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Por que as partes litigam ? : a racionalidade econômica da litigância

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Academic year: 2017

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(1)

Brasília

2012

Autor:

Orientador:

Pedro Henrique Arazine de Carvalho

Costandrade

Prof. Dr. Gilson Geraldino da Silva Júnior

Coorientador: Dr. Ivo Teixeira Gico Júnior

POR QUE AS PARTES LITIGAM?: a racionalidade econômica

da litigância

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

STRICTO SENSU

(2)

PEDRO HENRIQUE ARAZINE DE CARVALHO COSTANDRADE

POR QUE AS PARTES LITIGAM?: a racionalidade econômica da litigância

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Strico Sensu em Direito da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Análise Econômica do Direito.

Orientador: Dr. Gilson Geraldino da Silva Júnior

Coorientador: Dr. Ivo Teixeira Gico Júnior

(3)

7,5cm

Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

16/11/2012

C838p Costandrade, Pedro Henrique Arazine de Carvalho.

Por que as partes litigam?: a racionalidade econômica da litigância. / Pedro Henrique Arazine de Carvalho Costandrade – 2012.

146f. il.; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2012. Orientação: Prof. Dr. Gilson Geraldino da Silva Júnior

Coorientação: Prof. Dr. Ivo Teixeira Gico Júnior

1. Litígio. 2. Justiça social. 3. Valor (Economia). 4. Legislação judiciária. I. Silva Júnior, Gilson Geraldino da, orient. II. Gico Júnior, Ivo Teixeira, coorient. III.Título.

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AGRADECIMENTO

Inicialmente, gostaria de agradecer ao apoio e dedicação dos meus orientadores, que, apesar das inúmeras atividades, sempre conseguiram encaixar em suas corridas agendas o tempo necessário para criticar e aperfeiçoar o texto deste trabalho e se dispuseram a ler as intermináveis versões da dissertação até que se pudesse alcançar o estado atual. Devo agradecer também aos debates travados e sugestões dadas pelos Professores Mário Jorge Panno, Daniel Carnacchioni e Edson Alfredo Martins Smaniotto.

Apesar de ter dedicado o presente trabalho à minha família, não posso deixar também de agrade-los por toda a compreensão e carinho que demonstraram nesse percurso que completa agora dois anos, desde a elaboração de um projeto de pesquisa para a inscrição no programa de pós-graduação em outubro de 2011, até a atualidade.

É preciso também agradecer aos amigos que encontrei durante o curso de mestrado, em especial, o Rafael Sales, que não deixou e ler e comentar cada uma das versões da dissertação que enviei para ele, e o Henrique Arake, que esteve sempre disposto a debater os temas propostos aqui neste trabalho. O resultado final que aqui se observa também se deve à participação deles.

Aproveita-se a oportunidade, ainda, para agradecer ao auxílio prestado pelos servidores do Tribunal de Justiça do Distrito Federal que forneceram os dados para a presente pesquisa, com destaque para os seguintes: Mariana Pereira de Queiroz Carraro; Caroline Gomes de Amaral Bayma; Hortência Maria Lima Barbosa; Rosely de Paula Menezes; Fernando Alves Dias; e, Aladina Machado Godoi.

(7)

Para minha família – que, algumas vezes não me entendeu, mas me incentivou a fazer tudo o

que eu quis, mesmo não concordando. Agora percebo que é necessário muito amor para

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráfico 1 – Total de Processos Distribuídos no STF, 2003 a 2011 ... 26

Gráfico 2 – Processos novos, finalizados e estoque no STF, 2008 a 2011 ... 27

Gráfico 3 – Processos novos, finalizados e estoque no TST, 2003 a 2010 ... 28

Gráfico 4 – Processos novos, finalizados e estoque nos TRT’s, 2003 a 2010 ... 30

Gráfico 5 – Processos novos, finalizados e estoque na Justiça do Trabalho de 1˚ Grau, 2003 a 2010 ... 31

Gráfico 6 – Processos novos, finalizados e estoque no STJ, 2003 a 2010 ... 32

Gráfico 7 – Processos novos, finalizados e estoque nos TRF’s, 2003 a 2010 ... 34

Gráfico 8 – Processos novos, finalizados e estoque no 1˚ Grau da Justiça Federal, 2003 a 2010 ... 36

Gráfico 9 – Processos novos, finalizados e estoque nos Juizados Especiais Federais, 2003 a 2010 ... 37

Gráfico 10 – Processos novos, finalizados e estoque nos TJ`s, 2003 a 2010 ... 38

Gráfico 11 – Processos novos, finalizados e estoque no 1˚ Grau da Justiça Estadual, 2003 a 2010 ... 39

Gráfico 12 – Processos novos, finalizados e estoque nos Juizados Especiais Estaduais, 2003 a 2010 ... 40

Figura 13 – Árvore de Decisão: litigar ou Não Litigar, eis a questão ... 77

Figura 14 – Estrutura de retorno no jogo simultâneo de recurso ... 78

Figura 15 – Estrutura de retorno no jogo sequencial de recurso ... 79

Gráfico 16 – Custo Social do Litígio ... 80

Gráfico 17 – Variação percentual da Ocorrência das Colocações Pronominais ... 126

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – STF – 2008 a 2011 ... 28

Tabela 2 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – TST – 2003 a 2010 ... 29

Tabela 3 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – TRT’s – 2003 a 2010 ... 30

Tabela 4 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – 1º Grau Justiça da Trabalho – 2003 a 2010 ... 32

Tabela 5 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – STJ – 2003 a 2010 ... 33

Tabela 6 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – TRF’s – 2003 a 2010 ... 34

Tabela 7 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – 1º Grau da Justiça Federal – 2003 a 2010 ... 36

Tabela 8 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – Juizados Especiais Federais – 2003 a 2010 ... 37

Tabela 9 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – TJ’s – 2003 a 2010 ... 38

Tabela 10 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – 1º Grau da Justiça Estadual – 2003 a 2010 ... 40

Tabela 11 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – Juizados Especiais Estaduais – 2003 a 2010 ... 41

Tabela 13 – Custo Médio de Manutenção do Processo por ano no 1º Grau (em R$)... 96

Tabela 14 – Custo Médio do Processo no 1º Grau (em R$) ... 96

Tabela 15 – Valor médio de Custas e Emolumentos Pagos pelas Partes no 1º Grau (em R$) ... 96

Tabela 16 – Pronomes observados no corpus analisado ... 126

Tabela 17 – Dados da Justiça Estadual ... 142

Tabela 18 – Dados da Justiça Federal ... 143

Tabela 19 – Dados da Justiça do Trabalho ... 144

(10)

RESUMO

Referência: COSTANDRADE, Pedro Henrique Arazine de Carvalho Costandrade. PORQUE AS PARTES LITIGAM?: a racionalidade econômica da litigância. 2012. 146 folhas. Dissertação em Direito – Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, 2012.

A doutrina tradicional do Direito não possui a sofisticação necessária para compreender os motivos para a litigância na medida em que atribui a submissão das lides ao Judiciário à busca por Justiça e satisfação de um senso moral. A partir disso, observou-se que a teoria econômica lança as bases para uma melhor compreensão dos motivos que as partes possuem para litigar e uma pesquisa encontrou quatro motivos para tal, quais sejam, baixos custos e baixos riscos, perspectiva de ganho, uso instrumental e por princípio ou Justiça, todas elas de acordo com a teoria econômica da escolha racional. Foi possível, então, fazer a modelagem do litígio, sua aplicação ao caso brasileiro e às motivações para litigar, lançando as bases para a escolha pela sociedade das motivações que deseja estimular. Nesse contexto, observou-se, que o próprio Poder Judiciário pode atuar como mecanismo incentivador de novos litígios, como é o caso da utilização de uma linguagem rebuscada e de difícil compreensão, que conduz ao prolongamento dos litígios e rediscussões das decisões anteriormente proferidas, o que gera novos conflitos, até que se tenha segurança suficiente do conteúdo daquela decisão.

