• Nenhum resultado encontrado

Mana vol.4 número1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2018

Share "Mana vol.4 número1"

Copied!
23
0
0

Texto

(1)

A violê n cia e xe rcid a con tra os a n im a is su scita u m a re p rova çã o cre sce n te n a s op in iõe s p ú b lica s ocid e n ta is, u m a re p rova çã o q u e , fre q ü e n te m e n te , se torn a a in d a m a is viva z à m e d id a q u e d im in u i a fa m ilia rid a d e com a s vítim a s. N a scid a d a in d ig n a çã o com os m a u s-tra tos in flig id os a os a n im a is d om é sticos e d e e stim a çã o, e m u m a é p oca n a q u a l b u rros e ca va los d e fia cre fa zia m p a rte d o a m b ie n te cotid ia n o, a tu a lm e n te , a com p a ixã o n u tre -se d a cru e ld a d e a q u e e sta ria m e xp ostos se re s com os q u a is os a m ig os d os a n im a is, u rb a n os e m su a m a ioria , n ã o tê m n e n h u m a p roxim id a -d e física : o g a -d o -d e corte , p e q u e n os e g ra n -d e s a n im a is -d e ca ça , os tou ros d a s tou ra d a s, a s cob a ia s d e la b ora tório e os a n im a is forn e ce d ore s d e p e le , a s b a le ia s e a s foca s, a s e sp é cie s se lva g e n s a m e a ça d a s p e la ca ça p re d a -tória ou p e la d e te riora çã o d e se u h a b ita t e tc. As a titu d e s d e sim p a tia p a ra com os a n im a is ta m b é m va ria m , é cla r o, se g u n d o a s tra d içõe s cu ltu ra is n a cion a is1. O h orror le g ítim o a o sofrim e n to d e sn e ce ssá rio, e m e sm o a con sciê n cia d e u m a re sp on sa b ilid a d e m ora l d a e sp é cie h u m a n a e m a sse -g u ra r o b e m -e sta r d os se re s com os q u a is e la p a rtilh a o p la n e ta , sã o a s p rin cip a is m otiva çõe s d a se n sib ilid a d e e cológ ica n os p a íse s la tin os. Em con tra p a rtid a , n os p a íse s d o n orte d a Eu rop a e n os Esta d os Un id os p a re ce m g a n h a r te rre n o a s te se s m a is ra d ica is d a d e e p e colog y , q u e con sid e -ra tod os os com p on e n te s d o m e io n a tu -ra l com o su je itos d e d ire itos h om ó-log os a os h u m a n os.

Tod a via , n a p rá tica , a s m a n ife sta çõe s d e sim p a tia p e los a n im a is sã o ord e n a d a s e m u m a e sca la d e va lor — g e ra lm e n te in con scie n te , m a s to-ta lm e n te e xp lícito-ta e m a lg u n s an im al p h ilosop h e rs (Sin g e r 1989; Re g a n 1983) — cu jo á p ice é ocu p a d o p e la s e sp é cie s p e rce b id a s com o a s m a is p róxim a s d o h om e m e m fu n çã o d e se u com p orta m e n to, fisiolog ia , fa cu l-d a l-d e s cog n itiva s ou l-d a ca p a cil-d a l-d e q u e lh e s é a trib u íl-d a l-d e se n tir e m o-çõe s. N a tu ra lm e n te , os m a m ífe ros sã o os m a is b e m a q u in h oa d os n e ssa h ie ra rq u ia d o in te re sse , e isso in d e p e n d e n te m e n te d o m e io on d e vive m .

ESTRUTURA OU SEN TIMEN TO:

A RELAÇÃO COM O AN IMAL

N A AMAZÔN IA

(2)

N in g u é m , a ssim , p a re ce se p re ocu p a r com a sorte d os h a re n q u e s ou d os b a ca lh a u s, m a s os g olfin h os, q u e com e le s sã o p or ve ze s a rra sta d os p e la s re d e s d e p e sca , sã o e strita m e n te p rote g id os p e la s con ve n çõe s in te rn a cio-n a is. Q u a cio-n to à s m e d u sa s ou à s tê cio-n ia s, cio-n e m m e sm o os m e m b ros m a is m ili-ta n te s d os m ovim e n tos d e lib e ra çã o a n im a l p a re ce m con ce d e r-lh e s u m a d ig n id a d e tã o con se q ü e n te q u a n to a ou torg a d a a os m a m ífe ros e a os p á s-sa ros.

(3)

té cn ica s d e su b sistê n cia a d ota d a s p or p op u la çõe s trib a is p od e m se r p e r -ce b id a s p or m ovim e n tos in te g rista s d e con se r va çã o d a n a tu r e za com o p e rtu rb a d ora s d o e q u ilíb rio d e e sp a ços p r ote g id os, e n ã o sã o ra r os os ca sos e m q u e p ovos a u tócton e s se d e fr on ta m com a in te r d içã o d e se u a ce sso à s fon te s d e re se rva s, e rra d a m e n te d ita s “ n a tu ra is” , já q u e fora m e le s q u e , p or su a p re se n ça m u ltisse cu la r, con trib u íra m su tilm e n te p a ra tra n sform a r su a e colog ia . O a n tr op oce n trism o m od e r n o, com e fe ito, é a m p la m e n te in con scie n te e n ã o com b in a com a id é ia d e q u e n osso a m -b ie n te é e m g ra n d e p a rte a n tróp ico, m e sm o e m re g iõe s d o m u n d o q u e p a re ce m , com o a Am a zôn ia , te r con se rva d o su a virg in d a d e (Ba lé e 1993). O s m a l-e n te n d id os — a liá s, p or ve ze s, p rod u tivos — e n tre m in oria s trib a is e m ovim e n tos e colog ista s d e ve m -se a o fa to d e q u e , a d e sp e ito d e sim ilitu d e s su p e rficia is e in te re sse s tá ticos com u n s, su a s re sp e ctiva s a ttu d e s com re la çã o à n a ttu re za sã o tota lm e n te d ife re n te s. Prote g e r os a n i-m a is ou torg a n d o-lh e s d ire itos — ou ii-m p on d o a os h u i-m a n os d e ve re s p a ra com e le s — é a p e n a s e ste n d e r a u m a n ova cla sse d e se re s os p rin cíp ios ju ríd icos q u e re g e m a s p e ssoa s, se m coloca r e m ca u sa d e m a n e ira fu n d a -m e n ta l a se p a ra çã o -m od e rn a e n tre n a tu re za e socie d a d e . A socie d a d e é fon te d o d ire ito, os h om e n s o a d m in istra m , e é p orq u e sã o con d e n a d a s a s violê n cia s p a ra com os h u m a n os q u e a s violê n cia s com re la çã o a os a n im a is se torn a im con d e n á ve is. N ã o é n a d a d isso p a ra n u im e rosa s socie d a -d e s p ré -m o-d e rn a s, q u e , e n ca ra n -d o os a n im a is n ã o com o su je itos -d e -d ire i-to tu te la d o, m a s com o p e ssoa s m ora is e socia is p le n a m e n te a u tôn om a s, se e m p e n h a m tã o p ou co e m e ste n d e r-lh e s su a p rote çã o, q u a n to ju lg a m d e sn e ce ssá rio ve la r p e lo b e m -e sta r d e vizin h os d ista n te s. De cid ir tra ta r a n a tu re za com re sp e ito e b e n e volê n cia su p õe q u e a n a tu re za e xista — e ta m b é m , se m d ú vid a , q u e te n h a sid o p rim e ira m e n te m a ltra ta d a . Q u a n d o a n a tu re za n ã o e xiste sob a form a d e u m a e sfe ra a u tôn om a , a re la çã o com os a n im a is só p od e se r d ife re n te d a n ossa , e a q u e stã o sob re m a ta r u m a n im a l só p od e se coloca r e m te rm os m u ito d istin tos d a q u e le s q u e n os sã o fa m ilia re s. É isso q u e u m d e svio p e la Am a zôn ia p od e ria p e rm itir e sta -b e le ce r.

