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Kelly Andrews Por toda a minha vida

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Academic year: 2021

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Prólogo

A sensação não é das melhores, o dia não está colaborando cem por cento. Minhas pálpebras estão cansadas, meu coração queima com o peso das lembranças, as melhores e as piores lembranças da minha vida.

Sabe aquela ponte que temos de atravessar ao chegar à fase da adolescência? Nunca tive pressa para chegar ao outro lado da ponte, preferir deixar que o vento da vida me levasse quando fosse a hora certa. Mas quem poderia imaginar que a hora certa chegaria tão cedo?

Aos dez anos nos confrontamos com perguntas, que á primeira impressão parecem estúpidas, mas só aos quinze anos que encontraremos realmente ás respostas, isso se for um golpe de sorte, até hoje não consegui responder a perguntas mais importantes que fiz a mim mesma.

Meu coração doía, depois percebi que tudo doía. Eu não era mais aquela Kelly

Andrews, a garotinha do papai, a princesa do Shopping Center. Agora eu tinha a minha própria vida, só de pensar que por pouco não a perdi. Estava tão desesperada para tê-lo mais uma vez em meus braços, foi quase fatal. Não deixou muitas seqüelas, a não ser a pequena ferida aberta em meu peito. A ferida do medo.

Medo de acordar e ver que tudo não passou de um sonho, ou medo de perdê-lo por qualquer outro motivo. Senti grãos de areia tocar meu rosto, permaneci com os olhos fechados, ouvindo apenas o barulho do mar, as ondas se revezavam entre calmas e bravas. O sol no Havaí definitivamente era único. Ele não estava ao meu lado nesse momento, eu estava completamente sozinha com meus pensamentos doloridos.

Há três meses eu estaria sentada na varanda do quarto planejando qual roupa usar na escola, hoje, no meu próprio conto de fadas, planejo como administrar uma família, a minha própria família. Com certeza eu não era mais a Kelly de antes. Pra minha sorte. Agora percebo que não atravessei a ponte com meus próprios pés, eu estava flutuando e era tarde de mais para voltar atrás. Deixei que o amor me guiasse e não me

preocupei em saber qual caminho estaria sendo guiada, porque onde quer que ele esteja, tenho absoluta certeza que estará pensando em mim. Sempre seremos um só, corpo e alma, num só coração. Um apoiando o outro e será assim para sempre. Aprofundei em meus pensamentos e me permiti regressar três meses atrás.

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Kelly

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Capítulo Um

Os preparativos para a festa estão chegando ao fim, os cartazes, faixas, bebidas e comidas já estão prontos.

- Kelly, tem certeza de que você convidou todos os amigos dele?-Resmungava mamãe. -Tenho mamãe, fica tranquila, Felipe vai amar a surpresa, pode esperar, ele nem vai acreditar que é para ele. Na minha formatura também quero uma festa surpresa. - Mas Kelly, não vai ser mais surpresa uma vez que você já sabe.

- Eu sei, mas daqui pra lá eu esqueço mamãe. E por falar nisso, como a senhora conseguiu tirar Felipe de casa?

- Convidamos um dos amigos dele, e ele foi pegá-lo na estação. Mas deixe de conversa e vá organizar o clube, eles estão já chegando.

-Tudo bem. -Falei isso e sai.

Eu jamais poderia imaginar que um dia estaria preparando uma festa para meu irmão. Minha cabeça girava em turbilhão, e fui tomada por uma série de perguntas: “Será que todas as pessoas convidadas viriam?” “Será que Felipe irá gostar da surpresa?” “E quem será esse amigo afinal?” “E se de repente ele não conseguir segurar o segredo e contar tudo a Felipe?”.

Esmurrei o ar como se estivesse afastando todos esses pensamentos de minha mente, e comecei a correr, talvez assim evitasse os maus pressentimentos.

Quando cheguei ao clube, estava tudo pronto, papai e os empregados já havia tomado conta de tudo. Alguns convidados já haviam chegado. Deixei umas caixas que mamãe mandara. Voltei para casa e fui me vestir mamãe já estava pronta, e muito linda por sinal.

Demorei horas para ficar pronta. O nosso motorista, Isaac viria nos buscar, mas ele estava demorando muito, e sempre odiei esperar. A dor no meu peito aumentava sempre que olhava ao relógio. Mas enfim ele apareceu.

Na festa, tudo estava correndo conforme planejado, as pessoas estavam se divertindo, quando de repente todos pararam e começaram a aplaudir. Meu irmão entrou pelo grande salão, foi um lindo momento. Algo me intrigou, onde estava o amigo de Felipe? E porque a minha dor passou tão depressa? Seria tudo expectativa?

Fiquei muito feliz por ver todos os meus amigos lá. Mariani veio correndo em minha direção, parecia estar querendo contar-me algo. Não tive dúvidas.

- Kelly, você não vai acreditar no que tenho para lhe contar. Advinha. -gritou ela eufórica.

- Eu não faço a menor ideia do que seja.

- Amanhã haverá um grande concerto com a orquestra sinfônica da Julliard, no enorme salão de Nova Jersey, ganhei dois ingressos de papai, advinha quem eu quero que venha comigo?

Agora foi a minha vez de gritar, passei quase a noite toda pulando.

No final da festa, Isaac nos levou para casa, pois estávamos exaustos. Eu estava mais que ansiosa para ver o concerto. Tentei fechar os olhos, mas não consegui dormir. Onde estava todo aquele sono de agora a pouco? Liguei a televisão, estava passando um filme legal, mas muito tedioso, o que fez todo o meu sono voltar em dobro, não sei com precisão, mas antes do „Eu te Amo‟ eu já havia adormecido.

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De manhã quando acordei dei um pulo da cama e fui correndo me arrumar para o grande concerto, Mariani já estava na sala a minha espera e ansiosa, ela estava com um modelito transado e elegante ao mesmo tempo. Entramos no carro e saímos. Por fora o local era enorme, fiquei impressionada com a beleza do ambiente, demorou muito para que pudéssemos entrar no salão onde iria acontecer o espetáculo, sentamos na segunda fila de cadeiras onde ficava bem perto do palco, algumas filas ao lado da nossa estavam reservadas.

-Mariani, você sabe pra quem reservaram estas filas?

-Para os alunos da Julliard. Fiquei sabendo que só realizaram este concerto por causa deles, é um tipo de preparativo para a “Grande noite”.

Fiz força pra não perguntar o que significa à „Grande noite‟, o meu entusiasmo aumentou ainda mais, quer dizer que os famosos estudantes da melhor escola de música de Nova York sairiam da toca.

O concerto estava maravilhoso, as canções eram magníficas. Por descuido esqueci o celular ligado e tocou em uma hora inapropriada, sai correndo para fora do salão e entrei no banheiro. Era mamãe querendo saber à hora que voltaríamos e se era necessário papai vir nos buscar, mas falei que pegaríamos um táxi. Quando sai do banheiro dei de cara com um garoto em pé na porta ouvindo toda a minha conversa, antes que ele falasse qualquer coisa fui logo gritando.

- Nunca lhe falaram que é errado ouvir as conversas alheias?- soou mais grosseiro do que pensei.

- Não tão errado quanto deixar o celular ligado em eventos sociais - retrucou ele. Dei um sorriso torto e sai, ele veio atrás de mim.

- Espera! Qual é o seu nome?

- Não sou do tipo que fala com estranhos. - Falei tentando escapar dele.

- Eu me chamo Victor, agora não sou mais estranho pra você. Agora é a sua vez. Eu queria falar meu nome não fosse uma maldita sensação tomando conta de mim. Tentei falar algo, mas nada saiu, a única coisa que me veio á mente foi correr e fugir dali, quando virei às costas para sair ele me pegou pelo braço.

- Desculpe se te fiz ficar constrangida, não era a minha intenção. - Falou ele um pouco preocupado com a minha reação.

Entendo-o, além do mais, que garota fugiria de um cara como ele? Ele era

simplesmente magnífico. Parece que fiz papel de tonta, pensei sentindo-me uma idiota. - Não foi nada, eu só preciso ir. – Mas antes de sair virei pra ele e disse: - Meu nome é Kelly, e foi um prazer te conhecer. – Sai como um raio.

Encontrei com Mariani, nenhuma das duas falou nada. Estava bastante assustada com tudo aquilo que havia acontecido, nunca fui do tipo „desenrolada‟ com garotos, sempre dava um jeito de estragar tudo com as minhas respostas grosseiras ou até mesmo com as minhas frases sem lógica. A imagem de Victor refletia em minha cabeça, talvez nunca mais o visse, foi apenas um pequeno momento, mas sentia que havia sido de grande importância e significado para mim. E para ele?