(11)

ABSTRACT

The traditional doctrine of the law lacks the sophistication necessary to understand the reasons for the litigation to the extent that assigns chores to the submission of the Judiciary seeking justice and satisfaction of a moral sense. From this, it was observed that economic theory lays the foundation for a better understanding of the reasons that the parties have to litigate and a research found four reasons for this, namely, low costs and low risks, gain perspective, instrumental use and by principle or law, all in accordance with the economic theory of rational choice. It was then possible to model the dispute, its application to the case of Brazil and the motivations to litigate, laying the groundwork for choosing the motivations you want to stimulate. In this context, it was noted that the Judiciary can act as a mechanism for encouraging further litigation, such as the use of a flowery language and difficult to understand, leading to prolonged disputes and new discussions about the conclusions of earlier judgments, then generating new conflicts, until individuals have enough security about the content of that decision.

(12)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 13

1 PANORAMA DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO ... 15

1.1 A CRISE PERMANENTE DO JUDICIÁRIO ... 16

1.2 OS NÚMEROS DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO ... 23

1.3 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO ... 42

2 TEORIA ECONÔMICA DO PROCESSO ... 43

2.1 RESPOSTA DA DOUTRINA TRADICIONAL DO DIREITO ... 43

2.2 A PASSAGEM PARA A TEORIA DA ESCOLHA RACIONAL ... 49

2.2.1 Escolha e Escolha Envolvendo Risco ... 50

2.3 OS MOTIVOS QUE LEVAM AS PESSOAS A LITIGAR E A LEGISLAÇÃO .... 55

2.3.1 Baixos custos de acesso e baixos riscos ... 56

2.3.2 Perspectiva de ganho ... 60

2.3.3 Uso instrumental ... 63

2.3.4 Por princípio ou Justiça ... 64

2.4 MODELANDO O LITÍGIO A PARTIR DA RACIONALIDADE ECONÔMICA . 65 2.4.1 O modelo ... 68

2.4.1.1 A decisão de recorrer ... 77

2.4.1.2 Custo social do litígio ... 79

2.5 ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS DO MODELO APRESENTADO ... 81

2.6 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO ... 84

3 POR QUE AS PARTES LITIGAM? ... 87

3.1 O SISTEMA JUDICIÁRIO BRASILEIRO E AS REGRAS PROCESSUAIS ... 87

3.2 APLICANDO O MODELO ... 97

3.2.1 Baixos custos de acesso e baixos riscos ... 97

3.2.1.1 Autor ... 98

3.2.1.2 Réu ... 99

3.2.2 Perspectiva de ganho ... 100

3.2.2.1 Autor ... 101

3.2.2.2 Réu ... 102

3.2.3 Uso instrumental ... 103

3.2.3.1 Autor ... 103

3.2.3.2 Réu ... 103

3.2.4 Por princípio ou Justiça ... 104

3.2.4.1 Autor ... 104

(13)

3.3 A APLICAÇÃO DOS RESULTADOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO

BRASILEIRO ... 105

3.4 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO ... 108

4 O JUDICIÁRIO INCENTIVANDO LITÍGIOS: O EXCESSO DE FORMALISMO LINGUÍSTICO ... 110

4.1 OS CUSTOS E REPERCUSSÕES DO EXCESSO DE FORMALISMO NA LINGUAGEM JURÍDICA ... 111

4.2 ASPECTOS LINGUÍSTICOS ENVOLVIDOS NO ESTUDO DE CASO ... 115

4.2.1 Oralidade e Escrita ... 115

4.2.2 Gêneros Textuais ... 117

4.2.3 Variação Linguística e Mudança Linguística ... 120

4.2.4 O pronome átono na linguagem culta brasileira na atualidade ... 122

4.2.5 O uso do relativo Cujo nos dias atuais ... 123

4.3 HIPÓTESES E DADOS ... 124

4.3.1 Hipóteses ... 124

4.3.2 Coleta de dados ... 124

4.4 RESULTADOS ... 125

4.5 CONCLUSÕES DO CAPÍTULO ... 128

CONCLUSÃO ... 130

REFERÊNCIAS ... 133

ANEXO A – NOTA METODOLÓGICA SOBRE OS DADOS CONSTANTES DO ITEM 1.2 ... 138

ANEXO B – NOTA METODOLÓGICA SOBRE OS DADOS CONSTANTES DO CAPÍTULO 3 ... 141

ANEXO C – DADOS COLETADOS DA JUSTIÇA ESTADUAL ... 142

ANEXO D – DADOS COLETADOS DA JUSTIÇA FEDERAL ... 143

ANEXO E – DADOS COLETADOS DA JUSTIÇA DO TRABALHO ... 144

(14)

INTRODUÇÃO

Certo é que o Judiciário desempenha um papel importante no âmbito de um país e no cotidiano das pessoas, ainda que, muitas vezes sem que se tenha conta disso. Um exemplo bem simples que pode ser mencionado aqui é a taxa de juros como reflexo de decisões tomadas pelo Poder Judiciário, refletindo, pois, os riscos das empresas que lidam, por exemplo, com empréstimo e financiamento a consumidores.

Nos dias atuais, boa parte das reflexões jurídicas que estão sendo lançadas, tanto pelo meio acadêmico, quanto por aqueles que atuam no âmbito do Judiciário, se refere aos problemas de demora, efetividade e excesso de processos submetidos a esse Poder, o que se tem chamado de crise. Entretanto, essa crise já é mencionada no meio jurídico brasileiro desde idos da década de 1980, tratando-se, pois, de um cenário de crise permanente.

Registre-se, neste ponto, que não se pretende com este estudo resolver os problemas relacionados a essa crise institucional, mas, tão somente, lançar as bases para uma reflexão acerca de tópicos que, usualmente, não são debatidos pelos estudiosos do Direito e juristas em geral, qual sejam, os motivos que levam as pessoas a submeterem seus conflitos para a solução judicial.

Nesse contexto, o primeiro capítulo procura instrumentalizar o debate acerca da crise do Poder Judiciário, que serve aqui como motivação para o trabalho, analisando alguns números e indicadores que, a despeito da falta de confiabilidade nos dados disponíveis, servem, ao menos, para indicar que os problemas do Judiciário não decorrem, apenas, do número de recursos disponíveis aos jurisdicionados, devendo eventual solução voltar-se também para outros aspectos.

A partir disso, no segundo capítulo, faz-se uma abordagem da resposta tradicional do Direito para os motivos que levam as partes a litigarem, que, em brevíssima síntese, poderia ser enunciado como busca por Justiça. Entretanto, essa motivação não responde ao crescente número de litígios submetidos ao Poder Judiciário, a não ser que se diga que a sociedade brasileira é de extrema injustiça (o que depende da perspectiva de quem se trata), posto que, na Justiça Estadual, em 2010, existiam aproximados 53 milhões de processos, considerados os casos novos e estoque existentes, um quarto da população brasileira atualmente.

(15)

realizada por Professores da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) em 2011 indica que efetivamente as pessoas buscam o Judiciário por quatro motivos, baixos custos e baixos riscos, perspectiva de ganho, uso instrumental e por princípio ou Justiça, todas essas motivações de acordo com a teoria econômica. Das quatro motivações, apenas uma se adequa ao considerado pela doutrina tradicional do Direito, sendo, portanto, necessário rediscutir a matéria a partir de novos prismas e por uma perspectiva multidisciplinar, como ora se pretende realizar.

Com estes aspectos em consideração, buscou-se formular um modelo matemático que consiga tratar cada uma das variáveis envolvidas nas motivações verificadas na pesquisa empírica então apresentada e, posteriormente, as consequências da aplicação do modelo a questões relacionadas à litigância, donde se observou, por exemplo, que baixos custos de acesso e utilização do Judiciário dificulta a realização de acordos. Posteriormente, foram feitas considerações acerca do custo social do litígio e da manutenção do Poder Judiciário, lançando bases para um debate acerca do nível ótimo de litígios que deve ser estimulado por uma sociedade.

No capítulo seguinte, por sua vez, as conclusões do modelo foram aplicadas ao sistema processual brasileiro e às motivações para litigar verificadas na pesquisa, registrando-se que as pessoas efetivamente são racionais maximizadoras de sua utilidade, decidindo pelo litígio após a consideração dos custos e benefícios esperados em contraposição à opção de não litigar.

