• Nenhum resultado encontrado

Mana vol.4 número1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Mana vol.4 número1"

Copied!
24
0
0

Texto

(1)

BRUBAKER, Rogers. 1996. Nationalism Reframed. Nationhood and the Natio-nal Question in the New Europe. Cam-bridge: Cambridge Universit y Press. 202 pp.

Adriana Villalón

Dou tora n d a , PPG AS-M N -UFRJ

O n ú cle o d e N ation alism Re fram e d é a a n á lise d os p roce ssos e tn ocu ltu ra is q u e coloca m e m q u e stã o o con ce ito ocid e n ta l, p olíticote rritoria l, d e n a cion a lid a -d e . Estu -d a n -d o situ a çõe s com p le xa s – q u e tê m com o p a n o d e fu n d o d e sd e m i-g ra çõe s m a ciça s a té sim p le s m u d a n ça s n a s a d m in istra çõe s d os Esta d os, p a s-sa n d o p or b ru sca s tra n sform a çõe s n a s re la çõe s d e força e n tre a s a n tig a s e a s n ova s n a çõe s –, o livro a n a lisa a s sin g u -la rid a d e s d a s n ova s con fig u ra çõe s d o e sp a ço p olítico e u rop e u g e ra d a s p e la d e sa rticu la çã o d a Un iã o Sovié tica , Iu g oslá via e C h e coslová q u ia , e su a s con e xõe s e stru tu ra is com a q u e d a , n o e n tre -g u e rra s, d os Im p é rios O tom a n o, H a b s-b u rg o e Rom a n ov.

Bru b a k e r d irig e su a s a rm a s con tra a lite ra tu ra q u e su b sta n cia liza o te rm o n ação, se ja com o ca te g oria a n a lítica , se ja com o u m a e n tid a d e d a d a . Prop õe , a ssim , u tiliza r a n oçã o d e n ation com o u m a ca te g oria d e p rá tica s, n ation h ood com o u m a form a in stitu cion a liza d a e n ation n e ss com o u m p roce sso lig a d o a e ve n tos, d e ixa n d o a id é ia d e th e n ation ,

com o u m a com u n id a d e e stá ve l, p a ra os n a cion a lista s (:22). Essa e stra té g ia se in sp ira , p or u m la d o, n a s con ce p çõe s d e Bou rd ie u – a o ob se rva r a in cid ê n cia d a s p rop rie d a d e s d o ca m p o p olítico n a d in â m ica d o n a cion a lism o e a o su g e -r i-r q u e n ação se -re fe -re ta m b é m a u m e sq u e m a cla ssifica tório – e , p or ou tro, a p óia se e m re p re se n ta n te s d o ch a m a -d o “ n ovo in stitu cion a lism o” n a sociolog ia , com o Pow e ll e Di M a sociolog sociolog io, re fle tin -d o sob re o m o-d o com o a s n a çõe s e os in te re sse s d os a g e n te s sã o con stru íd os in stitu cion a lm e n te . É n e sse se n tid o q u e p od e se r com p re e n d id a a su b stitu içã o d a cé le b re p e rg u n ta d e Re n a n (re tom a d a , e n tre ou tros a u tore s con te m p orâ n e os, p or G e lln e r) “ o q u e é u m a n a -çã o?” , p e la in d a g a -çã o a re sp e ito d os m e ca n ism os p or m e io d os q u a is a n atio-n h ood se iatio-n stitu cioatio-n a liza com o form a cu ltu ra l e p olítica n os Esta d os. Bu sca n -d o in sp ira çã o e m a u tore s com o Sa h lin s e Se w e ll J r., Bru b a k e r rom p e com tod o tip o d e d icotom ia ríg id a , e n fa tiza n d o o a sp e cto fra g m e n tá rio e e fê m e ro d os m ovim e n tos n a cion a is, q u e con d u ze m a n te s a sú b ita s crista liza çõe s d a n ation n e ss e d a n ation h ood d o q u e a se u d e -se n volvim e n to g ra d u a l.

C a d a ca p ítu lo d o livro re tra ta u m jo-g o d e re la çõe s e d e con tra p osiçõe s e ntre os n ovos Esta d os n a cion a is su rg id os d os im p é rios m u ltin a cion a is d o e n tre g u e r-ra s e su a s vin cu la çõe s com o m a p a p olí-tico e u rop e u d os a n os 90. A te se p rin ci-p a l é a d e q u e a n oçã o d e n ation h ood

(2)

se rve p a ra com p re e n d e r a s e xp e riê n -cia s d os Esta d os n a cion a is ocid e n ta is, m a s n ã o a q u e la d a Eu rop a O rie n ta l e C e n tra l, n a s q u a is re fe rê n cia s cog n itva s in con g ru e n te s e d ife re n te s p ossib i-lid a d e s d e n ation h ood a tra ve ssa m os te rritórios e a e stru tu ra in stitu cion a l d os Esta d os. N e sse s ca sos, a n a çã o n ã o d e -p e n d e ria – n e m ca u sa l n e m con ce itu a l-m e n te – d o Esta d o te rritoria l, l-m a s se ria u m a com u n id a d e e tn ocu ltu ra l in d e -p e n d e n te e tra n sce n d e n te a e le .

Bru b a k e r e stu d a e ssa s d isp a rid a d e s m e d ia n te u m a d e scriçã o d o sin g u la r re g im e d e n a cion a lid a d e sovié tico n o e n tre g u e rra s. C om u m fe d e ra lism o e tn o te rritoria l n o q u a l a s re p ú b lica s p orta -va m , sim u lta n e a m e n te , d u a s d e fin içõe s in com p a tíve is d e n ation h ood (u m a p olí-tico-te rritoria l e ou tra e tn ocu ltu ra l, q u e fu n cion a va m com o re fe rê n cia p e ssoa l e com o form a d e org a n iza çã o d a p op u la çã o p e lo Esta d o), e com a n a cion a lid a -d e ru ssa -d om in a n te con trola n -d o a s in s-titu içõe s-ch a ve d o Esta d o, a URSS cu ltivou q u a se Esta d os e m u m p la n o su b -e sta ta l. El-e s p ossu ía m tu d o (l-e g isla tu ra , a d m in istra çã o, in te llig e n tsia, in stitu i-çõe s cie n tífica s, lín g u a , e scola ), m e n os o con trole d o g ove rn o. O cola p so n os a n os 90 te ria sid o g e ra d o, e n tre ou tra s ra zõe s, p e la a m p lia çã o d o e sp a ço p olítco, n a é p oca d e G orb a ch e v, q u e p e rm itiu a “ crista liza çã o” d e sse s q u a se Esta -d os q u e e sta va m con ti-d os -d e n tro -d a URSS.

Trê s p a re s d e con ce itos, se m p re e m re la çã o te n sa , p e rm e ia m tod o o livro, con stitu in d o a b a se d a a n á lise e a b rin d o p ossib ilid a d e s orig in a is d e in te rp re -ta çã o: n ation aliz in g s-tate e n ation ali-z in g n ation alism , h om e lan d state e h o-m e lan d n ation aliso-m e n ation al o-m in ority e n ation alism of m in oritie s. C om a in -te n çã o d e e vita r q u a lq u e r p ossib ilid a d e d e su b sta n cia liza çã o d e ssa tría d e , Bru -b a k e r in se re ca d a con ce ito n o ca m p o

d in â m ico d e lu ta s viole n ta s e d e con -corrê n cia s e n tre a g ê n cia s e sta ta is, p a r-tid os p olíticos e ou tros a g e n te s socia is, d e n tro e fora d o Esta d o.

O s n ovos Esta d os n a cion a is sã o, p a -ra Bru b a k e r, n ation aliz in g state s; sã o p rod u tore s d e m ovim e n tos n a cion a lis-ta s n o in te rior d e se u s te rritórios, in vo-ca n d o d e m a n d a s p róp ria s e m n om e d e u m n ation al core d e fin id o e m te rm os e tn ocu ltu ra is, d ife re n cia d o d a cid a d a -n ia e , a o m e sm o te m p o, m e -n or d o q u e e la . Esse s n ovos Esta d os, com o a q u e le s su rg id os d e p ois d o cola p so d a URSS, p rocu ra m com p e n sa r é p oca s p a ssa d a s d e d iscrim in a çã o, p rom ove n d o a p róp ria lín g u a e a cu ltu ra , b e m com o a h e -g e m on ia p olítica sob re a s m in oria s q u e e le s a g ora p a ssa m a p ossu ir.

Em con tra p osiçã o a o n ation aliz in g n ation alism , o a u tor e xa m in a os m ovi-m e n tos n a cion a lista s “ tra n sfron te iriços” d os h om e lan d n ation alism vin cu -la d os a os h om e -lan d state s. As e lite s d e sse s Esta d os con sid e ra m q u e tê m d i-re itos e i-re sp on sa b ilid a d e s, n ã o só e m re la çã o a os se u s cid a d ã os, m a s ta m b é m e m re la çã o a os se u s “ co-n a cion a is é tn icos” q u e a li m ora va m e q u e a g ora fica -ra m com p re e n d id os d e n tro d e te rritó-rios d e n ovos Esta d os. Um a e la b ora d a e n g e n h a ria in te rn a cion a l su p e rvision a e p rote g e os d ire itos d os co-n a cion a is é tn icos. Aq u i, a n a çã o va i a lé m d a cid a -d a n ia e -d o te rritório e sta ta l, o q u e p e r-m ite coloca r q u e stõe s sob re os lir-m ite s d o d ire ito in te rn a cion a l e d a sob e ra n ia d o Esta d o. Por ou tro la d o, a m b a s a s for-m a s d e n a cion a lisfor-m o (h ofor-m e lan d e n a-tion aliz in g ) p od e m ocorre r d e n tro d e u m m e sm o Esta d o: a Sé rvia con d u ziu u m n ation aliz in g n ation alism p a ra os a lb a n e se s e m Kosovo e u m h om e lan d n ation alism p a ra os sé rvios n a Bósn ia e n a C roá cia .

(3)

fo-g o cru za d o d e d ive rsa s d e m a n d a s te rritoria is. Essa s m in oria s (g ru p os se m d e -lim ita çã o cla ra , q u e n ã o se p e rce b e m n e m sã o p e rce b id os com o h om og ê n e os) a tra ve ssa m , com su a s e xig ê n cia s p ró-p ria s, a s te n sõe s e n tre a s d e m a n d a s d o h om e lan d state , a o q u a l su p osta m e n te p e rte n ce m p or a fin id a d e é tn ica , e a s d o n ation aliz in g state , a q u e p e rte n ce m p or cid a d a n ia le g a l. Por ou tro la d o, o a u tor m ostra com o o e sforço d e h om e -lan d state s (com o Sé rvia , Tu rq u ia e Bu l-g á ria ) p a ra m ob iliza r se u s “ co-é tn icos” (sé rvios, tu rcos e b ú lg a ros) é a ou tra fa ce d os n ation aliz in g state s (com o C roá -cia , H u n g ria e Rom ê n ia ), re p re se n ta d os com o in im ig os e op re ssore s. Ao m e sm o te m p o q u e e ste s ú ltim os a cu sa m a s m i-n oria s q u e se a b rig a m e m se u te rritório d e se re m “ d e sle a is” , critica m os h om e lan d state s vizin h os d e se re m irre d e n -tista s e in va sore s.