(4)

o-çõe s e p e rm ite -lh e s troca r m e n sa g e n s com se u s p a re s e com m e m b ros d e ou tra s e sp é cie s, e , a ssim , com os h om e n s (De scola 1986; 1993a ). Essa com u n ica çã o e xtra lin g ü ística é p ossib ilita d a p e la a p tid ã o a trib u íd a à w ak an d e tra n sm itir, se m m e d ia çã o son ora , p e n sa m e n tos e d e se jos à a lm a d e u m d e stin a tá rio, m od ifica n d o a ssim , p or ve ze s à su a r e ve lia , se u e sta -d o -d e e sp írito e se u com p orta m e n to. Pa ra e sse fim , os h u m a n os -d isp õe m d e u m a va sta g a m a d e e n ca n ta m e n tos m á g icos, os an e n t, g ra ça s a os q u a is p od e m a g ir à d istâ n cia sob r e se u s con g ê n e re s, e ta m b é m sob re a s p la n ta s, os a n im a is, a ssim com o sob r e os se re s sob re n a tu ra is e a lg u n s a rte fa tos. A h a rm on ia con ju g a l, u m b om e n te n d im e n to com p a re n te s e vizin h os, o su ce sso n a ca ça , a fa b rica çã o d e u m a ce râ m ica b on ita ou u m cu ra re e fica z, u m a roça com p la n ta s va ria d a s e viçosa s, tu d o isso d e p e n -d e -d a s re la çõe s -d e con ivê n cia q u e os Ach u a r con se g u ire m e sta b e le ce r com u m a va rie d a d e g ra n d e d e in te rlocu tore s h u m a n os e n ã o-h u m a n os, su scita n d o-lh e s d isp osiçõe s fa vorá ve is p or in te rm é d io d os an e n t.

(5)

os-su e m u m a a lm a , sã o os-su p ostos p e rce b e re m os h u m a n os; m a s se os Ach u a r fa la m com e le s g ra ça s a os e n ca n ta m e n tos an e n t, n ã o ob tê m r e sp osta se n ã o p or oca siã o d os son h os. Su ce d e o m e sm o com os e sp íritos e com a lg u n s h e róis d a m itolog ia : a te n tos a o q u e lh e s d ize m , e g e ra lm e n te in vi-síve is e m su a form a p rim e ira , só p od e m se r a p re e n d id os e m tod a a su a p le n itu d e n o cu rso d os son h os e tra n se s in d u zid os p e los a lu cin óg e n os.

As “ p e ssoa s” a p ta s a se com u n ica re m sã o ig u a lm e n te h ie ra rq u iza d a s e m fu n çã o d o g ra u d e p e rfe içã o d a s n orm a s socia is su p osta s d e re g e re m a s d ife re n te s com u n id a d e s n a s q u a is e la s se a ch a m d istrib u íd a s. Alg u n s n ã o-h u m a n os sã o m u ito p róxim os d os Ach u a r p or se r e m re p u ta d os d e re sp e ita r re g ra s m a trim on ia is id ê n tica s: é e sse o ca so d os Tsu n k i, e sp íri-tos d o rio; d e vá ria s e sp é cie s d e ca ça (m a ca cos b a r rig u d os, tu ca n os...); e d e p la n ta s cu ltiva d a s (a m a n d ioca e o a m e n d oim ...). Em con tra p a rtid a , h á se re s q u e se com p ra ze m n a p rom iscu id a d e se xu a l e a ssim , con sta n te m e n-te , viola m o p rin cíp io d a e xog a m ia ; e sn-te é o ca so d o g u a rib a ou d o cã o. O n íve l m a is b a ixo d a in te g ra çã o socia l é ocu p a d o p e los solitá rios: os e sp í-ritos iw ian ch , e n ca rn a çõe s d a s a lm a s d os m ortos q u e va g a m a b a n d on a d a s n a flore sta , ou e n tã o os g ra n d e s p re d a d ore s com o o ja g u a r ou a su cu ri. En tre ta n to, p or m a is d ista n cia d os d a s le is d a civilid a d e q u e p ossa m e sta r, tod os e sse s se re s solitá rios sã o a u xilia re s d os xa m ã s, q u e os e m p re g a m p a ra d isse m in a r o in fortú n io ou com b a te r se u s in im ig os. Situ a d os n a s m a r-g e n s d a cu ltu ra , e sse s se re s n ocivos n ã o sã o d e m od o a lr-g u m se lva r-g e n s, u m a ve z q u e os se n h ore s a os q u a is se rve m n ã o e stã o fora d a socie d a d e .

(6)

su je ita a m u ta çõe s ou m e ta m orfose s, já q u e fu n d a d a e m ca m p os d e re la -çõe s q u e va ria m se g u n d o os tip os d e p e rce p çã o re cíp roca ou n ã o re cíp ro-ca a trib u íd os à s e n tid a d e s e m jog o. C om e fe ito, ro-ca d a e sp é cie , e m se n tid o a m p lo, é su p osta a p re e n d e r a s ou tra s e sp é cie s a p a rtir d e se u s p róp rios crité rios, d e m od o q u e e m con d içõe s n orm a is u m ca ça d or n ã o ve rá , p or e xe m p lo, q u e su a p re sa a n im a l se vê a si m e sm a com o u m h u m a n o, n e m q u e e la o vê com o u m ja g u a r. Do m e sm o m od o, o ja g u a r vê o sa n g u e q u e e stá b e b e n d o com o ca u im ; o m a ca coa ra n h a q u e o p á ssa r o ca ssico a cre -d ita ca ça r é a p e n a s u m g a fa n h oto p a ra o h om e m ; e a s a n ta s -d e q u e a se r-p e n te r-p e n sa fa ze r su a r-p re sa r-p rin cir-p a l n a re a lid a d e sã o h u m a n os. G ra ça s à troca p e rm a n e n te d a s a p a rê n cia s g e ra d a p or e sse s d e sloca m e n tos d e p e rsp e ctiva , d e b oa -fé os a n im a is se con sid e ra m d ota d os d os m e sm os a trib u tos cu ltu ra is q u e os h u m a n os: se u s p e n a ch os sã o p a ra e le s coroa s d e p lu m a , su a p e la g e m u m a r ou p a , se u b ico u m a la n ça ou su a s g a r ra s fa ca s. C u ltiva m roça s, ca ça m , cozin h a m e se d e d ica m a ritu a is e la b ora -d os sob a -d ire çã o -d e se u s ch e fe s e xa m ã s.

(7)

ci-m e n tos ca ta stróficos va i in trod u zir d e scon tin u id a d e s d e a p a rê n cia e d e p on tos d e vista q u e con d e n a rã o os su je itos d o cosm os a u m a ce rta form a d e ilu sã o: d ora va n te , sa lvo circu n stâ n cia s e xce p cion a is, os h om e n s n ã o p od e rã o m a is ve r os a n im a is com o con g ê n e r e s lig a d os a u m d e stin o com u m , e é e n tã o p e lo tra b a lh o d a m e m ória , a lim e n ta d o p e la tra d içã o ora l, q u e se p od e rá re sta b e le ce r u m a con tin u id a d e q u e os se n tid os n ã o p e rm ite m m a is a ve rig u a r. Por m e io d a a çã o ritu a l, p od e se a in d a u ltra -p a ssa r o soli-p sism o in d u zid o -p e la d ife re n cia çã o d a s fa cu ld a d e s se n síve is. O s ritos d e ca ça e cu ltivo, a m e d ia çã o d o xa m ã n a s re la çõe s com os e sp íritos q u e re g e m o d e stin o d os a n im a is d e ca ça e d os p e ixe s, a on irom a n -cia , tu d o isso a te sta n o cotid ia n o q u e p la n ta s e a n im a is sã o in te rlocu tore s le g ítim os; a d e sp e ito d a s a p a rê n cia s e n g a n a d ora s, e le s n ã o vive m e m u m p la n o on tológ ico d istin to d a q u e le d os h u m a n os.