(16)

1 PANORAMA DO JUDICIÁRIO BRASILEIRO

O estudo dos motivos que levam as pessoas ao litígio no Judiciário pode ajudar a responder questionamentos das mais diversas ordens, desde a razão pela qual algumas violações a direitos nunca são submetidas ao crivo do Judiciário, passando por aspectos legislativos que envolvem, por exemplo, a disciplina da distribuição do ônus processual, e, até, a noções de gestão de processos judiciais. Além desses aspectos, o estudo da litigância pode auxiliar as pessoas a decidirem quais pretensões devem ser perseguidas e quais devem ser deixadas de lado, em que casos devem ajuizar ou responder a uma ação, quando aceitar ou fazer uma proposta de acordo, entre outros, tendo todos esses aspectos em comum o fato de auxiliarem as partes a tomarem decisões de forma estratégica1.

Certo é, por outro lado, que, ao tratar do desenvolvimento e crescimento econômico de um país, o estudo das instituições importa. É essa a lição de North (1990, p. 12) em sua obra acerca das mudanças institucionais e o desenvolvimento na qual o autor afirma que “Instituições são as regras do jogo em uma sociedade ou, mais formalmente, são as restrições criadas pela humanidade para dar forma às interações sociais. Como consequência, elas estruturam os incentivos nas trocas humanas, sejam políticas, sociais ou econômicas” [tradução livre]2 (NORTH, 1990, p. 3). Dessa forma, a mudança institucional é responsável pelo “[...] modo pelo qual as sociedades evoluem através do tempo e, portanto, é a chave para entender as mudanças históricas”3 (NORTH, 1990, p. 3 - tradução livre). É nesse contexto que se insere o estudo do Poder Judiciário enquanto instituição formal que pode contribuir para o desenvolvimento econômico de um país ao atuar, e. g., como meio para a redução dos custos de transação, como se verá adiante.

Com efeito, Tavares (2006, p. 120) aborda a questão da importância do estudo das instituições no desenvolvimento, com destaque para o sistema legal, cujas funções de evitar que o governo abuse do poder do Estado e de garantia dos direitos de propriedade e tutela das relações de troca privadas são de extrema importância para a economia. Portanto, um Poder Judiciário mais eficiente pode tornar as relações sociais também mais eficientes o que geraria riqueza social. É nesse contexto que se insere a proposta de Garoupa, Simões e Silveira (2006,

1 Em síntese, será considerada estratégica uma decisão que pondere os resultados esperados com sua

implementação em contraposição aos seus custos esperados.

2 No original: “Institutions are the rules of the game in a society or, more formally, are the humanly devised

constraints that shape human interaction. In consequence they structure incentives in human exchange, whether political, social, or economic”.

3 No original: “Institutional change shapes the way societies evolve through time and hence is the key to

(17)

p. 127) de estudo das instituições judiciais portuguesas, afirmando que “[a] baixa qualidade das instituições portuguesas, em particular a Justiça, [...] é considerada uma das principais razões que explicam a estagnação económica actual” (p. 127).

Assim, após anotar que a necessidade de reforma das instituições jurídicas portuguesas já foi reconhecida há mais de uma década, Garoupa, Simões e Silveira (2006, p. 127-128) destacam a existência de três fatores que dificultam a realização das reformas necessárias, que, com algumas adequações, poderiam se aplicar também ao Brasil, quais sejam:

1. Não há nenhum esforço observável no sentido de se providenciar um esquema sistemático para a avaliação dos custos derivados da ineficiência do sistema jurídico: a. O tratamento descritivo em vez de econométrico dos já poucos dados disponíveis [...];

b. Há uma quase falta de exercício de benchmarking recorrendo sobretudo a

argumentos pseudonacionalistas e conceitos confusos;

c. A avaliação quantitativa é normalmente limitada aos inputs nunca se estendendo

aos outputs do sector jurídico.

2. Desenho das reformas da Justiça sem quantificar objetivos e sem indicadores que possam ser utilizados como guias na tomada de decisões políticas.

a. Não há compromissos políticos sérios com resultados no curto ou no longo prazo; b. Não há análises de impacto ou de avaliação das reformas;

c. Não há monitorização ex post.

3. Análise de equilíbrio parcial sem considerar os ajustamentos sistémicos e temporais.

Quanto ao primeiro item, o Conselho Nacional de Justiça (CNJ)4 tem dado largos passos, mas a falta de profissionais habilitados a tratar o Direito a partir de uma abordagem econômica ainda dificulta o avanço das reformas necessárias. Ademais, a maior parte das alterações propostas busca enfrentar os problemas sem realmente realizar estudos prévios acerca das causas, como se verá a seguir ao tratar do cenário de crise do Poder Judiciário brasileiro.

1.1A CRISE PERMANENTE DO JUDICIÁRIO

Desde a edição da Emenda Constitucional 45/2004, que realizou a chamada Reforma do Judiciário e, entre outras questões, criou o CNJ e a Súmula Vinculante no âmbito do Supremo Tribunal Federal, tem-se discutido, no cenário jurídico, a criação de mecanismos capazes de conferir maior celeridade aos processos judiciais e efetividade às decisões tomadas na atuação jurisdicional do Poder Judiciário a fim de dar eficácia ao então acrescentado inciso LXXVIII, art. 5º, da Constituição, que estabelece “[...] a todos, no âmbito judicial e

4 O Conselho Nacional de Justiça é um órgão de controle administrativo e financeiro do Poder Judiciário,

(18)

administrativo, são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação” (grifos acrescentados).

A necessidade de realização de tais reformas e da ênfase ao que hoje de chama de princípio da celeridade processual decorreu do que alguns autores têm chamado de crise do Judiciário5, o que se observaria pela extensa duração do processo e pela impossibilidade de se ter uma Justiça rápida e eficiente e que, nas palavras proferidas na Abertura do Seminário “Mediação e Conciliação” (2011) pelo então Presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ministro Cezar Peluso, tem como origem:

[...] o grande volume de processos [que] ameaça o eficaz funcionamento da Justiça e pode levar, no longo prazo, a perigosa desconfiança em relação ao Poder Judiciário e, conseqüentemente, ao Estado de Direito. A questão da morosidade da Justiça constitui – ou deveria constituir – preocupação fundamental dos verdadeiros defensores da democracia.

A partir da reforma constitucional acima mencionada, uma série de iniciativas teve início com o objetivo de resolver a “[...] questão da morosidade da Justiça” (PELUSO, 2011), como é o caso do I Pacto pelo Judiciário (BRASIL. MINISTÉRIO DA JUSTIÇA, 2004), que foi firmado nas seguintes premissas:

Poucos problemas nacionais possuem tanto consenso no tocante aos diagnósticos quanto à questão judiciária. A morosidade dos processos judiciais e a baixa eficácia de suas decisões retardam o desenvolvimento nacional, desestimulam investimentos, propiciam a inadimplência, geram impunidade e solapam a crença dos cidadãos no regime democrático.

Em face do gigantesco esforço expendido sobretudo nos últimos dez anos, produziram-se dezenas de documentos sobre a crise do Judiciário brasileiro, acompanhados de notáveis propostas visando ao seu aprimoramento.

Os próprios Tribunais e as associações de magistrados têm estado à frente desse processo, com significativas proposições e com muitas iniciativas inovadoras, a demonstrar que não há óbices corporativistas a que mais avanços reais sejam conquistados.

O Poder Legislativo não tem se eximido da tarefa de contribuir para um Judiciário melhor, como demonstram a recém-promulgada reforma constitucional (EC no 45/2004) e várias modificações nas leis processuais.