As con se q ü ê n cia s d a tra n sform a çã o d a s “ e tn ia s titu la re s” e m “ m in oria s” , n os Esta d os q u e e n tra ra m e m cola p so, p od e m se r d ife re n te s, con form e se tra te d e com u n id a d e s p op u la cion a is q u e e x-p e rim e n ta m e ssa situ a çã o com o u m a m u d a n ça b ru sca d e statu s (p or e xe m -p lo, os 25 m ilh õe s d e ru ssos q u e se torn a ra m m itorn oria d e torn tro d os torn ovos Esta -d os p ós-URSS), ou -d e com u n i-d a -d e s q u e n ã o se se n tira m d ire ta m e n te a tin g id a s p or e sse s p roce ssos (com o os a le m ã e s-a u strís-a cos, d e p ois d s-a q u e d s-a d o Im p é rio H a b sb u rg o, q u e con tin u a ra m se n d o “ m in oria ” ). En tre ta n to, a s p olítica s tra n sfron te iriça s d e coop ta çã o n ã o sã o a s m e sm a s p a ra tod os os co-n a cion a is, o q u e e stá e m e stre ita re la çã o com a n a -tu re za d o vín cu lo q u e a s m in oria s tê m com os se u s h om e lan d state s: p or e xe m -p lo, a Ale m a n h a d e We im a r d e se n vol-ve u u m a p olítica d ife re n cia l p a ra se u s co-n a cion a is a le m ã e s n a Polôn ia (q u e tin h a m sid o cid a d ã os d o Re ich ), p rop or-cion a n d o a e le s a p oio a tra vé s d e e

sco-la s, jorn a is e ou tra s in stitu içõe s – o q u e p e rm itiu forta le ce r a p re se n ça a le m ã n a fron te ira com o n ovo Esta d o p olon ê s.

C om p le ta n d o a a n á lise , Bru b a k e r re la cion a os p roce ssos q u e re d e se n h a -ra m , e re d e se n h a m a in d a h oje , o m a p a p olítico e u rop e u com os d ife re n te s p a -d rõe s -d e m ig ra çã o -d e u m m e sm o g ru p o é tn ico. De m on stra q u e a s m ig ra çõe s g e ra d a s p e la s m u d a n ça s n a s e lite s e sta sta is a fe sta m m a is o p e ssoa l q u e d e p e n -d e -d ire ta ou in -d ire ta m e n te -d o Esta -d o (com o a p olícia , a g e n te s ju ríd icos, p rofe ssore s e fu n cion á rios p ú b licos) e m e -n os os a g e -n te s e g ru p os socia is re la cio-n a d os com ou tra s a tivid a d e s. Assim , cio-n a H u n g ria , d e p ois d a Prim e ira G u e rra M u n d ia l, e n q u a n to a p op u la çã o p e rm a -n e ce u -n a s su a s te rra s, a a d m i-n istra çã o d o Esta d o m a g ia r d e sa p a re ce u d os Es-ta d os q u e o su b stitu íra m . O a u tor re la tviza , a in d a , os e fe itos d a g u e rra n a s m i-g ra çõe s m a ciça s, m ostra n d o com o e sta s só ocorre m q u a n d o a g u e rra se com b in a com re p re se in ta çõe s d e u m “ se r in a -cion a l” con ce b id o e m te rm os “ é tn icos” (com o e n tre os g re g os e m u çu lm a n os n os Bá lcã s) m a is d o q u e e m te rm os “ cí-vicos” ; ou q u a n d o a s a çõe s a ssim ila d o-ra s sã o e xclu d e n te s (com o n o ca so d a Bu lg á ria , q u e ve m d e se n volve n d o, d e s-d e 1984, u m a p olítica n a cion a liza s-d ora , e lim in a n d o o id iom a tu rco e g e ra n d o u m a e m ig ra çã o m a ciça d e tu rcos).

(4)

p ossib ilid a d e d e n ova s le itu ra s, a tra vé s d a a n á lise d e ta lh a d a d e situ a çõe s sig n i-fica tiva s q u e d e m ostra m os m ú ltip los d e sd ob ra m e n tos p ossíve is d os m ovi-m e n tos n a cion a is n o ovi-m u n d o con te ovi-m p o-râ n e o.

DODIER, Nicolas. 1995. Les Hommes et les M achines: La Conscience Collec-t ive dans les SociéCollec-t és Technicisées. Paris: M étailié. 385 pp.

Regina Coeli M achado e Silva

Profe ssora d e M é tod os e Té cn ica s, UN IO ESTE

N o â m b ito d a p rolife ra çã o d e ob je tos té cn icos ca p a ze s d e a ssocia r sob n ova s form a s os se re s h u m a n os a tra vé s d o g lob o, Dod ie r re tom a a in te rrog a çã o d e Du rk h e im sob re a s “ form a s d e solid a -rie d a d e ” . Se u ob je tivo é p rop or u m a te oria g e ra l d a “ solid a rie d a d e té cn ica ” e m ostra r q u a is sã o os e fe itos sociológ icos con cre tos d a s form a s d e org a n iza -çã o q u e te n d e m a se d e se n volve r e m e m p re sa s q u a lifica d a s com o d istrib u é e s ou fle xíve is. Tra ta -se d e u m p e rcu rso a o lon g o d o q u a l e le p re te n d e re sp on d e r a u m a q u e stã o sociológ ica m a ior d a s socie d a d e s “ te cn ifica d a s” : sob q u a is con -d içõe s o fu n cion a m e n to -d a s té cn ica s p e rm a n e ce com p a tíve l com a s e xig ê n -cia s d e u m a vid a e m socie d a d e ?

A p a rtir d e sse con te xto, q u e su scita n ova s q u e stõe s sob re a m od e rn id a d e , Dod ie r e le g e se u ca m p o te m á tico, a n a -lítico e e tn og rá fico. Situ a n d o-se e m u m p on to n od a l d a re ce n te sociolog ia d a ciê n cia e d a té cn ica – d e se n volvid a a p a rtir d e e tn og ra fia s d e la b ora tórios cie n tíficos, com o a s d e C a llon e La tou r, com su a s crítica s à e p iste m olog ia m o-d e rn a –, o a u tor re tira su a te oria o-d a s “ re d e s socioté cn ica s” . Se g u n d o e le , e s-ta te m o m é rito d e m ostra r a ilu sã o d a

“ g ra n d e d ivisã o” e n tre ciê n cia e p olíti-ca , m a s a olíti-ca b a p or con stitu ir u m a n ova form a d e sim e tria , coloca n d ose e n -q u a n to p orta -voz d os “ in ova d ore s” n o ca m p o d a ciê n cia . O a u tor in ve rte e ssa p e rsp e ctiva , d e te n d ose n o fu n cion a -m e n to con cre to d a s re d e s e n ã o e -m su a g ê n e se , a d ota n d o u m a sociolog ia d a té cn ica ce n tra d a n a “ op e ra çã o” e n ã o n a “ in ova çã o” .

(5)

r-k h e im , a s cla sse s socia is d e M a rx, os g ru p os, a s e q u ip e s, o “ fa tor h u m a n o” e a socia b ilid a d e d a sociolog ia in d u stria l. C on d u zid a p or u m m é tod o q u e se in sp ira e m u m a “ p ra g m á tica sociológ i-ca ” d e cu n h o forte m e n te e m p iricista , a “ im e rsã o e tn og rá fica ” d o a u tor e m u m a e m p re sa d e e m b a la g e n s m e tá lica s con ce n tra se n a ob se rva çã o d ire ta d a con -d içã o -d os “ op e ra -d ore s” e n ca rre g a -d os q u otid ia n a m e n te d e fa ze r fu n cion a r a s re d e s té cn ica s: e n g e n h e iros, ch e fe s d e e q u ip e , re g u la d ore s, op e rá rios e sp e cia -liza d os e tc.

As im p lica çõe s d e ssa p ostu ra te óri-co-m e tod ológ ica sã o m u ita s. De n tre e la s ca b e m e n cion a r a p re se n ça n ã o re la ti-viza d a d e p re ssu p ostos id e ológ icos d o in d ivid u a lism o, m a n ife stos com o u m p a n o d e fu n d o n a s a n á lise s q u e con fe -re m a o livro se u ca rá te r m a is in ova d or e cria tivo. N e sse se n tid o, a ob ra a té p od e ria se r liod a com o u m a in stig a n te re fle xã o sob re os p roce ssos d e in d ivid u a -liza çã o n o â m b ito d o tra b a lh o in d u stria l d a s socie d a d e s con te m p orâ n e a s, e m b o-ra n ã o se ja e ssa a p re te n sã o d o a u tor. A e stra té g ia m od u la r d e su a a rg u m e n ta -çã o é e xe m p la r d e ssa p ossib ilid a d e p ara le la d e le itu ara , sob re tu d o n os ca p ítu -los m a is e tn og rá ficos, p e la d e n sid a d e a n a lítica e con ce n tra çã o d a s q u e stõe s q u e o re m e te m a os n íve is ob se r vá ve is d a con d içã o d os “ op e ra d ore s” . É im -p orta n te m e n cion á -los -p ois con stitu e m os trê s te m a s con sid e ra d os p e lo a u tor com o cru cia is p a ra ch e g a r a o se u ob je -tivo: o te m a d a re sp on sa b ilid a d e , q u e a flora n os in cid e n te s, e stu d a d o a tra vé s d e u m a com p a ra çã o e n tre a titu d e s a cu -sa tória s e fu n cion a is. Dod ie r e xp lora , d e m od o in é d ito, u m p a ra d oxo q u e ta n to d ilu i (n o ca so d e fa lta s e e rros p rofission a is) q u a rofission to a ce rofission tu a (a tra vé s d o irofission ce rofission tivo à in icia tiva ) a re sp on sa b ilid a d e in -d ivi-d u a l. Pre se n te n a a -d m in istra çã o a tra vé s d e u m m ovim e n to con h e cid o

com o “ Q u a lid a d e Tota l” , a o q u a l o a u -tor fa z rá p id a re fe rê n cia , e sse siste m a d e sloca a cu lp a d os op e ra d ore s, p or u m la d o, e , p or ou tro, a u m e n ta lh e s a con -fia n ça n a p róp ria ca p a cid a d e p rofissio-n a l (ca p . 4).

