BrazJOtorhinolaryngol.2017;83(1):98---104
www.bjorl.org
Brazilian
Journal
of
OTORHINOLARYNGOLOGY
ARTIGO
DE
REVISÃO
Obstructive
sleep
apnea
and
oral
language
disorders
夽
Camila
de
Castro
Corrêa
a,∗,
Maria
Gabriela
Cavalheiro
b,
Luciana
Paula
Maximino
be
Silke
Anna
Theresa
Weber
aaUniversidadeEstadualPaulista‘‘JúliodeMesquitaFilho’’(FM-UNESP),FaculdadedeMedicinadeBotucatu,Departamentode
OftalmologiaeOtorrinolaringologia,Botucatu,SP,Brasil
bUniversidadedeSãoPaulo(FOB-USP),FaculdadedeOdontologiadeBauru,DepartamentodeFonoaudiologia,Bauru,SP,Brasil
Recebidoem14dejunhode2015;aceitoem10dejaneirode2016 DisponívelnaInternetem29dedezembrode2016
KEYWORDS
Childlanguage;
Languagedisorders;
Speech,language
andhearingsciences;
Obstructivesleep
apnea
Abstract
Introduction:Childrenandadolescentswithobstructivesleepapnea(OSA) mayhave conse-quences,suchasdaytimesleepinessandlearning,memory,andattentiondisorders,thatmay interfereinorallanguage.
Objective:Toverify,basedontheliterature,whetherOSAinchildrenwascorrelatedtooral languagedisorders.
Methods:AliteraturereviewwascarriedoutintheLilacs,PubMed,Scopus,andWebofScience databasesusingthedescriptors‘‘ChildLanguage’’AND‘‘ObstructiveSleepApnea’.Articlesthat didnotdiscussthetopicandincludedchildrenwithothercomorbiditiesratherthanOSAwere excluded.
Results:Intotal,noarticleswerefoundatLilacs,37atPubMed,47atScopus,and38atWeb ofSciencedatabases.Basedontheinclusionandexclusioncriteria,sixstudieswereselected, allpublishedfrom2004to2014.Four articlesdemonstratedanassociationbetweenprimary snoring/OSAandreceptivelanguageandfourarticlesshowed anassociationwithexpressive language.Itisnoteworthythatthearticlesuseddifferenttoolsandconsidereddifferentlevels oflanguage.
Conclusion:Thelatediagnosisandtreatmentofobstructivesleepapneaisassociatedwitha delayinverbalskillacquisition.Theprofessionalswhoworkwithchildrenshouldbealert,as mostofthephoneticsoundsareacquiredduringages3---7years,whichisalsothepeakagefor hypertrophyofthetonsilsandchildhoodOSA.
© 2016 Associac¸˜ao Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C´ervico-Facial. Published by Elsevier Editora Ltda. This is an open access article under the CC BY license (http:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
DOIserefereaoartigo:http://dx.doi.org/10.1016/j.bjorl.2016.01.017
夽 Comocitaresteartigo:CorrêaCC,CavalheiroMG,MaximinoLP,WeberSA.Obstructivesleepapneaandorallanguagedisorders.BrazJ Otorhinolaryngol.2017;83:98---104.
∗Autorparacorrespondência.
E-mail:camila.ccorrea@hotmail.com(C.C.Corrêa).
ArevisãoporparesédaresponsabilidadedaAssociac¸ãoBrasileiradeOtorrinolaringologiaeCirurgiaCérvico-Facial.
Obstructivesleepapneaandorallanguagedisorders 99
PALAVRAS-CHAVE
Linguageminfantil;
Transtornosda
linguagem; Fonoaudiologia;
Apneiadosonotipo
obstrutiva
Apneiaobstrutivadosonoealterac¸õesdalinguagemoral
Resumo
Introduc¸ão: Crianc¸aseadolescentescomApneiaObstrutivadoSono(AOS)podemapresentar sonolênciadiurna,alterac¸ões deaprendizado, memóriaeatenc¸ão,quepodem interferirna linguagemoral.
Objetivo: Verificar,combasenaliteratura,seaAOSapresentacorrelac¸ãocomalterac¸õesda linguagemoral.
Método: Foifeitarevisão bibliográficanasbasesdedadosLilacs,Pubmed,ScopuseWeb of Science,apartirdaspalavras-chaves‘‘LinguagemInfantil’’AND‘‘ApneiadoSonoTipo Obstru-tiva’’.Osartigosquenãoserelacionavamaotemaforamexcluídos,bemcomoestudoscom crianc¸asqueapresentassemoutrascomorbidades,alémdaAOS.