A reforma do sistema judicial tornou-se prioridade também para o Poder Executivo, que criou a Secretaria de Reforma do Judiciário no âmbito do Ministério da Justiça, a qual tem colaborado na sistematização de propostas e em mudanças administrativas [grifos acrescentados]

Um aspecto interessante constante de tais razões é, além do reconhecimento estatal da chamada crise do Judiciário, a noção de que um Poder Judiciário lento e ineficaz traz consequências negativas para o desenvolvimento econômico de um Estado, principalmente,

5 Sobre o tema, exemplificativamente, Bertei (2007), já no resumo de seu trabalho, adverte: “A crise institucional

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com o desestímulo a investimentos e incremento da inadimplência de obrigações contraídas. O referido documento estabeleceu, ainda, onze ações com o objetivo de dar fim a essa situação de crise, com destaque para os itens 1 e 2, quais sejam: 1) Implementação da Reforma Constitucional do Judiciário; e, 2) Reforma do sistema recursal e dos procedimentos. Esse documento demonstra a percepção, hoje generalizada, de que o problema do Poder Judiciário, que leva à perpetuação do litígio, uma vez que não existe um horizonte finito para seu término, e à falta de efetividade das decisões judiciais, perpassa a quantidade de recursos previstos no ordenamento jurídico e a sua utilização pelos agentes envolvidos em uma disputa judicial, o que motivou, inclusive, a propositura da chamada PEC dos Recursos, pelo Ministro Cezar Peluso, então presidente do Supremo Tribunal Federal, que restou assim ementada (BRASIL. SENADO FEDERAL, 2011):

Altera o art. 102 da Constituição Federal para incluir a ação rescisória extraordinária dentre os processos de competência originária do Supremo Tribunal Federal; estabelece as hipóteses de cabimento da ação rescisória extraordinária; determina que, na ação rescisória extraordinária, o autor demonstre a repercussão geral das questões constitucionais nela discutidas, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine sua admissibilidade, somente podendo recusá-la, por ausência de repercussão geral, pelo voto de dois terços de seus membros; modifica o art. 105 da Constituição Federal para incluir a ação rescisória especial dentre os processos de competência originária do Superior Tribunal de Justiça; especifica os casos de ajuizamento da ação rescisória especial; remete à legislação ordinária o estabelecimento dos casos de inadmissibilidade da ação rescisória especial.

Por essa proposta, após o pronunciamento dos tribunais de 2º grau, as decisões proferidas estariam aptas a serem executadas, o que poderia dar maior celeridade aos processos judiciais, restando às instâncias especial e extraordinária o papel de cortes de rescisão das decisões proferidas pelos demais órgãos do Judiciário. Em 2009, nesse mesmo sentido, foi editado o II Pacto Republicano, que seria uma complementação do I Pacto pelo Judiciário, em que se buscou reafirmar os compromissos constantes desse pacto “[...]para fortalecer a proteção aos direitos humanos, a efetividade da prestação jurisdicional, o acesso universal à Justiça e também o aperfeiçoamento do Estado Democrático de Direito e das instituições do Sistema de Justiça” (BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA, 2009 - grifos acrescentados).

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proteção à dignidade da pessoa humana. Além disso, dever-se-ia “[...] fortalecer a mediação e a conciliação, estimulando a resolução de conflitos por meios autocompositivos, voltados à maior pacificação social e menor judicialização”.

Por sua vez, entre as matérias consideradas prioritárias para o fim de obter maior agilidade e efetividade da prestação jurisdicional, no item 2.6 do referido pacto, consta a “Revisão de normas processuais, visando a agilizar e a simplificar o processamento e julgamento das ações, coibir os atos protelatórios, restringir as hipóteses de reexame necessário e reduzir recursos”, o que demonstra que o enfoque dado para resolver os problemas observados no Poder Judiciário seriam de incentivo à realização de acordos e de redução das vias recursais cabíveis.

Essa noção de que o problema de lentidão do Poder Judiciário decorre do número de recursos disponíveis aos jurisdicionados deu origem não apenas à mencionada Proposta de Emenda Constitucional (PEC) dos Recursos, como também deu o mote dos trabalhos da comissão de juristas formada para elaborar um anteprojeto de Código de Processo Civil para ser analisado pelo Poder Legislativo brasileiro, a fim de efetivar as medidas apontadas no referido pacto. É o que se observa na exposição (BRASIL. SENADO FEDERAL, 2010, p. 7-9) firmada pelo então Presidente da Comissão encarregada da elaboração do anteprojeto, transcreve-se:

É que; aqui e alhures não se calam as vozes contra a morosidade da justiça. O vaticínio tornou-se imediato: “justiça retardada é justiça denegada” e com esse estigma arrastou-se o Poder Judiciário, conduzindo o seu desprestígio a índices alarmantes de insatisfação aos olhos do povo.

Esse o desafio da comissão: resgatar a crença no judiciário e tornar realidade a promessa constitucional de uma justiça pronta e célere.

Como vencer o volume de ações e recursos gerado por uma litigiosidade desenfreada, máxime num país cujo ideário da nação abre as portas do judiciário para a cidadania ao dispor-se a analisar toda lesão ou ameaça a direito?

Como desincumbir-se da prestação da justiça em um prazo razoável diante de um processo prenhe de solenidades e recursos?

Como prestar justiça célere numa parte desse mundo de Deus, onde de cada cinco habitantes um litiga judicialmente?

[...]

O tempo não nos fez medrar e de pronto a Comissão enfrentou a tormentosa questão da morosidade judicial.

Queremos justiça!!! Prestem-na com presteza; dizem os cidadãos.

Sob o ecoar dessas exigências decantadas pelas declarações universais dos direitos fundamentais do homem, e pelas aspirações das ruas, lançou-se a comissão nesse singular desafio, ciente de que todo o poder emana do povo, inclusive o poder dos juízes, e em nome de nossa gente é exercido.

A metodologia utilizada pela comissão visou a um só tempo vencer o problema e legitimar a sua solução.

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No afã de atingir esse escopo deparamo-nos com o excesso de formalismos processuais, e com um volume imoderado de ações e de recursos [... – grifos acrescentados].

Fica claro, então, que o principal enfoque para resolver os problemas do Judiciário, nos termos do que proposto pela Comissão de Juristas, é a redução do excesso de recursos previstos na legislação processual, o que teria como pressuposto de que o problema da demora e falta de efetividade à prestação jurisdicional seria a quantidade de recursos disponíveis às partes, o que é corroborado pela exposição de motivos do anteprojeto (BRASIL. SENADO FEDERAL, 2010, p. 13 e ss.).

Outras iniciativas implementadas também merecem consideração, como é o caso das metas instituídas pelo Conselho Nacional de Justiça a partir das deliberações do 2º Encontro Nacional do Judiciário, com destaque para a meta 2, pela qual deveriam os órgão jurisdicionais “Identificar os processos judiciais mais antigos e adotar medidas concretas para o julgamento de todos os distribuídos até 31/12/2005 (em 1º, 2º grau ou tribunais superiores)” (BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2009b). Em 2010, a meta passou a ser o julgamento dos processos distribuídos até 31/12/2006, sendo esse objetivo abandonado em 2011 (BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2011d), e retomado em 2012, com o seguinte teor:

Julgar, até 31/12/2012, pelo menos, 80% dos processos distribuídos em 2007, no STJ; 70%, em 2009, na Justiça Militar da União; 50%, em 2007, na Justiça Federal; 50%, de 2007 a 2009, nos Juizados Especiais Federais e Turmas Recursais Federais; 80%, em 2008, na Justiça do Trabalho; 90%, de 2008 a 2009, na Justiça Eleitoral; 90%, de 2008 a 2010, na Justiça Militar dos Estados; e 90% em 2007, nas Turmas Recursais Estaduais, e no 2º Grau da Justiça Estadual (BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2012c).

Por tais metas, pode-se depreender que, na visão do CNJ, a duração razoável de um processo é de, aproximadamente, 16 anos, caso se estenda a meta ao STF, que nelas não estaria incluído, sendo 4 anos em cada instância, inclusive tribunais superiores, que, para grande parte dos litigantes, pode ser um lapso temporal extremamente longo.

O que todas essas iniciativas possuem em comum é o fato de não estarem alicerçadas em uma compreensão empírica do Poder Judiciário brasileiro, mas, tão somente, na percepção e experiência pessoal dos agentes nela envolvidos, ainda que sejam realizadas consultas públicas ou utilizados outros instrumentos com o objetivo de captar a percepção de maior parcela da sociedade.