(8)

A solu çã o d e sse d ile m a foi for m u la d a m u ita s ve ze s e m te r m os m ora is: con scie n te d o d a n o q u e é ob rig a d o a ca u sa r a u m d e se u s se m e -lh a n te s, o ca ça d or se e m p e n h a ria e m tod os os tip os d e com p e n sa çõe s sim b ólica s p a ra a livia r su a m á con sciê n cia e p re ca ve rse d a s con se q ü ê n -cia s q u e se u a to n ã o p od e ria d e ixa r d e a ca rre ta r. A a n tig u id a d e é o m é ri-to d e ssa e xp lica çã o fu n cion a l. Fra ze r a p rop õe d e sd e o com e ço d o sé cu lo p a ra d a r con ta d o q u e ch a m a va ritos e xp ia tórios e m re la çã o a os a n im a is ca ça d os (Fra ze r 1922: ca p s. 53 e 54). A e tn og ra fia ru ssa d o p ré g u e rra in vocou a ig u a lm e n te p a ra e xp lica r os ritos d e ca ça sib e ria n os, e m p a rticu -la r a ob rig a çã o d os h om e n s d e a lim e n ta r os on g on , a q u e -la ca te g oria d e e n tid a d e s q u e e n g lob a ta n to fig u ra s e m form a a n im a l ou h u m a n a q u a n to a n im a is se lva g e n s d e e stim a çã o: a lim e n ta n d o ta is su b stitu tos d e ca ça a colh id os n o la r, o ca ça d or a ssim d e svia ria a vin g a n ça q u e e stá con scie n -te d e m e re ce r p e la s violê n cia s q u e e xe rce con tra a ca ça (Ze le n in 1952). Em u m tom sim ila r, e m b ora se m m e n çã o e xp lícita à Sib é ria , Ph ilip p e Erik -son (1984) p rop ôs con sid e ra r a cria çã o d e a n im a is se lva g e n s n a Am a zô-n ia com o u m a p rá tica com p e zô-n sa tória , re p a ra çã o sim b ólica d o d a zô-n o izô-n fli-g id o a os fli-g e n itor e s p or m e io d a a d oçã o e su ste n to d os filh ote s d a ca ça . C e rta m e n te os p ovos d a r e g iã o ob e d e ce m d e a n te m ã o a u m a é tica d a ca ça — n ã o m a ta r m a is a n im a is a lé m d o n e ce ssá rio, com p orta r-se com re sp e ito p a ra com a ca ça , n ã o fa zê la sofre r à toa e tc. Vá rios d e le s ofe re -ce m a in d a con tra p a r tid a s ritu a is a os a n im a is ou a os e sp íritos q u e os re p re se n ta m n a for m a d e ofe rta s d e ta b a co, com id a ou m e sm o a lm a s. En tre ta n to, e m u m u n ive rso cu ltu ra l e m q u e a r e cip rocid a d e se ria u m va lor ca rd in a l, ta is d isp ositivos n ã o ch e g a ria m a su p rim ir com p le ta m e n te o “ m a le sta r con ce itu a l” q u e o ca ça d or e xp e rim e n ta ria d ia n te d a r e tira -d a u n ila te ra l -d e u m a vd a . Da í a fu n çã o -d e ju stifica çã o -d a cria çã o -d e a n i-m a is: a colh e n d o os órfã os, n ã o p ou p a n d o e sforços p a ra g a ra n tir-lh e s os cu id a d os n e ce ssá rios à sob re vivê n cia , os ín d ios a n u la ria m o a to d e vio-lê n cia q u e e ssa a d oçã o torn a n e ce ssá rio.

(9)

re fle tiria u m tra ço u n ive rsa l d a n a tu re za h u m a n a e , n e sse se n tid o, o com -p orta m e n to d os a m e rín d ios n a d a te ria d e e xótico ou a r ca ico, m a s se ria in te ira m e n te h om ólog o à m á con sciê n cia q u e os ocid e n ta is e xp e rim e n -ta m a tu a lm e n te d ia n te d a ca rn e d os a çou g u e s (H u g h -J on e s 1996).

N ã o n e g o a b solu ta m e n te q u e a n e ce ssid a d e d e m a ta r a n im a is p a ra se a lim e n ta r p ossa su scita r se n tim e n tos a m b iva le n te s. Be m n o in ício d e m in h a e sta d a e n tre os Ach u a r, e u m e sm o tive u m a e xp e riê n cia m u ito viva q u a n d o a tire i e m u m a n im a l p e la p rim e ira ve z n a vid a , in sta d o p or m e u com p a n h e iro d e sa rm a d o q u e n ã o via ra zã o ve rd a d e ira p a ra q u e a e sp in -g a rd a d e q u e tive a id é ia rid ícu la d e m e p rove r a fim d e com p le ta r a p a n óp lia d e a n troóp ólog o n ã o óp u d e sse se rvir óp a ra m a ta r o m a ca co q u e zom b a va d e n ós e m u m g a lh o b a ixo. É m e sm o m u ito p rová ve l q u e ta l a m b iva lê n cia se ja u n ive rsa l, se le va rm os e m con ta os e stu d os d e p sicolog ia cog -n itiva sob re a co-n stru çã o o-n tog e -n é tica d a s ca te g oria s d o vivo. C om e fe ito, p a re ce q u e a s cria n ça s d e se n volve m m u ito ce d o u m a e sp é cie d e te o ria in g ê n u a d os e sta d os m e n ta is, isto é , u m sa b e r im p lícito q u e lh e s p e r -m ite in te rp re ta r os a tos e a s a titu d e s d os se r e s a n i-m a d os e -m fu n çã o d e ce rtos a trib u tos q u e im p u ta m a e le s, com o a in te n cion a lid a d e ou a ca p a -cid a d e d e se n tir e m oçõe s. O s tra b a lh os d e Su sa n C a r e y (C a re y 1985; C a re y e Sp e lk e 1994), e m p a rticu la r, in d ica m q u e a p róp ria a n im a çã o é p e rce b id a com o d e riva d a d e sse s a trib u tos, d e ta l m od o q u e a s cria n ça s m u ito p e q u e n a s con ce b e m os h u m a n os e os a n im a is com o p e rte n ce n d o a u m a m e sm a ca te g oria on tológ ica , form a lm e n te h om ólog a a o q u e p od e -ría m os d e fin ir com o u m a p e ssoa . Só m a is ta r d e e m e rg e a ca te g oria d e a n im a l, org a n iza d a e m g ra n d e m e d id a a p a rtir d a s p rop rie d a d e s q u e a cria n ça a ssocia à s a tivid a d e s h u m a n a s. O ú ltim o e stá g io d a con stru çã o d o con ce ito d e ob je to vivo ocorre com a ju n çã o d o d om ín io d a s p la n ta s à q u e le d os a n im a is, n o q u a d ro d o d e se n volvim e n to d e u m a te oria in g ê -n u a d a s fu -n çõe s b iológ ica s.

(10)

u m a n im a l n ã o p od e n os d e ixa r in d ife re n te s p ois, e voca n d o o n osso, le m b ra n os u m a a n a log ia fu n d a m e n ta l q u e a s p la n ta s sã o in ca p a ze s d e su s -cita r, m e sm o com u m g ra n d e e sforço d e im a g in a çã o.