Resultados: Foramlocalizados37artigosnaPubmed,47naScopuse38naWebofSciencee nenhumnaLilacs.Apartirdoscritériosdeinclusãoeexclusão,foramselecionadosseisestudos, publicadosde2004a2014.Dosartigosincluídos,observou-seemquatroartigosarelac¸ãodo grupo comroncoprimário/SAOS comaLinguagem Receptivaeem quatro artigosarelac¸ão dessapopulac¸ãocomaLinguagemExpressiva.Ressalta-sequeosartigosusaraminstrumentos diferenteseconsideraramníveisdiversificadosdaLinguagem.
Conclusão:OdiagnósticoeotratamentotardiodeAOSresultamemalterac¸õessignificantesna qualidadedaaquisic¸ãoverbal.Torna-seimprescindívelaatenc¸ãodosprofissionaisqueatuam comapopulac¸ãoinfantilparaesseaspecto,umavezquegrandepartedossonsdafalasão adquiridosentre3---7anos,quecorrespondeao períododepicodeocorrênciadehipertrofia adenoamigdalianaeAOSnainfância.
© 2016 Associac¸˜ao Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia C´ervico-Facial. Publicado por Elsevier Editora Ltda. Este ´e um artigo Open Access sob uma licenc¸a CC BY (http:// creativecommons.org/licenses/by/4.0/).
Introduc
¸ão
A apneia obstrutiva do sono (AOS) é caracterizada pela
obstruc¸ão parcial e/ou completa das vias aéreas
superi-ores durante o sono, associada ao aumento do esforc¸o
respiratório, sono fragmentado e/ou anormalidades nas
trocasgasosas.1,2Emcrianc¸as,distingue-sedoquadro
obser-vado em adultos quanto a fisiopatologia, quadro clínico
e tratamento.2 Com relac¸ão à fisiopatologia, a AOS em
crianc¸astemumpadrãopredominantedeobstruc¸ãoparcial epersistentedeviasaéreassuperiores,implicahipercapnia ehipóxiaintermitente.3Oronco,principalsintomadeAOS,
sefazpresentenoquadroclínicodepraticamentetodasas crianc¸ascomessaalterac¸ão.Tambémfazempartedo qua-droclínicosinaisesintomascomorespirac¸ãobucalforc¸ada,
com retrac¸õescostais, sonambulismo,enurese e sudorese
noturna, tosse, engasgos e agitac¸ão durante o sono, é
comuma movimentac¸ãoem busca deposic¸ões que
facili-temapassagemaérea.4Jáotratamentodiferedoaplicado
nos adultos, a adenotonsilectomia é aquele considerado
comopadrãoouroe,quandofeitonomomentoadequado,
beneficia a crianc¸a em aspectos neuropsicológicos,
com-portamentaisedequalidadedevida,ressalta-sequeesse
sucessoapresentamenortaxaemcrianc¸asobesas.5,6
Estima-se que a prevalência de AOS em crianc¸as
sau-dáveis,semoutroquadroclínicoassociado, variade0,7 a 3%.7---10Aincidênciaémaiornaidadepré-escolar,faixa
etá-riana qual hámaiordesproporc¸ão entreahipertrofia das tonsilaspalatinasefaríngeaeasdimensõesdasviasaéreas
superiores.5 Essa fase é marcada também como
privilegi-adaparaaaquisic¸ão eo desenvolvimentodalinguageme
intensaneuroplasticidadedosistemanervosocentral,oque favoreceaaprendizagem.11---14
DentreasconsequênciasdaAOSemcrianc¸as, considera--sea associac¸ãocomdéficitsdeatenc¸ão edememória,o
que pode comprometer o processamento e o registro de
informac¸ões e reduzir a capacidade de aprendizado.15---17
Soma-se, ainda, influência desse quadro no humor nas
habilidades linguísticasexpressivas, nodesempenho
esco-lar,nashabilidadescognitivasena percepc¸ãovisualdessa populac¸ão.18---20
Tendo em vista a frequência relatada na literatura
da AOS durante importante fase do desenvolvimento de
crianc¸aspré-escolareseainfluênciaemhabilidades envolvi-dasnoprocessodeaquisic¸ãodalinguagem,aprendizageme
desempenhoescolar,torna-serelevanteaveriguaro
desen-volvimentodalinguagemoralnessascrianc¸as.Háevidências fortesdaassociac¸ãoentreAOSedéficitneurocognitivo,6,17,19
masnãoépossívellocalizarnaliteraturaestudosque
enfo-quemodesenvolvimentodelinguagemespecificamente.