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Esperamos dez minutos para conseguir um táxi, aquele evento deixou a cidade de pernas para o ar. Pensei ir direto para casa, mas resolvemos parar no shopping, comer alguma coisa e fazer algumas compras, afinal, não faz mal a ninguém, estava mais do que desesperada para esquecer tudo o que tinha acontecido naquela manhã.

Andamos de loja em loja, tentando encontrar algo decente, não demorou muito para achar. Mariani se esbaldou nas grifes Francesas. Só existiam duas coisas que seguravam Mariani no mundo, além da gravidade é claro, e essas duas coisas se encontravam na primeira folha do seu caderno de metas:

Leonardo e o cartão sem limites que o pai lhe dera no aniversário de quinze anos, na verdade um dos muitos presentes ilustres que ela recebera dos pais.

- Pra quê tantas roupas? Só precisa uma, nunca vai poder usar todas de uma única vez. - Mas posso fazer um revezamento, e amanhã é segunda feira eu preciso estar bonita quando chegar à escola e dá de caras com o meu querido Leonardo.

- Dá um tempo Mariani, o seu querido Leonardo nem olha pra você. - Ainda, mas espera só até amanhã, ele vai cair de joelhos por mim. - Tudo bem Julieta, vá conquistar o seu Romeu. Boa sorte.

- Será que você nunca irá se apaixonar?

- Quem sabe um dia minha cara amiga, mas não agora, sou nova de mais para isso. Quer por favor, deixar de papo furado? Quero ir para casa, estou exausta, ontem não consegui pregar os olhos.

- Nem eu, passei a noite toda pensado em como vou conquistar Leonardo. Você tem muita sorte, foi à única garota da nossa escola que conseguiu beijá-lo, devia te odiar por isso.

- Éramos crianças, nem lembro mais disso.

Leonardo era um garoto simplesmente maravilhoso, todas as garotas caiam de quatro, quando éramos crianças ele me beijou, passei muitos anos sendo a garota que beijou o grande Leonardo. Foi bom por um tempo, pelo menos para o meu ego, não gostava quando as meninas me interrogavam perguntando se ele beijava bem ou coisa do tipo, além do mais Mariani era absolutamente louca por ele, mas não sei o porquê ele era o único que não dava bola para ela. Estudamos juntos no curso fundamental, mas ele era um garoto muito chato que só falava em Super Heróis, a coisa mais profunda que ele me falou naquele tempo foi:

- Qual das três espiãs você queria ser?

Ele era bastante irritante, mas quem diria que aquele garoto magricela que só falava besteiras se tornaria em um grande homem sarado e que arrancava suspiros da

mulherada. Não era exagero, ele tinha um cabelo preto, os seus olhos eram verdes, que lembravam muito a natureza, era alto e musculoso, tinha um sinal perto dos lábios, o que deixava qualquer garota louca. Inclusive a minha pequena e frágil melhor amiga. - Vamos para casa, pra mim já deu o que tinha de dar. O pior é que não encontrei nada legal para vestir amanhã na aula, vou chorar muito quando chegar em casa.

- Não se preocupe Kelly, posso lhe emprestar algo. - Você usaria algo emprestado?

- Acho que não. Seria como usar roupas repetidas, o que não faz meu estilo.

- Não somos tão diferentes nesse aspecto. Preciso de uma roupa, é tão difícil assim de aceitar?

- Um pouco, você é do tipo que economiza até o palito de dente. - Nossa, que nojo Mariani.

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- Também acho. Kelly, com o seu cartão dá para comprar uma frota de navios, viajar pelo mundo, comprar tudo pela frente e ainda sobra muito pra torrar no shopping, e seus pais pagam tudo sem fazer cara feia, quer honra maior que essa? Vamos menina, você merece tudo e mais um pouco. Vou te ajudar a escolher uma roupa perfeita. Passamos mais de cinco horas entrando nas lojas, mas pelo menos encontrei algo decente e bonito.

Liguei para o meu pai vir nos buscar. Não queria passar mais de trinta minutos esperando um táxi.

- Porque você não chama o seu motorista?

- Hoje é domingo, até os motoristas tem folga no domingo Mariani. - Disso eu não sabia.

- Se você prestasse atenção nas outras coisas talvez pudesse perceber mais que isso. Mas só vive para fazer compras. Quando vai aprender que existem coisas melhores do que ir ao shopping e comprar tudo que vir pela frente?

- Nunca, porque não existe. Nem acredito que você falou isso. - Puxa, nem eu. Acho que foi o sol.

Papai chegou com um carro diferente. Fiquei com medo de entrar porque não dava pra enxergar nada de fora. Parecia um daqueles carros de estrelas de cinema, ou até de um agente secreto.

- Desde quando temos um carro assim? – falei tentando enxergar pelo vidro fumê. - A partir de hoje. O que achou?

- Lindo, ele é perfeito papai. É o carro mais lindo que já vi. Preciso economizar bastante pra quando tirar a minha carteira comprar igual.

- Não precisa querida. Esse carro é seu.

Fiquei sem palavras. Eu havia mesmo ganhado um carro?

- Nossa Kelly! Olha, eu já recebi vários presentes, mais um carro nunca. Isso vai me dá uma depressão.

- Mariani!- falei enrugando a testa. - Papai, nem sei o que falar. Jura que é meu? - Foi ideia de Felipe. Mas só vai poder dirigir...

-... Quando tiver licença. Eu sei pai, é que ainda estou em choque com tudo isso. - Eu também, bote choque nisso. Um carro. Isso não é apenas um carro, é uma máquina, acho que só o banco de couro dá pra alimentar um país de terceiro mundo. - Mariani você é a minha melhor amiga, se quiser o carro emprestado pode ficar a vontade.

- Jura Kelly?

- É lógico amiga. E sem contar que como você é mais velha, vai poder tirar a licença primeiro que eu.

- Esse sim é o melhor dia da minha vida. Tirando a parte que fui chamada de velha. Bom, nos vemos amanhã na escola. Tudo bem?

- É lógico que sim. Ah, Mariani, quase ia esquecendo, comprei esse presente para você. Espero que goste. Tchau.

Tinha comprado uma mini saia Chanel, ela sempre babava por ela quando passava na vitrine, mas como sempre, achava que existiam maiores necessidades, como um vestido talvez. Nunca me atrevi a perguntar por que ela não comprava a saia e o vestido, afinal dinheiro para ela não faltava, vai entender.

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- Ela é a minha melhor amiga papai, sem ela nada teria sentido, não sei como seria a minha vida se não tivesse Mariani por perto.

- E um cartão sem limites. - Isso também.

Rimos muito. Papai sempre me tratava como um bebê, receber um carro dele significava que eu já não era mais uma criançinha como ele achava.

Ao chegar em casa fui direto para o meu quarto, estava mais que exausta. Dormi profundamente, esquecera até do jantar. Sonhei com Victor. Foi um pouco estranho, afinal só o vi uma única vez e por alguns segundos, mas pareceu bem vivo na minha mente o seu lindo rosto.

Acordei bem cedo para tomar o café e pedir desculpas á mamãe por não ter descido para o jantar, com certeza quebrei uma regra. Mas ela nem se importou com isso. - Onde está Felipe? Não o vi ontem.

- Ele viajou ontem bem cedo. Mas estará aqui para o almoço. Pedirei que vá te apanhar na escola tudo bem?

-Não precisa mamãe, é só mandar Isaac, provavelmente Felipe estará cansado da viajem.

- Não entendo porque Felipe viaja tanto, além de gastar muito dinheiro ele não encontra nada. – resmungava papai.

- Ele já é bem grandinho para nos preocuparmos com ele, deixe-o.

- Isso mesmo mamãe, é bobagem ficarmos preocupados com Felipe, ele sabe muito bem se cuidar, aliás, não somos mais crianças, vocês não precisam nos tratar como dois bebês. Também não preciso que Isaac vá me levar e me buscar todos os dias na escola, posso muito bem pegar um ônibus ou ir andando.

- Pagamos um motorista para você não ter de andar de ônibus ou mesmo a pé. Se conforme com o que tem. É melhor se apressar, Isaac precisa voltar cedo, tenho de resolver algumas coisas no escritório antes do almoço.

- Estou indo. Mamãe quando terminar as aulas Mariani, e algumas pessoas da minha sala irá ao shopping, queria muito ir. Posso?

- Tudo bem meu amor apenas ligue quando sair para Isaac ir lhe pegar. Tenha uma ótima aula.

-Amo vocês.