O se g u n d o te m a , o tra ta m e n to d os “ ob je tos té cn icos” , é d e se n volvid o co-m o “ re g ico-m e s d e a çã o” ou “ forco-m a s d e e n g a ja m e n to” d os op e ra d ore s d ia n te d a s m á q u in a s e re m e tid o à d im e n sã o m ora l. Em ve z d e u m e n g a ja m e n to e m u m a a tivid a d e re d u zid a a u m a a p lica -çã o d e re g ra s, p róp ria d o te cn icism o, o m a n e jo d os ob je tos con d u z à va loriza -çã o d e u m a e n g e n h osid ad e in d iv id u al, m a n ife sta p e lo im p roviso d e solu çõe s e m p rove ito d e con ve n çõe s loca is e cir-cu n sta n cia is e o re su lta n te a b a n d on o d a n oçã o d e ob rig a çã o e ob e d iê n cia a re g ra s p re e sta b e le cid a s ou cod ifica d a s (ca p . 5).

(6)

e m re la çã o h om e n s com e le m e n tos a lé m d o visíve l, sob a form a d e “ e xp e -riê n cia s p on tu a is” . Dra m a tiza r o e th os d e virtu osid a d e fa z d o e n g a ja m e n to u m a to d e d e vota m e n to e h e roísm o, con trá -rio a o “ e th os d o b e m -e sta r” , e m q u e op e ra d ore s b u sca m a tivid a d e s d e re sis-tê n cia con tra os d a n os, ocu p a n d o “ p os-tos tra n q ü ilos” n a e m p re sa .

Ap e sa r d a a te n çã o m e ticu losa d e Dod ie r n o ca m p o e tn og rá fico, se u tra je -to a n a lítico a ca b a d e ixa n d o se m re sp os-ta s su a s d u a s in te rrog a çõe s. Q u a n to à p rim e ira – re ve la r os e fe itos sociológ i-cos d a s “ org a n iza çõe s fle xíve is” , com su a s form a s d e e n g a ja m e n to d os op e ra -d ore s –, e le e n con tra u m a “ crise -d a s ob rig a çõe s” . Em te rm os d u rk h e im ia n os, p rosse g u e , e sse tip o d e org a n iza -çã o te m com o con se q ü ê n cia a “ fra g ili-za çã o” d a con sciê n cia cole tiva n a a tivid a tivid e té cn ica . Ta l “ e rosã o” , su a s con se -q ü ê n cia s e lim ite s, n ã o é e xp lora d a , com o a ca b a re con h e ce n d o o p róp rio a u tor, fa to e ste cu rioso u m a ve z q u e o títu -lo d o livro e n u n cia e ssa p rom e ssa .

Q u a n to à se g u n d a in te rrog a çã o, a re la çã o e n tre a s d u a s form a s d istin ta s d e solid a rie d a d e – té cn ica e e m socie d a d e –, Dod ie r n ã o e xclu i a p ossib ilid a -d e -d e u m a -d in â m ica -d a s re -d e s té cn ica s ca p a z d e a m e a ça r a n oçã o d e socie d a -d e a o -d a r p riori-d a -d e à -d im e n sã o fu n cion a l. O “ fa to sociológ ico m a ior” , se g u cion d o su a a va lia çã o, d iz re sp e ito à e xte n -sã o q u e e ssa s re d e s vê m a d q u irin d o n a con stitu içã o d a solid a rie d a d e té cn ica , fa to cru cia l e sim u ltâ n e o à vid a e m so-cie d a d e . Assim , con tin u a , é p rová ve l q u e o d e vir d a s org a n iza çõe s fle xíve is se ja , e m p rim e iro lu g a r, m a rca d o p or u m a te n sa d in â m ica e n tre a s d u a s for-m a s d e solid a rie d a d e , n e n h u for-m a d e la s se n d o ca p a z d e ocu p a r tod o o h orizon te d e a tivid a d e s. Em se g u n d o lu g a r, coloca se a p ossib ilid a d e d e a “ a titu d e fu n -cion a l” torn a r-se , p or si m e sm a , a ú n ica

ob rig a çã o d e va lor. A e fe rve scê n cia d a vid a e m socie d a d e – q u e ta n to se d u ziu Du rk h e im , se g u n d o o a u tor – p od e e n -tã o e sta r lig a d a à “ té cn ica ” , e la m e sm a u m a d im e n sã o sa g ra d a . De sse m od o, é a n oçã o d e m ob iliza çã o n a a tivid a d e q u e e n con tra u m a e xa lta çã o d ia n te d o sa g ra d o. Fin a lm e n te , se a solid a rie d a d e e m socie d a d e se im p õe com o ob rig a çã o e se a solid a rie d a d e e m re d e se fa z p or u m a g e om e tria va riá ve l (q u e in clu i ou n ã o in d ivíd u os p or su a con trib u içã o fu n cion a l), a “ re a lid a d e ” d a socie d a d e só se torn a p ossíve l p e lo se u con trá rio: a e xclu sã o, p rob le m a q u e e m m om e n to a lg u m d o livro é ob je to d e a n á lise . A q u e stã o cru cia l d o p e rte n cim e n to socia l é , p orta n to, d e sloca d a p a ra o p rob le m a d a s zon a s in te rsticia is, cria d a s p e la p ró-p ria d in â m ica d a s re d e s, m a s visíve is d o p on to d e vista d a socie d a d e .

(7)

p a ra o fu n cion a m e n to “ con cre to” d a s “ org a n iza çõe s fle xíve is” , u m con ju n to con ce itu a l p rove n ie n te d e n íve is d ife -re n te s d e a n á lise com o, p or e xe m p lo, a re fe rê n cia sociológ ica d u rk h e im ia n a p a ra con ce b e r a socie d a d e com o tota lid a lid e e tolid os os se u s con ce itos corre la -tos. O re su lta d o é u m a e tn og ra fia con fi-g u ra d a p or d e se n con tros e n tre o ca m p o d e ob se rva çã o, o m é tod o e a a b ord a -g e m te órica . Se u -g ra n d e e in d iscu tíve l m é rito é o d e a b rir p ossib ilid a d e s cog n itiva s cria tiva s p a ra u m a p rofu n d a -m e n to d a s q u e stõe s a í e n volvid a s, b e -m com o su g e rir p ista s g e ra is p a ra a b ord a r o te m a d a s re p re se n ta çõe s d a Pe ssoa n a s org a n iza çõe s in d u stria is d a socie -d a -d e con te m p orâ n e a .

M UEL-DREYFUS, Francine. 1996. Vichy et l’Et ernel Féminin. Cont ribut ions à une Sociologie de l’Ordre des Corps. Paris: Ed. du Seuil. 388 pp.

Laura M asson

M e stra n d a , PPG AS-M N -UFRJ

Ta lve z o p róp rio silê n cio q u e ce rcou os fa tos ocorrid os d u ra n te o p e ríod o d a ocu p a çã o a le m ã n a Fra n ça (1940-1944), te n h a le va d o M u e lDre yfu s a con sid e rá lo com o u m m om e n to h istórico in é -d ito e a a n a lisa r ta is fa tos sob a ótica -d o su rg im e n to – ou d o re ssu rg im e n to – d e u m m ito: o m ito d o e te rn o fe m in in o. H o-je , se u tra b a lh o som a -se a u m d e b a te p ú b lico n a Fra n ça sob re a a ssim ch a m a -d a “ Re volu çã o N a cion a l” , con stitu in -d o u m a con trib u içã o tã o sin g u la r q u a n to va liosa .

A q u e stã o ce n tra l d a a u tora é a d e q u e se u p a ís n ã o se con form ou e m d a r u m a re sp osta a d m in istra tiva à in va sã o, m a s le vou a d ia n te ta m b é m u m p roce s-so d e “ Re volu çã o N a cion a l” , e m q u e se

p rop ôs a “ fa ire d u n e u f la Fra n ce ” e , a p re n d e n d o com a d e rrota , in icia r u m a cu ra p u rifica d ora . As p a la vra s d e or-d e m fora m volta r à s orig e n s, à oror-d e m h ie ra rq u iza d a , a ssu m ir con trole sob re si e ou vir a n a tu re za q u e n ã o m e n te . N o con te xto, a s m u lh e re s e ra m a s q u e m a is se a p roxim a va m d e ssa im a g e m . Asso-cia d a s à te rra , se u lu g a r n a tu ra l e ra a fa m ília e su a ú n ica fu n çã o le g ítim a a m a te rn id a d e , e m se n tid o a m p lo. Su a su p osta d e sig u a ld a d e n a tu ra l e ra in vo-ca d a e m u m jog o d e m e tá fora s e a n a lo-g ia s orie n ta d a s p a ra a d e sp olitiza çã o e n a tu ra liza çã o d e ou tra s d e sig u a ld a d e s socia is.

O ob je tivo d e M u e lDre yfu s é re con stru ir os p roce ssos socia is d e p rod u -çã o d e sse “ m ito” , u m d os e ixos ce n tra is d a filosofia p olítica d o g ove rn o cola b o-ra cion ista d e Vich y. O e te rn o fe m in in o é a re cria çã o e a re -a lim e n ta çã o d e u m a re p re se n ta çã o d u a lista , n a tu ra liza d a e e te rn iza d a d a re la çã o e n tre os se xos, e xp re ssa e m u m a ce rta lite ra tu ra , n a p rop a g a n d a d e Esta d o, e m le is, e m p olítica s m é d ica s e d e m og rá fica s, e m p la -n os e scola re s, -n os a rg u m e -n tos re lig io-sos, e m sím b olos n a cion a is e tc. Essa con ce p çã o p rivile g ia d a d o fe m in in o – q u e fa z re fe rê n cia ob rig a tória a o m a scu lin o, m a s n ã o e xp licita m e n te – se ca -ra cte riza p e la re p e tiçã o e xce ssiva d e se u a rg u m e n to e p e la sa tu ra çã o d e se u sig n ifica d o, o q u e re su lta , se g u n d o a a u tora , e m u m a “ violê n cia d a b a n a li-d a li-d e ” .

(8)

m ile n a rista s” . É isso q u e va i p e rm itir à a u tora d a r u m a e xce le n te re sp osta – o q u e é o m a is in te re ssa n te e m se u e stu d o – à su a in q u ie tu d e d ia n te d a “ violê n cia ” p rod u zid a p or u m a d e fin içã o sa tu -ra d a , q u e d iz q u e “ u m a m u lh e r é u m a m u lh e r” se m p re cisa r a cre sce n ta r m a is n a d a . Su a p rop osta é in trod u zir u m a d i-m e n sã o h istórica , u i-m a “ sociog ê n e se ” , q u e d ê con ta d e u m a com p le xa re a lid a d e socia l e e xp liq u e m u ita s d a s “ a d e -sõe s” a o re g im e .