Paraacompreensãodalinguagemoralnessapopulac¸ão,
devem-seinvestigarhabilidades psicolinguísticas demodo
amplo,desde a linguagem receptiva, que é definida pela
capacidade da compreensão da linguagem em diferentes
aspectos,comoacompreensãodaentonac¸ãodavozdooutro duranteafalaeadosignificadodaspalavras,estejamelas
emdiferentescontextosecomplexidades;atéalinguagem
expressiva,que serefereà capacidadedeorganizac¸ãodo sistemalinguísticonaprogramac¸ãomotora; e,porfim,na verbalizac¸ãodeumasequênciadesímbolosesignificados,
nocasodalinguagemoral,oqueresultanahabilidadede
100 CorrêaCCetal.
Aobservac¸ãoe amensurac¸ãodetodosessesníveis
lin-guísticos são possíveis apenas a partir da aplicac¸ão de
protocolos desenvolvidos especificamente para a língua
deorigemdo paciente e que apresentemescores
compa-rativoscom o parâmetro denormalidade paracada faixa
etária. O único estudo que detalha esse aspecto é uma
revisãosistemáticaque localizou,paraa avaliac¸ãoda lin-guagemoralreceptiva,osseguintestestes:PeabodyPicture VocabularyTest,Peabody PictureVocabulary Test-Revised
(PPVT-R),SwedishCommunicationScreeningat18months
ofage(SCS18),TestforReceptionofGrammar---2(TROG-2),
ReynellTest,ReynellDevelopmentLanguageScalese Rey-nellDevelopmentalLanguageScales---II.Ressalta-sequesão
escassososinstrumentosequenemtodosapresentam
estu-dosdevalidade.24
Dessaforma,opresenteestudoteveporobjetivo verifi-carseaAOSapresentacorrelac¸ãocompossíveisalterac¸ões
dalinguagemoral.
Método
Foifeitabuscanaliteraturasemdelimitac¸ãotemporal,por
meiodocruzamentodaspalavras-chave‘‘Linguagem
Infan-til’’AND‘‘ApneiadoSonoTipoObstrutiva’’,bemcomoseus correspondenteseminglês,‘‘ChildLanguage’’AND‘‘Sleep Apnea Obstructive’’. Para isso, foram consultadas quatro basesdedados:Lilacs,PubMed,ScopuseWebofScience.
Comocritériosdeinclusão,foramadmitidosartigosque
trouxessem a temática central de crianc¸as/adolescentes
com AOS e apresentassem o enfoque em alterac¸ões na
linguagem oral. Assim, compreenderam os critérios de
exclusão:artigos queapresentassem outros quadros
clíni-coscoexistentes que justificassemaalterac¸ão dosono ou
da linguagem, como, por exemplo, fissura labiopalatina,
síndromesgenéticas(Down, craniossinostosese
velocardi-ofacial)eTDAH;comofocoemalterac¸õesmotorasdafala,
como apraxia de fala, e artigos de revisão de literatura.
Ressalta-sequeabuscafoifeitapelosistemaVPN(Virtual PrivateNetwork);osartigosquenãoseapresentaram
dis-poníveisnaíntegratambémforamexcluídos.
Aselec¸ãofoifeitamediantealeituradostítulose resu-mos.Emseguida,foramacessadoseanalisadososartigosna
íntegra,paraquefossemdefinitivamenteadmitidosounão
noestudo.Osartigosincluídosforamanalisadosquantoaos
seusobjetivos,métodos,resultadoseconclusões.Também
Pubmed
Web of
science
Scopus
0
0
1
1
1
4
1
Figura1 Descric¸ãodabasededadosdosresumos considera-dos,emquantidade,quandoforamlocalizadosemmaisdeuma base.
foram analisados os resultados específicos das avaliac¸ões referentesalinguagemoral esuaespecificac¸ão(receptiva e/ouexpressiva)eapontadasaslimitac¸õesdecadaestudo.
Resultados
Medianteabuscafeita,foramlocalizados37artigosna
Pub-Med, 47 na Scopus e 38 na Web ofScience e nenhumna
Lilacs.
Emprimeira análise,considerando aleitura dostítulos e resumos,foramselecionadosoitoestudos.Alocalizac¸ão
emumaoumaisbasesdedadosdosartigosselecionadosé
apresentadanafigura1.
Para a apurac¸ão final, todos os artigos foram lidos na íntegra,excetodois,quenãoseapresentavaminteiramente disponíveiseforamexcluídosdoestudo.Assim,atabela1
traz os seis estudos incluídos no presente trabalho, com
informac¸õessobreautoria,ano,periódicoebasededados emqueforamlocalizados,porordemcrescentecronológica.