Nunca parei para pensar na minha vida, tinha motoristas particulares, cartões de créditos, casas na praia, e espalhadas em muitos lugares, fazendas, uma linda família, uma casa perfeita que muitos chamavam de mansão, vários carros na garagem e muito dinheiro para usar como quiser.

Meu pai era dono de várias empresas multinacionais, minha mãe era uma excelente empresária formada em direito, isso é meio engraçado, já tentei convencê-la á seguir a carreira, mas ela nunca me ouviu. Acho que é pelo fato dela ter conhecido meu pai em um congresso sobre posses. Foi amor sublime amor. Sonho todas as noites com algo assim, mas minha vida amorosa está longe de um conto de fadas, está mais para um pesadelo.

O mais perto que eu cheguei de um romance foi com um garoto cheio de espinhas e que tinha bafo de cebola. Nem precisa mencionar que ELE quem ficou afim de mim, dá até nó no estômago quando me lembro do último baile que tivemos na escola, ele parecia que tinha acabado de chegar de uma greve de fome de mais de mil anos. Que nojo! Por assim, umas duas semanas me vi apaixonada por ele, mas foi apenas atração, se Mariani descobrir ela me mata.

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Capítulo Dois

Na escola minha mente viajava, pensei como teria sido legal se pudesse conhecer mais aquele garoto que tanto mexera comigo.

Encontrar com Victor me deixou um pouco confusa, além do mais, nunca senti algo tão intenso por ninguém que não conhecia. Mais uma vez flutuava pela sala de aula ate que fui obrigada a voltar quando a diretora Lucy chegou dando um comunicado.

Ela nos informava de uma viajem para Nova York que faríamos em excursão, para conhecermos os pontos turísticos, apenas duas turmas iriam desfrutar, as demais teriam de aguardar até o próximo ano. É lógico que iria custar muita grana, três meses na cidade das luzes não ia sair tão barato assim. Não medi esforços e comecei a

preparar tudo, logo me imaginei andando pela grande Nova York, fazendo compras, indo aos enormes shoppings de lá. Tínhamos um mês para nos programarmos e preparar tudo.

Cheguei em casa gritando e pulando como uma louca.

- Mamãe, a senhora não vai acreditar, iremos fazer uma excursão para Nova York, mas antes a senhora precisa assinar aqui e me liberar, daí eu já posso ir ao shopping comprar minhas roupas de frio, pois o inverno lá é de castigar.

- Calma minha filha, precisamos falar com o seu pai e saber o que ele acha de tudo isso. – Mamãe tinha o dom de quebrar as minhas expectativas.

Fiquei muitas semanas tentando convencer meus pais de que seria ótima uma mudança de ares, mas não fui bem sucedida, estava com as esperanças desfeitas. Combinei de ir ao cinema com Mariani e o pessoal do colégio, íamos quase todas as noites, a moça da bilheteria já nos conhecia, e depois como tradição íamos comer pizzas, era sempre divertido.

Quando cheguei mamãe e papai me recepcionaram de uma forma estranha, estavam sentados no sofá da sala de visita principal com uma cara aterrorizante. Eles tinham algo para me contar, sentei no sofá e esperei que soltassem a bomba.

- Veja bem minha filha... - começou papai, ele sempre falava assim quando Felipe e eu fazíamos algo de errado. -... Você já está bem grandinha, e sua mãe e eu conversamos muito sobre isso, e também ficamos muito orgulhosos por você ter pensado no seu irmão em ter dado uma festa para ele. É por essas e muitas razões, que nós decidimos deixá-la ir a essa tal excursão.

Gritei e pulei por uns dez minutos, abracei meus pais com bastante força, seria uma forma de agradecer-lhes por tudo. Não pensei em mais nada, peguei o telefone e liguei para Mariani relatando a ótima notícia, combinamos de ir ao shopping e comprarmos algo para a viagem, afinal, seria na próxima semana. Nessa noite dormi

profundamente.

No outro dia fomos ao shopping, como sempre. Escolhendo roupas que combinasse com Nova York, não estava processando em minha cabeça que passaríamos meses na incrível cidade. Pensei comprar uma daquelas camisetas com a estampa: “I LOVE

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- O que você acha dessa roupa? Com certeza visitaremos algum teatro. Quem sabe iremos à Broadway.

- Você é maluca, só porque vamos à Nova York não significa que iremos ficar andando nos teatros e nos shoppings, vamos para um trabalho escolar Mariani, sabe o que significa?

- Significa que você é uma chata que sempre estraga o meu barato. - Porque eu te amo tolinha.

- Nossa que amor enorme. –ela disse batendo em meu ombro. - Vamos achar algo para vestirmos, antes que acabe tudo.

Era tarde quando voltamos para casa. Estava exausta, mais que os outros dias. - Olá mamãe.

- Oi meu amor, vá tomar um banho porque daqui a pouco será servido o jantar, não quero que durma com fome. Precisa estar forte para aguentar o pique de Nova York. - Tudo bem. Felipe já chegou?

- Sim, está no escritório com o seu pai. - Aconteceu alguma coisa?

- Não sei, eles entraram bem cedo e estão até agora. Mas em todo caso vá tomar o seu banho, mandarei lhe chamar.

- Tá bom.

Sempre gostei de ficar horas e horas na banheira relaxando, não sei há quanto tempo, mas me peguei pensando em Victor, de novo, a imagem dele vinha em minha mente como uma onda em mar bravo, não tinha como controlar, será que também pensava em mim com tanta frequência em que penso nele? Talvez fosse mais uma vez fruto de minha mente, eu só o conheci naquele dia, por uma fração de segundos e nada mais, com certeza de onde ele veio teria um milhão de garotas cercando-o, nem lembraria que eu existo.

Fiquei um bom tempo com esse pensamento, ate que recebi um e-mail de Mariani dizendo que haveria uma festa na cidade e toda a turma estaria lá, provavelmente seria legal, falei a ela que encontraria uma forma de estar lá, talvez o que me faltasse para me livrar de todos aqueles pensamentos fosse uma boa festa com pessoas legais. Estava escolhendo a roupa para ir a essa tal festa quando Maria veio me chamar para o jantar.

Quando desci estava à família toda reunida, Felipe parecia estar ótimo, mesmo cansado da viajem.

- Como foi seu dia hoje minha princesa?

- Como sempre papai, Mariani me obrigou a comprar várias roupas para a nossa viajem, nos divertimos bastante, tomamos sorvete e voltamos para casa.

- Isso sim é uma vida fútil.

- Olha quem fala, você nunca está em casa Felipe.

- Disso ela tem razão meu filho. Você precisa curtir um pouco a sua família, a sua irmã vai viajar e ficar três meses fora de casa, custa curtir os últimos dias dela aqui?

- Mãe... Já conversamos sobre isso. Não fica remoendo, por favor.

- Tudo bem Felipe, mas só falo para o seu próprio bem, quando você tiver a sua própria família saberá do que estou falando.

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Jantei rápido, não queria perder nenhum segundo sequer da grande festa. Mas

precisava de um Habeas Corpus, papai nunca me deixaria sair naquela hora da noite, principalmente sozinha, nesse caso teria de pedir á Felipe. Esperei até que ele entrasse no quarto.

- Felipe, você quer ir a uma festa? Será legal, todos os meus amigos estarão lá, por favor, você sabe que eu só poderei ir se você vir comigo.

Meu irmão era chato ás vezes, mas quase sempre era o melhor irmão de todo o planeta. Teve ocasiões que ele desejou que eu não tivesse nascido, mas eu tentei não ficar magoada com ele porque éramos pequenos e imaturos. Pra falar a verdade nunca entendi o real motivo de ele ter tido tanta raiva de mim quando eu era bebê. - Eu já te falei que ter irmã mais nova é um saco? Se nunca te disse estou falando agora!

- Então quer dizer que você vai?

- Tudo bem, eu vou te deixar lá, preciso encontrar com uns amigos também, e depois eu te pego, mas deixe que nossos pais pensem que eu vou ficar com você, caso contrario pode dá adeus a sua diversão. Tudo bem?

- Te amo irmãozinho, te amo muito, obrigada por essa! Agora vamos porque não quero chegar muito tarde. Antes que esqueça, obrigada pelo carro, não poderia ser melhor. Você é o máximo.

- Só dei a ideia, quem pagou foi o velho. Mas não precisa agradecer sua chatinha. Toda patricinha precisa de um.

- Eu não sou uma patricinha. - Filhinha de papai.

- Eu não sou. - Mimadinha. - Mamãe!!!

- Viu só? Vai correndo para os braços da mamãe. - Te odeio Felipe.

- Felipe, para de importunar a sua irmã. - gritava papai do escritório.