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dos recursos previstos pela legislação processual. Além disso, outras iniciativas estariam relacionadas ao estabelecimento de uma gestão estratégica do Poder Judiciário, como é o caso do programa Justiça em Números, estabelecido pelo CNJ a partir de 2005, cujo objetivo é:

que os dados sejam referência para a criação de uma cultura de planejamento e gestão estratégica. Outra finalidade do Justiça em Números é fornecer bases para construção de políticas de gestão e possibilitar a avaliação da necessidade de criação de cargos e funções. O estudo também enumera relação de despesas com pessoal, recolhimentos e receitas, informática, taxa de congestionamento e carga de trabalho dos juízes. Os números são encaminhados semestralmente pelos magistrados [grifos acrescentados] (BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2012a).

Entretanto, a forma de apresentação dos dados e a não disponibilização dos dados brutos coletados, associado à falta de uma formação interdisciplinar dos juristas a fim de estarem aptos a analisar e utilizar tais dados, acaba por impedir uma maior efetividade desse programa. Com efeito, será que a redução da quantidade de recursos disponíveis na legislação processual e o estímulo à realização de acordos seriam suficientes para acabar com esse cenário de crise?

Registre-se, neste ponto, que o estímulo à realização de acordos se dá, exclusivamente, pela realização de mutirões, inclusive, nos fins de semana e pela tentativa de “conscientizar” os envolvidos em litígios judiciais dos benefícios de sua realização, não decorrendo, pois, de uma compreensão dos motivos que levam as partes a litigarem e do papel do Poder Judiciário na realização de tais acordos. Com efeito, no Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, foi instituído um programa de incentivo à mediação que se constitui:

em uma ação específica do Tribunal para a implantação e utilização de métodos alternativos de resolução de disputa no processo judicial. Tem por objetivos aumentar o poder de decisão das partes sobre as possíveis soluções para suas próprias lides, através do incentivo da utilização da técnica da mediação nos procedimentos judiciais, ampliando a possibilidade de resolução de controvérsias com a conseqüente pacificação das partes; promovendo uma significativa diminuição do tempo de espera da tramitação do processo e diminuição do volume de processos em tramitação nas Varas Cíveis e de Família (BRASIL. TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO DISTRITO FEDERAL E TERRITÓRIOS, 2012)

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Sobre essa questão, Dixit (2004, p. 40 e ss.) procurou demonstrar os benefícios da arbitragem e da resolução privada de conflitos a partir da possibilidade de melhor aferição de aspectos específicos da relação negocial firmada entre as partes e que não seriam, em um primeiro momento, passíveis de verificação pelo poder Judiciário, seja pela complexidade da matéria envolvida, seja pelas especificidades apenas passíveis de apreensão por especialistas da área. Dessa forma, a resolução privada de conflitos e a arbitragem teriam uma vantagem sobre o uso do Poder Judiciário e de suas ferramentas.

Portanto, reconhecendo-se a vantagem da resolução privada de conflitos, não basta para incentivá-la que o Poder Judiciário crie mutirões ou uma audiência de conciliação obrigatória entre as partes, mas que efetivamente forneça instrumentos para que as partes negociem. Para tanto, é necessário compreender os motivos que levam as partes a sujeitarem a resolução de conflitos ao Poder Judiciário, pressupondo-se que tentativas de composição privadas já fracassaram ou não puderam ocorrer por motivos diversos.

Deve-se mencionar, ainda, que, ao mesmo tempo em que as reformas buscam a diminuição da carga de trabalho, com, por exemplo, a introdução da ferramenta de julgamento de matérias repetitivas, reforma do sistema recursal e, até mesmo, mediação judicial dos conflitos, essas iniciativas ocorrem lado-a-lado com outras que buscam incentivar a ocorrência de novos litígios, como a ampliação do acesso à Defensoria Pública e à Assistência Judiciária Gratuita, nos termos de ambos os pactos mencionados, o que pode reduzir a efetividade das propostas de reforma apresentadas e gerar novas distorções.

A distinção entre o tratamento desta questão nos dois pactos está na posição de destaque dado ao chamado acesso à Justiça, sendo que, no II Pacto, ele ocupa um papel de relevo em relação às reformas que objetivam dar maior celeridade e efetividade ao sistema jurisdicional.

Com efeito, como se observa do cenário até aqui apresentado, as propostas de reforma do Poder Judiciário brasileiro acabam por esbarrar nos mesmos problemas observados em Portugal e antes referidos (p. 16), como a falta de estudos empíricos sobre o Poder Judiciário, maior oferta de dados, sistematização e tratamento destes dados, definição de reformas sem a análise dos objetivos e indicadores que podem ser utilizados para verificação da consecução dos objetivos propostos e ausência de análises de impacto das reformas propostas.

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Judiciário, ainda que alguns avanços estejam sendo realizados nesta área desde o início da coleta e divulgação de dados pelo CNJ.

Registre-se, neste ponto, que o presente trabalho não objetiva abordar a crise do Judiciário sobre todos os aspectos, mas, tão somente, fornecer uma reflexão acerca dos motivos que levam as partes a buscarem os tribunais judiciais para resolver seus litígios da vida civil. Considerando-se que um dos problemas da crise do Judiciário se dá pelo excesso de demanda, parece que os temas a serem tratados possuem certa relação com esse cenário.

A partir disso, neste primeiro momento, serão tratados brevemente dos números do Poder Judiciário e da sua relação com esse cenário de crise e, a seguir, no capítulo 2, dos motivos que levam os agentes a buscarem a solução judicial dos conflitos da vida civil ao invés da barganha privada a fim de verificar a efetividade das medidas adotadas e os caminhos que devem ser seguidos.

1.2OS NÚMEROS DO PODER JUDICIÁRIO BRASILEIRO

Os números do Poder Judiciário brasileiro podem ser úteis para verificar se as reformas propostas, apesentadas no item 1.1, pelos diversos setores para resolver os problemas de lentidão e eficácia das decisões judiciais estão efetivamente no caminho correto ou se são necessários ajustes e uma melhor compreensão dos incentivos aos quais as partes estão submetidas e, posteriormente, poderem ser estruturadas propostas de reformas direcionadas à solução dos problemas verificados, não bastando, pois, para a formulação de políticas públicas judiciárias a percepção do senso comum dos seus utilizadores, ainda que possa ser considerada um ponto de partida relevante.

Dessa forma, em um primeiro momento, deve-se relembrar que o Poder Judiciário brasileiro está estruturado em quatro níveis e cinco ramos. Os ramos do Judiciário são, de acordo com o art. 92 da Constituição Federal, Justiça Estadual6 e do Distrito Federal e Territórios (inciso VII), Justiça Militar (inciso VI), Justiça Eleitoral (inciso V), Justiça do Trabalho (inciso IV) e Justiça Federal (inciso III). Cada um desses ramos do Poder Judiciário é composto por uma jurisdição de 1º Grau, exercida por juízes singulares, e por um tribunal de 2º grau, em que as decisões são tomadas por juízes colegiados, representando o primeiro e segundo níveis em que estruturado o Poder Judiciário.

6 No caso específico da Justiça Estadual de 1º Grau, o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada – Ipea realizou

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Por sua vez, o terceiro nível é composto pelos tribunais superiores relativos a cada um dos ramos do Poder Judiciário. Na Justiça Estadual e Federal, foi criado o Superior Tribunal de Justiça (STJ); na Justiça do Trabalho, o Tribunal Superior do Trabalho (TST); na Justiça Eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE); e, finalmente, na Justiça Militar, o Superior Tribunal Militar (STM). A competência de cada um desses tribunais está vinculada ao ramo do Judiciário da qual faz parte, sendo significantes para o presente trabalho apenas a Justiça Estadual, Federal e do Trabalho, uma vez que se voltam para a análise dos litígios civis.

Por fim, o quarto nível da estrutura do Judiciário brasileiro é ocupada pelo Supremo Tribunal Federal, órgão de cúpula com competência para a análise de questões constitucionais e oriundas de todos os ramos desse Poder e, por tal motivo, também tem relevância para o trabalho que ora se desenvolve. Por outro lado, o Conselho Nacional de Justiça é um órgão de cúpula administrativo, sem poderes jurisdicionais, razão pela qual não é aqui tratado. Registre-se, neste ponto, que os órgãos de níveis mais altos apresentam competência jurisdicional predominantemente recursal, sendo os feitos de competência originária exceções em relação aos recursais.