Atabela2trazaanálisedosartigosconsiderados.
Tabela1 Dadosdeautoria,ano,periódicoebasededadosdosartigosconsideradosnoestudo
Autor Ano Periódico Basededados
O’BrienLM,MervisCB,HolbrookCR,BrunerJL, KlausCJ,RutherfordJ,RaffieldTJ,GozalD25
2004 Pediatrics PubMed---Web---Scopus
KurnatowskiP,Puty´nskiL,LapienisM,Kowalska B26
2006 IntJPediatrOtorhinolaryngol PubMed---Web---Scopus
AndreouG,AgapitouP27 2007 ArchivesofClinicalNeuropsychology WebofScience
LandauYE,Bar-YishayO,Greenberg-DotanS, GoldbartAD,TarasiukA,TalA28
2012 PediatricPulmonology PubMed
LiukkonenK,VirkkulaP,HaavistoA,Suomalainen A,AronenET,PitkärantaA,KirjavainenT29
2012 IntJPediatrOtorhinolaryngol PubMed---Web---Scopus
Obstructive
sleep
apnea
and
oral
language
disorders
101
Tabela2 Informac¸õessobreobjetivo,casuística,métodoseresultados(especificamentearespeitodalinguagemoral)dosartigosconsideradosnoestudo
Autor,ano Objetivo Casuística Métodos--- enfoque naLinguagemOral
Critériode diagnósticodaAOS
Resultados--- enfoque nalinguagemoral
Linguagemreceptiva e/ouexpressiva
Limitac¸ãodoestudo
Desenhodoestudo O’Brienetal.,
200425
Avaliaraassociac¸ão doroncoprimárioe déficits neurocom-portamentaisem crianc¸as.
87crianc¸ascom roncoprimário e31saudáveisde 5a7anos.
UsadooNEPSY. Diagnósticoderonco primárioporPSG, considerandoo IA<1;IAH<5esem mudanc¸asanormais nastrocasgasosas.
Alinguagem apresentou resultados significativamente menoresparao grupoderonco primáriodoquepara ogrupocontrole.
Linguagemreceptiva eexpressiva
Nãorealizouexames paraverificara audic¸ão. Transversal
Kurnatowskietal., 200626
Analisaralterac¸ões neurocognitivas (coordenac¸ão sensório-motora, percepc¸ão,memória, aprendizagemabitur, concentrac¸ão, atenc¸ãoconcentrada erecepc¸ãoda linguagem)em crianc¸ascomAOS devidoàhipertrofia adenotonsilar.
221crianc¸as nototal. 117crianc¸ascom SAOS:87comidade entre6e9anose34 de10a13anos. 104crianc¸as saudáveis.
Tokentest(TT) ---paraverificaronível deintegrac¸ão sensório-motor, processosde percepc¸ãoede linguagemreceptiva.
DiagnósticodeSAOS porPSGcomIAH>1, dessaturac¸ãodo oxigênio<92%.
Osgruposde crianc¸ascomSAOS apresentaram resultadosabaixodas crianc¸assaudáveis quantoàlinguagem receptiva.
Linguagemreceptiva Nãorealizouexames paraverificara audic¸ão. Transversal
Andreoue Agapitou,200727
AnalisarseaAOSna infânciapodeter relac¸ãocoma fluênciaverbale desempenhoescolar.
40adolescentes:20 comAOSe20do grupocontrole. Idademédia: 18,41anos.
Doistestesde fluênciaverbal padronizadosparao grego,quantoaos aspectossemânticos efonológicos.
DiagnósticodeAOS porPSG,com IAH>10e/ou SaO2<95%por evento,efrequência cardíaca
>60batimentos porminuto.
Notou-sediferenc¸a nosaspecto fonológico esemântico, comparandoas crianc¸ascomesem AOS.Adolescentes comAOS apresentaram resultadospiores.
Linguagem expressiva
102
Corrêa
CC
et
al.
Tabela2 (Continuação)
Autor,ano Objetivo Casuística Métodos---enfoque naLinguagemOral
Critériode diagnósticodaAOS
Resultados---enfoque nalinguagemoral
Linguagemreceptiva e/ouexpressiva
Limitac¸ãodoestudo Desenhodoestudo
Landauetal., 201228
Analisarahipótese deasfunc¸ões comportamentais ecognitivas decrianc¸as pré-escolares comAOSserem prejudicadas,em comparac¸ãocom crianc¸assaudáveis. Verificarsehouve melhoriaapós ade-noamigdalectomia.
45crianc¸ascomAOS e26crianc¸as saudáveis,de 2,5a5anos.