Saímos correndo as escadas, quer dizer, eu corri, Felipe tinha um costume de descer pelo corrimão, me lembro de que uma vez tentei fazer o mesmo, infelizmente não tive tanto sucesso, dei de cara com o aspirador, passei um tempão com dor de cabeça. Enquanto Felipe ria de mim dizendo que eu não poderia fazer aquilo, pois eu não passava de uma garota fraca.

Mamãe me recomendou a ele dizendo que não era para largar da minha mão, eu nunca entendi porque os pais se preocupam tanto com os filhos, eles também deveriam relaxar um pouco e curtir a liberdade, meus pais falavam que se não tivessem filhos eles seriam livres, viajariam o mundo inteiro sem nenhuma preocupação. Bem que eles poderiam aproveitar e curtir enquanto eu vou para Nova York, Felipe já era maior de idade, podia muito bem cuidar de si mesmo.

Pegamos o carro de Felipe e saímos pela cidade, ele tinha o costume de ligar o som em uma altura insuportável, dizia que era pra afastar os maus pensamentos enquanto dirigia, nunca entendi o real motivo disso tudo.

- Preciso de um som potente assim no meu carro. –falei rindo.

- Já instalei, coloquei televisão e DVD também. Tem até uns jogos legais, caso queira passar o tempo.

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- Pra você não, fiz pra quando eu pegar o seu carro emprestado ter todos os equipamentos necessários.

- Você é uma comédia. Vai sonhando que vai pegar meu carro emprestado. Instale no seu carro também.

- Mas pensando bem não seria legal andar no seu carro, afetaria meu ego andar em carro de mulher. Viu os detalhes cor de rosa na lateral? Aposto que não.

- Papai tinha acabado de comprar o carro, é lógico que não vi seu idiota. - Posso até ser um idiota, mas nunca mimado.

- Sei, então me diz uma coisa senhor responsável, você trabalha? - Não, mas isso não significa nada.

- E quem paga as suas viagens? - Nosso pai, mas...

-... Mas nada, você também não é tão independente assim.

- Kelly você é terrível, é melhor ir embora, acho que a festa começou.

Assim que chegamos às primeiras pessoas que avistei foram Mariani e Elizabeth, tinha alguns estudantes por lá, todos uniformizados seguindo com rigidez as ordens do professor, pra falar bem a verdade eu não fazia mínima ideia que tipo de festa era aquela.

- Quando quiser ir pra casa ligue pra mim, eu vou dar uma saidinha com a turma, qualquer coisa me avisa tudo bem? E se papai ou mamãe ligar fala pra eles que está tudo sobre controle. -falava Felipe dando mais ordens pra mim, como de costume. - Tudo bem, eu vou ligar, mas agora eu já vou, não quero perder a festa. Beijo Felipe, valeu mesmo, te amo.

- Divirta-se bastante meu amor, você merece. –abri um imenso sorriso.

Nunca imaginei o meu irmão dizer isso pra mim, ele tinha um jeito estranho de me agradecer pelas coisas que fiz me dando presentes, mas nunca verbalmente, ele me dizendo isso era como se fosse uma enorme declaração.

Encontrei com Mariani e Elizabeth, e ficamos andando pelo grande salão que estava repleto de estudantes.

- Alguém pode me livrar de toda essa tortura e dizer que festa é essa? – Perguntei. - Nossa Kelly, ás vezes você me surpreende com toda a sua imaturidade, vai dizer que não ficou sabendo que essa é a última noite dos estudantes da Julliard na cidade? - Fizeram uma festa de despedida, provavelmente só aparecerão por aqui no concerto do ano que vem, imagina só, esperar um ano pra ver um monte de gatinhos. – Elizabeth só fazia rir e concordar com tudo que Mariani falava, provavelmente a mais ajuizada dali fosse eu, e ainda assim, correríamos um grande risco de fazer besteiras, pensei ligar pra Felipe e dizer que estava com vontade de ir para casa, mas eu apenas daria um enorme motivo pra ser questionada ao chegar, então preferi ficar na festa e tentar não ser tão grosseira e curtir um pouco com as meninas, afinal, não custava nada, e concordando com Mariani, estava cheio de gatinhos.

- Então tudo bem, aproveitaremos a festa. – Falei fingindo gostar de tudo aquilo. Começamos a dançar como um bando de loucas ate que uma porção de garotos

fardados veio ate nós querendo espalhar os seus conhecimentos, e nos abordou com um monte de perguntas.

Na realidade minha mente estava em outro lugar que nem eu fazia ideia de onde fosse. Fui ate o bar pedir uma bebida que não tivesse álcool, o que era um pouco difícil.

(13)

Sentei ao lado de um garoto, não deu pra ver bem o seu rosto, pois estava de cabeça baixa, brincando com um chaveiro que estava na mão, parecia um pouco triste, mas o seu pescoço era deslumbrante, provavelmente não fosse aluno da Julliard porque não estava fardado como todos.

Pedi um Cocktail sem álcool, e tentei ser a mais fina possível.

- Por favor, me traz o mesmo, obrigado! – Falou o rapaz ao meu lado, pareceu um pouco estranho, mas eu conhecia a sua voz, de algum lugar que não estava recordando bem, mas eu o conhecia.

Fitei os olhos nele tentando chamar atenção para mim, tentei fazer com que ele me olhasse, mas não estava dando certo. Apenas levantei-me para sair.

Quando me preparei para chamar o garçom o garoto misterioso disse:

- Alguns procuram o bar por problemas amorosos, outros porque não estão curtindo a festa e já outros apenas para paquerar, dizem que o bar é o melhor lugar pra se encontrar pessoas. Em qual desses perfis você se encaixa?

- Acho que nenhum desses, apenas deu sede e vim aqui beber algo. É pra isso que servem as bebidas. –nunca fui tão grosseira assim antes.

- Então você é uma das únicas. – Depois de muito tempo ele virou para mim. – Me chamo Vi... – Antes de ele terminar eu gritei.

- Victor? Eu não acredito! – Não imaginava encontrá-lo depois do ocorrido no Concerto.

- Kelly, o que você esta fazendo aqui? Pensei que nunca mais te viria. – Seus olhos eram um misto de surpresa e admiração.

- Vim com alguns amigos da escola. – Ops! Porque minha voz estava saindo tão gentil agora?

- Podemos dar uma volta e conversar em um lugar mais tranquilo? Tenho certeza que lá fora é bem melhor.

Pegamos as bebidas e saímos, tinha tantas pessoas ali que esbarrei em um rapaz e acabou derramando meu Cocktail. Mas Victor foi muito gentil e me cedeu o dele. O lado de fora era realmente mais tranquilo, tinha apenas meia dúzia de casais, do lado esquerdo tinha um enorme jardim em formato de labirinto e uma grande fonte luminosa no centro, do outro lado tinha alguns bancos que já estavam ocupados, alguns refletores em frente ao clube onde destacava a cor azul que davam impressão de céu noturno, Victor e eu continuamos andando até chegarmos a um lugar onde não tinha exatamente ninguém, era o lugar onde os cantores entravam com os instrumentos, a principio pensei que fôssemos invadir o camarim de algum famoso, mas não, apenas sentamos em um tronco avulso. Ele pegou minha mão e me puxou para junto dele. Ficamos um tempo em silencio, ele apenas acariciava meu braço, senti que queria dizer algo, mas não falou nada, estava um silencio constrangedor. Ate que resolvi dizer algo. - Eu não sei por que fazem tanta festa pra pouca coisa. Os estudantes da Julliard não são a atração principal da cidade. Tenho certeza que o dinheiro que foi gasto aqui poderia salvar o planeta ou algum animal extinto. – olhei para ele esperando uma resposta, mas ele apenas riu ironicamente.

- Sabia que as estrelas têm cores diferentes? – Ele mudou drasticamente de assunto, o que me deixou sem graça, talvez tivesse acabado com tudo por ter feito aquela

observação idiota, sempre falava besteiras, Mariani vivia me dizendo que eu sempre arrumava algum jeito de estragar o clima com as bobagens que eu falava, só agora que percebi a verdade. Tentei concertar as coisas.

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- Eu amo o céu noturno, é como se tivesse algo além das estrelas, como se tivesse vida nelas, alguma coisa inexplicável, uma coisa Celestial. Não é Possível que uma bomba tenha criado isso com tanta perfeição. Nem mesmo um programa de computador é capaz de fazer isso que dizer uma bomba? – Fechei os olhos e aspirei ao aroma refrescante que vinha do ambiente.

- Kelly, se você fosse escolher algum lugar para fugir, aonde você iria?