Feitas tais considerações sobre o sistema Judiciário brasileiro, resta explicitar os dados que serão abordados e a metodologia de análise neste trabalho. Considerando-se, pois, que a proposta é verificar o cenário de crise no Poder Judiciário e se o problema está relacionado, tão somente, à quantidade de recursos disponíveis no sistema às partes, os números deverão compreender os quatro níveis do Judiciário brasileiro, mas, tão somente, naqueles antes apresentados em virtude do corte metodológico deste trabalho, que tratará apenas dos litígios cíveis.

Dessa forma, para tornar possível a aferição da questão proposta, serão observados neste tópico os dados relativos aos novos processos apresentados em cada um dos níveis, as decisões que dão fim ao trâmite do processo naquela instância, ressalvando-se a possibilidade de apresentação de recursos, e, por fim, o estoque de processos pendentes no início do período analisado. Além disso, para os órgãos em que existirem dados disponíveis, será utilizada a série histórica 2003-2010, a fim de ser possível realizar comparações entre os anos no que concerne à demanda de processos judiciais.

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segundo os autores, apesar de pouco sofisticado, pode auxiliar na compreensão dos problemas e desafios enfrentados pelo ramo do Judiciário em análise.

Nesse contexto, a taxa de congestionamento é calculada a partir da divisão do estoque de processos no início de um ano pela quantidade de processos finalizados naquele mesmo ano. Quanto maior a taxa de congestionamento, maior a ineficiência do ramo do Judiciário em análise. Uma taxa inferior a um, significa que o número de processos em estoque é inferior à capacidade produtiva realizada daquele órgão no período e, portanto, indica que o estoque existente pode ser manejado, indicando eficiência do órgão julgador. Por sua vez, uma taxa superior a um significa que a capacidade produtiva realizada naquele ano não é suficiente para manejar suficientemente o estoque e, quanto maior, mais preocupante se apresenta o resultado.

Por sua vez, a clearance rate indica a taxa de conclusão de processos em relação aos casos novos. Espera-se que esse indicador apresente valor superior a um em virtude da existência de processos em estoque, o que representaria uma tendência de redução do estoque. Se, entretanto, o resultado verificado for inferior a um, a tendência existente é de incremento no número de processos em estoque e, quanto mais próxima de zero, maior o problema na conclusão de processos.

O backlog rate, a seu turno, indica a taxa de processos finalizados em relação ao que permanecerá no estoque ao final daquele ano e seu cálculo se dá pela razão entre a quantidade de processos finalizados em um ano pelo número de processos iniciados somados aos casos pendentes de análise. Um bom índice é aquele que se aproxima de um e, quanto mais perto de zero, maior o problema verificado, devendo ser analisado em conjunto com os demais indicadores e dentro de uma série histórica, posto que um mal resultado em um ano apenas pode indicar um incremento do estoque para o ano seguinte devido a uma sazonalidade na demanda ou a evento externo que influenciou o resultado.

A partir desse arcabouço, os números serão apresentados a partir do órgão de cúpula do Poder Judiciário brasileiro e, a seguir, descendo para a instância inferior, a fim de verificar a existência de estrangulamentos e tentar identificar os pontos mais críticos do Poder Judiciário do Brasil. Nesse contexto, o STF, composto por onze magistrados, apresentou, na série histórica compreendida entre 2003 e 2011, uma distribuição média de 75.177 processos por ano, sendo cerca de 6.800 processos anuais por Ministro, se a distribuição entre os integrantes da Corte for considerada como uniforme.

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número de novos processos para, em 2011, aproximadamente um terço da quantidade de processos recebidos em 2007, ano anterior ao instituto, ter-se-ia, em média, 47.181 processos por ano, o que corresponderia a próximos 4.300 processos por Ministro, o que representa significativa redução do número de processos submetidos a esta instância. Abaixo, o gráfico do número de processos, por ano, na série histórica 2003 a 2011:

Gráfico 1 – Total de Processos Distribuídos no STF, 2003 a 2011

Fonte: (BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2012a), adaptado.

Considerando-se o STF como órgão de cúpula, com competência restrita para conhecer de causas e que os processos chegam, em geral, já instruídos, restando apenas questões de interpretação das normas constitucionais aplicáveis ao caso a serem resolvidas, a média de 75.177 novos processos por ano na Corte Constitucional brasileira é extremamente alta quando comparado, por exemplo com a Suprema Corte Americana, que recebe cerca de 10.000 pedidos por ano, mas admite para análise apenas 75 a 80 casos (ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA. SUPREME COURT OF THE UNITED STATES).

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No que concerne à quantidade de decisões proferidas, apenas estão disponíveis os dados a partir de 2008, pelos quais, em média, nos anos da série histórica 2008-2011, se tem a prolação de 110.947 decisões anuais, ou 10.086 decisões por Ministro. Não fossem tais dados suficientemente preocupantes, ao analisar-se a quantidade de decisões finais, tem-se que, em 2011, do total, apenas 78,6% delas foram finais, sendo as demais proferidas em recursos internos, decisões interlocutórias, liminares, de repercussão geral e de sobrestamento de processos. Do total de decisões, por sua vez, indicam os dados que 12,7% foram proferidas pelos órgãos colegiados, que se reúnem, em regra, uma vez por semana, no caso das Turmas, e duas vezes por semana, no caso do Plenário (BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2012b).

Por sua vez, nesse período, o estoque de processos no STF tem sofrido redução, correspondendo, em 2011, a 54% do estoque existente em 2008. Em 2011, o estoque médio de processos entre os onze magistrados é de aproximados 7.300 feitos e de casos novos distribuídos 3.400, que, somados, totalizam 10.700 processos por Ministro. O gráfico a seguir mostra a relação entre os processos iniciados, finalizados e o estoque na série histórica de 2008 a 2011:

Gráfico 2 – Processos novos, finalizados e estoque no STF, 2008 a 2011

Fonte: (BRASIL. SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL, 2012b), adaptado.

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estoque representa cerca da produção de um ano, sem que seja dada entrada a novos processos. Na tabela abaixo, os indicadores são apresentados:

Tabela 1 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – STF – 2008 a 2011

2008 2009 2010 2011

Taxa de Congestionamento 2,38 2,54 1,75 1,31

Clearance Rate 1,22 1,65 2,11 2,11

Backlog Rate 0,31 0,32 0,45 0,56

A partir deste ponto, serão expostos os dados de cada um dos três ramos do Judiciário objetos de análise no presente trabalho, a começar pela Justiça do Trabalho, mais especificamente pelo seu órgão de cúpula, o Tribunal Superior do Trabalho, que é composto por vinte e sete ministros. No período de dados analisados, o Tribunal recebeu uma média de 159.554 processos por ano, significando uma média de 5.909 processos por magistrado. Observa-se, no período, que, anualmente, houve um ligeiro aumento, cerca de 10%, no número de recursos recebidos pelo TST, mantendo-se constante nos anos de 2009 e 2010, com incremento acumulado de 67,49% no período.

Por sua vez, no mesmo período observou-se um aumento de cerca de 100% no número de decisões proferidas em 2010 em relação a 2003, ainda que tenha havido variação de apenas 67% nos processos recebidos, o que levou a uma pequena queda no estoque de processos em 2010 e influenciou os resultados dos indicadores aqui utilizados. O gráfico a seguir apresenta os dados do TST acerca da quantidade de casos novos submetidos ao tribunal, decisões finais proferidas e estoque de processos:

Gráfico 3 – Processos novos, finalizados e estoque no TST, 2003 a 2010

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Em 2010, portanto, foram distribuídos, em média, 7.500 novos processos por ministro, que, em estoque, possuíam cerca de 6.200 processos, totalizando 13.700 processos por ministro em 2010, tendo sido proferidas, em média, 7.851 decisões finais. Desde 2007, observa-se nos dados uma tendência de redução no estoque de processos no TST, sem que a isso corresponda uma redução do número de novos processos submetidos a esse tribunal.