Aplicadooteste KaufmanAssessment BatteryforChildren (K-ABC).
DiagnósticodeAOS porPSGcomIAH>1.
Antesdacirurgia,o grupocomAOS apresentoupior desempenhona fluênciaverbal, sendoque,apósa cirurgia,houve melhoranesse aspecto.
Linguagem expressiva
Nãorealizouexames paraverificara audic¸ão. Transversal
Liukkonenetal., 201229
Avaliararelac¸ão entreosdistúrbios respiratóriosdosono eafunc¸ãocognitiva emcrianc¸as.
44crianc¸ascom roncoprimário e51saudáveis, de1a6anos.
UsadooNEPSY (compreensão dasinstruc¸ões, nomeac¸ãorápidae nomeac¸ãodepartes docorpo).
Diagnósticoderonco primárioporPSG comIAH<1. Hipopneiafoi definidacomo reduc¸ãodovolume dofluxodear em<50%,seguido pordespertar edessaturac¸ão daoxiemoglobina de>2%.
Ogrupodecrianc¸as comroncoprimário obteveasmenores pontuac¸ões emfunc¸õesda linguagem (compreensãodas instruc¸ões, nomeac¸ãorápida).
Linguagemreceptiva eexpressiva
Nãofezexamespara verificaraaudic¸ão. Transversal
Yorbiketal.,201430 Investigarosefeitos
doroncoedosono fragmentadosobreo desenvolvimento mentalemcrianc¸as pré-escolares.
212crianc¸as,sendo 37comqueixas deroncoe 25comqueixasde fragmentac¸ão dosono, de3,1a6anos.
Usadootestede imagensPeabody.
Questionário. Crianc¸ascomqueixas deroncoeascom sonofragmentado apresentaram menoresescores nalinguagem.
Linguagemreceptiva Nãorealizouo examedePSGepara verificaraaudic¸ão. Transversal
Obstructivesleepapneaandorallanguagedisorders 103
Discussão
Os atuais estudos a respeito da AOS têm apresentado a
característicaprimordialdainterdisciplinaridadedevidoaos
possíveiscomprometimentos,variadoseheterogêneos,que
essa condic¸ão podeocasionar. Necessitam,assim, deuma
visãoholísticadoindivíduoparaumtratamentomais asser-tivo.
Comoresultadodabuscafeita,pôde-seaveriguarqueos
artigosselecionadossobrealinguagemoral foram
publica-dosrecentemente.Deve-seconsiderarqueodiagnósticoda
AOS temaumentadonosúltimos anos,31 o quepode
justi-ficaroaumentodecrianc¸ascomAOSeonúmeromaiorde
pesquisascientíficasatuaisqueinvestigamessesaspectos. Amaioriadostrabalhosfoipublicadaemperiódicos
rela-cionados à área da Pediatria (quatro), um na Medicina
doSono e umNeuropsicologia.Ressalta-seque nãoforam
encontradaspublicac¸õesemperiódicosdaáreada Fonoau-diologia,profissãoresponsávelpelacompreensãoeatuac¸ão nosaspectosfonoaudiológicosdafunc¸ãoauditivaperiférica ecentral,func¸ãovestibular,linguagemoraleescrita,voz, fluência,articulac¸ão dafala e dos sistemas miofuncional, orofacial,cervicalededeglutic¸ão.32
De modo geral, os estudos analisados apresentaram
como objetivoavaliarasfunc¸ões comportamentaise
neu-rocognitivas, umtrabalhoinvestigou afluênciaverbal eo
desempenho escolar. Desse modo, não houve enfoque
exclusivo de análise da linguagem oral, que procurasse
compreendê-la efetivamente em todos seus níveis. Para
a compreensão dessa linguagem, devem ser consideradas
ascompetências da linguagemexpressivae dalinguagem
receptiva,ouseja,os processos deorganizac¸ãoe
expres-sãodopensamentoque,enquantocomportamentoregrado,
podemserdescritospelos aspectos:fonológico (inventário desonsdeumalínguaeasregrasdecombinac¸ãoparaformar unidadessignificativas);sintático(regrasdeproduc¸ão ver-balenquantoestrutura,levandoemconsiderac¸ãoaanálise
morfológica e gramatical); semântico (caracterizada pelo
repertóriolexicalerelacionadoaosignificadodaspalavras
e suas combinac¸ões) e pragmático (regras relacionadas a
intencionalidade,contextoefuncionalidadedafala).33---36
Alémdisso,considerandoqueodesenvolvimentoda
lin-guagemocorredeformagradual,respeitaamaturac¸ãoda
crianc¸ae éinfluenciadopelas relac¸ões estabelecidaspelo meioambientequeestáinserido,32afaixaetáriada