- Para um lugar onde não me achassem. - Victor deu uma gargalhada de deboche. - Você é uma comédia, por isso gostei tanto de você.

Victor era a perfeição em pessoa com cabelos pretos, olhos azuis celestes, muito bem desenhados, pele branca e macia que completava o desenho, ele parecia um manequim que havia ganhado vida. Ter ele comigo naquele momento me fez sentir algo que há tempos não sentia. Sempre que ele olhava para mim era como se alguém jogasse um balde de água fria nas minhas costas.

Teve uma ocasião em que pensei que ele fosse me beijar, aproximei meus lábios, mas só bati minha cabeça na dele, o que tornou a noite mais constrangedora possível.

- Preciso ir, vou encontrar as meninas, meu irmão vem me buscar. – me levantei para sair, estava com tanta vergonha que nem perguntei quando nos veríamos de novo, onde ele morava, ou coisa do tipo. – Foi um prazer rever você Victor. Ate mais.

Sai dali como um relâmpago. Entrei no clube para procurar as meninas, mas não as achei, liguei para Felipe pedindo que viesse me buscar, ele não demorou muito, mais ou menos uns dez minutos, ele me disse que já estava a caminho. Algo dentro de mim queria saltar, senti uma sensação de mal-estar. Tentei relaxar e parecer mais natural possível, não queria que Felipe me perguntasse nada sobre a festa. Não fazia ideia do que estava acontecendo com meu coração. Porque Victor mexera tanto comigo? O que ele tinha de tão especial? E porque fiz o papel de tonta perto dele? Milhares de

perguntas tomaram conta de mim enquanto Felipe entrava com o carro na garagem. Porque sempre falo de mais? Poderia muito bem ficar de boca calada, mas não, tive de estragar tudo com as minhas bobagens, não acredito que falei de uma bomba, que idiota fala sobre isso quando se está ao lado do garoto mais lindo do mundo? Ah, a idiota sou eu. Que imbecil eu fui, pensar que ele fosse me beijar, o que eu estava pensando?

Espero nunca mais o ver, morrerei de vergonha. Preciso mais do que nunca esquecê-lo, de uma vez por todas. Não me importa quanto seja difícil, eu vou conseguir.

Quando estava me preparando para dormir alguém bateu na porta. - Pode entrar. – era Felipe, querendo saber dos detalhes.

- Estou preocupado, você saiu da festa tão assustada, aconteceu algo? - Eu sou uma idiota.

- Disso eu sei, estou falando se aconteceu algo diferente.

Dei um sorriso de meia felicidade, não estava acreditando que fosse desabafar justamente com Felipe, o meu irmão louco.

- Conheci um menino e só falei besteiras, teve um momento que pensei que ele fosse me beijar, até aproximei meus lábios aos dele, mas...

- Já sei você bateu sua testa na dele. Isso aconteceu comigo. É um pouco constrangedor.

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- Apenas contornei. Fiz sentir-se culpada. Você também devia ter tentado. - Como?

- Devia ter feito o mesmo que eu fiz, eu disse: “Já que você demorou muito para tomar uma atitude resolvi eu mesmo fazer isso”.

- E deu certo?

- Por algum tempo, mas outras coisas envolveram e tivemos de romper. Mas você ainda é jovem, tem muito que aprender. – ele bateu no meu joelho, que estava entre meus braços. - Precisamos dormir, já é tarde. Boa noite.

Ele beijou a minha cabeça como papai sempre fazia.

- Pra você também Felipe, te amo e mais uma vez obrigada por tudo inclusive por me ouvir.

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Capítulo Três

A semana se passou cada vez mais rápida, o que só fazia aumentar meu entusiasmo. Estava precisando mesmo viajar, uma mudança de ares seria ideal para mim.

Era domingo e minha mãe resolveu fazer um almoço para minha despedida, visto que passaria três meses fora de casa. Estava um dia ensolarado belíssimo, Ideal para pegar uma praia, passear no centro ou tomar banho de piscina. Mas minha mãe me

convenceu que seria melhor ficar em casa e curtir o clima familiar.

O almoço foi maravilhoso, minha mãe resolveu dá uma forcinha as nossas cozinheiras, ela cozinhava perfeitamente bem, meu pai começou a ler um livro sobre adolescentes e os perigos de dar liberdade demais aos filhos, fiquei confusa, minha cabeça girava em turbilhão. Terminado o almoço subi até meu quarto, havia muitas malas para serem arrumadas.

Pensei organizar as minhas roupas por ordem de cor, mas não tive muita paciência, já era difícil arrumar todas as minhas roupas em apenas uma bagagem, imagine se fosse organizar todas por cores? Precisei usar quatro malas enormes. Aposto que Mariani está no mesmo dilema. Ainda pensei em não levar nada, comprar minhas roupas por lá, mas provavelmente não terei todo esse tempo livre para fazer compras.

Minha mãe subiu ate meu quarto pra me ajudar, mas já havia concluído tudo, verifiquei a minha bolsa e certifiquei que não estava faltando nada. Mamãe estava com um ar de tristeza, ela se sentou na cama e começou a olhar o meu álbum de fotos. Vi que

algumas lágrimas corriam pelo seu rosto. Entrei no banheiro e a deixei chorar, depois que ela se acalmou sentei na cama e juntas olhamos as fotos, demos muitas

gargalhadas, tinham algumas fotografias bizarras.

Mamãe começou a lamentar o fato de eu ter crescido rápido, ela disse que eu me tornei uma adolescente bastante precoce. Foi o que bastou para que eu caísse na risada. O início da noite estava muito fria, onde estava todo aquele clima perfeito de ainda pouco?

Arrumei minha cama e fui deitar, não estava com muito sono então resolvi ler o meu livro favorito, imaginei que um dia teria o romance histórico e que um dia meus netos e netas contariam a minha historia para seus filhos. Pensei tanto nessa possibilidade que adormeci com o livro caído sobre meu peito.

Papai e mamãe vieram me dar boa noite como sempre faziam. Felipe havia saído com alguns amigos e provavelmente dormiria fora, o que significava que eu partiria sem me despedir dele. Tive um sonho estranho com aves e cavalos, foi engraçado e assustador, o fato de gostar da natureza estava me deixando maluca.

Acordei com mamãe fazendo cócegas nos meus pés, ela queria que eu me despedisse do meu pai antes que ele partisse para o trabalho. Chorei ao me abraçar com papai, eles foram maravilhosos por confiarem em mim, depois mamãe também nos abraçou e ficamos em um abraço triplo. Queria que Felipe estivesse junto, assim seria um abraço completo. Depois de alguns minutos abraçados, papai me deu um beijo na testa e saiu. Levantei-me da cama e fui tomar um longo banho. Mamãe ia me levar de carro pra escola e de lá iria almoçar alguns clientes.

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Vesti minha roupa favorita, como estava fazendo frio, coloquei minha roupa rosa, um casaco preto e a minha bota predileta que ganhei de Felipe no inverno passado. Tentei levar minhas malas sozinhas, mas isso era impossível, precisei da ajuda de quase todos os empregados. Sai descendo as escadas, meu coração estava feliz e triste ao mesmo tempo, nunca tinha saído de casa por tanto tempo, pelo menos não sozinha. Ficar longe de casa seria bom para mim, pois eu teria uma chance de pensar no meu futuro, e meus pais teriam uma oportunidade de ficar a sós, fazer uma viajem de férias quem sabe. - Mamãe eu posso pedir uma coisa?

- O que você quiser minha princesa. É só falar.

- Podemos ir com o meu carro? Sentirei muita falta dele durante esses meses. Então queria pela ultima vez apreciá-lo.

- Como você quiser, mas terei de voltar em casa depois para pegar o meu, andarei muito hoje, não quero usar o seu.

- Mamãe, não deixa Felipe sair nele, pode ser que ele acabe com a minha preciosidade. - Só você mesmo Kelly. Mas tudo bem minha querida, darei seu recado. Podemos ir agora?

Tínhamos quatro motoristas, mas mamãe preferia dirigir ela mesma, diferente de papai, no que dependesse dele, não tocaria os pés no chão. É horrível depender de alguém para sair, como se precisasse de autorização para respirar. Isso me dava nos nervos.