N a p róp ria Am a zôn ia m u itos sin a is a te sta m u m a a titu d e a m b iva le n -te p a ra com os a n im a is ca ça d os. Por e xe m p lo, o e m p re g o b a sta n -te com u m d e e u fe m ism os q u e d issim u la m ou a te n u a m a violê n cia q u e se fa z a ca ça sofre r. É ra ro fa la r-se d e m a ta r a n im a is, e e xp rim e -se a a çã o d e ca ça r p or m e tá fora s q u e n ã o e voca m o m a ta r d e m a n e ira d ire ta . Su ce d e m u ito fre -q ü e n te m e n te n ã o se d e sig n a r os a n im a is p or se u n om e n o con te xto d e u m a b a tid a d e ca ça , p re fe rin d o-se su b stitu tos e ste re otip a d os. Se m p re n o p la n o te rm in ológ ico, a ca ça com za ra b a ta n a é cla ra m e n te d ife re n cia d a d a ca ça com la n ça ou com b ord u n a (e a tu a lm e n te com e sp in g a rd a ): fa la se e m “ sop ra r p á ssa ros” e n tre os Ach u a r, “ sop ra r a ca ça ” e n tre os Tu k a -n o, ou m e sm o “ ir sop ra r” e -n tre os H u a ora -n i, a te -n u a -n d o, a ssim , p or e ssa s m e ton ím ia s in str u m e n ta is a lig a çã o d e ca u sa e e fe ito e n tr e a a çã o d o ca ça d or e se u re su lta d o (H u g h -J on e s 1996:137; Riva l 1996:155). En fim , o te m a d a vin g a n ça d os a n im a is ca ça d os é m u ito com u m , e m b ora a a m p li -tu d e d a s re p re sá lia s a e le s im p u ta d a s e a s m e d id a s d e p r e ca u çã o va rie m con sid e ra ve lm e n te se g u n d o a s cu ltu ra s. Se o a n im a l d e ca ça se n te a lg u m m otivo p a ra se vin g a r, e n tã o os a m e rín d ios tê m u m a con sciê n cia b a sta n -te cla ra d e q u e a sor-te q u e lh e im p õe m n ã o é in -te ira m e n -te n orm a l.

In con te sta ve lm e n te , tod a s e ssa s ra zõe s a d vog a m p e la con sid e ra çã o d a a m b iva lê n cia d a s a titu d e s d o ca ça d or a m a zôn ico a o m a ta r u m a n im a l. M a s d a í a lh e im p u ta r u m se n tim e n to d e m á con sciê n cia e a d e riva r d e s-ta os com p or s-ta m e n tos n a r e a lid a d e m u ito d ive rsos q u e ca ra cte riza m o tra ta m e n to d a ca ça n a re g iã o, h á u m p a sso q u e m e re cu so a d a r. Ain d a q u e form u la d a com m u ita s n u a n ça s, a te se d a m á con sciê n cia , com e fe i-to, ofe re ce m a is in con ve n ie n te s q u e va n ta g e n s. Prim e ira m e n te , p orq u e isso im p lica p roje ta r sob re cu ltu ra s m u ito d ife re n te s d a n ossa u m a form a d e se n sib ilid a d e com r e la çã o a os a n im a is q u e ta lve z e xp e rim e n te m os e sp on ta n e a m e n te , m a s q u e sa b e m os se r o p rod u to d e u m a e volu çã o e sp e -cífica d a s p rá tica s e d a s m e n ta lid a d e s, tra ça d a e m tod a a su a com p le xi-d a xi-d e p or h istoria xi-d ore s com o Rob e rt De lort (1984) ou Ke ith Th om a s (1983). N ã o tive m os se m p re m á con sciê n cia e m fa ce d o sofrim e n to d os a n im a is, e m u itos tu rista s in g le se s q u e fica m in d ig n a d os com a b a rb á rie d a tou ra -d a p rova ve lm e n te ig n ora m q u e o a ta q u e -d e m olossos a u m tou ro p re so (b u ll-b aitin g ) e ra u m e sp e tá cu lo a p re cia d o p or tod a s a s cla sse s socia is n a In g la te rra d o sé cu lo XVIII.

(11)

e xp lícito d e d ire itos, ob rig a çõe s e va lore s. Se ria p re ciso e n tã o su p or q u e e sse q u a d ro é tico se ja u n ive rsa l e q u e se coloq u e , se m p re e e m tod a p a r-te , o m e sm o tip o d e d ile m a q u a n d o se m a ta u m a n im a l. É e sq u e ce r-se q u e n ossa p róp ria con ce p çã o sob re o q u e fu n d a m e n ta a d istin çã o e n tre o h om e m e o a n im a l sofre u u m a p rofu n d a m u ta çã o a o fim d o sé cu lo XVIII, q u a n d o p e n sa d ore s com o Rou sse a u e Ka n t d e fin ira m a h u m a n id a d e p e la lib e rd a d e , ou se ja , p e la fa cu ld a d e d e su b tra irse à s d e te rm in a çõe s in stin -tiva s. O ra , o h u m a n ism o m od e rn o b a se ia -se e xa ta m e n te n e ssa id é ia p a ra d e fin ir n ossos d e ve re s p a ra com os a n im a is: é p orq u e a lg u n s d e n tre e le s sã o d ota d os d a ca p a cid a d e d e a g ir com vista s a u m fim con scie n te — à d ife re n ça d a s p la n ta s ou d a s b a cté ria s — e p orq u e e ssa a titu d e a p re se n ta a n a log ia s com o livre -a rb ítrio q u e n os sin g u la riza , q u e n ós n os d e ve m os o re sp e ito a e le s, ou se ja , d e ve m os re sp e ita r n e le s a q u ilo q u e n os le va a n os re sp e ita r a n ós m e sm os2. O se n tim e n to d e cu lp a g e ra d o p e la m orte d e u m a n im a l é e n tã o a lim e n ta d o a q u i p e la con sciê n cia d e u m a p e rtu r-b a d ora p roxim id a d e e n tre a n e g a çã o d e u m d ire ito à vid a e a n e g a çã o d e u m d ire ito à lib e rd a d e . Pa re ce -m e d u vid oso q u e os ín d ios d a Am a zôn ia te n h a m u m ra ciocín io m ora l id ê n tico.

(12)

rce r violê n cia s física s p od e a p a re rce r com o u m a d im e n sã o d a v irtù m a scu -lin a ou , a o con trá rio, su scita r u m ve r d a d e iro h orror; a cru e ld a d e p od e d e sp e rta r a re p rova çã o ou con stitu ir u m e le m e n to ju lg a d o in d isp e n sá ve l d os ritu a is d e in icia çã o ou d o tra ta m e n to d os ca tivos (ve r, p . e x., C la stre s 1973). Em re su m o, se ria b e m d ifícil a trib u ir a os p ovos d a re g iã o u m con -ju n to d e d isp osiçõe s m ora is p a rtilh a d a s. Se ria e n tã o le g ítim o a firm a r q u e a m á con sciê n cia , isto é , o p rod u to d e u m con flito m ora l, se ja a li d e sla n ch a d a com o e n tre n ós p e la s m e sm a s circu n stâ n cia s? Re cu sa r a u n ive rsa -lid a d e d a m á con sciê n cia e m fa ce d o con su m o d e u m a n im a l a p re se n ta , ce rta m e n te , o in con ve n ie n te d e fa ze r os ín d ios d a Am a zôn ia p a re ce re m m u ito d ife re n te s d e n ós. N ã o é , p oré m , ce d e r a u m re la tivism o cu ltu ra l d e se n fre a d o p e n sa r q u e e le s o sã o d e fa to: a fin a l d e con ta s, n ã o con sid e -ra m os os a n im a is com o p e ssoa s — e xce to com o p e ssoa s ju ríd ica s, p a -ra u m a m in oria — e n osso a n trop oce n trism o, con form e vim os, p ossu i ra íze s m u ito d ife re n te s d o d e le s.

(13)

sob re a s d e te rm in a çõe s m ora is e in d ivid u a is d a s con d u ta s ta lve z p e rm ita re stitu ir tod a a com p le xid a d e d o re a l; se ria ta m b é m torn a r p e n osa , se n ã o im p ossíve l, a a m b içã o a n trop ológ ica d e d a r u m se n tid o a com p orta m e n -tos d isp a ra ta d os, m a s q u e a p re se n ta m ce rta coe rê n cia q u a n d o tom a d os tod os ju n tos n o se io d e u m a d e te rm in a d a com u n id a d e .