Por sua vez, os indicadores mostram, no período, uma queda significativa na taxa de congestionamento, que, em 2003, era de 2,3 e, em 2010, passou para 0,8, uma estabilização da clearance rate em torno de um e uma melhoria no indicador de backlog, mas que ainda não pode ser considerada satisfatória, nos termos do proposto por Garoupa, Simões, e Silveira (2006, p. 136), que seria acima de 0,8. A seguir, segue tabela com as taxas obtidas para o período a partir dos dados disponíveis:

Tabela 2 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – TST – 2003 a 2010

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Taxa de Congestionamento 2,30 2,13 1,69 1,80 1,62 0,92 0,65 0,80

Clearance Rate 0,80 0,87 1,15 0,94 0,93 1,22 1,29 1,04

Backlog Rate 0,28 0,30 0,39 0,35 0,37 0,57 0,70 0,57

Nos tribunais regionais do trabalho (TRT’s), a seu turno, órgãos jurisdicionais de segundo nível, os dados indicam que, na série histórica compreendida entre 2003 a 2010, em média, os processos submetidos ao TST, considerando-se todos como de origem recursal, correspondem a apenas 28% do total de casos novos submetidos aos TRT’s. Ao ter em conta, por sua vez, o estoque existente em ambos os níveis, esse número sobe para 48% de taxa de recorribilidade ao TST.

Ocorre que, diferentemente do observado no TST, não é possível nos TRT’s observar uma tendência de aumento dos recursos e redução do estoque. Ao contrário, ainda que não tenha sido verificada uma taxa de crescimento no número de casos novos submetidos aos tribunais, observa-se incremento do estoque e a quantidade de processos finalizados parece variar de acordo com o número de casos novos apresentados, como se vê no Gráfico 4, a seguir.

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Gráfico 4 – Processos novos, finalizados e estoque nos TRT’s, 2003 a 2010

Fonte: (BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2012b), adaptado.

Por outro lado, os indicadores dos tribunais regionais do trabalho apresentam números próximos ao idealizado pelos autores do estudo antes mencionado, quais sejam, baixa taxa de congestionamento, clearance rate estável e próximo de um e backlog rate em torno de sete décimos. Dentre os dados coletados e que serão apresentados, é o órgão jurisdicional com melhores índices, como se observa no quadro a seguinte:

Tabela 3 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – TRT’s – 2003 a 2010

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Taxa de Congestionamento 0,27 0,38 0,44 0,40 0,35 0,34 0,42 0,42

Clearance Rate 0,92 0,90 1,01 1,00 0,96 1,00 1,01 1,04

Backlog Rate 0,73 0,67 0,70 0,71 0,72 0,75 0,71 0,72

Finalizando este ramo do Judiciário, na série histórica analisada, a quantidade de processos submetidos aos TRT’s corresponde a apenas 19% dos novos processos apresentados aos juízes de primeira instância. Ao considerar, entretanto, o estoque de processos existente em ambos os graus de jurisdição, a taxa de recorribilidade cai para apenas 13,85%, o que indica que grande parte dos processos (86,15%) é julgada em definitivo no primeiro grau. A seu turno, dos processos iniciados no primeiro grau, apenas 7% são remetidos ao TST.

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coleta dos dados pelo CNJ7. Entre 2003 e 2010, houve um acréscimo no estoque de processos nesta instância de 30%, passando de 2.474.804 para 3.218.794. No mesmo período, nos TRT`s, observa-se uma queda de 12% no número de recursos e, como já mencionado, um incremento de 67% no TST.

De qualquer modo, a quantidade de processos finalizados ainda em primeira instância autoriza a conclusão de que, ainda que existam gargalos nos demais níveis da Justiça do Trabalho, é na primeira instância que devem ser concentrados esforços para a resolução de problemas relacionados à litigância, posto que maior celeridade neste nível afeta 86% dos processos submetidos à competência da Justiça do Trabalho, ainda que a quantidade de recursos ainda esteja acima da capacidade de análise pelos demais órgãos deste ramo do Judiciário. No gráfico a seguir, são apresentados os dados referentes ao 1º Grau de jurisdição da Justiça do Trabalho:

Gráfico 5 – Processos novos, finalizados e estoque na Justiça do Trabalho de 1˚ Grau, 2003 a 2010

Fonte: (BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2012b), adaptado.

Observa-se que, em 2010, foram distribuídos em média 1.070 processos por magistrado atuante na primeira instância da Justiça do Trabalho e, em estoque, os dados indicam a existência de cerca de 1.180 processos por magistrado (em número de 2.712), totalizando 2.250 processos, em média, por Juiz. Esse número é bastante inferior aos

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observados no TST e no STF, entretanto, é aqui que se concentra a solução da maior parte dos litígios, como visto acima. Por fim, os indicadores demonstram uma redução na taxa de congestionamento, incrementos na clearance rate e melhoria de um décimo na backlog rate, nos termos da tabela a seguir:

Tabela 4 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – 1º Grau Justiça da

Trabalho – 2003 a 2010

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Taxa de Congestionamento 1,51 0,96 0,92 1,00 0,96 0,89 1,07 1,10

Clearance Rate 0,82 1,04 0,91 0,94 0,99 0,99 0,94 1,00

Backlog Rate 0,37 0,52 0,49 0,48 0,51 0,53 0,47 0,48

Passando para a Justiça Estadual e Federal, tem-se o Superior Tribunal de Justiça como órgão de cúpula, estando os litígios oriundos destes ramos submetidos à sua competência. Nos dados do STJ, a seu turno, observa-se que, apesar de picos entre 2007 e 2009, o número de litígios submetidos a sua jurisdição em 2010 é próximo ao ano de 2003, variando em 2.500 processos. A despeito disso, o estoque sofreu acréscimo de 71% e o número de decisões proferidas em 2010 foi 31% superior ao ano de 2003, como se observa a seguir:

Gráfico 6 – Processos novos, finalizados e estoque no STJ, 2003 a 2010

Fonte: (BRASIL. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, 2012), adaptado.

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processos por magistrado, número inferior ao observado no TST e superior ao STF. Os indicadores, a seu turno, apresentam aumento na taxa de congestionamento e certa estabilidade nas demais taxas, estando distantes dos níveis ótimos esperados, conforme tabela a seguir:

Tabela 5 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – STJ – 2003 a 2010

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Taxa de Congestionamento 0,59 0,62 0,51 0,64 0,64 0,64 0,83 0,78

Clearance Rate 0,84 0,94 1,05 0,89 0,89 1,01 0,87 1,09

Backlog Rate 0,56 0,60 0,69 0,56 0,57 0,61 0,51 0,59

Quanto à recorribilidade, observa-se que o STJ recebe processos oriundos da Justiça Federal e Estadual, assim, em relação aos processos submetidos aos tribunais de segunda instância destes ramos do Judiciário, tem-se uma taxa de recorribilidade de apenas 9,93%, considerados os somente os novos processos. Essa taxa cai para 8,96% ao ter-se em conta também os processos em estoque. Por sua vez, ao utilizar o número de processos iniciados em primeira instância, tem-se que apenas 1,82% de taxa recorribilidade e, ao acrescentar o estoque processual, observa-se que apenas 0,71% dos processos iniciados no primeiro grau chegam ao Superior Tribunal de Justiça.

Registre-se que tais taxas são obtidas ao considerar que todos os processos submetidos tenha origem recursal, entretanto, não se ignora que o Tribunal também possua vasta competência originária e, portanto, esses números provavelmente sejam inferiores aos aqui apresentados. Entretanto, parece razoável pressupor que a maior parte da atuação, no sistema processual atual, do STJ seja em âmbito recursal. No caso do Supremo Tribunal Federal, considerando-se apenas os processos oriundos da Justiça Estadual, Federal e do Trabalho, que não representam a integralidade da competência daquela Corte, ter-se-ia que, tão-somente, 0,18% dos processos originados em primeira instância, inclusive juizados especiais, chegam ao STF.

Repita-se, tal dado não significa que a carga de trabalho seja superior ao suportado pela estrutura atual de tais tribunais, entretanto, eventual problema de morosidade e efetividade das decisões judicias parece decorrer, não da quantidade de recursos disponíveis na legislação processual vigente, mas da atuação das instâncias ordinárias do Judiciário, devendo, portanto, eventuais reformas contemplar também estas instâncias.