Antes de entrar no carro olhei a lateral, e lá estava o deslumbrante detalhe rosa, e próximo á porta tinha minhas iniciais com muitas estrelas envoltas. Entrei no meu enorme carro e procurei não pensar muito na viajem, pois já estava ficando tensa com tudo aquilo. Busquei refúgio no meu querido banco de couro, parecia estar mais que relaxada. O detalhe na direção também era rosa e tinha minhas iniciais no meio também, onde supostamente era o lugar da buzina. Antes que eu descesse mamãe me entregou uma bolsa onde continha barra de cereais e algumas comidas leves. Depois me entregou uma caixa verde e pediu que eu só abrisse quando chegasse ao hotel. Despedimo-nos com um forte abraço, nunca tinha visto mamãe tão triste desde quando nosso cachorrinho morreu. Mariani já estava a minha espera em frente á escola Village. A minha querida e deslumbrante escola.

- Isso sim é uma ótima forma de vir à aula. - Pára com isso Mariani, é só o meu carro.

- Você chama isso de carro? É um mundo em quatro rodas.

- Kelly você veio com aquele carro? – perguntou Elizabeth se aproximando de nós. - Acho que sim.

- Nossa!

- Ficou surpresa garota? Agora veja só, aquele carro foi um presente do pai dela. - Você ganhou um carro Kelly?

- Porque está tão surpresa Elizabeth? Isso é o mínimo que o papai dela pode dar. - Parem de babar o meu carro. Vamos nos juntar com o restante da turma, não quero ser chamada atenção por besteiras.

Elizabeth fazia parte do meu trio perfeito, ela era uma boa pessoa, mas sempre dava um jeito de fazermos tudo o que ela queria, mas na maioria das vezes era uma boa companhia, quando não tentava chamar atenção para si mesma.

A diretora Lucy chegou e começou a contagem, foi um processo um pouco demorado, porque sempre que algum aluno chegava, ela recomeçava a contar, passamos horas e horas paradas em filas, como um grupo de escoteiros. Depois de perdida quase uma hora, entramos no ônibus e prosseguimos a viajem, a ideia de passar as férias em Nova

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York bem no meio do semestre era um pouco assustadora, porque não estava nos meus planos passar três meses fazendo trabalhos escolares, de repente senti um tédio enorme só de pensar em visitar constantemente museus e parques. Espero que quando

chegarmos lá a minha impressão mude com respeito ás férias. Sentei ao lado de

Mariani no ônibus, no começo não entendi o porquê da escolha do local, mas depois vi que Leonardo e o seu grupo de garotos lindos estavam sentados ao nosso lado, Mariani como sempre já estava enfeitiçada com todo o charme e a beleza dele.

De repente vi que ele estava olhando para a nossa direção, Mariani reclamou comigo e disse que eu estava olhando muito para ele, que o estava deixando sem jeito, mas na verdade era ele quem estava me deixando desconcertada, então, peguei o meu IPOD e comecei a escutar as musicas da minha banda favorita Jonas Brothers, eu amava as suas músicas. Mariani se levantou e foi ate o banheiro do ônibus, ela devia estar muito apertada, porque se eu a conheço bem ela jamais usaria um banheiro público, muito menos em um ônibus. Algo de errado estava acontecendo, provavelmente estivesse enjoada, ela não era do tipo que viajava de ônibus.

Quando pensei em me levantar para prestar ajuda Leonardo sentou-se ao meu lado. - Oi Kelly, há quanto tempo não é mesmo? Desde que voltei de Londres não tivemos a oportunidade de conversarmos. – de repente ele passou a mão pelo meu ombro, fiquei um pouco tensa, mas tirei a sua mão, não queria que Mariani pensasse que estava dando bola para ele. Mesmo sabendo que ele era irresistível. Ela ainda não aceitava o fato de que ele me beijara.

- Tem razão, mas outra hora conversaremos, estou um pouco enjoada. – falei tentando espantá-lo. Ele percebeu que eu estava um tanto constrangida e logo se levantou. Ele era muito lindo.

Depois de algum tempo Mariani voltou, ela estava mais pálida do que costumava ser. - Viajar de ônibus tem suas desvantagens para alguém tão frágil como eu. – não lhe contei nada sobre Leonardo, mas tive medo que ela me perguntasse por que estava com uma cara tão assustada. Não queria magoá-la com o fato de Leonardo nunca ter ido falar com ela, além do mais, ela o amava. Um amor diferente, mas não deixava de ser amor.

Tentei dormir um pouco, a viajem não era longa, mas um pouco cansativa. Quando abri os olhos já estávamos em Nova York. A cidade mais linda que já vira - depois da Flórida obviamente - às pessoas, os shoppings, as casas, hotéis, parques, enfim, tudo magnífico.

Como se estivéssemos andando em câmera lenta, as luzes apenas aumentavam a beleza da cidade. Passamos por um parque onde só tinham casais, esse deveria ser o motivo de muitos filmes de romance ser passado aqui.

- Olha só aquela loja. Com certeza estarei aqui com o meu melhor amigo. - Quem é o seu melhor amigo?

- O cartão de crédito. Quem mais?

- E eu ainda pergunto. Devia ter ficado calada.

- Kelly você é muito responsável, leva tudo a sério. Com o dinheiro que você tem devia relaxar e curtir a sua vida do jeito que é.

- Já ouvi essa historia antes, mas gosto de ser assim.

- Espero que não fique enfurnada dentro daquele hotel, porque eu vou sair para fazer compras. Queria muito a sua companhia.

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- Eu sei persuadir. Devia aprender com a sua mãe, ela é ótima nisso.

- Uma empresária formada em direito, que grande monstruosidade há nisso? - Ela é bem mais do que isso Kelly, nunca subestime o poder de uma advogada. - Vou me lembrar disso.

- Kelly onde está Felipe? Desde a festa dele que não o vejo. Aconteceu alguma coisa? - Ele viaja muito, provavelmente está torrando o dinheiro em alguma casa de praia. - Quer dizer em alguma propriedade Andrews não é? Bem que ele podia me convidar para acompanhá-lo em um desses passeios.

- Deixa de dá em cima do meu irmão Mariani. - Qual é? Ele é um gatinho.

- E você é muito atirada sabia?

- Não serve de nada. Olha só o senhor popularidade, nem me olha.

Queria muito ajuda-la com Leonardo, mas ás vezes eu chego a questionar se ele é mesmo a pessoa ideal para Mariani.

Eu a amava como uma irmã mais velha, ela sempre cuidava de mim, mesmo com o seu jeito extravagante, mas cuidava e isso era o que importava.

Nos conhecemos quando éramos crianças, mesmo tendo conhecido Elizabeth primeiro apeguei-me á Mariani. Sempre fomos um trio, mas na escola, quando chegávamos em casa erámos apenas um dupla. Ela me apoiava e dava bastante força. Passei muitos anos sendo rejeitada por minha família, mas ela sempre esteve ao meu lado. Sempre me disse palavras consoladoras. E eu a amo mais que tudo.

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Capítulo Quatro

Quando chegamos ao hotel, a diretora Lucy nos entregou uma lista onde continha

todos os lugares que visitaríamos e os horários, um GPS caso alguém se perca, e as chaves do quarto. Seria cada quarto para três pessoas, por uma simples coincidência fiquei no mesmo quarto de Mariani e Elizabeth, juntas seríamos o trio imbatível. O nosso quarto era muito lindo, tinha até computador com internet, uma gentileza do hotel, tinha uma carta de boas vindas em cima da cama, as paredes pareciam ser recém-pintadas, o papel de parede estava intacto, pela janela tínhamos uma visão privilegiada, dava para ver claramente a mudança de fase da Lua, as estrelas pareciam se misturar com as luzes da cidade e os edifícios enormes brigavam pela minha

atenção, nunca pensei que Nova York fosse tão agitada. Mesmo sendo tão perto de Nova Jersey, nunca havia estado aqui. Pelo menos não que eu me lembre.

As meninas e eu começamos a pular na cama, feito três retardadas, ate que a diretora chegou ao quarto e nos mandou descansar, pois amanhã começaríamos a rotina. Pulei da cama e fui ver o roteiro, a escola de musica Julliard estava no topo. Olhei para Mariani e lembrei-me de Victor, onde estaria agora? Pensei e tornei-me a viajar no tempo, estar com ele foi maravilhoso, nunca tinha falado tantas besteiras em apenas uma noite, isso iria me ensinar a ficar calada por uns tempos. Prometi a mim mesma que nunca mais falaria qualquer coisa com qualquer garoto. Pensei em Leonardo e em como fui grosseira com ele, esperaria uma chance para me redimir, abriria o jogo com Mariani, e explicaria que entre Leonardo e eu só existiria amizade.