O livro e stá d ivid id o e m trê s p a rte s q u e p rivile g ia m a a n á lise d e in stitu i-çõe s e cle siá stica s, e scola re s e m é d ica s, con sid e ra d a s lu g a re s e stra té g icos p a ra e stu d a r o r e ssu r g im e n to d o “ m ito d o e te rn o fe m in in o” . N a p rim e ira p a rte , “ L’h ip n ose d u ch â tim e n t” , a n a lisa -se a p rod u çã o d os in te le ctu a is lig a d os a o re -g im e , q u e fa ze m d os ca m p on e se s, d a s m u lh e re s e d a te rra se u s p e rson a g e n s p rin cip a is. “ Re a lism o” e “ re g ion a lism o” e stã o n a b a se d a p rom oçã o d e va lore s p re te n sa m e n te a p olíticos. A A ction Fran çaise e a Ig re ja ta m b é m m e re ce m u m a a te n çã o p rivile g ia d a . Sob o títu lo “ La tra h ison d e fe m m e s e t l’a n é m ie d e s civilisé s” , a a u tora a n a lisa a con d e n a -çã o d o d ivórcio p e lo re g im e e a visã o d o a b orto com o crim e con tra a socie d a d e , o Esta d o e a ra ça . O ra , se e sta va p rova d o q u e a s d e sig u a ld a d e s n a tu ra is e xiste m – a m u lh e r n u n ca se rá ig u a l a o h om e m , com o q u e ria m os va lore s ig u a litá rios d a Re volu çã o d e 1789 –, u m fra n cê s ja m a is se ria ig u a l a u m im ig ra n te ou a u m ju d e u . Dim in u içã o d a n a ta lid a d e e im ig ra -çã o con d u ziria m à d e g e n e ra -çã o d a ra ça e a o d e clín io d a Fra n ça . N e sse con te xto, d e m óg ra fos e m é d icos in te rvê m com voz a u toriza d a , e a d e m og ra fia e a m e-d icin a torn a m -se “ ciê n cia s p olítica s” .

A se g u n d a p a rte , “ La cu ltu re d u sa -crifice ” , tra ta d a con stru çã o d e u m a ú n ica fig u ra fe m in in a le g ítim a : a m ã e d e fa m ília . An a lisa o d ia d a s m ã e s com o

rito p ú b lico n a cion a l e p rop a g a n d a d e Esta d o, e a con d e n a çã o d o tra b a lh o fe m in in o, a d m itin d o a p e n a s a q u e la s ta re -fa s q u e sã o u m a e xte n sã o d a fu n çã o m a te rn a a os e sp a ços p ú b licos. Exp lora o p a p e l d o a ssim ch a m a d o “ fe m in ism o cristã o” , d e se n volvid o n os a n os 20 e m re sp osta a o fe m in ism o la ico d e in sp ira -çã o re p u b lica n a , e su a im p ortâ n cia co-m o lu g a r d e p a rticip a çã o le g ítico-m a p a ra a s m u lh e re s. Este fe m in ism o é con sid e -ra d o com o o “ b om fe m in ism o” – a q u e le q u e é b om p a ra a fa m ília / p á tria – p or-q u e o re g im e se re se rva , d ia n te d e q u a lq u e r fa to, va lor ou circu n stâ n cia , o d ire ito d e d e fin ir o b om e o re a l. Por fim , m ostra a p osiçã o e stra té g ica ocu p a d a p e la fa m ília – lu g a r n a tu ra l d a m u lh e r – n o d isp ositivo p olítico d o re g im e .

A te rce ira e ú ltim a p a rte , “ O rd re b iolog iq u e e t ord re socia l” , d e d ica -se , e m p rim e iro lu g a r, a o â m b ito e d u ca ti-vo: à s d isp u ta s e m re la çã o à e d u ca çã o la ica – a n te riore s a o re g im e – e , e m se -g u id a , à im p osiçã o d e u m d e te rm in a d o m od e lo fe m in in o, “ u n e sou s-cu ltu re scola ire fé m in in e ” . A e d u ca çã o p ú b li-ca , la ili-ca , ob rig a tória e g ra tu ita é vista com o d e stru id ora d a s d ife re n ça s e p ro-p a g a d ora d os va lore s d e ig u a ld a d e re sp on sá ve is sp e la d e ca d ê n cia e d e g e n e ra -çã o d a Fra n ça . Pa ra fin a liza r, a a u tora a n a lisa d e ta lh a d a m e n te o p a p e l d a m e d icin a com o u m a ciê n cia p olítica , a a d e -sã o à re p re se n ta çã o m e d ica liza d a d o m u n d o socia l n e sse p e ríod o e o u so p o-lítico d a le g itim id a d e m é d ica . Isto se m d e ixa r d e ve r os in te re sse s p rofission a is q u e le va ra m os m é d icos, e n q u a n to cor -p o -p rofission a l, fu n cion á rios d e Esta d o e / ou id e ólog os d a Re volu çã o, a a d e rir a o re g im e .

(9)

-re n te s tip os d e in te -re sse s (p olíticos, e con ôm icos, e sté ticos, é ticos, p e ssoa is, p rofission a is e tc.) q u e , e n q u a n to coin ci-d e n te s, p oci-d e m a lia r-se , ou e n q u a n to d iscord a n te s, d isp u ta r e sp a ços d e p o-d e r. Q u a is se ria m , p oré m , a s lim ita çõe s d e u m a e xp lica çã o q u e ju n to a u m p a s-sa d o d e lu ta s p or in te re sse s a n ta g ôn i-cos p õe e m jog o “ con ce p çõe s m ítica s a rca ica s” , q u e con sid e ra a a ssim ch a m a d a Re volu çã o N a cion a l u m fe n ôm e -n o p olítico d e “ a d e sã o p ré -re fle xiva ” , a in d a q u e fru to d e u m a lon g a h istória ? C on ce b e r a “ Re volu çã o N a cion a l” com o o re torn o d e u m m ito re d u z a s lu -ta s socia is e p olítica s a u m a e sp é cie d e p re p a ra çã o d a s con d içõe s n e ce ssá ria s p a ra q u e à “ e sp e ra ” – “ a tte n te d e s re -ce p te u rs” , “ a tte n te croya n te ” , “ m on s-tru e u se a tte n te ” – su ce d a o m ito d o e te rn o fe m in in o. Isso fa z com q u e a q u e la socie d a d e , cu jos a g e n te s socia is lu -ta m p or in te re sse s a n -ta g ôn icos, se crista lize su b icrista m e n te e m u m “ a cord o con sig o m e sm a ” , d a n d o lu g a r a “ con ce p çõe s m ítica s” e “ p re ssu p ostos p ré re fle -xivos” . M a s a q u e ra cion a lid a d e se op õe e ssa ra zã o m ítica q u e su rg e , se g u n d o a a u tora , e m p e ríod os d e crise ? Por q u e p e n sa r q u e e sse p e ríod o d a h istória d a Fra n ça é u m p e ríod o irra cion a l? O q u e a fin a l se d e fin e , n e sse con te xto, com o ra cion a l?

Fa la r d e ra zã o m ítica p re ssu p õe a e xistê n cia d e u m a ra zã o p u ra , ob scu re ce n d o o fa to d e q u e e sta ú ltim a é , ta m -b é m e la , con stru íd a p or p roce ssos so-cia is sim ila re s a os q u e in te rvê m n a con stru çã o d a p rim e ira . Ta lve z n ã o h a ja su rg im e n to d e m itos, m a s a p e n a s a con -ju n çã o d e in te re sse s d e d e te rm in a d os a tore s e m u m con te xto h istórico q u e , lon g e d e se r in é d ito ou p ovoa d o d e d e -m ôn ios q u e u ltra p a ssa -m os li-m ite s d o ra cion a l, é u m con te xto p a rticu la r e d e a g e n cia m e n tos e sp e cíficos.

Tra d u çã o d e M a ria M a ce d o Ba rroso

NORDSTROM , Carolyn e ROBBEN, An-tonious (orgs.). 1995. Fieldw ork under Fire. Contemporary Studies of Violen-ce and Survival.Berkeley: Universit y of California Press. 300 pp.

Grupo Taller de Trabajo de Campo Et-nográfico

IDES, Bu e n os Aire s

O s te xtos re u n id os n e sse volu m e te ste -m u n h a -m e a n a lisa -m e p isód ios e se n ti-d os ti-d a violê n cia sociop olítica e xe rciti-d a sob re p op u la çõe s civis e m d ive rsos con -te xtos: a g u e rra civil n a Som á lia (Si-m on s) e n a C roá cia (O lu jic), a “ g u e rra su ja ” a rg e n tin a (Rob b e n ) e g u a te m a lte -ca (G re e n , M a ck e O g le sb y, Fa lla e M a n z), os m ovim e n tos n a cion a lista s b a sco (Zu la ik a ), p a le stin o (Sw e d e n -b u rg ) e n a Irla n d a d o N orte (Slu k a , Fe ld m a n ), o te rrorism o e m M oça m b i-q u e (N ord strom ), a re b e liã o ch in e sa d e Tie n a n m e n (Pie k e ) e a “ g u e rra d e g ê -n e ros” -n os Esta d os U-n id os (Wi-n k le r-H a n k e ).

A p a rtir d a p e rsp e ctiva d e q u e n ã o é p ossíve l com p re e n d e r a violê n cia com te oria s m on olítica s p ré via s à e xp e riê n cia , os org a n iza d ore s d e Fie ld w ork u n -d e r Fire su g e re m q u e os con te xtos vio-le n tos im p õe m a o in ve stig a d or con d i-çõe s e sp e cífica s d e tra b a lh o e d e con h e cim e con to. A violê con cia é u m a “ icon ve con -çã o cu ltu ra l” q u e se p rod u z, se sofre e q u e e xiste sob form a s sociocu ltu ra is q u e só p od e m se r re con h e cid a s e re -con stru íd a s n o tra b a lh o d e ca m p o. Por isso, os a u tore s situ a m su a ta re fa n a tri-p la a rticu la çã o d e e xtri-p e riê n cia s n a tiva s, e xp e riê n cia s d e ca m p o d o in ve stig a d or e p rod u çã o te órica .

(10)

d e riva m a is d a e xp e riê n cia d o p róp rio e tn óg ra fo n o ca m p o d o q u e d o u so p a d ron iza d o d e té cn ica s d e cole ta d e d a -d os. O livro n ã o é , p ois, u m m a n u a l -d e m e tod olog ia , m a s sim u m a a m ostra d e com o a e xp e riê n cia cotid ia n a d a violê n -cia , su a in te rp re ta çã o e a p rod u çã o d e u m a te oria re sp on sá ve l, su rg e m , sã o re -d e fin i-d a s e se e n tre la ça m n a re a liza çã o d o tra b a lh o d e ca m p o. Por isso, ca d a a u tor ca ra cte riza se u a rtig o com u m a e xp re ssã o d istin tiva (ru m or, se d u çã o e p e rsu a sã o, m e d o, viola çã o e re torn o a o la r), q u e re ve la a trip la con d içã o d a e t-n og ra fia e t-n q u a t-n to m é tod o, te oria e e x-p e riê n cia n a tiva .