casuís-ticacontempladanosestudosincluídosnapresentepesquisa foiumfatorlimitante,devidoasuaaltavariabilidade,que impediucomparac¸ões.Ressalta-sequetrêsestudos avalia-ramcrianc¸asaté6anos,27,29,30 umavalioude5a7anos,25
outro apresentoucrianc¸as de6a 13anos26 e, porúltimo,
houveaavaliac¸ãodeadolescentes.28
O desenvolvimento dalinguagem é caracterizado pela
presenc¸adealgunsmarcadores,umdeleséoperíodode4a 7anos,noqualacrianc¸apassaaproduzir sonsmais
com-plexos, de forma gradual, iniciapela produc¸ão adequada
depalavrasmaissimplese atépalavrasmaislongas.35 Em
relac¸ão à casuística apresentada, observou-se em quatro
trabalhos a idade máxima de 7 anos e outros dois
consi-deraramcrianc¸as de faixa etáriaacima daidade prevista
para aestabilidade dosistema fonológico. Apesar de não
serpossívelestabelecerrelac¸õesentreasamostrasquanto aodesenvolvimentofonológico,devidoaointervalodafaixa
etária,caberessaltarqueoperíodoentre3e7anoséopico deocorrênciadehipertrofiadeadenoideemcrianc¸ascom
AOS37 eétambémquandograndepartedossons dafalaé
adquirida.35
Osestudosdiferemaindapelascaracterísticasdosono,
emtrêsartigosforamconsideradascrianc¸ascomAOS
diag-nosticadaspormeiodoexamedePSG,doiscompostospor
crianc¸ascomroncoprimárioeumestudoquenãoapontou
entreseusmétodosa PSG,caracterizoua amostraapenas
comusodequestionários.Adefinic¸ãododiagnósticodaAOS pormeiodaPSG,bemcomoseugrau,énecessáriapara pos-sibilitaracorrelac¸ãodasalterac¸õesdalinguagemoralcom
a estimativa do comprometimento fisiológico.38
Ressalta--seaindaque,noscincoestudosqueconstaramaPSGnos
métodos,oscritérios/parâmetrosadotadosparaconsiderar
aAOStambémdiferiram(variaramdeIAH>1atéIAH>10). Dessaforma,torna-sedifícilacomparac¸ãoentreosestudos
incluídos,e,considerandoquetodosapresentamodesenho
transversal,oníveldeevidênciatrazidoporelesé interme-diário.
No que tange à metodologia de análise da linguagem,
medianteosdiferentestestesusadosparaavaliara lingua-gemoral(Kaufman,Peabody,Token,Nepsyeumtestegrego nãoespecificado),nãofoipossívelumacomparac¸ão minu-ciosadosresultadosapurados.Issosugereanecessidadede pesquisascomapadronizac¸ãodesses protocolos,favorece
maiorentendimentodacorrelac¸ãodaAOScomalinguagem
oral.Entretanto,apesardaausênciadeíndicesestatísticos
quecomparemosresultadosdapresentepesquisa,há
cres-centeevidênciadocomprometimentodalinguagemoralnos
casosdeAOS.
Nosqueserefereaosníveisdalinguagemoral,nos
resul-tadosdos estudos citados foram encontradasdificuldades
nos níveis semânticos, fonológicos e de fluência verbal.
Algunsautoresbuscaramexplicarcomoodesempenho
neu-rocognitivodecrianc¸aspodeserafetadopelasalterac¸õesde sono.Além disso,afirma-sequeosdéficitsdelinguageme fluênciaverbalpodemserexplicadospeloefeitocumulativo dainterrupc¸ãonaarquiteturadosonoassociadoaoperíodo dematurac¸ão neurológica,que, ao longodos anos,
inter-ferenodesenvolvimento dasredes sinápticasneuronais e
queocorredemaneirarápidaeintensaemcrianc¸as.19,39Os
déficitsdefluênciaverbalaindaestãoassociadosàdisfunc¸ão nocórtexpré-frontal.40,41
Dessa forma, o diagnóstico e o tratamento precoces
devemserenfatizados, nãosópelas possíveisimplicac¸ões
nalinguagemoral, como demonstradonos estudos
revisa-dosdaliteratura,quetendemaseagravarconformeaidade cronológicadacrianc¸a,27 mastambémpelosbenefícios no
desempenhoneurocognitivosenaqualidadedevidadessas
crianc¸as.18,42---44
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Referências
104 CorrêaCCetal.
2.KatzES,D’AmbrosioCM.Pediatricobstructivesleepapnea syn-drome.ClinChestMed.2010;31:221---34.