Não estava com sono, pois já havia dormido na viajem, então resolvi arrumar minhas roupas no armário, cada uma de nós tínhamos nosso próprio armário, exigência nossa, quando estava quase no fim da arrumação lembrei-me da caixa que mamãe me dera antes de sair de Nova Jersey. Quando abri vi uma linda bailarina que girava ao ritmo da música, e ao lado dela tinha um bilhete:

“Para embalar seus sonos, sempre que precisar de um carinho de mãe ligue a bailarina, a música transmitida é uma mensagem de mãe para filha. Ganhei de sua bisavó quando tinha sua idade, e foi passada de geração á geração, cuide bem dela filha, e curta bastante a viajem. Eu te amo.”

Coloquei a bailarina na mesinha ao lado de minha cama e junto com ela alguns porta retratos de nossa família, tinha uma foto de Felipe que tiramos quando ele passou no teste para dirigir, ele estava muito feliz, fazíamos uma cara ridícula, mais foi esse um dos momentos mais maravilhosos de minha vida.

As meninas já estavam dormindo, então fui ate minha janela e ouvi alguém tocando, era o som de um violino, tocava muitíssimo bem. Lembrei-me de um teclado que ganhei do meu pai tentando substituir por um piano que tinha desde pequena, mas foi doado para um orfanato, chorei por meses sempre que via o lugar vazio na sala, daí papai comprara um teclado, mas nunca me dediquei, minha avó sonhava em me ver tocando profissionalmente, então me deu um piano lindo, tinha meu nome gravado em cima, ela disse que só assim não poderia ser doado, fiquei muito feliz. Quando pequena fazia parte do coral, mas sai depois de um tempo, na verdade fui forçada por Mariani, ela me convenceu que coral é muito clichê e que garotas como nós não dividiam palco com dúzias de pessoas. Para ela o holofote era unicamente e exclusivo; como não tinha

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vontade de contrariá-la decidi sair do coral, o que foi uma grande pena, pois eu adorava cantar.

Deitei em minha cama, fechei os olhos e tentei ignorar os pensamentos mais obscuros que tomavam conta de mim, tinha que pôr fim a esses pensamentos, levantei mais uma vez e fui ao banheiro, tomei um longo banho, a água estava perfeita, minha vontade era ficar ali pelo resto da minha vida. Então voltei para a cama e tentei dormir, já passava das onze horas.

Não lembro perfeitamente da ordem das ocasiões, mas só lembro que de repente fui tomada por uma onda de sono. Quando acordei parecia que um caminhão tivesse passado por cima de mim, associei ao fato de passar o dia viajando, então acordei as meninas, porque se fosse por elas estariam dormindo ate agora. Quando estávamos todas despertas, a diretora passou no nosso quarto avisando que o café seria servido daqui a trinta minutos, o que foi uma ótima notícia, pois estávamos todas famintas. - Com que roupa usarei para visitar a Julliard? – Questionou Elizabeth

- Você eu não sei, mas eu usarei a roupa mais linda, afinal de contas, Leonardo está no quarto próximo ao nosso, vou tentar impressioná-lo. – Todas nós rimos, exceto Mariani que parecia não entender.

Sempre me divertia com as tentativas mal sucedidas de Mariani ao tentar impressionar Leonardo, ela só o distanciava cada vez mais, mas para não deixá-la brava resolvemos não mais falar sobre isso, deixá-la descobrir sozinha.

Coloquei a roupa mais confortável possível e que não chamasse muita atenção, não queria que as pessoas percebessem que além de ser uma garota de fora, eu não sabia me vestir, então coloquei a roupa perfeita para aquela ocasião, prendi meu cabelo em rabo de cavalo e sai do quarto em direção ao restaurante do hotel. Por incrível que pareça dei de cara com Marcos, Charles e Leonardo saindo do quarto. Acenei para eles e sai dali antes que falasse algo, ninguém gosta de encontrar com os garotos mais lindos da escola com a cara de sono. Peguei o elevador junto com outras meninas, elas estavam vestidas como se fossem para um shopping, no começo me senti um pouco deslocada, mas depois passou ao ver a diretora Lucy, estava vestida como se fosse salvar uma árvore em extinção.

O café do hotel era o mais reforçado que já vira em toda a minha vida, tinha de tudo, pouco tempo depois, Mariani e Elizabeth chegaram e como sempre chamaram toda a atenção, suas roupas eram lindas, mas não adequada para aquela ocasião, visto que iríamos andar bastante, visitar varias coisas, não seria legal ir de salto alto, por isso resolvi apostar em uma sapatilha, calça jeans, uma camiseta e uma jaqueta, levei outro casaco dentro da bolsa caso o clima mude de repente. Mariani ficou o tempo todo tentando chamar a atenção de Leonardo, mas ele nem olhava para ela, eu não sei o que passava pela cabeça dele, ela era linda, tinha qualquer garoto aos seus pés, mas acho que isso não era o suficiente para ele. Quanto mais ele a ignorava mais ela tentava chamar a sua atenção. Era inevitável, Mariani era o rastreador e Leonardo o alvo. Terminamos de tomar o café, a diretora Lucy fez a contagem pela milionésima vez, até que saímos do hotel e entramos no ônibus. A cidade me surpreendia cada vez mais sempre que eu a olhava. De dia parecia que existia um milhão de formigas em busca de refugio, muitas pessoas transitavam pelas lojas movimentadas.

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Passamos pelo Central Parque, sempre sonhei em conhecê-lo e por incrível que pareça ele estava na nossa lista de lugares onde visitaríamos. A entrada da escola Julliard era linda, muito convidativa, pelo visto quem estuda aqui tem uma grana preta.

A guia turística, Janet, nos levou a sala de entrada, passamos por muitas salas. Entramos por um corredor muito grande, e no final tinha um enorme salão onde se realizavam todos os concertos e apresentações, a diretora estava filmando tudo, passamos também numa sala onde dava acesso aos pianos, não resisti e pedi que entrássemos por um instante, eles estavam tocando uma das músicas de Beethoven, a música que sempre sonhei em aprender.

Quando entramos, todos pararam de tocar, com exceção de um garoto no fundo da sala, não deu pra vê-lo direito, pois tinha um jarro na frente. Mas ele foi responsável em tornar aquele ambiente mais aconchegante, ele tocava muitíssimo bem. Tive

vontade de falar com ele, mas estava tão envolvido na musica que logo mudei de ideia, mas por pouco tempo. Afastei-me do grupo e fui apreciar de perto uma boa musica. - É como diz o velho ditado: “A música tem encantos que domesticam a besta

selvagem”. – Não me contive justamente no momento em que mais necessitava de ficar calada, falei uma besteira dessas.

- É peito! – ele parou de tocar, não tive coragem de encará-lo então baixei a cabeça. – “A música tem encantos que acalmam o peito mais sofredor”.

Senti que ele sorria pra mim, estava fitando-me nos olhos. - É peito sim. – Levantei a cabeça e quase engasguei.

- Kelly, eu sabia que cedo ou tarde haveríamos de nos encontrar, só não esperava ser tão cedo assim. – Disse ele sorrindo.

- Victor? O que faz aqui? Eu não fazia ideia que encontraria você, pelo menos não aqui... - comecei a gaguejar feito uma débil mental, minhas mãos soavam bastante, não sabia onde as colocava hora no bolso, hora cruzava atrás nas costas, hora deixava soltas balançando.

-Eu estudo aqui, na verdade te procurei aquela noite, mas não consegui te achar, e agora você esta bem aqui na minha frente. É mesmo inacreditável.

- Estamos fazendo uma excursão, conhecendo um pouco a historia dessa maravilhosa cidade.

- Poderíamos aproveitar seus dias na cidade para sairmos juntos, quem sabe conhecer Nova York com uma pessoa que conhece de verdade? – gostei da parte de sairmos juntos, só não fazia ideia de como faríamos para nos encontrar visto que eu estava no meio de um trabalho escolar, não poderia inventar nenhuma desculpa esfarrapada, pois cedo ou tarde seria descoberta. Por outro lado não poderia negar um convite feito por Victor, o garoto que pensei que nunca mais o veria, de qualquer forma tinha que encontrar uma solução cabível para ambos os casos.

Rever Victor não era exatamente o que eu esperava, mais confesso que foi maravilhoso. Enquanto conversávamos, o professor de música Luiz, pediu que nos apresentássemos a um aluno dali, pois seriam nossos guias internos. Seria uma ironia do destino?

Antes de falar qualquer coisa Victor me puxou pelo braço dizendo que não poderíamos perder tempo, pois tínhamos muito para explorar. Começamos pelo salão principal, fiquei encantada com o esplendor do ambiente, mas encantada ainda com toda a

atenção que estava recebendo de Victor. Já tinha ate esquecido de como ele era lindo, o seu sorriso revelava toda a sua beleza, ele gesticulava muito ao falar, quando pegou em minha mão senti mais uma vez a suavidade de sua pele alva, ele era mais alto que eu, e seus cabelos acompanhavam o ritmo do vento que entrava pela janela do imenso salão.