N os ca sos a n a lisa d os, e ssa con d içã o e stá m a rca d a , se g u n d o os a u tore s, p e lo ca os e p e la p e rd a d o se n tid o e d a s coor-d e n a coor-d a s e sp a ço-te m p ora is q u e org a n i-za m o cotid ia n o. C on te xtos e in te ra çõe s fa m ilia re s sã o a lte ra d os p e la su sp e ita , p e la m orte e p e la d or. A violê n cia d e s-n a tu ra liza a ord e m socia l; os m e ca s-n is-m os d e coe sã o socia l e a s e xp lica çõe s n a tiva s q u e os su ste n ta m d e ixa m d e fu n cion a r e p e rd e m su a ob vie d a d e . As id e n tid a d e s p e ssoa is e g ru p a is tra n sform a sform se e o cotid ia n o te sform d e se r re d e -se n h a d o.

O s a u tore s a firm a m q u e a violê n cia n ã o é a p e n a s d e stru içã o, m a s, ta m b é m , a lg o q u e g e ra te n ta tiva s d e d a r con ti-n u id a d e à vid a , d e re coti-n stru ir u m a or-d e m e or-d e a trib u ir se n tior-d o a n ova s rotin a s. Ao e xa m irotin a re m a s b a se s, orotin ip re se n te s e m óve is, d a violê n cia n a s te n -sõe s ja m a is re solvid a s e n tre ru p tu ra e su tu ra , d e sin te g ra çã o e sob re vivê n cia , d e stru içã o e re con stru çã o, os a u tore s re a liza m u m a op e ra çã o d e d e se xotiza -çã o. A violê n cia n ã o é a lg o q u e ocor re e m lon g ín q u os re ca n tos d o Te rce iro M u n d o, m a s u m a d im e n sã o d e tod a a vid a h u m a n a . O n d e re sid e , e n tã o, a d ife re n ça e n tre a violê n cia e xp e rim e n ta -d a p e lo in ve stig a -d or e a q u e la vivi-d a

p or a q u e le s q u e e stu d a ? C om o su p or u m a d istâ n cia a n a lítica e n tre a m b os se a violê n cia lh e s é com u m ?

Em con te xtos viole n tos, e tn óg ra fo e n a tivos a sse m e lh a m -se e m su a s in ce r-te za s e d ificu ld a d e s p a ra d a r se n tid o a cotid ia n os a lte ra d os; m a s a isso o e tn óg ra fo a cre sce n ta su a p róp ria in com p e -tê n cia sociocu ltu ra l. Eis p or q u e fa ze r e tn og ra fia e m con te xtos viole n tos su -p õe u m tra b a lh o cria tivo e in te r-p re ta ti-vo sim ila r a o q u e re a liza m os n a titi-vos q u a n d o d ã o se n tid o a se u m u n d o a tin -g id o p e lo ca os (Pie k e ).

Essa se m e lh a n ça é re força d a p e lo fa to d e q u e a violê n cia é o O u tro d a e xistê n cia h u m a n a . N os con te xtos vio-le n tos, o ch oq u e e xiste n cia l irrom p e co-m o p rod u to d o con fron to d o e tn óg ra fo n ã o m a is com u m a lóg ica cu ltu ra l d ive r-sa , m a s com o p róp rio se n tid o d a vid a e o n on se n se d e su a d e stru içã o. A violê n cia coloca a ssim e m q u e stã o os fu n d a -m e n tos d a vid a socia l, d a in ve stig a çã o e d o com p rom isso a n trop ológ ico d e re sp e ito à d ive rsid a d e . C on te xtos d e re -p re ssã o in te n sa e d e te rrorism o re a cio-n á rio ou re volu ciocio-n á rio icio-n trod u ze m a u rg ê n cia n o tra b a lh o d o e tn óg ra fo e o e xp õe m à a m e a ça on ip re se n te d e su a m orte com o p rofission a l e com o p e ssoa sociocu ltu ra l.

O d ile m a ce n tra l d e Fie ld w ork u n -d e r Fire é o -d e com o in scre ve r a h om o-g e n e id a d e im p osta p e la o-g lob a liza çã o d a violê n cia e m u m a d iscip lin a p re ocu -p a d a com o re s-p e ito -p e la d ive rsid a d e . O s a u tore s te n ta m com p re e n d e r a violê n cia id e n tifica n d ose com a e xp e riê n cia d o ou tro, m a s ta m b é m re con h e ce n -d o a s im p lica çõe s -d a violê n cia e m “ p e ssoa s” m a rca d a s p or d e te rm in a çõe s socia is, cu ltu ra is e p olítica s e sp e cífica s. Essa te n ta tiva in clu i o tra b a lh o d e ca m -p o e a te oriza çã o sob re a violê n cia .

(11)

d e ca m p o, d e vid o à im in ê n cia d o risco e d a p e rd a a b solu ta . O a n trop ólog o é ca p tu ra d o p or u m a in sta n ta n e id a d e q u e d e ve in corp ora r à su a in te rp re ta -çã o, a fim d e se r fie l à p e rsp e ctiva n a ti-va ; m a s, e n tã o, o h orror d a s situ a çõe s d e e m e rg ê n cia o a tin g e p rofu n d a m e n -te , con trib u in d o p a ra d e s-h istoriciza r se u s re la tos. O “ p re se n te e tn og rá fico” re ssu rg e com o re a çã o e e xp re ssã o d a ca tá strofe , e a violê n cia con ve rte -se e m u m O u tro, a cu jo ca os só se a ce d e p or m e io d e u m a re la tiviza çã o sin crôn ica e b ru ta l.

En tre ta n to, d e scon h e ce r o ca m in h o q u e le va à su a irru p çã o, re tira a violê n -cia d os p roce ssos so-cia is, ob scu re ce a s tra n sform a çõe s q u e e la su scita e a s for-m a s n a s q u a is os n a tivos, sob se u d ofor-m í-n io, se re la cioí-n a m , op e ra m e í-n e g ocia m . Esse s p roce ssos n ã o sã o com u n s a n a ti-vos e a o in ve stig a d or, p ois e ste d e té m u m statu s p a rticu la r, p od e n d o a b a n d o-n a r o ca m p o, a lé m d e se r ob je to d e u m tra ta m e n to d ife re n cia d o. O s cola b ora -d ore s -d o livro sa b e m -d isso. N a ve r-d a -d e , p od e ría m os p e rg u n ta r: e m q u e m e d id a e ssa a d ve rtê n cia con trib u i p a ra e scla re ce r o se n tid o d a violê n cia p a ra a p op u -la çã o n a tiva ?

A u n iform iza çã o e n tre os n a tivos e o in ve stig a d or, e a con ce n tra çã o n a re fle xivid a d e d o e tn óg ra fo – o q u e sig n ifica -ria su b m e te r se u s p a d rõe s cu ltu ra is e se u se n so com u m à m e sm a e la b ora çã o a q u e se su b m e te os d os in form a n te s –, p od e m se r e xp lica d a s p e lo e sforço e m n ã o “ e xotiza r” os p ovos q u e sofr e m a violê n cia . N o e n ta n to, o re su lta d o d e sse e sforço é a “ e xotiza çã o” d a p róp ria vio-lê n cia q u e , com o ou tra s in ve n çõe s cu l-tu ra is, d e ve ria se r re coloca d a n o te rre n o com p a ra tivo d a h istória e d a socie d a d e . Sã o os a n trop ólog os n a tivos e se m i-n a tivos q u e e xp lora m d e form a m a is d e cid id a su a p róp ria re fle xivid a d e , e d istin g u e m su a “ p e ssoa ” d e n a tivos e

in ve stig a d ore s d a d e se u s “ ob je tos” – q u e sã o, a lé m d o m a is, p a re n te s, a m ig os d e in fâ n cia , vizin h os e tc. O p e rte n cim e n to a o lu g a r, a g ra n d e p roxim id a -d e e a -d ifícil se p a ra çã o e n tre su a s “ p e s-soa s” loca is e e tn og rá fica s, su scita m u m a a n á lise p rofu n d a sob re o “ si” (se lf), q u e , a o m e sm o te m p o, é e n ã o é com o o d os n a tivos. O a n trop ólog o n a tivo con h e ce os cód ig os e é p a rte d a socie d a d e , m a s ta m b é m g oza d e u m a a u torid a -d e re con h e cd a , g e ra lm e n te a ca -d ê m i-ca , q u e p od e se con ve rte r n a b a se d e su a re sp on sa b ilid a d e , ca rg a d e q u e n ã o se livra rá d e p ois d e con clu ir su a in ve s-tig a çã o.

Dife re n te m e n te d o e stra n g e iro, o a n trop ólog o n a tivo é p a rte d o p roce sso h istórico q u e con d u ziu à violê n cia , p roce sso q u e e le re con h e roce e m su a s le m -b ra n ça s, se u corp o e su a s id é ia s, e n a s le m b ra n ça s, corp os e id é ia s d e se u s con h e cid os e p a re con te s. O a con trop ólog o con a tivo n ã o p od e se e n trin ch e ira r n o p re -se n te e tn og rá fico p orq u e a ra zã o d e su a p re se n ça e a ce sso a o ca m p o, d e se u s vín cu los com os in form a n te s, d e se u d e se m p e n h o cu ltu ra l e lin g ü ístico, re m on -ta m in a p e la ve lm e n te a o p a ssa d o. As-sim , a re fle xivid a d e sob re a q u a l d iscor-re m e sse s in ve stig a d oiscor-re s a b a rca forço-sa m e n te ta n to su a vid a p e ssoa l com o o con te xto p olítico e a in ve stig a çã o a ca d ê m ica . O a n trop ólog o n a tivo n e ce ssa -ria m e n te se d ife re n cia e se a ssim ila , e vid e n cia n d o a te n sã o d e tod o tra b a lh o d e ca m p o. Esta te n sã o te m u m a h istória q u e se re ve la n a n a rra tiva e tn og rá fica e n a te oriza çã o.

(12)

d or e n a tivos, u ltra p a ssa n d o a d im e n -sã o situ a cion a l d a s vítim a s, d os q u e vi-tim a m e d o e tn óg ra fo. A e xp e riê n cia d e ve se r a n a lisa d a à lu z d os p roce ssos d e con stitu içã o d a violê n cia e d a s n o -çõe s loca is e a n a lítica s sob re o h orror e o ca os.

