiguadas e respondidas. Em relação às Conferências de Saúde estas têm caráter consultivo.

A transformação social ocorre quando o sujeito perde a sua atitude solipsista para tornar sujeito coletivo, cuja ação se dá através da participação popular. Isto garante o despertar da consciência que através das lutas lhes asseguram o exercício da cidadania. A própria ação de discutir os problemas em roda, refletir, é válida na construção da subjetividade, mesmo que isso não reverta concretamente no resultado pretendido. A construção da auto-estima vai se dando a partir de pequenas lutas, que se concretizam e se substanciam operando mudanças subjetivas graduais e crescentes em que renasce o sentimento de esperança, “que as coisas podem mudar...” apesar das dificuldades.

A institucionalização dos movimentos populares (Conselhos Gestores) na gestão do SUS coloca em sua legalidade o planejamento, acompanhamento e fiscalização da execução das políticas de saúde, que, sem dúvida, é um avanço na adoção de medidas que possam interferir na gestão. No entanto, há uma série de criticas a este respeito. Eles realmente cumprem este papel consultivo e/ou deliberativo? O próprio papel dos conselheiros na prática não está bem definido. Desta maneira, muitas vezes eles se perdem em sua atuação e não sabem até que ponto podem operar e onde encontram os seus limites. No Município de São Paulo, na gestão de 2000 a 2004, várias capacitações foram feitas para sanar esta lacuna. De outra maneira observamos que muitos gestores de Saúde, e até alguns na escala de gestão municipal de demais Municípios, não

encaram a participação popular como algo pertinente, tendo-a como perda de tempo ou um sério obstáculo à sua governabilidade. São consciências dominadoras, reflexos da ideologia burguesa e da política neoliberal, em que o Estado deixa de ser um promotor de Bem Estar Social para cumprir as metas definidas pelo Fundo Monetário Internacional e Banco Mundial.

Cabe ao gestor local atenção a todo este percurso histórico, bem como à realidade contemporânea a fim de que se construa um fazer em saúde com a comunidade, potencializando seus recursos, sua capacidade instalada (seja individual, familiar ou coletiva), acrescendo aí a questão do “cuidar em saúde responsável”, tanto por parte do individuo, dos grupos, da família e/ou da comunidade. Mais do que garantir acesso e direitos já estabelecidos por lei, há outras demandas as quais o serviço de saúde precisa estar atento, até por conta do próprio alargamento do conceito de saúde. Questões como: emprego, renda, lazer, habitação, transporte e outros, são agregados aos interesses da participação popular em saúde. Falamos daí de desafios da contemporaneidade.

Embora o Conselho Gestor represente importante canal de expressão das lutas populares, de caráter deliberativo, na viabilização das políticas sociais e esteja amparado em forma de lei pela nossa Carta Magna, segundo as palavras de Gohn (2001), alguns analistas desacreditam nos mesmos, como participação ativa e real. A pesquisadora chegou a pensar que esta falta de motivação e interesse, estivesse focalizada na descrença do seu real impacto quanto à resolução dos problemas.