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decisões proferidas parece acompanhar o incremento do quantitativo de casos novos, ainda que o número de magistrados em atuação no período tenha continuado praticamente constante, como se observa dos dados contidos no ANEXO . Por sua vez, o estoque de processos teve uma queda em 2003 e voltou a aumentar em 2009. A seguir segue gráfico dos dados obtidos:

Gráfico 7 – Processos novos, finalizados e estoque nos TRF’s, 2003 a 2010

Fonte: (BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2012b), adaptado.

Em 2010, a seu turno, nos Tribunais Regionais Federais, cada um dos magistrados recebeu em média 3.290 processos novos, possuindo aproximados 7.100 processos em estoque, totalizando 10.390 processos por magistrado atuante na Corte, número semelhante ao observado no STF. Quanto aos indicadores, os TRF`s apresentaram alto congestionamento de processos e números extremamente baixos no que concerne à backlog rate, que, em 2003, era de 0,24, passou por três períodos de 0,4 e, em 2010, caiu para a casa dos três décimos, como se observa a seguir:

Tabela 6 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – TRF’s – 2003 a 2010

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Taxa de Congestionamento 3,11 1,92 1,86 1,66 1,53 1,50 2,05 2,15

Clearance Rate 0,91 0,89 0,98 1,15 1,00 1,01 1,01 1,00

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A taxa de recorribilidade do 1º Grau para os TRF’s é de 47% ao considerar apenas os casos novos e de 23,8% ao considerar também o estoque de processos. Dentre os dados aqui apresentados essa é a maior taxa de recorribilidade observada e pode indicar que existe algum incentivo dado às partes submetidas à jurisdição desse ramo do Judiciário para recorrer que os demais não oferecem.

Nesse sentido, a existência do reexame necessário nos processos em que tenha ocorrido condenação da Fazenda Pública e da indisponibilidade dos direitos públicos podem justificar essa recorribilidade, entretanto, é necessária a realização de estudos mais aprofundados e com dados mais extensos para ser possível uma conclusão sobre o tema, especialmente no que concerne aos principais litigantes e matérias postas em debate.

Mas é na primeira instância da Justiça Federal onde foram encontrados os piores indicadores. A quantidade de processos finalizados anualmente é muito inferior ao estoque de processos, que continua aumentando, ainda que a entrada de novos casos não tenha sofrido grandes variações no período observado, com pico em 2003, que pode decorrer do mecanismo de coleta utilizado pelo CNJ. A carga de trabalho dos magistrados que estão nessa instância é inferior ao observado nos Tribunais Regionais Federais e, ao considerar a existência de o décuplo de magistrados que nos TRF’s, cada magistrado recebe cerca de 730 novos processos anuais e o estoque é de aproximadamente 3.800 processos, totalizando 4.530 processos por magistrado.

Cada magistrado atuante na primeira instância da Justiça Federal proferiu, em 2010, uma média de 697 decisões finais, número bastante inferior ao observado nos demais ramos do Judiciário, o que pode indicar graves problemas. Entretanto, esse número significa que existe cerca de duas decisões por magistrado por dia do ano, contados os fins de semana e feriados. Enquanto que, nos demais órgãos dos ramos aqui estudados, cada magistrado profere milhares de decisões finais por ano, na primeira instância da Justiça Federal o número chega a apenas sete centenas.

Esses dados indicam a necessidade de uma análise mais pormenorizada do primeiro nível da Justiça Federal a fim de verificar as peculiaridades que fazem com que o número de decisões proferidas anualmente seja muito inferior a de outros órgãos do mesmo nível ou dos próprios Tribunais Regionais Federais, em que cada magistrado, em 2010, lavrou cerca de 3.300 decisões, desempenho quase cinco vezes superior aos juízes de primeira instância.

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varas de fazenda pública dos tribunais estudais, entretanto, seria interessante aprofundar essa análise. A seguir, apresenta-se o gráfico com os dados da primeira instância da Justiça Federal:

Gráfico 8 – Processos novos, finalizados e estoque no 1˚ Grau da Justiça Federal, 2003 a 2010

Fonte: (BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2012b), adaptado.

Quanto aos indicadores, observa-se no quadro a seguir que a taxa de congestionamento é altíssima e significa que, dado que não fossem recebidos novos processos, mantendo-se a quantidade de decisões proferidas em 2010, seriam necessários cinco anos e meio para reduzir o estoque de processos a zero. Dessa forma, observa-se, também, uma backlog rate extremamente baixa e a clearance rate ainda está se aproximando de um, apesar do salto ocorrido em 2004.

Tabela 7 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – 1º Grau da Justiça

Federal – 2003 a 2010

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Taxa de Congestionamento 2,86 5,26 5,98 5,12 5,55 5,45 5,11 5,55

Clearance Rate 0,40 0,70 0,75 0,77 0,70 0,82 0,84 0,94

Backlog Rate 0,19 0,15 0,14 0,16 0,14 0,15 0,16 0,15

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variações no período. Um aspecto que pode ajudar a explicar o pico observado em 2003 é a obrigatoriedade, inexistente nos Juizados Estaduais, de os processos com valor da causa inferior ou igual a 40 salários mínimos tramitarem nos Juizados e a relação entre a recente criação e eventuais declarações de incompetência da Justiça Federal Comum. Segue o gráfico com a quantidade de processos novos, finalizados e estoque dos Juizados Especiais Federais:

Gráfico 9 – Processos novos, finalizados e estoque nos Juizados Especiais Federais, 2003 a 2010

Fonte: (BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2012b), adaptado.

Em contraposição aos juízes que atuam na primeira instância, cada magistrado atuante nos Juizados recebem cerca de 3.100 processos por ano e, em 2010, o estoque registrado, por magistrado, foi de 3.900 feitos, totalizando 7.000 processos. Os indicadores, a seu turno, indicam aumento na taxa de congestionamento e redução da backlog rate, estando a clearance rate em nível inferior a um, como se observa abaixo:

Tabela 8 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – Juizados Especiais

Federais – 2003 a 2010

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Taxa de Congestionamento 1,51 0,57 0,76 0,87 0,74 0,85 1,61 1,57

Clearance Rate 0,35 0,75 0,97 1,12 1,01 0,95 0,74 0,81

Backlog Rate 0,23 0,52 0,56 0,57 0,58 0,53 0,34 0,36

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por garantir ao estoque uma taxa de crescimento mais modesta, de 45%. Entre os ramos do Judiciário pesquisados, o segundo nível da Justiça Estadual foi o único órgão que apresentou carga de trabalho dos magistrados semelhante ao dos TRT’s, com 1.150 processos recebidos por magistrado em 2010 e 890 processos em estoque, totalizando 1.940 processos por magistrado. Abaixo seguem os dados da Justiça Estadual 2º Grau:

Gráfico 10 – Processos novos, finalizados e estoque nos TJ`s, 2003 a 2010

Fonte: (BRASIL. CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA, 2012b), adaptado.

Por sua vez, os Tribunais de Justiça (TJ’s) apresentam baixa taxa de congestionamento, ainda que os demais indicadores não sejam por demais animadoras. A backlog rate é baixa e a clearance rate não chega a um. A quantidade de processos que vem do primeiro grau de jurisdição representa apenas 16% do total de novos casos, o que não é uma taxa alta, ainda mais ao se considerar também o estoque, caindo para apenas 6%, o que indica que o problema dos Tribunais Estaduais não é a quantidade de recursos disponíveis no ordenamento jurídico, ainda que sejam muitos os processos submetidos aos (TJ’s). Abaixo seguem os indicadores dos Tribunais de Justiça Estaduais:

Tabela 9 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – TJ’s – 2003 a 2010

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Taxa de Congestionamento 1,12 0,94 0,86 0,79 0,79 0,68 0,78 0,84

Clearance Rate 0,85 0,85 0,87 0,91 0,93 0,94 0,94 0,92

Imagem

Gráfico 1 – Total de Processos Distribuídos no STF, 2003 a 2011
Gráfico 2 – Processos novos, finalizados e estoque no STF, 2008 a 2011
Tabela 1 – Taxa de Congestionamento, Clearance e Backlog – STF – 2008 a 2011
Gráfico 4 – Processos novos, finalizados e estoque nos TRT’s, 2003 a 2010
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