En fim , Fie ld w ork u n d e r Fire a p on ta p a ra a p rod u çã o d e u m a “ te oria re sp on -sá ve l” , e n te n d id a com o u m con h e ci-m e n to q u e , coci-m p roci-m e tid o coci-m a s víti-m a s, in forvíti-m e o víti-m u n d o d e se u s sofri-m e n tos. N o e n ta n to, a in d a q u e os cola-b ora d ore s n ã o a sp ire m à n e u tra lid a d e , coloca n d o-se m a is p róxim os d a p e rsp e ctiva d a s vítim a s, n ã o d e ixa m d e in -te g ra r os q u e vitim a m e m su a s a n á lise s. As a lte rn a tiva s p a ra d a r con ta d a lóg ica d e g ru p os in im ig os sã o m a is fru tífe ra s q u a n d o se d e tê m n a s zon a s cin ze n ta s on d e e sse s g ru p os se ju sta p õe m , se con fron ta m e n e g ocia m (Win k le r, N ord strom ), e on d e ch e g a m a su ste n ta r se n tid os con ve rg e n te s (Rob b e n ). Essa s á re a s cin ze n ta s sã o u m d os d e sa fios m a is in te re ssa n te s q u e Fie ld w ork u n d e r Fire la n ça à q u e le s q u e tra b a lh a m com a s se q ü e la s d a violê n cia sociop olítica . O livro a d ve rte n os q u e os ca m p os a ca -d ê m icos p o-d e m se r p rision e iros -d a m e s-m a lóg ica q u e p re sid e os con flitos a r-m a d os. Se re r-m os ca p a ze s d e p e rcorre r e sse s ca m p os m in a d os e re con h e ce r os ra stros q u e a violê n cia p a ssa d a e p re -se n te d e ixou e m n ossa s socie d a d e s e e m n ossa s form a s n a tiva s d e fa ze r e tn o-g ra fia ?

Tra d u çã o d e M a ria M a ce d o Ba rroso

SEVERI, Carlo. 1996. La M emoria Ri-t ual: Locura e Imagen del Blanco en una Tradición Chamaníst ica Amerin-dia. Quit o: Ediciones Abya-Yala. 306 pp.

José M aurício Andion Arruti

Dou tora n d o, PPG AS-M N -UFRJ

A con sciê n cia q u e u m le ig o cu n a te m d a cu ra xa m â n ica é a d e u m a se q ü ê n -cia cla ra e sim p le s: a e n fe rm id a d e é a a u sê n cia d e a lm a – o p u rp a ra p ta d o p or a lg u m e sp írito m a lé fico – e a cu ra é o se u re sg a te , op e ra d o p e los e sp íritos ve -g e ta is q u e o xa m ã orie n ta p or m e io d e u m a lín g u a m iste riosa . Se g u n d o C a rlo Se ve ri, e sse fu n cion a lism o in g ê n u o d o in form a n te p rofa n o coin cid e , p e rfe ita -m e n te , co-m o fu n cion a lis-m o cu lto d o a n trop ólog o, e se u p on to d e p a rtid a é ju sta m e n te a ru p tu ra com e ssa e sp é cie d e p on to p a cífico, p rop on d o n ã o só u m a n ova in te rp re ta çã o d o xa m a n ism o cu -n a , com o ta m b é m , e sob re tu d o, u m -n ovo m od e lo d e a n á lise d a cosm olog ia in -d íg e n a . Um m o-d e lo q u e e m lu g a r -d e p rivile g ia r o m ito, e vid e n cia o ritu a l e a s d ive rsa s e con flita n te s m od a lid a d e s d e tra n sm issã o d o con h e cim e n to tra d i-cion a l, rom p e n d o com u m a p e rce p çã o u n itá ria d a q u e le s g ru p os. Pa ra ta n to, o a u tor p e rse g u e d ois p rob le m a s fu n d a -m e n ta is q u e a p rin cíp io p a re ce -m d is-ta n te s, m a s q u e a o lon g o d e su a a n á lise re ve la rã o su a n e ce ssá ria con flu ê n cia .

(13)

u m a a m p lia çã o d os u n ive rsos socia l e sim b ólico a se re m ob se rva d os, in clu in -d o a í ta m b é m os in str u m e n tos con ce i-tu a is d e q u e o p e sq u isa d or d isp õe p a ra u m a “ d e scriçã o su ficie n te d o ob je to” .

O se g u n d o ca m p o d e p rob le m a s é , a p a re n te m e n te , m a is e m p írico: Se ve ri re corta u m ob je to q u e con sid e ra b a s-ta n te d istin to d a q u e le s p rivile g ia d os n os e stu d os sob re p op u la çõe s in d íg e -n a s d a Am a zô-n ia . Prim e iro, e scolh e o te m a d o con ta to com a socie d a d e oci-d e n ta l e , n o lu g a r oci-d a m itolog ia , in te re s-sa -se p e lo ritu a l, ob je to m e n os ou n ã o le g ítim o d a p e rsp e ctiva e stru tu ra lista . Esse d u p lo d e sloca m e n to e m p írico le -va -o a su b stitu ir a tra d icion a l p e rg u n ta sob re o q u e su b siste d a m itolog ia orig i-n ária d a socie d ad e p rim itiv a, p or ou tra s d u a s q u e p e rm e a rã o tod o o livro: o q u e p e rm ite e o q u e ob stru i a m e m ória d e u m a socie d ad e ? Com o a trad ição – p e n -sad a com o sab e r com p artilh ad o – p e r-p e tu a-se n o te m r-p o?

A com b in a çã o d e p rob le m á tica s p e rm ite a Se ve ri e rig ir u m a a n á lise a m -b iciosa p e la a m p litu d e d os d e -b a te s q u e a lim e n ta a o lon g o d os se te ca p ítu los d o livro. N e le s o a u tor re ú n e re fle xõe s q u e já h a via m sid o e xp osta s e m u m a sé rie d e a rtig os isola d os sob re a p e sq u isa d e ca m p o re a liza d a e m u m a a ld e ia cu n a loca liza d a n o a rq u ip é la g o C u n a n e k a , Pa n a m á , n os a n os d e 1977, 1979 e 1982. Sin te tica m e n te , o te m a d om in a n te é a m e m ória q u e os C u n a g u a rd a m d o con -flito com os b ra n cos, e se u foco te órico é a n a tu re za ritu a l d e ssa m e m ória , lig a d a a e stra té g ia s sim b ólica s q u e e n g e n -d ra m a cla ra e -d ra m á tica fron te ira q u e , p a ra os C u n a , os se p a ra d os b ra n cos.

Um tra ço m a rca n te d e sse e sforço é fa ze r com q u e a d e scriçã o e tn og rá fica re n d a te orica m e n te , d e m on stra n d o ora a n e ce ssid a d e d e d istin çõe s n o in te rior d e re corte s e m p íricos ou a n a líticos con -sa g ra d os, ora a im p ortâ n cia d e re stitu ir

a n e ce ssá ria u n id a d e d e u m a re a lid a d e q u e ou tra s a b ord a g e n s d isp e rsa m p or d ife re n te s p la n os a n a líticos. O ob je tivo m a ior a ssocia d o a e sse e sforço é a p r o-p osiçã o d e u m m od e lo, fu n d a d o n o in s-tru m e n ta l d a lin g ü ística p ra g m á tica , q u e d ê con ta d o p rob le m a fu n d a m e n ta l d a re la çã o e n tre e stru tu ra e e ve n to e m socie d a d e s “ tra d icion a is” ou “ se m e s-crita ” .

Assim , d e p ois d e te r a p a re cid o n os a g ra d e cim e n tos n o lu g a r d e d ica d o a os m e stre s, Lé vi-Stra u ss re ssu rg e com o o se u g ra n d e con tra p on to, se ja n o q u e se re fe re à in te rp re ta çã o d a n a tu re za d a cu ra xa m â n ica , se ja n o q u e d iz re sp e ito à re la çã o e n tre rito e m ito, ou à d icoto-m ia e n tre socie d a d e s fria s e socie d a d e s q u e n te s, a tu a liza d a n a form a d e ou tra s d icotom ia s, com o e n tre tra d içã o e m e -m ória . Pa ra o a u tor, tra ta -se d e d e -m on s-tra r q u e m e sm o n a q u e la s socie d a d e s d om in a d a s p e la trad ição (re p re se n ta d a com o u m te m p o cíclico) e xiste m té cn i-ca s e m e ios d e re p re se n ta r a m u d a n ça e p rod u zir u m a m e m ória (re p re se n ta d a com o u m te m p o lin e a r). A re d u çã o d o m ito a u m ob je to a b stra to, m a rca d o p e -la im ob ilid a d e e p or u m ca rá te r n e ce s-sa ria m e n te cole tivo e h om og ê n e o, e a re d u çã o d a e n u n cia çã o ritu a l a m e ro re -fle xo d o m ito, se ria m , se g u n d o e le , d u a s op çõe s m e tod ológ ica s q u e tê m a m e s-m a ra zã o d e se r: e lis-m in a r os p rob le s-m a s q u e ta n to a h istória q u a n to a s e xp e riê n -cia s in d ivid u a is tra ze m p a ra a a n á lise e stru tu ra l. Su a te se é a d e q u e a p rá tica xa m â n ica cu n a con siste p re cisa m e n te e m d a r form a a u m tip o d e con h e cim e n -to – a “ m e m ória ritu a l” – q u e ob je tiva in te rp re ta r a e xp e riê n cia p riva d a re fe -rin d o-a à h istória d o g ru p o.

(14)

is-tória d o con ta to. Q u a n d o a d oe n ça é a lou cu ra , o ciclo xa m â n ico u tiliza d o é o “ ca n to d o d e m ôn io” , q u e d e scre ve a d e scob e rta d o p u rp a ra p ta d o d a p e ssoa d oe n te n o “ p ovo” on d e os e sp íritos a n i-m a is a ssu i-m e i-m a a p a rê n cia d o h oi-m e i-m b ra n co e fa la m su a lín g u a . N a n a rra tiva cu n a , a lou cu ra (m a rca d a p e la e volu çã o d e u m q u a d ro q u e va i d os d e lírios e m u rm ú rios à tota l p e rd a d o con trole d o corp o e d a p a la vra , se g u id o d a fú ria h o-m icid a ) é in te rp re ta d a coo-m o a d isp u ta d a m e n te d o lou co p e los e sp íritos a n i-m a is e coi-m o u i-m a a i-m e a ça à n a tu r e za h u m a n a d o ín d io e n fe rm o. Ela é p rovo-ca d a p or u m a ta q u e d o “ ja g u a r d o cé u ” , p rin cip a lm e n te e m son h os, q u a n d o a ssu m e a form a d e h om e m b ra n co e se -d u z su a s vítim a s, h om e n s ou m u lh e re s, a fa ze r a m or con sig o. C on su m a d o o a to se xu a l, o ja g u a r a loja -se n o corp o d a ví-tim a p a ra se a lim e n ta r d o se u sa n g u e ou d o se u e sp e rm a e e ssa q u e b ra d o e q u ilíb rio e n tre m u n d o h u m a n o e se l-va g e m g e ra a lou cu ra . Pa ra q u e a cu ra xa m â n ica se ca ra cte rize , é p re ciso q u e o e n fe rm o re con h e ça a se d u çã o, ca so con trá rio in te rp re ta se q u e o “ ja g u a r” a in -d a e stá p re se n te e q u e o -d oe n te -d e ixou d e se r u m a vítim a d o e sp írito an im al/ h o-m e o-m b ran co p a ra a ssu o-m ir u o-m a p a rce ria com e le , torn a d ose ta m b é m u m ca ça d or d e h om e n s, u m b ra n co. Essa p re se n -ça , e n tre ta n to, e stá n os ca n tos, m a s n ã o n a n a rra tiva m ítica . C om o é p ossíve l q u e o “ e ve n to” d o con ta to te n h a p e n e -tra d o a “ e stru tu ra ” xa m â n ica e n ã o a m ítica ?