3.Marcus CL. Pathophysiology of childhood obstructive sleep apnea:currentconcepts.RespPhysiol.2000;119:143---54. 4.American Academy of Pediatrics. Clinical practice guideline
diagnosisandmanagementofchildhoodobstructivesleepapnea syndrome.Pediatrics.2002;109:704---12.
5.Marcus CL, Brooks LJ, Draper KA, Gozal D, Halbower AC, JonesJ,etal.Diagnosisandmanagementofchildhood obstruc-tivesleepapneasyndrome.Pediatrics.2012;130:1---9. 6.Marcus CL, Moore RH, Rosen CL, Giordani B, Garetz SL,
TaylorHG,etal.Arandomizedtrialofadenotonsillectomyfor childhoodsleepapnea.NEnglJMed.2013;368:2366---76. 7.AmericanThoracic Society.Cardiorespiratory sleepstudiesin
children.AmJRespirCritCareMed.1999;160:1381---7. 8.BrunettiL,RanaS,LospallutiML,PietrafesaA,FrancavillaR,
Fanelli M,et al. Prevalence of obstructive sleep apnea syn-drome ina cohortof1207children ofsouthernItaly.Chest. 2001;120:1930---5.
9.Sogut A, AltinR, UzunL, UgurMB,TomacM,Acun C,etal. Prevalenceofobstructivesleepapneasyndromeandassociated symptomsin3---11-year-oldTurkishchildren.PediatrPulmonol. 2005;39:251---6.
10.BixlerEO,VgontzasAN,LinHM,LiaoD,CalhounS,Vela-Bueno A, etal. Sleepdisordered breathinginchildrenin ageneral populationsample:prevalenceandriskfactors.Sleep.2009;32: 731---6.
11.ZorziJL.Aintervenc¸ãofonoaudiológicanasalterac¸õesde lin-guageminfantil.RiodeJaneiro:Revinter;2002.
12.Nelson HD, Nygren P, Walker M, Panoscha R. Screening for speechand languagedelay inpreschool children:systematic evidencereviewfortheUSPreventiveServicesTaskForce. Pedi-atrics.2006;117:298---310.
13.OliveiraCEN,SalinaME,AnnunciatoNF.Fatoresambientaisque influenciamaplasticidadedoSNC.ActaFisiátrica.2001;8:6---13. 14.AndersonV,Spencer-SmithM,WoodA.Dochildrenreally reco-verbetter?Neurobehaviouralplasticityafterearlybraininsult. Brain.2011;134:2197---221.
15.Owens J, Spirito A, Marcotte A, McGuinn M, Berkelhammer L.Neuropsychologicalandbehavioralcorrelatesofobstructive sleepapneasyndrome inchildren:apreliminary study.Sleep Breath.2000;4:67---78.
16.BlundenS,LushingtonK,KennedyD,MartinJ,DawsonD. Beha-vior and neurocognitive performance in children aged 5---10 yearswhosnorecomparedtocontrols.JClinExpNeuropsychol. 2000;22:554---68.
17.KennedyJD,BlundenS,HirteC,ParsonsDW,MartinAJ,CroweE, etal.Reduced neurocognitioninchildrenwhosnore.Pediatr Pulmonol.2004;37:330---7.
18.GozalD.Sleep-disorderedbreathingandschoolperformancein children.Pediatrics.1998;1023Pt1:616---20.
19.BeebeDW,GozalD.Obstructivesleepapneaandtheprefrontal cortex:towardsacomprehensivemodellinkingnocturnalupper airwayobstructiontodaytimecognitiveandbehavioraldeficits. JSleepRes.2002;11:1---16.
20.Uema SFH, Pignatari SSN, Fujita RR, Moreira GA, Pradella-Hallinan M, Weckx L. Avaliac¸ão da func¸ão cognitiva da aprendizagememcrianc¸ascomdistúrbiosobstrutivosdosono. RevBrasOtorrinolaringol.2007;73:315---20.
21.FeldmanHM,CampbellTF,Kurs-LaskyM,Rockette.Concurrent andpredictive validityofparentreportsofchildlanguageat ages2and3years.ChildDev.2005;76:856---68.
22.Rondal JA, Esperet E, Gombert JE, Thibaut JP, Comblain A. Desenvolvimentodalinguagemoral.In:PuyueloM,RondalJA, editors.Manualdedesenvolvimentoealterac¸õesdalinguagem nacrianc¸aenoadulto.SãoPaulo:Artmed;2007.p.17---86.