O “ m a le sta r con ce itu a l” in voca d o p or Erik son p a ra q u a lifica r o e sta -d o -d e e sp írito -d o ca ça -d or a m a zôn ico p a re ce -m e , p orta n to, p re fe ríve l à m á con sciê n cia , p e lo m e n os e m n om e d os a rg u m e n tos cog n itivos já con -sid e ra d os. N ã o e stou con tu d o p e rsu a d id o d e q u e a a d oçã o d e filh ote s d e ca ça , n a Am a zôn ia , p ossa se r con sid e ra d a se m p r e e e m tod a p a rte com o u m a form a d e com p e n sa çã o d e stin a d a a d issip a r e sse e m b a ra ço p sicoló -g ico. C om e fe ito, é com u m se tra ta r os h u m a n os d e m a n e ira id ê n tica : n a s g u e rra s in te r e in tra trib a is, a s m u lh e re s e os filh os d os in im ig os m ortos sã o ca p tu ra d os e in te g ra d os à s fa m ília s d os ve n ce d ore s, g e ra lm e n te se m re se rva s n e m d iscrim in a çã o. O ra , a ju lg a r p e lo e xe m p lo jíva ro, e sta p rá ti-ca n ã o p roce d e a b solu ta m e n te d o d e se jo d e forn e ce r a os in im ig os u m a con tra p a rtid a p e la s vid a s q u e lh e s fora m tira d a s; p e lo con trá rio, o ra p to d e cria n ça s é a e xp re ssã o d e u m a filosofia d a p re d a çã o, se g u n d o a q u a l a a p rop ria çã o ju n to a ou tre m d e su b stâ n cia s, id e n tid a d e s e p e ssoa s é a con -d içã o n e ce ssá ria p a ra a p e rp e tu a çã o -d o si (De scola 1993a : ca p . 17; 1993b ). Q u e , a d e sp e ito d os b e n e fícios sim b ólicos e socia is q u e p rop orcion a , o h om icíd io d e u m in im ig o p ossa su scita r se n tim e n tos a m b iva le n te s, os J íva ro n ã o d iscord a ria m , e d ize m d o g u e rre iro vitorioso q u e e le p róp rio e stá u m p ou co m or to e é p e rig oso p a ra os se u s e m fu n çã o d e se u a to, d e ve n d o, p or e ssa ra zã o, su b m e te r-se a u m tra ta m e n to ritu a l lon g o e rig oroso a n te s d e re tom a r se u lu g a r e n tre os vivos ord in á rios. O e xe m p lo jíva -ro e stá lon g e d e se r ú n ico: m u ita s socie d a d e s a m a zôn ica s e n te n d e m q u e o h om icid a , p e n e tra d o p e lo sa n g u e ou p e la a lm a d a vítim a , sofr e u m a tra n sform a çã o corp ora l su ficie n te m e n te p e rig osa p a ra a ca rre ta r a m orte ca so n ã o cu m p ra rá p id o os ritos a d e q u a d os4. Em tod os e sse s ca sos, a s con se q ü ê n cia s d a violê n cia con tra ou tre m volta m -se e n tã o con tra si e d e m od o a lg u m im p lica m a id é ia d e q u e se p ossa ca ir e m d ívid a . O q u e va le p a ra a m orte d e u m h om e m d e ve ria va le r a fortiori p a ra a m orte d e u m a n im a l, e isso m e p a re ce e xclu ir a h ip óte se d e q u e , e m u m b om n ú m e ro d e socie d a d e s a m a zôn ica s, a d om e stica çã o d a ca ça p ossa se r a p a re n ta d a com u m a form a d e com p e n sa çã o.

(14)

i-m a is, a s re la çõe s e sta b e le cid a s coi-m e le s sã o a n te s d e tu d o r e la çõe s d e p e ssoa a p e ssoa , ou se ja , sã o r e la çõe s socia is, e m e p a r e ce q u e é e sse a sp e cto socia l q u e d e ve se r p rivile g ia d o n a a n á lise5. O ra , n o in te rior d e u m q u a d ro g e ra l re la tiva m e n te u n iform e n a e sca la d a Am a zôn ia , a sociolog ia d a re la çã o com os a n im a is p od e se r d ita d e vá rios m od os. Esse q u a d ro g e ra l, com o já foi ob se rva d o h á m u ito te m p o, é a q u e le d e u m a a lia n -ça con tra tu a l q u e vin cu la os h u m a n os a os a n im a is ou , à s ve ze s, a se u s re p re se n ta n te s (Ze rrie s 1954). M a is re ce n te m e n te , p e rce b e u -se q u e m u ito fre q ü e n te m e n te e ssa a lia n ça e ra con ce itu a d a sob a form a d e u m a re la -çã o e n tre a fin s e q u e e ra m a rca d a p e la m e sm a re d e d e ob rig a çõe s q u e a q u e la ca ra cte rística d a s r e la çõe s e n tr e p a re n te s p or a lia n ça (De sco la 1983; Erik son 1984)6.

(15)

se r com id o q u a n d o d om e stica d o — u m a d istin çã o d e e sta tu to q u e form u -le i re ce n te m e n te (De scola 1994) n os te rm os d e u m a h om olog ia e stru tu ra l clá ssica :

ca ça : a n im a is d e e stim a çã o : : in im ig os : cria n ça s ca tiva s : : a fin s : con sa n g ü ín e os

Tod a via , n o â m b ito d e sse q u a d ro m u ito g e ra l, coe xiste m vá rios sis-te m a s d e re la çõe s m a is p a rticu la riza d os. Posso d isce rn ir p e lo m e n os trê s, q u e ch a m a re i re cip rocid a d e , p re d a çã o e d á d iva , e q u e corre sp on d e m a trê s m od a lid a d e s lóg ica s, e ta m b é m sociológ ica s, d e in te g ra r a op osiçã o u n ive rsa l e n tre e u e ou tre m . A re cip rocid a d e q u e r q u e tod a vid a a n im a l se ja com p e n sa d a (fre q ü e n te m e n te p or u m a ou ou tra form a d e vita lid a d e h u m a n a ); a p re d a çã o im p lica q u e n e n h u m a con tra p a rtid a se ja ofe re cid a p e los h u m a n os con tra u m a vid a a n im a l; fin a lm e n te , a d á d iva sig n ifica q u e os a n im a is ofe re ce m su a vid a a os h u m a n os d e m a n e ira d e lib e ra d a e se m n a d a e sp e ra r e m troca7.

O s De sa n a , g ru p o d e lín g u a tu k a n o d o n oroe ste a m a zôn ico, forn e -ce m a m a is clá ssica ilu stra çã o e tn og rá fica d o m od e lo d a re cip rocid a d e (Re ich e l-Dolm a toff 1976). Esta é a q u i fu n d a d a sob r e u m p rin cíp io d e e q u iva lê n cia e n tre h om e n s e a n im a is n o se io d e u m cosm os con ce b id o com o u m cir cu ito fe ch a d o h om e ostá tico. N a m e d id a e m q u e a e n e r g ia vita l g e n é rica p re se n te n a b iosfe ra e xiste e m q u a n tid a d e fin ita , a s troca s in te rn a s d e ve m se r or g a n iza d a s d e m od o a q u e a s r e tira d a s e fe tu a d a s p e los h om e n s, e sp e cia lm e n te p or oca siã o d a ca ça , p ossa m se r r e in je ta -d a s n o cir cu ito. O fe e -d b ack e n e rg é tico é a sse g u ra -d o, p rin cip a lm e n te , p e lo re torn o d a s a lm a s d os d e fu n tos a o Se n h or d os An im a is q u e a s con-ve rte e m ca ça . En tre os De sa n a , p orta n to, os h u m a n os e os a n im a is sã o su b stitu tos u n s d os ou tros e p ossu e m u m e sta tu to e q u iva le n te n a com u -n id a d e d e e -n e rg ia d o m u -n d o vivo; ju -n tos, e le s co-n trib u e m p a ra m a -n te r o e q u ilíb rio d os flu xos, já q u e su a s fu n çõe s sã o r e ve rsíve is n e ssa b u sca d e u m a h om e ósta se p e rfe ita .

(16)

-la d a se m p re ca u çõe s e xce ssiva s p or trá s d e u m a sim b ólica d a a lia n ça n a q u a l u m a d a s p a rte s ja m a is h on ra su a s ob rig a çõe s.