A re sp osta e stá n a form u la çã o d o con ce ito d e “ m e m ória ritu a l” , q u e fa z a p a ssa g e m d e u m a crítica à d icotom ia – p e rsiste n te – e n tre e scrita e ora lid a d e p a ra u m a fra n ca p rob le m a tiza çã o d o te rm o “ tra d içã o” , b a sta n te d istin ta d a -q u e la já vu lg a riza d a , re la tiva à id é ia d e “ in ve n çã o” . A p a rtir d a e tn og ra fia d o p roce sso d e tra n sm issã o d os con h e

cim e n tos tra d icion a is, Se ve ri critica a q u e -la d icotom ia , p rim e iro p orq u e e -la le va a su p or a e xistê n cia d e d ois con ju n tos h o-m og ê n e os – a s socie d ad e s orais e a s so-cie d ad e s d a e scrita –, d o p on to d e vista cog n itivo ou d a s té cn ica s m n e m ôn ica s; a lé m d isso, p orq u e ta l re p a rtiçã o e stá fu n d a d a e m u m a con ce p çã o d e e scrita e strita m e n te fon é tica .

P a r a t a n t o , o a u t o r o p õ e s e à s in te rp re ta çõe s q u e con ce b e m a p ictog ra -fia – fu n d a m e n ta l n e sse p roce sso d e tra n sm issã o – ou com o u m tip o d e ilu s-tra çã o p e ssoa l e a rb itrá ria d os te xtos tra d icion a is ou com o u m a e sp é cie d e p ré e scrita d e stin a d a a tra n scre ve r im -p re cisa m e n te ta is te xtos. Ao con trá rio, a in icia çã o n os ca n tos, re a liza d a p ri-m e iro p e la ri-m e ri-m oriza çã o ve rb a l d os se u s te xtos (e m u m a va ria çã o e sp e cia l d a lín g u a cu n a ) e d e p ois p e la m e m ori-za çã o d e lâ m in a s p ictog rá fica s, im p lica a com p osiçã o n ã o só d e d ife re n te s su -p orte s, m a s ta m b é m d e con te ú d os d is-tin tos.

(15)

Ta l ê n fa se e m u m a p e rsp e ctiva p ra g -m á tica n ã o p od e ria d e ixa r d e re p e rcu tir sob re o e m p re g o d a id é ia d e “ tra d içã o” , q u e d e ve se r vista e n tã o com o su je ita a d ois u sos. Um , m a is corre n te , q u e se re fe re a o corp u s d e con h e cim e n tos a cu -m u la d os p or u -m a d e te r-m in a d a cu ltu ra ; ou tro, q u e se re fe re a os p roce ssos e m e ios d e tra n sm issã o d e sse corp u s. Ao op ta r p e lo se g u n d o, a s p e rg u n ta s d o a u tor d e ixa m d e se r sob re o q u e é , p a ra volta re m -se p a ra com o op e ra. De ssa p e rsp e ctiva , a tra d içã o n ã o é m a is vista com o u m con ju n to d e con h e cim e n tos a o q u a l vã o se a g re g a n d o ou tros, e m u m p rog re ssivo e n riq u e cim e n to cole ti-vo, m a s com o u m d om ín io m a rca d o p or u m a forte re p a rtiçã o e n tre m od os e com p e tê n cia s q u e re corta m sa b e re s d istin tos n o in te rior d e ssa socie d a d e . Is-so fa z com q u e se e sta b e le ça u m d u p lo vín cu lo d e e q u ilíb rio in stá ve l, n o â m b i-to d o con h e cim e n i-to tra d icion a l, e n tre con ce n tra çã o e d isp e rsã o: e n q u a n to os ca n tos, p riva d os e in iciá ticos, volta d os a os e sp íritos e à te ra p ia se p re sta m a u m a m u ltip lica çã o d a s in te rp re ta çõe s e xe g é tica s, os m itos, e m su a s e n u n cia -çõe s p ú b lica s e form a is, a b re m -se à re in te rp re ta çã o le ig a e a u m p rog re ssivo “ e m p ob re cim e n to d o p a trim ôn io tra -d icion a l” .

De ssa form a , d e m on stra se a con -g ru ê n cia e n tre os d ois ca m p os d e p ro-b le m a s a q u e m e re fe ri. A ru p tu ra com o ob je to p rivile g ia d o d os m itos e a a te n -çã o a os ritu a is a p a rtir d e u m a p e rsp e c-tiva p ra g m á tica e stã o n e ce ssa ria m e n te vin cu la d a s a os p rob le m a s d e “ q u e m fa -la ” e “ sob re q u e m se fa -la ” e m u m a e t-n og ra fia d e socie d a d e s it-n d íg e t-n a s, já q u e n ã o só e m fu n çã o d os fa ccion a lis-m os, lis-m a s ta lis-m b é lis-m d os lis-m e ca n islis-m os ín ti-m os a os p roce ssos cog n itivos d e ssa s so-cie d a d e s, a tra d içã o n ã o é u m con ju n to d e con h e cim e n tos p a rtilh a d os h om og ê -n e a e h a rm o-n iosa m e -n te . A d e scriçã o

q u e o p e sq u isa d or fa z d e la e stá n e ce s-sa ria m e n te im p lica d a n a s p osiçõe s d e se u s in form a n te s.

(16)

TAM BIAH, St anley J. 1996. Leveling Crow ds. Et hnonat ionalist Conf lict s and Collective Violence in South Asia. Berkeley: University of California Press. 395 pp.

John Cunha Comerford

Dou tora n d o, PPG AS-M N -UFRJ

N os Esta d os su rg id os n o su l d a Ásia com os p roce ssos d e in d e p e n d ê n cia d o Im p é rio Britâ n ico, tê m h a vid o, re corre n te m e n te , con flitos viole n tos q u e d u -ra m p ou cos d ia s, m a s e n volve m g -ra n d e n ú m e ro d e p e ssoa s e n fre n ta n d o-se e m ru a s e p ra ça s d a s cid a d e s, e n os q u a is se in voca m p rin cíp ios d e p e rte n cim e n to é tn ico-re lig iosos. As a n á lise s d e se n vol-vid a s p or Sta n le y Ta m b ia h a p a rtir d a e tn og ra fia d e a lg u n s d e sse s e ve n tos n o Sri La n k a , n a Ín d ia e n o Pa q u istã o e d a re con stitu içã o h istórica d o con te xto e m q u e su rg e m , m ostra m q u e u m a com -p re e n sã o -p re cisa d os sig n ifica d os -p or e le s a ssu m id os e d os e fe itos socia is a í g e ra d os é m u ito p rod u tiva p a ra e n te n d e r os p roce ssos d e form a çã o d os Esta -d os n a cion a is n e ssa re g iã o e a m a n e ira p e la q u a l com u n id a d e s p olítica s, é tn ica s e re lig iosa s sã o con stru íd a s a o lon -g o d e sse s p roce ssos. A e tn o-g ra fia e a h istoriciza çã o p e rm ite m a o a u tor d ia lo-g a r com in te rp re ta çõe s e con stru çõe s te órica s a re sp e ito d e te m a s com o e tn i-cid a d e , p olítica , re lig iã o, “ p sicolog ia d a s m a ssa s” , “ e con om ia m ora l” d a s m u lti-d õe s, violê n cia cole tiva , e ou tros, a p a r-tir d e u m a p e rsp e ctiva q u e e n fa tiza a a çã o socia l e m su a d im e n sã o “ p e rfor-m a tiva ” ou “ ritu a l” e o e n tre la ça rfor-m e n to d os a sp e ctos se m â n ticos e p ra g m á ticos n os p roce ssos d e m ob iliza çã o cole tiva , p olitiza çã o e con stru çã o d e fron te ira s socia is.

O a u tor d e sta ca a im p ortâ n cia d os con flitos é tn icos n o m u n d o m od e rn o,

re ve la d a e n tre ou tra s coisa s p e la sa liê n -cia a d q u irid a p e la n oçã o d e e tn icid a d e n o p la n o d a s in te rp re ta çõe s te órica s. N ã o a p e n a s a p e rce p çã o d os p roce ssos g lob a liza n te s n ã o d e ve e sta r d issocia d a d o re con h e cim e n to d a im p ortâ n cia con -tin u a d a d os Esta d os n a cion a is e d os se u s p roce ssos d e con stru çã o, com o ta m -b é m é n e ce ssá rio a d m itir q u e e sse s p ro-ce ssos e n volve m u m a d ia lé tica e n tre d i-fe re n te s m od e los d e n a cion a lism o, u m d e le s p a u ta d o p e la a d oçã o d e p rin cíp ios com o a ig u a ld a d e form a l d os cid a d ã os e a se cu la riza çã o d o Esta d o, e ou -tro e n fa tiza n d o os p e rte n cim e n tos é tn i-cos com o p rin cíp io d e cid a d a n ia . Assim , n os ca sos a n a lisa d os, a p olítica , coloca-d a a p rin cíp io e m te rm os form a lm e n te se m e lh a n te s à q u e la e xiste n te n os Esta -d os e u rop e u s oci-d e n ta is, p a ssou a se r m a rca d a p e la com p e tiçã o e con flito e n -tre cole tivid a d e s é tn ica s e p e lo q u e stio-n a m e stio-n to d os d og m a s u stio-n ita rista s d o Esta d on a çã o. Pa ra Ta m b ia h , a id e n tid a -d e é tn ica e stá h oje , e m m u itos p a íse s -d o Te rce iro M u n d o, torn a n d o-se o m a is im p orta n te p rin cíp io orie n ta d or d e a çã o sociop olítica , su p e ra n d o ou tros p rin cí-p ios com o a cla sse socia l e a in te g ra çã o c e n t r a d a n o E s t a d o - n a ç ã o . N a c o n s-tru çã o d a e tn icid a d e , h a ve ria d ois p r oc e s s o s oc o n ju g a d o s : a s u b s t a n oc ia liz a -çã o e re ifica -çã o d e q u a lid a d e s e a tri-b u tos id e n titá rios, p or u m la d o, e a a s-sim ila çã o/ e xp a n sã o e a d ife r e n cia çã o/ s e g m e n ta çã o d os g ru p os é tn icos, p or ou tro.