23.SmeekensS, Riksen-WalravenJM, vanBakel HJA.Profiles of competenceandadaptationinpreschoolersasrelatedtothe qualityofparent---childinteraction.JResPers.2008;42:1490---9. 24.GurgelLG,PlentzRDM,JolyMCRA,ReppoldCT.Instrumentos deavaliac¸ãodacompreensãodelinguagemoralemcrianc¸ase adolescentes:umarevisãosistemáticadaliteratura.Rev Neu-ropsicolLatinoamericana.2010;2:1---10.
25.O’Brien LM, Mervis CB, Holbrook CR, Bruner JL, Klaus CJ, RutherfordJ,etal. Neurobehavioralimplicationsofhabitual snoringinchildren.Pediatrics.2004;114:44---9.
26.KurnatowskiP,Puty´nskiL,LapienisM,KowalskaB. Neurocogni-tiveabilitiesinchildrenwithadenotonsillarhypertrophy.IntJ PediatrOtorhinolaryngol.2006;70:419---24.
27.AndreouG, AgapitouP.Reduced languageabilitiesin adoles-centswhosnore.ArchClinNeuropsychol.2007;22:225---9. 28.LandauYE,Bar-YishayGreenberg-DotanS,GoldbartAD,
Tara-siukA,TalA.Impairedbehavioralandneurocognitivefunction inpreschoolchildrenwithobstructivesleepapnea.Pediatr Pul-monol.2012;47:180---8.
29.LiukkonenK,VirkkulaP,HaavistoA,SuomalainenA,AronenET, Pitkäranta A, et al. Symptoms at presentation in children withsleep-related disorders. Int JPediatr Otorhinolaryngol. 2012;76:327---33.
30.YorbikO,MutluC,KocD,MutluerT.Possiblenegativeeffects ofsnoringandincreasedsleepfragmentationondevelopmental statusofpreschoolchildren.SleepBiolRhythms.2014;12:30---6. 31.ValeraFCP,DemarcoRC,Anselmo-LimaWT.Síndromedaapneia edahipopnéiaobstrutivasdosono(SAHOS)emcrianc¸as.Rev BrasOtorrinolaringol.2004;70:232---7.
32.ConselhoFederal deFonoaudiologia.Exercícioprofissionaldo fonoaudiólogo 2002. Brasília (DF): CFF; 2002 [cited 21 Mar 2015]. Available from: http://www.fonoaudiologia.org.br/ publicacoes/epdo1.pdf
33.HageSRV,ResegueMM,ViveirosDCS,PachecoEF.Análisedo per-fildashabilidadespragmáticasemcrianc¸aspequenasnormais. Pró-FonoRevAtualizac¸ãoCientífica.2007;19:49---58.
34.BooneDR,PlanteE.Acomunicac¸ãohumanaeseusdistúrbios. PortoAlegre:ArtesMédicas;1983.
35.WertznerHF.Fonologia:desenvolvimentoealterac¸ões.In: Fer-reira LP, Befi-Lopes DM, Limongi SCO, editors. Tratado de Fonoaudiologia.1aedSãoPaulo:Roca;2004.p.772---86. 36.PenningtonBF,BishopDV.Relationsamongspeech,language,
andreadingdisorders.RevPsychol.2009;60:283---306. 37.GreenfeldM,TaumanR,DeRoweA,SivanY.Obstructivesleep
apneasyndromeduetoadenotonsillarhypertrophyininfants. IntJPediatrOtorhinolaryngol.2003;67:1055---60.
38.RyanCM,BradleyTD.Pathogenesisofobstructivesleepapnea. JApplPhysiol.2005;99:2440---50.
39.O’BrienLM,GozalD.Behavioralandneurocognitiveimplications ofsnoring andobstructivesleepapneainchildren:factsand theory.PediatricRespirRev.2002;3:3---9.
40.DesmondJ,FiezJ.Neuroimagingstudiesofthecerebellum: lan-guage,learning,andmemory.TrendsCognSci.1998;2:355---62. 41.JanowskiJS,ShimamuraAP,SquireLR.Sourcememory impair-mentinpatientswithfrontallobelesions. Neuropsychologia. 1989;27:1043---56.
42.GoldsteinNA,PostJC,RosenfeldRM,CampbellTF.Impactof tonsillectomyandadenoidectomyonchildbehavior.Arch Oto-laryngolHeadNeckSurg.2000;126:494---9.
43.FriedmanBC,Hendeles-AmitaiA, KozminskyE,LeibermanA, FrigerM,TarasiukA,etal.Adenotonsillectomyimproves neu-rocognitivefunctioninchildrenwithobstructivesleep apnea syndrome.Sleep.2003;26:999---1005.