Fin a lm e n te , o m od e lo d a d á d iva é b e m ilu stra d o p e la s trib os Aru a -q u e -q u e h a b ita m o p ie m on te a m a zôn ico d os An d e s ce n tra is d o Pe r u (We iss 1975; Re n a rd C a se vitz 1972). As e sp é cie s ca ça d a s, p a rticu la rm e n -te os p á ssa ros, d e p e n d e m , q u a n to a o e sse n cia l, d e u m a ra ça d e b on s e sp íritos q u e os Ar u a q u e ch a m a m d e “ n ossa g e n te ” , ou “ n ossos con g ê n e -re s” , e q u e sã o -re p u ta d os d e d e m on stra -re m b oa d isp osiçã o p a ra com os ín d ios. M a ta r p á ssa r os é a ssim ila d o a u m a m e te m p sicose p r ovoca d a : d e p ois d e o ca ça d or te rlh e p e d id o su a “ r ou p a ” , o p á ssa r o volu n ta ria m e n te ofe re ce se u in vólu cro ca rn a l à fle ch a , p re se rva n d o se u d u p lo im a -te ria l q u e se r e e n ca rn a im e d ia ta m e n -te e m u m corp o id ê n tico. N ã o se in corre e n tã o e m n e n h u m d a n o, e e ste a to d e b e n e volê n cia n ã o p e d e con tra p a rtid a . C om e fe ito, n o p la n o on tológ ico, os b on s e sp íritos e se u s a va ta re s a n im a is sã o id ê n ticos a os h u m a n os: sã o con sid e ra d os com o p a re n -te s m u ito p róxim os, con sa n g ü ín e os ou a fin s se g u n d o a s e sp é cie s, d e ta l m od o q u e a d á d iva d e se u s d e sp ojos é p e rce b id a com o u m a sim p le s p ro-va d o d e ve r d e g e n e rosid a d e q u e se im p õe e n tre p e ssoa s e stre ita m e n te p róxim a s p e lo p a re n te sco.

Em q u e e sse s m od e los d e com p orta m e n to d ia n te d os a n im a is m a n i-fe sta m u m a d im e n sã o sociológ ica ? J u sta m e n te n o fa to d e re ve la re m u m a a titu d e m a is g e ra l p e ra n te ou tre m , h u m a n os e n ã o-h u m a n os a í con fu n d i-d os tota lm e n te , típ ica i-d e ca i-d a u m a i-d a s cu ltu ra s e m q u e stã o. Ai-d m ito i-d e b om g ra d o q u e a p rá xis d e u m a socie d a d e n ã o p od e ria se r re d u zid a a u m e sq u e m a ú n ico e q u e p e rte n ce à u top ia u m a com u n id a d e n a q u a l a s con -d u ta s fosse m re g i-d a s e xclu siva m e n te p e la ob la çã o ou ca p tu ra . O ob se r-va d or q u e m e rg u lh a p or m u ito te m p o e m u m a cu ltu ra n ã o p od e con tu d o d e ixa r d e p e rce b e r q u e se u s m e m b ros orie n ta m se u s a tos e m fu n çã o d e u m p e q u e n o n ú m e ro d e va lore s q u e m u ito fre q ü e n te m e n te p e rm a n e ce m n ã o form u la d os. É se m p r e a rrisca d o coloca r u m a e tiq u e ta sob r e e sse s va lore s, m a s e sta é a se rvid ã o d e tod o p roce d im e n to a n a lítico e a con d i-çã o p a ra e xp licita r o q u e p od e ria se r ch a m a d o d e e stilo d istin tivo, ou e th os d e u m a socie d a d e .

(17)

1983; H u g h -J on e s 1993). In ve rsa m e n te , n os g ru p os J íva ro, o e sta d o d e g u e rra g e n e ra liza d o e xp rim e a n e ce ssid a d e d e com p e n sa r ca d a m orte p e la ca p tu ra ju n to a ou tre m d e id e n tid a d e s re a is — o ra p to d e m u lh e re s e cria n ça s — ou virtu a is — a s ca b e ça s-trofé u s, p e ça s ce n tra is d e u m d isp ositivo ritu a l d e isp rod u çã o d e filh os (Ta ylor 1993; De scola 1993b ). C e rta -m e n te , a ob rig a çã o d a vin g a n ça a ca b a p or r e sta u ra r o e q u ilíb rio; n o e n ta n to, com p re e n d e r-se -á se m d ificu ld a d e q u e a s re p re sá lia s d os in im i-g os se ja m u m a con se q ü ê n cia p re vista , m a s n ã o a tiva m e n te p rocu ra d a , d os a tos d e violê n cia com e tid os con tra e le s. A p re d a çã o m ú tu a é a ssim u m re su lta d o n ã o in te n cion a l d e u m a r e je içã o g e ra l d a r e cip rocid a d e , m a is d o q u e u m a tr oca d e lib e ra d a d e vid a s h u m a n a s a tra vé s d e u m com é rcio b e licoso. Por fim , e m b ora a lóg ica d a d á d iva se ja m a is d ifícil d e se a p lica r d e m od o siste m á tico n a s p e rip é cia s cotid ia n a s d a vid a socia l, é im p re ssion a n te ve rifica r a q u e p on to os g ru p os Aru a q u e su b a n d in os se e sforça m p a ra m in im iza r e m se u se io a s op osiçõe s e n tre o e u e o ou tro. É o q u e te ste m u n h a m d e m od o p a rticu la rm e n te cla ro os Am u e sh a , q u e , a e xe m p lo d e Aristóte le s, con sid e ra m q u e o a m or con stitu i a fon te e o p rin cíp io d e e xistê n cia d e tu d o o q u e h á . Distin g u e m d ois tip os d e a m or: m u e -re ñ e ts sig n ifica a d á d iva d e si n a cria çã o d a vid a e ca ra cte riza a a titu d e d a s d ivin d a d e s e d os líd e r e s re lig iosos e m u m a r e la çã o a ssim é trica ; e n q u a n to m orre n te ñ e ts d e n ota o a m or m ú tu o in d isp e n sá ve l a q u a lq u e r socia b ilid a d e e se e xp rim e p or u m a g e n e rosid a d e p e rm a n e n te , ise n ta d e cá lcu lo e p r e visã o d e r e trib u içã o (Sa n tos G ra n e r o 1994). C om o n ã o se im p re ssion a r a q u i, ta m b é m , com a e stre ita corre sp on d ê n cia e n tre o tra ta -m e n to d a ca ça e o tra ta -m e n to d os h u -m a n os?

(18)

-tim e n to q u a lq u e r d e cu lp a8. A violê n cia , a q u i, é m a n ife sta e livre m e n te a ssu m id a . Erra r-se -ia a in d a p orq u e u m a ta l p e rsp e ctiva coloca e m d ú vi-d a q u e os a m e rín vi-d ios p ossa m a cr e vi-d ita r su ficie n te m e n te n o q u e vi-d ize m p a ra a g ir d e a cor d o com o q u e p e n sa m . O ra , le va n d o-se a sé rio o q u e e n u n cia m os De sa n a , os Ash a n in k a , os M a tsig u e n g a ou os Am u e sh a , d e ve -se a d m itir q u e m a ta r u m a n im a l q u e e u cr e io q u e vá r e e n ca rn a r im e d ia ta m e n te , n ã o é m a ta r, m a s se r o a g e n te d e u m a m e ta m or fose ; ig u a lm e n te , m a ta r u m a n im a l q u e e u cr e io p od e r su b stitu ir a o fim p or a lm a s h u m a n a s, é m e n os m a ta r d o q u e a ce ita r o a d ia n ta m e n to d e u m a vid a . A violê n cia d e sa p a re ce a q u i n ã o p orq u e se ja re ca lca d a , m a s p or-q u e n ã o p od e ria se r e fe tiva e m cosm olog ia s con ce b id a s com o siste m a s fe ch a d os n os q u a is a con se rva çã o d o m ovim e n to d os se re s e d a s coisa s e xig e q u e a s p a rte s troq u e m con sta n te m e n te d e p osiçã o.