(17)

m e ta n a rra tiva u n ifica d ora , m a s “ vá ria s n a rra tiva s d e m é d io a lca n ce forja d a s d e a cord o com ce rta s ca te g oria s e scolh i-d a s” (:33). Procu ra ta m b é m re sg a ta r os vá rios p la n os e m q u e , h istorica m e n te , se con stitu e m a s com u n id a d e s é tn ica s e m con flito: a org a n iza çã o d a d ou trin a , d o ritu a l, d os p a d rõe s d e con d u ta , d a h ie ra rq u ia re lig iosa , d os te m p los; a s oscila çõe s e n tre m om e n tos d e org a n iza -çã o m a is “ frou xa ”, e m q u e a s fron te ira s d o g ru p o sã o m e n os cla ra s, e m om e n tos d e re viva lism o, e m q u e g ru p os com d e -te rm in a d a orig e m socia l, lid e ra d os p or a g e n te s com in te re sse s e sp e cíficos, a ca -b a m p or torn a r m a is d e fin id os os lim ite s d a com u n id a d e é tn icore lig iosa ; a re la -çã o d e sse s m ovim e n tos re viva lista s com o d e sloca m e n to e a a p roxim a çã o ou o d ista n cia m e n to (n o se n tid o e con ôm ico, g e og rá fico e socia l) d e g ru p os socia is; a re la çã o d a s org a n iza çõe s re lig iosa s com o Esta d o, a con stru çã o d e u m a h istória m ítica p e los m ovim e n tos re viva lista s e a p rod u çã o d e sím b olos d istin tivos e m torn o d os q u a is é p ossíve l a m ob iliza çã o p a ra a a çã o cole tiva .

O u tro a sp e cto ce n tra l é a im p ortâ n -cia d os e ve n tos p ú b licos, com o fe stivi-d a stivi-d e s e p rocissõe s, p a ra a m ob iliza çã o e con stru çã o d a com u n id a d e é tn icore -lig iosa . Esse s e ve n tos sã o m om e n tos cru cia is p a ra a a p re se n ta çã o p ú b lica d a s com u n id a d e s d ia n te d a s ou tra s co-m u n id a d e s é tn ico-re lig iosa s, d ia n te d o Esta d o e d ia n te d e “ si m e sm a s” . Por ou tro la d o, p roce ssos in e re n te s à con stru -çã o d o Esta d o n a cion a l p rod u ze m m o-m e n tos críticos p a ra a a firo-m a çã o d e co-m u n id a d e s é tn ica s, q u e sã o ta co-m b é co-m m om e n tos e m q u e a u m e n ta m a s te n -sõe s. Assim , a d iscu ssã o sob re a lín g u a a se r a d ota d a com o lín g u a n a cion a l, ou a re d e fin içã o d e fron te ira s e n tre u n id a -d e s p olítica -d m in istra tiva s, ou os p r oce ssos d e re a sse n ta m e n to d e p op u la çõe s, ou a in d a os p roce ssos d e re org a

-n iza çã o d a e co-n om ia , q u e a lte ra m os p a d rõe s d e d istrib u içã o d os b e n e fícios d o cre scim e n to e con ôm ico, sã o fre q ü e n -te m e n -te o p a n o d e fu n d o d e con flitos é tn icos viole n tos. A com p e tiçã o p olítica e n tre p a rtid os e a s re la çõe s e n tre a s a d m in istra çõe s p rovin cia is e a a d m in istra -çã o ce n tra l, b e m com o a a p rop ria -çã o d o Exé rcito e d a b u rocra cia e sta ta l p or g ru p os e tn ica m e n te id e n tifica d os, sã o ta m b é m e le m e n tos ce n tra is n a g e sta çã o ou a g ra va m e n to d e te n sõe s e riva lid a -d e s é tn ica s. Esse s p roce ssos e n volve m , sim u lta n e a m e n te , a “ g ra n d e p olítica ” d o Esta d o n a cion a l, e a “ p e q u e n a p olí-tica ” q u e m ob iliza re d e s socia is a tra vé s d a p a tron a g e m e d o clie n te lism o. Em re la çã o a os tu m u ltos p rop ria m e n te d i-tos, Ta m b ia h e m p e n h a -se e m a p on ta r a com p osiçã o socia l d a s m u ltid õe s e n volvid a s (os “ rostos n a m u ltid ã o” ), e volvid e n cia r a p re se n ça d e a g e n te s q u e orie n -ta m e in ce n tiva m a a çã o d a s m a ssa s e id e n tificá -los socia lm e n te , b e m com o m ostra r q u e os e ve n tos se g u e m u m a se -q ü ê n cia e u m a org a n iza çã o d isce rn íve is e re corre n te s. Id e n tifica , a in d a , o p a p e l fu n d a m e n ta l d a circu la çã o d e ru m ore s e a “ d e m on iza çã o” d a s vítim a s.

(18)

-cion a l” (:81). O u tro p a r con ce itu a l, si-m é trico e in ve rso e si-m re la çã o a e sse p ri-m e iro, é o d a n a cion a liza çã o e p a q u ia liza çã o. Esse p a r se re fe re à re p rod u çã o rod e q u e stõe s n a cion a is e m con -te xtos d ive rsifica d os, “ e n g a ja n d o-se e m e stru tu ra s loca is d e p od e r e com p le -xos loca is d e ca sta s, se ita s e g ru p os é tn icos” (:257). Ao cotn trá rio d a foca liza çã o/ tra n sva lora çã o, tra ta se , n e sse ca -so, d e p roce ssos “ d e cim a p a ra b a ixo” e “ d o ce n tro p a ra a p e rife ria ” . Por ou tro la d o, a s n oçõe s d e ritu a liza çã o e rotin i-za çã o d a violê n cia d ã o con ta d a ob se r-va çã o d e q u e os tu m u ltos se g u e m u m p a d rã o e sp e cífico, a cion a n d o u m re p e r-tório d e a çõe s d e riva d o e m b oa m e d id a d e e ve n tos p ú b licos com o p rocissõe s, com ícios, form a s p a d ron iza d a s d e in ti-m id a çã o d os op on e n te s, ti-m ob iliza çã o d e re d e s socia is a tra vé s d a d istrib u içã o d e re com p e n sa s, e d ive rsos tip os d e “ a çõe s d e ton a d ora s” q u e d ã o in ício a u m a on -d a -d e a g re ssõe s (e n volve n -d o form a s p a d ron iza d a s d e in su lto, a g re ssã o e d e ssa cra liza çã o).

N e sse se n tid o, os p roce ssos e le itora is n os p a íse s d o su l d a Ásia sã o a p re -se n ta d os com o ocu p a n d o u m lu g a r e s-tra té g ico, p ois, p or u m la d o, g e ra m , a cion a m , re p rod u ze m e e xe rcita m g ra n -d e p a rte -d os e le m e n tos -d o re p e rtório e m p re g a d o n os m om e n tos d e violê n cia cole tiva (a s p róp ria s e le içõe s m u ita s ve -ze s e n volve m a tos d e violê n cia cole ti-va ), e , p or ou tro, sã o e m si m e sm os m o-m e n tos fu n d a o-m e n ta is d e con stru çã o d e u m a ce rta con fig u ra çã o d a p olítica , n a q u a l a s id e n tid a d e s é tn ica e re lig iosa tê m u m lu g a r d e d e sta q u e . As a n á lise s sob re p roce ssos e le itora is n os ca p ítu los 8 e 9 con tê m im p orta n te s in d ica çõe s p a ra se p e n sa r os sig n ifica d os q u e a p o-lítica a ssu m e e m u m con te xto e m q u e a s e le içõe s, a p e sa r d e form a lm e n te orie n ta d a s e n q u a n to m e ca n ism o d e e s-colh a d e re p re se n ta n te s a p a rtir d o voto

u n ive rsa l e in d ivid u a l, su p osta m e n te b a se a d o n a “ e scolh a ra cion a l” d os in d ivíd u os d e a cord o com se u s va lore s e in -te re sse s, a ca b a m se ca ra c-te riza n d o com o u com com ocom e n to e com q u e a g ru p a com e n tos é tn icore lig iosos se m a n ife sta m p u -b lica m e n te .

N os ú ltim os ca p ítu los d o livro, Ta m -b ia h fa z u m d u p lo m ovim e n to: p or u m la d o, a p a rtir d e u m e xe rcício d e g e n e -ra liza çã o e com p a -ra çã o, d ia log a com a u tore s com o Le Bon , Du rk h e im , C a -n e tti, Ru d é , Th om p so-n , Da vis e ou tros. N e sse d iá log o, p rocu ra le va r a sé rio a p ossib ilid a d e d e p e n sa r o p a p e l d os m om e n tos d e “ e fe rve scê n cia cole tiva ” , d e q u e fa la Du rk h e im , n os p roce ssos d e con stru çã o e d ife re n cia çã o d o m u n d o socia l. Por ou tro, te ce con sid e ra çõe s so-b re a s con d içõe s n e ce ssá ria s p a ra q u e os Esta d os d o su l d a Ásia , ca ra cte riza -d os com o Esta -d os n a cion a is e m crise , con sig a m e sta b e le ce r u m a p olítica d e p lu ra lism o é tn ico e re lig ioso.

Referências

Documentos relacionados

O objetivo deste estudo foi avaliar o desempenho dos instrumentos XP-Endo Finisher, irrigação ultrassônica passiva (PUI) e Easy Clean na remoção da pasta de Hidróxido

Na Tabela II, estão representados os resultados da análise bivariada entre fatores socioeconômicos e variáveis clínicas de saúde bucal do estudo demonstrando a presença de

a este existia uma fonte perene, à qual se acedia des- de uma das portas da cerca despovoada, visto que a pequena população vivia toda em arrabalde. Duarte de Armas representou

Existem autores que pesquisaram e desenvolveram modelos e abordagens para vários aspectos da qualidade de software em Model-Driven Engineering, porém não existem esforços no sentido

Com base na investigação prévia do TC em homens com sobrepeso na meia- idade (LIBARDI et al., 2011) e outras que utilizaram o treinamento aeróbio ou de força de moderada

Congresso Técnico Coquetel de Abertura Cerimonial de Abertura Atletismo Basquetebol M Corrida Rústica M Futsal M Futvolei Judô Pebolim Sinuca Natação Tênis de Mesa Tiro

O Vale do Paraíba, situado na Região Administrativa e Metropolitana nº 3 do Estado de São Paulo (Figura 3), apresenta uma economia importante para o território paulista,

A base para a avaliação de performance foi o modelo de quatro fatores de Carhart; em uma primeira análise, realizando-se a inferência usual dos alfas