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No começo pensei estar louca, pois não entendia nenhuma palavra do que ele dizia, mas para não fazer papel de tonta fingi entender e apenas concordava com a cabeça. De repente ele parou de explicar, me olhou nos olhos, abriu um sorriso e disse: - Vem comigo?– Não tive tempo de responder, apenas fui arrastada por um grande corredor e passamos por uma porta que dava acesso á um lindo jardim.

Passamos por uma imensidão de rosas vermelhas, ele pegou uma, aspirou ao seu doce aroma e me entregou.

- Uma rosa para a mais linda das rosas. – senti arrepiar-me as costas, uma frieza na barriga, as mãos soavam e tremiam.

- Obrigada! – apenas essa palavra saiu de minha boca, tentei puxar algumas outras, mas não encontrei nenhuma que se adaptasse a ocasião, não queria que nada estragasse aquele momento.

Continuamos a andar, até chegarmos a um banco, sentamos nele e começamos a conversar.

- Antes de qualquer coisa, preciso dizer que você foi muito grosseira comigo lá no concerto. Confesso que fiquei um pouco assustado. – Implicou Victor.

- É eu sei, mas não estava chateada com você e sim com a minha mãe por ter me ligado no meio da apresentação, mas você também não tinha nada que ficar escutando a minha conversa pelo telefone. Na verdade, o que você estava fazendo na porta do banheiro feminino? Você como aluno da Julliard deveria ficar atento aos concertos. – Falei tentando deixá-lo sem argumentos, mas não adiantou, minha luta foi inútil. - Você saiu tão depressa para atender o celular que deixou cair o seu broche de cabelo, corri para te devolver, para me certificar que você não tinha ido embora, esperei na porta do banheiro e escutei a sua voz, daí fiquei aguardando sua saída, mas você foi logo me bombardeando com perguntas que acabei esquecendo-se de te entregar. Abri um sorriso, fiquei impressionada em como a vida nos prega certas peças, na primeira vez que o vi não sabia que era um aluno da Julliard, que tocava piano, muito menos que estava com o meu broche. Devia agradecer ao broche, pois quem sabe não foi ele quem me trouxe ate aqui.

De repente me senti afundando em meus pensamentos até que voltei à realidade quando Victor pegou minha mão e pediu que olhasse nos seus olhos, isso seria fácil se eu não tivesse tremendo tanto. Quando nossos olhos se encontraram ele suavemente falou: - Somos como o Sol e a Lua, é preciso um eclipse para que possamos nos encontrar, Kelly, eu não fazia ideia do que é estar apaixonado por alguém até te conhecer, não é por acaso que você esta aqui, depois daquela noite na festa eu não consegui parar de pensar em você e agora eu sei, esse momento é o nosso eclipse.

Não consegui mais disfarçar que estava completamente e absolutamente apaixonada por ele, não medi esforços para ficar mais juntinha dele, ficamos a escutar musica com o meu Ipod no mesmo fone de ouvido.

Depois começamos a caminhar de mãos dadas, parecia que eu estivesse flutuando, mas logo voltei à realidade com o bip do meu relógio, já era hora de juntar ao grupo. - Preciso ir, estão esperando por mim. – minha mente sabia que precisava sair dali, mas meu coração não quis obedecê-la.

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- Eu prometo. – retribui apertando-lhe também sua mão, mesmo não fazendo ideia de como iríamos nos encontrar.

Como se ele tivesse adivinhando meus pensamentos, disse:

- Não se preocupe Kelly, eu vou dar um jeito para que possamos nos ver. Posso entrar em contato com você hoje? – senti a veracidade em sua voz.

- Com certeza. – trocamos telefone e e-mail, quando ia saindo dali ele me pegou pelo braço, lembrei-me da primeira vez em que nos vimos, ele acariciou suavemente meu rosto e enorme foi à sensação de um beijo, senti meu rosto queimar, meu coração fazia festa dentro do peito, minhas pernas adormeceram, tive a impressão que fosse cair, mas me segurei nele, depois ele piscou o olho e saímos sem dizer nada.

Quando cheguei ao ônibus metade da turma já estava á espera, enquanto Mariani e as meninas discutiam sobre qual foi o lugar mais bonito, eu pensava em Victor, quando o veria? Será que a vida continuaria a nos juntar?

No caminho para o hotel paramos para tomar um sorvete e comer alguma coisa antes do jantar, estávamos famintos. Minha cabeça não estava no lugar, nem acredito que beijei Victor, o garoto que jurei nunca mais o ver. Por sorte não estraguei tudo com as minhas besteiras, pela primeira vez na minha vida senti que havia feito uma coisa útil. Eu beijei Victor. Isso com certeza me tiraria o sono até que pudesse vê-lo novamente, mesmo não sabendo quando seria esse dia mágico, mas de uma coisa eu sabia, que quando esse dia chegasse eu estaria pronta para abraçá-lo forte e beijá-lo eternamente. Esbaldei-me em uma tigela de sorvete de creme, com cobertura de chocolate ao leite e pedaços de chocolate branco. Estava maravilhoso.

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Capítulo Cinco

Ao chegar ao hotel corri para o meu quarto, pretendia deixar um e-mail para Victor como combinado, só assim ele iria saber que já havia chegado. Mas Mariani passou o tempo todo no computador, ate que eu adormeci enfadada com o passeio.

Acordei com o celular tocando, pensei ser Victor, mas não era.

- Felipe!!! Como estão as coisas por ai? Estou morrendo de saudades de todos vocês. – falei quase chorando, pois quando sai não me despedi de Felipe, ele havia viajado. - Por aqui está tudo bem, exceto a sua ausência, a casa esta sem vida, não há com quem brigar, e a propósito, queria te agradecer mais uma vez pela festa, foi um dos maiores e melhores presentes de toda a minha vida. – ele estava um pouco diferente, o tom de sua voz mudara bastante, o Felipe que conheço jamais falaria comigo daquela forma, eu sabia que faria muita falta, mas não para o meu irmão, ele nunca pareceu se importar com o que eu fazia, fiquei bastante surpresa com tudo aquilo.

- Kelly eu preciso ir, combinei de sair com alguns amigos, papai e mamãe estão mandando beijos, estamos todos com muitas saudades. Volta logo.

- Manda beijos para todos, amo muito todos vocês. – desliguei o telefone e pus-me a pensar nas coisas engraçadas que fiz com meu irmão quando crianças. Divertíamo-nos bastante, andávamos sempre juntos, tínhamos os mesmos amigos, compartilhávamos coisas.

Senti uma pontada no coração, lembrar-se da minha infância me trazia nostalgia, a última coisa que eu queria agora era ficar triste, justamente quando estava esperando um telefonema de Victor, o que definiria o nosso relacionamento. Eu não sabia o que estava sentindo por ele, poderia ser muito precipitado achar que estava apaixonada, mas aquele beijo significava bem mais do que impulso momentâneo.

Após algumas horas esperando a ligação dele acabei adormecendo de novo, mas por pouco tempo, acordei com a euforia de Elizabeth, ela entrou no quarto gritando muito, pulando e dando gargalhadas.

- Kelly você precisa ver, tem um garoto lá no hall que é de tirar o fôlego, ele é muito lindo. - antes de ela terminar de falar, o telefone tocou e Mariani correu para atender. - Kelly, é da recepção, estão chamando você lá em baixo – ela olhou para mim com olhos assustadores, como se eu tivesse feito algo de errado. Coloquei meu casaco e sai. Pensei pegar o elevador, mas estava nervosa demais para isso, desci as escadas o mais devagar possível, isso provavelmente me deixaria mais calma. O pânico tomava conta de mim, não sabia o real motivo de tanta agitação, comecei a me preparar para o pior. Ao chegar à recepção Eva, a moça que fazia os cadastros apontou para uma pessoa sentada no sofá e disse que estava me procurando. De longe vi uma cabeça cujo cabelo preto reluzente conhecia perfeitamente bem.

Quando olhamos um para o outro senti que tudo ao nosso redor desaparecera, era como se tivesse uma força que nos atraia para outro lugar só nosso. Meu coração pulava em uma melodia absurda, não fazia ideia do que Victor queria, mas adorei a surpresa.

- Kelly, me desculpe por aparecer assim sem avisar, mas não aguentei tanta saudade. Aproveitei à hora livre e resolvi vir te ver. Peguei o endereço do hotel com o pessoal da escola, eles sempre mantêm contato com a coordenadora da viajem.

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