Tra d u çã o d e Tâ n ia Stolze Lim a Re ce b id o e m 19 d e m a io d e 1997 Ap rova d o e m 16 d e ju n h o d e 1997

(19)

Not as

1 Q u a n to a o tra ta m e n to d o a n im a l, ve r, p or e xe m p lo, a d ife re n ça e n tre a

ca ça n a Eu rop a m e rid ion a l (Be rn a rd in a 1996) e a ca ça d e tra d içã o g e rm â n ica (H e ll 1994).

2 Tom o d e Lu c Fe rry (1992:100-101) e sta a p re se n ta çã o d a p osiçã o h u m a n ista .

3 É cla ro q u e isso n ã o q u e r d ize r q u e u m a a n trop olog ia m ora l u n ive rsa l n ã o

se ja d e se já ve l: o re la tivism o q u e in voco a q u i p rové m d a con sta ta çã o e m p írica , n ã o d a a firm a çã o d e u m va lor p ositivo.

4 Ve r, p or e xe m p lo, p a ra os Ya n om a m i (Alb e rt 1985); p a ra os Ara w e té (Vive

i-ros d e C a stro 1992); p a ra os Kra h ó (C a rn e iro d a C u n h a 1978); p a ra os Ap in a yé (Da M a tta 1976).

5 O fa to d e se r form u la d a e m te rm os a b stra tos, n ã o torn a u m a re la çã o socia l

m e n os irrig a d a p or u m con ju n to d e a fe tos, m a s, se o p roce d im e n to a n a lítico o re con h e ce fa cilm e n te , isso n ã o im p lica q u e se se ja ob rig a d o a d a r a e ssa d im e n -sã o u m p a p e l d istin tivo ou e xp lica tivo.

6 Rob e rte H a m a yon (1990) ch e g ou a con clu sõe s sim ila re s p a ra a Sib é ria .

7 Ta m b é m Erik son (1984:108-113) isola n a Am a zôn ia trê s m a n e ira s d e re

sol-ve r o “ m a l-e sta r con ce itu a l” d o ca ça d or: p e la d á d iva , p e la n e g ocia çã o e p e la a lia n ça . Se g u n d o e le , ta is te n ta tiva s se ria m p ou co sa tisfa tória s, p or d e ixa re m su b -sistir u m a p a rte d e cu lp a b ilid a d e ; d a í a cria çã o d e filh ote s d a ca ça . Pa re ce -m e , con tu d o, q u e , à d ife re n ça d a s trê s m od a lid a d e s q u e e u p rop on h o, a s solu çõe s d e Erik son n ã o se situ a m e m u m m e sm o p la n o a n a lítico: a n e g ocia çã o é e n g lob a d a p e la re cip rocid a d e , visto q u e é e sta q u e con stitu i su a con d içã o p rá tica , e n q u a n to a a lia n ça é e n g lob a n te , já q u e form a o q u a d ro g e ra l d a re la çã o d e a fin id a d e [re la-tion affin ale ] com o a n im a l d e ca ça .

8 Pod e r-se -ia d ize r o m e sm o d os Ya n om a m i (Alb e rt 1985:326-335), q u e vê e m

(20)

Ref erências bibliográf icas

ALBERT, B. 1985. Te m p s d u Sa n g , Te m p s d e s C e n d re s. Re p ré se n ta tion d e la M a la d ie , Systè m e Ritu e l e t Esp a ce Politiq u e ch e z le s Ya n om a m i d u Su d -e st (Am a zon ie Bré silie n n e ). Te se d e Dou tora d o, Pa ris-X. ___ . 1993. “ L’O r C a n n ib a le e t la C h u te

d u C ie l. Un e C ritiq u e C h a m a n iq u e d e l’Écon om ie Politiq u e d e la N a -tu re (Ya n om a m i, Bré sil)” . L’H om m e , 126-128:349-378.

ÅRH EM, K. 1996. “ Th e C osm ic Food We b : H u m a n -N a tu re Re la te d n e ss in th e N orth w e st Am a zon ” . In : P. De s-cola e G . Pá lsson (org s.), N atu re an d S ocie ty : A n th rop olog ical Pe rsp e c-tiv e s. Lon d on : Rou tle d g e . p p . 185-204.

BALÉE, W. 1993. “ In d ig e n ou s Tra n sfor-m a tion s of Asfor-m a zon ia n Fore sts: An Exa m p le from M a ra n h ã o, Bra zil” . L’H om m e , 126-128:231-254.

BERN ARDIN A, S. Da lla . 1996. L’Utop ie d e la N atu re . Ch asse u rs, Écolog iste s e t Tou riste s. Pa ris: Im a g o.

C AREY, S. 1985. Con ce p tu al Ch an g e in

Ch ild h ood . C a m b rid g e , M a ss.: Bra d ford Book s for th e M IT Pre ss. ___ e SPELKE, E. 1994. “ Dom a in -Sp e

cif-ic Kn ow le d g e a n d C on ce p tu a l C h a n g e ” . In : L. H irsch fe ld e S. A. G e lm a n (org s.), M ap p in g th e M in d . Dom ain S p e cificity in Cog n ition an d Cu ltu re . C a m b rid g e : C a m b rid g e Un ive rsity Pre ss. p p . 169-200.

C ARN EIRO DA C UN H A, M . 1978. O s M ortos e os O u tros. Um a A n álise d o S iste m a Fu n e rário e d a N oção d e Pe ssoa e n tre os Ín d ios Krah ó. Sã o Pa u lo: Ed itora H u cite c.

C LASTRES, P. 1973. “ De la Tortu re d a n s le s Socié té s Prim itive s” . L’H om m e , 13(3):114-120.

DA M ATTA, R. 1976. Um M u n d o Div id i-d o. A Estru tu ra S ocial i-d os Ín i-d ios A p in ay é . Pe tróp olis, RJ : Ed itora Voze s.

DELO RT, R. 1984. Le s A n im au x O n t u n e H istoire . Pa ris: Le Se u il.

DESC O LA, P. 1983. “ Le J a rd in d e C

olib ri. Procè s d e Tra va il e t C a té g oriza -tion s Se xu e lle s ch e z le s Ach u a r d e l’Eq u a te u r” . L’H om m e , 23(1):61-89. ___ . 1985. “ De l’In d ie n N a tu ra lisé à l’In d ie n N a tu ra liste : Socié té s Am a -zon ie n n e s sou s le Re g a rd d e l’O cci-d e n t” . In : A. C a cci-d ore t (org .), Prote c-tion d e la N atu re . H istoire e t Id é olo-g ie . Pa ris: L’H a rm a tta n . p p . 221-235.

___ . 1986. La N atu re Dom e stiq u e . S y m b olism e e t Prax is d an s l’Écolo-g ie d e s A ch u ar. Pa ris: Ed ition s d e la M a ison d e s Scie n ce s d e l’H om m e . ___ . 1993a . Le s Lan ce s d u Cré p u scu le .

Re lation s Jiv aros. H au te A m az on ie . Pa ris: Plon .

___ . 1993b . “ Le s Affin ité s Sé le ctive s. Allia n ce , G u e rre e t Pré d a tion d a n s l’En se m b le J iva ro” . L’H om m e , 126-128:171-190.

___ . 1994. “ Pou rq u oi le s In d ie n s d ’A-m a zon ie n ’O n t-Ils p a s Do’A-m e stiq u é le Pé ca ri? G é n é a log ie d e s O b je ts e t An th rop olog ie d e l’O b je ctiva tion ” . In : B. La tou r e P. Le m on n ie r (org s.), De la Pré h istoire au x M issile s Balis-tiq u e s. L’In te llig e n ce S ociale d e s Te ch n iq u e s. Pa ris: La Dé cou ve rte . p p . 329-344.

ERIKSO N, P. 1984. “ De l’Ap p rivoise m e n t à l’Ap p rovision n e m e n t: C h a sse , Allia n ce e t Fa m iAllia risa tion e n Am a -zon ie Am é rin d ie n n e ” . Te ch n iq u e s e t Cu ltu re s, 9:105-140.

(21)

Écolo-g iq u e . L’A rb re , l’A n im al e t l’H om m e . Pa ris: G ra sse t.

FRAZER, J . G . 1922. Th e G old e n Bou g h .

A S tu d y in M ag ic an d Re lig ion (A b rid g e d Ed ition ). Lon d on : M a cM illa n .

G REN AN D, P. 1980. In trod u ction à

l’É-tu d e d e l’Un iv e rs W ay ãp i: Eth n oÉcolog ie d e s In d ie n s d u H au tO y -ap ock (G u y an e Fran çaise ). Pa ris: SELAF/ C N RS.

H AM AYO N, Rob e rte . 1990. La Ch asse à l’Â m e . Esq u isse d ’u n e Th é orie d u Ch am an ism e S ib é rie n . N a n te rre : Socié té d ’Eth n olog ie .

H ELL, B. 1994. Le S an g N oir. Ch asse e t M y th e s d u S au v ag e e n Eu rop e . Pa ris: Fla m m a rion .

H UG H -J O N ES, S. 1993. “ C le a r De sce n t

or Am b ig u ou s H ou se s? A Re e xa m n a tion of Tu k a n oa n Socia l O rg a n i-za tion ” . L’H om m e , 126-128:95-120. ___ . 1996. “ Bon n e s Ra ison s ou M a u

va ise C on scie n ce ? De l’A m b iv a le n ce d e C e rta in s Am a zon ie n s e n -ve rs la C on som m a tion d e Via n d e ” . Te rrain s, 26:123-148.

J AC KSO N, J . 1983. Th e Fish Pe op le . Lin -g u istic Ex o-g am y an d Tu k an oan Id e n tity in th e N orth w e st A m az on . C a m b rid g e : C a m b rid g e Un ive rsity Pre ss.

J ARA, F. 1991. El Cam in o d e l Ku m u : Ecolog ía y Ritu al e n tre los A k u rió d e S u rin am . Utre ch t: ISO R.

REG AN, T. 1983. Th e Case for A n im al Rig h ts. Be rk e le y: Un ive rsity of C a li-forn ia Pre ss.

REIC H EL-DO LM ATO FF, G . 1976. A m

az on ian Cosm os. Th e S e x u al an d Re lig iou s S y m b olism of th e Tu k an o In -d ian s. C h ica g o: Th e Un ive rsity of C h ica g o Pre ss.

REN ARD-C ASEVITZ, F. M . 1972. “ Le s M a tsig u e n g a ” . Jou rn al d e la S o-cié té d e s A m é rican iste s d e Paris, 61:215-253.

___ . 1991. Le Ban q u e t M asq u é . Un e M y th olog ie d e l’Étran g e r ch e z le s In d ie n s M atsig u e n g a. Pa ris: Lie rre & C ou d rie r.

RIVAL, L. 1996. “ Blow p ip e s a n d Sp e a rs: Th e Socia l Sig n ifica n ce of H u a ora n i Te ch n olog ica l C h oice s” . In : P. De s-cola e G . Pá lsson (org s.), N atu re an S ocie ty : A n th rop olog ical Pe rsp e c-tiv e s. Lon d on : Rou tle d g e . p p . 145-164.

SAN TO S G RAN ERO, F. 1994. El Pod e r d e l A m or. Pod e r, Con ocim ie n to y M ora-lid ad e n tre los A m u e sh a d e la S e lv a Ce n tral d e l Pe rú . Q u ito: Ed icion e s Ab ya -Ya la .

SIN G ER, P. 1989. A n im al Lib e ration . N e w York : Ra n d om H ou se .

TAYLO R, A. C . 1983. “ Th e M a rria g e

Al-lia n ce a n d its Stru ctu ra l Va ria tion s in J iva roa n Socie tie s” . S ocial S ci-e n cci-e In form ation , 22(3):331-353. ___ . 1993. “ Le s Bon s En n e m is e t le s

M a u va is Pa re n ts. Le Tra ite m e n t d e l’Allia n ce d a n s le s Ritu e ls d e C h a s-se a u x Tê te s d e s Sh u a r (J iva ro) d e l’Eq u a te u r” . In : E. C op e t-Rou g ie r e F. H é ritie rAu g é (org s.), Le s Com -p lé x ité s d e l’A llian ce : IV. Econ om ie , Politiq u e s e t Fon d e m e n ts S y m b oli-q u e s. Pa ris: Ed ition s d e s Arch ive s C on te m p ora in e s. p p . 73-105.

TH O M AS, K. 1983. M an an d th e N atu ral W orld . Ch an g in g A titu d e s in En g -lan d (1500-1800). Lon d on : Alle n La n e .

VAN DER H AM M EN, M . C . 1992. El

(22)

A m az on ia Colom b ian a. Bog otá : Trop e n b os.

VIVEIRO S DE C ASTRO, E. 1986.

A raw e té . O s De u se s Can ib ais. Rio d e J a n e iro: J org e Za h a r/ An p ocs. ___ . 1992. From th e En e m y ’s Poin t of

Vie w. H u m an ity an d Div in ity in an A m az on ian S ocie ty . C h ica g o/ Lon -d on : Th e Un ive rsity of C h ica g o Pre ss.

___ . 1993. “ Alg u n s Asp e ctos d a Afin i-d a i-d e n o Dra vii-d ia n a to Am a zôn ico” . In : M . C a rn e iro d a C u n h a e E. Vi-ve iros d e C a stro (org s.), A m az ôn ia: Etn olog ia e H istória In d íg e n a. Sã o Pa u lo: N H II/ USP. p p . 149-210. ___ . 1996. “ O s Pron om e s C osm ológ

i-cos e o Pe rsp e ctivism o Am e rín d io” . M an a: Estu d os d e A n trop olog ia S o-cial, 2(2):115-144.

WEISS, G . 1975. Cam p a Cosm olog y. Th e W orld of a Fore st Trib e in S ou th A m e rica. N e w York : Am e rica n M u -se u m of N a tu ra l H istory.

ZELEN IN, D. 1952. Le Cu lte d e s Id ole s e n S ib é rie . Pa ris: Pa yot.

ZERRIES, O . 1954. W ild - u n d Bu sh g e

(23)

Resumo

Um a ce rta tra d içã o a n trop ológ ica te n d e a in te rp re ta r a sim b ólica d a ca ça com o u m a m a n e ira d e e xp rim ir a a m b iva lê n-cia , a té m e sm o a m á con sciê n n-cia , q u e tod os os h u m a n os se n tiria m a o m a ta re m a n im a is. Se e ssa in te rp re ta çã o p a -re ce le g ítim a n o q u a d ro d a s socie d a d e s m od e rn a s, m a rca d a s d e sd e o sé cu lo XIX p or u m a e volu çã o p rofu n d a d a s se n sib ilid a d e s n e sse d om ín io, e la n ã o p a re ce sê lo p a ra a s socie d a d e s p ré -m od e rn a s, sob re a s q u a is se p od e d u vi-d a r q u e p a rtilh e m a m e sm a m ora l q u e os cid a d ã os e u ro-a m e rica n os d o fim d o sé cu lo XX. O e xe m p lo d o tra ta m e n to d a ca ça n a Am a zôn ia in d íg e n a m ostra q u e a re la çã o com o a n im a l a li é m e n os d e te rm in a d a p or u m a g a m a d e se n tim e n -tos u n ive rsa is q u e p or e sq u e m a s d e com p orta m e n to e n ra iza d os n os siste -m a s cos-m ológ icos, on tológ icos e sociológ icos ca ra cte rísticos d e ssa á re a cu ltu -ra l.

Abst ract

Referências

Documentos relacionados

In: Illum inations... Floria n óp

Colon ialism ’s Cu

Palav ras

Voice s of.

Pow er Struggle and the Development of Habitus in the Nineteenth and Tw entieth Centuries.. New York: Columbia Uni-

[r]

Et hnonat ionalist Conf lict s and Collective Violence in South Asia.. Berkeley: University of

Greenpeace ) vinculados à proteção do meio ambiente. Esse fenômeno ocorreu igualmente nos movimentos de protesto relacio- nados à mineração a céu aberto. As estratégias das